Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 47
XVII - Irmão




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Minseok encarou o perfil do marido, sentado no banco do carona ao lado do mesmo. Baekhyun parecia muito sério, havia uma tensão nas suas mãos, escorregando pela ponta dos seus dedos enquanto apertava o volante do carro, gravada no seu maxilar. Levantou os olhos até o espelho retrovisor e viu Chanyeol mexendo no celular, digitando alguma coisa com pressa, a testa franzida. Voltou a fitar Baekhyun, em busca de alguma coisa que não sabia ao certo. Observou quando a mão direita do marido deixou o volante e foi até o câmbio e sem pensar muito sobre o que estava fazendo, estendeu sua própria mão até ali.

Baekhyun se assustou com o contato, mostrando ao ômega o quanto estava imerso nos seus pensamentos. Quem sabe estava pensando na conversa que teve com Park Hyukjae? Minseok quis perguntar, mas sabia que o momento não era aquele e pela forma como Baekhyun suavizou a expressão ao nota-lo, fazia-o perceber que era só uma questão de tempo até o alfa lhe dizer qualquer coisa, porque Minseok conseguia muito bem ler o desespero nos seus olhos escuros.

Afastou a mão da do marido, quando ele voltou a dirigir. Se viu virando o rosto, olhando para além da janela. Estava um dia ensolarado, parecia perfeito para um piquenique ou um banho de piscina, qualquer coisa simples assim. No entanto, a cada vez que percebia os ombros tensos do alfa, deixava esse desejo para trás. E tudo pareceu piorar quando Baekhyun conseguiu falar com Kangin.

A ligação estava no viva-voz, alta suficiente até mesmo para Chanyeol prestar atenção.

Baekhyun?! — o beta disse, um tanto desesperado e surpreso, fazendo Minseok franzir a testa, desconfiado. — Por Dal! Onde você estava?! O que aconteceu?! Por que não atendeu minhas ligações?! — eram tantas perguntas proferidas com agitação, que Minseok não sabia o que deveria dizer e pelo modo como Baekhyun fitou a tela do celular, nem mesmo ele sabia por onde começar.

— Kangin. — Baekhyun usou a voz ativa de alfa, os olhos voltaram a fitar o trânsito e o ômega ao seu lado desviou os olhos para a janela à direita, um pouco nervoso devido a áurea alfa do outro. — O que aconteceu? — perguntou, a voz saindo mais suave dessa vez e ignorando todas as perguntas do beta.

— Por que nosso appa estava em sua forma de lobo na rua? — Chanyeol inclinou-se para frente, a cabeça entre os dois bancos, a voz saindo grave em preocupação e ansiedade enquanto as mãos se apoiavam nos bancos em que Baekhyun e Minseok estavam. — Onde está o omma?

Houve um problema... no noite do Festival nós fomos... — a ligação foi subitamente interrompida, o que causou estranhamento nos três.

Baekhyun acelerou o carro, afim de chegar mais depressa na sua alcateia e Minseok se viu inclinando-se em direção ao celular e chamando por Kangin. Chanyeol se juntou a si, até mesmo estendeu a mão para pegar o celular, mas teve o movimento parado quando alguém voltou a falar na ligação:

Minseok? — o ômega arregalou os olhos e pegou o celular.

Era Junmeyon.

Os irmãos alfas fitaram o loiro, não entendiam porque Kangin sumira e muito menos porque Kim Junmyeon estava em território Byun.

— Hyung, sou eu. — Minseok chamou.

Onde você estava?! — ele praticamente gritou e Minseok se viu sorrindo, tinha estado com saudade do irmão alfa.

— Houve um problema com Park Hyukjae. — resolveu que era melhor explicar tudo quando estivessem frente a frente, mas naquele momento precisava saber porque Junie estava na Alcateia Byun. — O que aconteceu? Por que está nos Byun’s?

Houve um ataque a alcateia do seu marido. — havia um desprezo engraçado na voz de Junmyeon quando se referia a Baekhyun, o que não passou despercebido ao alfa. — Humanos se aproveitaram da pouca segurança e invadiram, levaram alguns lobos como reféns e mataram outros tantos. O Senhor Siwon apareceu em nosso território pedindo ajuda.

— O que está dizendo?! — Chanyeol puxou o celular das mãos do ômega. — Onde está meu omma?!

Seus pais estão seguros em meu território. — Junmyeon respondeu, o que acalmou o Byun mais novo e pareceu ajudar também no humor de Baekhyun, que tinha os ombros mais relaxados agora.

— Nós estamos a caminho da Alcateia. — Baekhyun falou, quando Chanyeol aproximou o celular de si.

Junmyeon não disse mais nada e Minseok preferiu pensar que ele havia assentido do outro lado da linha antes de desligar. Devolveu o celular para o suporte e lançou um olhar de esguelha para o marido, que o fitou de volta como que sentindo o seu olhar. Minseok não sabia dizer o que via nos olhos do alfa, mas sabia que havia algo preocupante ali, alguma coisa que Baekhyun parecia querer compartilhar. Talvez fosse culpa da notícia que Junmyeon tinha dado, o ataque aos lobos Byun’s havia o preocupado também, afinal, eram os lobos da sua alcateia e pelo que percebia, os mesmos humanos que estiveram atrás dos lobos Lu’s, agora, estavam atrás dos Byun’s.

Um efeito colateral que ninguém tinha se dado conta da possibilidade, afinal, Minseok devia ter imaginado que os humanos não desistiram fácil dos Lu’s, ainda continuariam os procurando e nisso acabariam encontrando outros lobos. Era apenas surpreendente o dia escolhido para o ataque. Será que conheciam tão bem assim os lobos ao ponto de saber quando estariam mais vulneráveis? Contudo, mesmo que fosse isso, como eles saberiam que a alcateia Byun estaria com a segurança fraca, justo naquele dia? Esse tipo de coisa fazia Minseok se perguntar quanto tempo eles estariam os espionando, colhendo informações sobre seus trejeitos, percebendo seus padrões de comportamento até o ponto de fazer algo grande como aquilo. E pior de tudo era que não pareciam nenhum pouco interessados em matar os lobos, quando haviam levado alguns como reféns. Eles pediriam algum resgate ou estavam apenas fazendo o que Minseok já desconfiava?

Lu Han havia lhe contado sobre a forma como os lobos da sua alcateia tinham começado a desaparecer, em grande maioria adolescentes que frequentavam o colégio humano. Em um dia eles iriam para a escola e depois não voltariam mais, e quando isso acontecia, Lu Han era obrigado a mudar a alcateia de lugar, sem dar chance alguma aos pais de procurar pelo filhote. Eles sabiam que era melhor assim, o Lu lhe dizia e Minseok entendia apesar de imaginar o tipo de dor que havia nos lobos quando decidiam deixar o filhote para trás, mas não se podia ameaçar a segurança dos outros tantos lobos, dos outros filhotes.

No entanto, esse tipo de relato sempre fazia Minseok se perguntar se, tudo isso, era apenas exclusivo dos Lu’s, porque lembra-se muito bem da ficha de desaparecidos que a Organização guardava, a foto de todas aquelas pessoas de idades variadas, mas que em grande maioria eram adolescentes, filhotes demais para saberem se defender. E agora, com o ataque aos Byun’s, Minseok só conseguia ter mais certeza de que os humanos eram mais espertos do que lhe ensinaram e estavam atrás de uma briga de verdade.

— Baek... — escutou Chanyeol chamar e virou o rosto na direção do cunhado, mesmo que não fosse o seu nome a ser chamado. — Por que humanos atacariam nossa alcateia?

Havia um tremor na voz do alfa, escondido no final da última palavra, mas que Minseok identificou porque também se sentia tremer, por dentro, como um filhote assustado. Já havia acompanhado, visto com seus próprios olhos a bagunça que aqueles humanos podiam causar, mas nunca imaginara que podia acontecer na sua casa, com seus lobos.

— Eu não sei. — Baekhyun respondeu sério, tão seco quanto, que pegou Minseok desprevenido.

Fitou o marido, tentando entender a rispidez, mordeu o lábio meio envergonhado por Chanyeol, mas ficou calado da mesma forma que o cunhado. E foi nesse silêncio que eles chegaram até o território Byun. De longe, era possível ver o quanto a entrada do lugar estava destruída, algo havia arrombado os portões. Todavia, haviam tentado consertar, um trabalho malfeito que Minseok não conseguia culpar o autor, afinal, fazia apenas uma semana desde o ocorrido.

Baekhyun estacionou o carro em frente à casa, o ômega olhou para trás avistando os outros carros que os seguiam, traziam os lobos que os seguiram até os Park’s. A porta foi aberta, era Chanyeol saindo apressado e logo depois Baekhyun o estava fazendo, de um jeito mais estável que o irmão e então, Minseok também estava o fazendo ao mesmo tempo que os outros carros estacionavam e os lobos começavam a sair.

