Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 49
XVIII - O pecador (parte II)




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787674/chapter/49

 

Baekhyun respirou fundo antes de bater à porta da casa onde seus pais estavam hospedados e depois, abri-la. Não havia ninguém na sala, notou. Pensou em chamar por seus nomes, mas não sabia o quanto de barulho podia fazer. Não queria acordar Ji Eun ou algo do tipo, pois bem sabia que seu pai ômega ainda estava sob restrições médicas. Precisava de repouso, era tudo o que sabia quando Junmyeon não soubera informar o estado do seu pai. No entanto, ele estava bem, vivo e com uma filha nos braços.

Avançou pelo corredor. Era provável que seus pais estivessem no quarto. Pais. Se sentia um tanto perturbado por pensar neles assim, principalmente depois de tudo o que Hyukjae lhe mostrara. Parecia com uma piada de mau gosto, sem graça nenhuma e um tanto dolorosa, mas não conseguia se impedir de pensar neles assim por mais traído que estivesse se sentindo.

Escutou barulhos vindo atrás de uma porta e parou, ficou em frente a porta, decidindo se era mesmo uma boa ideia bater. Talvez, fosse melhor só ir embora. Fazer uma ligação rápida quando estivesse em sua Alcateia, dizer que estava tudo bem, perguntar como eles estavam e falar sobre o quanto Ji Eun era linda e fofa e tão pequena. Suspirou com esse pensamento. Estava se comportando como um idiota, só porque estava com medo de confrontar os pais e perceber que tudo que seu tio dirá, era verdade. A mais dolorosa verdade.

Contudo, antes que pudesse decidir o que fazer, a porta se abriu, revelando um Siwon meio sorridente com uma fralda de pano sobre o ombro. Baekhyun deu um passo para trás, assustado pela forma como seu pai surgiu assim, quase como se tivesse adivinhado que estava ali, planejando fugir deles mais um pouco.

— Baek! — seu pai alfa parecia surpreso a medida que o sorriso se desfazia e os olhos se arregalaram.

Baekhyun desviou os olhos para longe, um tanto envergonhado.

— Baekhyun! — reconheceu a voz do ômega Lee e tornou a levantar o rosto, um pouco cheio de saudade demais do omma.

Siwon afastou-se da porta, convidando o filho para entrar e Baekhyun entrou, os passos leves quando passou pelo do pai alfa. Observou pelo canto de olho quando o mais velho saiu do quarto e então, estava voltando os olhos para Donghae, enquanto percebia que a porta continuava aberta, quase um convite implícito para que saísse correndo dali.

Como um filhotinho assustado.

Mas não saiu, se limitou a ir em direção a cama, onde o Lee estava sentado com Ji Eun nos braços, a amamentando. Baekhyun sentiu as mãos ficarem suadas ao mesmo tempo que relaxava os ombros diante do sorriso caloroso do ômega, seu corpo não conseguia se decidir entre ficar relaxado ou nervoso, então ficou entre os dois. Sentindo os efeitos da indecisão como um maluco. Ergueu a mão em direção ao cabelo e puxou os fios escuros da nuca, em puro nervosismo, ao mesmo tempo que Donghae o convidava para sentar do seu lado, batendo de leve no colchão.

Baekhyun sentou-se ali, não sabia como negar nada ao pai, ainda mais quando estava sorrindo para si daquela forma, com Ji Eun nos braços. O alfa quase se viu querendo roubar o lugar da irmã caçula, desejava um pouco de colo também, queria ser mimado naquele momento em que se sentia tão confuso. Haviam jogado informação demais em cima de si e agora... agora sentia como se estivesse desmoronando devagar.

— Seu pai me disse que você se teve que ficar mais tempo com seu tio para ajuda-lo com os negócios da alcateia. — Donghae falou e o Byun quase se viu confuso com aquela fala, mas raciocinou rápido e assentiu.

Parecia ser o tipo de coisa que Siwon faria e Baekhyun não o culpava, mesmo que tivesse sentindo um pouco de irritação quando parava para pensar na forma como o alfa mentia tão naturalmente. Estava ressentindo, notou. Contudo, sabia também que se fosse ele no lugar do pai, também teria mentido para Donghae, ainda mais depois de todas as coisas que haviam acontecido. 

— Ele estava tendo problemas com números. — complementou a mentira, apenas para se sentir um pouco mais miserável.

— Ah, sim. — ele sorriu mais um pouco e a mão subiu para seus cabelos, Baekhyun tomou a cabeça em direção ao toque. Se sentia carente de atenção do seu omma. — Chanyeol me contou que você e Minseok estão se dando bem. — mudou de assunto e o alfa se pegou sorrindo da sutileza que o pai não tinha.

Era a cara de Chanyeol fofocar isso para o Lee.

— Ele é um bom amigo. — respondeu, mesmo que sentisse que amigo não fosse a palavra certa para descrever o marido.

Amante, soava melhor?, se questionou, mas logo tentou abandonar isso mesmo que soubesse que Donghae estava preparando mais perguntas sobre o ômega.

— Eu ainda não o vi hoje. — havia um muxoxo nos seus lábios quando Baekhyun o fitou. — Soube que ele passou mal durante o almoço. — contou e o alfa franzio a testa.

Ninguém havia lhe contado isso. Soubera apenas sobre o prisioneiro chamado Kim Jongdae, um alfa que já vira algumas vezes, mas nunca tivera muita intimidade. Lembrava-se dele, principalmente, no dia em que brigara com Minseok. Fora para ele que o marido tinha correrá no dia que os Lu’s foram atacados.

— Deve ter sido apenas um mal-estar. — tentou tranquilizar o pai, mas o ômega estava lhe sorrindo daquela maneira, que quase o fez revirar os olhos.

— Vocês está se cuidando, certo?  — perguntou de uma vez, sondando o local de uma forma menos curiosa possível. — Eu sei que passam o cio juntos, Baek. — falou quando o filho se afastou do seu toque.

— Estamos bem, omma. — ele assegurou.

Mas aquilo não era o que queria escutar, não se parecia nenhum pouco com a resposta que alguém que estava se protegendo contra filhotes, diria. E com isso, não conseguiu evitar o sorriso enorme no seu rosto. Havia uma possibilidade de Kim Minseok estar esperando um bebê, o que explicava o seu mal-estar repentino. Pensar nisso o deixou extremamente feliz, afinal seria seu segundo neto quando já sabia que o bebê que Kyungsoo carregava tinha sangue Byun também. Teria ficado de pé e dado saltinhos de felicidade se não tivesse sobre restrição médica.

Precisava permanecer de repouso, disse a si mesmo. Contudo, ainda podia dar uns poucos passeios por aqui e ali, nada muito longe. Era por isso que podia ir nos almoços e jantares na casa de Ryeowook, a casa ficava ao lado da de Heechul, — onde estava hospedado — dentro da distância permitida que podia andar.

Voltou a erguer a mão e colocou nos cabelos do filho, deslizou por entre os fios escuros e alcançou o couro cabeludo. Baekhyun voltou a relaxar, era fácil assim acalmar os nervos do filho e o tirar do modo de defesa. Desviou os olhos para a porta e viu Siwon entrando, trazia uma bandeja com um lanche simples para si. Sorriu para o marido ao mesmo tempo que o coração se aquecia da forma que sempre acontecia quando colocava os olhos em Siwon, sentiu a marca formigar na pele, não doía nem nada. Era só o formigamento familiar que vinha a cada vez que Siwon dizia que o amava internamente.

— Estão com fome?  — o alfa perguntou e Baekhyun ergueu o rosto, fitou o alfa, mas sem se afastar do ômega, assentiu.

O Byun mais velho colocou a bandeja sobre o criado mudo, perto o suficiente dos dois e então estava estendendo os braços para Ji Eun, que dormirá durante a amamentação. Donghae deixou depois de receber um beijinho simples nos lábios ao mesmo tempo que Baekhyun se afastava do carinho dele para pegar um dos sanduiches na bandeja. Estava mesmo com fome.

Não havia almoçado tão bem assim, quando Kangin estava ligando a cada cinco minutos para perguntar pormenores sobre a tática de segurança temporária que eles haviam montado. Aliás, já deveria estar de volta à sua Alcateia, mas realmente não queria sair dali sem falar com os pais ou passar um tempo com Minseok, pois sabia bem que nenhum deles viria consigo. Seu pai estava cumprindo sua pena e Minseok tinha que gastar todos os dias de saudade com a família.

