Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 51
XX - Laços




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Sehun segurou o volante do seu carro, encostou a testa ali e soluçou do jeito mais patético que se sentia. Seu peito doía de uma forma absurda e a sensação de fracasso só se arrastava mais sobre si, abraçando-o, englobando-o naquela rejeição toda proferida por Kim Minseok. Porque Sehun não era idiota, apesar de todas as suas falhas até ali. Sabia melhor do que ninguém que Minseok não apareceria, nem se esperasse por mil anos, pois ele não o pertencia. E a dor que aquela verdade causava em si queimava seu peito de uma maneira que Sehun só foi capaz de expressar através das lágrimas.

Ainda era madrugada, quase manhã. Logo o sol apareceria e ele estava do lado de fora da Alcateia Kim. Dentro do seu carro, chorando como um idiota, como um cãozinho ferido. Só deveria ir logo embora, dar adeus aquele sentimento todo, libertar Minseok de uma vez e se libertar também, porque não era nenhum pouco saudável alimentar aquilo.

Ergueu o rosto do volante e limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos, soluçou mais um pouco e decidiu ligar o carro. Iria para longe dali de uma vez. Arrancar com o carro de volta para sua própria alcateia ou talvez, só dar um tempo em um lugar qualquer até se sentir menos patético por estar sofrendo por um ômega casado. Casado e grávido, mordeu o lábio diante desse pensamento e sentiu mais lágrimas rolarem por seu rosto. O gosto amargo daquela verdade na sua língua só deixava tudo pior.

Limpou os olhos mais uma vez e então, estava girando o volante, dando meia volta para todo aquele sentimento, porque não era sobre ir embora. Era sobre se dar por vencido, era sobre deixar Baekhyun ganhar o duelo marcado e a mão de Minseok, era sobre mostrar como não passava de um alfa doente. Era sobre o fracasso que ele sempre carregou nas costas e parecia sempre carregar.

Não demorou até ver a estrada, dirigiu devagar porque seus olhos estavam enchendo-se lágrimas mais uma vez. Respirou fundo, voltou a morder o lábio e se preparou para acelerar em direção a qualquer lugar quando alguém jogou-se em frente ao seu carro. Aconteceu tão rápido que tudo que Sehun conseguiu fazer foi girar o volante para o lado fazendo o carro dobrar bruscamente. Pisou no freio com pressa e olhou, pela janela o corpo da pessoa jogado no chão. Suas sobrancelhas se juntaram e as lágrimas secaram nos olhos devido a surpresa.

No entanto, a pessoa no chão começou a rir. O peito subiu e desceu numa risada alta que Sehun não entendeu. Pensou em abrir a porta e ir até a pessoa, mas ignorou o instinto de ajudar e só observou quando o mesmo levantou-se espanou a terra dos joelhos e roupas e tornou a se aproximar do carro. E até o momento em que o seu rosto entrou no campo de visão do Oh, este não havia reconhecido Henry.

Podia culpar o escuro daquela madrugada por isso assim como o fato de que o cheiro de Henry era tão fraco, que se tornava menos memorável.

— Desculpe-me pelo susto. — ele pediu e se afastou, deu a volta no carro e abriu a porta do carona, sentou-se ao seu lado. — Eu só não podia deixar você sair assim.

O ômega abriu o zíper do moletom que usava e tirou dali um envelope amarelo grande. Estendeu na direção de Sehun, que percebeu que segurava o volante com demasiada força.

— O que é isso? — pegou o envelope, no entanto.

— Meu currículo. — falou naturalmente, voltou a fechar o zíper do moletom.

Sehun o encarou, a expressão inteira denunciando confusão. Henry lançou-lhe um olhar, ignorou as marcas das lágrimas no seu rosto.

— Eu me demiti. — contou de uma vez, numa naturalidade que Sehun não entendeu assim como não entendeu porque Henry o estava fazendo parte daquela história. — Preciso de um novo emprego. — e lançou um olhar para envelope.

Então, Sehun entendeu.

— Ah, er... — não sabia como recusar aquilo. — Eu não estou contratando. — tentou usar um tom suave, mas Henry pareceu não ouvir.

— Eu sou formado em bioquímica, com especialização em manipulação genética e sintetização de compostos. — falou e o alfa lançou mais um olhar para o currículo.

— Como terminou sendo um secretário? — não achava que o ômega pudesse ter aquele tipo de coisa no currículo, quando passou esse tempo inteiro tomando conta a agenda do seu primo alfa.

Henry sorriu, no momento em que o céu começava a se iluminar com o nascer do sol. O Oh foi capaz de observar a forma como suas bochechas subiram e os olhos fecharam-se parcialmente, o cabelo escuro estava um pouco sujo de terra devido a queda, mas Henry parecia não saber disso e Sehun não falou nada sobre. Só achou engraçado a forma como aquele garoto parecia mil vezes mais intrigante, enchia-lhe de uma curiosidade que não combinava com o momento.

— Eu apenas fiz o que achei melhor para a minha alcateia. — respondeu.

— Esteve espionando Junmyeon todo esse tempo, não é? — adivinhou e lá estava mais um daqueles sorrisos singelos, como que dizendo que não foi nada demais.

Pessoas como ele deveriam fazer aquilo o tempo todo, pensou. E de repente estava lembrando-se de Minseok, da tatuagem na sua pele, do jeito como ele sorria quando estava com Baekhyun. Ele se perdeu no próprio trabalho?*

— Ossos do oficio. — Henry disse baixinho, ergue a mão e batucou os dedos no painel do carro, então o fitou de canto de olho, estava sério. — Você sabe sobre a Academia, não é?

Sehun queria dizer que sim, mas a verdade era que não sabia de tanta coisa assim. Sabia sobre as tatuagens, sobre a missão deles, sabia sobre Minseok ser um deles e que Henry também era. Desconfiava de Lu Han também e de todos os ômegas que uma vez frequentaram sua vida, quem sabe até Jongin fosse um deles e Junmyeon estivesse se casando com uma ilusão. Mas não sabia para que tudo aquilo servia realmente, se eram tão especiais como o livro descrevia. Deixou o envelope sobre o painel, limpou os rastros de lágrimas no seu rosto. O sol já estava brilhando bastante alertando para um dia quente.

— Não tanto. — decidiu ser sincero, afinal não fazia sentido mentir sobre aquilo. — Sei que faz parte e que Minseok também, mas não entendo porquê.

Henry sorriu, um sorriso sinistro de tão sério. Ergueu o queixo e recolheu as mãos, cruzou os braços e olhou para frente. Sehun esperou que ele dissesse qualquer coisa sobre aquilo, mas não houve nada. Aceitou o silêncio, porque não tinha nada melhor para fazer. Engoliu em seco quando aquilo começou a se tornar estranho, limpou a garganta e trouxe os olhos do Lu para si.

— Eu preciso ir embora. — Sehun se escutou dizer, a voz vacilou no final diante do olhar do ômega, estava ficando nervoso.

O Lu suspirou e assentiu, descruzou os braços e se preparou para abrir a porta e ir embora, a mão pairou no meio do ato e então, ele virou o rosto na direção do alfa mais um pouco. Os ombros relaxaram e mais um suspiro escapou por seus lábios.

— Eu preciso de ajuda. — os olhos desviaram-se para qualquer lugar, não tinha coragem de fitar o alfa e mostrar toda a sua fragilidade. — Preciso consertar isso. — e sem erguer o rosto, Henry abriu o zíper do moletom, desceu-o até o meio dos braços, afastou a gola da camisa que usava por baixo e mostrou ao Oh sua maior vergonha.

A marca pareceu esbranquiçada diante dos olhos de Sehun, mas só por um momento. Logo, ele notou as bordas avermelhadas como se alguém tivesse feito isso há no máximo três dias. Havia sinais de sangue nas bordas, como uma recém mordida devia ser ou como se alguém tivesse enfiado as unhas ali, tentando arranca-la da pele a todo custo. Abriu a boca surpreso, pois nunca imaginara que Henry pudesse ter uma marca e muito menos um parceiro, afinal o ômega sempre parecia estar sozinho.

— Você é marcado. — a sentença escapou de forma patética por seus lábios e Henry ergueu o rosto na sua direção.