Chanyeol entrou primeiro, empurrando o portão sem cuidado e abrindo espaço para os outros. Baekhyun passou em seguida, sem olhar para trás ou esperar mais alguém e Minseok sentiu quando um dos lobos passou apressado por si, esbarrando no seu ombro, sem pedir desculpas. O ômega se viu ficando para trás, ainda observando a fachada do lugar que chamava de casa. Notou a painel de controle de acesso, os botões estavam quebrados, tortos. Tocou com a ponta dos dedos ali, lembrava-se da senha, as letras e números que não podia mais usar. Suspirou antes de se afastar dali e passar pela entrada que Chanyeol havia aberto.

A fachada estava uma bagunça, mas com certeza dentro estava pior. Minseok engoliu em seco diante da forma como tudo estava fora do lugar, as janelas das casas quebradas, portas escancaradas, objetos jogados no chão. Não parecia que havia passado uma semana, parecia que a invasão tinha acontecido na noite passada. Ele olhou em volta, não estava procurando o marido ou o cunhado ou qualquer conhecido, estava avaliando os estragos, sentindo um aperto no coração enquanto a impotência tomava conta de si.

Quantos lobos haviam sido levados? Quantos tinham morrido? Sabia muito bem que os Byun’s que estavam na alcateia naquela noite eram idosos, crianças, mulheres e homens grávidos, pessoas que não estavam capacitadas para uma luta. Pensar nesse tipo de coisa o entristecia.

Continuou andando em direção a casa principal, onde achou que todos estariam, incluindo seu irmão alfa. Avistou alguns guardas pelo caminho, se viu cumprimentando-os e sendo cumprimentado de volta e quando se percebeu perto da casa principal, apressou o passo, mas antes que pudesse passar pelo jardim na entrada, teve seu pulso segurado. Assustou-se, no primeiro momento e sem pensar muito no que estava fazendo, girou o pulso para fora, libertando-o e com as duas mãos livres segurou a mão que o tinha prendido. Segurou o seu dedo mindinho e o anelar com uma mão e com a outra, segurou o dedo médio e o indicador e com cada mão puxou os dedos para os lados ao mesmo tempo que puxava o punho para cima. Escutou a pessoa gritar de dor e cair de joelhos à sua frente e só então levantou o rosto para descobrir a identidade da pessoa.

Era Oh Sehun.

— A-ah. — Minseok soltou a mão do alfa, as bochechas ficando vermelhas de vergonha e os olhos se arregalando em preocupação. — Me desculpa. — pediu e Sehun se manteve de joelhos, a cabeça baixa enquanto massageava a mão machucada, achará que o ômega iria quebrar seu pulso. — Você está bem? — Minseok abaixou-se, colocou a mão sobre o ombro do alfa, temia tê-lo machucado de verdade.

— Por que fez isso? — Sehun o fitou, a expressão cheia de dor e fazendo Minseok engolir em seco.

— Você me assustou. — disse e era verdade.

Ninguém podia surgir do nada assim, segurando em si, ainda mais quando sua mente estava cheia de pensamentos nada bonitos sobre aqueles que tinham invadido sua alcateia. Minseok admitia que não estava no melhor dos seus humores e Sehun o segurando daquela maneira, só o fez descontar um pouco daquela irritação. No entanto, de repente estava com medo... aquele tipo de golpe não era o que ômegas bem educados sabiam fazer ainda mais quando Sehun parecia ter suas desconfianças sobre o lugar que o loiro frequentara durante cinco anos.

Ajudou-o a levantar, mesmo que tivesse percebido a forma como era encarado. Havia desconfiança estampada nos olhos do alfa. Eles fitaram-se por um tempo, até que o mesmo suspirasse e parasse de massagear a própria mão.

— O que aconteceu com você? — Sehun perguntou, a desconfiança tinha ido embora para dar lugar a preocupação e então, era Minseok quem estava suspirando.

— Houve um problema com Park Hyukjae. — contou o mínimo que conseguia, em parte porque não queria explicar os pormenores que não entendia. — Ele alegou que estava nos protegendo da possível retaliação do Conselho.

Sehun comprimiu os lábios, parecia saber de alguma coisa importante. Minseok franziu a testa na sua direção, esperando.

— O Conselho entrou em contato um dia após o ataque aos Byun’s. — o alfa contou. — Todos recebemos um comunicado para uma reunião urgente. — o ômega cruzou os braços, não sabia o que esperar. — Kangin representou os Byun’s na reunião.

— E o que disseram?

— Vão punir o pai de Baekhyun por ter saído em sua forma de lobo, mas também ofereceram suporte para a guarda de qualquer alcateia.

Não era tão grave quanto achava, afinal. Entendia que haviam regras e que Siwon havia quebrado uma delas, mas os humanos haviam quebrado algumas também quando decidiram invadir uma alcateia que não oferecia risco aparente. Mordeu o lábio, um pouco irritado com a forma como sabia que o Conselho não iria atrás do humanos responsáveis por isso. Era um caso típico, esse tipo de coisa pertencia a Organização. Eram os ômegas que tinham que limpar essa bagunça.

Deu as costas ao Oh, sem esperar mais nada ou dizer mais alguma coisa. Foi em direção a entrada da casa, passou pela porta e avistou seu marido, o cunhado, Kangin e Junmyeon em uma roda. Trocando informações. Se aproximou devagar, notando passos atrás de si. Devia ser Sehun que resolveu o seguir. Não olhou para atrás para conferir, apenas andou até parar ao lado de Baekhyun. O alfa lhe lançou um olhar e Minseok o fitou de volta, perguntando silenciosamente sobre tudo o que já tinham falado.

— Depois. — Baekhyun lhe sussurrou, fazendo questão de se inclinar em direção ao seu ouvido, deixando-o arrepiado com a aproximação. — Não há mais uma aliança entre Byun’s e Park’s, essa semana serviu para decidir isso. — Baekhyun voltou a falar com os outros na roda, alto e claro, sério o suficiente para Minseok não deixar de fita-lo.

Junmyeon suspirou, passando a mão no cabelo.

— Terminar uma aliança agora foi suicídio. — o seu irmão contestou.

— Byun’s sempre se sustentaram muito bem sozinhos, diferentes de outras alcateias. — Baekhyun rebateu, os braços se cruzando e arrancando um olhar raivoso do Kim. — E além do mais temos os Lu’s e os Kim’s. — provocou mais um pouco, coisa que só serviu para que Junmyeon comprimisse os lábios em desagrado.

— E quanto ao Conselho? — Minseok mudou de assunto antes que os alfas se engalfinhassem na frente de todos ali. — Eu soube que houve uma reunião. — o ômega disse quando recebeu o olhar surpreso de Junmyeon sobre si, o que só serviu para que o alfa desviasse o olhar para o líder Oh.

— Não houve nada de importante lá. — Junmyeon disse.

— O senhor Siwon foi multado pela sua aparição pública além de ter recebido alguns meses de reclusão. — Kangin contou a pena.

Prisão domiciliar, Minseok pensou. Era menos do que imaginara, nada tão grave assim quando Baekhyun era o líder oficial. Só parecia ruim quando pensava no estado da alcateia. Não dava para ficar preso em um lugar com pouca segurança como ali se mostrara, ainda mais por conta de Donghae que estava prestes a ter um bebê.

— Está cumprindo a pena no meu território. — Junmyeon esclareceu o que o ômega estava pensando. — Por conta do senhor Donghae e o bebê.

Baekhyun e Chanyeol arregalaram os olhos da mesma forma que Minseok.

— Bebê? — Chanyeol foi quem se pronunciou. — Nossa irmãzinha nasceu?

E pela primeira vez, Junmyeon sorriu:

— Sim. — havia alívio na sua voz. — É uma linda garotinha.

Baekhyun sorriu para Chanyeol e Minseok afagou-lhe o braço, o que arrancou mais um sorriso do marido, mas dessa vez, direcionado apenas para si. E o Kim quis se aproximar e beijá-lo, contudo, aquele não era o momento de fazer aquilo, por isso, manteve-se onde estava. Mas a mão, ainda assim, deslizou mais lentamente pelo braço do marido, num sinal silencioso do que realmente queria e Baekhyun não tirou os olhos de si até o momento em que afastou a mão, como se soubesse exatamente o que o outro pensava.

— Podemos ir vê-los agora? — Chanyeol perguntou animado, parecia uma criança.

— Você pode ir na frente. — Baekhyun disse ao irmão. — Eu preciso avaliar os estragos e organizar uma retaguarda.

— Eu te ajudo. — Minseok prontamente disse para a surpresa do irmão alfa, que achou que o ômega pediria para ir também.

— Minseok. — Sehun subitamente chamou atraindo a atenção de todos. — Precisa ir até os Kim’s. — falou, quase pediu.

Junmyeon lançou-lhe um olhar raivoso, como que irritadiço pela intromissão do alfa. Mas Minseok não sabia em que exatamente do Oh estava se intrometendo.

— Eu posso ir depois. — o Kim falou. — Há muita coisa para fazer aqui, não posso deixar que Baekhyun faça tudo sozinho.

