Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 5
IV - Algumas coisas não podem continuar




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Baekhyun mordeu o pescoço do irmão de leve ao passo que Chanyeol se remexia embaixo de si, tentando retomar o controle da brincadeira. No entanto, mesmo que a sua forma de lobo fosse bem maior, Chanyeol era descoordenado e não sabia usar a sua força muito bem, enquanto Baekhyun, que era um lobo mediano, sabia muito bem como usar cada uma das suas fraquezas e qualidade. E por isso, quando os dois se provocavam tanto ao ponto de terminarem na sala de treino se enfrentando, Baekhyun sempre ganhava.

Assim como estava ganhando agora.

— Pare. Pare. — Chanyeol abandonou a sua forma de lobo. — Você ganhou. — declarou rindo, o rosto suado e o cabelo vermelho se colando na testa clara.

O lobo branco rosnou contra o rosto do irmão, apenas para passar a língua áspera na bochecha do mesmo logo em seguida, como que dizendo “bom garoto” e fazendo o irmão mais novo revirar os olhos. Baekhyun saiu de cima de si e deixou que a sua forma de lobo fosse embora. Deitou-se, nu, ao lado do irmão e meio sorriu.

— Eu sempre ganho. — declarou, a voz saindo arrastada de cansaço.

Fazia algum tempo que estavam lutando naquela sala de treino.

— Não se gabe, hyung. — Chanyeol disse e começou a se levantar. — Da próxima vez, eu ganharei.

Baekhyun se forçou a ficar sentado, o cabelo escuro úmido de suor.

— Vai sonhando. — desdenhou e riu da careta que Chanyeol fez, mas logo estava pegando a bermuda que o irmão lhe jogou, antes que acertasse o seu rosto.

Ficou de pé e se vestiu ao mesmo tempo que o irmão.

— E então? — Chanyeol mudou de assunto.

Baekhyun, virou-se, confuso para o mais novo.

— O que? — soltou enquanto ia até o pequeno frigobar ali, afim de pegar uma garrafa de água.

— Você e aquele Kim... — disse com segundas intenções, queria saber qual a reação do irmão. 

— Kyungsoo? — ainda não tinha entendido onde o irmão queria chegar com aquele papo. — Foi só um beijo, não precisa ficar enciumado. — disse por fim, pois sabia como o ômega estava saindo com eles dois ao mesmo tempo e por isso se achava muito esperto.

Chanyeol mordeu o lábio, nervoso. Não imaginava que o irmão soubesse sobre a sua pequena travessura com o ômega, afinal eles estavam sendo tão cuidadosos.

— Desde quando sabe? — resolveu perguntar, pois sabia que aquele joguinho de rodeios nunca funcionava com Baekhyun.

— Desde quando ele é burro demais para nem sequer disfarçar o seu cheiro nas roupas dele. — respondeu simplesmente depois de beber um gole de água, ficando de frente para ver a expressão do irmão.

Chanyeol apenas bufou, daquele jeito que mostrava o quanto estava frustrado com isso.

— Vocês não são nem um pouco cuidadosos. — o mais velho disse por fim, fechando a garrafa e começando ir em direção a saída da sala de treino.

O alfa mais novo se apressou em correr atrás do irmão, parar na sua frente. O rosto ainda suado e o cabelo vermelho bagunçado.

— Então por que continua saindo com ele? — perguntou, o que tinha começado a lhe incomodar.

— Ele é bonito. — falou dando de ombros. — Gosto do cheiro dele. E ele tem os lábios macios. — disse apenas para provocar e por isso recebeu um empurrão do maior.

Tinha deixado Chanyeol irritado. Era sempre fácil deixa-lo irritado, era só mexer com alguma coisa que ele gostava. No caso, era apenas mexer com Kyungsoo.

Baekhyun riu da atitude do irmão, apenas para no segundo seguinte se abaixar e dar uma rasteira no irmão mais novo. O corpo de Chanyeol caiu contra o chão da sala de treino em um estrondo ao passo que o menor se apressava em subir em cima dele, abandonando a sua garrafinha de água no chão. Os olhos ficando em um tom bonito de âmbar, muito claro, denotando o quanto o seu lobo estava irritado mesmo que um sorriso desdenhoso ainda estivesse nos seus lábios finos.

