Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 46
XVI - Sangue de lobo




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Minseok sentiu a palma do marido no seu quadril, quente. Teve seu corpo virado de peito para cima, no chão daquela salinha, no quarto de Baekhyun, na Alcateia Park. O tapete era áspero contra suas costas, machucava um pouco, não se importava realmente, principalmente pela forma como os olhos de Baekhyun estavam mergulhados em âmbar, claro demais para que Minseok conseguisse desejar outro par de olhos, outra cor. Empertigou-se na direção do alfa, as mãos procuraram se fincar na nuca dele puxando-o em seu encontro.

Ele estava pronto, mais uma vez naquela noite, Minseok estava pronto para ceder à Baekhyun mais um pouco. E Baekhyun parecia estar pronto para ceder também, porque não oferecia resistência diante dos toques do ômega, não se contia em seus sons e parecia querer mais a cada segundo, da mesma forma que o loiro. Eles rolaram no chão, beijaram-se com fervor até conseguir chegar ao quarto. Embolaram-se um no outro, perdendo-se em toques e sons, apenas para adormecerem, abraçados, compartilhando o calor que o outro exalava.

Era manhã quando Minseok acordou. O quarto inteiro estava iluminado pela luz do sol que entrava pela janela aberta, o que só serviu para que o ômega grunhisse em desagrado. Seus olhos arderam, por isso os fechou e voltou a cobrir sua cabeça com o cobertor. Ao seu lado, Baekhyun mexeu-se, deitado de peito para baixo, virou-se de lado e enlaçou a cintura do marido, puxando-o para perto. Minseok aconchegou-se nele sem perceber muito o que estava fazendo, ao mesmo tempo que descobria a cabeça.

Voltou a dormir.

Acordou novamente com Baekhyun mexendo-se ao seu lado, acordando. Piscou os olhos e se afastou, rolando pro lado, notando que o marido agora sentava-se de costas para si, na beira da cama. O quarto se iluminava inteiro, mesmo que o ômega tivesse notado que já não era como antes, parecia um claro sinal de chuva. Molhou os lábios e ergueu a mão para esfregar os olhos, quem sabe assim a visão melhorava, mas quando voltou a abrir os olhos notou que Baekhyun já estava de pé, esticando os braços e estralando os dedos, mexendo o pescoço, como se estivesse se preparando para correr uma maratona. Minseok se limitou a apertar mais o lençol em volta de si, muito bem aconchegado e aquecido. Deixou que os olhos se fechassem por um momento, apenas para sentir a palma de Baekhyun sobre seu ombro, chacoalhando-o levemente. O fitou com os olhos semiabertos.

— Nós temos que ir. — o alfa disse suavemente, o rosto inteiro denunciava como odiava a ideia de acorda-lo tão cedo.

Minseok assentiu, mesmo que não tivesse entendido muito bem o que o alfa falará. Seu cérebro ainda estava no modo automático, pois nem ao menos se incomodou quando Baekhyun afastou o lençol do seu corpo ou quando a mão dele subiu e bagunçou o seu cabelo já bagunçado. Os olhos foram se arregalando aos pouquinhos, focando muito bem no rosto do alfa, os lábios se comprimindo ao passo que seu cérebro registrava o que estava acontecendo de verdade, mas mesmo assim se viu erguendo a mão e terminando de bagunçar o cabelo do outro, num claro revide que só serviu para fazer Baekhyun rir e Minseok arfar com a forma como seu lobo inteiro estremeceu dentro de si.

— Nós vamos nos atrasar. — Baekhyun continuou, sem notar o modo como Minseok parecia desconsertado. — Precisamos estar em casa antes do almoço. — ele afastou-se e Minseok sentou-se na cama, as pernas cruzadas.

— Por que? — perguntou enquanto esticava os braços para cima e Baekhyun ia em direção ao banheiro.

— Almoço de negócios. — contou antes de fechar a porta do banheiro.

Minseok fitou a porta fechada, perguntando-se quando eles tinham atingindo aquele patamar, porque uma semana antes, eles nem sequer conversavam ou o ômega fazia perguntas sobre a agenda do marido, mas seja lá o que fosse, Minseok só conseguia se sentir satisfeito. Aquilo com toda certeza era melhor do que o clima estranho que sempre os perseguia.

Deitou-se novamente, respirou fundo e sorriu de olhos fechados enquanto sentia o seu lobo satisfeito também. Estava tudo correndo bem, percebeu. Abriu os olhos novamente e rolou na cama, voltou a fitar a porta do banheiro. Desviou os olhos para o relógio sobre o criado mudo ao lado da cama, ainda era muito cedo. Nem ao menos era ou estava perto de ser oito da manhã. Eles não iriam se atrasar para a reunião de Baekhyun mesmo se quisessem, afinal eram apenas meia hora de viagem até em casa.

Casa.

Nem ao menos conseguia evitar pensar na Alcateia Byun como casa, mesmo que parecesse estranho para si aquele nome soar tão natural em seus pensamentos. Não conseguia dizer quando acontecera, o exato momento em que aquele lugar deixou de ser a sua prisão e tornou-se um lar. Achava que era culpa de Lee Donghae, que cuidava de si como se fosse seu filhote e dava um ar mais caloroso para aquela casa. Mas talvez, fosse culpa de Siwon e do seu jeito silencioso de tomar conta das coisas, porque mesmo que ninguém o dissesse, Minseok sabia que o alfa tinha tido suas conversas com o filho mais velho, alertando-o sobre como se comportar diante de si.

O ômega lembrava do modo como os tinha escutado sussurrar, Siwon com sua voz autoritária e Baekhyun escutando tudo em silêncio. Era estranho, porque o fazia se sentir um animal selvagem, como se ele não fosse alguém com sangue de lobo como os Byun’s. Mas tudo isso foi passando, o costume começou aparecer e então, tudo parecia natural como se Minseok tivesse morado ali a vida inteira. Ainda tinha alguns problemas com os lobos Byun’s, todos ainda desconfiados com sua presença, mas nada que o transformasse numa ameaça imediata. Alguns até mesmo o apoiavam, como as empregadas da Casa Principal, perguntavam quando os filhotes viriam.

Minseok esperava que logo, mesmo que não tivesse muita certeza se realmente viriam um dia. Ou se viria, no singular, ao menos um. No fundo, desejava que viesse. Seu lobo desejava um filhote e ele mesmo, também. Uma pequena cópia sua ou de Baekhyun ou uma fusão dos dois, não importava. Minseok apenas queria ser capaz de gerar uma outra vida, de construir uma família, de provar a si mesmo que podia ser mais do que o que a Organização criou. Contudo, não seria fácil.

Suspirou.

Fitou a porta do banheiro mais um pouco antes de decidir ficar de pé e ir até lá, afinal, mesmo que não desse certo, ele ainda deveria tentar. Só que era estranho querer tanto aquilo naquele momento. A urgência em cumprir seu trato com Lu Han o empertigava naquilo? Ou a urgência em se desligar de vez da Organização era o que o movia? Parou em frente a porta do banheiro, ergueu a mão e segurou a maçaneta da porta. Podia gira-la agora, entrar, fazer o que estava pensando, sabia que Baekhyun não resistiria. O alfa parecia ter destruído os muros para que Minseok pudesse se sentir mais à vontade consigo, estava mais acessível desde a conversa de ontem.

As confissões perigosas, que ainda deixavam o ômega com o estômago frio em ansiedade e o seu lobo agitado, fazia-o se sentir um adolescente. Confuso, preferia dizer à si mesmo, apesar de achar que esta não era a palavra certa para defini-lo. Contudo, precisava destacar a forma como Baekhyun o tinha fitado, o jeito como erguera a mão para afaga-lhe o rosto depois de tantos beijos fervorosos, o jeito carinhoso como a ponta dos seus dedos deslizou por suas costas, quadril, coxas. O sorriso no canto da boca quando Minseok o viu dormir, a expressão inteira relaxada, como se tivesse tirado de cima de si um milhão de pesos. E talvez, tivesse tirado mesmo, porque Minseok não conseguia se imaginar passar tanto tempo carregando uma confusão como aquela, preso em cima do muro, com medo demais de descobrir o que realmente era.

Mas mesmo com isso, ele havia contado. Com palavras sussurradas, inseguro, fingindo que não era nada demais, deixando Minseok chocado e tão confuso quanto o marido. Todavia, admirado com a forma como Baekhyun confiou em si.

Afastou a mão da maçaneta e deu um passo para trás. Voltou até a cama e sentou-se na beira desta, as mãos se juntaram sobre as coxas e os pensamentos foram para longe enquanto as inseguranças chegavam até si em uma velocidade avassaladora. Fechou os olhos e deitou-se na cama, a ponta dos pés tocavam o chão ainda. Escutou a porta do banheiro abrir-se, mas não abriu os olhos, só ficou gravando o modo como os passos de Baekhyun soavam, o cheiro dele espalhando-se mais um pouco pelo cômodo com lentidão.

— Você viu meu celular? — Baekhyun perguntou depois de procurar sobre o criado mudo e ir até a pequena salinha e voltar até o quarto.

— Baek. — tomou coragem para usar o apelido, sem abrir os olhos ainda e fazendo o alfa fita-lo, surpreso e confuso por escutar aquilo. — Eu preciso contar algo. — abriu os olhos apenas para encontrar a figura curiosa de Baekhyun em pé, na sua frente, parecendo tão terrivelmente maior do que si.

Baekhyun esperou enquanto Minseok voltava a se sentar na beira da cama, o chão estava frio e as nuvens tinham tomado conta de todo o céu porque o sol já não entrava mais pela janela, o quarto todo estava cinza.

— O que é? — se pronunciou quando o ômega ficou quieto.

— Um segredo. — fitaram-se ao mesmo tempo que Minseok sentia a palma das mãos suarem e o estômago se revirar em nervosismo, mas precisava afastar aquilo de si, afinal, era a sua vez de fazer uma confissão perigosa. Realmente perigosa. — É sobre o significado da minha tatuagem. — desviou os olhos dos de Baekhyun, não ia conseguir contar aquilo fitando-o daquela maneira, estava o deixando nervoso demais ficar sob o castanho confuso do alfa. — Eu... eu... não é sobre o que parece... eu não sou o que pareço. — as frases saiam confusas dos seus lábios e ele bem podia imaginar o modo como a expressão de confusão de Baekhyun se intensificava cada vez mais.

