Valeran - A Ascensão dos Reis escrita por Lorde Vallex


Capítulo 7
Yont-i


Notas iniciais do capítulo

Hello!
Prosseguindo com a história, estaremos, em breve, entrando em um arco importante kkkkk



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Soren estava satisfeito. Já estavam na Academia Greyhorn havia bastante tempo, e ele estava conseguindo se sair muito melhor do que ele próprio esperava.
Em primeiro lugar, conseguira manter em segredo sua escola de magia. Embora, obviamente, seus amigos perguntassem, ele continuava despistando-os — claro, com a ajuda de Herys, da qual se tornara cada vez mais próximo.
Além de sua magia — esta que ele estava conseguindo estudar com facilidade, e o deixava orgulhoso de si mesmo —, Soren estava cada vez mais próximo e seguro com seus amigos. Arty tornara-se muito menos tímido com eles (embora não completamente) e Herys até chegara a contar sobre como conseguiu o seu estranho canalizador misterioso. Até mesmo o escudeiro Killian, de vez em quando, unia-se a eles.
Todos progrediram muito. Arty já conseguia até mesmo invocar um urso, Herys agora conseguia disparar verdadeiros raios de energia elemental — e Soren tinha certeza que um disparo certeiro daqueles feitiços poderia eliminar uma pessoa desprotegida — e Lira já estava conseguindo fazer objetos leves levitarem e até comunicar-se telepaticamente com pessoas que aceitassem.
Quanto aos professores, Soren estava completamente dividido. Aelod já não lhe dava especial atenção, mas Zerafinie parecia interessada em vigiá-lo (decerto temendo que o mago das trevas fizesse algo de errado). Luk e Wixxard já pareciam um pouco menos… rigorosos. Wixxard brincava que já viu sacerdotes mais maliciosos que o jovem Soren, enquanto Luk ia muito além disso.

— Sabe, Soren — dissera o mestre de magia mental, certo dia. — Tome cuidado. Eu sei que você não quer “se perder na escuridão”, mas também não esqueça quem é o mestre e quem é o servo. No caso da magia das trevas, ou você comanda ela ou ela te comanda. Você, garoto… o poder da escuridão é seu para comandar. Lembre-se disso.

Aquelas palavras fizeram Soren refletir por um bom tempo.
Mas sem dúvida havia algo que lhe tirava o sono, e esse algo era Arkhim Streffar. Apenas a noção de que o homem que decapitou seu pai biológico dormia um ou dois andares acima do aprendiz deixava-o furioso. E a sensação de impotência sempre que via o Cavaleiro Dracônico também era enorme. “Eu não posso atacá-lo”, pensava amargurado. “E, mesmo que pudesse, não duraria nem um minuto.”
As aulas de magia básica foram deixadas de lado havia dois dias, pois todos os alunos já conheciam tudo o que podiam sobre ela. Na verdade, nesses horários Soren e Herys costumavam ser mandados para ajudar professores a preparar algo de que eles necessitavam.
As provas também eram fáceis — as teóricas, pelo menos —, pois Soren passava muito tempo na biblioteca e havia aprendido muito. Seus assuntos favoritos eram os planos (lugares semelhantes a outros mundos, com características e habitantes próprios), e criaturas mágicas (em especial os invencíveis dragões, forças da natureza inigualáveis, os seres mais próximos dos deuses, extintos havia menos de um milênio).
Soren também progredira com a magia das trevas. O próximo feitiço que aprendera consistia em preencher uma área com escuridão mágica, que só podia ser iluminada com magia. Aquele, pensou o garoto, era um dos feitiços mais interessantes que ele aprendera, pois, usado em conjunto com a Visão Noturna, poderia conceder-lhe enorme vantagem em combate.
Soren agora estava junto de Herys, Lira e Arty. O quarteto estava na biblioteca pesquisando sobre “vampiros”.

— Aqui diz — recitou Lira — que o primeiro vampiro foi um nobre poderoso chamado Lúcifer Stregobor von Kazantir, que foi amaldiçoado pela deusa primordial Shai'nur e adquiriu imortalidade. Como consequência, ele se tornou um morto-vivo que precisava de sangue para sobreviver.

