Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 58
Epílogo - O pecado dos pais




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O beta sentou-se ao seu lado no banco do parque, apanhou o copo de expresso que Jongdae deixara sobre o banco. Pelo canto de olho, viu o irmão beber um pouco do café, o cabelo castanho estava levantado em um topete, os óculos escuros o protegiam do sol naquele começo de dia e a jaqueta de couro o mantia aquecido, além de contribuir para o seu visual.

— Não achei que me chamaria tão cedo. — Vernon falou calmamente, o café estava quente ainda, o suficiente para fazê-lo aquecer internamente. — Nosso trato não se resumia a cartas e mensagens codificadas? — observou algumas pessoas com roupas de ginastica correndo no parque, todos despreocupados.

Jongdae cruzou os braços. Também usava óculos escuros, mas dispensara o casaco mesmo depois de Donghae ter oferecido. Alfas tinham um controle de temperatura excelente, o que os faziam serem resistentes as mudanças climáticas. As bênçãos de Dal não englobavam apenas ômegas, afinal.

— Eu preciso de mais detalhes.

Vernon riu, o copo de café a meio caminho da boca. Se Kibum o visse agora, com certeza o colocaria de castigo, afinal, era totalmente contra as regras seguir o exemplo de Jongdae. Mas o que o garoto podia fazer? Precisava do dinheiro que o irmão lhe pagava para entrar em uma faculdade. Só assim conseguiria bancar todos os custos e além do mais, não era como se estivesse cometendo algum crime. Era pago para espionar os Kim’s, todos eles. Desde aos Principais até os lobos normais.

Se Kibum o visse agora, deveria apenas se concentrar em entender o seu lado.

— Não há nenhuma novidade. — falou ao desistir de beber mais do expresso, apoiou o copo sobre o joelho. — Heechul e Ryeowook comandaram a investigação e a autópsia do corpo, mas não havia muita coisa para ver. — Jongdae continuava não o fitando, fingia observar a movimentação no parque, a forma como o sol nascia. — Tudo indica que Minseok o esfaqueou, mas ninguém encontrou a arma do crime. Também não há uma testemunha. — suspirou, levou o copo aos lábios e bebeu. — Alguns lobos dizem que o viram entrar na floresta, mas ninguém sabe como Jaehyun acabou naquele quarto ou porque estavam sozinhos.

— O que eles realmente sabem? — perguntou.

— Sinceramente? Praticamente, nada, mas todos acham que Minseok é culpado.

— Os lobos estão pedindo um julgamento?

— Eles pedem a forca, acreditam que Minseok traiu o clã e se escondeu na Alcateia Byun. — usou a mão livre para levantar os óculos até o topo da cabeça. — É uma questão de tempo até que Junmyeon resolva envolver o nome do seu irmãozinho nisso oficialmente.

Jongdae comprimiu os lábios, mas ainda assim não fitou o irmão mais novo apesar de saber que estava sendo olhado.

— Hangeng? — soltou, tinha uma leve certeza de que o lobo estava inflamando os ânimos dos outros.

Viu Vernon assentir pelo canto de olho. Era de se imaginar. O seu único herdeiro estava morto, assassinado pelo sobrinho. Tudo o que ele queria no momento era uma investigação que encontrasse o culpado, apenas para poder se vingar. No entanto, o culpado era Minseok e Jongdae não achava que Junmyeon ia fazer algo que realmente prejudicasse o ômega, a prova disso era o modo como não havia ido até a Alcateia Byun ainda. Recusava-se a dar voz aos lobos ao acreditar que o irmão estava escondido junto dos lobos brancos, adiava o quanto podia aquele confronto numa forma de dar tempo ao Kim para se esconder mais um pouco ou ao menos, se preparar.

— Ele escreveu ao Conselho. — dessa vez, Jongdae virou o rosto em sua direção, havia sido pego de surpreso com a fala. — Hangeng pediu por uma investigação oficial, porque acha que Junmyeon está tentando acobertar Minseok.

A investigação oficial era conduzida pelos membros do Conselho, nenhum lobo da alcateia em questão entrava como contribuinte, a não ser como testemunha. Não havia jeito de ter alguma fraude ali, Jongdae pensou. E se realmente o Conselho acatasse o pedido de Hangeng, Minseok estaria em maus lençóis. Se ele ao menos soubesse onde o Kim estava, poderia oferecer alguma ajuda. Um lugar seguro.