— O que quer dizer? — o alfa tentou, a mão se ergueu para se esconder na nuca, demonstrando o quanto não estava entendendo o que o ômega dizia.

E subitamente, Minseok jogou-se sobre a cama, os braços se abriram enquanto os olhos se fechavam, estava pronto para ser crucificado, mas Baekhyun não sabia pelo que e muito menos se seria ele a fazê-lo. Observou quando os lábios do loiro se comprimiram antes que o lábio inferior fosse preso entre os dentes e então, soltou no minuto seguinte, ao passo que a boca delicada se abrir para contar o que o afligia:

— A escola que frequentei na adolescência não era uma escola para ômegas comuns. — outro suspiro e os olhos ainda fechados, fazia Baekhyun querer se debruçar sobre ele, beija-lhe as bochechas pálidas de frio e nervosismo, conforta-lo para tentar afastar toda aquela angustia do seu rosto. — Existe uma organização clandestina formada por ômegas de todos os lugares, eles são encarregados de manter a linha entre humanos e lobos bem dividida. — seus olhos abriram-se, o castanho claro encontrou o escuro dos olhos do Byun, sérios demais, fazendo-o entender que aquilo era real. — Eles nos recrutam ainda adolescentes, nos treinam naquilo que os convém e quando atingimos a maioridade, somos classificados de acordo com as nossas habilidades. — Minseok voltou a se sentar e Baekhyun deu um passo para trás, de repente não conseguia reconhecer o ômega ali. — Eu... eu fui classificado como um ômega negro. — saiu como um sussurro, alto o suficiente para que Baekhyun escutasse.

Eles encararam-se. O silêncio tomou conta do lugar e Minseok sentiu que bem poderia sufocar só com a forma como era olhado, com um horror que não deveria estar ali. Engoliu em seco e abaixou o rosto, esperou que alguma indignação viesse, esperou que fosse chamado de mentiroso, que Baekhyun fizesse alguma piada e o desacreditasse da mesma forma como acontecera com Sehun*.

— O que isso significa? — a pergunta veio cuidadosa, fazendo Minseok erguer o rosto devagar, curioso pelo tom delicado usado.

Baekhyun deu um passo em sua direção, de repente, cheio de coragem para desvendar aquela pessoa à sua frente, agora que os muros estavam, finalmente, no chão.

— Eu não acho que vai querer saber. — tornou a abaixar o rosto, fitou suas mãos, como se pudesse ver nela todo o sangue que já fez derramar.

— Estou perguntando, não? — Baekhyun teimou e Minseok esboçou um sorriso que o marido nunca veria. — O que isso significa? — perguntou novamente.

Soltou o ar pela boca, achando que assim poderia encontrar as palavras certas para explicar o que de fato era, o que a Organização havia feito consigo.

— Significa — a língua bateu contra os dentes em nervosismo. — que eu sou bom em eliminar problemas.

Baekhyun engoliu em seco, entendendo muito bem o que Minseok queria dizer com problemas. Então, o silêncio estava ali de novo, abraçando cada um deles, deixando-os desconfortável. Nenhum dos dois sabia o que mais poderia dizer e para o bem da verdade, Baekhyun não sabia o que pensar. Seu marido estava ali, na sua frente, dizendo que era um assassino profissional. Uma parte sua queria gritar como aquilo era uma loucura, que se fosse mesmo verdade, Minseok deveria ser preso, condenado à morte como mandava a lei. Mas a outra parte, apenas não era capaz de acreditar.

Aquilo deveria ser algum tipo de piada. Em algum momento Minseok começaria a rir, diria que foi uma brincadeira, mas quanto mais os segundos passavam, mais Baekhyun entendia que aquilo tudo era verdade. Se viu dando um passo para trás, as costas encostaram-se na parede ao lado da porta do banheiro e ele deixou-se cair sentado, as pernas esticadas à sua frente enquanto os olhos não eram capazes de se afastar do marido, achava que se o fitasse por tempo suficiente seria capaz de ver a verdade de uma vez, de conectar aquela aparência com a de um assassino de sangue frio. Contudo, nada vinha.

Era apenas Minseok à sua frente. Pequeno, loiro, delicado e teimoso. Era apenas Kim Minseok com seus olhos gateados eternamente desconfiados sobre tudo e todos, o quieto Minseok que sabia lutar.... que sabia segurar uma arma com mais firmeza que qualquer alfa, que tinha o rosto duro em situações extremas, nunca se comportando como um ômega frágil, nunca pedindo proteção, nunca abaixando a cabeça para qualquer um.

Seus ombros abaixaram-se.

— Por que me contou isso? — A pergunta saiu mais urgente do que queria.

— Achei que podia confiar em você.

Encararam-se, Baekhyun procurou no rosto do ômega qualquer sinal de que estaria mentindo, mas não havia nada além de uma vergonha fora do comum, porque o alfa bem podia notar as bochechas deste tornando-se avermelhadas. Engoliu em seco com a visão, não entendendo porque mesmo quando seu lado humano se sentia ameaçado e aterrorizado com a revelação de Minseok, o seu lado lobo apenas queria se aproximar e protegê-lo. Mas antes que pudesse decidir o que realmente faria, escutou o bater da porta de entrada daquele quarto.

Ambos olharam para a entrada do quarto, achando que podiam ver dali o causador daquele barulho, mas vendo que não conseguiria, Baekhyun foi o primeiro a ficar de pé. Minseok viu aquilo como algum tipo de deixa para se afastar, pois logo estava anunciando que iria tomar banho, deixando o alfa sozinho com quem quer que fosse a pessoa.

Ele fechou-se dentro do banheiro e relaxou o corpo contra a porta. Sentia-se aliviado por ter contado à alguém sobre a Organização, mas mesmo aquele alívio não parecia ser páreo para a insegurança que agora sentia em relação a Baekhyun. O jeito como o alfa o tinha fitado, sem conseguir reconhece-lo, sem conseguir associa-lo as palavras ditas, deixava Minseok com medo. Só não entendia porque exatamente, apenas sabia que não queria que Baekhyun se afastasse.

Retirou as roupas do corpo e foi em direção ao boxe, precisava de um banho demorado. Quem sabe assim conseguisse colocar os pensamentos e sentimentos em ordem. No entanto, quando saiu do banho, ainda se sentia nervoso e parecia piorar com a forma que se dava conta de que Baekhyun estava do outro lado daquela porta. Respirou fundo ao encarar seu reflexo no espelho depois de escovar os dentes, a toalha estava envolta da cintura e ele ainda podia ver algumas manchas arroxeadas no seu pescoço, denunciando a noite passada.

Suspirou antes de dar as costas ao espelho e ir em direção a saída do banheiro. Quando saiu, não encontrou Baekhyun como esperava. Andou em direção ao armário e procurou algo do marido para vestir, já que ali não tinha roupas suas. Fez o processo mais calmo que conseguia, numa tentativa de evitar o momento em que veria Baekhyun, contudo, seu plano foi arruinado no momento em que o alfa entrou no quarto. O rosto muito sério, fazendo o ômega comprimir os lábios enquanto terminava de colocar a camisa, passando-a rápido pela cabeça.

— Temos um problema. — ele alertou.

— O que aconteceu? — deu um passo em direção ao marido.

— Estamos presos.

***

Kibum acompanhou Sungmin pela Alcateia Park, naquela manhã pós-festival. Tudo parecia um tanto bagunçado e as nuvens cinzentas no céu, só serviam para deixar o lugar mais decadente ainda. Franzio o nariz para um grupo de ômegas que passou ao seu lado, rindo e com cheiro de noite, alfa e álcool no corpo. Sungmin vendo a forma que o rosto do alfa se contorcia em desagrado, revirou os olhos, pensou em dizer alguma coisa, mas achou melhor continuar o caminho. Afinal, eles já haviam tido problemas demais no caminho até ali, coisas que duvidava que Kibum quisesse comentar algum dia.

Mas Sungmin não podia culpa-lo, afinal, a Lua mexia com qualquer um, menos os betas. Os da sua classe eram abençoados com a sabedoria, não precisavam do instinto gritando em suas veias uma vez a cada três meses, isso pertencia apenas aos ômegas e alfas. E mesmo que muitos ainda dissessem o quanto betas eram deficientes, o Lee não achava que era isso. Não era um erro genético ou maldição da Mãe Lua, era uma benção.

— Nós já estamos chegando. — falou e o alfa assentiu, os olhos passeando pela arquitetura antiquada do Clã Park.

Eles não eram construtores como os Oh’s ou agricultores como os Kim’s, muito menos criativos como os Byun’s. Mas Sungmin reconhecia que a Família Park tinha feito um bom trabalho com o passar dos anos ali, todas as construções carregavam a identidade dos seus lobos, exaltavam a sua religião excessiva para com Dal e Taeyang. Às vezes, o beta se assustava com o fanatismo, mas não conseguia culpa-los quando era com aquilo que Hyukjae conseguia controlar o seu povo, sempre difundindo cada vez mais a religião, prendendo todos em uma rede imaginaria de crenças.

— Você mora aonde? — Kibum perguntou, impaciente.

— Logo ali. — apontou para a construção de muros azuis baixos, a arquitetura de uma casa coreana tradicional. Sungmin conseguia contar os corredores de onde estava e para cada vez que se aproximava, via mais nitidamente a movimentação dos lobos ali dentro, todos com suas roupas características do lugar. Avistou Zitao e ergueu o braço para chama-lo, sorrindo.

Zitao correu na sua direção, pulando o muro azul, parando na sua frente, ofegante e com o rosto preocupado.

— O que é isso? — Kibum se pronunciou, olhando curioso e desconfiado para o ômega mais novo.

— Aconteceu uma coisa, senhor. — ele se dirigiu ao beta, ignorando o alfa ali. — Kyungsoo desapareceu.

