Resilience escrita por Aurora


Capítulo 4
Capítulo 4




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O quinto ano passou rápido, e logo já haviam realizado os NOM’s. No último dia de prova, os alunos se reuniram ao ar livre, todos sentindo-se mais leve depois da finalização dos exames.

Encostada em uma arvore, Lily observava os marotos – mesmo com seu namorado do lado, acariciando gentilmente seu cabelo, a atenção de Lily parecia ser puxada para aquele grupo.

Ela deveria se aproximar de Sirius novamente, decidiu. Sentia falta da amizade do rapaz, e com ele e James com raiva dela, ficava difícil se aproximar de Remus e Peter, que ela amava tanto.

— São um grupo esquisito – Theo disse, percebendo para onde ela olhava – Se você parar para pensar, nenhum deles se encaixa, não é? Ainda assim, é uma amizade bonita.

— Pensei que você os detestasse – a ruiva respondeu, se ajeitando para conseguir ver o rosto do namorado.

Ele parecia ainda mais bonito na luz natural do dia, os olhos azuis eram tão claros que as vezes pareciam ser um tom claro de cinza. Theo amava os dias de primavera, onde podia ler ao ar livre, sem estar muito frio ou quente demais, e dizia que era a melhor época para jogar quadribol.

— Eu não gosto do Potter, mas não tenho nada contra o resto do grupo – ele a corrigiu – E mesmo detestando ele, eu tenho que admitir que eles têm uma conexão invejável.

Quando ela não respondeu, Theo voltou a atenção para o livro que segurava com a mão direita, enquanto a esquerda continua a acariciar a namorada.

Ele estava certo, Lily percebeu.

Sirius vinha de uma família tão importante quanto James, mas enquanto os Black tinham uma linhagem de Comensais, os Potter eram compostos por aurores. Peter e Remus vinham de famílias sem importância no mundo bruxo. Peter e Remus compartilhavam a insegurança, mas enquanto Remus era inteligente e crítico, Peter era facilmente influenciável e sempre o primeiro a ceder sob pressão.

Ainda assim, os quatro pareciam terem sido feitos um para o outro.

Distraída, Lily não percebeu quando os marotos saíram de onde estavam sentados para irem incomodar seu amigo, Severo. No último ano, as pegadinhas contra o sonserino aumentaram em um nível que preocupava Lily.

Ao ver o amigo pendurado no ar, a irritação que sentia por Potter beirou ao ódio, e correu em direção ao grupo, deixando Theo para trás.

— DEIXEM ELE EM PAZ!

 Durante o resto de sua vida, Lily se lembraria daquele momento. Se ela soubesse o que iria acontecer poucas frases depois, nunca teria se aproximado do grupo – era o que ela gostava de pensar, mas a verdade é que no fundo ela sabia que isso aconteceria algum dia. Conforme os dias passavam e seu amigo se afastava, ela sabia que isso estava fadado a acontecer.

— Não preciso da ajuda de uma Sangue-Ruim imunda como ela!

Lily se lembrava de ter gritado algo com alguém, se lembrava dos olhares de pena que recebia e lembrava perfeitamente da frase dita por seu melhor amigo. O que ela não se lembrava era de como havia chegado na Floresta Proibida, ou de como as horas passaram tão rápido que antes que ela pudesse perceber, o céu já estava totalmente escuro, com a lua iluminando o pequeno lago próximo a garota. Ela mal se lembrava de ter chorado, mesmo que seu rosto estivesse molhado e seus olhos pesados, provavelmente inchados. Estava frio, e ela usava apenas a blusa e a saia de seu uniforme – se pelo menos estivesse com a capa, poderia se embrulhar. A arvore em que estava apoiada havia começado a machucar suas costas, mas nenhum desses pequenos incômodos a chateava – a dor que sentia em seu peito era grande demais para se preocupar com outras coisas.

Severo era o único que parecia ter sempre se importado com Lily. Era o mais próximo que Lily tinha de um irmão em Hogwarts, e o amava tanto. Como aquele garoto gentil que havia a apresentado a magia tornou-se tão amargo?