Comeu o sanduiche em silêncio enquanto via Siwon andando pra lá e pra cá com Ji Eun, tentando fazê-la arrotar. Donghae havia voltado a se ajeitar na cama, as costas contra a cabeceira e um sanduiche nas mãos. Eles se fitaram e o pai sorriu para si, mas Baekhyun se viu desviando os olhos. Queria tanto falar sobre aquela pessoa, que não sabia como agir, não queria parecer ingrato ou qualquer coisa do tipo. Conhecia seus pais e principalmente, conhecia Donghae. Confiava no que seus instintos diziam sobre como ele nunca o machucaria daquela forma se não o estivesse tentando protegê-lo.

— Aconteceu algo? — o Lee perguntou, estendeu a mão na sua direção e tentou segurar as suas, mas o filho as desviou, o que só serviu para que o ômega tivesse certeza que havia algo errado.

Baekhyun terminou de comer em silêncio, não respondeu a pergunta do pai. Donghae lançou um olhar para Siwon, que devolveu a mesma confusão que sentia. Mas então, Ji Eun estava arrotando e o alfa estava a levando para o berço improvisado ali. Era um berço antigo, provavelmente de Junmeyon, Siwon achava quando haviam as iniciais KJ gravadas na madeira. Deixou a filha dormindo ali dentro e se aproximou do filho, sentado na cama. Parou ao seu lado, os braços se cruzando ao mesmo tempo que Baekhyun o fitava de baixo. Parecia pequeno demais, Siwon notou, os olhos estavam muito castanhos e muito grandes. Não era nada além de um filhote ali, na sua frente.

— O que aconteceu? — perguntou e Donghae o fitou, repreendendo o tom sério demais que usara, mas Siwon não conseguia controlar essas coisas.

Nunca foi muito suave. Isso era papel de Donghae, que adocicava cada parte da sua vida e de outras pessoas, mas admitia que estava tentando controlar a forma como tratava os filhos. Com Chanyeol era mais fácil, quando ele sempre fora muito aberto, fácil de falar e conversar. Mas com Baekhyun... era diferente. O filho mais velho era muito fechado, muito discreto nos seus sentimentos, um pouco sério demais. Era preciso fazer um caminho delicado até seu coração. Ser paciente e suave, duas coisas que Siwon não sabia ser.

— Por que nunca me disse que minha mãe está viva? — Baekhyun perguntou, baixo, a voz tremendo em incerteza.

Donghae arregalou os olhos, largou o sanduiche sobre a cama em surpresa, mas depois o recolheu e deixou na bandeja. Fitou o marido, em busca de alguma coisa, queria saber quem poderia ter contado aquilo para seu filhote. Alguém que não era eles.

— Baek... — o alfa começou e Baekhyun abaixou a cabeça.

— Não mintam pra mim. — pediu. — Hyukjae me mostrou as fotos. — balançou a cabeça como se não pudesse acreditar nas imagens que tinha em mente.  — Vocês estavam com ela em um restaurante. — mordeu o lábio, não tinha coragem de fitar nenhum dos dois. — E eu só... só me pergunto por quanto tempo fizeram isso.

Os ombros encolheram, como se fosse ele a ser atacado. Não viu quando o pai alfa descruzou os braços, a forma como os olhos de Donghae se tornaram muito brilhantes e ele ergueu a mão para tocar em Baekhyun.

— Não, por favor, não... não toque em mim. — o filho disse, afastando-se do toque, ficando de pé, querendo ir para longe dos dois.

Donghae abaixou a mão, derrotado. Seu peito apertou e ele sentiu que iria cair em lágrimas ali mesmo, na frente do seu marido e do seu filho, porque Baekhyun era seu filho. Não importava se dissessem o contrário. Ele havia criado o alfa, foi o primeiro a segura-lo nos braços e depois, cuidara de si com todas as suas forças. Tinha o educado, levado-o para passear, brincado consigo, o alimentado, trocado suas fraldas, ficou acordado nas madrugadas quando ele ficou doente, colocou moedas embaixo do seu travesseiro para cada vez que perdia um dente de leite. Amava Baekhyun como se o tivesse gerado, no seu ventre, como se tivesse o seu sangue. Sim, Baekhyun era seu. E ser rejeitado daquela forma, só fazia sua alma se despedaçar.

— Não é da forma que está pensando. — Siwon se pronunciou, a voz saindo um pouco firme demais, mas mesmo assim menos séria. — Eu não sabia de Jihyun até o dia daquela foto. — contou e Baekhyun o fitou, terrivelmente triste.

— Mas eu sabia. — Donghae contou, a cabeça baixa. — Sempre soube que ela estava viva. — suspirou, um pouco envergonhado de toda a sua burrice em ter acreditado naquela mulher. — Eu... eu a ajudei a forjar sua morte.

Baekhyun estava parado, em pé, em frente a cama do pai. A camisa branca de botões estava amassada, sentia o colarinho molhado de suor contra sua pele e bem sabia que seu cabelo escuro não estava uniforme. Baekhyun se sentia como um maluco, alguém à beira de um colapso, diante das palavras do ômega. Fitou-o de volta, sem acreditar, piscou os olhos e virou-se de costas para si, no intuito de tentar respirar um pouco. Escutou Siwon se aproximar de si e deu um passo para longe.

Me deem espaço, pareceu pedir. Siwon parou, encarou o marido, totalmente impotente. Nenhum deles sabia como consolar Baekhyun, ainda mais quando ele parecia tão arredio, tão ao ponto de sair correndo como um animal assustado.

— Por que? — o Byun mais novo virou-se para fitar o ômega na cama, a pergunta escapou como uma acusação.

Donghae se encolheu e Siwon se aproximou de si, tocou-lhe o ombro querendo lhe passar algum conforto. Não era bom para sua saúde se exaltar daquela forma.

— Sua mãe o chantageou durante esses anos inteiros. — o alfa mais velho respondeu pelo Lee. — Ela viveu as minhas custas, bem debaixo do meu nariz, como uma criminosa. — o ressentimento na voz do alfa chamou a atenção de Baekhyun.

Compartilhava daquele sentimento, mas não queria ser enganado novamente.

— Nunca pensaram em me contar? — questionou baixinho, temia a resposta.

— Achamos que era melhor se pensasse que ela estava morta. — Donghae respondeu meio choroso, a voz aguda. — Só... só queríamos te proteger.

— Baek, eu sei como isso parece.  — Siwon tentou se aproximar novamente e só fez o alfa se afastar mais. — Mas tente ver por nosso lado. — respirou fundo. — Aquela mulher...

— É minha mãe. — o Byun o interrompeu. — Ela ainda é a porcaria da minha mãe e vocês deveriam ter me contado em vez de me fazer acreditar numa mentira por mais de vinte anos! — num ato de pura frustração, chutou o pé da cama, assustando Donghae que se encolheu mais e acordando Ji Eun que começou a chorar.

— É melhor se controlar. — Siwon mandou usando a voz de alfa e Baekhyun respirou fundo, porque mesmo naquela situação, não conseguia não obedecer seu pai. — E não grite conosco. — o mais velho se aproximou do berço da filha e a pegou no colo, começou a nina-la, os olhos sérios quando fitaram o outro.

Eles ficaram em silêncio no espaço de tempo em que Siwon fazia Ji Eun dormir novamente e a colocava no berço. Baekhyun voltou a puxar os fios da nuca, nervoso, respirou fundo algumas vezes ao passo que Donghae chorava baixinho, na cama. Enxugando os olhos a cada pedaço de tempo.

— Eu sinto muito. — o ômega se desculpou. — E-eu só não queria machuca-lo, Baek. — soluçou. — Jihyun nunca foi uma boa pessoa... ela... ela nunca quis nenhum contato com você.

Baekhyun mordeu a parte interna da bochecha. Claro, já imaginava que algo como aquilo podia surgir, na verdade tinha escondido aquilo de si mesmo apenas porque era mais fácil culpar os pais da ausência da mãe na sua vida do que admitir para si mesmo que ela nunca o quisera, que ele não passava de um erro, uma coisa que só foi interessante enquanto estava na sua barriga e depois foi descartada, como se fosse nada. Mas era por isso que ela foi embora, não? Nunca quisera um filho ou um marido ou o cargo alto numa alcateia.

