Valeran - A Ascensão dos Reis escrita por Lorde Vallex


Capítulo 6
Tempos de Mudança


Notas iniciais do capítulo

Hello!
Não vou me demorar aqui, porque não tenho muito o que dizer. Aproveitem o capítulo.
Boa leitura ^^



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Os dias passaram-se de maneira agradável. Todas as manhãs, Soren ia a uma sala vazia praticar a tão temida e condenada magia das trevas, enquanto seus amigos estudavam com seus professores. Certo dia, reuniram-se para falar sobre as aulas. Segundo Herys, ela já aprendera um feitiço para criar uma esfera de luz para iluminar áreas escuras, enquanto também estava praticando um feitiço para congelar o alvo momentaneamente.
Artariel já havia aprendido a conjurar um corvo e também um rato — este pelo qual ele podia ver e ouvir. Ele agora dizia sobre a dificuldade em conjurar um lobo, pois este já era uma criatura maior e mais hostil.
Lira, pelo contrário, estava se dando bem com a magia mental. Já conseguia plantar ideias na mente das pessoas e ativar sentimentos de desconfiança, e agora praticava como criar uma pequena ilusão.
Soren, é claro, não queria falar o que aprendera. Na verdade, já havia dominado a conjuração perfeita da [Visão Noturna] e do [Fogo Infernal] — um feitiço que permitia invocar uma minúscula concentração de chamas provenientes de Apokris na palma da mão do usuário —, mas não contou nada. Herys, que sabia sobre a sua magia, defendeu-o quando ele disse que não conseguira muitos avanços.
Com isso, as aulas passavam rápido. Aprenderam a magia básica, e também sobre a Ruína dos Carniceiros — a caça aos necromantes —, a Rebelião Élfica em Konatang, bem como algumas conquistas da magia — principalmente bélicas.
Soren percebeu que na maioria dos livros da academia, algumas informações eram alteradas — principalmente no que dizia respeito a elfos e anões —, e isso irritou o garoto.
Enfim, a primeira prova verdadeira dos alunos chegou. Uma prova que eles nunca imaginaram que teriam tão cedo. Afinal, haviam feito provas escritas, e também provas práticas demonstrando o que sabiam aos professores, mas não imaginavam que teriam aquela prova em específico tão cedo.
A prova em questão era uma das provas verdadeiras que definiam coisas mais importantes do que apenas o aprendizado. Elas simulavam questões verdadeiras da vida de um mago — ou Cavaleiro Santo.
Um ano tem doze meses. No 1°, 2° e 3° mês, havia provas. No 4°, um descanso (incluindo uma semana inteira sem aulas). No 5° uma prova e no 6° uma prova definitiva (mas essas eram ainda piores). No 7° mês há outro descanso, e nos demais há provas (incluindo outra prova definitiva no 11° mês). Apenas no último mês os alunos iam para casa.
A prova que Soren e seus amigos realizariam agora era a prova do 1° mês, uma prova que definia muito, isso graças ao sistema de pontos.
Cada prova vale 12 pontos. No total são 108 pontos no ano. É preciso 78 pontos anuais para passar para o próximo ano. Aqueles que tiravam menos de 7 pontos em uma prova definitiva (aplicadas no 6° e 11° mês) acabava sendo retirado da academia na hora.
Mas uma prova definitiva era algo além da capacidade dos alunos naquele momento. Não, naquele momento seria “apenas” uma prova mensal.
Mas estas também carregavam riscos. Aqueles que matriculavam seus filhos na Academia Greyhorn sabiam das chances de nunca mais voltarem a vê-los.
Soren, Herys, Lira e Artariel já haviam formado um grupo — porém eram necessários cinco membros, e não quatro. Além disso, deveria haver pelo menos um escudeiro e um mago em cada grupo.

— Então precisamos de um escudeiro — afirmou Lira o óbvio.

Um grupo de escudeiros estava no local. E, falando neste, era basicamente assim: atrás do castelo Greyhorn, logo próximo a uma colina, havia uma clareira. E era nessa clareira que estavam agora. Estavam cercados pelo diretor Tulin, o mestre Luk e o mestre Aelod. Eles estavam em uma pequena elevação de pedra.

— E então, vocês devem formar logo os grupos — avisou Tulin.