Estava diferente do que costumava ser. Faltava-lhe aquela áurea intimidante, faltava a determinação nos olhos, tudo isso havia sido engolido por uma tristeza tão densa, que fez Sehun querer se afastar ao mesmo tempo que chegava na conclusão mais terrível daquele começo de manhã: Henry havia sido marcado a força. A forma como as bordas sangrentas da sua marca se projetavam, gritavam isso tão alto que o alfa se obrigou a desviar os olhos do ômega.

Henry ajeitou sua roupa, escondeu a marca, fechou o zíper do moletom, voltou a ficar sério, o queixo trincado de uma forma duvidosa para o alfa, fazia-o pensar que o Lu só estava segurando as lágrimas.

— Como isso aconteceu? — acabou perguntando, apesar de não querer saber realmente, mas alguma coisa em Henry parecia querer contar, externar aquela história terrível.

— Quando eu tinha 14 anos — começou baixinho, os dedos voltaram a batucar na superfície do painel, os olhos observaram o seu próprio ato numa tentativa de não fitar o alfa e Sehun agradeceu por isso. — tive meu primeiro cio, estava em um lugar público, longe demais para voltar para casa. — suspirou. — Então, um alfa surgiu... ele me arrastou por o primeiro beco que encontrou. — mordeu o lábio e ficou em silêncio.

Sehun não era capaz de dizer qualquer outra coisa. Seus olhos vagaram até o perfil do ômega, demoraram-se na bochecha, na curva do pescoço e então, estava encarando o lugar onde sabia que a marca estava. Para sempre marcada em sua pele.

— Minha mãe foi marcada a força. — ele se viu contando, no fim das contas e Henry o fitou, curioso. — Ela é uma beta, então uma marca nunca duraria muito no seu corpo, mas ela engravidou. — deu de ombros. — Ninguém achou que realmente me afetaria, mas...

— Que vidinha de merda. — Henry disse subitamente, um meio sorriso no seu rosto e Sehun se viu sorrindo também.

Eram histórias péssimas, ele sabia, mas que bem faria ficar ali se lamentando? Henry parecia ter aprendido essa lição primeiro que Sehun, afinal o primeiro sorriso havia vindo de si. E perceber isso, fez o Oh adquirir uma certa simpatia por aquele garoto sempre tão recluso e perigoso.

Inclinou-se e ligou o carro novamente, o ômega o observou esperando que fosse mandado embora.

— Quer beber alguma coisa? — Sehun perguntou cauteloso e Henry sorriu mais um pouco enquanto abaixava o rosto.

— Parece uma boa.

E o alfa deu partida no carro.

***

— Kyungsoo. — Minseok chamou baixinho enquanto balançava o ombro do irmão, afim de acordá-lo. — Kyungsoo. — tentou mais um pouco e percebeu quando o gêmeo se mexeu, virando-se para o outro lado para se livrar de quem o chamava. — Vamos lá. — Minseok continuou. — Kyungsoo. — o chacoalhou mais forte e dessa vez, o irmão resmungou e o empurrou.

Minseok sentou-se na beira da cama do irmão e levantou o lençol, apenas para puxar o dedo mindinho do gêmeo.

— Acorde.

— Sai daqui, Min. — Kyungsoo encolheu as pernas e continuou de olhos fechados, o que só serviu para deixar Minseok mais irritado.

— Mas é importante. — o loiro resmungou cruzando os braços e sentando-se na beira da cama.

Kyungsoo franzio a testa, de olhos fechados e depois suspirou. Sabia que não conseguiria mais dormir depois das importunações do irmão gêmeo. Abriu os olhos e rolou na cama para ficar de peito para cima, depois ajeitou-se até ficar com as costas encostadas na cabeceira da cama, franzio os olhos na direção do mais velho.

— O que aconteceu? — perguntou com a voz rouca de sono.

Minseok meio sorriu, havia um ar divertido nos seus trejeitos, a forma como ele se inclinou em direção ao gêmeo, denunciou isso. Seus olhos estavam brilhantes demais para alguém normal naquela madrugada. Ele mordeu o lábio e Kyungsoo cruzou os braços, esperando.

— Preciso de ajuda com algo importante. — o gêmeo usou aquele tom baixo mais uma vez.

Kyungsoo piscou os olhos, bocejou. Queria voltar a se encolher na cama e dormir. Andava tão cansado ultimamente, só pensava em dormir e comer. Sentia como se pudesse hibernar a qualquer momento e tinha certeza que isso era culpa da forma como estava perto do final da gravidez, parecia-lhe que quanto mais pronto o bebê ficava para conhecer o mundo exterior mais energia sugava de si e o que sobrava só lhe fazia querer deitar e dormir mais um pouco.

— O que aconteceu? — repetiu a pergunta quase com impaciência.

Minseok ficou de pé, andou em frente à sua cama, parecia terrivelmente nervoso quando o fitou. Os dedos se embolaram um no outro em frente ao seu corpo e Kyungsoo não podia ver, mas sabia que as bochechas do irmão estavam vermelhas.

— Acho que estou grávido, Soo. — contou de uma vez, numa voz clara e apressada que deixou o outro de olhos arregalados.

— O que?! — exclamou um pouco alto demais e Minseok correu de volta para a cama do irmão, parou de joelhos na sua frente, os olhos brilhando em uma coisa que Kyungsoo não sabia ler. — Por Dal! — exclamou mais um pouco e a mão foi de encontro a boca para esconder a incredulidade enquanto o loiro à sua frente mordia o lábio para esconder o sorriso que queria surgir. — C-como...? O que?! — ele nem conseguia organizar as perguntas de uma forma coerente.

Minseok jogou-se na cama, deitou perto dos seus pés, um sorriso despontando em seus lábios delicados. Ele parecia ter aceitado aquilo, estava ok com a notícia e não escondia a felicidade que sentia. Aos olhos de Kyungsoo, Minseok parecia ao ponto de levitar tamanho a sua satisfação.

— O Baek... — molhou os lábios com a ponta da língua. — O Baekhyun sabe disso?

O loiro virou o rosto na sua direção e mordeu o lábio, abafando o sorriso ali. Negou rapidinho, balançando a cabeça de um jeito adorável.

— Então... — o ômega mais novo tentou continuar.

— Preciso de um teste de gravidez para confirmar. — falou lançando-lhe um olhar significativo.

— Por acaso quer que eu vá numa farmácia? — Kyungsoo questionou, tentando entender o plano do irmão.

— Eu não posso fazer isso sozinho, Soo. — Minseok voltou a se sentar. — Por favor.

O moreno bufou, voltou a cruzar os braços, mas sabia que não conseguiria negar qualquer coisa ao gêmeo.

— Não acho que há farmácias abertas nesse horário.

— Claro que existe.

— Eu não posso sair nesse estado. — apontou para a barriga de oito meses. — Os humanos vão perceber.

— Use um casaco grande. — sugeriu, os olhos incrivelmente grandes quando fitavam o mais novo e Kyungsoo bufou, alguma coisa em si tinha certeza que não conseguiria se livrar de Minseok tão cedo mesmo diante de tantos contras para aquele plano.

— Tudo bem. — concordou, por fim, com um suspiro audível e o gêmeo abriu os braços e o acolheu, rápido em agradecimento. Kyungsoo se permitiu sorrir com o ato. — Mas como vamos até a cidade? — Minseok se afastou, havia um começo de travessura no canto dos lábios e no fundo dos seus olhos.

O Kim observou quando ele enfiou a mão no bolso da calça do seu pijama e retirou um molho de chaves. Sacudiu aquilo em frente ao seu rosto como que afim de confirmar a presença do objeto.

— No carro de Baekhyun. — externou o que Kyungsoo já desconfiava. — Ele não vai dar falta, garanto. — voltou a guardar as chaves no bolso e segurou as suas mãos.

Assentiu e deixou que o irmão o guiasse para fora da cama. Kyungsoo procurou um casaco grande no seu guarda-roupa e encontrou um que pareceu familiar, vestiu-o por cima do pijama e seguiu Minseok para fora do quarto. De repente, não se sentia mais tão cansado, a barriga não parecia pesar em nada quando a adrenalina corria por suas veias daquele modo, fazia-o se sentir um adolescente novamente. Se pegou notando que já havia feito aquilo milhões de vezes. Havia se esgueirado por aquele corredor, ávido para encontrar Byun Chanyeol e matar um pouco da saudade que sempre parecia lhe perseguir naquela época. Diante dos seus olhos, enquanto tinha as mãos juntas as do gêmeo e corriam porta a fora em direção ao carro de Baekhyun, Kyungsoo se deu conta de que lembrava.