— Kyungsoo é só um Kim, não serve para nada além de diversão e você sabe disso. Nosso pai nunca aceitaria um Kim no Clã. Então é melhor para a saúde de vocês dois que isso seja só pegação. — falou muito sério, a voz saindo em tom de aviso.

O irmão mais novo sabia que Baekhyun não estava sendo mal. Ele estava apenas dando um aviso, tentando puxa-lo para fora daquela armadilha que era Kim Kyungsoo. Contudo, Chanyeol temia que já estivesse preso na teia de sedução daquele ômega com sorriso de coração. O alfa mais novo se remexeu embaixo do irmão, mas sabia que nunca seria tão bom quanto ele em combate, por isso, se limitou a rosnar pro menor, mostrando os dentes afiados e fazendo o olhar âmbar de Baekhyun se tornar mais intenso sobre si.

— Ah, meninos. — a voz do appa ômega de ambos os tirou daquele confronto. — Parem de brincar e venham jantar. — Donghae se aproximou, o cabelo azulado se tornando muito escuro embaixo da luz florescente da sala.

Abaixou-se e recolheu a garrafinha de água, meio vazia, jogada no chão e a colocou sobre a primeira bancada que encontrou. E só então voltou a fitar os filhotes, mesmo que só um deles fosse seu. Mas gostava de pensar que Baekhyun era o seu filhote também, porque tinha conhecido a mãe dele por tempo suficiente para se tornarem amigos, além do fato de que foi Donghae quem fez o parto da ômega. Ele tinha sido a primeira pessoa a segurar Baekhyun.

Tinha sido um bebê tão bonito, com aqueles olhos âmbar de lobo. Parecia com a mãe, apesar dele não gostar nenhum pouco disso. Mas não havia como negar. Byun Baekhyun havia herdado a forma das mãos da mulher e o tom de pele leitoso, enquanto os olhos com certeza pertenciam ao pai assim como o tom de cabelo escuro. Porém, essa era a única semelhança que o alfa tinha com o pai, pois até mesmo a personalidade pertencia a mãe.

— Não estamos brincando, omma. — Chanyeol reclamou, ficando de pé. — Estamos lutando.

— Tudo bem, tudo bem. Parem de lutar e venham jantar. — consertou, os olhos divertidos sobre o corpo jogado de Baekhyun, no chão. — Levante-se, Baek.

— Vamos, hyung. — Chanyeol incentivou, completamente esquecido do embate de antes, segurando o braço do irmão e o forçando a ficar de pé.

Ele se deixou levantar e depois ser carregado pelo irmão mais novo, pois estava com preguiça demais para andar. O pai ômega seguiu na frente, gesticulando enquanto falava sobre como tinha cozinhado um jantar muito bom.

— Se limpem e depois desçam para o jantar. — Donghae disse segurando no rosto de cada filho e deixando um beijo. — Não se atrasem, o seu pai já está para chegar. — avisou e só então deu as costas aos meninos e seguiu pelo corredor.

Eles não demoraram, do jeito que o pai queria e do jeito que tinham sido ensinados a não demorar. Nunca poderiam se atrasar para o jantar, ainda mais se tinham um pai como Byun Siwon, severo demais. E foi por isso que dez minutos antes que o alfa-líder aparecesse, os três já estavam sentados à mesa, muito eretos e quietos.

Donghae, tentava sorrir para passar uma boa imagem aos filhos, mas até ele sabia como isso nunca funcionava. E quando sentiram o cheiro forte de Siwon, se aprumaram mais uma vez — como se fosse possível — e sorriram para o pai. Ficaram de pé quando ele entrou na sala de jantar e só voltaram a sentar quando o mesmo o fez.