Soren corria os olhos pelos escudeiros. Era clara a hostilidade no ar, pois era um fato antigo: Cavaleiros Santos e magos não se davam bem. Não desde a Rebelião Élfica de meio século atrás. Mesmo assim, provas conjuntas tentavam apagar essa inimizade.
Mas Soren já pensava em quem queria no grupo, e dirigiu-se até ele. Killian Maklaw, como sempre, estava com uma expressão séria.

— Salve, Killian — cumprimentou o mago das trevas, sorrindo animado. Killian arqueou a sobrancelha.

— E quem seria você?

— Soren H… — tossiu baixinho. — Soren von Dartã, filho de Sor Roderik.

— Ah, claro. Conheço o seu pai. Me deixou sem poder lutar por uma semana quando o desafiei.

— Hehehe, é bem a cara dele. Mas enfim, você pode se unir à nossa equipe?

Os escudeiros explodiram em gargalhadas.

— Aparentemente — rosnou um dos escudeiros —, agora todo mundo pode convidar o melhor de nós para se juntar a um time. Ainda mais um time com um inumano maldito.

Killian ouviu isso e sorriu de canto. “Kane, meu irmão, você sempre me disse que eu não deveria me tornar como todos os outros. Muito bem, então. Verei quem irá me julgar, e quem respeitará minha decisão.”

— Muito bem. Eu vou com vocês.

Todos, incluindo os magos, ficaram chocados com a resposta. Imaginavam que Killiam ficaria com o menor número possível de magos no time.
Killian originalmente tivera o típico preconceito contra usuários de magia, até que um deles salvou seu irmão Kane em uma batalha de anos atrás.
O escudeiro aproximou-se, acompanhado de Soren, dos seus novos companheiros neste teste. Cumprimentou-os com um simples aceno de cabeça, ainda sob os olhares dos escudeiros (e também dos magos).

— E então, qual será o nosso objetivo? — indagou ele.

— Não será especialmente complicado — garantiu Tulin. — Vocês precisarão enfrentar uma criatura que será invocada pelo mestre Aelod. O tempo limite é de dez minutos. Estão prontos?

— Sim, senhor — anunciou Killian. Soren concordou, e logo depois os demais assentiram. Tulin sorriu.

— Então peço aos demais alunos que afastem-se. Isso, isso, aí. Aelod, pode começar a invocação.

O mestre de magia de invocação assentiu. Ele ergueu a varinha que carregava — seu canalizador — e logo um círculo mágico com o símbolo dimensional no centro e runas na linguagem arcana girando ao redor surgiu. Havia cinco círculos, então era um feitiço do quinto círculo. O professor anunciou:

— [Ziduldod: Rfsudrakor]

O mesmo círculo mágico surgiu no chão à frente do professor, brilhando em uma luz violeta. Do círculo, saiu uma criatura de dois metros e vinte, com pernas curtas e robustos braços longos, com corpo enorme e cabeça repleta de ferro. Um golem de pedra.
Herys praguejou.

— Por que justo esse daí? Não acho que a maioria dos feitiços seja útil contra ele.

— Estamos em cinco — recordou Soren. — Basta atacarmos coordenadamente. Eu fico de suporte. Não sou bom nas magias especializadas, mas consigo realizar feitiços básicos facilmente.

— Certo — concordou Lira. — Na verdade, a maioria dos magos não serve para as linhas de frente.

— Fale por você — interveio Herys, sorrindo. — Eu quero participar. Soren, então você deve nos proteger, afinal você não pode ajudar de outra forma. Lira, Arty, vocês utilizam seus feitiços para nos auxiliar. Escudeiro, o principal fica com você.

— Eu já esperava por isso — admitiu Killian.

— Chega de cochichos — avisou Aelod, impaciente. — Vou atacar.

Antes disso, Luk colocou uma venda em Aelod, e este utilizou um método de conexão mágica avançada para conectar-se com o golem de pedra.

— Agora ele vê pelos olhos do golem — avisou Artariel, ainda um pouco envergonhado com a presença de um desconhecido.

— Certo. Kil, apenas destruindo o núcleo um golem pode ser morto — avisou Soren. O escudeiro assentiu.