Sungmin deu um passo para trás, a mão se ergueu em direção ao amuleto de esmeralda que usava no pescoço, apertou a pedra entre os dedos, sem acreditar no que estava escutando. Kibum deu um passo em direção ao ômega, de repente parecia pronto para entrar em uma briga.

— O que disse, garoto?

— Um dos nossos iniciantes desapareceu. — contou ao alfa.

Kibum olhou para o Lee, esperando uma atitude sobre aquilo, mas este apenas se limitou a suspirar, resignado com aquilo.

— Vamos entrar. — ele disse, por fim, retomando o passo. — Lá dentro podemos conversar melhor. — o garoto ômega, Zitao, começou a segui-lo.

— Espera. — Kibum, indignou-se. — Nós devíamos procura-lo, agora! — parecia exaltado mesmo que não quisesse, estava cansado e estressado com aquela história toda. Só queria devolver Kyungsoo e limpar a ficha do seu irmão irresponsável antes que Zhoumi descobrisse qualquer coisa ou os Kim’s ficassem mais furiosos.

— Kibum, acalme-se. — o beta virou-se para ele, as mãos estendidas como que afim de impedi-lo de sair correndo por aí. — Lá dentro Zitao pode nos dar mais detalhes do que aconteceu e você bem sabe que não é seguro falar aqui fora. — a mandíbula do alfa trincou, impaciente, pensando no quanto tempo perderiam com aquela conversa, mas não podia deixar de levar em consideração o fato de que Sungmin tinha razão.

Soltou o ar pela boca e assentiu para o amigo de trabalho e logo, eles três estavam entrando no Santuário. Ao mesmo tempo que não muito longe dali, Kyungsoo era acordado com um pequeno chute no joelho.

O ômega grávido abriu os olhos vagarosamente, enquanto a claridade do dia acertava-o em cheio, mesmo que pudesse notar que não estava tão iluminado como costumava ser. Esfregou os olhos afim de conseguir focar em algo, mais precisamente, na pessoa à sua frente, que tinha chutado-lhe o joelho de leve. A mulher se erguia em um vestido diferente da noite passada, o cabelo solto, caindo comprido abaixo da cintura, pelo que Kyungsoo conseguia perceber. Trazia um cigarro na mão, mesmo que não combinasse com sua vestimenta de sacerdotisa. O tecido bege, alcançando os tornozelos, os pés estavam calçados em sapatilhas pretas e não havia decote algum em sua roupa. Parecia tão inofensiva quanto qualquer mulher naquela Alcateia.

Mas Kyungsoo sabia mais. Principalmente, pelo jeito como os olhos dela brilharam dourados para cima de si, cheios de uma malícia que deu calafrios em si. Contudo, não podia vacilar agora, quando fora ele quem viera atrás dela. Atrás de respostas.

— O que faz aqui? — ela perguntou depois de tragar um pouco do cigarro, no segundo seguinte a fumaça estava saindo dos seus lábios sem maquiagem. — Está atrapalhando a passagem.

Kyungsoo limpou os joelhos antes de se colocar em pé, afastando-se para o lado afim de liberar a passagem. Lee Hi se aproximou da entrada e puxou uma corrente do pescoço, onde havia uma chave, que usou para abrir o cadeado que fechava a porta do seu bordel.

— Ainda não me respondeu.  — ela insistiu quando o ômega ficou em silêncio.

Sentiu o rosto corar e riu, meio nervoso, antes de dizer qualquer coisa:

— Eu... ontem, nós... parecia que você me conhecia.

A mulher riu, o som saia cortado dos seus lábios por causa do cigarro ali.

— Impressão sua. — o cadeado cedeu e logo a porta estava sendo aberta enquanto ela mantinha o cadeado na mão e a chave no pescoço. Ela entrou no estabelecimento e Kyungsoo a acompanhou mesmo não sendo convidado. — Nunca nos vimos antes. — mas havia um certo vacilo no fim da frase, que deu alguma esperança ao outro.

— Não era o que parecia. — tentou mais um pouco, ainda a seguindo pelo lugar até o momento em que ela virou-se de frente para si, o cigarro preso entre os dedos e a fumaça dando enjoos em si.

— Todos podemos nos enganar, garoto. — o cigarro voltou para a boca e Kyungsoo comprimiu os lábios. Ela voltou a andar e o ômega a seguiu.

Alcançaram um corredor, escondido atrás de uma cortina de miçangas. Kyungsoo notou os diversos quartos, todos com suas portas coloridas e nomes escritos nelas. Não se pareciam com o quarto que mãe de Zitao morava, e logo ele entendeu que aqueles quartos deveriam ser exclusivos para a realização dos programas sexuais. Engoliu em seco, mas não deixou que seu passo vacilasse, principalmente porque no fim do corredor, uma porta amarronzada se erguia, com o nome de Lee Hi escrito. A mulher destrancou a porta com a mesma chave que havia no seu pescoço e por isso, Kyungsoo entendeu que aquela chave só podia ser uma chave mestra, aquelas que podiam destrancar qualquer porta. E a porta que se abria não era um quarto, mas sim um escritório.

— Vai me seguir o dia inteiro? — ela brincou, mesmo que sua voz soasse impaciente.

— Se isso fizer você falar a verdade, sim. — cruzou os braços e a mulher riu mais alto.

Lee Hi sentou-se à sua mesa de trabalho e abriu a primeira gaveta ali, puxou alguns papeis e colocou sobre a mesa. Iria ignorar a presença do ômega, quem sabe assim ele fosse embora. Voltasse para o Santuário e a deixasse seguir em frente em paz, contudo, quando deu por si, o garoto estava sentado na cadeira à sua frente, olhando em volta e com nenhuma vontade de se afastar. Ela suspirou, retirando o cigarro da boca e o apagando no cinzeiro ali perto, à sua direita. Já devia ter se acostumado com a forma como Kyungsoo era insistente, teimoso e terrivelmente paciente com as coisas que lhe conviam, afinal, eram anos de reencarnações se perseguindo mesmo que Lee Hi soubesse que o que os ligava já não estava mais ali, a dívida havia sido perdoada. Só que mesmo isso não a impedia de ainda sofrer com as sequelas, tendo constante sonhos com aquele garoto de olhos grandes.

Talvez, ela devesse praticar o perdão naquela vida também, mesmo que não se agradasse nenhum pouco com isso, porque, pelo que podia ver, Kyungsoo a perseguiria até o inferno apenas para saber o motivo que a fez vacilar na sua presença, na noite passada.

A beta apoiou o queixo sobre as mãos e observou o garoto. Podia notar sua barriga e o cheiro doce que vinha de si, denunciando que era um ômega grávido. E ela achava que não havia outra classe que combinasse mais com Kyungsoo do que aquela, onde ele podia exercer total domínio em Chanyeol, que como ela veio a saber, era um alfa. E ela era uma beta, neutra entre os dois, sem importância, sem cheiro e longe o suficiente deles. No entanto, ali estava o garoto dos seus sonhos, à quem um dia ela fizera mal e que ainda cobrava-lhe reparos.

— O que está fazendo? — ele perguntou ao notar os olhos dela dourados sobre si.

— Apenas te vendo. — respondeu e o ômega sentiu o corpo inteiro tremer de frio.

— Você é realmente uma bruxa? — tomou coragem para perguntar, meio se inclinando em sua direção, de repente curioso sobre aquilo.

A mulher riu.

— Quem te disse isso? Aquele garoto do Santuário? — então ela se inclinou também, olhando bem dentro dos olhos de Kyungsoo e encontrando a confusão que o assolava. — O que aconteceu contigo? — a pergunta saiu preocupada, pegando o ômega de surpresa e o fazendo se afastar, assustado pela forma como o assunto foi mudado.

— E-eu... — gaguejou, sem saber o que deveria responder. Respirou fundo quando desviava os olhos da mulher. — Eu sofri um acidente, não lembro praticamente nada sobre mim. Então, eu achei que você... por causa de ontem... pudesse me ajudar. — seus olhos estavam na mulher mais uma vez, enormes e perdidos, receosos e terrivelmente tristes, fez Lee Hi engolir em seco antes de ficar em pé e se aproximar dele.

— Eu não posso fazer muita coisa. — Havia uma regra, Lee Hi sabia. Uma regra que ela não podia quebrar em um milhão de anos: não podia mais interferir na vida de Kyungsoo.

— Pode me dizer quem sou? — seus olhos brilharam em lágrimas e a bruxa engoliu em seco.

— Kim Kyungsoo. — sussurrou. — Você é o terceiro herdeiro da Alcateia Kim, depois de Kim Junmyeon e Kim Minseok.

Ele arfou, a boca se abriu e a mão precisou ser colocada contra seus lábios para esconder o espanto que aquelas palavras lhe causavam.

— O-o que...?

— Eu não posso dizer mais do que isso. — ela tornou a se afastar e Kyungsoo observou suas costas, sentado naquela cadeira, de repente, se sentia muito pequeno e indefeso, sem nenhuma ideia do que deveria fazer.

— Por que? — a pergunta escapou dos seus lábios, tremida e cheia de uma curiosidade que não pertencia ao momento.

Ele deveria ficar de pé e ir embora dali. Voltar para casa, agora que sabia de onde viera. Mas não conseguia. Seu lado curioso ainda era mais forte do que qualquer confusão ou medo que pudesse estar sentindo depois de saber seu nome completo.

Lee Hi procurou cigarros na segunda gaveta da sua mesa, acendeu um sem olhar para Kyungsoo, sentia a ponta dos dedos gelada. Contudo, tinha prometido a si mesma que não contaria à ninguém mais sobre aquilo, sobre os sonhos que a perseguiam desde criança, afinal, aquela era outra vida. Mesmo que os fantasmas ainda continuassem atrás de si, ela já não era aquela pessoa má.

— Você não precisa saber disso. — ditou, a voz saiu mais firme do que queria, mas serviu para surpreender o ômega e fazê-lo recuar em sua decisão de saber mais. — Eu lhe disse o que precisava.  — fitou-o, séria, a fumaça escapando dos seus lábios. — Pode voltar para casa agora, para o pai do seu filhote. — apontou com o queixo para a barriga do garoto.