Baekhyun colocou o guardanapo sobre as coxas quando a comida começou a ser servida, o rosto estava sério e o cabelo escuro ainda estava úmido, fruto do seu banho rápido. O cabelo vermelho de Chanyeol estava do mesmo jeito, mas ele bem sabia que o pai não ia falar nada sobre isso ao irmão mais novo, enquanto ele tinha sempre que ouvir como tinha que mostrar uma aparência impecável, já que era o filho mais velho e por isso, o sucessor. Evitou olhar para o pai enquanto mastigava os legumes cozidos, sempre tentando não fazer barulho, pois isso era falta de educação. E porque qualquer barulho naquele silêncio, era irritante aos seus ouvidos.

— Siwon, querido, você sabia que Chanyeol conseguiu entrar para o time de basquete? — Donghae comentou o grande feito do filho, afim de espantar um pouco daquele silêncio, que sempre lhe era tão incomodo.

Siwon, levantou os olhos minimamente do seu jantar e olhou para o filho mais novo, sentado ao seu lado e depois olhou para o marido.

— Parabéns, Chanyeol. — disse, a voz neutra. — Mas quando vai se tornar capitão?

E aí estava, Baekhyun pensou amargo, nunca nada está bom o bastante para ele.

— Eles já tem um capitão, appa. — o alfa explicou antes de comer mais um pouco.

— Bobagem. — desdenhou. — Se você mostrar que é melhor, eles vão eleger você capitão. — disse por fim e o ruivo assentiu de cabeça baixa.

O alfa mais velho desviou os olhos do filho mais novo e os colocou no filho mais velho, Baekhyun.

— E você, Baekhyun, está em algum time? — perguntou só para espetar um pedaço de cenoura com a ponta do garfo e levar a boca logo em seguida.

— Não, appa. — respondeu.

A sobrancelha do pai se ergueu e Donghae mordeu o lábio, pois conhecia o marido bem o suficiente para saber que ele não tinha gostado daquela resposta.

— Mas... mas Baekhyun é o melhor da turma. — se apressou em dizer. — A professora de matemática o parabenizou na última reunião escolar, disse que ele gabaritou a prova. — contou.

Contudo, mesmo diante disso, o canto do lábio de Siwon se enrugou.

— O filho do líder não pode apenas ser bom em uma coisa — começou, segurava a faca com demasiada força enquanto cortava a carne no seu prato. — Precisa ser bom em todas, tem que ser um exemplo de alfa. Como acha que os outros vão seguir um líder fraco?

— Desculpe, appa. — Baekhyun se resignou em dizer, empurrando o seu prato ainda cheio de comida para frente. — Prometo que vou me tonar um líder digno. — se colocou de pé, afastou a cadeira. — Me dar licença?

— Talvez, ficar sem jantar te torne mais forte. — o pai alfa disse enquanto os olhos de Donghae se tornavam tristes quando sobre o filho.

— Obrigado, appa. — o Byun mais novo disse antes de fazer uma reverência e sair da sala de jantar.

***

Seu corpo estava dolorido quando acordou, a dor começava no seu quadril e subia até a sua nuca e por isso, soltou um gemido baixo quando conseguiu sentar. Estava nu e ainda não era dia. Talvez umas quatro da manhã, se fosse considerar a lua alta e o frio demasiado. Procurou o seu pijama e escorregou para dentro dele com dificuldade, não conseguia entender porque estava sentindo tanta dor. Sexo não devia ser bom? O que aconteceu de errado?

Mas de uma coisa Minseok sabia, Kyungsoo estava certo. Tudo que ele sentia era cansaço, nada de especial. Além, é claro, de um profundo arrependimento.

Já de pé e vestido, observou o corpo adormecido de Jongdae. Amava mesmo aquele alfa, mas o que havia acontecido não teve nada a ver com amor, pois Minseok nem mesmo conseguiu sentir como se o seu lobo estivesse gostando daquilo. Na verdade, tudo que o seu lobo lhe sussurrava eram maneiras de fugir dali, fugir daquele alfa e a pior parte, era perceber que o seu lado humano estava concordando com isso durante o ato.