O golem avançou. Killian foi o primeiro a ir de encontro ao golem, com a espada de aço e o escudo revestido com couro prontos para aguentar o golpe. Herys correu até ficar em uma posição melhor para lançar feitiços sem se preocupar com Killian. Arty fez algo que não imaginava que conseguiria. Ele realmente invocou um lobo. Uma criatura de pelagem cinzenta e olhos cor de mel.
O soco do golem atingiu o escudo de Killian com tanta força que o garoto cambaleou e seu braço amorteceu momentaneamente. “Mas um verdadeiro golem teria quebrado o meu escudo e o braço. Então os boatos são verdadeiros: seres invocados por magia não se igualam aos originais.”
Com esse pensamento, Killian atacou o peito do golem. Era onde se encontrava o núcleo. Mesmo assim, a simples espada do jovem não poderia perfurar a pedra.
Herys conjurou um [Disparo Congelante], e uma pequena esfera de gelo fora disparada no pé do golem, imobilizando-o. Killian não perdeu tempo, e começou a golpear a pequena abertura que havia próxima ao núcleo do golem, mas sem resultado. “Talvez eu devesse ter pegado a maça”, pensou ele irritado.
O lobo de Artariel também não estava conseguindo causar grandes danos. O golem então deu um golpe no próprio pé, destruindo o gelo de Herys. Com outro golpe ele mirou o lobo, mas uma [Barreira Arcana] surgiu na frente do lobo. O golem destruiu o escudo com um único golpe, mas o lobo não foi acertado.
Quando o golem mudou de alvo, percebera que já não havia um único Killian, mas dois. O golem atacou o primeiro, que se desfez em névoa, enquanto o outro enfiou a espada na pequena fenda, aumentando-a.
Mas não foi o suficiente para prejudicar o golem, e este deu um soco com o enorme punho de pedra, arremessando Killian para trás. Antes que tornasse a atacar, Herys disparou o gelo na cabeça do golem, fazendo-o cambalear.
Lira não arriscava utilizar feitiços de indução ou relacionados a emoções, pois o golem não os possuía. Em vez disso, conjurou outra Herys para colocar-se ao lado da verdadeira, imaginando que esta seria o próximo alvo do golem.
Estava correta.
Quando o golem quebrou o gelo novamente, viu duas Herys. Antes que atacasse, um potente [Dardo Místico] acertou a fenda próxima ao seu núcleo, aumentando novamente a rachadura.
A Herys ilusória criou uma [Barreira Mágica] entre Soren e o golem. Desistindo de atacá-lo, o golem mirou as duas Herys. E foi quando o lobo de Arty pulou em suas costas.
Furioso, o golem agarrou o lobo e jogou-o contra Herys, mas uma nova [Barreira Arcana] de Soren protegeu a garota. Mesmo assim, o lobo fora destruído.
“É um inimigo muito acima de alunos como nós”, irritou-se Soren. “Se eu pudesse usar minha magia eu apenas deterioraria a proteção dele…” Mas não podia arriscar-se a tal.
A Herys verdadeira foi para trás da Herys ilusória. Assim que o golem dissipou a ilusão, um corvo invocado por Arty começou a atacá-lo. O golem espantou o corvo, mas logo em seguida tanto Herys quanto Soren, Arty e Lira dispararam [Dardos Místicos] contra a fenda no peito do golem, e a junção de todos esses feitiços abriu ainda mais a fenda. E eles repetiram isso novamente, por fim despedaçando a proteção de pedra do golem.
Antes que este pudesse atacá-los novamente, o golem ouviu um barulho. Quando olhou para a direita, viu que era apenas o escudo de Killian.
Apenas o escudo.
Aproximando-se pelo lado esquerdo do golem, o escudeiro desferiu uma potente estocada que perfurou o brilhante núcleo dourado do ser invocado, reduzindo-o a um punhado de pedras.
Killian ficou surpreso com a facilidade com que derrotaram a criatura. Ele imaginava que seria muito mais complicado.

— Muito bem — disse o reitor Tulin. — Eu não esperava que fossem destrui-lo, mesmo sendo um golem com metade do poder original. Bem, acho que é um feito e tanto para crianças como vocês. Meus parabéns.

— Tsc. Mestre Aelod não estava lutando a sério — comentou Herys, meio irritada. Odiava a ideia de ter se saído vitoriosa por pura piedade.