Sehun lançou um olhar para o alfa Kim, apenas para receber mais olhares raivosos. Junmyeon estava querendo impedi-lo de contar. Não era a hora ainda, seu irmão havia acabado de sair de um cárcere privado, precisava de um tempo para se organizar ainda mais com a alcateia do marido destruída daquela maneira. O Kim estava seguindo o conselho que recebera do pai ômega, Heechul. Deveria ir com calma com Minseok. Jogar as notícias sobre si assim, não ia fazer bem a ninguém, no entanto, Sehun parecia disposto a estragar isso quando continuava insistindo para que o ômega fosse até o seu território de origem.

— Não se preocupe com isso, acho que Baekhyun está em perfeita capacidade de se virar sozinho e além do mais, há Kangin para ajudá-lo. — Sehun insistiu.

Baekhyun franzio a testa, confuso pela forma como o Oh falava. Lançou um olhar para o irmão alfa do marido, atrás de alguma explicação quando o ômega parecia tão confuso quanto si próprio.

— Sehun. — Junmyeon chamou em alerta.

— O que está acontecendo? — Minseok cruzou os braços e encarou os dois alfas. — O que estão escondendo?

Junmyeon lançou um olhar para o Oh, como quem diz “olha, o que você fez!” e o alfa teve a decência de encolher os ombros.

— Aconteceu algo mais enquanto estavam fora. — Junmyeon decidiu contar de uma vez e Minseok descruzou os braços, esperou a notícia. — Uma coisa que ninguém esperava... — desviou os olhos dos do irmão ômega, molhou os lábios. — Kyungsoo voltou para a casa.

Os olhos de Minseok arregalaram-se da mesma forma com que a boca se abriu, as pernas falharam e se não fosse Baekhyun, teria caído de joelhos no chão.  

— O-o que está dizendo? — Chanyeol balbuciou, tão surpreso quanto o cunhado.

— Meu irmão voltou para casa. — Junmyeon fez questão de frisar o irmão.

Minseok respirou fundo, sentia as lágrimas se acumulando no canto dos olhos e um sorriso aparecendo nos seus lábios. Subitamente, ele abraçou Baekhyun porque precisava ter alguma coisa de carne e osso em mãos, apenas para saber que não estava sonhando. Baekhyun o abraçou de volta, acariciando suas costas, lhe dando conforto enquanto o escutava fungar contra seu pescoço.

—Meu irmão... — Minseok balbuciou para si. — Kyungsoo... ele...

— Sim. — Baekhyun confirmou mais para si do que para o marido.

Estava feliz com a notícia também, afinal tinha estado preocupado junto dos outros, tinha fornecido dinheiro para detetives, feito contatos com outras alcateias atrás de informações sobre o Kim mais novo. E Minseok tinha feito mais, noites inteiras em claro procurando pistas sobre o irmão, junto de Henry e Sehun. Contudo, mesmo qualquer coisa que encontravam, parecia fria demais pra valer a pena seguir.

Agora, não precisavam mais procurar. Kyungsoo estava em casa. Minseok podia, finalmente, abraça-lo de novo.

Eles separaram-se, para alivio de Sehun que observava a cena com visível desconforto.

— Eu preciso... — Minseok disse olhando nos olhos do alfa, estava tão feliz e aliviado que não conseguia completar as frases, mas sentia que estava tudo bem, porque Baekhyun as entendia mesmo assim.

— Eu irei mais tarde. — Baekhyun o assegurou e Minseok tornou a abraça-lo, sem se importar em afundar o rosto na curva do pescoço do marido em meio a tantos olhares. Aspirou seu cheiro, respirando fundo, como se fosse uma droga e bem sabia que o Byun estava o fazendo o mesmo, de um jeito mais tímido.

Então, eles separaram-se de vez. Baekhyun o soltou e Minseok deu um passo para longe de si, desviou o olhar para Chanyeol, que parecia perdido em pensamentos com um sorriso enorme no rosto. O Byun mais novo o viu olhando e se aproximou.

— Tomarei conta dele, hyung. — falou ao irmão mais velho e Baekhyun sorriu, assentindo.

Minseok desviou o olhar para Junmeyon, que se aproximou rapidamente. Segurou-o pelo braço e o puxou para um pouco longe dos outros, um movimento um tanto brusco que assustou o ômega.

— Uma semana serviu para que você se tornasse um ômega apaixonado? — Junmyeon meio ralhou enquanto sussurrava e o Kim o encarou, surpreso pela fala ao mesmo tempo que puxava o braço do seu aperto.

— Desde quando isso é da sua conta? — devolveu. — Eu já sou grandinho, sei o que estou fazendo.

— É melhor que saiba mesmo. — o líder Kim olhou por sobre o ombro do irmão e viu Chanyeol se aproximando. — Mas caso não se lembre, ele é um Byun.

Minseok engoliu em seco. Sabia bem ao que o irmão se referia. Sua história com Baekhyun estava cheia de contradições e a briga que tinham tido no território Kim, há tanto, só ajudara a fazer Junmyeon acreditar mais na maldade dos Byun’s, em todas as coisas que escutavam do seu pai alfa, na infância. E por um momento, o ômega quase pôde escutar Leeteuk nas palavras do irmão.

— Nós podemos ir agora? — Chanyeol perguntou e Junmyeon suspirou, passando a mão no cabelo.

— Precisamos conversar sobre algo antes. — sua voz estava séria. Os dois o fitaram, apreensivos. — É sobre Kyungsoo.

***

Apoiou os pés na mesa, estavam calçados em coturnos bem amarrados. Suspirou, cansado, queria poder tirar os sapatos, quem sabe tomar um banho, afinal, já estava a quase uma semana naquela base de operações. Sentia falta do seu quarto na pensão, da banheira velha, do cheiro do lugar. Era estranho pensar naquele muquifo como seu lar, mas era o lugar que tinha morado por mais tempo e todas as vezes que pensava em sair dali e ir para casa, só havia a imagem daquele quarto na sua mente.

Deixou o cabeça ir para trás, fechou os olhos e tentou tirar um cochilo, mas logo a porta estava abrindo-se.

— Chefe. — foi chamado e abriu os olhos, ajeitou-se na cadeira atrás da mesa para fitar o homem, mas os pés continuavam apoiados na superfície de madeira. — O Dr. Shin pede por sua presença no laboratório.

Yesung retirou os pés da mesa e se pôs de pé, o soldado saiu primeiro, decidiu esperar do lado de fora enquanto o humano esticava os braços e ia em direção a saída logo em seguida. Ele foi na frente, como o chefe daquele setor, todos tinham que vir atrás de si. Era uma hierarquia, como gostava de pensar e ele estava no topo dela, ainda mais depois do ataque bem sucedido aquele covil de lobos. Mesmo que tivesse tido muitas baixas, Yesung também tinha tido recompensas. Conseguira raptar muitos lobos, principalmente os que estavam gestantes. Shin Donghee havia pedido por eles, para estudo, para abri-los na em uma mesa de cirurgia e ver o que tinham por dentro. Será que eram mesmo tão parecidos com humanos?

O laboratório ficava na parte final do setor, no subsolo, para evitar fugas. Haviam câmeras por todo o lugar, em cada canto daquelas salas, nada escapava dos olhos deles além da guarda ser bem reforçada, coisa que contribuía para que nenhum lobo tenha conseguido fugir dali em tantos anos de atividade.

— Alguma novidade sobre os espécimes que trouxemos? — ele perguntou ao soldado atrás de si.

O mesmo olhou no prontuário que carregava, procurando alguma coisa nova para relatar.

— Não tão interessante. — começou. — Descobrimos que nem todos os lobos machos podem engravidar, há um tipo especifico.

Yesung ergueu a sobrancelha diante disso.

— E de acordo com os depoimentos dos próprios espécimes, apenas ômegas engravidam em ambos os gêneros.

— Pegamos algum ômega macho? — fitou o homem de canto de olho e o mesmo se encolheu, engolindo em seco.

— É melhor que o senhor escute do Dr. Shin.

Yesung não disse mais nada, continuou o caminho até o laboratório. Ao chegar lá, entrou sem esperar nenhuma permissão. Avistou Shin Donghee diante de uma mesa, usando roupas cirúrgicas, com uma máscara e óculos de proteção. Yesung foi até o seu lado, enquanto que o soldado que o tinha seguido até ali, decidia continuar do lado de fora. O chefe fitou o que havia na mesa, um corpo com o tórax aberto estava lá. Olhos fechados, lábios sem cor e a pele gelada. O sangue tinha sido drenado, estava em um balde ao lado da mesa, parecia mais vermelho do que tudo que Yesung já vira.

Escutou o barulho da serra elétrica sendo ligada, o som irritava seus ouvidos. Donghee a segurou com as duas mãos, era pequena. O tipo usado em cirurgias, perfeita para serrar ossos. Observou quando a lâmina cortou as costelas, o sangue espirrou na roupa do doutor e respingou algumas gostas em si, então se afastou com uma cara feia.

