Resilience escrita por Aurora


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :D



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Não era justo.

A forma como ela sorria ao fazer os feitiços mais bobos, apenas para ver as primeiranistas sorrindo, encantados com a magia. Ela não se importava se estava perdendo um tempo de qualidade com as amigas, em um dos últimos dias ensolarados antes da chegada do inverno – parecia que a única coisa que realmente importava era aquele momento, aquela bolha de felicidade entre ela e as duas garotinhas, que James sabia que eram nascidas-trouxas. Ela sempre fazia o possível para fazer alunos menores se sentirem acolhidos.

Não era justo o jeito que o olhar da garota se iluminava ao ver o moreno, sempre dando esperança ao rapaz, quando ele não tinha nenhuma. Seu rosto era tão expressivo, e seus olhos verdes nunca deixavam a garota mentir – sempre mostravam o que ela verdadeiramente sentia para qualquer um que parasse para olhar. Desde que voltaram de férias, Lilian andava preocupada. James sempre notava com preocupação a forma como ela olhava assustada ao seu redor, e como frequentemente ela se distraia durante as aulas, um olhar de medo e preocupação tomando conta do seu rosto.

Não era justo que James parecia ser o único a notar. Ela precisava de alguém, e ele não poderia ser esse alguém para ela.

— Bom dia, Potter.

James sentiu-se envergonhado por ter sido pego a encarando, mas não deixou com que ela percebesse. Ele estava apoiado em uma arvore enquanto Lily estava sentada no lago com as crianças, metros de distância – ainda assim, ele ouviu perfeitamente a voz da garota, inclusive o tom brincalhão que havia usado, com um fundo de repreensão por estar encarando. Como se sentissem a vontade de James em estar sozinho com Lily, as primeiranistas se despediram e correram para o castelo.

— Bom dia, Evans – respondeu, se aproximando da garota.

— O dia está lindo hoje, não acha? – perguntou, inclinando seu corpo magro e atlético para trás, apoiada em seus cotovelos. Seus pés balançavam lentamente dentro do lago, e seu rosto era o retrato perfeito da calma. James não conseguiu evitar de sorrir ao olhar para ela – É tão raro esse calor no final do outono que parecia um pecado não aproveitar.

Raro eram os dias em que ela estava tão em paz, James pensou, mas preferiu se manter em silencio. Sentou do lado da ruiva, tirando o sapato e as meias para colocar as pernas dentro do lago, imitando a posição em que ela estava.

— Merlin, a água está congelando – reclamou, recendo um sorriso zombeteiro da garota.

— Melhor? – Lily perguntou, e ele sentiu a água esquentando ao redor de suas pernas. Estava realmente melhor, mas James não havia visto a garota sequer tocar em sua varinha. Como se, mesmo com os olhos fechados, sentisse a curiosidade do moreno, Lily deu de ombros, o sorriso um pouco menor – É possível fazer magia sem varinha. Você deveria conseguir, vindo de uma família tão antiga.

— Eu consigo algumas coisas – respondeu, sentindo a necessidade de se defender, mas a garota não se importava.

Abriu os olhos e virou-se para encarar o colega. Seus olhos tão verdes pareciam mais claros na luz natural do dia, e no momento eles pareciam brilhar, o que acontecia toda vez que a ruiva pensava em contar algo que ela achava interessante.

— Sabe, na mitologia grega acreditam que Apolo, o deus do sol, viaja pelo mundo em sua carruagem voadora, e o quão próximo ele passa das cidades determina o quão quente vai estar naquele dia.

— Os gregos acreditavam em qualquer baboseira – respondeu, se arrependendo em seguida, pois a garota pareceu perder o interesse pela conversa.

 Ele observou a quartanista se levantar, pouco se importando com o uniforme amassado e com vestígios de grama grudada em sua saia. Suas pernas estavam secas, James percebeu ao vê-la colocando as sapatilhas, mas novamente ele não a viu tocar em sua varinha – já era bem mais do que o rapaz conseguia fazer sem a própria varinha.