— Lutei da maneira que achei adequado contra crianças tolas — retrucou o mestre mago. — Este teste foi apenas para ver suas habilidades e também se desperdiçaram energia, o que não fizeram. Killian atacou apenas as áreas corretas, e Lira não desperdiçou Mana tentando afetar a mente de um ser que não a possui.

— Isso significa que…?

— Que vocês passaram… por ora.

Lira e Soren comemoraram com uma dança estranha que rendeu gargalhadas de Herys e um olhar envergonhado de Artariel. “Eu não conheço eles”, pensou.
Soren voltou-se para Killian.

— Viu? Você lutou ao lado de um mago e não caiu morto no chão nem nada do tipo.

— Não tenho nada contra magos.

— Ha — sorriu Soren. — Espero que mais Cavaleiros Santos pensem como você em um futuro próximo. Essa rivalidade está despedaçando o reino de dentro para fora.

— Não se preocupe, mago. Eu não serei esse tipo de cavaleiro. Senão tudo o que desejo não vale nada — cerrou os punhos.

— Fica difícil não se tornar arrogante com a sua habilidade e com a admiração que seus colegas olham para você — avisou Soren, em seguida acrescentou brincando: — Tome cuidado para não virar um desses cavaleiros andantes orgulhosos que vemos nas estradas toda hora.

Killian também sorriu.

— Muito bem. Em troca, não se torne um feiticeiro tolo que cobra caro por serviços falsos e dá conselhos enganosos aos nobres ingênuos.

— Combinado! E então poderemos lutar juntos um dia, e eu vou disparar super bolas de fogo e raios gigantes.

— Claro.

Killian concordou e voltou para o lado dos escudeiros, que ainda estavam incomodados com o fato dele ter se unido a um grupo de magos por vontade própria.
Herys aproximou-se de Soren.

— Você sabe que essa rivalidade nunca vai acabar, não sabe?

— Infelizmente sei — confessou Soren. — Mesmo assim, se eu não fizer nada serei apenas mais um em meio a uma multidão de pessoas em silêncio, não é?

— Gosto dessa atitude, mas não exagere. Se se intrometer demais os Cavaleiros Santos podem ficar irritados.

— Por quê? Vai ficar preocupada? — provocou Soren.

— Você acha que poderia ter derrotado aquele golem? — indagou Herys, mudando completamente de assunto.

— Depende. Se o mestre Aelod tivesse piedade, sim. E se eu fosse rápido o suficiente para esquivar daqueles braços enormes. Eu só precisaria… — parou de falar assim que Lira e Artariel se aproximaram. Sua irmã fez um bico.

— Vai mesmo ficar com algum segredo de mim?

— De certo que sim.

Lira revirou os olhos. Herys olhou para o anel em seu dedo, feliz por não ter feito nada de errado. Por um momento, temeu que poderia realizar feitiços perigosos e maiores do que ela mesma podia controlar.
A nobre então olhou para os mestres, e notou que Luk olhava diretamente para Soren. Assim que notou o olhar de Herys, sorriu gentilmente e iniciou uma conversa com Aelod.
Não sabia o porquê, mas Herys sentia algo de estranho. Uma sensação estranha. Como se…
Sentiu subitamente uma dor forte na cabeça e caiu ajoelhada no chão. Antes que percebesse, Soren a segurava, impedindo que caísse.

— Herys, você está bem? — perguntou ele preocupado.

— Algo… — murmurou ela, mas a voz não parecia a sua própria. — Algo está prestes a mudar. Algo está prestes a voltar. Algo está prestes a acabar.

Ouvia seus novos amigos chamando seu nome, e começou a sentir frio. Tanto frio. Frio? Não sentia frio. Nunca sentiu frio desde aquele dia. Por que frio? O que era frio? E por que sentia tanto medo, sem nem saber o que temia? Não tinha o que temer, tinha?
Herys desmaiou, com essas dúvidas na cabeça.