As imagens sobreponham-se as do presente, bagunçavam sua visão, mas estavam ali. Como um filme mal filmado, cheio de detalhes faltando e por vezes, fora de contexto. Foi naquela fuga, quando o sol começava a aparecer, que o ômega lembrou-se do começo de toda aquela bagunça que resultou no seu desaparecimento e no casamento do seu irmão. Há um zilhão de anos, quando ele não passava de apenas Kyungsoo, completamente perdido de amor por Chanyeol, pegara aquele mesmo caminho em direção a cidade para encontrar com este. Um encontro proibido, que resultou naquela semente tão bonita crescendo no seu ventre.

Minseok o ajudou com o cinto de segurança e Kyungsoo relaxou no banco. Viu o irmão, pelo canto de olho, colocar o cinto também e então o carro estava dando partida e eles estavam saindo da alcateia. Os sentinelas na entrada não os pararam, só o deixaram ir. Kyungsoo abaixou a janela do seu lado e observou a forma como sua casa ficava para trás, deslizou as mãos pela barriga em ato inconsciente e depois voltou a olhar para dentro do carro, inclinou-se e ligou o rádio. Deixou em uma estação que havia música e no caminho até Seul, os gêmeos cantaram baixinho em meio a sorrisos aquela canção.

A primeira farmácia não foi difícil de encontrar, no fim das contas e por isso, quando Minseok estacionou o carro em frente a mesma, Kyungsoo aliviou-se. Estava começando a ficar com fome e por isso, esperava que o gêmeo lhe comprasse alguma coisa no caminho de volta. Virou o rosto na direção do loiro e o viu suspirar, morder o lábio, nervoso.

— Eu te espero aqui. — Kyungsoo ousou dizer, não queria ser visto por aí com aquela barriga enorme, os humanos poderiam desconfiar.

Depois daquele episódio com Siwon em sua forma de lobo, os humanos pareciam mais desconfiados. Prontos para pegá-los em um deslize e o Kim não queria colocar a segurança do seu filhote em xeque.

— Tudo bem. — Minseok suspirou mais um pouco e então abriu a porta do seu lado, mas não saiu como o gêmeo esperou. — Venha comigo, por favor. — implorou ao irmão. — Eu... eu estou tão nervoso.

Era como ter dezesseis anos novamente, fugindo de casa na madrugada, aprontando travessuras ás costas dos seus pais. Minseok sentia-se um, mais mil vezes mais nervoso diante daquela possibilidade. Não queria ter tantas esperanças, mas já estava comemorando a notícia antes de uma confirmação, porque se houvesse mesmo... se estivesse ali, no seu ventre aquele... aquilo... nem mesmo sabia como se comportar. Era por isso que precisava de Kyungsoo, precisava da sua áurea familiar e confortável, precisava de alguém que o conhecesse por completo e que segurasse sua mão, que abraçasse seu nervosismo como ele mesmo o fazia. Precisava do seu gêmeo, seu melhor amigo, seu cúmplice.

— Ok. — Kyungsoo concordou diante do olhar do loiro, retirou o cinto de segurança e abriu a porta do seu lado.

Eles saíram do carro, caminharam de devagar até farmácia 24h. A rua não estava movimentada devido ao horário e isso tranquilizou os dois ômegas. Passaram pela porta, Minseok primeiro do que Kyungsoo. Caminharam em direção ao balcão com passos incertos, o mais velho deles nem ao menos conseguia olhar para frente e focar no seu objetivo. Estava envergonhado, de repente, tudo que havia no interior de Minseok era vergonha e nervosismo.

— Senhor Kim? — o balconista perguntou antes de qualquer coisa que o ômega pudesse dizer. — Kim Minseok, certo? — havia um sorriso simpático no seu rosto.

Kyungsoo lançou um olhar para o homem e depois para o irmão, este último parecendo confuso mas o viu assentir mesmo assim. Era Kim Minseok, afinal.

— Eu sou um Byun. — o balconista se apresentou. — Byun Jaeho.

— Ah. — Minseok pareceu mais desconsertado ainda. — Claro. — resmungou e Kyungsoo segurou o riso nos lábios comprimidos.

— Está precisando de alguma coisa? — ele se mostrou prestativo, estava animado com a ideia de servir um seus líderes.

Quem sabe fosse contar essa história na Alcateia, entre os seus familiares e amigos. Algo incrível para se gabar. Contudo, a presença dele estragava o plano secreto de Minseok de manter aquilo em segredo até poder contar a Baekhyun e Kyungsoo sabia bem daquilo, por isso não foi uma surpresa para si quando se viu indo para frente de Minseok e apoiando os cotovelos no balcão, determinado.

— Preciso de um teste de gravidez. — pediu com firmeza.

Jaeho o observou, um pouco surpreso pela fala quando ele tinha despejado toda a sua atenção ao marido do seu líder. Mas mesmo assim assentiu e virou-se de costas para verificar as prateleiras atrás do teste de gravidez. Minseok lançou um olhar para o irmão, que sorriu de volta. E então, o lobo estava de volta, com o teste. O deixou em cima do balcão e Kyungsoo fitou a caixinha azul e rosa.

— Hum... — o balconista começou e Kyungsoo ergueu a sobrancelha, era óbvio que o mesmo olhava para sua barriga de oito meses. — Não acha que é um pouco tarde pra isso? — soltou e Minseok segurou a risada, o que deixou o outro indignado.

— Apenas me dê isso de uma vez. — quase rosnou e o homem se apressou em colocar o produto numa sacola.

Minseok pegou o dinheiro do bolso do seu casaco e pagou o homem. Desejou um bom trabalho e se afastou depois que o mesmo insistiu em continuar segurando sua mão, meio sorrindo e praticamente agradecendo pelo Kim ter escolhido sua farmácia para comprar algo.

Eles voltaram ao carro e Kyungsoo jogou o teste sobre o colo do irmão.

— Você me faz passar cada vergonha. — expôs e Minseok riu mais um pouco enquanto dava partida no carro.

Não seguiram direto para o território Kim. Passaram em uma padaria antes e compraram alguma coisa para comer. E só então voltaram para casa e como já esperavam, todos da casa já se encontravam acordados. Minseok estacionou o carro de Baekhyun no lugar em que o encontrara, guardou as chaves no bolso e disse a si mesmo que logo as devolveria, só precisava resolve aquilo do teste de gravidez. Kyungsoo o acompanhou para dentro de casa. Em meio as sacolas que seguravam estava o teste gravidez do Kim mais velho. E ele se distraiu tanto com isso e com cheiro de café recém-pronto que inundava a casa inteira, que só se viu indo até a cozinha. Deixou as sacolas sobre a mesa e viu o pai, Ryeowook, terminando de preparar o café.

— Acordado tão cedo? — ele perguntou e Kyungsoo se aproximou para abraça-lo. — Está com fome? — o ômega perguntou deixando um beijo no topo da cabeça do filho.

Kyungsoo assentiu ao mesmo tempo que Minseok aparecia na entrada da cozinha.

— Vejo que trouxe pão. — lançou um olhar para o outro filho, desconfiando da saída deles. — Onde estavam? — soltou aquele que abraçava e foi até a mesa, verificar o que havia nas sacolas.

— Comprar algo pro café da manhã. — Minseok disse tranquilamente, acreditava que o teste de gravidez estava guardado no bolso do casaco do irmão.

Retirou o casaco e ia deixa-lo nas costas da cadeira quando reconheceu a sacola da farmácia em meio as outras de café da manhã, ainda se apressou para puxa-la mas o pai já havia segurado-a. As sobrancelhas se juntaram em confusão pelo produto, mas depois estava o reconhecendo quando olhou dentro da sacola. Lançou um olhar para os dois filhos, mas foi Minseok que se mostrou culpado quando lhe ofereceu um sorriso amarelo.

Ryeowook usou a mão livre para segurar na primeira cadeira que encontrou, a surpresa de entender tudo o que se passava havia sido forte demais. O ômega puxou a cadeira e sentou-se ali, ainda segurava o teste de gravidez, mas o rosto inteiro estava contorcido numa incredulidade espantosa. Kyungsoo soprou um pedido de desculpas de onde estava para o irmão e Minseok balançou a cabeça afirmando que estava tudo bem.