— Por que me chamou aqui? — Foi direto ao ponto quando Donghee desligou a serra elétrica, havia começado a tirar os pedaços das costelas cortadas. Colocou cada pedaço em uma vasilha de metal ao lado da mesa.

— O soldado Cho deve ter dito algo sobre os ômegas machos. — Shin enfiou a mão no tórax aberto, começou a puxar alguns pedaços de carne dali, retirou o coração e os pulmões. — Não temos nenhum. — levantou o rosto para fitar o outro, as luvas em suas mãos estavam brilhando em vermelho.

— Não veio nenhum no lote? — era como falar de uma mercadoria, nenhuma empatia, não eram humanos.

Só animais.

— Bom, tínhamos um, como pode ver. — apontou com o queixo para o corpo ao qual estava dissecando.

— Estava com...? — Yesung não sabia perguntar, não sabia que palavra usar quando se referia à um homem esperando um bebê.

— Sim. — felizmente, Shindong o entendia como nenhum outro. — Não consegui salvar. — apontou para a bacia de metal em cima da pia.

Yesung andou até lá, de braços cruzados.

— Talvez, 4 à 5 meses, se estivéssemos falando de um humano. — Dr. Shin voltou a enfiar as mãos no corpo, retirando o resto dos órgãos. — Difícil precisar, quando não é um. — Levantou o rosto para ver Yesung observando o feto, nenhuma expressão no seu rosto. Não havia nojo ou raiva ou qualquer coisa, era como se ele não estivesse diante de nada. — Mas se parece com um, não? — voltou a se concentrar no seu trabalho.

— O que aconteceu? — Yesung deu as costas ao feto e fitou o doutor.

— Ele se matou. — Donghee disse com naturalidade.

Yesung deu de ombros. Aquilo era normal. Geralmente, os espécimes que raptavam faziam isso, principalmente os mais velhos, como se eles soubessem o que lhes aguardava. Era por isso que era mais fácil pegar adolescentes e crianças, estas nunca sabiam o que esperar e estavam aterrorizadas demais para pensar nesse tipo de fuga além de ser mais fácil estuda-las, acompanhar seu desenvolvimento.

— E então...? — Yesung entendia bem onde o doutor queria chegar, mas gostaria de escutar da sua boca.

— Traga-me outro. — pediu e o chefe sorriu. — Eu lhe darei as dicas para identificar um.

Yesung assentiu e caminhou em direção à saída, deixando o doutor continuar seu trabalho sozinho. Voltou à sua sala, pensando em como terminaria aquilo cedo para poder, quem sabe, tomar aquele banho demorado na sua casa. Sentou-se à sua mesa, abriu a primeira gaveta e puxou a primeira pasta ali, abriu-a sobre a mesa. Espalhou os fotos e os documentos ali dentro sobre a superfície, pegou uma foto.

— Kim Junmeyon. — leu na identificação abaixo.

Promissor, pensou divertido.

***

Zhou Mi segurou o livro, começou a folheá-lo atrás da página que queria. Sentado à sua frente, Sungmin se mantia quieto, vez ou outra olhando a tela do celular como que esperando uma desculpa para sair dali. E em pé, andando pela grande sala de reuniões, estava Kibum, o cabelo escuro amontoando-se no topo da cabeça, uma bagunça de fios negros.

— E então? — ele virou-se para o ômega.

Zhou Mi ergueu o rosto, os óculos de leitura escorregaram até a ponta do nariz.

— Nada além do que eu já disse. — o ômega respondeu enquanto colocava o livro sobre a mesa, aberto na página certa, afim de provar sua fala.

Sungmin se inclinou sobre o mesmo, com o indicador sublinhou as palavras enquanto lia. Inclinou a cabeça para o lado e os lábios se crisparam, então virou o rosto para fitar Kibum, que não tinha se mexido de onde estava. O alfa mordeu a parte interna da bochecha, afim de descontar um pouco do desconforto que sentia diante dos olhares dos colegas de trabalho. Caminhou até a mesa, precisava ver com os próprios olhos, mesmo que confiasse plenamente no beta e no ômega. Inclinou-se sobre o livro, leu vagarosamente as palavras, queria entende-las profundamente, quem sabe encontrar uma brecha. Mas não havia nada.

Era a lei, pensou enquanto se afastava. A lei que cada lobo devia seguir, a lei que não combinava nenhum pouco com o futuro que imaginara para o irmão.

— Sinto muito. — Sungmin disse e Kibum só balançou a cabeça na sua direção, assentindo, aceitando seus pêsames.

Mas deveria ter imaginado que algo como aquilo aconteceria depois de toda a bagunça que Jongdae causara ao raptar Kim Kyungsoo. E mesmo com a devolução do ômega, não era como se o líder Kim fosse esquecer o que acontecera com seu irmão, ainda mais se Kyungsoo contasse o que realmente tinha acontecido, o que de fato aconteceria em algum momento. Sungmin tinha lhe deixado claro que a perda de memória de Kyungsoo não era permanente. Ele lembrar-se-ia aos poucos de tudo até que sua mente não conseguisse esconder mais nada, no entanto, isso dependeria da forma como o coágulo em seu cérebro fosse regredindo.

No fim, ainda havia tempo para que Kibum conseguisse pensar numa medida defensiva para impedir que o irmão fosse para a forca. Era por isso que estava ali, com seus amigos do Conselho. Era por isso que tinha contado tudo a Zhou Mi e obrigara Sungmin a ajudar também. Contudo, seus esforços estavam indo por água abaixo e a única forma de salvar o irmão, parecia ser escondendo-o.

— O caso de Jongdae pode chegar até nós, mas as chances são muito pequenas e mesmo que chegue, — houve uma pausa na voz de Zhou Mi e Kibum já sabia ao que ele se referia. — você não está apto para participar.

—Teria que ser eu e você, certo? — Sungmin olhou para o ômega e este assentiu para si, fazendo com que suspirasse.

Realmente, não era fã do seu trabalho e se dar conta disso, só fazia o beta pensar em como deveria pedir suas contas. Encontrar um aprendiz e treina-lo para o trabalho, mas também se sentia um ingrato ao cogitar isso. Era como trair a memória do seu mestre, que o ensinou o suficiente para chegar ali, afinal se não fosse por aquela pessoa, nunca teria saído daquela pobreza, daquela miséria que chamava de vida.

— Mas se não chegar, o líder Kim irá decidir qual sentença aplicar. — Zhou Mi continuou, colocando em palavras tudo o que Kibum estava pensando.

Ele vai ser condenado por traição. — Kibum disse e puxou uma cadeira para sentar, apoiou os cotovelos na mesa, o rosto estava pensativo.

Traição de sangue. O pior crime a se cometer em uma alcateia. Se provado como traidor, o lobo era condenado à morte. E Kibum duvidava que Jongdae conseguisse safar-se daquela vez, ainda mais depois de todo o transtorno que causou com o acidente de Kyungsoo, o sequestro e ainda por cima, a identidade falsa que usava, ostentando o sobrenome Kim como se tivesse sido seu desde sempre. Não era assim, Kibum sabia. O seu próprio sobrenome não tinha sido seu desde o nascimento.

O alfa tinha sido tão órfão quanto o irmão, e como tal, eles não tinham sobrenomes. Nada para identifica-los, nada que pudessem usar para chegar até seu lugar de origem. Mas depois que o Orfanato fora fechado, depois que a Avó os adotou, todos eles adotaram o sobrenome Kim, até mesmo a Avó o tinha feito. Porque, lembrava-se bem que o sobrenome dela era Lee. Aquela mulher era uma das últimas Lee’s, mas quando morreu, existia apenas o Kim gravado na urna em que suas cinzas descansavam.

E se por acaso, Junmyeon tivesse conhecimento disso... se ele investigasse um pouco mais e soubesse que Jongdae não era um Kim, isso podia complicar mais a vida do seu irmão, pois o líder podia chegar à conclusão de que Jongdae era um espião, um infiltrado, que fizera tudo de caso pensado e então, seu irmão não teria como se defender, porque mesmo que contasse a verdade, estaria só dando mais passos em direção à forca.

No fim, não havia o que fazer além de assistir, já que não conseguira convencer Jongdae a não se entregar. O alfa mais novo, estava em um estado complicado. Mesmo que as feridas tivessem se curado, Kibum sentia que alguma coisa ainda estava errada no irmão, dentro de si havia algo fora do lugar e quando ele lhe disse que se entregaria, que aceitaria sua punição, o Kim mais velho teve certeza dos seus pensamentos. No entanto, Jongdae não conversava consigo, não lhe contava nada do que se passava em sua mente e muito menos sobre o que havia na carta deixada pela Avó, e que só pôde ser lida quando o mesmo completou 23 anos. Era a única cláusula que havia no testamento que a mulher deixara: Chen só poderia pegar o que era seu por direito aos 23 anos.

Mas o que era dele por direito? Uma carta escrita à mão? Nem mesmo Kibum entendia.

