Resilience escrita por Aurora


Capítulo 2
Capítulo 2




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A guerra havia acabado em duas semanas.

Quando pensava assim, parecia ter sido tão rápido. Mas enquanto estava lá, parecia que os dias não passavam, que estavam presos naquele inferno. Durante as duas semanas, Lily mal conseguia dormir. Toda vez que pensava que talvez fosse conseguir uma pausa, apareciam mais e mais monstros. Em determinado momento, a garota estava tão machucada e exausta que pensou seriamente em desistir – já havia perdido as contas de quantos monstros havia transformado em pó, de quantos amigos havia salvado, e pensou que talvez a morte seria uma escolha acolhedora. Como se soubesse o que a garota estava pensando, sua irmã apareceu no momento certo, a tirando do meio da batalha e a obrigando a dormir. Silena sempre parecia sentir quando a garota precisava dela, e sempre estava lá por ela. Momentos depois, ela teria morrido, enquanto a irmã mais nova ainda dormia.

Lily não sabia se algum dia superaria sua morte. Tinha vários outros irmãos no chalé de Afrodite, mas não era tão próxima de nenhum como era de Silena.

A única que parecia entender a dor que Lily sentia, era Clarisse La Rue, que frequentemente a procurava. Elas não conversavam e nem choravam, apenas sentavam uma próxima a outra e isso já parecia ajudar. Lily sabia a culpa que tomava conta de Clarisse, e sabia bem que nada que pudesse dizer aliviaria o sentimento.

Mesmo com todas as baixas que tiveram, o Acampamento estava tendo um dos melhores natais. A guerra havia acabado a uma semana, e eles não podiam evitar a sensação de alivio e felicidade. Lily gostaria de sentir essa felicidade com a intensidade que os campistas estavam sentindo, mas era como se tivesse um vazio dentro de si.

Estava sentada ao redor da fogueira, assim como todos os campistas. Era uma noite aconchegante, e seus colegas cantavam músicas animadas enquanto assavam marshmallow.

Sentindo-se um tanto enjoada, Lily se retirou, indo para a praia. Mesmo sendo dezembro, estava calor e havia apenas uma brisa suave, e a garota sabia que no dia seguinte continuaria ensolarado. Lily gostava do inverno, e frequentemente se divertia com guerras de bola de neve, mas amava que no Acampamento estaria ensolarado sempre que quisessem. Era como se todo dia fosse um dos dias felizes e despreocupados de verão.

Em dois dias, Lily estaria voltando para Hogwarts, que nessa época estaria coberta de neve. Ela não sabia bem o que diria para os seus amigos. Assim que voltou para o Acampamento, encontrou uma carta de Dumbledore, informando que os alunos pensavam que ela estava em casa cuidando da mãe doente, e que suas notas não seriam afetadas, contanto que ela fizesse trabalhos de reposição.

Ela, sob os conselhos de Quíron, havia contado para Dumbledore sobre sua descendência grega quando entrou em Hogwarts. Aos onze anos, teve dificuldade de convencer o diretor, principalmente por ser tão nova. Quíron, que sempre defendeu o quão importante seria que o diretor entendesse a situação de Lily, teve que ir conversar com ele para que Dumbledore acreditasse. Desde então, o diretor sempre buscava motivos para conversar com a garota, sempre ouvindo encantado sobre seu mundo.

Silena sempre se divertia com as histórias que Lily contava sobre Hogwarts, e várias vezes repetia o quanto gostaria de viver em um castelo.

— Você precisa seguir em frente – Nico disse, sentando ao lado da ruiva.

Já estava tão acostumada com o garoto aparecendo de forma tão silenciosa, que Lily mal se assustava mais.

— Ah, por favor – Lily estourou – Você passou um ano tentando invocar o espirito da sua irmã com McLanche Feliz, e jogou toda a culpa em Percy. Para um filho de Hades, você lidou de forma péssima com a morte, e agora quer dizer que tenho que seguir em frente?

— E é por isso que vim conversar contigo – Nico respondeu, sem se importar com a raiva com que a garota havia falado – Eu sei como é perder uma irmã e sei como é difícil continuar. Mas depois que Charles morreu, já não tinha muita vida em Silena. Se ela tivesse sobrevivido, estaria miserável.

Lily não respondeu, aceitando que ele estava certo. Perder Charles havia abalado Silena de uma forma que assustava Lily – ela não queria mais comer, não conseguia mais dormir e passava a maior parte do dia chorando. Charles havia levado um pedaço de Silena com ele ao morrer, e Lily sabia que a irmã nunca mais seria a mesma.