— Omma. — Minseok chamou baixinho e Ryeowook comprimiu os lábios numa desaprovação que o Kim não estava pronto para receber. — É só uma suspeita. — tentou tranquilizar o pai, mas o outro parecia saber.

De repente, Ryeowook estava lembrando de todos os mal-estares do filho, da forma como ele parecia sempre enjoado e é claro, o cheiro que se desprendia da sua pele. O maldito feromônio com o cheiro de Baekhyun que sempre estava na pele do loiro não era fruto da companhia constante do alfa, era simplesmente formado por conta da gravidez. Uma sacada biológica para alertar a qualquer outro lobo que aquele ômega já tinha um parceiro e que carregava uma cria no ventre. E perceber todos esses detalhes, só deixou Ryeowook pior do que já se sentia, afinal esperava que o filho estivesse se protegendo, que não fosse impulsivo nos seus sentimentos pois bem sabia que um filhote entre eles dois ainda era cedo, principalmente quando se levava em conta toda a áurea arisca cada vez mais alimentada entre Byun’s e Kim’s.

Só queria que Minseok ficasse seguro, que não se machucasse ou qualquer coisa assim. Só queria seu filhote saudável. Por isso não disse nada, só estendeu o teste em direção ao ômega e desviou os olhos, parecendo decepcionado demais na visão do filho. Minseok pegou o teste com receio, lançou um olhar cheio de desculpas para o pai e se afastou, acreditando que não passava de uma decepção.

Kyungsoo o seguiu, meio correndo, mas só foi capaz de ter a porta sendo batida. Ficou parado do lado de fora por algum tempo, mordendo o lábio e se perguntando se deveria dar um tempo para o irmão ou entrar ali e dar suporte. Estava se sentindo um tanto culpado por seu descuido em misturar as sacolas e depois da forma como Ryeowook olhou para o gêmeo, só se sentiu um pouco pior. Respirou fundo e decidiu entrar, queria mostrar ao irmão que ele não estava sozinho. Grávido ou não, sempre teria Kyungsoo do seu lado.

O irmão não estava no quarto, parecia ter ido se esconder no banheiro. E por isso, o ômega decidiu que era melhor esperar no quarto. Fechou a porta e sentou-se na beira da sua cama em seguida. Ficou bastante tempo ali, o suficiente para começar a bocejar. Estava ao ponto de deitar-se no colchão quando a porta do banheiro se abriu. Pegou os olhos arregalados de Minseok na sua direção, surpreso por sua presença ali.

Desviou os próprios olhos para o teste de gravidez que ele segurava na mão direita e pelo jeito como o loiro comprimiu os lábios, esperou por uma negativa. Preparou as palavras de consolo na ponta da língua a medida que o gêmeo se aproximava e sentava do seu lado. Deixou que Minseok deitasse a cabeça no seu ombro esquerdo.

— Essas coisas acontecem, Min. — começou a dizer baixinho, usando um tom suave. — Às vezes, você consegue e as vezes, não.

— Deu positivo. — Minseok interrompeu seu discurso.

Kyungsoo engoliu em seco, não tinha palavras para aquilo e Minseok parecia não querer nenhuma. Então, ficaram em silêncio.

***

— Se tem tanta certeza que ele não é seu filho, por que está tão apavorado? — Heechul perguntou, sentado em sua cadeira de trabalho no laboratório.

Em pé, perto dos frascos coloridos que não sabia para que serviam, Siwon lançou um olhar sério para o amigo ômega. Levou a mão até os cabelos. Era um fato que estava nervoso assim como era um fato que tinha — noventa e nove por cento de — certeza que o prisioneiro Kim não era seu filho. O garoto nem sequer parecia consigo, não havia nada familiar nele que o lembrasse, afinal até mesmo Heechul havia dito isso. Contudo, havia aquela pulga atrás da orelha sussurrando dúvidas no seu ouvido, deixando-o paranoico com toda aquela história. Como poderia ter um filho daquela idade? E se tinha mesmo, por que o garoto nunca o procurou? Por que agiu daquela forma, machucando pessoas inocentes no caminho como num tipo de tributo macabro para si?

— Eu não tenho tanta certeza assim. — confessou de uma vez ao amigo e Heechul girou na sua cadeira para fita-lo.

O cabelo estava preso e o jaleco o deixava mais sério do que realmente era, mas os olhos suavizaram-se diante do conflito do amigo. Conhecia bem aquela história maluca. Há 23 anos, Siwon cansado de tanta coisa da sua vida de casado com Jihyun terminara na Alcateia Park, enchendo a cara no primeiro bordel que achara na companhia de Jungsoo. No entanto, no dia seguinte não havia lembrança alguma em sua mente e mesmo agora, havia menos ainda. E Jungsoo dera sua palavra de que nada havia acontecido. Heechul tentava acreditar no marido, mas a confiança tinha sido abalada antes e ainda parecia abalada agora. Confiava desconfiando, um pé sempre atrás para evitar a queda.

— Não acho que Jungsoo mentiria sobre isso. — acabou falando. — Não parece do feitio dele não te provocar.

Era a verdade, afinal. Se Leeteuk soubesse de qualquer coisa que pudesse arruinar a vida de Siwon ou apenas envergonha-lo em frente a tantos lobos, com certeza usaria aquilo. Contudo, quando confrontado por Heechul ou Siwon, houve apenas a mesma resposta: não havia acontecido coisa alguma. E no entanto, Heechul não conseguia parar de sentir o cheiro de mentira naquelas palavras.

— Acho que tem razão. — o alfa bufou. — Devo está me preocupando por nada.

Afastou-se de onde se encostava e foi até o ômega.

— Contou para Donghae sobre isso? — Heechul olhou em seus olhos, sentado na cadeira, Siwon se erguia muito acima de si.

— Não quero preocupa-lo com isso. — respondeu e apoiou o quadril na mesa de trabalho do Kim. — Ele precisa de repouso e nossa filha já lhe suga bastante energia.

— Está com medo. — Heechul adivinhou e Siwon engoliu em seco diante da verdade exposta. — Sabe que não pode esconder coisas de mim, sei te ler melhor do que uma Marca. — riu soprado e o outro balançou a cabeça. — Acha que ele vai ficar chateado?

— Tenho medo da forma como ele pode reagir. — confessou baixinho, os braços se cruzaram. — E se ele quiser se separar?

— Vai morrer. — o ômega disse com tranquilidade e o alfa lhe lançou um olhar irritado. — Você sabe que é verdade, não me olhe assim. — comprimiu os lábios. — A Marca não distingue ninguém, apenas te mata aos poucos quanto mais longe do seu parceiro. — não impediu o tanto de amargor na sua voz.

Siwon observou seu perfil mesmo quando Heechul virou o rosto para o lado oposto, escondendo toda a sua frustração em ter sido marcado. Era um assunto delicado que o alfa não gostava de tocar, em parte porque não sabia como abordar aquilo e em parte porque nunca fora muito gentil com as palavras e temia machucar Heechul com estas, machucar mais do que ele já parecia machucado. Contudo, ainda doía em seu peito ver aquele tipo de cena, ver a forma como Heechul continuava quebrado, cada vez mais fragmentado por dentro devido as várias formas como era enganado. Primeiro fora Kyuhyun e depois Jungsoo. E agora, ele estava eternamente preso a alguém que não amava mais. Como alguém acorrentado a um corpo morto, arrastando o cadáver para os cantos, com o cheiro de carne podre cada vez mais forte, sufocando-o aos poucos.

— Eu tenho medo que ele vá embora. — Siwon acabou falando, confessando o seu medo mais íntimo. — Na verdade, tenho medo que todos os meus filhos se afastem, principalmente Baekhyun. — suspirou e Heechul o fitou, as sobrancelhas se juntando daquele jeito bonito que indicava tristeza. — Você precisava ver o jeito como ele me olhou quando descobriu sobre Jihyun. — o ômega estendeu a mão na sua direção e colocou sobre as suas, Siwon aceitou, observou o toque.

Kim Heechul era o seu amigo mais antigo, aquele que nunca o abandonou e que sempre trazia consigo uma gama de lembranças boas, bonitas e simples, o suficiente para fazer Siwon se sentir seguro e confortável.

— Baekhyun só está chateado com você, em especial. — Heechul disse num tom divertido e Siwon quase riu. — Precisa vê-lo quando está na presença de Minseok. — o ômega sorriu e Siwon desviou o olhar apenas para receber um soquinho no braço. — Ele se parece com você quando conheceu Donghae. — contou mais um pouco.