— É insuficiente — murmurou Herys. — Precisamos colocar o máximo possível sobre os vampiros. Arty, o que você achou?

— Aqui diz que os vampiros são divididos em dois tipos — leu Artariel. — O primeiro tipo são os servos ou escravos. Eles são mais fortes, rápidos e resistentes que humanos comuns, podem ver no escuro, escalar superfícies, podem…

— Mais devagar! — rosnou Soren. — Eu estou copiando!

— Copiou? Ótimo. Quando um humano é mordido por um vampiro puro-sangue durante a noite, ele se torna um escravo. Os eacravos não podem esconder suas feições vampíricas e são obrigados a servir os puro-sangues. Eles precisam de sangue para viver. Os servos viram cinzas na luz do sol, são vulneráveis ao fogo e a itens sagrados e podem morrer por armas convencionais. Pronto?

— Sim — respondeu Herys por todos.

— Agora — prosseguiu Arty —, os Lordes, ou puros-sangues. Eles são aqueles que receberam sangue diretamente de Lúcifer. Eles podem assumir feições humanas, sendo apenas mais pálidos que o normal. Os Lordes não precisam necessariamente de sangue para sobreviver, porém este os torna mais fortes. Os Lordes também conseguem controlar carniçais.

— Não quero encontrar um desses na minha frente — comentou Lira.

— Ou talvez você irritasse tanto o vampiro que ele ia embora — sussurrou Soren, inocentemente.

— Os puros-sangues não morrem de velhice — continuou Arty —, têm atributos físicos superiores aos humanos, podem se transformar em morcegos, ver no escuro, podem hipnotizar mentes fracas também. Sua única fraqueza são itens sagrados e o sol reduz drasticamente seus poderes.

— Lembrem-me de sempre levar comigo um item sagrado — brincou Soren.

— Você iria se queimar — avisou Herys, falando sério.

— Exatamente — concordou Lira, imaginando que fosse uma brincadeira.

Soren sorriu.

— Decerto vocês têm pouca consideração por mim. Estou muitíssimo ofendido.

— Não se ofenda com a verdade — disse Lira com um sorriso maldoso.

— Afinal — falou Soren, mudando de assunto —, o mestre Aelod e o lorde Tulin estão armando algo. Eles trouxeram coisas estranhas para uma das salas vazias do castelo, e parece que será algo relacionado com outro lugar.

— Por que acha isso?

— Eles parecem estar preparando um círculo de teletransportação, como aquele que fica nas torres-portal que liga os ducados — contou o mago das trevas. — Eu acho que iremos ser levados a algum outro lugar. E uma das provas definitivas já está se aproximando, então sinto que está relacionado a isso.

— Até faria sentido — concordou Herys. — Então é melhor nos prepararmos, pois as provas definitivas são sérias e perigosas. Eu não iria querer chegar a uma sem preparo antecipado.

— Digníssima dama, vossa sabedoria muito me convence — disse Soren. — Vossa Senhoria poderia iluminar este mero mortal com possibilidades de preparo?

— B-bem… — gaguejou Herys, sem realmente saber como se preparar.

— Somos magos — afirmou Lira. — Obviamente a prova terá relação com magia. Basta treinar magia.

— Por algum motivo obscuro — murmurou Soren — sinto que não é isso. Não “apenas” isso.

De certa forma, Soren Heirdarus tinha razão.

*

No enorme templo oculto em uma floresta densa, um mago de manto escuro e máscara dourada caminhava com pressa. Vivia ajeitando a túnica, pois odiava como aquele traje enroscava-se nele quando caminhava. Mas a proteção mágica da vestimenta compensava o fato desagradável.
Alastair subiu a escadaria do templo. Assim que passou pelo último degrau, um farfalhar nas árvores próximas alertou-o da aproximação de companhia.
Quando o Mago Dourado se virou, estavam na sua frente dois elfos. Estes eram facilmente reconhecíveis, não apenas pelas orelhas pontudas e cabelos exóticos, mas também pelas vestes cinzentas e esverdeadas, muitas vezes decoradas com folhas ou flores.
Alastair aguardou que eles o ameaçassem, e não se decepcionou.