— Estão com fome? — Sungmin perguntou, tentando quebrar aquele clima que se instalara.

Zhou Mi sorriu pra si, doce do jeito que sempre era e o beta se sentiu estremecer daquela forma que não combinava em nada com o momento. Mas o ômega desviou os olhos para o alfa, sua atenção pertencia a Kibum — como sempre. O alfa desviou o olhar até o ômega e depois ao beta, que ergueu uma sobrancelha para si, mas quando abriu a boca para negar o convite — preferia ir para casa e tentar conversar com o irmão mais um pouco — a porta da sala de reuniões se abriu.

— Espero não estar atrapalhando a reunião. — a mulher disse, o sobretudo estava sobre o braço e a bolsa na mão esquerda.

Ela tirou os óculos escuros e os colocou no decote do vestido vermelho colado que usava, o cabelo estava curto, acima dos ombros, picotado para parecer rebelde assim como cada detalhe daquela ômega. Kibum sabia quem era ela antes mesmo que se apresentasse, o cheiro que saia da sua pele traiu sua identidade.

Hyuna.

A ômega continuou avançando, deixou seus pertences sobre a mesa, jogando sem cuidado algum como se ali fosse sua casa. Zhou Mi cruzou os braços e ajeitou a postura atrás da mesa ao passo que Hyuna puxava uma cadeira e sentava-se, as pernas se cruzando logo em seguida. O vestido subiu, Sungmin não evitou olhar, mas logo estava corando e voltando o olhar para frente e Kibum, se limitou a erguer as sobrancelhas pra ela, sério demais.

— O que faz aqui? — Zhou Mi acabou sendo o primeiro a falar.

— Temos um problema para resolver. — ela sorriu, simpática. — Eu acompanhei as notícias pela tevê — começou. — sobre o lobo Byun.

— Nós já resolvemos isso. — Kibum entrou na conversa. — Pode ir embora com seus ômegas, Hyuna.

Hyuna.

Não era o seu nome verdadeiro, todos sabiam, mas era o que ela preferia usar para proteger sua identidade de pessoas como o Conselho de Lobos, Kibum entendia. Ainda mais depois dos anos de desavenças que cultivavam. Em parte, porque o setor a qual a ômega chefiava, não pertencia ao Conselho, não tinha seguia nenhuma regra, era apenas um setor independente fundado por ômegas que acreditavam que podiam fazer um trabalho melhor que o Conselho.

Esta rixa começara muito anos antes daqueles dois nascerem e pelo que Zhou Mi lembrava-se do que o pai contará, tudo teve início com a primeira ômega do Conselho. Foi esta loba que fundou a Organização Secreta de Ômegas, que tinha como intuito manter a linha entre humanos e lobos bem demarcada, impedindo a entrada e a saída de um ou outro do seu território. Mas os lobos da Organização tinham seus próprios métodos para fazer com essa divisão continuasse existindo, métodos um tanto ilegais que o Conselho não compactuava, como por exemplo, a divisão dos subordinados em uma hierarquia baseada em habilidades, onde cada tipo recebia uma das três designações: neutro, vermelho, preto. Sendo o último desta, o mais perigoso.

Treinado especialmente para fazer o trabalho sujo, os lobos do Conselho tinham conhecimento. Alguns já haviam sofrido ataques o suficiente durante os anos para aprender a temer, Kibum só esperava que Hyuna nunca tentasse nada contra sua família, porque se ela tinha problemas com ele, deveria resolver com ele.

— Não é o que parece. — ela mexeu o cabelo escuro. — A notícia está circulando em outros países e mais e mais relatos estão aparecendo. — então ela puxou a bolsa pela alça, abriu-a e puxou o celular ali de dentro. — Há até mesmo um blog para isso. — escorregou o celular sobre a mesa, empurrando na direção do alfa, que estava mais longe de si, mas Sungmin pegou o aparelho antes que chegasse no amigo. — Não existe apenas relatos daqui.

Sungmin franzio a testa enquanto lia os que entendia, haviam muitos relatos em outras línguas. Ergueu os olhos para os colegas de trabalho, o celular em mãos e sabia bem que sua expressão denunciava sua preocupação. Hyuna não estava blefando.

— Ela está certa. — o beta se viu falando e colocou o celular sobre a mesa, deixando que os outros dois contestassem a prova. — Há mais atenção nisso do que prevíamos.

Kibum pegou o celular, olhou os relatos. Suspirou, mas não desfez sua expressão impassível, continuava a mostrar a ômega como não acreditava em si mesmo com aquela prova. Zhou Mi foi o último a pega o celular, mas não demorou-se tanto ali, porque já sabia sobre aquilo. O ômega chinês estava sempre dando uma olhada nas notícias ao redor do mundo e todos ainda tiravam um pouco do seu tempo para manter aquela história lobo gigante viva. Contudo, achara que podia perder a graça logo, eles só tinham que ficar quietos e depois da sentença de Byun Siwon, parecia mais fácil que tudo voltasse ao normal.

Não podia estar mais errado, pensou com o celular na mão. O chinês dirigiu um olhar a mulher, esperando que ela dissesse de uma vez suas ideias.

— Apenas diga de uma vez. — Zhou Mi pediu de uma vez, quando percebeu que ela não falaria até que perguntassem.

Hyuna sorriu, colocou as mãos sobre a mesa. As unhas estavam perfeitamente pintadas de vermelho, combinando com o tom do vestido. Tudo nela chamava a atenção, era bonita assim e o chinês, imaginou que mesmo sem a maquiagem, ainda seria deslumbrante, porque aquela mulher era feita de fogo, forjada em ferro. Talvez, todos os ômegas daquele lugar fossem assim? Zhou Mi não conhecia nenhum outro da Organização, mas tinha conhecimento que eles estavam por aí, andando do seu lado como se fossem tão normais quanto ele. Pensar nisso o deixava apreensivo.

— Dê-me aval para visitar a biblioteca e convocar meus lobos para uma investigação.

— Investigação? — Kibum agora parecia confuso.

— Não é o primeiro ataque à uma alcateia. — ela disse.

— Espera. — Sungmin interrompeu, fazendo todos olharem para si, ficou envergonhado. — C-como sabe que houve um ataque?

Hyuna sorriu ainda mais, parecia realmente estar se divertindo com aquela situação.

— Tenho meus contatos.

— Está nos espionando. — Kibum espalmou as mãos na mesa, fazendo o beta e o ômega pularem de susto, mas a mulher, não.

— Eu diria ‘coletando informações’. — falou tranquilamente. — Mas como eu estava dizendo, outra alcateia foi atacada.

— Do que está falando? — Zhou Mi parecia realmente confuso, porque nenhum lobo havia relatado alguma queixa para alguém do Conselho, ainda mais algo grave como aquilo.

— Estou falando disso. — Hyuna puxou sua bolsa para perto novamente, pegou um envelope, abriu-o e espalhou as fotos sobre a mesa. — Essa alcateia foi toda dizimada pelas mesmas pessoas que atacaram os Byun’s.

— Isso é de quando? — Sungmin perguntou puxando uma das fotos com a ponta dos dedos, eram vários corpos, todos deitados no chão como se estivessem dormindo. Estavam mortos, percebeu com um frio na barriga. — E... e quem são? — não conhecia nenhuma daquelas pessoas e não ouvira nada sobre aquilo.

— Lu’s.

— Lu’s estão extintos. — Kibum rebateu.

— Posso provar que não. — ela fitou-o, desafiando. — Posso trazer o líder deles aqui, se quiser.

— Como ainda há um líder se todos estão mortos? — Zhou Mi largou as fotos sobre a mesa e encarou a ômega.

— Lu’s dividiram-se em duas alcateias, uma estava na América do Sul e sofreu esse ataque, como pode ver... — apontou com o queixo para as fotos. — estão todos mortos. Há outra alcateia vivendo em Seul, mais precisamente junto dos Kim’s.

— O que? — Kibum soltou.

Hyuna gargalhou.

— Estão mais desinformados do que eu imaginava. — ela mexeu no cabelo novamente, dessa vez colocando atrás da orelha. — Mas não se preocupem, irei contar tudo. — sorriu enquanto descruzava as pernas e mantia coluna ereta, os olhos escuros, cheios de superioridade.

E para o bem da verdade, na frente daqueles três, naquele momento, ela estava um patamar acima, quando tinha tantas informações desconhecidas na manga. Então, eles ficaram quietos e esperaram.

***

Sehun parou o carro na entrada da Alcateia Kim, desligou o motor e lançou um olhar de esguelha para Minseok através do espelho retrovisor e como que sentindo para quem ele olhava, Chanyeol cruzou os braços e o encarou através do espelho, a expressão nenhum pouco satisfeita. O alfa desviou o olhar e suspirou. Tinha tentando algum momento à sós com Minseok quando sugeriu que ele fosse até os Kim’s, queria tira-lo das vistas de Byun Baekhyun e Chanyeol, mas não dera tão certo assim, quando Chanyeol vira junto.