A guerra havia tirado mais de Lilian do que sua irmã e muitos dos seus amigos. Ela havia feito coisas que nunca pensou que fosse precisar fazer e sabia que seus pecados a atormentariam enquanto vivesse.

— Eu...

— Eu sei – Nico a interrompeu, como se sentisse a confissão que Lily estava prestes a fazer – Você fez o que precisava. Está tudo bem.

Lily estudou o rosto de Nico, inconscientemente procurando algum tipo de repreensão no olhar dele, algo que mostrasse que ele não compreendia tão bem quando havia transparecido, mas tudo que achou foi aceitação. Fez Lily se sentir infinitamente melhor e todas as vezes que os pesadelos vinham, ela repetia as palavras do filho de Hades como se fosse um mantra.

Eu fiz o que precisava. Está tudo bem.

Os dias passaram rapidamente, e logo Lily estava na Estação King’s Cross, Nico levando seu malão e Percy com seu pequeno gatinho no colo.

O gatinho alaranjado com listas pretas, Thomas, era o primeiro animal de estimação de Lily. No início, Lily não tinha dinheiro para comprar o animal, e depois eles estavam sempre tão perto de uma guerra, que a garota tinha medo de ter algum animal e ter que deixa-lo repentinamente. Agora que seu mundo estava em paz, ela se deu esse pequeno mimo, que se mostrou ingrato, ao preferir ficar no colo de seu amigo.

— Lily!

A garota virou, procurando quem havia a chamado, e logo sentiu um corpo colidir contra o seu. Era magro demais, mas cheirava bem. Lily, com o rosto enfiado no peito do garoto, não fazia ideia de quem era.

— Você me deixou tão preocupado – disse, e a garota reconheceu a voz de James – Você sumiu...

— Minha mãe estava doente, Potter – ela disse, afastando o garoto para o olhar. A reação exagerada dele a divertia um pouco, mas era desconcertante – E nós nem erramos tão próximos assim.

O moreno pareceu confuso, e logo a máscara de indiferença que ele sempre usava voltou ao seu rosto. Ele havia emagrecido uns bons quilos, seu corpo normalmente atlético, agora estava magricelo, e seus olhos fundos e cansados.

— Lily, nós temos que ir – Nico disse, entregando o malão da garota e a puxando para um abraço. Não algo típico dele, mas Lily aceitou sem reclamar.

Percy sempre havia sido um colega da ruiva, mas após sua namorada, Annabeth, ter ganhado a responsabilidade de reconstruir o Olimpo, ele parecia sentir-se sozinho, então se aproximou mais de Lily. Ele entregou o gato e a abraçou, mas de forma mais breve que Nico.

— Quem é aquele cara? – James perguntou.

Lily notou que a pergunta estava no singular, mas como não sabia a quem exatamente ele se referia, falou sobre os dois.

— O de olhos verdes é Percy Jackson e o mais baixo é Nico di Angelo – respondeu, enquanto eles andavam devagar em direção ao trem – São meus primos.

Ele a encarava com certa raiva, e Lily mordeu o lábio inferior, sentindo-se nervosa. Parecia que tudo que falava apenas irritava mais o moreno.

— Como a sua mãe está? – a voz saiu tão fria que não parecia o mesmo garoto que havia a abraçado minutos atrás.

— Está melhor – respondeu com um pequeno sorriso no rosto – Não foi fácil, e eu pensei que iria perde-la, mas ela melhorou.

Como se não aguentasse mais estar perto dela, James se afastou. Lily pensou em ir atrás dele, mas não sabia o que estava acontecendo com ele – parecia sentir apenas raiva.

Quando entrou no trem, vários colegas foram falar com ela, e Lily agradeceu a preocupação de todos, mas preferiu passar a viagem sozinha com seu novo gatinho. Thomas, nomeado após O’Malley do desenho Aristogatas, tinha uma personalidade parecida com o gato do desenho – era espaçoso, andava com confiança, e conquistava qualquer um com seus olhos dourados. Lily havia o comprado na loja do Acampamento, onde não costumavam vender animais e Thomas havia sido uma exceção. Travis havia encontrado o gatinho na floresta do Acampamento e pensou em dar para sua namorada, Katie, que após perceber a personalidade forte do animal – que te forçava a alimenta-lo bem mais que o normal e se tornava muito agressivo quando contrariado – resolveu que não teria energia para ele, e Travis o colocou na loja. Lily não resistiu o pequeno, e por mais que houvesse ganhado muitos arranhões quando esquecia de o alimentar, gostava muito dele.

