Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 59
Extra - Todos os pedaços do meu coração




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Jungsoo observou quando o amigo desceu o copo vazio de cerveja sobre o balcão, o barulho sendo abafado pela música que preenchia aquele lugar. Na verdade, todo aquele lugar estava preenchido por cheiros estranhos, doces ou amargos demais, risadas e músicas, parecia tudo uma grande bagunça que ficaria com dor de cabeça se não tivesse bebido tanto quanto Siwon.

O alfa apoiou-se no balcão, a mão muito bem fechada na alça de vidro do copo e tamanha era a força do aperto que Jungsoo temeu pelo momento em que o vidro fosse se partir diante do outro, pois bem sabia como alfas tendiam a perder o controle da força quando estavam anestesiados em emoções. Mas Siwon havia se tornado um tanto retraído depois do primeiro cio, então confiava que ele se controlaria mesmo embriagado.

Estendeu a mão em sua direção, pouso-a sobre seu pulso num gesto de carinho que serviu para que Siwon virasse o rosto na sua direção e sorrisse minimamente, aquela fração de fraternidade sempre presa no seu olhar. Dava enjoou em Jungsoo, por isso, afastou a mão, segurou seu próprio copo e bebeu a cerveja ali, admitindo a si mesmo que, talvez, ir até o bordel na Alcateia Park não tenha sido uma ideia tão boa assim.

O barman se aproximou e serviu mais um copo para Siwon antes que o alfa dissesse que já não aguentava mais beber, mas para o bem da verdade, aguentava sim. Sentia uma vontade avassaladora de se afogar em álcool naquela noite apenas para ver se conseguia esquecer a forma como Jihyun havia lhe fitado mais cedo, tão cheia de repulsa que transformou seu coração em farelos no peito. O que havia de errado consigo, afinal? Estava fazendo o possível para se aproximar, havia ignorado todos os conselhos odiosos do seu pai e lhe dera espaço, mas tudo o que recebia em troca eram só mais e mais olhares cheios de ódio.

Ela não gostava de si. Estava mais do que claro, então por que continuava insistindo? Se ao menos fosse tão mais suave como Kyuhyun, seria capaz de arrancar-lhe algumas palavras normais, sem aquele tom malcriado que começara a deixa-lo com raiva. Mas admitia que tinha lá sua culpa no comportamento da ômega, porque a cada vez que era negado, não podia evitar se sentir tão frustrado que gritava, devolvia na mesma moeda e depois, se arrependia. E isso o desgastava tanto, que terminara ali, junto de Leeteuk enchendo a cara para ver se conseguia ao menos esquecer o rosto dela.

Lançou um olhar para o amigo e o viu falando com alguém. Apurou o olfato e percebeu que era um alfa. Um garoto como eles dois. Estavam rindo, baixinho, próximos demais e por um momento, Siwon se perguntou se eles se conheciam. Mas seja qual a fosse a resposta, não lhe importou mais quando voltou sua atenção para a bebida. Bebeu o que faltava em um gole só, bateu o copo vazio sobre o balcão. Pediu algo mais forte.

O barman voltou com uma garrafa de vodca, serviu-lhe um copo e o deixou bebendo sozinho enquanto Leeteuk continuava falando com seu amiguinho. A música pareceu ficar mais alta, o obrigando a se virar no banco para procurar a fonte do som. Um show havia começado no pequeno palco do lugar, as luzes apagaram-se onde estava e apenas as no palco ficaram acesas. Siwon observou a performance sem realmente prestar atenção, o copo de vodca um pouco esquecido na sua mão.

Leeteuk pareceu se cansar do seu amigo alfa, porque aproximou-se de si, corado por conta do álcool e risonho. Siwon sorriu de volta.

— Está gostando? — ele estava tão perto que o Byun sentiu sua respiração bater contra a pele da sua bochecha, mas não levou isso como um sinal ruim porque o bordel estava tão barulhento que só chegando muito perto para se fazer escutar.

— As bebidas são boas. — devolveu chegando perto da mesma forma e Leeteuk riu.

— Se quiser, podemos beber em outro lugar. — ofereceu num sussurro quente contra a pele do seu pescoço.

— Na verdade, deveríamos ligar para Heechul. — Siwon falou e o sorriso na canto da boca do amigo desapareceu, deixou para trás apenas uma linha de lábios comprimidos. — Ele conhece os melhores bares. — completou rindo e Leeteuk tentou acompanhar, mas o estrago já estava feito.