— Esse final de semana tem passeio em Hogsmeade – ele disse, antes que ela pudesse sair. A ruiva parou para olha-lo, um pequeno sorriso no rosto que enchia James de esperança. Ele manteve o olhar desinteressado e a voz casual – Você já tem algum encontro marcado?

— McLaggen me convidou para ir com ele – disse lentamente, como se sentisse prazer com o sofrimento que o moreno escondia. Toda a escola sabia da rivalidade entre os dois, desde quadribol a garotas – Mas eu recusei.

— Se eu te chamasse, você aceitaria? – James perguntou, tentando fingir apenas curiosidade inocente.

— Eu não sei – ela respondeu em um suspiro. Se abaixou até ficar rosto a rosto com James e deu um pequeno beijo em sua bochecha. Em seu ouvido, sussurrou provocativa: – Você teria que me chamar para descobrir.

Ela se afastou, com aquele olhar de quem estava à beira de vencer, e foi embora, sabendo muito bem que não seria seguida. James passou a mão pelo cabelo e soltou um suspiro frustrado.

Não era justo a forma como ela brincava com ele. Não era justo o prazer que ela sentia ao tentar quebrar a máscara que James havia passado tantos anos montando. Ela sabia que ele nunca iria admitir o quanto queria sair com ela, ou o quanto a desejava só para si, de forma tão egoísta que o surpreendia e assustava. Ela sabia que ele não poderia convida-la para um encontro, e o quão perigoso aquele pequeno beijo poderia ser para ele.

Não era justo que seu melhor amigo, Sirius Black, fosse apaixonado pela garota dos seus sonhos.

Seguindo a garota com os olhos, James viu quando um garoto a puxou com força pelo braço. Levantou-se em um pulo e correu até eles, não se importando em estar descalço. Eles também estavam correndo, o garoto com a mão firme no braço de Lily.

— Hey! – James gritou – Solta ela!

Quando não recebeu nenhum reconhecimento que havia sido escutado, James se esforçou para correr ainda mais rápido, tentando alcançar os dois. Não seria útil tentar algum feitiço, podendo facilmente atingir Lilian.

Lily estava sendo puxada para a Floresta Proibida, percebeu. Quando entraram, James os perdeu de vista, então, sem pensar muito, se transformou em sua forma animaga – que recentemente havia aprendido – e usou os sentidos mais aguçados do cervo para encontra-los. Não demorou para que ouvisse a voz da garota.

— Pelos deuses, Nico, vários alunos viram você me puxando – reclamou – O que está acontecendo?

James se aproximou o suficiente para ver os dois conversando. Pensou em se transformar de volta em humano, mas sua intuição dizia que ele deveria ouvir essa conversa. Lily havia o visto, mas não deu atenção. Ninguém desconfiaria de um cervo em uma floresta.

— Começou – o garoto, Nico, respondeu, um ar sombrio em sua voz – Está sendo horrível, eles estão chegando por todos os lados. Pediram para eu te chamar, porque precisamos de toda a ajuda possível, mas Lily, não sei se você deveria ir. Não sei se vamos conseguir.

Em sua forma de cervo, James via o mundo em preto e branco, mas conseguia ouvir e sentir cem vezes mais alto e forte que humanos, sendo assim possível ouvir o coração da garota batendo mais forte, conseguia sentir o medo que ela estava sentindo, e – o que o assustou ainda mais –, percebeu que o que ela sentia não era nada comparado ao que o garoto Nico estava sentindo. Então o que quer que estivesse acontecendo, era muito mais assustador do que Lilian conseguia imaginar.

— Eu não achei que eu fosse sobreviver até os quatorze anos – Lily respondeu, a voz decidida – E realmente duvido que eu vou passar dos vinte. Se for para morrer, eu quero morrer com vocês.

— Tem tudo o que precisa contigo? – Lily mal teve tempo de assentir, e Nico já estava a puxando novamente, dessa vez em direção a uma arvore.