Seria um bobo se tivesse se enganado com isso. Mesmo quando achava que Jihyun estava morta, sabia que ela nunca o quisera. As histórias do seu desamor estavam espalhadas pela alcateia inteira, passara a infância a escutando da boca de lobos mais velhos e até mesmo da boca da própria família, os seus parentes Park’s. No entanto, seu pai alfa estava sempre lhe dizendo como não deveria dar ouvidos à isso, que Jihyun era uma boa ômega, que ela o amou. E mesmo Donghae também repetia esse discurso, usava adjetivos bonitos para descrever sua progenitora, contava histórias sobre ela, fazia questão de sempre, sempre, sempre alimentar suas esperanças, seus sonhos idiotas, de que aquela mulher havia o desejado da mesma forma que desejou o primeiro filho.

O Byun mais novo comprimiu os lábios, piscou os olhos tentando afastar um pouco da dor da rejeição. Se viu assentindo, como que dizendo “tudo bem, tudo bem” e ele percebeu que estava repetindo isso baixinho, para si mesmo, como um mantra bobo. Não havia nada bem, nunca esteve.

— Estou voltando para casa. — falou por fim, ao perceber que nenhum deles diria alguma coisa.

Mas o que eles poderiam dizer? Não havia mais nada a acrescentar. Tudo já havia sido dito. Park Jihyun não passava de uma fugitiva, chantagista e mais algumas coisas que Baekhyun nem conseguia nomear ainda.

Começou a dar as costas pra eles, os passos vagarosos. Não achava que eles o chamariam, mas escutou Donghae o fazer mesmo assim e mesmo que seus passos tenham vacilado, não virou-se para fita-los. Só queria um pouco de espaço, precisava ficar sozinho com seus pensamentos. Saiu do quarto e depois da casa, trombou com Chanyeol do lado de fora, mas ignorou qualquer que fosse a coisa que o irmão lhe diria. Baekhyun só continuou andando, para qualquer lugar longe daquela casa, daquelas pessoas. Avançou pela alcateia Kim, não estava realmente verificando o caminho que fazia e por isso tropeçou, caiu de joelhos no chão.

Espalmou as mãos no chão de terra batida para tentar tornar impacto menos bruto, mas mesmo assim sentiu seu joelho arder por baixo da calça de linho. Ele fechou os olhos, respirou fundo, sentiu o cheiro de terra e sereno, o chão parecia úmido contra sua palma e não havia mais sol. Devia ser umas sete da noite, acreditou quando levantou o rosto e observou o céu. Sem estrelas, tudo muito escuro e vazio, do mesmo jeito que se sentia. Ficou de pé sozinho, não limpou a terra do tecido da calça, olhou em volta e pegou olhares irritados de lobos Kim’s para cima de si.

Queimavam em desaprovação contra sua pele, nenhum deles ia com a sua cara, todos acreditavam na invenção bizarra de que havia dado um golpe no seu precioso líder Kim para fazê-los perder a aliança com os Choi’s e casar com Minseok. E o comportamento de Junmyeon em relação a si também não ajudava para que os seus lobos mudassem de pensamento, mas, felizmente, Minseok o conhecia bem o suficiente para saber que ele não era o vilão da história. Contudo, notara a forma como até mesmo Minseok não era mais tão aceito por sua própria alcateia. Acreditava que se o ômega não fizesse parte da família principal, já teria sido lixado dali, exilado. Porque era isso o que se fazia com os lobos problemáticos: condenava-os ao exilio. Os Oh’s eram a prova concreta disso, quando sua alcateia fora formada por lobos exilados.

Suspirou e retomou o passo. Andou por bastante tempo, até sentir os pés doerem e ficar cansado, a camisa colando-se nas escápulas devido ao suor. Sentia-se sujo, sabia que precisava de um banho, uma cama fofa e uma bebida quente. De repente, se pegou desejando o seu quarto na Alcateia Byun, o chocolate-quente com pedaços de marshmallow que só Donghae sabia fazer. Bagunçou o cabelo mais um pouco, queria afastar as imagens do seu pai ômega da mente, pois pensar nele só o fazia se sentir mais miserável por ter saído daquele jeito, abandonado-o daquela forma como se ele nunca tivesse sido importante.

Encostou-se na primeira parede que encontrou, respirou fundo mais um pouco. Estava tão cansado. Escutou alguém enxota-lo dali, como se fosse um cão sarnento e rosnou em direção a pessoa. Os lobos Kim’s eram detestáveis, pensou enquanto desencostava e fazia o caminho de volta. Pretendia ir até a casa de Ryeowook, iria procurar companhia na presença de Minseok. Alguma coisa em si tinha certeza de que o marido seria a única pessoa do mundo a lhe compreender.

— Baekhyun. — alguém tocou no seu ombro e por isso, virou-se para descobrir a identidade da pessoa. Era o pai de Minseok, seu sogro. — Está sozinho?

O Byun notou que ele trazia uma sacola na mão. Reconheceu o formato das latinhas, eram cervejas. Contudo, assentiu para o mais velho depois que a sua mão saiu de perto de si e o corpo parou do seu lado, acompanhando os seus passos. Eles ficaram em silêncio, em parte porque Baekhyun nunca tivera muita intimidade com Kim Jungsoo e em parte porque não queria conversar mesmo.

Caminharam sob a luz dos postes, o som dos passos de Leeteuk irritava sua audição assim como o seu cheiro, mesmo que o cardamomo estivesse suave por conta do vento, que surgia vez ou outra para afastar o cheiro de ambos. Baekhyun quis desviar o caminho, seguir por outro, mas não conhecia bem aquela alcateia assim como sabia que o alfa estava indo para o mesmo lugar que si. Então, era melhor segui-lo, mesmo com o desconforto crescente em seu peito.

— Sinto muito por sua alcateia. — Leeteuk disse, pegando Baekhyun de surpresa.

Arregalou uma sobrancelha na sua direção, mas no fim, assentiu. Sem forças e muito menos vontade para descobrir se o alfa estava sendo sincero ou não. Então, estavam caindo no silêncio mais uma vez. Um vento frio foi de encontro ao seu rosto e deixou suas bochechas geladas, Baekhyun apreciou isso.

— Sinto muito pelo casamento também. — o Kim tornou a falar, chamando a atenção do mais novo para si novamente.

Baekhyun o fitou, esperando que continuasse a fala. Queria saber onde o mais velho queria chegar com aquela conversa.

— Eu sei quer Minseok pode ter um temperamento difícil, mas vocês só precisam aguentar um ao outro mais alguns meses, certo? — seus olhos pareciam esperançosos com alguma coisa e Baekhyun franzio a testa, um tanto confuso com aquela conversa. — Logo, ele estará aqui e tudo vai voltar ao normal.

Entendia um pouco da preocupação do pai de Minseok com o casamento, afinal nenhum dos dois tinha aceitado aquilo de bom grado. Leeteuk estava ali como a principal prova de que ele e o ômega não queriam aquele casamento, principalmente quando o Kim estava noivo de Oh Sehun e quando ele próprio estava noivo de Park Dasom. No entanto, uma decisão tomada no calor do momento os tinha feito trocar alianças e promessas de amor eterno, sentimento esse que nem sequer sentiam. E admitia que nos primeiros meses tudo foi um tanto sufocante, irritável demais e cansativo, mas eles estavam caminhando bem agora. As conversas fluíam melhor, a frustração não estava sempre presente e o cheiro do ômega até mesmo não lhe desagradava mais. Contudo, aquilo duraria até mais alguns meses, percebeu. Logo estariam completando um ano de casamento e depois, dois.

Era só uma questão de tempo até que tivesse que deixar Minseok voltar para casa. E Leeteuk parecia feliz com isso, como se ter o filho longe dos sanguinários Byun’s fosse o que sempre quis. Baekhyun quis rir desse pensamento, quando fora o próprio que entregara o filho de bandeja para seus inimigos. Contudo, o que realmente incomodou Baekhyun naquele comentário foi a forma como o sogro usou a palavra normal. Tudo ficaria normal depois que eles se separassem. De que jeito? Minseok voltaria correndo para os braços de Oh Sehun da mesma forma como ele seria obrigado a fazer com Dasom? E mesmo se isso acontecesse, a relação que eles haviam construído ficaria no passado? Nunca mais se falariam ou olhariam na cara um do outro?