*

As nuvens de chuva haviam acabado de sumir. O pequeno vilarejo de Willt sempre fora um dos mais belos e bem cuidados, mesmo que estivesse próximo daquele lugar amaldiçoado. Ah, sim. Willt era o vilarejo mais próximo das terras de Illuminis. Mais próximo do que este vilarejo havia apenas a Fortaleza Milbit, que guardava a passagem para as terras profanadas que outrora foram um próspero reino humano.
Os habitantes do vilarejo costumavam viver em completa paz. Mas não naquele dia. Naquele dia, eles viam apenas morte e destruição.
Não houve aviso. Eles surgiram subitamente ao redor da cidade. Mercenários e soldados, vindos do submundo para causar o mal. Surgiram nas casas, matando todos os aldeões. Aqueles que tentavam fugir eram perseguidos e mortos. “Sem testemunhas”, dissera um dos mercenários.
O chefe do vilarejo, um cavaleiro aposentado, vestiu sua cota de malha, seu manto e pegou sua espada e escudo. Precisava defender seu vilarejo.
Além dele, uma dezena de soldados também tentaram proteger os aldeões.
O cavaleiro matou mercenários de dois lados antes de surgir em sua frente um homem enorme com um manto de pele de urso e um elmo de ferro aberto no rosto. Possuía uma curta barba e carregava um enorme e pesado martelo de guerra. Ao vê-lo, o cavaleiro praguejou.

— Haha, não sabia que haveria um cavaleiro aqui. Mas um cavaleiro sem cavalo é um cavaleiro? — zombou Banner.

O cavaleiro aposentado enfureceu-se e atacou. O mercenário deu um golpe vertical com o martelo, mas o cavaleiro recuou agilmente para trás e a arma cravou-se no solo. O cavaleiro pensou em avançar novamente, mas o gigante recuperou a postura e iniciou uma furiosa investida.
O chefe da aldeia desviou do golpe do martelo e atingiu o ombro do inimigo com um corte, mas notou que o mercenário também usava cota de malha por baixo das peles. Praguejando, o cavaleiro não conseguiu desviar do martelo que ia em sua direção, atingindo seu escudo com tanta força que o cavaleiro perdeu a sensibilidade do braço esquerdo.
Antes que o cavaleiro pudesse tentar atacar novamente, um segundo golpe do pesado martelo atingiu-lhe na cabeça. O elmo o protegeu levemente, mas ele foi arremessado para o chão, enquanto largava a espada e sentia o gosto metálico de sangue em sua boca.
“É muito forte”, pensou o cavaleiro.
Antes que o gigante chegasse até ele, outro soldado surgiu e ficou entre ele e o cavaleiro.

— Sor Merry, saía!

— Hahaha — gargalhou uma voz, aproximando-se.

Adrian surgiu, com o capuz ocultando o rosto. Desembainhada estava a bela espada mágica que ele havia roubado.

— Sor Merry, eu me lembro de você. Você era um dos cavaleiros do exército pessoal do velho rei. O que houve, Casymir te dispensou também? Posso ver o porquê.

— O que vocês querem?! — rosnou Sor Merry.

— Não posso dizer. Na verdade, nem eu sei bem. Mas a verdade é que você não saíra vivo daqui. O fanático do Alastair decidiu isso, e eu é que não quero ter ele contra mim.

— Alastair… o Mago Dourado — reconheceu Sor Merry.

— Hehe, esse mesmo. Como eu disse, não quero um mago do calibre dele me caçando. Me perdoe, sor, mas morrerá hoje.

O soldado atacou, mas Adrian, com movimentos rápidos e repletos de desprezo, aparou o golpe, rebateu-o e cortou fora a mão do soldado, que gritou de dor. Mirando uma estocada, o líder mercenário perfurou o peito do soldado. Tudo aconteceu em uma fração de segundos, e a diferença nas habilidades do soldado e do mercenário era enorme.

— Não interrompa quando eu estou falando, tolo — sussurrou Adrian com desprezo.

— Adrian, por favor, pare com essa loucura! — implorou Sor Merry. — Lembre-se de seus votos!

— Meus votos valem tanto para mim quanto os pais que me deixaram nas ruas. Nada.

— Por favor, nós dois fizemos o mesmo juramento! Você fez um ainda maior!

— Cavaleiro Santo Adrian de Silennar — sussurrou Adrian com escárnio. — Que tolice. E pensar que alguém achado no lixo valeria algo para Casymir. Ele me descartou como fez com você, mas você era um nobre. Eu não. Ele mandou me matar, Merry.

— Muito bem — suspirou Sor Merry, cansado. — Espero que não se arrependa do caminho que escolheu.

— Eu não irei, acredite.