— Chan eil fàilte an seo, a dhuine — rosnou o mais alto dos elfos, de longos cabelos verdes.

— Cha tàinig mi an seo gus an teampall agad a shaoradh — disse Alastair calmamente, na língua élfica, desejando evitar um conflito.

— Chan eil fàilte an seo, a dhuine — repetiu o segundo elfo, irritado. Ambos usavam lâminas prateadas, sem dúvidas muito melhores que as armas humanas comuns.

Alastair suspirou.

— Que seja. Venham.

Os dois elfos atacaram simultaneamente. Porém, antes que eles chegassem perto do Mago Dourado, ambos foram espetados por flechas na garganta, e caíram mortos no chão. As penas na extremidade da haste indicavam que eram flechas élficas.
Alastair olhou para os dois elfos que ele já havia controlado.

— Matem os últimos elfos no templo — ordenou ele aos dois arqueiros. Estes miraram um no outro e dispararam as flechas simultaneamente, enfim eliminando todos os elfos que estavam de guarda.

Alastair tornou a andar apressado pelo templo. Era um local bem cuidado e dotado de uma beleza natural. As plantas que cresciam em locais específicos contribuíam para a decoração do templo.
O mago mental chegou ao centro do templo, onde havia uma enorme estátua de uma bela mulher com vinhas no cabelo e diversos animais ao seu lado.

— Carzinin… Será que você ficará ofendida pelo que eu farei agora, deusa da natureza?

Alastair então apontou a mão para a cabeça da estátua, e um pulso de energia psíquica foi disparado, atingindo a cabeça e mandando-a voando para longe. Alastair então conjurou um feitiço de levitação em si mesmo e começou a flutuar em direção ao pescoço destruído da estátua.
Assim que pousou, pode ver a bela joia verde e brilhante presa à pedra. O mago sorriu.

— Demorou, mas eu finalmente te encontrei.

Estendeu a mão para a joia, que soltou-se da pedra e voou para a mão do mago. Alastair sorriu por baixo da máscara dourada.

— Estamos chegando, meu senhor. Este mundo dará lugar a um novo.

O Mago Dourado ajoelhou-se no chão, de pernas cruzadas, e iniciou uma Projeção Astral.

*

Em alguma gruta qualquer, especialmente fedorenta, Adrian roía o osso de um cervo. Seus mercenários faziam um barulho desagradável e contavam piadas que deixariam até os homens mais tolos com vergonha.
Adrian estava imerso em pensamentos quando sobressaltou-se com uma voz atrás de si.

— Sor Adrian — chamou a projeção de Alastair. Adrian olhou-o irritado.

— Já pedi para não me chamar disso.

— Ficou assustado? Até parece que está planejando destruir todos os reinos do continente — zombou o mago.

— Fale logo o que quer — ralhou o mercenário. Alastair ficou mais sério.

— Eu fiz o que precisava fazer. Pode iniciar o seu trabalho em Feradöhr. E lembre-se de evitar chamar a atenção.

— Sim, senhor — resmungou Adrian a contragosto.

— Que bom que está começando a entender quem está acima de quem.

Alastair sumiu. Adrian urrou furioso.

— Quando tudo acabar eu vou matar esse mago arrogante! — jurou ele da boca para fora.

— Ei, chefe — chamou Banner. — Vamos mesmo ter que ir até aquela cidade? Não gosto daquele lugar. Fede a magia.

— Tenho que concordar, mas estamos apenas a duas semana de distância. Façamos o serviço para a lagartixa e então continuamos com seja lá o que o Alastair mandar. Eu, particularmente, quero terminar logo com isso.

Adrian, Banner e os mercenários então resolveram descansar. No dia seguinte, começariam a traçar o caminho até a cidade de Feradöhr, onde localizava-se a Academia Greyhorn.