No último ano, Severo começou a andar cada vez mais com Mulciber e Avery, que sempre reclamavam da amizade dele com a nascida trouxa. Ela o escutava se referindo a outros nascidos trouxas como sangue ruins, mas acabava por relevar – o que ela admitia que era errado, porém amava demais o amigo e pensava que talvez ele pudesse mudar.

Meio escondido entre as arvores, um cervo enorme se aproximava devagar de onde Lily estava. Era facilmente o maior que ela já havia visto.

Tímido, o animal se aproximou de Lily e sentou-se em sua frente, tão próximo que seu pelo fazia cócegas na perna descoberta da garota. Ela sentia o calor que o cervo irradiava e pensou em como seria agradável se ele deitasse em seu colo – aqueceria facilmente suas pernas geladas.

— Você é diferente, não é? – Lily perguntou, estendendo a mão para acariciar as costas do animal – Normalmente os cervos não se aproximam dos humanos, mas você não parece ter medo.

Mesmo sabendo que o animal não responderia, Lily pausou olhando para ele. Tinha os olhos castanhos esverdeados que pareciam estar avaliando a garota, como se fosse humano.

— Seus olhos são iguais ao de um colega meu – ela disse, gostando de poder se distrair um pouco. Se afastou da arvore, e sentou encostada do cervo, o calor do animal a esquentando – O nome dele é James Potter e ele é horrível. Bem, ele nem sempre foi horrível. Ano passado éramos quase amigos, e talvez fosse se tornar algo mais especial. Até que ele resolveu que eu não era merecedora de sua atenção, porque de um dia para o outro ele começou a me tratar de forma tão fria.

Lily soltou uma pequena risada, percebendo o quão comum aquilo acontecia. O cervo a olhava como se entendesse o que a garota dizia, então ela continuou:

— Isso sempre acontece comigo – disse, e percebeu que sua voz estava começando a sair mais fraca, indicando que logo começaria a chorar – Eu sempre encontro alguém que eu realmente gosto, que eu penso que talvez exista essa conexão especial, e ai a pessoa me deixa como se eu nunca tivesse significado nada. Minha tia Claire sempre repetia o quanto me achava linda e como queria ter uma filha como eu, até meus pais morrerem e eu ir morar com ela. Tia Claire percebeu que eu não era o que ela pensava, e eu tive que morar na rua. Annabeth era a minha melhor amiga, ela havia me achado nas ruas e me ajudado, e nos aproximamos ainda mais depois que Thalia havia “morrido”, mas assim que ela descobriu quem minha mãe era, ela se afastou. De repente, eu não era mais a criança mais esperta que ela conhecia ou a família que ela havia jurado proteger. De uma hora para outra, eu era só uma garota fútil, que não tinha nada de especial além da aparência, e ainda conseguiu convencer Luke a se afastar também. Severo foi o meu melhor amigo por tanto tempo, e agora ele decidiu que eu não sou mais nada para ele, além de uma sangue-ruim. Eu pensava ter tantos amigos no Acampamento, mas ninguém nem lembrou de mim quando eu estava presa naquelas ruínas, quase morrendo.

Lily não se lembrava se já havia chorado tanto antes, ou se alguma vez já se sentira tão irrelevante quanto naquele momento.

— Eu sou insignificante nesse nível, não sou? Não importa o que eu faça e o quanto eu tente agradar, eu vou estar sempre atrás de alguém, eu nunca vou ser prioridade – suas lágrimas haviam parado, e Lily se sentia vazia conforme aceitava a verdade – Severo estava certo, no final eu sou só uma sangue-ruim.

Fazia total sentido para ela – em Hogwarts, não importava que ela tinha as melhores notas e o quanto ela se esforçava para ser legal com todos, inclusive os sonserinos e as crianças. No fim, sempre a veriam como a nascida trouxa. E no Acampamento, ela sempre seria só mais uma filha de Afrodite. Ela lutava tão bem quanto qualquer filho de Ares e era muito boa com o arco e flecha – o suficiente para Thalia a convidar para ser uma Caçadora de Ártemis – e ainda assim a chamavam de Princesa e Florzinha e apelidos apenas relacionados a sua aparência ou a sua mãe. Não importa onde ela estivesse, parecia que nunca seria totalmente aceita como realmente era.