No entanto, devia ter previsto isso. Reconhecia que havia sido burro ao formar aquele plano, pois os pais de Chanyeol estavam no território Kim e parecia normal que o alfa quisesse ir ao seu encontro, quando não era muito ligado ao trabalho na alcateia. Isso sempre foi responsabilidade do Byun mais velho.

— Hum... chegamos. — se escutou dizer, apenas para ter que falar alguma coisa mesmo, queria mandar o silêncio para longe.

— Obrigado pela carona, Hunnie. — Minseok disse, só agradecimento, malicia nenhuma, mas Sehun sentiu o calor se alastrar pelo peito.

Era um idiota, percebeu, ainda mais quando não conseguiu evitar o sorriso. Escutou a porta se abrir e logos os dois estavam saindo do carro e ele próprio se preparou para sair, mas percebeu que era melhor estacionar o carro dentro da alcateia. Então, estava ligando o carro de novo e dizendo aos dois que os encontraria lá dentro. Viu quando Minseok assentiu, seus olhos estavam arregalados de ansiedade e sem maquiagem alguma, sem os óculos de sempre, Sehun pensou que ele parecia mais novo do que realmente era.

Os dois se dirigiram até o portão, Minseok falou com os guardas. Os sentinelas o reconheceram imediatamente e logo o portão estava se abrindo, não só pra ele, mas também para Oh Sehun. O carro passou pelo ômega e o alfa, indo direto para o estacionamento. Mas Minseok não estava mais prestando atenção, apressou o passo, quase correu quando Chanyeol segurou-o pelo braço.

— Vá com calma. — pediu e Minseok mordeu o lábio, estava tão ansioso que sentia vontade de se encolher no chão e chorar de frustração.

Assentiu para o alfa, tentou relaxar quando abriu e fechou as mãos. Sabia que não era o único sofrendo de ansiedade de finalmente encontrar Kyungsoo novamente. Chanyeol era o parceiro do seu irmão, com certeza estava no mesmo patamar ou quem sabe, um pouco acima? Não sabia dizer e quando olhava para Chanyeol, percebia que nem mesmo ele sabia em que patamar estava. Conseguia ver a culpa estampada nos seus olhos escuros, a mesma que havia nos seus. Eles dois pingavam em culpa, cada um da sua maneira sabia como tinha abandonado o irmão.

— Eu guio você. — o ômega disse e deu as costas ao cunhado, continuou o caminho com passos mais controlados.

Abriu e fechou as mãos algumas vezes. Queria que Baekhyun estivesse ali, desejou, quem sabe com o cheiro dele por perto conseguisse controlar melhor suas emoções, mas logo estava balançando a cabeça com esse pensamento, queria afasta-lo. Não achava que era hora para desejar aquele tipo de coisa e além do mais, por que estava desejando aquele tipo de coisa? Assim, tão fácil tinha se apegado ao alfa? Era estranho. Muito até. Balançou a cabeça de novo, não queria pensar em Baekhyun.

Isso o deixava confuso, seu lobo se remexia no seu interior quando pensava no alfa, deixava-o constrangido o suficiente para tentar evitar. Decidiu que era melhor focar no caminho, manteve os olhos na direção certa, mesmo que não estivesse enxergando muito bem. Ia seguindo em frente porque conhecia o caminho até a casa do seu pai como a palma da sua mão, estava gravado em si, podia chegar lá até de olhos fechados. No entanto, ainda sentia falta dos seus óculos ou das lentes.

Os óculos estavam na Alcateia Byun, sobre seu criado mudo, em seu quarto e as lentes haviam se perdido na Alcateia Park, culpa da correria que enfrentaram para sair de lá quando receberam o aval do líder Park. Mas tinha esperança que seu pai, Ryeowook, estivesse guardando seus óculos da adolescência, afinal costumava ter um reserva quando era mais novo, fruto dos cuidados do seu pai, que conhecia sua natureza descuidada.

— É aqui. — disse por fim, parando em frente à casa de cerca branca.

Chanyeol parou atrás de si, sabia disso porque sua sombra o cobria por inteiro, dando ênfase da diferença enorme de altura que tinham. Bem diferente de quando ele e Baekhyun estavam juntos, quando quase se equiparavam. Quase, pensou amargamente. Baekhyun ainda conseguia ser um pouco maior, tão pouco que ainda deixava Minseok um tanto indignado. Na verdade, não indignado, era engraçado na maior parte do tempo, porque sabia bem que o Byun não gostava nenhum pouco da sua altura e bem podia imaginar o tipo de coisas que tinha escutado, da boca de outros alfas tão altos.

Mas Chanyeol não parecia o tipo que se gabava disso, parecia não se importar. Parecia ok com todo o volume do seu corpo, mesmo que fosse um tanto desengonçado, as vezes.

— Vamos. — chamou e avançou até o portãozinho, destrancou-o e foi entrando, passando pelo jardim florido.

Não sabia se tinha alguém em casa, deveria ter ligado antes ou algo do tipo. Seus pais nem sabiam que ele tinha voltado, pensou. Havia sumido por uma semana inteira, apenas para aparecer de uma hora pra outra na porta da casa deles assim, com certeza eles iriam pirar. Sempre piravam, riu internamente com as lembranças. Seus pais ômegas eram um pouco paternais demais, preocupados demais. Ainda mais Ryeowook, que parecia querer guardar todos os seus filhotes em um pote, protege-los do mundo para sempre.

Ergueu a mão e pensou em bater na porta, mas desistiu. Não precisava disso, era de casa. Era da família, sempre seria apesar de ser casado com um Byun e estar tão miseravelmente envolvido com este. Queria tanto correr para os braços dos seus pais e pedir conselhos ou talvez, seria desculpas? Nem ao menos sabia pelo quê queria se desculpar, mas toda vez que pensava no quanto não queria voltar para casa depois dos dois anos... toda vez que cogitava isso, sentia como se estivesse traindo sua alcateia e o jeito como Junmyeon o tinha abordado, olhado em seus olhos... só o fazia se sentir mais culpado.

Girou a maçaneta, como previu, estava destrancada. Não havia perigo quanto a isso, eles viviam numa alcateia. Todos se conheciam e confiavam em todos, não havia perigo algum. Nenhum lobo faria mal a outro lobo da sua própria alcateia.

Minseok entrou seguido de Chanyeol. Não havia ninguém na sala, mas havia barulho vindo da cozinha. Então, seguiu direto pra lá, quase correndo. Sabia bem quem estaria na cozinha àquela hora do dia e não se decepcionou, porque logo estava envolvendo o pai Ryeowook nos seus braços, abraçou a cintura e fungou contra suas costas. Sentia que estava desabando. O tempo que passou preso, a volta de Kyungsoo, os seus sentimentos confusos, estava ao ponto de enlouquecer.

Ryeowook se retesiou em seus braços, mas quando reconheceu o seu cheiro, virou-se depressa em seus braços e o abraçou de volta. Eles ficaram daquele jeito tempo suficiente para que Chanyeol se sentisse desconfortável. Ele encostou-se no batente da porta e colocou a mão na nuca, envergonhado. Parecia como se estivesse vendo algo intimo demais.

O ômega mais velho o viu e lançou-lhe um sorrisinho simples, Chanyeol sorriu de volta.

— Appa. — Minseok chamou, a voz tremida. Não sabia por que estava tão emocional.  

— Estou aqui. — Ryeowook separou-se dele para olha-lo nos olhos, mas depois estavam se abraçando de novo.

O Kim mais velho queria perguntar sobre o que aconteceu, porque não haviam notícias suas em lugar nenhum. Mas achou melhor deixar as perguntas para depois, afinal seu filhote parecia um tanto abatido, com emoções demais para falar sobre qualquer outra coisa. Então, Ryeowook esperou, quieto até que o mesmo se acalmasse em seus braços e perguntasse sobre o gêmeo, afinal, já imaginava que Junmyeon teria falado sobre.

— Onde... onde ele está? — Minseok perguntou por fim, se afastando, limpando as lágrimas dos olhos.

— No quarto.

O quarto. O quarto que eles tinham dividido desde sempre. Era surreal demais que ele estivesse mesmo lá depois de tanto tempo que não estivera, quando todos os seus detalhes já tinham esfriado. Minseok deu um passo para trás, pronto para correr até lá e Ryeowook assentiu, como que dizendo que estava tudo bem e então, ele foi. Nem ao menos lembrou-se de Chanyeol.

E por um momento, o alfa ficou confuso. Não sabia se devia seguir o ômega, parecia como se fosse invadir um território que não era seu. Travou seus passos, encarou as costas de Minseok sumindo pelo corredor, abrindo uma porta e entrando. Ryeowook o fitou, limpou a garganta chamando sua atenção.

— Quer um café? — perguntou e Chanyeol assentiu, porque não sabia mais o que deveria fazer.