* - Quatro dias depois

No subterrâneo da Academia Greyhorn, Zerafinie caminhava apressadamente pelos longos e frios corredores. A mulher achava aquele frio um mau sinal, pois os archotes na parede queimavam. Mesmo assim, nenhum calor, tampouco luz, emanava deles como normalmente ocorreria. A luz mal iluminava e era como se as chamas fossem meras decorações de alguém com gostos duvidosos.
A mestra de magia elemental continuou andando até parar em frente a uma pesada porta de ferro. Balançando a cabeça, maga empurrou as pesadas portas, causando um barulho que, além do peso, fazia a porta parecer velha.
Mesmo com a porta aberta, a luz oriunda dos archotes não iluminava a sala escura. Um olhar mais atento fez Zerafinie percebeu que tratava-se de uma escuridão criada sobrenaturalmente, assim como os demônios e dragões negros costumavam fazer.

— Aprendiz — chamou Zerafinie.

Para a surpresa da mestra, não houve uma resposta imediata. Irritada, ela repetiu, desta vez mais alto. Ouviu uma exclamação e algo caiu no chão dentro da sala. Ela estava começando a pensar em utilizar magia para iluminar o local — o que significaria entrar no salão impregnado com trevas, e ela não sentia nenhuma vontade de fazer isso sem necessidade.
Por sorte, ela não precisou. Uma voz envergonhada foi ouvida.

— Mestra Zerafinie. — Era a voz de Soren. — Perdoe-me. Eu acabei adormecendo. Ah, sim, espere um momento.

Um sussurro em linguagem claramente demoníaca, e toda a escuridão da sala começou a sumir e se concentrar em um único ponto. Quando toda a escuridão já estava na palma da mão de Soren como uma esfera maciça de trevas, o garoto fechou a mão, e as trevas desapareceram.
Soren então olhou para Zerafinie.

— Do que você precisa, senhora Darkandew?

— Estamos convocando os alunos — informou ela — para realizar uma das provas. Imagino que eu não precise entrar em detalhes.

— Não — concordou o aprendiz. — Estou indo imediatamente!

Soren olhou para o livro das trevas que estava na mesa e, para a surpresa de Zerafinie, estendeu a mão para ele. Um pentagrama roxo brilhava nas costas da mão do mago.
O livro das trevas tornou-se uma fumaça que adentrou o pentagrama. Quando não havia mais vestígios do livro, Soren murmurou algo em linguagem demoníaca e o pentagrama desapareceu. Zerafinie assobiou.

— Não pensei que um aprendiz poderia realizar um feitiço de armazenamento com tamanha perfeição.

— Estou proibido de mexer em alguns feitiços — justificou-se o rapaz —, então resolvo me ocupar com outra coisa. Isso evita perguntas sobre eu ter um livro enorme que emana miasma.

— Concordo. Você é talentoso, mago das trevas.

— Obrigado — agradeceu Soren, sorridente. Então semicerrou os olhos. — Espero que não seja mentira, senão jogo uma maldição para você sempre esquecer onde deixou a escova de cabelo!

— Que assustador.

— Então… hum… vou fazer com que você sempre vire a esquerda quando quiser virar a direita!

— Essas maldições realmente existem? — perguntou Zerafinie.

— Por mais incrível que possa parecer, sim.

— Só por garantia, proíbo-te de mexer com maldições.

— Como desejar. Não estou perdendo muita coisa.