Nada de cartas? Mensagens de texto? E o cheiro doce de Minseok gravado na sua pele? Parecia coisas demais para esquecer, principalmente quando se dava conta da forma como o Kim fazia parte da sua rotina, o jeito como já tinha se apegado. Pensar nisso o assustou.

— Vai poder se casar com alguém da sua preferência e talvez... — Jungsoo continuou para total irritação do Byun.

Ele se case com Oh Sehun? — não conseguiu impedir que a voz saísse cheia de irritação.

Jungsoo o fitou, sem entender de onde vinha tanta raiva. Mas fingiu não notar, afinal Baekhyun poderia ter apenas tido um dia ruim.

— Bom, sim. É uma possibilidade, se Sehun quiser, é claro. — falou.

— Mas e Minseok? — fitou o sogro pelo canto de olho. — E quanto ao que ele quer?

Ah, — estalou a língua no céu da boca, meio rindo, como se fosse uma piada o fato do filho ter escolhas. — Minseok é um ômega, não importa o que ele quer. — respondeu simplesmente e Baekhyun virou o rosto de vez para fita-lo, sem acreditar no que escutava. — Se for viável para a alcateia, com certeza ele se casará. — não parou mesmo diante da forma como o olhar do Byun torna-se cheio de incredulidade com o que escutava.

Entendia bem que o casamento na sua sociedade não era relacionado com sentimentos, mas também conseguia entender muito bem a forma como Jungsoo parecia querer vender Minseok a qualquer lobo que oferecesse um bom contrato, sem se importar nenhum pouco com o que o ômega queria. Como se cada detalhe de si não representasse nada. E de repente, estava se perguntando se o Kim casaria com Sehun por obrigação ou por uma escolha sua? No entanto, esse questionamento foi afastado na medida que imaginava Minseok recusando esse destino, era o tipo de coisa que ele faria assim como parecia ser do feitio de Leeteuk se tornar mais agressivo, pois lembrava-se muito bem dos hematomas no rosto de Kyungsoo e o lábio partido de Minseok.

Contudo, sabia que não deveria se preocupar com a possibilidade de Minseok ser obrigado a qualquer coisa, porque Junmyeon era o líder assim como parecia disposto a proteger os irmãos de qualquer mau. Dessa forma, logo, era ele quem estava estalando a língua no céu da boca, meio risonho. Leeteuk era apenas o tipo que latia e nunca mordia.

Seu Minseok ia ficar bem.

— Minseok sabe tomar as próprias decisões. — falou apressando o passo quando reconheceu a fachada amarela da casa de Ryeowook, queria se livrar logo da presença de Kim Jungsoo. — Sugiro que o deixe cuidar da própria vida. — aconselhou e viu, com prazer, a forma como os olhos do alfa arregalaram-se, surpreso pela forma como fora repreendido.

Baekhyun alcançou o portão, não disse mais nada ao mais velho, só abriu o portão e entrou. Passou pelo jardim, alcançou a varanda e então, estava abrindo a porta e entrando. O cheiro de comida recém-pronta acertou-lhe o estômago, fazendo-o roncar alto, alertando do quanto estava com fome. Avistou Lu Han e Yixing no sofá, estavam assistindo um tipo de desenho musical. Mexeu a cabeça em cumprimento na sua direção, ato que o ômega devolveu ao mesmo tempo que Yixing começava a pular no sofá, ao lado do pai.

Escutou vozes vindo da cozinha, risadas. Reconheceu a de Ryeowook e a de Heechul. Quando passou pela porta, viu que Jongin estava com eles. Mexia algo numa panela enquanto os ômegas mais velhos pareciam dar dicas para si. Não havia sinal de Minseok ali, suspirou. E já estava pronto para ir em direção aos quartos quando Heechul o viu, as sobrancelhas se ergueram em surpresa e Baekhyun não o culpava, deveria ter ido embora há algum tempo em vez ter ficado passeando pelo território Kim.

— Baek! — Ryeowook exclamou primeiro, chamando a atenção de Jongin, que virou o rosto para fita-lo. — Não sabia que ainda estava aqui. — ele limpou as mãos no guardanapo e se aproximou. — Vai jantar conosco? — perguntou naturalmente, como se Baekhyun jantasse ali todos os dias.

— Eu estou procurando Minseok, na verdade. — falou e se surpreendeu pela forma como sua voz saiu envergonhada, mas o olhar incisivo de Heechul sobre si o estava deixando desconfortável.

Ryeowook olhou para trás, fitou o amante, pareciam estar tendo algum tipo de conversa através de olhares.

— Achávamos que ele estava com você. — Heechul disse e o Byun, franzio a testa.

— Não o vejo desde quando cheguei aqui. — contou.

Os ômegas voltaram a se olhar, desconfiados.

— Ele deve estar com Junmeyon. — Jongin os tranquilizou.

Todos pareceram relaxar, inclusive Baekhyun. Achavam que o ômega estava ajudando o irmão alfa em alguma coisa na alcateia e pela forma como os pais de Minseok relaxaram, Baekhyun suspeitou que aquilo era normal.

— Fique para o jantar. — Ryeowook pediu. — E você pode passar a noite, se não quiser enfrentar a estrada tarde da noite.

Baekhyun o fitou. Era pequeno como Minseok e Kyungsoo, mas os olhos se pareciam mais com os de Kyungsoo enquanto que o formato das bochechas pertencia a Minseok. Assentiu. Não era uma ideia ruim jantar ali e passar a noite, quem sabe se dormisse ali tivesse mais tempo para conversar com o marido, mesmo que não tivesse a menor ideia de como começar aquele assunto.

— Deveria tomar um banho. — Heechul disse se inclinando sobre a bancada da pia, até assim era intimidante para si. — As roupas de Minseok devem servir em você. — falava calmamente, mas Baekhyun sentia como se estivesse recebendo ordens.

— Tudo bem. — concordou e começou a se afastar depois de fazer uma leve reverência.

Voltou a escutar as risadas quando estava no corredor, pareciam ter voltado a conversa normal. E incrivelmente, aquilo o confortava. A família de Minseok era numerosa e barulhenta, diferente da calmaria que sempre acompanhava a sua além deles não serem muitos também. Parou em frente a porta do quarto do marido. Estava aberta e por isso avistou Kyungsoo, em pé, olhando pela janela. Bateu na porta, para chamar sua atenção, não queria assusta-lo e quando o ômega o reconheceu, sorriu.

— Estou procurando um banheiro e roupas limpas. — falou e o Kim mais novo se agitou a sua volta.

O cheiro dele estava engraçado, Baekhyun notou. O floral de sempre ainda se destacava, mas havia aquele toque amadeirado no final, que lembrava bastante o cheiro de Chanyeol.

— O banheiro é ali. — apontou para a porta de cor vermelha no lado oposto ao guarda-roupa. — Hum... eu vou separar algumas roupas de Minseok? — mais perguntou do que afirmou e Baekhyun foi obrigado a assentir.

O alfa foi até o banheiro, trancou a porta quando entrou. Tirou suas roupas silenciosamente e logo, estava se enfiando no box, embaixo do chuveiro. Ficou bastante tempo ali, relaxando embaixo da água, esfregando corpo e limpando a mente. Quando saiu, Kyungsoo não estava mais no quarto e a porta estava fechada. Viu uma muda de roupa sobre uma das camas e foi até lá.

Kyungsoo havia separado para si uma bermuda, uma camisa de mangas e uma cueca. Vestiu tudo um pouco vagarosamente. Descobriu que Minseok era um pouco mais gordo, o que explicava por que a bermuda ficara larga e também, era um pouco menor que si, já que as mangas da camisa haviam ficado acima do pulso, por isso decidiu enrola-las até os cotovelos. E foi só depois de vestido, que decidiu olhar para o quarto. Haviam duas camas. Uma com o lençol de cama amarelo e outra com o lençol de cama roxo. Acreditou que o amarelo deveria pertencer a Minseok, mas quando viu as coisas que haviam sobre o criado mudo, percebeu o seu erro. Por isso, andou até a cama de lençol roxo, tocou com a ponta dos dedos os porta-retratos sobre o criado mudo.