— Eu não era assim. — Siwon rebateu. — Tenho certeza que cortejei Donghae do jeito mais respeitoso possível antes de passarmos o cio juntos. — havia um tom divertido na sua voz que só serviu para fazer Heechul gargalhar.

— Quer dizer vergonhoso, na verdade. Lembro muito bem de você sendo a pessoa mais idiota de todos os tempos. — e dessa vez quem recebeu um soquinho no braço foi o ômega.

— Quer mesmo falar de idiotice? Porque, convenhamos, você vence. — o alfa provocou e Heechul sentiu-se corar como um adolescente.

Siwon riu, alto, só para irritar o Kim.

— Saia do meu laboratório, alfa. — empurrou-o da mesa, mas Heechul estava rindo quando dizia essas coisas então Siwon não levou a sério assim como não parou de rir.

Era bom estar na presença daquele Kim, compartilhando memórias, rindo de piadas internas, apenas sendo eles mesmos por alguns momentos. Nada dos compromissos e fantasmas que a vida adulta trouxe. Ali, existia apenas Siwon e Heechul, o alfa e o ômega, que eram amigos desde a infância.

As risadas foram morrendo aos poucos, Siwon estava de pé, olhando para todos aqueles frascos com soluções que o laboratório exibia na prateleira. Heechul seguiu o seu olhar e eles ficaram em silêncio, fitando partes distintas daquele lugar. Ali era o ponto de segurança de Heechul, era onde ele podia fazer o que aprendeu, onde podia exercer seu oficio sem maiores complicações. O tipo de coisa que Siwon não entendia, mas respeitava e não exigia saber mais do que Heechul lhe contava. Alguma coisa em si sempre tivera certeza que o amigo escondia algo, algo um tanto sombrio, o tipo de coisa que Siwon não se importava em saber, não insistia. Se algum dia, o Kim quisesse lhe contar, escutaria suas palavras.

— Deveria contar à sua família. — o Kim voltou ao assunto inicial, da forma como o Byun previra. — Se Donghae aceitou aquele cortejo horrível foi porque te amava e eu duvido muito que esse sentimento tenha mudado. — Siwon o fitou, o ômega meio sorriu ao mesmo tempo que erguia uma sobrancelha, convidando-o a desafiar sua fala, coisa que Siwon não fez.

— Converse com Minseok também. — o alfa falou em vez disso e Heechul ficou confuso. — Diga para ele se cuidar, usar proteção. Eu falarei com Baekhyun sobre isso. — suspirou — Só não acho que um filhote seja uma boa ideia agora.

Heechul comprimiu os lábios e assentiu de um jeito sério demais. Entendia muito bem ao que amigo se referia. O recente ataque aos Byun’s demandava atenção e recursos para reconstruir tudo e deixar a alcateia segura, além da procura pelos lobos desaparecidos. E além disso, havia aquela rixa entre Byun’s e Kim’s que parecia cada vez mais inflamada. Heechul não gostava, mas também não podia deixar de ver a forma como sua alcateia se tornava cada vez mais intolerante com os Byun’s ali, pareciam ao ponto de atacarem-os pelo simples prazer de machucar e mostrar superioridade e isso, fazia o Kim ter medo por Minseok, pois já percebera a forma como os lobos Kim’s tratavam o seu filho pelas costas.

Um filhote Byun-Kim naquele cenário não era uma coisa boa. Haviam duas opções: ou os clãs se entendiam de vez ou se odiavam mais ainda com o bônus de odiar Minseok também, e pela forma como tudo estava caminhando, Heechul sentia que a segunda opção prevaleceria. No entanto, maior do que isso, era perceber que, talvez, seus conselhos não adiantassem nada. Os enjoos frequentes de Minseok lhe deixavam alerta o suficiente para ficar preocupado. De repente, parecia tarde demais para qualquer palavra de precaução. Mas se forçou a não dividir nenhum desses pensamentos com o alfa, queria que Siwon se concentrasse na própria família. Ele podia se concentrar em Minseok e no possível neto, sozinho.

— Eu tive uma ideia. — seus olhos pareceram brilhar em animação a medida que Siwon se sentia cada vez mais desconfiado. — Leve-os para comer fora, tenham uma noite em família.

— Ji Eun ainda é muito nova para ficar... — começou.

— Eu posso tomar conta dela, não se preocupe. — Ficou de pé e foi até o alfa, segurou-lhe os ombros. — Saia com Donghae e seus filhos mais velhos, conversem sobre banalidades. — sorriu mais um pouco. — Talvez, ajude a melhorar o clima entre vocês e Baekhyun.

Siwon piscou, acabou assentindo. Parecia a melhor maneira, no fim das contas. Não adiantava manter Baekhyun em um tratamento de silêncio achando que ele entenderia o quanto sua mãe não era nada além daquela que o colocou no mundo, era preciso mostra-lo como era mil vezes mais amado ali, mais querido, que eles ainda eram uma família. Heechul aumentou o sorriso em seu rosto quando o Byun deixou o beijo em sua bochecha em agradecimento.

— Você é o melhor, Chulla. — elogiou.

— Sempre, meu caro, sempre. — não deixou passar e Siwon começou a ir em direção à saída. — Bom jantar em família. — desejou.

— Faça o mesmo!  — Siwon ainda gritou antes de sumir porta a fora e o ômega suspirou.

Não era uma má ideia, afinal. Mas ainda assim reunir seus filhos, o namorado ômega e o ex-marido mentiroso parecia demais. Seus filhos não queriam nenhum contato com o pai alfa e mesmo Ryeowook também não, perceber isso fez Heechul chegar à conclusão que mesmo si próprio não queria manter algum contato com Jungsoo, apenas o fazia por conta da marca em seu ombro.

Era um azarado, pensou enquanto tirava o jaleco.

Observou o horário no relógio acima da porta de entrada e percebeu que já estava perto do horário de almoço, não havia percebido o quanto o tempo passara rápido. Lançou um olhar para as amostras coletadas de Siwon e de Jongdae, pretendia fazer os testes logo afim de acabar com aquela história de uma vez, antes que mais lobos ficassem falando mais besteiras e alimentando um ódio que não deveria existir.

Assegurou a si mesmo que conseguia entregar o resultado antes do julgamento, que estava marcado para antes do casamento de Junmyeon com Lu Jongin.

Trancou o laboratório ao sair e caminhou até em casa, pensou durante o caminho inteiro em como abordar aquele assunto. Tentar reuni-los numa mesa de jantar como família de novo. Suspirou. Não parecia nenhum pouco fácil, mas quando o ômega chegou em casa, percebeu que não precisava esperar até a noite. Podia armar aquilo ali, naquele momento, em um almoço. Pareceu um tanto maligno na sua cabeça atraí-los daquela forma, mas não viu escolha quando avistou Jungsoo sentado à varanda, fitando o jardim de Ryeowook.

— Hey. — soou um pouco amigável demais quando chegou perto do alfa, o que serviu para que o mesmo lhe lançasse um olhar desconfiado. — Por que não entra para almoçar? — fez o convite de uma vez e Jungsoo ergueu uma sobrancelha na sua direção.

Em geral, o alfa só entrava para almoçar depois que a refeição já estava perto do fim, com intuito de evitar os filhos e todos os outros que moravam ali, afinal não queria causar indigestão em ninguém.

— Sério. Vem logo. — começou a se afastar e Jungsoo, acabou levantando-se.

Seguiu o ômega para dentro da casa em direção a mesa de almoço. Ryeowook estava terminando de arrumar a mesa quando eles apareceram. O Kim mais novo lançou um olhar pro ex-marido e depois para Heechul, pedindo uma explicação para aquilo. Heechul deu de ombros e Ryeowook comprimiu os lábios, mas seja qual fosse a discussão que fosse começar ali, acabou sendo interrompida por Kyungsoo entrando no cômodo. Estava usando roupas de algodão superlargas e pantufas nos pés além dos óculos no rosto.

O filho sorriu para os pais e sentou-se à mesa. Os três ainda se encararam mais um tempo até que Ryeowook deu de ombros, não queria discutir na frente do filho grávido.

— Não se sirva ainda. — ralhou com o mesmo e Kyungsoo o fitou com olhos grandes de fome. — Espere seus irmãos. — ditou ao mesmo tempo que Jungsoo sentava-se em um dos lugares opostos ao do filho.