Suspirou, cansado. Se sentia extremamente cansado. Lembrava-se de ter pedido para Jongdae parar, mas ele continuou. Lembrava-se de ter dito que não estava pronto, mas o alfa fingiu não escutar. Lembrava-se do modo como as garras de Jongdae tinham se alongado e rasgado-lhe a pele do quadril enquanto o segurava. E isso tinha lhe deixado tão cansado, que apenas deixou que aquilo acontecesse de uma vez, pois tudo que ficava na sua mente enquanto sentia o Kim dentro de si, era em como devia se sentir privilegiado por poder transar com alguém que amava. Mas durante o sexo, não sentira amor algum. E mesmo agora enquanto o fitava, também não conseguia sentir amor, pois de alguma forma, se sentia traído.

A verdade, no fim das contas, era que Minseok não conseguia reconhecer o alfa por quem tinha se apaixonado nesse Kim, à sua frente.

Desceu a escadinha apressado. Transformou-se em lobo e correu floresta adentro. Apareceu depois que o sol surgiu. Tinha ficado o resto da noite na floresta, correndo e xingando-se a si mesmo. Era tão idiota, tão ingênuo e agora tinha perdido o seu momento especial.

Kyungsoo estava acordado quando escutou Minseok entrar pela janela. Estava sem roupa alguma e o cabelo sujo de lama, parecia um indigente.

— O que aconteceu com você? — perguntou preocupado, girando em volta do irmão e notando as marcas sangrentas no quadril dele.

Não disse coisa alguma, apenas correu para o banheiro e se trancou ali, fazendo questão de ligar o chuveiro e se enfiar embaixo dele, sem cerimônia alguma. Sentiu a pele arder, mas não se importou, em parte porque tinha começado a chorar embaixo da água. E mesmo depois que saiu do banho não conseguiu contar ao irmão o que tinha acontecido naquela noite.

Ele seguiu em silêncio para a escola, os fones colocados para impedir que Kyungsoo tentasse falar consigo. Seu corpo estava latejando, mas o ômega sabia que uma hora ia passar pois tinha tomado remédio para dor antes de sair de casa. No entanto, nem todos os remédios iam apagar a dor psicológica que ele sentia. Se sentia tão usado... tão imensamente usado...

Suspirou quando sentiu o seu celular vibrar e identificou uma ligação de Jongdae. Decidiu não atender, coisa que não passou despercebido para Kyungsoo — ao seu lado. Mas o ômega mais novo decidiu não perguntar nada. E foi por não perguntar nada, que as coisas se arrastaram silenciosas nas semanas seguintes.

Minseok não estava mais falando com tanta frequência com Jongdae. O evitava ao máximo, se ocupava ao máximo para sempre ter uma desculpa na ponta da língua. Mas nem mesmo todas as desculpas que podia criar deram certo quando o alfa insistiu em leva-lo para um passeio no fim de semana e como esperado, o namorado tentou algo mais consigo. O ômega disse que não queria, que estava cansado, mas a verdade era que não confiava mais tanto assim no Kim.

Kyungsoo observava de longe o modo como o loiro parecia cada vez mais longe do namorado e cada vez mais dentro do próprio mundo. Ele estava frequentemente lendo algo ou estudando equações, as vezes o pegava fazendo artes pelo computador, brincando de ser designer ao decorar sua casinha virtual. Mas mesmo quando o loiro falava consigo, Kyungsoo percebia que havia algo de errado. E esse algo de errado começou a preocupa-lo, quando — curiosos demais sobre as coisas que o irmão fazia no computador — resolveu vasculhar o e-mail do irmão. E foi sentado, em frente ao computador do irmão que Minseok o encontrou.

— O que está fazendo? — usou o tom acusatório quando viu que era a sua caixa de e-mail aberta ali.

O menor virou-se na cadeira com uma calma que não pertencia a aquele momento e cruzou os braços, o rosto cheio de irritação.

— Por que não me contou que se inscreveu para uma escola interna em outro país?

— Eu só... Eu... — Minseok gaguejou e se deixou sentar na beira da cama, os olhos baixos e a irritação indo embora de si. — Eu gostei das propostas e pensei que ia ser legal conhecer outro lugar.