Deixou que sua atenção fosse para o mural perto da janela, que ficava no espaço entre as duas camas. Um pouco acima da cabeceira, havia o que parecia uma extensão do mural. Segurou um dos vários desenhos que haviam lá. Aquilo, com toda certeza, pertencia ao seu marido, simplesmente porque reconheceu o traço dos desenhos. O jeito firme das linhas, a forma um tanto bruta dos desenhos. Reconheceu alguns lobos e pessoas. Percebeu que os desenhos tinham datas no canto das páginas, escritas a lápis. Maioria pertencia a época que era um adolescente, antes de ir para a França.  

Vasculhou bastante tempo ali, até o ponto em que um dos desenhos se soltou do mural e caiu, desceu por trás da cabeceira da cama. Baekhyun bufou e se abaixou para olhar embaixo da cama, tinha que encontrar o desenho e devolvê-lo para seu lugar no mural. Contudo, antes que pudesse esticar a mão até lá, viu que a ponta de um papel saia debaixo do colchão. Desviou a mão para ali e puxou aquilo.

Segurou com delicadeza mais um desenho. Observou aquilo, pensando em como Minseok deveria estar sem espaço no mural e decidirá guardar embaixo do colchão. Analisou os traços daquele. Não era um desenho de corpo inteiro. O desenho se dividia em quadrados, onde em cada um havia um detalhe diferente do corpo de um lobo, os traços eram um tanto delicados quando comparados aos outros e um pouco familiar também.

Franzio a testa quando reconheceu o formato das manchas no pelo daquele lobo e logo depois, estava meio sorrindo. Era ele. Minseok havia o desenhado. O focinho afilado, os olhos grandes e tristes, as manchas escuras no pelo branco, a forma como seus dentes se arreganhavam em direção a alguma coisa que Baekhyun não sabia. O marido havia conseguido pegar os seus melhores detalhes, mostrar um pouco da sua humanidade mesmo quando naquela forma de lobo assustadora.

Desviou os olhos para a data no fim da página e se surpreendeu. Minseok havia desenhado aquilo antes de casarem, antes de sequer saberem que iriam fazê-lo. Aquele Baekhyun do desenho era o Baekhyun do dia do Festival da Colheita. Suspirou e sentou-se na beira da cama do marido, o desenho em mãos. No entanto, logo estava ficando de pé e colocando o desenho no mural, junto dos outros. Queria que Minseok soubesse que estava tudo bem olhá-lo agora. Eles não eram mais desconhecidos um pro outro e não era mais um crime que fossem amigos.

Escutou a porta se abrir. Era Kyungsoo voltando para chama-lo para ir jantar. Ele foi, em silêncio ao lado do cunhado. E também em silêncio sentou-se à mesa e comeu enquanto os Kim’s e os Lu’s ali riam e falavam alto, conversavam sobre coisas bobas. Faziam Baekhyun se sentir confortável. Depois do jantar, ajudou a tirar a mesa e lavou as louças na presença de Leeteuk, já que Heechul o obrigou a fazê-lo assim que o viu entrando na casa. Aparição essa que fez o Byun se questionar onde que o alfa estava aquele tempo inteiro, quando estava o acompanhando até ali. Contudo, eles fizeram aquela tarefa em silêncio. E logo Leeteuk estava se afastando como se o outro não estivesse ali, coisa que Baekhyun agradeceu.

O alfa foi até a sala, sentou-se ao lado de Lu Han e esperou que Minseok aparecesse.

— Soube que a adaptação está indo bem. — comentou com Lu Han.

— Os Kim’s nos receberam bem, adoraram a notícia do casamento de Junmyeon com Jongin. — falou, os olhos estavam no filhote, que brincava com legos no chão.

— Eles estavam precisando de uma boa notícia. — Baekhyun externou o que o ômega estava pensando.

O Lu virou o rosto para fita-lo, parecia estar formando uma pergunta na sua mente. Contudo, o momento foi perdido quando a porta se abriu, revelando a figura cansada de Junmeyon. Mas apenas ele, Baekhyun notou quando ficava de pé, achando que Minseok logo entraria, todavia quando a porta não se abriu, voltou sua atenção ao alfa.

— Onde está Minseok? — perguntou e o alfa, fitou-o de relance.

— Por que eu deveria saber? — Junmyeon devolveu, irritado, fazendo Baekhyun revirar os olhos.

Junie! — Kyungsoo repreendeu ao vir pelo corredor, estava segurando um pote de sorvete, a colher foi apontada acusadoramente para o irmão mais velho. — Seja bonzinho com o Baek. — mandou e Baekhyun quis rir da forma como o Kim não parecia nenhum pouco ameaçador, mas, sim, fofo.

Junmyeon cruzou os braços e virou o rosto para fitar o cunhado.

— Ele estava comigo no escritório, mas saiu primeiro que eu. — descruzou os braços e olhou em volta, como se pudesse encontrar o ômega. — Isso foi antes do sol se pôr, achei que estava aqui.

Baekhyun mordeu o lábio e pegou o olhar preocupado de Lu Han sobre si, mas se manteve calado. Não sabia o que deveria dizer e muito menos como agir, estava visivelmente preocupado com o sumiço do marido, afinal não o tinha visto nenhuma vez desde que chegara na alcateia Kim.

— Minseok sempre foi muito distraído, deve ter parado na casa de algum conhecido e perdeu a noção do tempo. — Ryeowook disse, tentando tranquilizar o genro e os outros ali, apesar de estar preocupado também. — Está com fome? — dirigiu-se ao filho mais velho e Junmyeon assentiu. — Vem. — chamou-o em direção a cozinha e Baekhyun o observou ir embora.

Kyungsoo se aproximou, sentou-se ao lado do alfa e estendeu o sorvete na sua direção. Baekhyun sem saber o que mais poderia fazer, comeu um pouco do sorvete de morango.

— Não faça essa cara. — o Kim disse, havia o começo de um sorriso no canto da sua boca. — Minseok logo estará nos seus braços. — usou o tom de provocação e Baekhyun ficou em silêncio.

— Ele deve estar com Henry. — Lu Han disse no mesmo tom suave que Ryeowook usará.

Baekhyun assentiu para si, porque queria mesmo acreditar nisso em vez de enlouquecer de preocupação por conta dos pensamentos que estava começando a ter. E se Minseok tivesse se machucado? Olhou em volta mais uma vez e percebeu a falta de Oh Sehun, trincou os dentes sem perceber. E se eles estivessem juntos? Então, sua mente estava sendo inundada por pensamentos horríveis de Minseok sorrindo e sendo tocado por Oh Sehun.

Escutou a porta ser aberta e ali estava, Lu Henry e logo depois de si, Oh Sehun estava entrando. Eles pareciam ter estado juntos, porque trocaram um sorriso cúmplice ao mesmo tempo que Baekhyun sentia o peito afundar mais um pouco. Por que Minseok não estava chegando? Voltou a comer um pouco mais de sorvete, meio bufando a cada colherada.

O tempo passou. Henry e Lu Han e o pequeno Yixing foram embora. Sehun ficou, passaria a noite ali por motivos que Baekhyun nem queria pensar. Jongin também ficaria. Provavelmente dividiria o quarto com Junmeyon, o Byun pensou. Ryeowook disse que ele poderia ficar também, se quisesse. Poderia dividir o quarto de hospedes com Oh Sehun, mas Kyungsoo se ofereceu para dividir o quarto com o primo alfa apenas para deixar sua cama vaga para o cunhado. Heechul riu com isso enquanto Baekhyun dizia que não precisava.

Ele podia encontrar outro lugar para dormir, só não sabia onde quando não queria ir para a casa onde os pais estavam e muito menos voltar para a sua alcateia no meio da noite. Talvez, dormisse na floresta, pensou na possibilidade. Ou talvez, pudesse se enfiar na cama de Minseok e dormir junto do ômega, da forma como tinha se acostumado a fazer na uma semana que foram obrigados a ficar na Alcateia Park. Era uma boa ideia, afinal, Minseok tinha um corpo quentinho e o seu cheiro havia se tornado cada vez mais convidativo, de alguma forma, relaxava-o.