Kyungsoo engoliu em seco, mas se colocou de pé mesmo assim, entendendo que não havia mais o que fazer ali. Precisava voltar até o Santuário e então... voltar para casa.

Curvou-se a bruxa.

— Obrigado. — falou e foi em direção à saída, sem esperar que ela dissesse qualquer coisa.

A bruxa tragou mais um pouco do seu cigarro, soprou a fumaça para longe quando a porta do seu escritório se fechou e então fechou os olhos enquanto se apoiava na mesa, o mais quieta que conseguia como se assim pudesse anular o som dos seus batimentos cardíacos.

— Boa sorte, garoto. — ela se viu desejando. — Tenha uma vida longa dessa vez.

***

O céu estava escuro de chuva quando Sehun e sua equipe chegaram na Alcateia Byun. O alfa parou na frente do lugar, com Jisoo atrás de si — a beta sempre o seguiria, sua lealdade estava com Sehun apenas, não ao Clã Oh — avaliou o estado que a entrada do lugar estava: o portão quebrado, deixava claro que o que quer que passara por ali, não fora nenhum pouco delicado ou fraco. Piscou os olhos e apressou o passo até ali, mas a mão de Jisoo no seu peito o impediu de chegar perto do portão arrebentado.

— Deixe a equipe fazer uma verificação primeiro. — Sehun a fitou, desgostoso da ideia, mas não recusou.

Fez sinal para que os outros cinco lobos consigo, se aproximassem e fizessem o reconhecimento do local, coisa que não demorou muito, pois logo Sehun estava entrando de vez no local, passando pelo portão quebrado e encontrando a bagunça que estava a Alcateia Byun. Olhou em volta, sem saber ao certo o que deveria fazer, para onde deveria andar. Tudo estava arruinado, pensou. Ele viu casas com janelas e portas quebradas, lobos andando desolados pelo lugar enquanto outros tentavam arrumar a bagunça. Piscou os olhos em direção à uma loba que tinha um bebê chorão nos braços ao mesmo tempo que Jisoo, dava um passo na sua direção, o ombro fazendo questão de encostar no seu.

— O que aconteceu aqui? — perguntou a beta, como se ela pudesse realmente responder.

— Foram atacados. — ela balbuciou de volta, olhando para os mesmos pontos que Sehun e compartilhando da sua incredulidade.

O alfa pensou em questionar isso, porque não parecia possível quando os Byun’s tinham uma segurança quase tão boa quanto a sua, quando apenas lobos podiam entrar naquele complexo, quando eles tinham estado tão bem escondidos entre os humanos. Como alguém podia ter entrado ali daquela forma? De um jeito tão incisivo, quase como se estivesse desesperado para ver o que havia dentro daquele complexo.

Deu um passo em frente e sua equipe o seguiu junto de Jisoo, a beta parecia apreensiva, quase pronta para sair lutando em prol de Sehun já que não se afastava um passo dele. Eles andaram até a casa principal, o único lugar que Sehun conseguia pensar em que poderia encontrar Minseok e a Família Principal Byun. No entanto, quando parou em frente ao lugar encontrou a mesma imagem que vira quando entrara no território Byun: janelas quebradas e a porta da frente escancarada. Não conseguiu impedir o falhar da batida no seu peito, o jeito como seu estômago afundou. E eles tivessem sido todos eliminados? E se Minseok estivesse machucado ou tivesse sido sequestrado por quem quer invadira aquele lugar? Seus pés pensaram por si só quando correu em direção a entrada, sem dizer coisa alguma, estava apenas dominado por suas emoções.

E por dentro: a casa estava uma bagunça. Havia sujeira demais no chão, algo vermelho fora derramado na porta, na sala, vinha em um rastro enorme da cozinha até a sala. Os sofás estavam virados e os vasos quebrados, a terra escapava para o chão, alcançava o vermelho e os dois se tornavam uma coisa horrenda, nojenta o suficiente para fazer Sehun abraçar a própria barriga, como que afim de evitar o vomito que queria vir.

— Quem é você? — escutou alguém perguntar e levantou o rosto para conferir, sentia que a sua expressão devia estar assustada demais para aquele cenário, mas a possibilidade de todo aquele sangue pertencer aos Byun’s, deixava-o enjoado.

Ergueu o corpo, só então percebendo que estava curvado. Olhou em volta, encontrou Jisoo o fitando preocupada, pronta para correr em sua direção e ajuda-lo. Encontrou seus lobos apreensivos diante da pessoa que fizera a pergunta. Sehun a encarou:

— Oh Sehun, líder do Clã Oh. — firmou a voz e o homem, relaxou os ombros.

— Kangin. — respondeu. — Beta Principal do Clã Byun.

Eles fitaram-se o suficiente para Sehun voltar a olhar ao seu redor, capturando mais um pouco dos detalhes daquela bagunça.

— Nós recebemos o seu sinal de socorro. — Sehun contou depois de notar que Jisoo abriria a boca para dizer o mesmo. — O que aconteceu aqui? Onde está o seu líder? — a pergunta saiu mais urgente do que queria, o que fez Kangin dar um passo para trás.

— Nós fomos atacados durante o Festival, estávamos distraídos — contou. — e com metade dos nossos lobos na alcateia Park, junto do nosso líder. — Sehun piscou. O Festival para o qual ele tinha recusado o convite, percebeu. — Éramos um alvo fácil. — suspirou, terrivelmente cansado de pensar naquela frase. — O senhor Donghae ficou muito ferido e teve que ser levado às pressas para a Alcateia Kim.

Sehun piscou na direção do beta, de repente surpreso pela informação que recebia. O alfa sabia que o ômega de Siwon estava grávido, quase ao ponto de ter a criança. Todos estavam comentando sobre isso, fofocando por sua alcateia, sugerindo nomes e imaginando de que cor seria seu lobo.

— Mas quem fez isso? Outra Alcateia? — Jisoo se apressou em perguntar.

— Humanos. — o semblante de Kangin se tornou rígido, não se agradava nenhum pouco de ter sido pego de surpresa por humanos.

O Oh franzio a testa.

— O que?

— É isso mesmo que escutou. — sua boca torceu em desgosto. — Humanos invadiram nosso território, raptaram nossos lobos e teriam levado o senhor Donghae se o senhor Siwon não tivesse interferido.

Raptaram lobos. Aquilo ecoou na sua mente de uma forma assustadora. Deu um passo em direção ao beta:

— E Minseok? — Kangin arregalou os olhos diante daquilo. — Onde está Kim Minseok?

— O-o senhor Kim está com o marido na Alcateia Park. — contou e Sehun se sentiu relaxar por um segundo, pensando em como o ômega estava fora de perigo mas depois estava preocupado, porque começava a se dar conta de que Minseok teria participado da cerimônia da fertilidade dos Park’s e junto de Baekhyun, apenas pensar sobre isso já lhe deixava enjoado.

Deu um passo para trás, virou de costas para o beta. Precisava organizar suas emoções de uma vez, afinal era um líder. Tinha que dar algum exemplo.

— Por que eles ainda não voltaram? — virou-se para o beta. — Seus líderes, por que eles não voltaram? — se referia a Minseok e Baekhyun.

O beta balançou a cabeça, como que dizendo que não sabia porquê. E foi então que Sehun entendeu o que tinha acontecido: o sinal que a sua alcateia captou não era para eles, estava indo em direção aos Park’s. Contudo, se era isso mesmo, por que Baekhyun ou Minseok não estavam ali? A viagem de Incheon até Seul não era longa, eles deveriam estar ali se tivessem recebido o sinal no mesmo horário que Sehun recebera e até onde o alfa sabia, Park Hyukjae tinha um ótimo sistema tecnológico.

De repente, tudo isso só parecia muito estranho.

***

Estava chovendo.

Era tudo que sabia.

Em sua forma de lobo, não sentia vontade de voltar a forma humana. Sentia-se tão sozinho, tão terrivelmente triste, sem forças, tudo parecia tão silencioso para si. Seu queixo estava sobre o chão molhado, deitado sobre as patas, nenhum pouco confortável e com nenhuma vontade de mudar de posição. A chuva estava caindo, grossa sobre si, embaçando sua visão, fazendo-o pensar que podia dissolver ali mesmo. E bem que queria, porque quem sabe se não estivesse mais ali, poderia parar de sentir aquele enorme vazio que havia no lugar que Donghae deveria estar.

“Siwon”. Escutou novamente e não virou seu rosto para verificar quem era, porque mexer o mínimo de si, já o deixava cansado o suficiente.

Suas orelhas estavam baixas, pesadas da água de chuva, os olhos estavam pesados de cansaço. Queria poder dormir, descansar eternamente, quem sabe nos seus sonhos seu ômega estaria seguro e bem.

“Siwon”. A figura apareceu bem na sua frente, o rosto alongado de lobo o encarando. Desviou os olhos e suspirou internamente, mas Lu Han parecia determinado a fazê-lo prestar atenção em si, porque logo estava procurando seus olhos mais uma vez. “Eu tenho notícias”. Tocou a ponta do seu focinho na sua testa, tentando chamar sua atenção.

Mas Siwon não queria saber. Não queria nenhuma frase de consolação, ele queria a presença de Donghae de volta, aquela certeza de que ele estaria em casa quando chegasse, o cheiro dele espalhado por toda a casa, o som da sua risada, os olhos brilhantes... Siwon precisava de Donghae para poder se sentir como si mesmo, porque era horrível demais ser essa coisa inanimada, terrivelmente triste e solitária. Perdido, tão perdido em si mesmo.

Ergueu as patas e escondeu o rosto entre elas. Não queria ouvir. Queria seu momento à sós com a culpa de não ter sido suficientemente forte para proteger Donghae e o bebê. Ah, o bebê. A pequena criança que não viria ao mundo depois de tanto sangue, a garotinha de olhos âmbar com quem Siwon havia sonhado desde que soubera que era uma menina. A primeira garota em três gerações de Byun’s. Seu pai morreria se soubesse disso ou talvez, ficasse feliz com isso, vai saber. Siwon não sabia, nunca soube o que se passava realmente na mente do pai. Ele escondia suas emoções tão bem que Siwon acreditava que ele não tinha nenhuma.