Junmyeon foi o segundo filho a aparecer. Com um rosto sério lançou um olhar ácido para o pai alfa, mas não disse nada quando se sentou ao lado de Kyungsoo, o mais longe possível de Jungsoo. Heechul, sentado ao lado esquerdo do ex-marido, se limitou a suspirar. Aquilo ia ser mais difícil do que imaginara. Ryeowook ainda não havia se sentado, estava esperando que Minseok aparecesse e quando aconteceu, Heechul nem mesmo teve chance de abrir a boca para mandar que o filho ômega sentasse e comesse, porque no momento em que o Kim avistou Jungsoo, só limitou-se a dar meia-volta.

— Vou almoçar com os Byun’s. — o loiro disse alto, acenando de mau gosto enquanto se afastava.

— Minseok! — Heechul afastou a cadeira, gritou o nome do ômega. — Kim Minseok volte aqui!

Mas o loiro não voltou. Era teimoso como os pais e orgulhoso também, Heechul reconhecia os traços porque estavam estampados em si. Respirou fundo, com o lábio inferior preso entre dos dentes em claro desagrado. Acabou voltando a sentar ao mesmo tempo que Ryeowook tirava o avental que estava usando e saia da cozinha, claramente seguindo o exemplo do filho e Heechul suspirou mais um pouco. O ômega ergueu os olhos para os dois filhos que sobraram ali. Kyungsoo havia começado a se servir, tentava evitar o clima desconfortável que se instalara e Junmyeon o fitava de volta, irrequieto e um tanto inquiridor. Queria saber porque o pai parecia tão interessado em trazer Jungsoo de volta a família depois de tudo o que havia acontecido.

— É melhor comermos. — o alfa acabou ditando e Junmyeon fingiu que não ouviu porque não disse nada, só começou a se servir.

Heechul fez o mesmo. Eles comeram em silêncio por bastante tempo. Um silêncio perturbador, sufocante e que só servia para deixar o Kim mais frustrado. Mas o que ele esperava? Seus filhos e Ryeowook não iriam receber o alfa de braços abertos depois de toda a bagunça que o mesmo causara, depois da dor que causou. Esperar por isso era no mínimo ser inocente demais, coisa que Heechul não era.

— Como está indo os preparativos para o casamento no fim de semana? — se escutou puxar assunto.

Kyungsoo lançou um olhar pro irmão alfa, os lábios estavam sujos de molho.

— Bem. — foi monossilábico.

— Mesmo? O que Jongin anda planejando? — Heechul insistiu mais um pouco. — Li algumas coisas sobre os rituais Lu’s de casamento.

— Então, deve saber o que esperar. — Junmyeon o cortou e o ômega encarou o filho boquiaberto.

Kim Junmyeon nunca tinha usado aquele tom consigo em 21 anos. E percebendo o modo como falara, o alfa comprimiu os lábios e ficou de pé. Era melhor ir embora dali antes de agir de uma forma mais agressiva.

— Eu já terminei. — levantou da mesa.

Heechul observou o prato do filho, parcialmente tocado. Não havia comido quase nada. Suspirou e fitou a própria comida. Ao seu lado Jungsoo abaixou a cabeça. Kyungsoo fitou os dois, deixou os olhos pairarem no pai alfa. Tinha escutado coisas sobre eles, a mesma história narrada por pontos de vista diferentes. Ryeowook, Junmeyon, Heechul e Minseok. As palavras deles haviam criado uma boa imagem do que aconteceu até o dia em que fugiu da Alcateia, mas ainda assim haviam espaçamentos em sua memória, pequenas coisas ainda escondidas no seu interior e que pareciam sombrias de se ler. Kyungsoo as evitava, tinha aprendido que algumas coisas não precisavam ser lembradas.

Mas ali, no momento em que fitou o alfa que bagunçou a sua vida inteira, que deu início a um ciclo de erros... erros que o levaram a quase perder o seu bebê em um acidente de carro, Kyungsoo sentiu raiva. E depois, sentiu pena porque Jungsoo parecia tão quebrado e arrependido ali na sua frente, de cabeça baixa, rejeitado pelos filhos e pelo pai de Kyungsoo, que não sabia o que fazer. Não haviam lembranças a quais se apegar em sua memória. Existia apenas a sensação de que aquele velho lobo alfa já fora o melhor pai de todos os tempos assim como fora o dono dos seus maiores medos.

Estava preso entre esses dois sentimentos, totalmente perdido. Mas acabou ficando com o ressentimento, porque se não fosse toda a raiva de Jungsoo para com Byun Siwon, talvez, Kyungsoo ainda tivesse suas memórias e quem sabe, estivesse sendo feliz ao lado de Byun Chanyeol, amando e sendo amado. Foi por isso que levantou, sem dizer palavra alguma, segurou o seu prato de comida e saiu dali.

Heechul se recusou a observa-lo ir embora. Não queria ver o seu plano fracassar de vez. No entanto, Jungsoo viu. Ele ergueu o rosto e observou o último filho ir embora sem olhar para trás e sentiu pena de si mesmo. Havia estragado tudo, quebrado todos eles, reduzido o amor a pó.

Houve um tempo, pensou amargo, que meus filhos corriam pros meus braços. Houve um tempo em que tive tudo...

***

Baekhyun encarou o cheeseburger, a porção de batatas fritas extras e o milkshake a sua frente sem entender muito bem como acabara pedindo aquelas coisas e muito menos porque aceitara ir numa lanchonete de beira de estrada com os pais, Siwon e Donghae, e o irmão, Chanyeol. Parecia um pouco surreal que aquilo fosse o tal jantar em família que seu pai alfa insistiu em os levar. Acabou dando de ombros e pegando o cheeseburguer com guardanapo, começou a comer.

Ao seu lado, Chanyeol fazia o mesmo. A mesa era ao ar livre, de plástico e um pouco pequena para eles quatro, mas se espremiam bem ali, com cotovelos tocando uns nos outros sem que isso fosse ruim. Parecia o tipo de coisa extremamente fora do comum a qual Baekhyun desejara com afinco, não sabia sobre a vontade de se reunir em família até aquele momento. Percebeu que estava com saudade.

— Omma, está tudo bem que coma esse tipo de coisa? — Chanyeol perguntou, preocupado, ao ômega.

Donghae assentiu antes de sorrir para o seu próprio cheeseburguer com camada de queijo extra. Baekhyun conseguia ver de onde estava, o desejo do ômega por aquela comida, escorria pelos cantos da boca. A quanto tempo não comia um daqueles?, se perguntou. Será que o tinha consumido aos montes na adolescência? Antes de ter que entrar na linha com toda aquela comida saudável e sofisticada que Baekhyun havia sido criado com? Pelo jeito como Donghae abriu a boca para dar a primeira mordida no alimento, parecia que sim. O gosto daquilo era algo do qual sentia saudade.

Observou seu pai alfa comer também. Um pouco mais crítico quanto ao sabor, um tanto mais receoso diante de tanta gordura, mas depois da terceira mordida, já não se importavam mais. Eles pediram mais uma rodada de cheeseburgues, o suficiente para que ficassem satisfeitos de uma maneira sem igual.

— Isso é delicioso. — Siwon disse. — Por que não comemos isso antes?

— Quer mesmo que eu responda? — Donghae teve coragem de brincar e todos na mesa riram.

O clima estava leve. Pouco vento, pouco calor, pouca umidade. O céu estava escuro de estrelas, apenas a lua minguando ao longe dava algo para se olhar quando se erguia a cabeça. Contudo, além disso, eles, ali, naquela mesa de plástico, pareciam bem. Rindo, conversando, comendo... diferente do clima pesado que parecia existir quando estavam na Alcateia Kim. Talvez, fosse culpa do estresse, afinal aquele lugar estava destruindo-os aos poucos com todos aqueles lobos Kim’s enchendo-os a paciência.

Baekhyun imaginava como seria a vida dos pais ali quando fosse embora, de volta aos seus afazeres como líder lobo. Como Chanyeol se cuidaria, se nada daquilo poderia afetar Ji Eun e então, se Minseok ficaria bem. Afinal, sabia melhor do que ninguém que o ômega não viria consigo quando a hora chegasse, ele iria querer continuar em casa com Kyungsoo, matando a saudade e recuperando todo o tempo perdido ainda mais agora que o ômega estava perto de ter o seu filhote. Parecia óbvio que Minseok continuaria ali para dar assistência, para mimar seu sobrinho, para ser um pouquinho feliz.