Chanyeol entrou de vez na cozinha e viu o ômega se agitar pelo local, colocando um pouco de café em uma xícara para si e quando servido, o alfa agradeceu e bebeu devagar, em silêncio. Até aquele momento, não tinha tido oportunidade de conhecer o pai do seu ômega.

— Eu acho que Minseok vai demorar, então, você poderia ir ver seus pais. — ele sugeriu e os olhos do alfa se arregalaram, só naquele momento lembrando-se dos pais.

Ficara tão imerso na possibilidade de ver Kyungsoo, que esquecera os pais. Se viu bebendo o café com pressa, queria correr até seu omma, conhecer sua irmãzinha e quem sabe, conseguir um abraço do seu pai alfa. Estava morrendo de saudades. Ele deixou a xícara vazia sobre a bancada e agradeceu ao ômega, curvando-se do jeito mais educado que conseguia.

— Eles estão na casa ao lado. — indicou e Chanyeol assentiu.

Saiu pela porta e correu até a casa ao lado, desejando poder voltar logo ali. Queria tanto ver Kyungsoo, abraça-lo, que doía seu peito. Mas sabia que teria seu momento, era só uma questão de tempo. Só precisava aguentar mais um pouco. Respirou fundo e bateu na porta da casa ao lado ao mesmo tempo que Kim Minseok ainda encarava seu irmão, parado na entrada do quarto que eles tinham dividido por longos anos. Kyungsoo o estava encarando, meio surpreso, a testa franzida como se tentasse lembrar de si e Minseok quis chorar mais uma vez, porque nunca achou que o irmão pudesse voltar daquela maneira, sem lembrança nenhuma dele ou da família.

Junmyeon tinha lhe explicado o problema, contado tudo que sabia e tudo o que Kyungsoo lhe contara. Eles o tinham examinado, haviam feito os testes corretos e tudo apontava para amnésia. Mas era temporário, Junmyeon lhe assegurara, ele vai voltar ao normal, só precisa de tempo para se curar. E tudo bem, Minseok pensou quando deu um passo em sua direção.

— Você... você lembra de mim? — perguntou com cuidado e Kyungsoo, sentado na beira da cama, o fitou com grandes olhos confusos.

— Você é meu irmão. — respondeu, mas parecia mais uma informação decorada do que como se ele sentisse isso.

Era possível que seus pais tenham mostrado suas fotos, dado nomes e sobrenomes, contato a história inteira. E Minseok piscou as lágrimas para longe quando se aproximou mais um pouco.

— Nós somos gêmeos. — ele disse chegando mais perto, tinha medo que o ômega saísse correndo diante de uma demonstração mais desesperada. — Mas eu sou mais velho. — e riu e Kyungsoo riu em resposta.

E então, Minseok chorou. Abaixando o rosto e ficando parado no meio do caminho, nem perto nem longe do irmão. Sentira mais falta daquele sorriso do que conseguia dimensionar e tê-lo de volta assim, tão de repente, o desmontou inteiro.

Kyungsoo o fitou um tempo até que decidiu se levantar, podia imaginar que não estava sendo fácil pra ele da mesma forma que não estava sendo fácil para si. Aproximou-se devagar, suas costas estavam cada vez mais doloridas devido ao peso da barriga de sete meses. Estendeu os braços em direção ao gêmeo, meio sem jeito já que a barriga dificultava que eles se abraçassem completamente. Minseok riu, meio chorando, do seu esforço e Kyungsoo acabou rindo também. E ali estava, percebeu, aquela familiaridade. Cada parte sua gritava como conhecia Minseok, sabia tudo sobre ele, assim com o contrário era verdadeiro. Realmente se sentia irmão de Kim Minseok, realmente se sentia um Kim.

O mais velho o abraçou meio de lado, ainda chorando, fungava contra seu ombro. Ele era mais alto, Kyungsoo percebeu. E quis rir mais um pouco com aquilo, porque na sua mente alguns flashes se faziam presentes enquanto seu peito era tomado por sentimentos familiares.

— Vo-você está mesmo esperando um bebê. — Minseok constatou, os olhos brilhando por causa das lágrimas, mas havia outra coisa também, mais doce.

— Sete meses. — Kyungsoo disse com orgulho. — Eu o chamo de Sonolento.

E Minseok riu, dessa vez jogando a cabeça para trás. Parecia tão a cara de Kyungsoo dar um apelido para o próprio filho, alguém que não havia nascido ainda.

— Olá, Sonolento. — deslizou a mão pela barriga dele, descendo e subindo com carinho. — Eu sou seu tio.

Kyungsoo segurou-lhe a mão, tirando-a dali e o puxou em direção a cama. Eles sentaram-se ali e depois estavam se abraçando de novo.

— Você foi para a França. — Kyungsoo disse subitamente e Minseok se afastou para fita-lo. — Por cinco anos.

Assentiu para o irmão, percebeu que Kyungsoo se esforçava para lembrar de algumas coisas.

— Eu senti saudades. — confessou baixo, olhando-o nos olhos e Minseok sentiu o próprio lábio tremer e então, estava de novo abraçando-o, chorando.

Não conseguia conter as lágrimas. Sentia-se tão aliviado, tão feliz pelo irmão estar com ele novamente.

— E-eu também. — soluçou contra seu ombro.

Kyungsoo acariciou suas costas, devagar, tentando dar algum conforto e para falar a verdade, o próprio ômega também precisava de um conforto. E eles ficaram ali, abraçados por bastante tempo, até que Minseok parasse de chorar e as lágrimas secassem em seu rosto.

— Junmyeon me contou o que aconteceu. — Kyungsoo tornou a falar e Minseok se afastou para poder fita-lo. — Sobre como casou com Byun Baekhyun.

O Kim devia ter imaginado que o alfa ia falar tudo o que podia sobre seu casamento do mais novo, mas só esperava que ele não tivesse feito parecer que tudo era culpa de Kyungsoo ou que sua vida de casado era um inferno. Nenhuma das duas coisas era verdade. Mas pelo tom que o irmão usara, já sabia que ele tinha uma ideia errada da situação.

— Não foi culpa sua, se é o que está pensando. — Kyungsoo abaixou os olhos, brincou com a barra da sua camisa, deixando que Minseok confirmasse suas suspeitas. — Foi melhor uma aliança com os Byun’s do que com os Oh’s, olhe só, até mesmo temos os Lu’s agora.

Kyungsoo suspirou, levantou os olhos para fita-lo. Não parecia que tinham a mesma idade, era como se o gêmeo fosse infinitamente mais novo.

— Não está infeliz no casamento? — perguntou, então.

Minseok piscou. Havia sido pego de surpresa. Seus olhos se arregalaram um pouco, mas depois estava se recuperando quando um sorriso surgiu nos seus lábios.

— Eu sei me cuidar, ok? — não respondeu à pergunta, parecia um pouco pessoal demais responder aquilo quando Kyungsoo não lembrava dos detalhes daquela aliança. Mas o irmão cruzou os braços, esperando mais do que só aquelas palavras, o que o obrigou a continuar. — Não estou infeliz. — e bem podia sentir-se corando, coisa que não entendia, assim como não entendia por que estava pensando em Baekhyun novamente.

O gêmeo sorriu com isso e Minseok sorriu de volta.

— Sempre soube que tinha uma quedinha por ele. — Kyungsoo disse subitamente, rindo, como se soubesse de tudo o que se passava na mente do outro. — Eu gosto do cheiro dele. — imitou a voz do irmão e Minseok abriu a boca, surpreso.

— Disso você lembra! — acusou enquanto as bochechas ficavam muito vermelhas.

E os dois gargalharam.

Era bom demais estar de volta, Kyungsoo pensou. Sentia-se em casa de novo. Estava no lugar certo e tinha mais certeza disso a medida que Minseok começou a contar tudo o que acontecera, sobre seus pais, sobre seu casamento, sobre os Lu’s, tudo sobre todos. Kyungsoo escutou, riu de algumas coisas e depois contou tudo que acontecera consigo, as coisas que lembrava. Ficaram muito tempo conversando, rindo, cochichando segredinhos engraçados um pro outro até que o pai ômega, Heechul apareceu na porta do quarto. Minseok se levantou e correu até o pai para receber um abraço.

Kyungsoo também ganhou um abraço e um afago na cabeça, depois eles seguiram o mais velho até a mesa do almoço. E quando se sentou lá, Kyungsoo achou que seria apenas eles, a família, da forma que tinha sido desde que voltara para casa, mas não era o caso daquela vez. Lu Han estava lá com Yixing em seu colo, ambos dividiam um prato de comida devido as poucas louças e lugares, mas havia comida suficiente para todos. O Kim passou a mão na barriga, imaginando a sua vez de alimentar seu bebê da forma como Lu Han fazia com seu.

Henry também estava ali, sentando-se do lado esquerdo de Minseok, entortou os lábios quando viu o chinês cochichando alguma coisa para o irmão. Não sabia por que sentia tantos ciúmes do ômega. E então, o senhor Byun estava ali junto do seu marido, Lee Donghae. O ômega trazia nos braços um pacotinho, bem embrulhado e Kyungsoo sorriu, porque bem conhecia a filhotinha recém-nascida deles. Ji Eun.