Soren acompanhou Zerafinie pelo corredor. Já estava acostumado com o escuro, embora achasse o frio levemente desconfortável. Não era um frio comum.
Subiram a escadaria em espiral, seguiram por outro corredor — mas agora já no castelo, então era mais bem iluminado e não possuía uma sensação desagradável praticamente sobrenatural. Por fim, chegaram a um salão. Soren olhou em volta.
A primeira coisa que notara foi que os escudeiros que perseguiam o objetivo de se tornarem Cavaleiros Santos estavam presentes no salão, bem como a maioria dos alunos do primeiro ano. Soren achou estranho, pois as provas dos magos raramente eram acompanhadas pelos cavaleiros.
Notara também Sor Arkhim Streffar, encostado em uma coluna, aguardando. Quando o viu, Soren sentiu a sua própria Mana oscilar. “Controle-se”, disse ele para si mesmo.
Notara também Lira, Arty e Herys, agrupados como de costume. O fato das duas garotas andarem ao lado de um inumano não as tornava um especial interesse em relação a amizades de outros alunos.
Soren, após confirmar com Zerafinie, foi até os seus amigos. Arty estava visivelmente desconfortável. Lira, ao contrário, estava bem animada.
Quando Soren questionou se alguém sabia exatamente o que estava acontecendo, todos negaram.

— E por que os escudeiros estão aqui? — indagou Herys.

— Eu tenho um palpite — afirmou Soren, mas Lira olhou para ele, zangada.

— Estou me cansando das suas teorias da conspiração.

Soren suspirou, derrotado. Estava pensando em algo deste jeito. Expedições extraplanares seriam algo que Casymir desejaria. Claro, raramente humanos sobreviviam mais de um ano em outros Planos, mas visitas breves para coleta de recursos seriam muito úteis para o reino.
Soren sentia que estava correto, mas seus pensamentos e experiências faziam com que ele visse maldade em todos os atos do rei Casymir.
O garoto então aguardou algum pronunciamento. Não precisou aguardar muito.
O Arquimago Tulin Silleskrow bateu com o cajado no chão, e o salão mergulhou em um profundo silêncio. O ancião sorriu.

— Agradeço a colaboração de todos vocês, senhoras e senhores, por se reunirem aqui hoje — começou o maior de todos os magos. — Estou aqui com o único intuito de organizar a primeira prova definitiva do ano. Aqueles que falharem nesta prova terão de dar adeus à academia. Claro, sem pressão.

Pigarreou e, após um momento, tornou a falar.

— A prova consistirá em uma pequena… viagem extraplanar.

Fora inevitável que os murmúrios começassem. Todos, até os escudeiros, sabiam dos perigos de realizar expedições extraplanares, normalmente realizadas apenas por magos poderosos.

— Obviamente, haverão professores que acompanharão vocês nesta jornada. Formem grupos de poucos integrantes.

Assim foi feito. Os alunos começaram a se reunir em grupos. Os escudeiros compreenderam que seria melhor ter magos naquela prova em específico, e com nítida hesitação juntavam-se a grupos de magos. Killian, como era de esperar, caminhou até eles.
Soren riu.

— Será que aceitamos esse arrogante escudeiro em nosso grupo? — indagou ele.

— Não tenho certeza — pensou Herys. — Ele deve se ajoelhar!

— Me recuso.

— Sem graça — murmurou Soren. — Muito bem. Venha, guerreiro.

Quando a maioria das pessoas já estava reunida, Tulin tornou a falar:

— Cada grupo será acompanhado de um mestre. Obviamente, não será possível que todos realizem a viagem ao mesmo tempo, então esta prova estará ativa por um período relativamente extenso. Por isso, selecionaremos aleatoriamente cinco grupos, cada um acompanhado de um mestre, incluindo o Venerável Sor Arkhim Streffar.

“Em nome dos deuses, que não seja ele”, desejou Soren mentalmente.
O Arquimago bateu novamente o cajado no chão. Fios arcanos saíram do local próximo a cinco grupos e ligaram-se a seus respectivos mestres. Soren agradeceu a cada um dos deuses mentalmente, pois estavam ligados a Zerafinie, e não a Sor Arkhim.
Por um momento, o mago das trevas suspeitou que a escolha não fora completamente aleatória…
Tulin deu um passo à frente. Murmurando uma fórmula mágica, um portal roxo e negro surgiu à frente do mago.
O primeiro grupo a atravessar foi o do mestre Aelod, seguido do grupo de mestre Wixxard. O terceiro grupo foi o de Zerafinie.
Quando passaram pelo portal, Soren sentiu aquela desagradável sensação de frio, medo e vazio, antes de sair em outro Plano.
Quando olhou ao redor, percebera que era uma terra repleta de plantas, flores e árvores enormes. Soren sorriu de canto. Reconhecia aquele local.
Tratava-se de Yont-i, a terra das bestas, da natureza e de seres ligados a ela. Também era, talvez, o único local dos Planos onde não era incomum encontrar fadas.
A primeira coisa que Zerafinie fez foi ajoelhar-se no solo e tocar com delicadeza a terra sob seus pés. Então se levantou. Até onde a vista enxergava com nitidez, havia planícies verdes, flores belas e um céu limpo. No horizonte, uma enorme floresta.