Silena era a única que a entendia, que a via além da beleza herdada pela mãe. Silena via como Lily se esforçava, como ela treinava por mais horas que qualquer campista, como ela passava seu tempo livre aprendendo cada vez mais como usar seu charme e como manipular a névoa.

Mas Silena estava morta, e Lily estava sozinha.

Estava cansada de se sentir tão mal, cansada de pensar, e tudo que queria era dormir em seu dormitório, mas não poderia – estava muito tarde e a garota não sabia bem como entrar no castelo tão tarde sem ser pega. Teria que dormir na Floresta, o que não a incomodava, já que nenhuma criatura magica podia a machucar. Sua mãe havia explicado sobre isso, no ano em que ela a assumiu – se qualquer criatura do mundo bruxo tentasse a machucar, morreria na mesma hora.

Fazia sentido para Lily, considerando que Hecate havia criado esse mundo – haviam sido criados pelos deuses, então nunca poderiam ferir ninguém que tivesse o sangue dourado correndo pelas veias. Por esse motivo ela se sentia tão à vontade na Floresta – sabia que dificilmente algum aluno entraria ali e não tinha perigo nenhum para ela.

Então ela dormiu com o cervo ao seu lado, mas quando acordou com uma mão a sacudindo, o animal havia ido embora.

Abriu os olhos lentamente e soltou um grunhido de irritação ao ver quem a tinha acordado.

— Você vai perder o café da manhã se não levantar agora – James disse.

Lily sentou para o encarar, mas não conseguiu achar nenhum traço de emoção no rosto do maroto. Era pura indiferença. Ele não tinha nem a decência de se sentir culpado pelo evento da noite anterior – não que fosse realmente culpa dele, mas Lily teria se sentido melhor ao vê-lo pelo menos um pouco mal.

— E por que você se importaria? – perguntou irritada. Ele não tinha direito nenhum de ir procura-la e agir como se ele se importasse, quando os dois sabiam que não era verdade.

— Você não jantou ontem, precisa comer alguma coisa – quando a garota não respondeu, ele respirou fundo, parecendo estar tão cansado quanto ela – Eu sei que você não quer ver todo mundo ainda e eu conheço o caminho para as cozinhas.

Eles foram comer e James jogou a capa da invisibilidade por cima deles, garantindo que ninguém veria Lily naquele estado.

Mesmo um tanto irritada, Lily estava realmente tocada pela ação do garoto. Havia acordado cedo, o que era quase impossível para ele, entrado na Floresta Proibida e a procurado, e ainda abriria mão do café da manhã animado com os marotos para ficar com ela na cozinha em silencio absoluto.

Era como se realmente se importasse.

 

James observava a garota comer em silencio – os olhos estavam fofos do quanto havia chorado e seu cabelo estava uma bagunça. Ainda assim, estava linda. Ela sempre estava linda, não importava se estava chorando ou gritando com James.

Ter a procurado no Mapa dos Marotos e a seguido na Floresta Proibida havia sido uma boa decisão – poderia ter acontecido algo com ela durante a noite e Lilian precisava desabafar.

O problema era o conteúdo do desabafo. James constantemente observava a garota viajar em seus pensamentos, o olhar triste e distante, mas não sabia que ela pensava tão pouco de si mesma.

...mas ninguém nem lembrou de mim quando eu estava presa naquelas ruínas, quase morrendo — a frase continuava retornando para a mente de James, e não fazia sentido algum. Como alguém poderia esquece-la? E onde diabos ela estava? Ele queria perguntar, queria dizer que era o cervo que havia passado a noite com ela, que havia escutado a conversa entre ela e aquele garoto pálido que havia a levado para sua possível morte, e depois a largado lá, sem se dar o trabalho de checar se ela estava bem.

Mas ele não conseguia, não parecia certo contar, ou exigir que ela contasse seus mistérios para alguém que não confiava. E depois de ser o catalisador do fim da amizade dela com Snape, James não simplesmente não conseguia falar com ela.

Se Lilian soubesse quantas noites ele havia passado em claro pensando nela, achando que poderia estar morta – por Merlin, se ela soubesse quantas noites em claro ele havia passado lembrando de seu sorriso, desejando-a para si, imaginando-a de forma totalmente inapropriada... Se ela sequer tivesse ideia, nunca pensaria ser insignificante.

Se ela apenas soubesse o quanto James se importava...


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