Oh Sehun estava ali também, lançando olhares nenhum pouco discretos para seu irmão. Mas Kyungsoo não o culpava, ficava apenas imaginando como o alfa devia estar sofrendo com a forma como perdia Minseok um pouco a cada dia para Byun Baekhyun. Seus pais ômegas estavam ali também, colocando as comidas na mesa. Avistou seu pai alfa, Leeteuk, quieto no canto da mesa. Não olhava para si e muito menos para Minseok, parecia envergonhado.

Kyungsoo suspirou e se preparou para se servir quando Minseok ficou de pé, abruptamente, o afastar da cadeira fez um som doloroso que chamou a atenção de todos. O ômega lançou um olhar preocupado para o irmão, que detinha uma mão em frente a boca, como se estivesse prestes a vomitar. Henry fez menção de se levantar também, o rosto cheio de preocupação, mas Minseok não esperou nada, só correu dali, sumiu pelo corredor em busca do banheiro. Sehun levantou-se muito rápido e o seguiu e como que prevendo alguma coisa, Henry foi atrás também ao mesmo tempo que todos olhavam para a cena.

O Kim mais novo só franzio a testa, confuso com o que tinha acontecido. Não estava entendendo nada e muito menos fez questão de se levantar, seus pés estavam cada vez mais doloridos para que cogitasse correr atrás do irmão e além do mais sabia que Sehun e Henry cuidariam do que quer que tivesse acontecido com seu gêmeo. Então, voltou a arrumar sua postura na mesa, pronto para começar a se servir. Mas então, percebeu algo queimar em si, levantou o rosto procurando quem quer o tivesse olhando com tanta intensidade e encontrou um homem, alto demais, parado na entrada da cozinha. Seus olhos se arregalaram para cima de si, mas Kyungsoo não o reconheceu, por isso só piscou os olhos e depois voltou a se servir.

O homem se aproximou e Kyungsoo pôde sentir o seu cheiro, era um alfa. Mas o cheiro, conhecia aquele cheiro. Travou seus movimentos, voltou a olhar para o alfa, a testa franzida fazendo-o parecer bravo para o outro. Eles se fitaram e Kyungsoo mordeu o lábio, o nome estava na ponta da língua, mas não conseguia formar a palavra direito. Estava uma bagunça na ponta da sua língua, na verdade.

Chanyeol. — escutou alguém chamar e o alfa respondeu, se afastou até o senhor Lee, que parecia ser quem tinha dito.

Kyungsoo ficou observando a cena. O alfa pegou o bebê no colo e o levou para a sala, afim de dar uma folga aos pais para o almoço. O ômega entortou a cabeça um pouquinho para olhar melhor o perfil do alfa, mas não conseguia lembrar. Havia só um grande borrão na sua mente, então resolveu se levantar e ir até ele. Não ia conseguir comer enquanto não soubesse de onde o conhecia. Foi até a sala, parou em frente à ele, que estava sentado no sofá, e mesmo naquela posição parecia imenso para Kyungsoo. Com o bebê minúsculo nos braços, o Kim quis rir. Ele era grande demais para ser tão delicado, mas incrivelmente conseguia sê-lo.

— Eu conheço você. — o ômega resolveu dizer de uma vez, nunca tinha sido muito bom em rodeios.

Chanyeol ergueu o olhar para si e esperou, mesmo que já soubesse o que o aguardava: um grande nada. Junmyeon havia o alertado sobre isso, contara todos os detalhes que sabia e um deles incluía que Kim Kyungsoo não lembrava de si e muito menos lembrava a quem pertencia a paternidade do filhote que carregava no ventre. O alfa desviou os olhos para a barriga avantajada. Quantos meses teria? 6 ou 7 meses? Kyungsoo parecia tão redondo, que quis rir, mas bem no fundo só queria chorar. Havia sido um idiota com o ômega, o maior de todos quando simplesmente desapareceu. Deixou-o para trás no momento mais sombrio da sua vida, simplesmente por ser covarde demais. E agora, que estava frente a frente consigo, não tinha coragem de se aproximar da forma que queria.

— Byun Chanyeol. — se apresentou de uma vez, odiava a forma como os olhos de Kyungsoo pareciam vagos quando sobre si.

Nenhum pouco parecidos com o castanho amoroso que tomava conta das suas memórias. Isso o fazia sentir que não era só as memórias que o Kim perderá, havia também perdido os sentimentos por si, todos eles. Talvez, aquilo fosse o seu castigo por ter sido um grande covarde.

O ômega abriu a boca para perguntar queria mais detalhes, queria alguma coisa que não sabia nomear, mas sentia seu coração se contorcendo no seu peito, deixava-o louco. Louco por alguma coisa. Mas no momento que a pergunta se formou na sua boca, a porta da sala se abriu e Kim Junmyeon junto de Byun Baekhyun e Lu Jongin estavam ali. Jongin tinha o braço entrelaçado com o irmão mais velho, do jeito que casais fazem. Kyungsoo sorriu porque eles formavam um belo casal, mesmo que seu irmão fosse baixo perto do ômega. E atrás deles estavam Byun Baekhyun, o cabelo escuro se jogava para trás, como se tivesse corrido até ali, mas imaginou que ele tinha vindo no carro com a janela aberta.

Era de se esperar, estava quente demais naquele dia. O Byun tirou os sapatos enquanto Junmyeon se afastava, sendo levado por Jongin até a cozinha. O irmão estava tão distraído com o noivo que não notou Chanyeol sentado no sofá, em frente ao irmão mais novo e uma parte de Kyungsoo agradeceu por isso, o Kim mais velho andava bem irritante quando o assunto eram os Byun’s.

Baekhyun começou a andar, iria para a cozinha, mas travou no meio do caminho quando notou Kyungsoo. E sua boca mexeu-se, formando o seu nome e subitamente o ômega sorriu. Lembrava-se dele, se deu conta. As lembranças estavam ali, vagando na sua mente. O alfa de olhar azedo que implicava com Minseok na escola.

Ele se afastou do alfa no sofá e foi em direção ao seu irmão, colocou as mãos na cintura e disse com toda a certeza que reunirá:

— Você é Byun Baekhyun.

Baekhyun teve coragem de sorrir.

— Você está enorme. — admirou-se, numa brincadeira que Kyungsoo entendeu. E logo, era como se nunca tivesse acontecido acidente algum.

Alguma coisa em si gritava, alertando como Byun Baekhyun era a pessoa mais confiável do mundo, que ele havia feito algo para protege-lo no passado, no entanto, Kyungsoo não lembrava dos detalhes. Só havia a certeza misteriosa dentro de si.

E do sofá, Chanyeol observava tudo chocado. Como Kyungsoo lembrava-se do seu irmão e não dele? Com certeza aquilo era um castigo de Dal. Abaixou os olhos para o bebê que tinha nos braços e o balançou devagar, quando notou que ela acordaria.

— Essa é...? — Baekhyun se aproximou tão silenciosamente, que o alfa assustou-se.

Mas logo estava confirmando e o irmão sorriu.

— Deixe-me... — ele nem ao menos conseguia terminar a frase, mas Chanyeol entendeu mesmo assim quando estendeu a irmã em direção ao alfa.

Baekhyun a segurou meio desajeitado ao mesmo tempo que Kyungsoo se aproximava, sentava-se ao lado de Chanyeol no sofá. Ele agia tão natural ao seu lado, como se não soubesse de nada sobre eles, como se eles dois nunca tivessem existido. Observou o irmão balançando a pequena nos braços, o corpo um pouco duro demais.

— Eu posso ficar com ela. — ele se ofereceu, mas Chanyeol sabia que não podia aceitar. Baekhyun era quem tinha trabalhado mais até ali.

— Não, tudo bem. — Chanyeol aceitou o bebê em seus braços de novo. — Vão comer. — disse para os dois.

Kyungsoo esticou a mão em direção a Baekhyun, pedindo ajuda para ficar de pé. E o alfa o ajudou e Chanyeol quase rosnou com o ato, mas depois estava ficando triste. E quando eles se afastaram, o alfa não pôde evitar fungar um pouco. Estava realmente sendo castigado. Mas não teve tempo para se lamentar um pouco mais, porque a porta estava se abrindo novamente, um sentinela entrou. Chanyeol observou de onde estava, quando ele foi em direção a cozinha atrás do líder Kim.

Junmyeon correu com ele para fora da casa. O que será que tinha acontecido?

Mas logo a resposta estava ali. Sentou-se ao seu lado no sofá, os olhos eram bem escuros e as mãos estavam algemadas.

— Quem é você? — Chanyeol perguntou ao prisioneiro e o alfa sorriu para si, arrependido e triste.

— Kim Jongdae. — o Byun franzio o cenho diante da informação. — Na verdade, Byun Jongdae. Seu irmão mais velho.

E Chanyeol abriu a boca, em choque total.


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