— Isso é ruim. — comentou.

— Pretende fazer alguma coisa? — Vernon parecia ansioso por uma resposta e Jongdae quase riu enquanto balançava a cabeça.

Não iria se meter nos assuntos do Conselho, temia que Kibum saísse prejudicado por sua causa, então apenas se contentaria em observar o desfecho daquilo tudo.

— Não. Isso faz parte da jurisdição do Kibum.

— Tem razão. — Vernon terminou de beber o café. — O hyung te deixaria de castigo se soubesse que anda metido nisso.

— Não sou mais uma criança para ficar de castigo. — rebateu e Vernon riu soprado.

Ainda assim, Kibum os via como duas crianças indefesas, pensou. O seu celular tocou, o beta largou o copo vazio de café no chão, perto do seu pé e apanhou o celular no bolso da jaqueta. Jongdae o escutou conversar com alguém, prometer que já estava voltando para a Alcateia, que saíra para comprar alguns ingredientes para as guloseimas. Até onde sabia, o irmão queria estudar Gastronomia na França, mas precisava de dinheiro para tal, então o Park ofereceu a ele aquele emprego.

— Preciso voltar. — avisou depois de terminar a ligação.

Ficou de pé, recolocou os óculos no rosto e pegou o copo vazio de café, o jogaria na primeira lixeira que encontrasse. O irmão mais velho o fitou por um momento antes que os braços se descruzassem e ele mesmo ficasse de pé, apanhasse a mochila ao lado do banco, que só naquele momento Vernon notou.

— Preciso que entregue isso a Kyungsoo. — disse e apoiou a mochila sobre o banco, abriu e tirou de lá alguma caixa embrulhada em papel marrom, o nome de Kim Kyungsoo escrito na frente. — Ele não precisa saber quem mandou.

Vernon assentiu e segurou a caixa embaixo do braço. Jongdae o fitou mais um pouco, resolveu se aproximar e abraça-lo.

— Tome cuidado. — pediu e o beta assentiu depois de aspirar o cheiro do irmão. — Nos vemos na quinta, na confraternização. — se referiu ao jantar que Kibum armara para comemorar sua não morte e Vernon riu contra seu pescoço, sabia que Jongdae achava aquilo tudo um exagero, mas concordara com tal apenas para ter um momento em família de novo.

— Não esquece de levar o Byun. — o Kim mais novo brincou.

— Cala a boca. — empurrou o irmão.

Não levaria Baekhyun coisa nenhuma, em parte porque juntar os dois extremos da sua vida parecia uma grande piada. Vernon arrumou a jaqueta no corpo e sorriu ladinho antes de começar a se afastar, a caixa para Kyungsoo embaixo do braço direito.

Amava Jongdae da mesma forma como amava Kibum e a pequena Sunhae. Eles eram uma família, afinal, um tanto desajeitada, mas ainda uma família. O Pak viu caminhar para longe, viu o momento em que ele jogou o copo vazio de café na lixeira e depois, sumiu por entre a paisagem daquele começo de manhã. Quando achou que ele estava longe o suficiente, pegou o celular de dentro da bolsa e digitou uma mensagem:

“Preciso de um favor.”

***

Wu Yifan preparou a mão e acertou o saco de areia. Repetiu o processo até que seus pulsos doessem e então, se afastou. Andou até onde Jeonghan o esperava, em pé com uma garrafinha de água na mão. Tomou a garrafa da sua mão e despejou o líquido sobre a cabeça, tentando aplacar um pouco daquele maldito calor que o consumia.

Não era o tipo normal de calor, daquele que podia melhorar depois de um banho, era o tipo que se alojava no seu peito e descia aos poucos até seu ventre, exigindo mais atenção do que Yifan queria dar. Sabia o que significava, afinal, conhecia os sintomas. O maldito cio estava ali para perturba-lo mais um pouco e a certeza de que seu ômega podia estar perto, só o deixava mais quente.

— Alguma novidade? — perguntou ao humano.

— O localizamos, senhor, mas chegar até ele não é fácil. — Yifan ergueu a sobrancelha, desconfiado do grau de dificuldade. — Está na Alcateia Kim, mas o lugar está fechado para qualquer lobo de fora, ordens do líder alfa.

Apertou a garrafinha de água na mão até que sentisse o plástico ceder diante dos seus dedos. Kim Junmyeon sempre parecia estar preso no seu caminho, como a droga de uma pedra. Por que não conseguia se livrar desse cara? Bufou, jogou a garrafinha no chão e viu, pelo canto de olho, Jeonghan tremer ao seu lado.