— Minnie... — Kyungsoo chamou e levantou-se da cadeira foi até o irmão, segurou-lhe as mãos. — Por que não me contou? Papai sabe disso? E Junmeyon? Você sabe que eles vão pirar se te aceitarem, não é? E Jongdae?

E na menção do nome do namorado, o loiro retirou as mãos das dos irmãos.

— Eu ia contar se passasse. Você acha o que? Que eu ia fugir?

— Do jeito que você escondeu isso, sim. — confessou.

Minseok suspirou e se jogou na cama, as mãos sobre a barriga.

— Isso é por causa de Jongdae? — o moreno resolveu perguntar o que vinha lhe incomodando há semanas. — O que aconteceu entre vocês?

— Nos transamos. — confessou de uma vez com um suspiro.

A boca de Kyungsoo abriu-se e os olhos se arregalaram, mas antes que pudesse ficar animado pelo irmão, percebeu o tom lamentoso que ele tinha usado ao dizer isso.

— Não foi bom? — ficou de pé e subiu na cama, sentou-se ao lado do corpo deitado do irmão e o observou de cima.

Era bonito com aquelas bochechas redondas e o óculos de armação quadrada.

— Eu não estava pronto.

— Ele te obrigou?

Minseok se ajeitou-se na cama, afim de ficar sentado e então começou a contar o que tinha acontecido naquela noite. Disse como estava nervoso demais para ficar excitado e por isso doeu tanto quando Jongdae entrou sem si. Tentou explicar como pediu para ele parar, mas ele não parou. E por fim, contou a Kyungsoo como não queria decepcionar o namorado e por isso deixou que ele fosse até o fim. Mas a não-decepção de Jongdae não compensava o modo como ele se sentia um lixo no dia seguinte. Totalmente traído, tanto por Jongdae quanto por si mesmo.

— Aquele filho da mãe! — o moreno exclamou ficando de pé num pulo. — Vem, levanta. — segurou na mão do irmão e o fez ficar de pé também. — Vamos chamar Junmyeon e vê-lo dar uma coça naquele idiota.

— Não, Kyungsoo. — ficou os pés no chão e impediu o irmão de continuar a arrasta-lo. — Não vamos fazer nada.

— Meu Deus, Minseok! Como assim não fazer nada? Ele praticamente abusou de você! Nós temos que fazer alguma coisa e você vai terminar com esse idiota. — apontou o dedo indicador no rosto do irmão e viu os olhos deste se arregalarem em susto. — Hoje. Agora!

— Calma. — Minseok disse. — Eu vou terminar com ele, é só que... eu o amo tanto.

— Como pode amar alguém que não te respeita?

Minseok fitou o irmão, totalmente ferido. Claro que ele sabia que estava se afundando em falsas esperanças, mas tinha passado um ano com aquele alfa. E tinha o observado desde os quatorze anos, sempre o desejando e agora que o tinha, tudo que podia pensar era em deixa-lo ir? O seu conto de fadas tinha mesmo durado tão pouco? Parecia no mínimo injusto demais para pensar sobre. Mas Minseok sabia como o irmão tinha razão, sabia como deveria para de se enganar com aquele relacionamento e terminar com Jongdae antes que se machucasse mais, pois todas as vezes que olhava para o Kim não conseguia enxergar o homem por quem tinha se apaixonado. O que lhe parecia era que o sexo tinha transformado o namorado em alguém totalmente diferente.

— Eu vou terminar. — falou, decidindo, por fim, a coisa certa.

Kyungsoo soltou o ar que não sabia que estava segurando e deu a volta no quarto, até que parou sentado na beira da sua cama. Descansou o rosto entre as mãos e suspirou mais uma vez. Queria tanto proteger Minseok, queria tanto que as coisas fossem cor-de-rosa na vida do irmão. Logo ele que era tão doce, não merecia ter perdido o seu momento especial assim. Mas ele sabia que não havia nada mais a fazer sobre isso.

Naquela noite, Minseok contou a família sobre sua inscrição no colégio interno e o pai ômega teve um ataque de paternidade.