Com um movimento, sua espada cortou o ar, cota de malha, pele, carne e partiu ossos, decapitando Merry, matando o velho cavaleiro. Banner deu uma risada sarcástica.

— Amigo seu?

— Não. Conhecido do cavaleiro que me treinou.

— E quem te treinou?

— Sor Kurt.

Adrian então deixou Banner para trás com olhar espantado. O líder mercenário auxiliou seus subordinados a matarem o resto das pessoas.
Quando todos os aldeões estavam mortos, Adrian bateu palmas.

— Acabamos por aqui. Receberemos uma boa recompensa por isso, senhores e senhoras.

— Recompensas que receberão às minhas curtas — lembrou uma voz que surgiu do nada.

Quando olharam, lá estava um homem de longa túnica negra com muitos adornos em ouro. Usava também uma máscara dourada sem nenhum desenho ou formato e que parecia brilhar sobrenaturalmente.

— Salve, Alastair — cumprimentou Adrian. — Ou prefere “Lorde” Alastair?

— Prefiro que não tome meu tempo com perguntas tolas e desprovidas de razões maiores do que esse seu sarcasmo infrutífero.

— Assim você muito me ofende, oh Alastair, o Mago Dourado. E, se está aqui, deve ter algo para me dizer.

— Primordialmente, eu apenas vim observar o trabalho de vocês. Nenhuma fuga ou testemunha. Isso é bom. Agora, também quero que você aguarde para iniciar seu trabalho em Feradöhr.

— Que ótimo — resmungou o mercenário. — Devo esperar até quando, se é que posso saber?

— Não pode. Será informado quando eu decidir que está na hora. Aguarde instruções, Sor Adrian.

— Se aprouver ao senhor, não sou nenhum sor.

— Me lembrarei disso quando seu desejo importar algo… Sor Adrian.

A imagem falsa de Alastair desapareceu. Adrian xingou em voz alta.

— E ele ainda pensa que somos lacaios. Lacaios. Ridículo, eu digo. Ridículo.

— Por que temos que ajudar esse mago? — perguntou o mercenário de olhos esbugalhados.

— Porque ele fará algo importante, nos paga bem e disse que se lembrará dos amigos quando tudo terminar.

— Espero que se lembre bem — desejou Banner. — Não gosto de trabalhar com ele. E aquele linguajar chato dele também me irrita.

Adrian então olhou na direção onde surgiam montanhas escuras e uma fumaça negra que, mesmo àquela distância, podiam ser vistas no horizonte.

— E esses fanáticos loucos querem ir até esse reino amaldiçoado. Reino que eu ajudei a amaldiçoar… E então, você me descartou, Casymir…

Adrian então anunciou que dormiriam naquela vila naquela noite.

— E vocês que resolveram queimar algumas casas vão dormir nas casas que queimaram. Não vou dormir no meio do fogo por culpa de vocês.

*

Não sabia o motivo que a levara a desmaiar. Fora algo tão estranho para ela, e as coisas que pensara — e falara — eram coisas que nem ela mesma sabia. Herys odiava aquilo. Odiava estar às cegas. Odiava que todos tivessem visto seu desmaio. Odiava se sentir frágil, assim como estivera naquele dia…
Havia anos, Herys acordou em um dia como qualquer outro. Após fazer as atividades comuns de seu dia a dia, saíra com seu guarda-costas. Como já fizera com muitos outros — não gostava de ser seguida —, despistou o guerreiro e saiu do castelo do pai.
Já do lado de fora, buscara o refúgio da floresta para praticar sua magia sem uma desconcertante plateia. A magia só rendia dois tipos de multidão: aqueles que admiravam, invejavam e batiam palmas, e aqueles que xingavam e atiravam pedras. Herys não gostava de nenhuma, pois atrapalhavam a concentração.
Na floresta, Herys caíra. O solo desabou e ela caiu em algum tipo de caverna ou túnel subterrâneo. Após um momento em que o medo tomou conta de seu corpo, a garota seguiu pela caverna, movida por uma amaldiçoada curiosidade infantil. Sua varinha, seu canalizador, havia sido destruída.
Achou, às margens do túnel, uma canoa que lhe permitiria atravessar o extenso e escuro lago que rodeava uma pequena ilha no centro da caverna. Odiando sua própria curiosidade, a garotinha subiu na canoa — esta que não parecia especialmente segura — e começou a atravessar o lago com o remo que estava na canoa. Agora que parava para pensar, nunca se perguntara quem deixara a canoa lá…
Atravessou o lago, e escalou a pequena ilha — escorregando nas pedrinhas soltas pelo solo no processo —, chegando finalmente a um estranho pedestal. Lá, naquele pedestal, havia um estranho anel; um anel prateado, com uma escrita azulada e brilhante em uma língua estranha… Não era linguagem arcana, nem élfica, parecia algo ainda mais antigo.
Herys pegou o anel. A princípio, não sentiu nada, e então colocou o anel. Passaram-se alguns segundos em que nada aconteceu, mas então, subitamente, o braço onde estava o anel se quebrou. Herys gritou de dor, e todo o lago foi congelado.
A garota desmaiou naquele dia. Quando acordou, seu braço havia voltado ao normal, a ruína havia desaparecido, mas o anel continuava em sua posse.
Quando voltou para casa, dissera apenas que havia comprado aquele anel em uma feira, mas Helena, sua mãe, devia ter percebido a energia que saía daquele objeto, pois passara a se interessar muito nele.
Mas nada descobriram. Nada mais aconteceu. Quando tentou reencontrar a caverna, ela já não existia mais.
Isso era tudo o que Herys von Farandar se lembrava de quando encontrara o anel mágico misterioso.