Desde o momento em que Heechul havia voltado da França, Siwon costumava pensar em como Leeteuk estava cada vez mais estranho a cada menção do nome do amigo e quando na sua presença. No começo, acreditou que pudesse ser apenas a vergonha em se apresentar como alfa na frente do outro quando era um beta antes da sua partida. Siwon imaginava que Leeteuk não havia contado nada ao ômega durante sua estadia no colégio interno, mas desde que Heechul voltou... a forma como o ômega parecia okay com aquilo e o jeito como Leeteuk só se tornara mais recluso... o fazia pensar que havia algo de errado, só não sabia o quê. E com os problemas que estava enfrentando no seu casamento, não sabia se queria descobrir.

— Acho que tem razão. — o Kim optou por dizer. — Mas gostei daqui.

Ele olhou para frente, o copo de cerveja esquecido sobre o balcão. Siwon assentiu e voltou a beber, os olhos de volta ao pequeno show do lugar. E não foram a lugar nenhum, apenas continuaram sentados ao bar daquele bordel, bebendo. Às vezes, rindo. Às vezes, deixando que os ômegas daquele lugar se aproximassem, mas Siwon dispensava todos quando percebia a seriedade da coisa toda, ao contrário de Leeteuk. Já o tinha visto beijar uma ou duas pessoas desconhecidas.

Quando sua cabeça começou a pesar, deitou-a sobre o balcão e fechou os olhos ao perceber a forma como estava com sono. Leeteuk o observou dormir, não se aproximou em nenhum momento e Siwon guardou na memória a forma como era fitado, o castanho bonito dos olhos do amigo o miravam com um cuidado quase carinhoso demais. Sorriu para si antes de se deixar levar pelo sono.

Por outro lado, Leeteuk continuou o fitando. Abandonou o copo vazio de cerveja sobre o balcão e ergueu a mão em direção aos cabelos de Siwon, embrenhou a ponta dos dedos ali, devagar. Temia acorda-lo. Não queria ser pego fazendo aquele tipo de coisa ainda mais em um lugar como aquele, mas se alguém os estava vendo, pareceu não se importar porque não o atrapalhou, nem mesmo o barman se aproximou. E alguma parte de Leeteuk agradeceu por isso, pois apesar de ser um alfa, odiava confrontos. Então, concentrou-se em desenhar a linha do maxilar de Siwon com a ponta dos dedos, suas sobrancelhas, o canto dos lábios, a maçã do rosto, a ponta do nariz. O amigo dormia tão profundamente que não percebia nenhum dos gestos do outro e era melhor assim, Leeteuk pensou.

Havia algo de charmoso em ficar observando de longe assim como tinha de doloroso. A dor que só parecia crescer com o passar dos anos e com a certeza de que nunca seria escolhido. No topo de prioridades do amigo estava Jihyun, empoleirada como uma princesa e dona de todo os sorrisos de Siwon. Não havia espaço para seus sentimentos para com Siwon, não havia durante a adolescência e não havia agora, contudo, aceitar isso era terrível. Era como enfiar a mão no próprio peito, abrir a caixa torácica e arrancar o coração, então esmaga-lo na sola do próprio sapato.

O rosto de Siwon tremeu e Leeteuk recolheu a mão, assustado. Suspirou aliviado quando percebeu que não era nada demais, apoiou os cotovelos sobre o balcão e pensou em pedir mais uma bebida, mas optou por não fazê-lo. Estava tarde, deveriam voltar para casa antes que o pai de Siwon notasse sua falta e o seu próprio pai notasse a sua. Passou a mão no cabelo jogando os fios para trás, puxou a carteira do bolso da calça e jogou algumas notas de won sobre o balcão. O barman recolheu sem dizer nada.

Deu alguns tapinhas no rosto do Byun, o suficiente para acorda-lo. Conseguiu colocá-lo de pé e foram em direção a saída, em direção ao lugar onde deixara o carro. Quando conseguiu colocar o amigo sentado no banco do carona, precisou ficar um tempo do lado de fora do carro, respirando fundo para recuperar o fôlego porque Siwon era pesado. Arrumou-se no banco do motorista e tirou o carro dali.

A Alcateia Park não exigia passes, então podiam entrar e sair sem maiores problemas, o que era ótimo. Avançou pela estrada em direção a Seul, onde a alcateia de Siwon ficava. Podia passar a noite lá, não havia realmente um problema nisso. O problema real estava em Siwon não estar lá.