— Nosso objetivo nesta prova — informou Zerafinie — é atravessar aquela floresta e chegar a uma runa de teletransporte que vai nos levar novamente para o nosso plano.

Não disse mais nada. “Maldito seja Casymir”, pensou a mestra de magia elemental. “Expedições extraplanares tão cedo? O que você quer?!”
Espreguiçou-se. Havia muito tempo desde que saíra do Plano Terreno pela última vez. Seu marido ainda estava vivo àquela época.
Zerafinie olhou mais atentamente e, subitamente, lembrou-se de algo.

— Err… algum de vocês trouxe comida? — perguntou a mestra, séria.

— Não — disseram todos, um de cada vez.

Zerafinie deu uma risada forçada. “Inúteis. Por que eu preciso lembrar de tudo?! Só porque sou uma poderosa mestra de magia, adulta e que já saiu do Plano Terreno várias vezes?!”
A professora então apontou para a direção de um pequeno lago a algumas centenas de metros.

— Demos o azar de chegarmos neste horário. Vai anoitecer em menos de duas horas. E a noite neste Plano não é especialmente agradável — informou ela. — Nos dividiremos, então. Herys…

— Eu vou com o Soren — interrompeu a jovem maga.

Zerafinie entendeu. Provavelmente, além dela própria, apenas Herys sabia sobre a magia de Soren.
Lira entendeu de outro modo, lançando um olhar malicioso para Herys.

— Você não perde tempo mesmo — comentou ela.

— O que quer dizer? — indagou Herys, inocentemente confusa.

— Apenas que não quero ser tia tão cedo. Espere mais alguns aninhos, vai?

Finalmente a ficha caiu, e Herys enrubesceu. Soren sentia que seu rosto também queimava. “E depois os magos das trevas que são seres perversos”, pensou Soren.

— L-Lira, cale-se!

— Me calo, claro — concordou a garota. — Mas apenas quando você disser que estou certa.

— Eu mereço — suspirou Zerafinie. — Um bando de moleques. Muito bem, eu e o Soren iremos procurar algo para comer. O resto de vocês vai até aquele lago. Não deve haver nada especialmente perigoso aqui neste Plano durante o dia, então não precisam ter muito medo. Lembrem-se: não toquem em nenhuma planta. Algumas são venenosas. Garoto, comigo.

Soren assentiu, apressado, e acompanhou Zerafinie.
Enquanto afastavam-se dos outros jovens, Soren olhou para Zerafinie com curiosidade. A mestra de magia não olhou para ele, mas começou a falar.

— Eles não conhecem a sua magia, e não há como adivinhar como reagiriam se descobrissem — explicou a filha de Kurt Darkandew, o Cavaleiro Dracônico. — Em Valeran, a maioria teme a magia das trevas, e possuí-la é um crime punível com a morte. Geralmente, magos das trevas são queimados na fogueira.

Soren sentiu um calafrio ao ouvir isso. Havia aprendido a não ser arrogante e ignorar essas advertências. Entendeu que, se alguém descobrisse e denuncia-se ele, o garoto teria apenas a proteção da academia. “E, assim que eu me formar, serei morto”, percebera.

— A Herys, por sorte, não ligou tanto para isso. Talvez porque ela tenha algo ainda mais perigoso do que você. Mas — continuou ela, após alguns segundos — você deve ter entendido o porquê de você vir comigo. Estaremos nós dois, sozinhos, então você pode usar sua magia sem medo.