— Herys? — chamou uma voz.

Assim que Herys abriu os olhos, meio atordoada, a maga viu o jovem mago de cabelos negros e olhos cinzentos olhando preocupado para ela.

— Soren?

— Que ótimo, você não teve amnésia — avaliou o mago. — Sabe contar até três?

— Vá para o inferno.

— Imagino que seja um “sim”. — Então adotou uma postura mais séria. — O que aconteceu? O que foi aquele desmaio? Você… Você estava profetizando?

— Eu não sei — confessou Herys. — É possível, mas eu não sei nada sobre isso.

— Lorde Silleskrow acha que você pode ter profetizado. Eu — Soren corou — contei a ele o que você disse… espero que não fique zangada.

— Não estou — acalmou-o a nobre. — Se existe alguém que pode saber o que fazer, esse alguém é o Arquimago. Agora… o que está fazendo aqui?

— Bem, eu não tinha nada para fazer, e tenho que admitir que… fiquei preocupado.

Herys sentia o rosto queimar. Sim, fora seus pais e, no máximo, alguns familiares distantes, Herys nunca se relacionou com ninguém. Kelvin, conde de Farandar, a proibira disso. “Ele esteve ao meu lado até agora?”, indagou-se Herys olhando para Soren. “Isso é o que chamam de amizade? Por que meu pai me privou disso?”
Soren sorriu.

— O que foi? — perguntou Herys.

— Não é nada. Não é nada… Consegue andar?

— Imagino que sim. Como você teve o prazer de confirmar, não perdi a memória, e suspeito que ainda lembre como me mover.

— A senhorita poderia dar respostas menos irônicas.

— “Senhorita”? — repetiu Herys, arqueando a sobrancelha. — Acho que nada foi mais sarcástico do que isso.

— A maldade está nos ouvidos de quem ouve — defendeu-se Soren, enquanto Herys se levantava da cama em que estava deitada. O garoto inclinou a cabeça. — Essas camas são melhores do que as que temos nos dormitórios, que já são melhores do que as que têm em tavernas.

— Pare de reclamar.

A garota observou Soren, e percebeu uma coisa.

— O que você usa de canalizador?

— Perdão?

— Nenhum cajado, anel ou varinha? Ou esse anel que te liga a Sor Roderik possui aptidão mágica?

— Exatamente. Veja só, dos quatro, nós dois usamos anéis.

— Que surpreendente — ironizou Herys.

Os dois sorriram e saíram da ala hospitalar. Mesmo assim, os dois magos pensavam no que Herys havia profetizado — pelo que sabiam, profetisas eram extremamente raras. Algo iria mudar. Algo iria retornar. Algo iria acabar. Mas o quê?
Eles não sabiam que a resposta para essas perguntas estavam próximas, mais próximas do que gostariam.


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Notas finais do capítulo

Luta com um golem, Adrian Cavaleiro Santo, aparição do Alastair e profecias. Hehehe.



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