Talvez, fosse como ele estava se sentindo agora. Talvez, o senhor Byun não passasse de um lobo inanimado, solitário demais para admitir. Mas Siwon não era assim, já tinha conhecido o outro lado. O lado aconchegante e quentinho que eram os braços de Donghae, o cheiro doce que sempre o deixava mais relaxado depois de um dia inteiro aturando os surtos do seu pai, dos homens na empresa que não o aceitavam como novo CEO e os lobos do Clã, que o achavam novo demais para assumir. E ainda tinha Jihyun... a maldita Jihyun, que tinha pisado em si de tantas formas, que fazia Siwon acreditar que não tinha sobrado nada para ser aproveitado em si.

“Vamos lá, olhe pra mim”. Lu Han era insistente, o Byun tinha que admitir. Com a pelagem cinza e os olhos violeta, o líder Lu parecia tão exótico quanto seu sobrenome. Lu. Quem podia acreditar que eles ainda existiam? Que estavam sobrevivendo, escondendo-se, quando eram apenas ômegas? Quem podia acreditar naquele tipo de força de vontade? Eles eram os últimos da hierarquia, não haviam sido feitos para liderar, mas sim, para obedecer, seu pai diria.

Quem sabe em outros tempos, pensou em resposta e sentiu vontade de rir, porque uma parte sua realmente queria ver o choque estampado no rosto do seu pai quando encontrasse alguém como Lu Han, com toda aquela força de vontade e segurança. Siwon duvidava que pudesse vencer aquele garoto em uma luta corpo a corpo e duvidava mais ainda se teria força o suficiente para fazer todas as coisas que ele havia feito até ali, tudo em prol da sua alcateia.

Mas Lu Han não era o primeiro. Havia Heechul, com toda a sua imprudência em não seguir regras, em não abaixar a cabeça e em ser um bom filho da mãe com quem merecia. Seu pai o odiava, achava um ultraje o modo como Heechul se comportava. Nenhum pouco recatado, nenhum pouco do lar, nenhum pouco de ninguém. Quer dizer, talvez, tenha sido... Kyuhyun era o dono dos seus sonhos cor de rosa, quem sabe tenha sido esse beta o dono de alguma coisa que Heechul escondeu bem no fundo de si. Contudo, seja lá o que fosse, Heechul havia pegado de volta, porque não dava pra amar alguém daquela índole, nem mesmo se você o conhecesse por mil anos. Siwon não conseguia mais, mesmo hoje em dia quando pensava no beta, ainda havia aquele traço de raiva misturado com ódio de ter sido enganado por tão pouco.

Eles tinham uma amizade. Eram anos de amizade e Siwon o considerava um irmão... mas irmãos podem trair, ter um filho com sua esposa e ainda assim ter cara de pau o suficiente para pedir perdão.

“Siwon, precisa me escutar”. Era Lu Han ainda. Garoto teimoso, pensou. “É sobre Donghae e o filhote”. Veio urgente assim, como que ativado pelo nome do esposo, a vontade arrebatadora de erguer o rosto, as orelhas, cheio de esperança. Louco por qualquer sinal de vida do ômega Lee. “Ela nasceu”.

As pernas doeram quando ficou em pé, as patas também e o pelo pesado de chuva, só servia para que fizesse mais esforço em ficar de pé. Contudo, Lu Han havia dito as palavras mágicas.

Ji Eun.

“Ji Eun nasceu”. Era concreto assim, como se Siwon pudesse segurar as palavras com as mãos e avaliar o seu peso, mostrar a Lu Han os ângulos que elas formavam, o jeito como o fazia abandonar toda aquela solidão de antes. Havia um bebê, percebeu. Seu bebê estava bem. “É uma garotinha forte, Siwon”.

Ela tem sangue de lobo, pensou em dizer, mas não conseguiu porque no minuto seguinte estava erguendo as mãos para esconder o rosto enquanto chorava, de joelhos, na frente do líder Lu em sua forma de lobo. Não percebeu que havia voltado a forma humana até o momento em que soluçou, alto, agradecido por aquela garotinha ter sobrevivido.

Obrigado, Dal, obrigado.

Sentiu algo sobre seus ombros, limpou os olhos com as costas das mãos apenas para ver Lu Han em sua forma humana, com um manto sobre os ombros para esconder sua nudez, da mesma forma que estava agora.

— Vamos entrar. — disse calmo e Siwon assentiu, sem forças para questionar qualquer coisa.

— Quando posso vê-la? E quanto a Donghae? — perguntou, afobado, o lábio inferior voltando a tremer quando pensou no marido ômega e fazendo Lu Han engolir em seco.

Era difícil ver alfas em uma situação tão frágil, ainda mais alfas que choravam. Mas Lu Han não podia julgar Siwon, quase podia imaginar o que ele estava sentindo através da marca. Lu Han não era marcado, mas já havia perdido um parceiro para entender o tipo de dor que havia no peito de Siwon.

— Prometo que explicarei tudo depois que você tomar um banho quente. — usou o mesmo tom paternal que sempre usava com Yixing e por muitas vezes, com Jongin.

Siwon assentiu, preso no seu transe de felicidade por ter uma filha viva. Se deixou guiar pelo Lu para fora da chuva, para dentro da casa amarela, que reconheceu como a de Ryeowook. Tomou o banho em silêncio, com atos cadenciados, terrivelmente lento até para si mesmo. Mas seu corpo inteiro doía, haviam hematomas espalhados por seu corpo além da dor latejante em cada parte de si que vinha mais de Donghae do que si mesmo. Aquele era um sinal de que seu ômega estava vivo, a marca que compartilhavam o fazia sentir a mesma dor que Donghae sentia e era horrível, mas se o Lee podia sentir dor, então significava que ele estava vivo.

Quando saiu do banho, haviam roupas sobre a cama do quarto que lhe deram. Não sabia de quem era aquele quarto, mas apostava de que pertencia a Minseok, pela forma como haviam fotos do loiro sobre o criado mudo. Encarou algumas antes de começar a se vestir e só então sair do quarto, não sem antes observar, curioso, os vários desenhos que haviam no mural perto da janela. Vários desenhos dos detalhes de um lobo preto e branco. Quis rir quando reconheceu Baekhyun, mas seu corpo doía tanto que apenas se limitou a se afastar. Precisava parar de perder tempo ali, precisava ir até Donghae e sua filha.

Lu Han estava na sala junto de Jongin que segurava Yixing e de Leeteuk, que assistia algo na tevê. Na verdade, os três pareciam estar vendo o noticiário, apenas Yixing se ocupava em pular no colo do tio ômega. Siwon ergueu o olhar até a tevê, buscando o que tanto chamara a atenção dos lobos e pronto para dizer ao Lu que estava bem agora, que eles podiam ir até o seu marido, no entanto, tudo isso embolou-se na sua língua quando reconheceu a sua forma de lobo na tela da televisão, estampando uma manchete.

— O-o que é isso? — se escutou gaguejar pela primeira vez em mil anos.

Os outros olharam para si. Leeteuk juntou as sobrancelhas, irritado.

— Você que deveria nos explicar. — falou. — Sua cara peluda está em todos os jornais. — e como que para provar o que falava, mudou repetida vezes de canais e em todos aparecia a imagem de Siwon ou alguém falando sobre a aparição de um enorme lobo branco pelas ruas de Seul na madrugada passada. — O que estava pensando quando saiu por ai assim? — largou o controle remoto sobre o sofá e ficou de pé.

— O que você faria no meu lugar?! — Siwon subitamente gritou de volta, assustando Yixing que parou de pular e abraçou Jongin, o que serviu para Lu Han lhe lançar um olhar feio, repreendendo a atitude. — Nós fomos atacados. — contou de uma vez, os ombros tornando-se baixos no processo, sentia-se tão derrotado, mas ao menos Baekhyun e Chanyeol estavam a salvo na Alcateia Park. — Humanos se aproveitaram dos nossos poucos sentinelas e nos atacaram, tentaram levar Donghae. — suspirou enquanto olhava para baixo. — Eles o machucaram e eu precisava salva-lo, não dava para espera-lo morrer. — ergueu o rosto para fitar Leeteuk. — Se fosse Heechul ou Ryeowook, você os deixaria sangrarem sem fazer nada?

O Kim engoliu em seco, mas não disse coisa alguma. Eles fitaram-se e Siwon bem sabia o quão destruído ele parecia para Leeteuk, mas não se importava. Não ia manter as aparências agora, não conseguia, na verdade. Estava esgotado, todas as forças do seu corpo estavam voltadas para os cuidados que iria ter com sua filha e com Donghae.

Baba. — Yixing quebrou o silêncio afiado que havia entre eles ao estender os bracinhos em direção à Lu Han.

O Lu sorriu antes de se inclinar para pegar o filho nos braços. Ele tinha dois anos, Siwon lembrava, quase três. Era um garotinho inteligente, que misturava o chinês com coreano, adorável assim. Abriu a boca para perguntar ao ômega quando eles podiam ir, mas a porta da casa abriu-se ao mesmo tempo, roubando suas palavras.

Henry entrou afobado na casa, encharcado de chuva e com os lábios arroxeados.

— Você está aí.  — apontou para Siwon e correu na sua direção, a mão fechou-se envolta do seu pulso, gelada demais. — Donghae precisa de você.

— O que aconteceu? — começou a seguir o ômega para fora da casa.

— Ele perdeu muito sangue, precisa de uma transfusão.

— Mas eu não sou compatível. — freou os passos, na soleira da porta.

— Não importa. — Henry o fitou sem soltar seu pulso. — Você o marcou, estão ligados, o lobo dele vai aceitar.

— Mas o corpo... — começou.

— É uma possibilidade. — Henry devolveu. — A ideia foi minha, não temos nenhuma base cientifica, mas nenhum de nós é compatível com ele, Siwon. — contou. — Quer vê-lo morrer sem ter tentado nada?