Não que o alfa achasse que o Kim era totalmente infeliz quando na alcateia Byun, mas havia apenas aquela fração de melancolia sempre estampada nos olhos do marido que o faziam pensar no quanto Minseok deveria sentir falta de casa, dos familiares, do cheiro da própria Alcateia. Por isso, parecia certo lhe dar liberdade.

— Podemos ir no cinema na próxima vez? — Chanyeol perguntou, animado, parecia terrivelmente mais novo para alguém de 20 anos.

Baekhyun lançou um olhar para os pais, desviou os olhos apenas para Siwon quando Donghae fez o mesmo e incrivelmente, Siwon sorriu e assentiu, ato que só serviu para fazer o alfa erguer as sobrancelhas, desconfiado. Seu pai não costumava ser tão legal assim. Na verdade, nem ao menos fazia o estilo dele os trazer em uma lanchonete de beira de estrada para comer ao ar livre, chegar nessa conclusão só fez o Byun se sentir mais desconfiado. No entanto, mesmo assim terminou seu lanche.

— Quando pretende voltar para casa? — Donghae perguntou ao filho mais velho, referindo-se ao território Byun.

— Amanhã, talvez. — respondeu, não havia muita certeza na sua voz. — Estava pensando em ir embora depois do casamento de Junmyeon com Jongin no fim de semana. — esclareceu mais um pouco.

Chanyeol, ao seu lado esquerdo, lançou-lhe um olhar divertido, mas não lhe disse coisa alguma o que só serviu para Baekhyun lhe devolver um olhar irritado.

— Leve Chanyeol com você. — Siwon disse, o canto da boca estava sujo de ketchup da mesma forma que a boca do irmão mais novo. — Eu falei com Kangin. — direcionou sua atenção ao filho mais novo. — Ele vai te ajudar a se adaptar ao emprego, pode perguntar qualquer coisa a ele.

— Chanyeol vai trabalhar? — Baekhyun não escondeu o divertimento na sua voz, fazendo com o que o alfa lhe empurrasse o ombro em implicância.

— Seu irmão vai ter um filhote, precisa de um trabalho para sustenta-lo. — Donghae respondeu doce.

— Do jeito que Baekhyun e Minseok são barulhentos, não é só eu que vou ter um filhote. — Chanyeol resmungou e dessa vez, foi Baekhyun quem empurrou seu ombro.

O mais novo riu e deu uma mordida no seu lanche.

— O que? — Siwon perguntou, confuso.

— Não é nada. — Baekhyun cortou o assunto.

Eles voltaram a comer em silêncio. A noite se tornou mais fria com o passar das horas, alertando-os que já estava tarde ou que choveria na madrugada. Baekhyun comprovou que era a última opção quando notou as nuvens cor-de-rosa tomando conta do céu ao mesmo tempo que o relógio não marcava menos de nove da noite. Surpreendeu-se pela forma como estavam ali há tanto tempo, rindo e conversando do jeito que famílias deveriam ser. E Siwon deve ter tido o mesmo pensamento que si quando notou a chuva se formando, porque, no minuto seguinte, eles estavam ficando de pé. Despediram-se do dono da barraca, pagaram-lhe e voltaram para a Alcateia Kim.

Não ficava longe e por isso podiam ir andando e por conta de Donghae, seus passos foram mais que vagarosos. Chanyeol se ofereceu para acompanhar o pai ômega, dando algum espaço para que Siwon andasse um pouco mais a frente com Baekhyun ao seu lado. Estavam em silêncio apesar do som dos carros passando na estrada e do som dos seus passos.

Foi naquele momento que Baekhyun voltou ao velho sentimento de antes: a chateação. Lembrou-se bem porque eles não estavam agindo como uma família antes, que estavam discutindo acerca da mãe de Baekhyun... mas o Byun não queria trazer aquele clima novamente, estava cansado de discutir com os pais. Desejava continuar na leveza que o jantar trouxe.

— Baekhyun. — escutou o pai chamar ao mesmo tempo que chutava uma pedrinha para longe do seu caminho, olhou em direção ao mesmo. — Eu sei que você e Minseok andam tendo relações. — Siwon disse numa voz séria, que só serviu para fazer o filho corar como um adolescente diante dos seus olhos. — E não que isso seja ruim — tentou ser gentil, mas o alfa apenas desviou o rosto. — apenas se protejam, sim? Não é uma boa época para se ter um filho.

— Mas Chanyeol vai ter um mesmo assim. — expôs.

— Chanyeol não é o líder da Alcateia. — Siwon rebateu e Baekhyun comprimiu os lábios.

Entendia bem ao que o pai se referia. Ser o primeiro na hierarquia não era uma coisa sempre boa e como vinha notando desde sempre, estava sendo alvo do ódio dos Kim’s. Mas acreditava que apenas si recebia isso, tinha esperança de que Minseok continuaria sendo apenas Minseok, um dos herdeiros do Clã, diante dos outros lobos Kim’s. No entanto, pela forma como seu pai soava, se deu conta de que não estava acontecendo dessa maneira.

— Acha que Minseok pode ser afetado? — a preocupação estava ali, pairando na sua voz, antes que pudesse mascara-la e Siwon percebeu.

O alfa mais velho suspirou antes de enfiar as mãos nos bolsos da frente da calça jeans que usava. Era estranho vê-lo usando jeans depois de tantos anos apenas vendo-o trajando ternos e mais ternos e mesmo Baekhyun se sentia um tanto estranho usando roupas despojadas como aquelas. Camisa, jeans e tênis. Incrivelmente, sentia falta das suas roupas sociais, da gravata no pescoço, os sapatos sociais, a camisa de botões...

— Junmyeon tem os repreendido bem, mas não isso vai adiantar por muito tempo. — o alfa contou. — Quanto mais tempo passamos em seu território, mais ariscos eles se tornam e infelizmente, Minseok pode ser visto como um traidor e quem sabe, Junmyeon seja visto dessa forma também se continuar nos protegendo.

Baekhyun crispou o queixo e olhou para frente. Siwon se deu conta que ele se parecia consigo, apesar de toda a aparência pertencer a Jihyun, aquela fração de determinação em proteger aqueles que ama estampada no seu rosto se parecia com a que Siwon costumava exibir por aí. Balançou a cabeça e se viu erguendo a mão, colocou-a por entre os cabelos do filho e os bagunçou. O alfa o fitou, um tanto surpreso e confuso pelo toque, mas Siwon estava sorrindo para tranquiliza-lo.

— Não se preocupe tanto. — falou suavemente. — Estará tudo bem quando leva-lo de volta para casa. — referiu-se ao território Byun.

— Eu não acho que Minseok quer voltar para meu clã. — contou com um suspiro.

— O que te faz pensar isso? — afastou a mão dos cabelos do filho, voltou a tê-las nos bolsos do jeans.

— Aqui é a casa dele, é aqui que sua família está. — fitou o pai. — Todos que ele ama estão aqui.

Siwon assentiu, não tinha muito o que dizer. Conhecia a família de Minseok, entendia os pormenores que rondavam aquele ômega e todo o peso que ele pareceu carregar até ali. Contudo, o casamento com seu filho nunca parecera realmente um peso. E nos últimos meses, o ômega tinha se mostrado cada vez mais envolvido com os costumes da sua alcateia, estava se dando bem com todos, sendo um bom Ômega Principal e o melhor disso, a sua relação com Baekhyun parecia mil vezes melhor. Siwon já os tinha visto juntos mais de uma vez, seja na Alcateia Kim ou na Alcateia Byun, estavam se dando bem.

— Mas ainda assim, ele é seu marido. — externou de uma vez e Baekhyun abaixou a cabeça, de repente parecia envergonhado daquele fato. — Isso me lembra quando casei com a sua mãe. — olhou para frente quando percebeu que o filho o fitava com afinco, estava animado com a possibilidade de ter informações sobre ela quando Siwon nunca falava nada. — Eu era um pouco mais novo que você quando nos casamos. — lembrou baixo. — Ela era tão bonita, foi a primeira coisa que pensei quando a vi pela primeira vez, mas parecia tão assustada. Foi por isso que prometi que cuidaria de si, que a protegeria, contudo não foi assim que tudo correu.

Eles ficaram em silêncio. Baekhyun esperou mais alguma coisa, mordia a parte interna da sua bochecha em nervosismo.