Recebeu um olhar torto de Sehun quando Kyungsoo enlaçou o braço do primo e o puxou em direção ao quarto de hóspedes, que o ômega insistia em dividir consigo. Baekhyun fitou os sogros ômegas, que se aproximaram do sofá. Sentaram-se um de cada lado seu ao mesmo tempo que os outros Kim’s se recolhiam e Baekhyun não podia culpa-los por irem dormir, afinal já passava das dez da noite. O corredor ficou silencioso da mesma forma como a casa inteira, anunciando que mais da metade deles já dormia.

Kyungsoo voltou para a sala, sentou o sofá oposto, parecia sem sono algum e um tanto agitado.

— O bebê está mexendo bastante. — contou e Ryeowook se levantou para ir até o filho, passar a mão em sua barriga num carinho delicado para que o bebê se acalmasse e deixasse o ômega descansar.

Baekhyun gostava de Kim Ryeowook. De alguma forma, o Kim lembrava o seu pai ômega, Lee Donghae. Os dois faziam o tipo que gostavam de cuidar de tudo e todos à sua volta, e por isso, podiam esquecer de si mesmos. No entanto, ambos eram extremamente doces, gentis demais e pensar nisso, fez o alfa perceber que já havia visto aqueles traços em Minseok também. Na adolescência era mais evidente, contudo depois que voltara da França, haviam se tornado raros. Baekhyun bem podia conta-los nos dedos.

O dia que Minseok correu na sua direção, no altar da Alcateia Kim, para proteger Kyungsoo. O jeito como atendeu ao chamado de ajuda dos Lu’s, a forma como permaneceu do seu lado quando estavam no território Park.

— Então... — Heechul começou, alongando a palavra para chamar a atenção do alfa. — você e Minseok estão dividindo o mesmo quarto? — perguntou rápido, fazendo Baekhyun se engasgar com o sorvete que comia.

— Heechul! — Ryeowook repreendeu e o ômega teve a decência de encolher os braços. — Esse não é o tipo de pergunta que se faz.

Nhá. Eu só queria saber se eles estão se dando bem. — o Kim se defendeu e no sofá, ao lado de Ryeowook, Kyungsoo riu colocando a mão em frente a boca, parecia feliz com a forma como Baekhyun estava corando com aquele assunto.

O Byun lançou um olhar para os três ômegas, depois que parou de engasgar. Acabou estendendo o pote de sorvete para o Kim mais novo ao passo que Ryeowook começava um cafuné desajeitado na cabeça do mesmo, fazendo Baekhyun perceber que o ômega adorava aquilo. Ser mimado por todos, receber atenção, ser cuidado.

— Nós somos bons amigos. — falou para tentar tranquilizar o sogro e Ryeowook sorriu, parecia realmente feliz. — Minseok é incrível. — continuou sem conseguir disfarçar a forma como sua voz alcançou aquela oitava de admiração.

Awn. — Kyungsoo soltou com a boca cheia de sorvete de morango.

 Baekhyun abaixou o rosto, um tanto envergonhado a forma como expôs seus sentimentos. No entanto, logo estava esquecendo isso quando seus olhos focaram-se no horário marcado no seu relógio de pulso. Havia acabado de dar onze da noite e nada de Minseok aparecer. Levantou o rosto e fitou a porta, desejando que ela abrisse de uma vez e revelasse a imagem do marido.

— Nenhum dos senhores sabe onde ele pode estar? — perguntou de uma vez, mudando completamente o assunto.

Heechul lançou um olhar para Ryeowook, que suspirou ao mesmo tempo que Kyungsoo abandonava o pote vazio no chão, perto do sofá e deitava a cabeça no colo do pai ômega, como um filhotinho carente.

— Realmente, não é do feitio de Minseok sumir assim, sem dar alguma notícia. — Ryeowook comentou.

Heechul ficou com os olhos pensativos, fitou o rosto do amante por mais um pouco de tempo e então, estava virando-se para encarar o alfa.

— Ele pode estar na casinha. — falou, por fim.

O rosto de Ryeowook iluminou-se.

— Claro. — sorriu. — A casinha.

— Que casinha? — Kyungsoo foi mais rápido em perguntar.

— A casinha na árvore. — Heechul contou. — Eu a construí com alguns amigos na infância e quando vocês nasceram, lhes dei de presente, mas Minseok foi quem sempre gostou mais de lá.

Kyungsoo fitou o pai, como se pudesse encontrar no seu rosto a lembrança disso e quando não houve nada, apenas fez um muxoxo e Ryeowook desceu o rosto contra sua bochecha, deixando um beijinho delicado.

— E... e ele pode estar lá? — Baekhyun perguntou.

— Sim, mas ainda é estranho. — Ryeowook falou. — Minseok costumava se esconder lá quando estava chateado com alguma coisa.

— É verdade. — Heechul concordou. — Lembra de quando negamos que ele tivesse um bicho de estimação? — começou a rir e Ryeowook acompanhou.

— Minseok se escondeu na casinha o dia inteiro.

— Tivemos que arrastá-lo para casa.

Baekhyun observou cada um, sem entender do que eles estavam falando, mas admitia que achava a história engraçada e depois, estava com esperança de que o marido estivesse lá, pois era muito provável que o ômega tivesse cultivado o mesmo hábito por anos.

— Ele escondia doces lá! — Kyungsoo exclamou animado, sentando-se no sofá ao lado do pai.

Havia lembrado-se de algo.

— Sim, sim. — Heechul não conseguia parar de rir com as imagens que inundavam sua mente. — Uma vez, roubei todos os seus doces e comi.

— Seu maluco. — Ryeowook jogou uma almofada no amante. — Minseok chorou o dia inteiro por conta disso.

— Ele nunca descobriu que foi eu. — jogou a almofada de volta, acabou acertando o filho grávido. — Achava que tinha sido Kyungsoo.

— Não acredito que me incriminou. — jogou a almofada de volta, rindo e Heechul desviou no mesmo tom de risada.

— Senhor Heechul. — Baekhyun chamou a atenção do mesmo antes que ele voltasse a se distrair. — Onde fica a casinha? — perguntou quando o mesmo o fitou.

— Na floresta, perto do lago. — respondeu.

O alfa ficou de pé, pronto para ir até lá e encontrar Minseok.

— Tome cuidado, Baek. — Ryeowook pediu.

— Leve algo para ele comer. — Kyungsoo falou. — Minseok sumiu a tarde inteira, aposto que não comeu coisa alguma.

Baekhyun piscou, desviou os olhos da porta e focou na direção da cozinha.

— Eu te ajudo. — Heechul se ofereceu antes que Ryeowook pudesse fazê-lo.

O Byun seguiu o sogro até a cozinha, o observou fazendo sanduiches de presunto e alface, coloca-los em um pote. Colocou outras coisas ali também, alguns bibimbaps e um pouco de carne seca. Entregou o pote ao lobo, sem dizer nenhuma palavra, mas Baekhyun não precisava delas, conseguia ler a linguagem corporal de Heechul e cada detalhe seu pedia para que cuidasse de Minseok. E o Byun desejou fazer isso.

Ele saiu da casa, meio correndo, com um pote de comida na mão. Tirou as roupas quando chegou na entrada da floresta, segurou-as na boca junto do pote de comida e enfiou-se por entre as árvores. Acreditava que chegaria mais rápido com quatro patas. No entanto, estava um tanto rápido demais, pois antes que pudesse perceber, passará do lago. Foi obrigado a refazer o caminho, dessa vez de um jeito mais calmo, quando não conhecia aquele território. Olhava para cima, procurando a tal casinha, o que não demorou tanto assim para encontrar. Ficava, realmente, perto do lago, um pouco antes de chegar nele, perto — também — de onde os Lu’s tinham construído suas casas.

Baekhyun deixou o que carregava na boca, no chão e voltou a sua forma humana. Vestiu suas roupas, observava a casinha a cada minuto, procurando algum sinal de vida ali. Mas não parecia ter ninguém ali. Estava escura, a madeira velha, conseguia ver galhos da própria árvore abraçando a estrutura da casinha lentamente. Um abraço de morte, que fez Baekhyun sentir pena, afinal, pelo que tinha conhecimento, aquele era um lugar especial para o marido.

Encontrou os degraus de uma escada improvisava, escavada no tronco da árvore e começou a subir. Estava escorregadio e por isso quase caiu algumas vezes, contudo, logo estava chegando a porta em forma de quadrado embaixo da casinha. Um quadrado escuro, notou. Enfiou a cabeça ali, colocou o pote na beira e o empurrou para longe, tentou ver encontrar formas através do escuro, mas não viu nada, então, estava chamando.