Eles se encararam antes do alfa assentir e retomar seus passos atrás de Henry, tão apressados quanto o ômega em direção a clínica hospitalar onde Donghae estava internado. Era um lugarzinho pequeno, com paredes claras e um único médico que tinha Ryeowook como enfermeiro. Heechul estava lá, sentado na pequena sala de espera, com o rosto inteiro contorcido em medo.

— Você está aí. — o ômega deu um soquinho em seu ombro, numa tentativa de fazer graça, mas a situação era pesada demais para isso.

— Como ele está? — o alfa perguntou depois que viu Henry se afastar em direção à uma das salas do lugar.

— Mal. — respondeu. — Você não consegue... com a marca?

— Eu não sei. — suspirou. — Todos os meus sentimentos estão confusos.

— Eu sinto muito. — a mão foi para o seu ombro, apertou ali numa forma de conforta-lo. — Mas Donghae vai sair dessa. Ele é um ômega forte. — sorriu.

Siwon assentiu antes de abraçar o outro, forte, do jeito que precisava. Heechul o abraçou de volta, soluçou contra o seu ombro porque estava com medo de perder o Lee tanto quanto Siwon estava.

— Siwon. — escutou o chamarem e afastou-se de Heechul para ver a figura de Henry, não muito longe de si. — Nós temos que ir.

Heechul apertou-lhe os ombros.

— Vai dá tudo certo. — o assegurou. — Henry é inteligente, sabe o que está fazendo.

— Meu sangue é B. — ele expôs.

— O meu é AB, eu não posso doar. Ryeowook também não e muito menos Henry. — o Kim contou. — Mas vocês têm uma ligação e se o lobo dele pode receber sua força vital, porque não aceitaria seu sangue?

— Isso é loucura, o corpo é diferente do lobo que habita em Donghae.

— Mas ele fica bem quando você está perto, o lobo se nutri do seu corpo.

Fazia sentido, Siwon sabia. O lobo de Donghae precisava do seu, havia um vínculo inquebrável entre eles, algo que deixava Donghae saudável.

— Siwon. — Henry chamou mais uma vez e o alfa deu um passo para longe de Heechul.

Iria confiar em Heechul e em Henry.

O alfa deitou-se na maca, em uma sala, sozinho. Deixou que Ryeowook espetasse a agulha no seu braço e retirasse seu sangue. Quis fazer perguntas sobre sua filha, sobre Donghae, mas nada saia da sua boca. Estava de volta ao velho transe, aquele que o paralisava de medo com a possibilidade de perder Donghae. Deixava-o ansioso o suficiente para achar que a retirada do seu sangue estava demorando demais. Contudo, depois de algum tempo começou a ficar sonolento. Ele viu quando Ryeowook disse que havia acabado, mas estava com sono demais para falar qualquer coisa. Continuou deitado e quando deu por si, fechou os olhos.

Dormiu.

Sonhou com nada. Um borrão de cores que Siwon não queria decodificar. Acordou com choro de um bebê, sua cabeça estava pesada e a língua pastosa, mas ainda assim conseguiu se forçar a abrir os olhos. Era noite, percebeu. Não sabia porque o tinham deixado dormir por tanto tempo, mas não reclamou. Sentou-se na maca enquanto esfregava os olhos. Notou que o lugar estava escuro, olhou para baixo e quis colocar os pés no chão para começar a sair dali em busca de notícias da sua família, mas notou que havia mais alguém consigo no quarto. Virou o rosto em direção a outra cama ali perto e ofegou ao reconhecer o cabelo escuro meio ondulado de Donghae. Desceu muito rápido da maca em que estava e parou ao lado da cama do marido, olhando para cada pedaço do seu corpo, procurando explicações nos seus detalhes.

Donghae dormia.

O peito descia e subia sem muito esforço, enquanto uma máscara de ar estava em sua face. A roupa tinha sido substituída por uma camisola hospitalar, estava recebendo sangue pelo braço esquerdo, um corte na sua bochecha e lábio inferior, parecia muito pálido e tinha a ponta dos dedos geladas quando Siwon segurou-os.

Hae. — ele sussurrou erguendo a mão do ômega e colocando contra sua bochecha, gelada demais contra sua pele.

Donghae não se mexeu, não deu sinal algum de que estava escutando alguma coisa. Siwon inclinou-se sobre o corpo do marido, enfiou o nariz na curva do seu pescoço, atrás do familiar cheiro de lírio e estava ali, mais fraco do que se lembrava, contudo ainda ali, como que para lembra-lo que apesar da aparência pálida, ainda era Donghae. O mesmo Donghae pelo qual se apaixonou. Ergueu o rosto aos poucos até estar na altura da bochecha do mesmo e só então a beijou, demoradamente.

— Eu te amo. — sussurrou contra sua pele e sentiu aquela coisa no estômago, como se alguém estivesse puxando alguma coisa de dentro de si.

Era a marca, tinha certeza. Era através dela que Donghae podia ficar com um pouco da sua energia vital e recuperar suas próprias energias. Doía, dependendo da gravidade do ferimento do seu parceiro, quanto mais perto da morte o outro estivesse mais dor sentiria. Era por fatos como esse que se tornava praticamente impossível sobreviver sem um parceiro depois de marcado, a dor mataria qualquer um ou enlouqueceria.

Observou a face do ômega, ainda com a mão dele na sua. Não pretendia soltar, não pretendia se afastar. Como um alfa, deveria deixar que seu ômega se nutrisse se si e ficasse saudável novamente, era o tipo de instinto que nenhum alfa conseguia se livrar, mesmo se quisesse. Na verdade, fazia parte de qualquer lobo. Alguma coisa que vinha codificada no seu DNA, marcada na sua alma. O instinto de sempre proteger quem ama estava ali, tão natural quanto respirar.

Siwon fechou os olhos e respirou fundo, pronto para se aproximar mais um pouco e deixar que Donghae levasse mais de si. No entanto, teve esse ato impedido quando a porta se abriu. Piscou os olhos quando a luz foi ligada e sentiu os joelhos tremerem quando reconheceu a pessoa ali.

Heechul se aproximava, sozinho, com alguma coisa nos braços.

— Eu achei que poderia estar dormindo ainda. — falou baixo. — Ryeowook me orientou a não acorda-lo. — revirou os olhos, desaprovando a sugestão do outro ômega e se aproximou mais um pouco. — Mas já que não precisei acorda-lo, você quer conhecê-la?

O Byun se viu soltando a mão do marido e dando um passo em direção ao amigo ômega.

— Está é...? — a boca estava seca quando tentou completar a pergunta.

Heechul assentiu.

Ela tem seu nariz. — riu e Siwon sorriu enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.

Havia acreditado que perderá ambos: marido e filha. Mas ali estava a sua bela garotinha de sangue Lee-Byun.

— Dê-me. — pediu e o Kim estendeu, com cuidado, Ji Eun, que dormia tão quietinha, sem desconfiar do caos que se formava fora daquelas paredes. Siwon a segurou, protetor, com medo de exagerar na força e machuca-la. Era tão pequena, pensou.  Se parecia com Baekhyun, na primeira vez que o pegou nos braços. Pequeno e quieto, bem diferente do escandaloso e curioso Chanyeol. — Oi. — ergueu uma das mãos, tocou a bochecha da filha com a ponta dos dedos, quem sabe assim acreditava que ela estava mesmo ali.

Suas bochechas eram rosadas como o resto inteiro do seu corpo. O alfa se viu contando os dedinhos das suas mãos e dos pés, enfiando o nariz no topo da sua cabeça de cabelos escuros, procurando alguma coisa que denunciasse seu futuro cheiro, mas só cheirava a sabonete de criança com um toque raso de lírio, lembrando a Siwon de quem ela viera.

— Ela é tão forte.  — Heechul comentou por sobre seu ombro. — Se parece com vocês dois.

Siwon riu ao mesmo tempo que enxugava as lágrimas dos cantos dos olhos. 

— Se parece mais com Donghae. — confessou e a garotinha como que reconhecendo o nome do pai ômega, remexeu-se nos braços do alfa, abriu a boca e depois fechou. E então, estava quieta novamente, dormindo. — Você tem alguma notícia de Baekhyun e Chanyeol? — olhou para o amigo.

— Junmyeon me contou que eles ainda não chegaram da Alcateia Park.

O Byun comprimiu os lábios, sem entender porque seus filhos estavam demorando tanto naquele território. Havia dado tempo suficiente para que recebessem uma ligação de Kangin ou o sinal de socorro.

— Isso é estranho. — comentou baixo, balançando a filha calmamente no seu colo para que continuasse dormindo. — Peça a Junmyeon para enviar outra mensagem aos Park’s.

Heechul assentiu mordendo os lábios. Sabia que o filho já tinha feito isso, mas não houve nenhuma resposta, seja de Baekhyun ou de Hyukjae. Mas não queria contar isso ao amigo, afinal, Siwon estava se recuperando do ataque de ontem além de ter que sustentar o marido ômega com sua energia e cuidar da filha recém-nascida enquanto Donghae se recuperava.

— Não se preocupe. — falou colocando a mão sobre seu ombro. — A culpa deve ser do sinal, andou chovendo bastante hoje.

O alfa assentiu e Heechul se sentiu péssimo por mentir, mas não queria esgotar as forças do amigo com mais preocupação no momento delicado em que ele se encontrava. Ele mesmo iria resolver essa situação, mesmo que seu lobo se revirasse em uma ansiedade amarga, como se estivesse prevendo alguma coisa muito ruim. Só esperava que estivesse enganado, que fosse apenas a preocupação de pai, já que Minseok também estava no território Park. Realmente queria que fosse só uma preocupação boba, porque ele não sabia o que faria se Park Hyukjae tocasse em um fio de cabelo do seu filho ômega.