Jihyun não é boa pessoa, Baekhyun. — repetiu o velho discurso e o filho bufou, terrivelmente cansado daquilo.  — Não estou falando isso porque sou seu pai ou porque ela te abandonou. — fitou-o, sério, Baekhyun sustentou o olhar. — Estou falando isso como a pessoa que conviveu consigo, que a conheceu.

— Só está dizendo isso porque não quer eu a encontre. — rebateu.

— Estou dizendo isso para alerta-lo, não quero que se machuque. — o mais novo mordeu o lábio e desviou o olhar. — Jihyun brincou comigo, com Kyuhyun e com Donghae. Ela...

— Não é uma boa pessoa, é. Eu sei. — Baekhyun o cortou e decidiu que não queria mais ter aquela conversa, a noite tinha sido estragada mais uma vez.

— Não, não sabe. — Siwon rebateu. — Você não acredita em mim, não é? — havia um tom suavemente triste na sua voz.

— Ela ainda é minha mãe. — Baekhyun disse simplesmente.

O alfa mais velho fitou o filho, os olhos abaixaram-se e eles andaram mais um pouco em silêncio. Quando avistaram a entrada da Alcateia, Siwon olhou para trás e encontrou Donghae e Chanyeol andando aos poucos até si. Baekhyun parou na entrada, esperando pelo pai ômega e pelo irmão. Siwon o fitou mais um pouco e suspirou, retirou a mão do bolso e estendeu em direção ao filho mais velho um pequeno papel. Era o que vinha segurando desde que saíra de casa, brincara com aquilo entre os dedos enquanto sua mão se escondia no bolso do jeans.

Baekhyun segurou o papelzinho e desdobrou. Havia um número de telefone ali, anotado às pressas por alguém nervoso com a decisão tomada. Ergueu o olhar para o pai esperando uma explicação, mas percebeu que não precisava. Sabia muito bem a quem pertencia aquele número de telefone, então só se viu assentindo para o pai e Siwon assentiu de volta.

— Tome cuidado. — o alfa pediu e Baekhyun sorriu antes de impulsionar-se em direção ao alfa.

Não lembrava da última vez que o tinha abraçado assim como não sabia o quanto sentia falta de fazer aquilo até estar fazendo. Siwon o abraçou de volta. Não precisava dizer mais nada, o gesto falava por si só. E como que também querendo dizer a mesma coisa, Chanyeol os abraçou também e por sobre aqueles três, Donghae tomou o seu lugar.

Eram uma família, no fim das contas. Apesar dos percursos tortuosos, se amavam.

***

Eles não tinham ido aos Oh’s como Henry esperava, haviam parado em um restaurante no começo do dia. Comeram, conversaram sobre banalidades e depois passearam mais um pouco pela cidade. Sehun não parecia disposto a ir para casa e Henry não parecia disposto a sair daquele carro sem ter uma certeza sobre seu futuro emprego. Sabia que o alfa estava evitando o assunto e como não tinha o mandado embora, então o Lu apenas esperava, sem insistir. Observava-o de canto de olho a cada pedaço de tempo. Primeiro, com desconfiança, depois com curiosidade.

E depois que eles se enfiaram em um bar, no fim do dia, passou a olha-lo com divertimento. Oh Sehun era péssimo bebendo, não levava jeito algum para aquilo, mas ao menos aquele esforço todo em encher a cara fazia Henry se divertir. As caras e bocas que o alfa fazia, só serviam para isso, afinal.

— Você não bebe? — Sehun perguntou, incrivelmente sua voz estava firme ainda apesar das três garrafas de soju que havia tomado até ali.

— Os medicamentos que eu tomo me impedem de encher a cara. — Henry disse meio rindo.

Sentados à mesa daquele bar, haviam pedido frango frito para comer enquanto bebiam. Mas Henry não havia colocado nenhuma gota de álcool na boca até ali, por isso apenas se limitava a comer o frango ao mesmo tempo que Sehun fazia mais uma careta enquanto dava um gole no soju.

— Também tomo remédios. — o alfa disse, ergueu a sobrancelha na direção do Lu, desafiando-o.

— Eu não vou beber. — Henry apoiou os cotovelos sobre a mesa. — Esquece.

No entanto, meia hora depois, ambos estavam disputando para saber quem terminava de tomar uma garrafa de soju primeiro. E Henry nunca saberia explicar em que momento começou, mas o álcool chegou tão rápido em seu sangue, que não era mais capaz de ver tudo estático, o cenário girava diante dos seus olhos. Sabia que Sehun estava do mesmo jeito, porque o alfa quase dormia sobre a mesa. Mas não foi capaz de se impedir de beber mais um pouco e rir e beber e falar loucuras e rir e beber.

— Então, o que você é? Um espião? — Sehun perguntou de um jeito patético, o queixo se apoiava na mão.

— Eu sou um ômega neutro. — o Lu respondeu colocando mais uma garrafa de soju vazia sobre a mesa. — Fui treinado pela Organização para fazer qualquer coisa, então... é, eu sou um espião.

— Uau.  — Sehun riu e Henry acompanhou. — Eu sou um líder alfa. — bateu no próprio peito.

— Cale a boca. — o ômega jogou no outro um ossinho de frango.

Então, estavam rindo novamente. Pediram mais bebidas e mais frangos fritos, até o momento em que o dono do lugar os mandou embora com a desculpa de que iria fechar. Por isso, terminaram de volta ao carro de Sehun, bêbados demais para dirigir para qualquer lugar. Continuaram sentados ali dentro, por bastante tempo, meio cochilando depois de tanto álcool. A noite continuou avançando por bastante tempo até que a chuva começou. Henry observou os pingos descendo pelo vidro da janela, já mais sóbrio. O metabolismo dos lobos era mais rápido que o dos humanos, o que lhes davam alguma vantagem quanto ao quesito encher a cara.

Olhou para o lado e viu Sehun dormindo, a testa encostada no volante. Quase riu, mas escondeu o sorriso no último segundo. Acabou afastando o alfa dali, ajeitou-o no banco e esperou mais um pouco. Tentaria dirigir quando a chuva ficasse mais fraca, mas na medida que o tempo passava, mais forte se tornava. Suspirou e se encolheu no banco onde estava, estava começando a ficar com frio e enjoado. Não deveria ter bebido tanto, percebeu. Aquilo iria afetar os remédios, inibir o efeito.

Lançou mais um olhar ao alfa no outro banco. Parecia uma boa ideia tirar um cochilo até que chuva parasse, pensou. Ajeitou-se no banco do carona e fechou os olhos. Dormiu por bastante tempo, soube disso no dia seguinte, quando acordou numa cama que não era sua, em um lugar que não conhecia com Oh Sehun dividindo a cama consigo.

Totalmente vestidos, se tranquilizou. Mas foi apenas por um momento, porque no segundo em que sentava-se no colchão, a porta do quarto fora aberta e quem apareceu ali, roubou todo o seu fôlego. Ele encolheu-se inteiro no canto da cama, mexendo-se tanto no processo que Sehun acordou, confuso lançou um olhar para o cômodo. O alfa pareceu perdido por um momento, mas quando focou os olhos em Henry, franzio a testa e depois a relaxou, pareceu lembrar como terminaram ali.

Bêbado demais para lembrar de outro caminho, Sehun os tinha trazido para a Alcateia Oh. E aquele era o seu quarto, lembrou-se. Havia carregado Henry até ali, quando não sabia como chegar nos quartos de hóspedes sem despertar a casa inteira.

— Henry. — chamou com a voz rouca de sono, os olhos semifechando-se devido a dor de cabeça que começava.

Mas o Lu não o respondeu, só se encolheu mais onde estava e de repente, começou a rosnar. Sehun franzio a testa e olhou para onde o ômega se mantia concentrado e encontrou a figura alta de Wu Yifan.

— Algum problema? — o líder Oh perguntou.

Wu Yifan deu um passo em direção a cama e Henry rosnou mais alto, todo encolhido naquele jeito parecia um animal assustado. Sehun notou suas iríses arroxeadas e percebeu também, como as do alfa mais alto se encontravam num verde escuro perigoso.

— É você. — o Wu pronunciou com uma devoção que não pertencia ao momento. — Meu ômega.


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Notas finais do capítulo

*de repente Sehun se perguntou se toda aquela aproximação baekmin foi por conta do fato do Minseok fazer parte da Organização, pensamentos de quem ainda não aceitou o término kkk.



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