— França?! — ele tinha exclamado, depois de segurar o loiro nos braços.

Não parecia tão longe, assim Minseok se lembraria de pensar. Mas era bem longe, não só pela geografia ou pelas tantas horas que ele passaria em um avião antes de pisar em solo francês, mas sim por causa do tanto que ficaria longe dos irmãos e dos pais. No entanto, naquele momento, Minseok não estava pensando nisso. Estava pensando em como terminaria com Jongdae. Já tinha repassado as falas na sua cabeça e até mesmo já as tinha dito em voz alta para o seu reflexo no espelho, mas nenhuma delas parecia certa.

— É uma ótima escola. — Heechul disse. — Fui expulso de lá. — contou e Kyungsoo riu.

Eles estavam todos juntos naquela noite. A família inteira, em parte porque Leeteuk tinha insistido nisso e em parte porque os gêmeos tinham implorado ao pai por aquilo. E é claro que os ômegas brigaram por isso, porque cada um queria que o jantar fosse na casa do outro e depois de muitos gritos e de um Ryeowook raivoso jogando legumes em Heechul, eles concordaram em ir para a cidade jantar. Tinham terminado em uma lanchonete nos arredores da cidade, rindo e se alfinetando — Ryeowook e Heechul se encarregaram disso.

— Omma, — Junmyeon começou. — você devia ser um exemplo.

— Mas eu sou um exemplo. — rebateu divertido antes de beber um pouco mais do seu milk-shake de morango. — Um exemplo de beleza.

— Um exemplo de rebeldia, isso sim. — Ryeowook não perdeu a oportunidade. — Onde já se viu, ser expulso de uma escola. Eu nunca fui expulso, na verdade sempre fui um ótimo aluno.

— Aposto que você era o nerd antissocial. — o ômega mais velho devolveu. — Ninguém te chamava para as festas e você era virgem até depois do ensino médio.

Minseok observou quando as bochechas do pai ômega coraram. Mordeu o lábio para impedir o riso do mesmo jeito que Kyungsoo estava fazendo ao passo que Leeteuk balançava a cabeça, em total negação sobre aquilo.

Eles sempre brigavam, não havia o que fazer sobre isso. Brigavam porque eram dois ômegas ciumentos e não sabiam dividir, o alfa-líder pensou. Mas não podia culpa-los. Todos os ômegas eram ciumentos assim como alfas tendiam a serem possessivos, era algo da natureza de ambos. Mas havia dias que era realmente insuportável escuta-los discutindo, mesmo que na maior parte do tempo o alfa achasse engraçado.

— Eu não era virgem coisa nenhuma. — o Kim tentou se defender, o rosto muito vermelho.

— Ele era virgem. — Heechul comentou baixo, fazendo todos rirem.

— Eu vou te mostrar quem era o virgem. — Ryeowook se irritou e largou Minseok, afim de avançar em cima do ômega moreno, mas o loiro segurou-o pela cintura.

— Quietinho. — o filho disse divertido enquanto Heechul mandava um sorriso cínico para o outro ômega. — Vamos lá, pai. Nada de briga hoje.

— Wookie. — Leeteuk disse. — Minseok está indo para França, temos que comemorar. Nada de brigas.

Minseok soltou o pai ômega e encarou o pai alfa, meio surpreso demais com o que ele tinha dito. Havia achado que o alfa ia ser o mais difícil de convencer sobre a sua ida para França, se fosse aprovado. No entanto, ali estava ele dizendo que todos tinham de comemorar.

— Estou? — soltou em direção ao pai e o alfa sorriu, mostrando as covinhas que Minseok adorava enfiar a ponta do dedo quando era criancinha.

— Está. — falou e comeu um pouco do seu hambúrguer.

— Mas você precisa passar antes. — Junmyeon disse.

— Eles seriam loucos se não aceitarem o nosso Min. — Kyungsoo disse.

— Seriam mesmo. — Heechul concordou.

E Minseok achou que podia explodir ali de tanta felicidade, porque era realmente maravilhoso receber todo esse apoio.