— Minseok?

Não houve resposta mesmo quando já estava com o corpo totalmente dentro da casinha. Engatinhou pelo lugar, porque quando tentara ficar em pé, bateu a cabeça no teto. Começou a tatear pelo lugar, chamando o nome do marido. A visão noturna de lobo ajudava, fazia com que conseguisse se localizar ali, no meio de tanto escuro. Deveria ter trazido uma lanterna.

Contudo, quando chegou no fim do lugar, se deu conta de que Minseok não estava ali também. Sentou-se no chão poeirento, olhou em volta, um pouco preocupado demais. Onde ele estaria? Encostou suas costas na parede de madeira, suspirou. Não sabia mais o que fazer e a possibilidade, horrível, de nunca mais ver Minseok estava começando a dilacerar seu coração. Fechou os olhos, contou até cinco bem devagar e pensou em voltar para a casa dos Kim’s. Quem sabe, no dia seguinte, Kim Minseok estaria lá.

Preparou-se para engatinhar até a saída quando escutou um barulho. Franzio a testa, confuso, não achava que a floresta era habitada por animais. No entanto, antes que pudesse se afastar em direção a uma das janelinhas ali, para espiar o causador do barulho, viu uma luz surgir pela entrada em forma de quadrado da casinha. E então, havia uma cabeça de fios loiros aparecendo ali. Baekhyun arregalou os olhos, mas não foi em direção a pessoa.

A pessoa entrou por completo na casinha e apontou a lanterna para os cantos do lugar antes de focar a luz no rosto de Baekhyun, que foi obrigado a desviar os olhos.

— Baek? — Minseok surpreendeu-se e engatinhou em direção ao marido. — O que está fazendo aqui? — a lanterna continuava na sua mão, mas longe do rosto do outro.

— Eu vim atrás de você. — Baekhyun disse e simplesmente puxou o ômega para perto, apertou-o contra seu corpo enquanto a lanterna escapulia da sua mão, rolava para longe e deixa tudo banhado em meia-luz. — Por que sumiu? — perguntou com o rosto enfiado na curva do pescoço dele.

Minseok se contraiu inteiro, afastou-se de Baekhyun de uma forma que não parecia certo depois de tudo que eles tinham dividido um com outro.

— E-eu precisava de um tempo sozinho. — contou, sem fitar o alfa, as mãos se juntaram sobre suas coxas, alisando o tecido do seu jeans com afinco e nervosismo.

— Tudo bem. — Baekhyun falou suavemente, não queria forçar Minseok a falar nada quando ele próprio não se sentia mais pronto para falar seus problemas para o ômega. Ergueu a mão e tocou sua bochecha.

Não conseguia ver suas expressões, mas imaginou o jeito com o castanho dos olhos de Minseok poderiam estar. Carinhosos, quem sabe. O escuro tímido, que surgia todas as vezes que o alfa se aproximava daquela forma. Se eles pudessem se ver, Baekhyun pensou, Minseok estaria corando diante do seu olhar tão intenso. Alguma coisa em si se revirava no seu peito, pulando de alegria por tê-lo encontrado, por estar na sua presença. E essa coisa ficou mais forte a medida que o alfa tomava coragem de aproximar seu rosto do loiro. Tocou os lábios na bochecha que estava acariciando e teria os deslizado para a boca, se Minseok não tivesse desviado.

— Por favor, não. — pediu baixinho e Baekhyun abaixou o rosto, afastou a mão que tinha se alojado no pescoço dele e voltou a encostar as costas na parede. Longe de Minseok. — E-eu estou cansado. — desculpou-se no mesmo tom baixo, parecia até envergonhado da sua atitude.

Baekhyun engoliu em seco. Não entendia por que Minseok estava agindo daquela forma, contudo lembrou-se do que os pais do mesmo lhe disseram. O marido ia até aquela casinha para se esconder quando algo o chateava. Só que na penumbra daquela casinha na árvore, Minseok parecia mais do que chateado. Parecia machucado e perceber isso, pegou Baekhyun de surpresa, porque não tinha a menor ideia do que fazer quando também estava machucado.

— Tudo bem. — optou por dizer. — Eu também estou cansado.

E ficaram em silêncio.

— Eu trouxe comida. — lembrou-se e começou a procurar o pote com os sanduiches e outras coisas. — Imaginei que estaria com fome. — estendeu o mesmo em direção ao marido e Minseok pegou.

Baekhyun se afastou ao mesmo tempo que o ômega abria o pote. O alfa segurou a lanterna, trouxe-a para perto do loiro. E então, estava de volta a sua posição. Minseok ainda ficou algum tempo à sua frente, a luz da lanterna ao seu lado, jogava sua sombra para lugares aleatórios e Baekhyun a observava. Não quis ficar a fitar o marido para não deixa-lo mais desconfortável do que se sentia e por isso, observava seus atos através da sua sombra. O ômega percebeu e afastou-se dali, sentou-se ao seu lado, longe o suficiente da luz para que sua sombra abandonasse as paredes do lugar.

A atitude magoou o alfa de uma forma, que o fez abaixar os olhos. Percebia que Minseok o estava rejeitando e isso, machucava de uma forma que o Byun não entendia. Então, ficou quieto, lidando com a estranheza do sentimento, não mexeu nenhum músculo em direção ao ômega. Escutou-o comer e isso ao menos o deixou mais aliviado, porque pelo sabia que o marido não ia cair por aí por falta de alimento. Quis virar o rosto para fita-lo, mas não o fez.

Minseok terminou de comer, deslizou a pote pelo chão, para um pouco longe demais de si. Ele tornou a se afastar, para longe da luz, encostou as costas no canto mais longe do alfa mesmo que soubesse o quanto estava entristecendo o outro com aquela atitude, mas uma parte sua não estava apta para aquilo. Não, naquele momento. Precisava do seu momento sozinho, precisava organizar seus pensamentos, os sentimentos no seu peito, só queria respirar um pouquinho naquele ponto cego, que deveria ser aquela casinha.

O alfa parecia entender sua relutância em se aproximar e por isso, não insistia. Isso fazia Minseok agradecê-lo internamente. Era melhor para ambos ficarem um pouco afastados, mesmo que essa distância se resumisse a alguns passos.

— Está chateado? — a pergunta do marido o pegou de surpresa.

— O que? — devolveu.

— Seus pais disseram que vem pra cá quando está chateado. — Baekhyun contou. — O que te chateou?

Minseok ficou calado.

Ainda cedo demais para contar, pensou. Ainda não queria falar sobre o que aconteceu e achava que nunca ia conseguir contar pra alguém realmente. Por isso engoliu as palavras, escondeu-se mais um pouco no escuro. Mas sabia que mesmo que fingisse que não existia, Baekhyun ainda podia vê-lo. A luz se espalhava o suficiente para que o alfa tivesse um vislumbre seu, encolhido no canto da casinha.

— Eu tive um dia horrível. — Baekhyun decidiu preencher o silêncio, um pouco sedento demais por barulho, apenas para afastar seus pensamentos confusos.

Acreditara que com Minseok poderia ter alguma paz, no entanto, não estava acontecendo assim. Só estava ficando mais deprimido.

— Minha alcateia está uma bagunça. — riu baixinho do seu desespero em manter uma conversa que tinha gosto de monólogo. — Há coisas demais para fazer e eu não consigo me concentrar totalmente. — de repente, se viu começando a contar seus problemas. — Minha mente está cheia de pensamentos horríveis e hoje... ontem... — suspirou. — Eu acho que não posso fazer isso.

Aquela era a primeira vez que colocava aquele pensamento em palavras, quando dizia em voz alta o suficiente para segurar as palavras com a ponta dos dedos e principalmente, era a primeira vez que deixava alguém escutar. Admitir que não estava pronto para ser tomar as decisões certas para sua alcateia ou que não sabia como perdoar seus pais ou que nem ao menos sabia como cumpriria o que prometeu ao tio... não. Um alfa deveria ter responsabilidade sobre todas as palavras que dizia, deveria estar seguro sobre tudo o que prometia. Foi o que seu pai lhe ensinou, o que também aprendeu com seu pai e o pai do seu pai aprendeu com o pai e do jeito como todos os Byun’s alfas aprendiam desde cedo.