— A Herys também sabe — comentou o jovem, confuso. — Por que não fomos nós dois?

— Haha, que jovem ingênuo. Este lugar não é tão perigoso durante o dia — explicou, enquanto andavam —, mas, mesmo assim, pode haver perigos. Neste caso, eu deixei todos eles juntos. Teria deixado você também, se não houvesse perigo.

— E você iria sozinha?!

— Ah, está preocupado? Não se engane. Eu sozinha poderia lidar com mais problemas do que todos vocês juntos.

Soren, pensando melhor, acreditava.

— E você acha… — perguntou ele, baixinho — Acha que alguém me denunciaria para os reais?

— Não tenho certeza. Essa amizade dos jovens é confusa. Talvez eles te aceitassem. Mas, por exemplo, os elfos desprezam a magia das trevas. Eles respeitam a natureza, e não existe nada mais prejudicial a ela do que a magia das trevas.

— O Arty — contou Soren —, acho que ele sentiu o miasma maldito do meu livro. E nunca me questionou sobre isso.

— Talvez — murmurou Zerafinie. — Talvez ele apenas não queira magoar os poucos humanos que o aceitam. Você deve ter visto como olham para ele lá na academia.

— Isso é ridículo — rosnou Soren, furioso. — Os elfos vivem, morrem, têm filhos, têm gostos e desgostos. Eles amam e odeiam, comem e bebem, ficam tristes e felizes. Eles falam, pensam, possuem amigos e familiares. Por que tratam eles diferente?!

— Os humanos temem o que é diferente. Se não podem controlar… então começam a matar. Soren von Dartã, não há como mudar isso. Essa inimizade entre humanos e inumanos existe há séculos. Receio dizer que foram os humanos que causaram isso. A fome por poder e território fez com que levassem guerra a povos que viviam em paz com os outros, e então finalmente os elfos se enfuresceram e abandonaram o Império. Os anões, mais tarde, também abandonaram, e este foi o fim do Império.

— E, mesmo assim, os humanos não entendem — percebeu Soren, com raiva. — Por que julgamos todos eles só por serem um pouco diferentes?

— Garoto, se todos pensassem como você, este mundo não seria como é hoje. Mas não há como mudar do dia para a noite.

— Eu sei que não poderei ser um mago poderoso — afirmou Soren, em voz baixa —, mas eu serei um nobre importante. Vou me destacar de alguma forma!

“Não vou acabar com suas esperanças”, pensou Zerafinie, “mas, se tentar pregar sobre os direitos das outras raças agora, com Casymir Loernvel no poder, seu destino será a forca ou o envenenamento por alguém que você considera aliado.”
Continuaram andando por mais algum tempo enquanto procuravam algo para comer. Zerafinie não permitia que Soren tocasse na maioria das plantas. Eram venenosas ou não eram comestíveis.
Zerafinie conseguira algumas frutas, mas estava determinada a alcançar algum animal. O único problema era que os animais selvagens de Yont-i tinham o dobro do tamanho dos animais comuns.
Enquanto procuravam, ouviram um barulho vindo de cima de um morro próximo aos dois magos. Quando olharam para cima, um enorme urso pardo corria colina abaixo.

— Que ótimo — resmungou Zerafinie. — Tudo o que eu precisava era isso.

Antes que o enorme urso pardo chegasse a menos de cinquenta metros dos dois magos, Zerafinie apontou o cajado para ele.
Sem pronunciar nada, um relâmpago foi disparado na direção do urso, atingindo-lhe na cabeça. O urso termina o caminho rolando como um cadáver.

— Vamos pegar aquele urso e voltar. Não quero chegar muito tarde até os outros pirralhos.

— Sim, senhora.

— Não me chame de senhora — bufou a maga.

Soren concordou. Os dois então voltaram para carregar o urso até os outros novamente.

 


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Notas finais do capítulo

Hehe, as coisas em breve começarão a esquentar kkkk



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