O jantar transcorreu bem, mesmo com as alfinetadas entre os pais ômegas. Mas eles riram mais do que brigaram e todos começaram a planejar como seria a vida de Minseok na França. Parecia como um sonho, o ômega sabia. No entanto, as coisas não podiam ser tão bonitas assim naquela noite, pois o loiro ainda tinha uma última coisa para fazer antes de ir embora.

Jongdae apareceu na hora marcada, jogando pedrinhas na sua janela e fazendo um frio surgir na sua barriga. Ele estava bem bonito com aquela camisa branca de botões e o cheiro cítrico que ele exalava ainda deixava o seu coração fora de ritmo. No entanto, Minseok sabia que aquilo não era suficiente para mantê-los juntos, em parte porque mesmo que ainda gostasse muito daquele alfa, tinha perdido a confiança nele e sem confiança, não havia como eles chegarem longe.

— Oi. — Minseok disse quando saiu pela janela e parou em frente ao alfa.

— Oi. — respondeu sorrindo daquele jeito que o loiro gostava tanto.

Inclinou-se levemente na sua direção e deixou um beijo nos seus lábios, apenas para segurar na sua mão e começar a puxa-lo para longe dali.

— Vamos dar uma volta. — disse antes que o outro perguntasse.

O ômega seguiu-o em silêncio. Estava uma noite sem lua, tudo muito escuro e silencioso e frio, como se ela estivesse prevendo que algo terminaria. Talvez a Grande Mãe Lua não tivesse aparecido justamente porque sabia que o coração de alguém ia ser partido.

Sua visão noturna de lobo o auxiliava a enxergar as pedras no seu caminho, já que mantia a cabeça baixa e quando chegaram no pé da velha árvore, onde a casinha de Minseok estava situada. O ômega ainda não era capaz de olhar para cima. Estava se perguntando como faria para voltar ali algum dia, quando estaria deixando tantas lembranças ruins ali. Talvez nunca voltasse...

Jongdae soltou a sua mão e antes que o ômega pensasse que ele fosse subir pela velha escadinha, o alfa sentou-se no pé da árvore, chamou Minseok e ele foi. Quando deu por si estava sobre o colo do namorado, aceitando os seus beijos e com a mente muito longe dali. Sentiu as mãos do alfa entrarem por baixo da sua camisa e tocarem-lhe as costas, retesiou-se e retirou as mãos dele dali. Não queria aquilo, não de novo.

— Não precisa ficar com vergonha. — ele disse sorrindo contra os seus lábios, voltando a colocar as mãos dentro da camisa do loiro novamente.

— Para com isso. — Minseok mandou, descolando a sua boca da dele e afastando as mãos dele de si, novamente.

Jongdae bufou ao passo que segurava o rosto do loiro e o beijava, duramente.

— O que há, Minseok? — perguntou contra os seus lábios. — Você anda me negando há semanas.

— Estou sem vontade. — falou e afastou a sua boca da dele, mais uma vez. Fez menção de se levantar, mas teve o seu quadril segurado pelo alfa.

— Fique aqui. — mandou, com uma voz sussurrada e o lobo de Minseok se agitou em alerta. — Vamos ficar quietinhos aqui, então. — a voz se tornou suave, tinha percebido o olhar assustado nos olhos do Kim mais novo.

O alfa passou os braços em volta do corpo pequeno do loiro e o trouxe para perto, com a mão na sua nuca, o fez deitar a cabeça sobre o seu ombro. Ele não disse coisa alguma e nem o loiro se dignou a dizer algo, mas Jongdae sabia que havia algo de errado e isso estava afetando seu relacionamento com o Kim, o fazendo se afastar. Será que havia conhecido alguém? Não, não. Minseok era totalmente apaixonado por si e Jongdae tinha feito questão de alimentar isso durante um ano inteiro. Um maldito ano inteiro junto de Minseok, aceitando o seu jeito certinho demais e o enchendo de motivos para ser cada vez mais amado. Esse trabalho duro não poderia ser jogado fora assim... precisava trazer Minseok para perto novamente, porque precisava dele.