***

Minseok encostou-se na parede da pequena sala do lugar, de frente para o sofá onde Baekhyun estava sentado, o rosto inteiro contorcido em uma desaprovação que deixava o loiro receoso. Sentou-se no chão, as pernas esticadas à sua frente, usava as roupas de Baekhyun e por isso podia bem sentir o cheiro dele sobre sua pele e isso o reconfortava de uma forma que não valia a pena se ater naquele momento, então empurrou aquilo para bem fundo de si. Pensaria sobre aquilo em outro momento, porque naquele instante precisava entender porque Park Hyukjae os estava mantendo em cárcere privado naquele quarto.

A portava estava trancada, seus celulares haviam sumido e não havia nenhuma forma de comunicação com Chanyeol, que Minseok esperava que estivesse preso no seu quarto, da mesma forma que ele e Baekhyun estavam.

— Ele está bem. — falou subitamente, chamando a atenção do alfa. Engoliu em seco diante da forma como franzio a testa, confuso e irritado ao mesmo tempo.  — Chanyeol, quero dizer.

Baekhyun bufou focando os olhos de si.

— E como pode ter certeza disso? Seu instinto de assassino o alertou? — atacou e Minseok comprimiu os lábios enquanto desviava os olhos do alfa.

Ele devia ter imaginado que Baekhyun iria reagir de uma forma ruim ao que tinha contado, mas pra falar a verdade, em que mundo Baekhyun ficaria feliz em ter casado com um assassino? Deveria só ter guardado aquilo para si de uma vez, mas não, tinha que se deixar levar por aquela ideia de ser sincero com Baekhyun e deixar que ele o conhecesse.

— E se for? — Minseok se viu rebatendo, estava irritado consigo mesmo por ter se colocado naquela situação. — Eu não mataria alguém que posso usar como incentivo para meu alvo e tenho certeza que Hyukjae não é idiota ao ponto de fazê-lo.

Baekhyun engoliu em seco diante daquelas palavras. Definitivamente não reconhecia Minseok ou talvez, nunca tenha conhecido, afinal pelo que podia perceber o ômega era bem mais do que mostrava e mesmo que seu lobo estivesse curioso sobre todo aquele perigo, seu lado humano não conseguia se livrar da terrível ideia de que Minseok não era confiável.

— Então realmente admite que matou pessoas. — cruzou os braços. — Quantas?

— No que isso te afeta? — ficou de pé, pronto para sair dali, nem que fosse arrombando a porta.

— Você é meu marido, me afeta bastante o fato de você ser algum tipo de assassino profissional.

Minseok riu, sem acreditar no que Baekhyun dizia.

— Ninguém sabe disso além de você. — confessou. — E antes que pergunte, eu só contei porque achei que podíamos ser sinceros um com o outro. — se afastou, sem olhar para trás, com uma parte sua terrivelmente decepcionada pelo modo como achava que nunca ia poder ser verdadeiro com ninguém além de si mesmo.

Baekhyun comprimiu os lábios, não o impediu de se afastar e muito menos conseguiu pensar em alguma coisa para dizer pois estava ocupado demais sentindo aquele gosto amargo na boca. Era como da vez que perdera seu urso de pelúcia predileto, na infância. Lembrava que seu pai alfa tinha comprado outro, exatamente igual, mas Baekhyun sentia como se não fosse a mesma coisa, como se a relação entre ele e seu urso antigo tivesse se perdido, as lembranças e segredos estavam com o urso antigo e não com o novo. Era assim que ele se sentia em relação a Minseok, como se o Minseok antigo pelo qual estava nutrindo alguma coisa, de repente tivesse sido substituído por essa cópia macabra, que podia quebrar o seu pescoço a qualquer momento.

Suspirou e deitou-se no sofá, observou o teto e tentou imaginar o que seu pai, Siwon, faria se descobrisse que Donghae não era nada além de uma caricatura, que os olhos dóceis não eram tão dóceis assim, que havia uma sombra escura no passado do ômega a qual estava marcado. Ele ficaria bem com isso? Fingiria que nunca tinha estado ali, ignoraria aquilo para sempre? Ou só seguiria em frente com esse novo Donghae? Suspirou mais um pouco. Parecia improvável pensar no seu pai ômega nesse papel. Conhecia Donghae, sabia o quanto ele era gentil e cuidadoso, nunca seria capaz de machucar alguém da forma como Minseok já fizera. E ali estava mais uma vez o problema, rondando sua cabeça, enchendo-a de imagens de Kim Minseok sujo de sangue, sorrindo como um maluco.

Fechou os olhos e se remexeu no sofá.

Por que ele terminaria daquela forma? O Kim Minseok que conhecia tinha olhos de gatos grandes, bem delineados e lábios macios. Gostava de chocolate-quente e ficar quieto, escutando suas músicas em seus fones de ouvidos enquanto lia. Ele tinha lhe entregado um bilhete de desculpas quando eram adolescentes e biscoitos comprados numa banca**, não era o tipo de coisa que alguém que matava pessoas poderia fazer, certo? Era inconsistente com a imagem adorável que tinha de Minseok em sua memória. Mas para o bem da verdade, o Minseok da sua adolescência era doce demais para si e o que voltara da França, parecia como alguém de verdade. Alguém que vivia fora das nuvens, sem aquele ar irritante de ômega perfeito, que sempre lhe deu nos nervos porque sentia como se não fosse capaz de alcança-lo. Só que agora... o Minseok com quem se casara havia o derrubado no chão de terra batida do território Kim, havia acertado um belo soco no seu rosto e tinha o enlouquecido com seu cheiro durante o cio e durante os dias que conviviam na Alcateia Byun. E estava o enlouquecendo agora, enchendo-o de uma curiosidade que não deveria estar ali.

Kim Minseok era perigoso, disse a si mesmo. Mas havia sido sincero, continuou.

E então, como se tivesse percebido a piada naquilo tudo, Baekhyun sorriu. Não entendia ao certo o que tinha de diferente agora, mas havia uma certeza engraçada no seu peito de que se Minseok estava contando aquelas coisas, se ele havia derrubado o seu muro daquela forma, era porque ele se importava com o relacionamento que tinham, mesmo que Baekhyun não tivesse a menor ideia do que realmente eles estavam construindo juntos.

Ficou de pé e foi até o quarto. Encontrou Minseok deitado em sua cama, olhando para o teto e parecia não estar pensando em nada. Fez um som com a garganta para chamar sua atenção e foi agraciado por seus olhos sobre si. Baekhyun sempre acharia que os olhos do ômega eram seu maior charme, a forma deles era chamativa, lembrava um felino.

— O que foi? — perguntou e Baekhyun percebeu o tom de irritação na voz. — Veio ser um babaca aqui também?

O alfa bufou, a mão subiu para a sua nuca, o tipo de mania que sempre aparecia quando estava nervoso.

— Desculpe-me por aquilo. — pediu e viu os olhos do marido se arregalando. — Eu estou nervoso com essa situação e descontei em você.

Minseok sentou-se no meio da cama, sobre as pernas cruzadas. Estava bonito com a camisa e o short, o cabelo desajeitado. Baekhyun não entendia, mas se sentia tão terrivelmente atraído.

— Eu também não estou sendo um poço de gentileza. — o ômega se desculpou olhando para baixo.

Eles ficaram em silêncio e Baekhyun quis gritar, porque não era bem isso o que queria e muito menos queria dar meia volta e sair dali. Mordeu o lábio e encarou o topo da cabeça loira de Minseok, pensando no que mais deveria dizer para quebrar aquele clima de vez.

— E-eu... — começou, gaguejando como um bobo, atraindo a atenção do loiro. — não conheci minha mãe. — se viu contando, sem saber porque estava trocando o segredo de Minseok por aquele seu, quando era mais uma lembrança do que um segredo. — Mas eu lembro do seu cheiro, isso não é estranho? — riu, nervoso. — Não há nenhuma lembrança do seu rosto em minha mente, contudo, há essa sensação, uma nostalgia em forma de cheiro.

— Bom, ela era sua mãe. — Minseok disse, sem saber se estava começando bem. Não queria dizer uma bobagem e fazer Baekhyun retrair-se. — É normal que lembre disso.

Baekhyun se aproximou, os passos vagarosos. Minseok deixou que ele sentasse perto de si, na beira da cama.

Ela não gostava de mim. — ele olhou para baixo, era a primeira vez que falava sobre aquilo com alguém que não fosse Donghae. — Eu devo ter sido um acidente ou alguma coisa que ela usou para não ter que voltar para os Park’s, mesmo que isso não faça sentido para mim quando ela odiava meu pai. — de repente parecia fácil falar. — Mas seja qual fosse, eu acho que ela se arrependeu.

— Baekhyun... — Minseok se aproximou, andando sobre os joelhos até chegar ao seu lado.

Já tinha lido sobre a história da mãe de Baekhyun. Park Jihyun, a princesa de gelo. Uma loba manipuladora que traíra o marido com seu tio, Kyuhyun, e levara a amizade Byun-Kim às ruínas. Havia lido os relatórios médicos não oficiais que sua Organização fizera, o diagnóstico parecia o mais coerente, mesmo que ninguém tenha examinado-a. Depressão pós-parto. 

Jihyun tentou me matar. — contou de uma vez.

Minseok engoliu em seco, aquilo era novo. Não lembrava de ter lido em qualquer outro lugar. Não estava em arquivo algum.

— E-eu... Baek... — chamou e o alfa o fitou, esperando algum tipo de palavra de consolo que Minseok não tinha. Não sabia o que dizer e se odiava pela forma como queria ter, porque ninguém — nunca — deveria ter os olhos bonitos e tristes daquela forma. — Eu sinto muito. — acabou dizendo.

— Tudo bem. — balançou a cabeça.  — Aconteceu há muito tempo.

O ômega ergueu a mão e colocou sobre o ombro do alfa, numa forma de consolo. Não queria que ele se sentisse sozinho ou que não era importante ou qualquer coisa, mesmo que Minseok não entendesse como era ser odiado pela pessoa que lhe deu a luz. Claro, bem se lembrava do modo como seu pai alfa, Leeteuk, o fitou antes de obriga-lo a casar com o Byun, o jeito como tinha apanhado, amarrado numa cadeira. Aquilo havia sido brutal o suficiente, doloroso demais para que achasse que podia ser amado por aquela pessoa novamente ou que pudesse amá-la de volta. E então, havia Baekhyun com sua quase morte provocada pela mãe... Talvez, não entendesse toda a extensão da rejeição que havia no peito de Baekhyun, mas com certeza podia entender uma fração.