— Alguma ideia? — perguntou suavemente.

— Talvez, — ele molhou os lábios com a ponta da língua, medroso.  — devesse procurar a senhorita Hyuna.

Yifan riu.

Aquilo deveria ser uma piada. Por que procuraria Hyuna depois da forma como foi enganado? A pessoa que ela lhe prometera não havia ido ao seu encontro. Na verdade, depois que a escutara, só sentia-se cada vez mais perto de ser pego pelo Conselho. E sabia, que se isso acontecesse, a ômega não poderia salva-lo. No entanto, a mulher ainda era inteligente.

— Marque uma reunião. — ficou de pé, começou a ir em direção ao vestiário. — Diga à ela que houve uma mudança de planos.

Jeonghan assentiu e virou-se de costas, saiu da sala de treinamento na Alcateia Park.

***

A vista era bonita. Havia bastante verde, as folhas das árvores eram perto o suficiente da varanda para que Minseok precisasse apenas esticar a mão e segura-las. Costumava fazer isso por bastante tempo, todos dias quando acordava. O primeiro lugar que ia era até aquela varanda, segurava um punhado de folhas nos dedos e depois as soltava. Não as arrancava do galho, só segurava do jeito mais delicado que conseguia.

Quando as flores começaram a desabrochar, a varanda inteira banhou-se em amarelo. Era tão bonito de se ver, que ele não resistiu em colher algumas flores, coloca-las no cabelo ou só usá-las para enfeitar seu quarto. O cheiro doce que saia delas, o acalmava. Não mais do que cheiro que Baekhyun deixava em suas roupas a cada três ou cinco dias, quando podia vir visita-lo naquele lugar. Mas mesmo quando ele não aparecia, não ficava completamente sozinho.

Sehun estava ali também, indo e vindo com suprimentos, perguntando se estava bem e vez ou outra, trazendo um médico para verificar a sua saúde. Estava saudável, pensava. O bebê estava saudável.

No momento em que saiu do território Kim, sabia que não havia muitos lugares para ir. Ficara vagando por Seul por bastante tempo até perceber que não podia procurar Baekhyun diretamente, então, terminou seguindo na direção contrária. Correu para Sehun e implorou ajuda, de joelhos por puro desespero. E Sehun o acolheu sem pedir nada em troca. No fundo, Minseok desconfiava, que o primo ainda devia se culpar pela briga de ambos e usava aquela oportunidade para se redimir.

A ideia de contar a Baekhyun partira dele e Minseok não tivera forças para recusar. Eles encontraram-se naquela casa um mês depois da festa de casamento de Jongin e Junmeyon, com Baekhyun achando que estava ali por conta de algum evento burocrático.

— Aí está você. — escutou, virou o rosto para trás apenas para sorrir.

O alfa se aproximou, passou os braços em volta de si de uma forma cuidadosa. Baekhyun estava se comportando daquele jeito desde que Minseok lhe mostrou como a barriga estava crescendo. 3 meses de gravidez e a barriga começava a tomar forma, coisa que só servia para que o Byun se tornasse terrivelmente mais inseguro, como se temesse que Minseok se machucasse ao menor toque. Aquele tipo de coisa o fazia achar graça.

As mãos dele pararam sobre sua barriga, estavam quentes contra o tecido do seu pijama e por isso, esquentavam sua pele. Um vento frio os acertou, mas o corpo de Baekhyun era morno o suficiente para que não se sentisse encolher. Sabia que estava protegido ali, não precisava se preocupar com mais nada. Então, só relaxou.

O queixo dele apoiou-se sobre seu ombro. Ambos ficaram quietos por bastante tempo, só aproveitando a presença um do outro. Existia apenas o som do vento contra as folhas para embala-los. Ali, não existia clã ou os deveres de lobo, não existia julgamento e muito menos, pessoas para apontar-lhes os dedos no rosto. Não precisavam se preocupar com seus pecados, precisavam apenas focar um no outro. Se deixar levar pela leveza do sentimento e era tão imensamente bom, que Minseok desejou que nunca acabasse.

Mas sabia que não ia acontecer, seus fantasmas estavam batendo à sua porta, todos cobrando a devida atenção. Era só uma questão de tempo até que tudo desmoronasse.


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