— Quero terminar com você. — o ômega disse, antes que a coragem se esvaísse dos seus nervos, afinal tinha ensaiado tanto aquelas palavras que não dizê-las parecia um crime contra si mesmo.

Sentiu o corpo do namorado se enrijecer e não mais se mexer, duvidou que ele estivesse respirando, mas era capaz de sentir o peito dele se retraindo e se expandido contra o seu, indicando que o alfa ainda respirava. No entanto, as palavras de desespero que Minseok esperou dele, não vieram. O que veio foi uma frieza que não pertencia à aquele garoto de dezoito anos.

— O que disse? — as palavras saíram com cuidado da sua boca, como se estivesse controlando-se para não gritar, o que era o que estava fazendo

— Quero terminar com você. — o loiro teve coragem de dizer novamente e dessa vez parecia mais firme, o seu lobo se agitava dentro de si lhe dando força para continuar com aquilo.

Afastou-se do ombro do alfa e fitou-lhe o rosto. Naquela noite, mesmo sem a lua conseguia enxergar as formas dos olhos de Jongdae. Muito puxados e muito escuros, mostrando que o seu lobo não estava ali. Ele era puramente humano.

— Por que? — inquiriu, usando o único direito que ainda tinha, as mãos tinham escorregado até a cintura do ômega e o mantiam ali, sobre si, impedindo que fosse embora e levasse a sua resposta embora.

— Nós não estamos dando certo, Jongdae. — tentou explicar.

— Como não? — e dessa vez o desespero se fez presente, intensificou o aperto na cintura de Minseok, fazendo-o se mexer desconfortável. — Fizemos amor um dia desses.

— Que amor? — soltou, a indignação aparecendo na sua voz. — Aquilo doeu, Jongdae. Eu não estava pronto e você sabia.  — acusou e viu o olhar do alfa vacilar.

Sentiu as mãos dele saírem da sua cintura e por isso, se afastou. Levantou-se, levando as mãos até o cabelo loiro e puxando os fios da nuca, soltou o ar que não sabia que estava segurando. Sentia como se fosse capaz de respirar agora, depois que colocou aquelas palavras para fora. Tinha as segurado por tanto tempo...

— Está terminando comigo por causa de uma transa ruim? — ficou de pé também, meio irritado demais. — Podemos fazer de novo, se esse é o problema.

— Esse não é o problema. O problema é que você não está me escutando. — tentou. — Eu disse a você que não queria. — não pôde impedir sua voz de tremer.

— Pelo amor de Deus, Minseok. Você só estava nervoso. Se eu não insistisse, nunca teríamos feito aquilo.

— Teríamos, sim.  — rebateu. — Você só tinha que me esperar mais um pouco.

— Quanto tempo? Dois, três ou cinco anos? Não dá pra esperar tanto assim! — se exaltou de vez.

— Se você me amasse do jeito que sempre diz, o tempo não seria importante. — percebeu que os seus olhos estavam úmidos, mas não queria chorar e por isso retirou os óculos e limpou os olhos, depois colocou os óculos novamente.

O Kim mais velho virou-se de frente para o tronco da árvore e se apoiou ali, usando a mão espalmada sobre a superfície áspera. Puxou o ar devagar, não podia se descontrolar mesmo que estivesse sentindo tanta raiva, mais tanta raiva que fosse capaz de fazer uma besteira. Fechou os olhos e acalmou o seu lobo dentro de si. Quando os abriu novamente, o cheiro de mirtilo de Minseok já estava longe confirmando que agora eles não tinham mais nada e Jongdae tinha deixado a sua chance escapar por entre as suas mãos.

Não foi atrás do ômega, porque sabia que estava errado naquela história. Sabia que o tinha forçado a transar naquele dia, mas também sabia que não tinha tanto tempo assim. Precisava do status que Minseok tinha, como um dos herdeiros do Clã Kim, precisava daqueles privilégios para chegar onde queria e fazer o que queria. No entanto, sua ambição por vingança tinha estragado tudo e agora a sua passagem para a realeza tinha acabado de lhe dar um fora.

E isso era muito, muito ruim.


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