Ao chegar no castelo, todos foram direto para o Salão Comunal para o jantar. Ao invés de ir para a mesa da Grifinória, Lily foi se sentar com seu amigo sonserino.

— O que aconteceu? Onde você estava? – Sev perguntou assim que a garota sentou ao lado dele.

Lily sabia que a história da mãe não iria funcionar, sendo que ele viu a casa dos Evans em chamas. Como ela poderia explicar a mentira de Dumbledore para o amigo?

Bom, talvez ela tivesse que contar a verdade... Não. Não saberia o que fazer se seu amigo a rejeitasse, como Quíron garantiu que aconteceria se alguém descobrisse. Os bruxos tinham essa tendência de temer o diferente – matavam os trouxas, dizendo que eles eram inferiores, e matariam Lilian por a considerar uma ameaça.

Assim como James, o amigo também havia emagrecido, e parecia tão pálido, como se estivesse doente. Ele devia ter se preocupado tanto...

— Eu estava cuidando da minha mãe – ela disse, usando o charme para fazê-lo acreditar – Ela estava doente, mas agora está melhor.

— Sua mãe morreu no incêndio – ele disse, sua voz baixa e confusa.

— Não, Sev, apenas meu pai morreu no incêndio, minha mãe está viva.

Passou o braço por baixo da mesa e segurou a mão levemente tremula e gelada de Severo. Ele segurou com força a mão de Lily, como se quisesse ter certeza que ela não fugiria. Ao sentir o toque da garota, Severo pareceu sair do estado de transe que estava anteriormente, mas sorriu para ela, e Lily soube que seu charme havia funcionado perfeitamente.

Não eram todos os filhos de Afrodite que possuíam o charme, mas Lily havia sido abençoada com ele desde pequena, e as vezes acabava o usando sem nem perceber. Ela gostava do poder, porém preferia evitar usá-lo. Parecia errado controlar as pessoas daquela forma – esse era o propósito da maldição Imperius, e era considerada imperdoável por um bom motivo.

Quando começaram a comer, Lily soltou a mão do amigo, já que precisaria de ambas as mãos para comer. A cada colherada, Severo olhava para a amiga, garantindo que ela ainda estava ali. A ruiva não queria ter causado tanto transtorno para o amigo, e se arrependeu de não ter mandado uma carta depois que a guerra acabou. Ela havia dito uma semana livre, mas estava tão ocupada em luto pela irmã, que mal havia pensado em Hogwarts durante esse tempo.

A sobremesa foi servida, e Severo olhou para a amiga, como se perguntasse se podiam sair dali. Como resposta, Lily pegou um pedaço de torta de chocolate e levou uma colherada na boca de Sev, que não pode evitar de sorrir. Ele sabia bem que Lily nunca pularia a sobremesa.

Nenhum dos dois se importavam se vários sonserinos estavam os encarando, ou que havia um bom espaço entre eles e os outros alunos, já que ninguém ali gostaria de estar perto de uma nascida trouxa. Lily sentia extrema gratidão pelo amigo não se importar, por colocar ela em primeiro lugar.

— Sua boca está suja – ele informou eventualmente, sorrindo ao ver o canto da boca rosada de Lily manchada com chocolate – Alguém já te disse que você come como uma criança?

Você me disse – respondeu, fingindo irritação – Várias e várias vezes.

— E você ainda não aprende – ele respondeu balançando a cabeça. Levou uma mão para o rosto da ruiva, limpando o chocolate com o polegar. Lily viu o olhar do amigo mudar, ficando mais sério, e virou o rosto para frente, sem querer o incentivar.

Ela sabia que o amigo tinha certa queda por ela, mas preferia ignorar. Era filha de Afrodite, então era natural que os garotos se atraíssem por ela – afinal, sua mãe era a deusa da beleza e do desejo. No Acampamento Meio-Sangue, Lily tinha várias irmãs, logo a atenção era compartilhada, mas em Hogwarts ela era a única.

Levantaram juntos e andaram sem saber muito bem para onde estavam indo, e não se importavam. Conversaram sobre os mais diversos assuntos, e Lily riu como não ria há dias, mas não conseguia sentir a felicidade que costumava sentir com Severo.

Tinha algo faltando, Lilian percebeu. Sempre teria algo faltando.

Silena Beauregard havia partido e levado um pedaço de Lily consigo.


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Notas finais do capítulo

Esse foi bem curtinho, mas eu vou atualizar rápido, prometo :D



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