James não se preocupou em seguir dessa vez, sabendo que iriam apenas colidir com a arvore. Mas, assustado, assistiu eles entrarem dentro da arvore, como se fosse um portal.

Voltou a sua forma humana e se aproximou com precaução da arvore, como se pudesse o engolir a qualquer momento. Tocou com cuidado onde eles haviam entrado, mas nada aconteceu. Tentou bater na arvore, pensando que talvez precisasse de impacto. Sentindo que não daria certo, mas que valeria tentar, James pegou impulso e correu em direção a madeira, apenas para colidir com ela, caindo vergonhosamente no chão e ganhando alguns arranhões superficiais.

Então ele foi direto conversar com o diretor, que escutou tudo o que o garoto tinha visto, e pediu para que ele mantivesse em segredo absoluto o que tinha acontecido.

— Ela diz que pode morrer onde está indo e você quer que eu mantenha segredo? – o rapaz perguntou, incrédulo, sentindo sua voz aumentando a cada palavra – Tem uma passagem dentro de Hogwarts que permite que seus alunos se teletransporte para Merlin sabe onde, podendo morrer por lá, e você quer eu mantenha segredo?

— Eu entendo a seriedade do que está acontecendo com a Srta. Evans – Dumbledore garantiu, seus olhos extremamente sérios – Ela me avisou que isso poderia acontecer, e me explicou tudo o que precisava ser explicado. Eu não sei se ela vai retornar para Hogwarts esse ano, mas sei que era de extrema importância para ela que ninguém soubesse nada sobre o assunto. O que os alunos e professores irão saber é que a mãe da Srta. Evans está muito doente, e ela precisou ir para casa. E se eu ouvir qualquer rumor sobre o que você me contou aqui, serei obrigado a remover o Salgueiro Lutador da escola, e então não saberemos como serão as noites de Remus Lupin, ou quanto tempo demorará para os outros alunos descobrirem.

James nunca havia sentido tanta raiva antes. Se fosse qualquer outra pessoa no lugar de Dumbledore, provavelmente o maroto já estaria no meio de um duelo. Como ele poderia ameaçar Remus dessa forma? Como conseguia chantagear James com um assunto tão sério?

— Eu entendo sua raiva – Dumbledore disse – Mas os segredos da Srta. Evans são tão sérios quanto o de seu amigo. E assim como eu faria o possível para proteger o Sr. Lupin do preconceito que a sociedade tem pela condição que ele carrega, eu também tenho que proteger a Srta. Evans.

Como ele poderia dizer que estava a protegendo, quando ela poderia ter andado para a própria morte?

Sabendo que nada do que pudesse falar adiantaria, James se retirou da sala do diretor e foi para o seu dormitório.

Com muito esforço, o maroto foi capaz de manter sua palavra, mesmo após semanas sem noticia alguma da garota.

Nenhuma das amigas de Lily parecia se importar com o sumiço repentino, mesmo após admitirem terem mandado algumas cartas para saber sobre como ela e mãe estavam, mesmo após Dorcas Meadowes ter comentado que pensava que a mãe de Lily havia morrido alguns anos atrás. Sirius, que era encontrado com certa regularidade aos beijos com a ruiva, que dizia abertamente o quanto estava apaixonado com ela e queria algo mais sério, parecia apenas se importar que ela não respondia suas cartas.

O único que parecia compartilhar o sofrimento de James era seu arqui-inimigo Severo Snape. Ambos não conseguiam mais se alimentar direito, e tinham cada vez mais olheiras abaixo dos olhos. Snape, porem, parecia estar ainda pior. Ele sabia bem que Lily não tinha mais sua mãe, e o sumiço da garota estava o afetando de um jeito que nada mais conseguiria. Frequentemente James o via saindo da sala do diretor, enviando cartas – o que ele nunca fazia antes –, e todos os dias quando o Profeta Diário chegava, seus olhos iam direto para o obituário.

Três semanas depois do desaparecimento de Lily, James se encontrava no Expresso de Hogwarts, indo passar o natal em casa. Foi quando realmente entendeu que talvez Lily não voltaria mais.


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