Nenhum Byun jamais recuou. Porque recuar significava fraqueza e Baekhyun não queria, nunca quis, ser fraco. Mas havia coisa demais sobre suas costas, haviam pensamentos demais em sua mente, havia confusão demais em seu peito. Precisava de um tempo que não tinha, afinal era o líder de uma alcateia. Era seu dever ser o porto seguro de todos os lobos, de guia-los a prosperidade, de trazer os lobos sequestrados de volta ou ao menos oferecer um meio de vingança pra eles através de uma retaliação contra os humanos responsáveis por aquilo. No entanto, não se sentia firme o suficiente para ser o alfa modelo.

Não podia fazer isso enquanto sentia todas essas coisas.

— O que? — Minseok pareceu se interessar.

— Ser o líder. — respondeu baixo, parecia uma blasfêmia dizer em voz alta.

Esperou o momento em que Siwon fosse surgir, o rosto sério e os olhos decepcionados por ter gastado tanto tempo com aquele filhote indesejado. Mas não surgiu ninguém, o que aconteceu foi Minseok aproximando-se de si, devagarinho como se estivesse com medo.

— Eu nunca quis ser um Ômega Principal. — falou.

— Mas ainda pode se livrar desse cargo. — Baekhyun ofereceu a solução. — Mais um ano e alguns meses e pode voltar para os Kim’s.

— E o que? — agora ele parecia irritado, o que surpreendeu o alfa. — Vão tentar me casar com outro lobo importante.

— Não acho que Junmyeon te obrigaria a tal coisa. — mas estava lembrando das palavras de Leeteuk. — E ainda pode voltar para Oh Sehun. — sondou o local e quase riu da sua insegurança em colocar o outro no meio daquela conversa.

— Nunca estive apaixonado por Oh Sehun. — Minseok confessou e Baekhyun piscou os olhos na sua direção, surpreso pela informação. — Eu só concordei porque achei que era melhor do que casar com um desconhecido. — explicou. — Sem ofensas. — disse ao alfa que surpreendentemente, riu.

— Foi a mesma lógica que tive quando fiz o pedido a Dasom. — Baekhyun contou e então, Minseok estava rindo da forma como haviam pensado igual.

— Acha que teria sido feliz com ela? — ele perguntou e Baekhyun pensou.

Dasom não era má e muito menos maluca da mesma forma que o pai. Era apenas Park Dasom, um pouco mimada demais, um tanto sem jeito para números e disposta a ajudar quem precisasse. E Baekhyun sabia que ela teria aceitado seu pedido de casamento, porque tinha esperança que o pai a deixasse em paz depois disso. A verdade era que nenhum dos dois queria casar. Baekhyun queria poder ser líder sozinho e Dasom queria se tornar uma sacerdotisa do Santuário, mas Hyukjae nunca concordou com isso, pois sabia que depois de filiada ao lugar, a filha não poderia casar e muito menos ter filhos. Ela seria inteiramente do Templo, seu corpo e alma pertenceriam à Deusa Lua.

Mas Dasom acreditava que depois de dois anos de casamento, quando Baekhyun a deixasse ir embora, ela poderia correr em direção a sua verdadeira vocação. Então, Baekhyun estaria sozinho para ser líder e quem sabe, poderia escolher seu próximo Ômega Principal. No entanto, quando pensava em Minseok nesse cenário, percebia o quanto ele nunca teria a mesma sorte quando Oh Sehun estava terrivelmente apaixonado e nunca o deixaria ir embora. O ômega seria obrigado a ser feliz, a se apaixonar, a ter filhos e viver uma vidinha de aparências. Enquanto ele, ao menos, tinha um acordo com Dasom. Eles se sairiam bem, eram amigos. E por isso, Baekhyun acreditava, que pelos dois anos que estariam juntos, seria feliz.

— Um pouco. — respondeu. — Quando os dois anos acabassem, ela poderia voltar para casa. — explicou diante do silêncio de Minseok. — E você? Acha que Oh Sehun poderia ser seu alfa dos sonhos? — não sabia porque o estava provocando, mas o ômega parecia se divertir com aquilo, porque ria ao mesmo tempo que voltava a se aproximar.

— Isso não existe. — referiu ao termo alfa dos sonhos, Baekhyun sabia. — Você, por acaso, tem um ômega dos sonhos? — provocou de volta.

Baekhyun sentiu quando o ombro dele encostou no seu e quis puxá-lo para mais perto, beija-lhe o pescoço apenas para fazê-lo se encolher de surpresa nos seus braços. Mas não fez, permaneceu da forma que estava.

— Tenho. — disse com uma certeza que não existia. — Talvez, o conheça. — soltou uma risada. — Sabe, até casei com ele.

— Por engano. — Minseok acusou rindo.

E o alfa riu de volta, dessa vez tendo coragem suficiente para colocar sua mão sobre a coxa do marido. O som do riso de Minseok foi sumindo a medida que se dava conta do toque, mas não o afastou e Baekhyun agradeceu por isso, aliviado.

— Baek. — ele chamou, a voz séria demais para quem estava rindo um minuto atrás.

— Hum.

— Teria se casado comigo se não fosse por obrigação? — ele perguntou, acanhado, baixo, pareceu ficar mil vezes menor ao lado de Baekhyun.

O Byun respirou fundo. Nunca pensara nisso. Não por conta de Minseok, mas sim porque algo que não fosse obrigação estava fora da sua lista de afazeres. Baekhyun estava acostumado a apenas acatar o que o pai lhe dizia, aceitar todas as nuances do seu futuro planejado. E casar estava lá, no topo. Casar com alguém que valia a pena, alguém importante. Nada da humana com quem tivera um breve caso na adolescência. Nada de romance, namoro ou sei lá mais o que deveria existir. Era apenas compromisso com a sua alcateia, não com seu futuro parceiro. Mas ali estava, Kim Minseok, lhe dando uma oportunidade de decidir.

Sabia que mesmo que dissesse não, o ômega não ficaria chateado. Mas também sabia que se dissesse não, estaria mentindo. Era um pouco estranho chegar nessa certeza, mas a semana que passara ao lado de Minseok na alcateia Park, dividindo aquele quarto, contando segredos nas madrugadas e acordando com o cheiro dele na sua pele, fazia-o perceber que por mais que nunca tivesse prestado atenção nos sinais, eles estavam ali o tempo inteiro.

Nunca gostara do cheiro de outro ômega, porque nenhum deles se parecia com o de Minseok. Precisava constantemente irritá-lo no colégio, porque era a única forma de ter os olhos dele sobre si. Tinha que provoca-lo depois que soubera do seu namoro, porque estava com tanta raiva da possibilidade de qualquer um tocá-lo, que não conseguia se controlar. E no Festival da Colheita, quando o viu novamente depois de longos cinco anos sentindo os efeitos de uma saudade que não entendia de onde vinha e nem por quem sentia, eles tinham se encontrado. E Baekhyun sabia melhor do que ninguém como não conseguia tirar os olhos do ômega.

Todos tinham percebido.

Menos ele.

— Sim. — respondeu para a surpresa de Minseok.

O ômega ficou envergonhado, Baekhyun conseguia perceber mesmo que suas feições estivessem escondidas no escuro. Mordeu o lábio, um pouco nervoso pelo que falara, mas não voltaria atrás. Era a palavra certa, tinha certeza. Só não estava pronto para ser rejeitado. Essa possibilidade o deixava com medo. No entanto, mesmo que Minseok não respondesse nada, sentia-se mais aliviado.

Uma das confusões da sua listinha havia sido riscada.

O Kim deitou a cabeça no seu ombro, a mão parou sobre a do alfa. E devagarinho, eles enlaçaram os dedos. Ficaram em silêncio. Não havia mais nada para dizer, nada de declarações espalhafatosas. Baekhyun entendia o seu silêncio e ele entendia as outras palavras implícitas no sim simples. Então, permaneceram, sem mais perguntas, sem mais inseguranças. E pela primeira vez em tanto tempo, Minseok se sentiu seguro ao lado de um alfa, realmente seguro. Do jeito que as anciãs da vila lhe diziam quando adolescente.

Aquilo devia ser fazer amor, pensou meio sorrindo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mirtilo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.