O Senhor Byun era controlador o suficiente para assustar Leeteuk. Contudo, quando parou o carro em frente ao portão do território Byun se perguntou que mal faria se simplesmente desse meia-volta e o levasse para sua alcateia, o mantivesse seguro ali. Consigo. Quem sabe, fosse o melhor a se fazer. Podia poupar o coração do amigo de mais decepções com Jihyun, quando a mesma estava tendo um caso com seu irmão mais velho — Kyuhyun. No entanto, sabia que não podia fazê-lo, simplesmente porque Siwon voltaria. Se não por Jihyun, voltaria por conta daquele garoto ômega.

Lee Donghae. Só de pensar em seu nome já sentia a raiva irrigar seus membros, a boca do estômago vibrar em ciúmes. Não conhecia o garoto exatamente, mas o vira uma vez ou outra pela casa de Siwon, os olhos brilhantes para cima do seu amigo. E mesmo que Siwon negasse e chamasse Donghae de criança, Leeteuk sabia que o garoto estava interessado e mais do que isso, era um ômega. Estava estampado em todos os seus trejeitos delicados o quão ômega Lee Donghae seria e isso só servia para deixa-lo com mais raiva.

Apertou o volante entre os dedos e respirou fundo, um pouco alto demais. Siwon remexeu-se no banco do carona, abriu os olhos e o fitou. O sorriso surgiu nos seus lábios devagar fazendo Leeteuk relaxar. Eles se fitaram, mas não disseram nada. O alfa estendeu a mão em direção ao interfone e se identificou, viu o portão abrir e dirigiu para dentro da alcateia.

Conseguiu arrastar Siwon para dentro da casa sem fazer tanto barulho, jogou-o em sua cama e riu da forma como o alfa estava totalmente apagado. Ele havia exagerado, pensou divertido. Tirou-lhe os sapatos e camisa. Estava preparando-se para tirar as suas calças quando escutou a porta se abrir, devagar. Congelou onde estava, mas quando virou o rosto em direção a mesma encontrou a figura curiosa e preocupada de Donghae o fitando.

Correu em sua direção dominado em uma raiva que não fazia parte do momento e o empurrou para fora do quarto, mandando-o ir embora, usando a voz ativa de alfa sem necessidade. Trancou a porta. Encostou-se na superfície de madeira e escutou Donghae bater na porta, mas quando rosnou de volta para si, só o escutou ir embora. Era melhor assim, pensou. Sem ninguém. Apenas ele e Siwon.

Voltou a fitar o amigo. Retirou-lhe o resto da roupa e o ajudou a ir para o banheiro. Deu-lhe banho, segurou os cabelos quando ele vomitou na pia. O ajudou a se vestir e depois, o viu deitar-se na cama. O alfa o fitou, agradeceu baixinho e adormeceu. Leeteuk deitou-se ao seu lado, naquele quarto escuro. Alfas tinham uma visão noturna excelente, por isso, não foi difícil avaliar os traços do rosto do amigo quando deitou-se de lado para observa-lo melhor.

Gravou na memória até mesmo o seu cheiro. Agarrou-se em todos os detalhes em que podia, desejou que o sentimento no seu peito desaparecesse porque odiava a forma como não conseguia se interessar por mais ninguém. Aquilo devia ser uma maldição, tinha quase certeza. A deusa o amaldiçoara.

Ergueu a mão e colocou-a sobre a bochecha do amigo. Ele dormia de frente para si, ressonava baixo, estava perdido no próprio cansaço. Não tinha ideia alguma dos sentimentos de Leeteuk e mesmo que soubesse, não poderia fazer nada sobre. O Kim sabia que não era correspondido e quem sabe, tenha sido por isso que se viu se aproximando. Nunca seria correspondido, mas queria ao menos uma vez saber qual era sensação.

Beijou-lhe os lábios, devagar. Calmo. O roçar delicado do qual Siwon nunca se lembraria ficaria marcado na alma de Leeteuk pelo resto dos seus dias assim como a forma que ele balbuciou, baixinho, perdido em um sonho que nunca se realizara:

— Jihyun.

Ele virou-se de peito para cima, pensando em todas as palavras que queria dizer para mudar aquela certeza na voz do alfa, mas não fez. Sufocou-se com todas elas ao mesmo tempo que uma única lágrima descia por seu rosto.

Siwon nunca saberia como era dono de cada pedaço do seu coração.


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