O alfa deitou-se na cama e Minseok o observou de cima, preocupado. Era incrível como Baekhyun conseguia ler as emoções do Kim agora.

— Mas quer saber, eu acho que seria melhor se ela tivesse conseguido.

— Então não teríamos casado. — Minseok apontou e Baekhyun riu.

— Isso seria ruim? Você estaria livre para ser um espião. — brincou e o ômega aproveitou para deitar-se ao seu lado.

— Eu fui expulso. — falou. — A Organização descobriu como fraudei o sistema de classificação.

Baekhyun assobiou, impressionado.

— Sua ficha é maior do que eu imaginava. — Minseok riu e Baekhyun acompanhou.

Era estranho a forma como o desconfortável ia embora, mas nenhum dos dois parecia disposto a criticar isso.

— Isso não te assusta? — o loiro perguntou e Baekhyun mordeu o lábio inferior, pensando sobre.

— Um pouco. — respondeu. — Acho que é mais estranho do que assustador. — Minseok virou-se na cama, deitando de lado para poder observar o perfil do alfa, esperando por mais palavras. — O Minseok da minha adolescência parecia mais inofensivo.

— O Minseok da sua adolescência era um idiota. — rebateu e voltou a deitar de peito para cima, quieto.

Baekhyun molhou os lábios, apreensivo.

— Como isso aconteceu? — acabou perguntando, impedindo que o ômega saísse daquele assunto assim.

— Eu tinha 16 anos quando recebi um convite e aceitei. — contou simplesmente.

O alfa podia ver que o loiro estava escondendo alguma coisa, a forma como seu corpo se retraia, o jeito como seus olhos não deixavam de fitar o teto do quarto. Tudo em Minseok denotava, de repente, rigidez, bem diferente da forma descontraída de antes. Uma parte sua queria continuar insistindo, mas a outra parte só pedia para se afastar e para o bem da verdade, Baekhyun concordava mais com essa segunda parte, porque conseguia muito bem se colocar no lugar de Minseok e saber que ele não faria nada além de fugir do assunto se fosse pressionado, da mesma forma como ele faria. Era esquisito como se reconhecia nos trejeitos do ômega, mas um esquisito bom porque isso o fazia acreditar que não estava sozinho.

— E quem mais está nisso? — o Kim o fitou de canto de olho, desconfiado. — Não me olhe assim, eu sei que você é muito bom no que faz, mas não acho que seja o único. — teve coragem de brincar, denunciando o seu conforto em estar na presença do ômega.

Minseok sorriu, de canto, abandonando sua desconfiança. Baekhyun notou quando as mãos dele relaxaram e o queixo também, estavam na zona segura novamente.

Segredo de estado.

— Então, realmente existe mais.

— Vários. — Minseok continuou, meio rindo. — Mais do que possa imaginar, estão em toda parte.

— Eu conheço? — Baekhyun ficou de lado e Minseok fez o mesmo para poder olhar em seus olhos.

— Quem sabe.

O alfa sorriu ao mesmo tempo que o ômega e como que estivessem sincronizados, ambos se aproximaram ao mesmo tempo. Minseok desviou os olhos para baixo e Baekhyun observou a forma das suas bochechas, a testa lisa do seu rosto, ergueu a mão até seu rosto afim de fazê-lo olhar par si novamente. E quando conseguiu, não de deteve em se aproximar mais um pouco, encostou sua testa na do marido, delicadamente.

— Eu achei que fosse me rejeitar quando soubesse. — Minseok disse, baixinho, os lábios quase tocando nos do alfa e Baekhyun nunca quis beijá-lo tanto quanto naquele momento.

— Estou agradecido por ter contato. — confessou meio rindo e o marido acompanhou. — Me sinto mais confortável agora.

— Mais confortável com um assassino como marido?

— Acredite, é melhor do que um ômega padrão. — fechou os olhos, pronto para beijar o marido. — Você me não me deixa entediado.

— Está me comparando a um entretenimento?

— É melhor eu ficar calado.

— Com certeza. — e então, era Minseok quem estava fechando o os olhos e aproximando a sua boca da do marido.

Mas a sensação dos lábios de Baekhyun nos seus não durou muito, porque no segundo seguinte eles estavam se afastando diante do ofego surpreso de alguém. Eles fitaram a entrada do quarto e sorrindo nervosa com as bochechas vermelhas, estava Park Dasom.

— Desculpem-me. — ela virou-se de costa, como que para dá uma privacidade para o casal e Minseok sentiu o rosto queimar, mas acompanhou Baekhyun quando ele ficou de pé.

O momento deles havia sido arruinado, afinal.

— O que está fazendo aqui? Como entrou? — ele perguntou, apressando-se em direção a prima.

— Eu vim solta-los. — ela virou-se novamente, erguendo as chaves. — Meu pai cometeu um erro. — abaixou os olhos, envergonhada e Minseok revirou os seus, sem acreditar naquilo, mas Baekhyun parecia ter acreditado porque se aproximou da prima e colocou a mão sobre seu ombro, em um tipo de agradecimento que o loiro não concordava, afinal, Dasom era uma Park.

— Onde está Chanyeol? — Minseok perguntou e Baekhyun fitou a prima com mais intensidade em buscas de informações.

— Com meu pai. — ela suspirou erguendo a mão e colocando uma mecha do cabelo escuro atrás da orelha. — Venham comigo. — pediu antes de começar a se afastar. — Vou mostra-los. — se referiu a Chanyeol.

Baekhyun lançou um olhar à Minseok, houve uma comunicação ali. O Byun conseguia saber o quanto Minseok estava desconfiado, mas naquele momento não podiam desconfiar de Dasom daquela forma, principalmente por ela ser sua prima, a única pessoa em vinte anos de convivência que nunca tentou machuca-lo durante as férias naquele lugar e além do mais, mesmo que ela estivesse trabalhando para o pai, ainda era a única pessoa que sabia onde Chanyeol estava e como irmão mais velho, Baekhyun tinha o dever de protegê-lo, mesmo que isso significasse se machucar.

Kim Minseok assentiu, por fim, e começou a segui-lo até a saída daquele lugar. E como vieram a perceber, a porta ao lado do seu quarto estava aberta, denunciando que Dasom falava a verdade: Chanyeol não estava ali.

— Eu realmente peço desculpas em nome do meu pai. — a ômega disse, meio rindo e os olhando por sobre o ombro. — Ele ficou assustado com o que está nos jornais e tentou nos proteger. — ela parecia acreditar isso, não soava como algo decorado em frente ao espelho e Baekhyun sentiu o estômago afundar, porque ele sabia mais do que todo mundo o quanto Park Dasom amava e admirava o pai e nunca aceitaria a ideia de que ele era um maluco sádico.

Ambos continuaram em silêncio e a seguindo pelo corredor, sem nenhuma ideia de como fazer a pergunta certa para saber o que estava acontecendo. Minseok sentia como se algo grave estivesse acontecendo, havia aquele comichão atrás da sua orelha e na sola do seu pé, que o deixava agitado o suficiente para saber disso. E ele bem sabia que Baekhyun estava na mesma, principalmente pelo modo como o alfa o fitava, lhe lançando olhares desconfiados de esguelha. Eles estavam andando lado a lado, enquanto Park Dasom ia na frente, os guiando em direção a boca do lobo. O loiro sentiu medo, uma apreensão nervosa pelo que os esperava e por isso, não pôde evitar procurar a mão do marido alfa, apertando os dedos nos seus e tentando ter algum conforto.

Baekhyun apertou seus dedos de volta, compartilhando do mesmo sentimento de Minseok e o ômega sentiu vontade de suspirar pela forma como seu lobo inteiro se acalmou. Respirou pela boca quando dobraram o corredor e desceram as escadas até o primeiro andar. Dasom os fitou de esguelha, os lábios se comprimindo quando notou suas mãos juntas, mas não disse coisa alguma, principalmente porque não sabia como começar o assunto e também porque ela via no rosto de Minseok a forma como tinha suas intenções rejeitadas. O ômega não confiava em si e ela concordava, simplesmente porquê também não confiaria em alguém que surgia de lugar nenhum no quarto onde eles estiveram presos, agindo como se tudo fosse um mal entendido.

Mas era, ela se assegurou. Seu pai nunca quisera machucar Baekhyun ou Minseok ou Chanyeol. Eles eram seus convidados além do fato de que Baekhyun era seu sobrinho, sangue do seu sangue, mesmo que soubesse o quanto o pai não ficava feliz com isso. No entanto, só porque não ficava feliz não significava que fosse malvado. Seu pai era só um tanto excêntrico, um pouco impulsivo, mas nunca sairá por aí machucando pessoas e ela não acreditava que ele pudesse fazer algum dia.

Eles desceram mais alguns lances de escada até que Dasom reconhecesse o tapete verde da sala de estar, que levava até a sala de refeições. Eles moravam em um prédio, cheio de andares. Seu andar predileto era o último, o que ficava no topo, que aliás à pertencia. O andar inteiro era seu desde os quatorze anos, quando teve o primeiro cio e se descobriu ômega. O andar abaixo do seu pertencia as suas avós, Hyejin e Yongsun e logo depois vinha o deu pai, e então, havia os andares para os hóspedes. Geralmente, amigos de seu pai, parceiros de negócios, visitantes de outras alcateias que gostavam da cultura Park, todos eram bem-vindos desde que não tentassem nada contra eles.

Ela continuou andando em frente aos dois, os guiando até a sala de refeições. A porta de vidro estava fechada, mas ela conseguia ver o pai sentado à cabeceira da mesa, de costas para entrada, comendo calmamente enquanto Byun Chanyeol estava sentado à sua direita, uma cadeira vaga longe do Park. Eles não pareciam estar conversando e quando o alfa mais alto os viu através do vidro, logo ficou de pé, tão ansioso quanto o casal atrás de si. Dasom fez as honras ao abrir a porta e deixando que Baekhyun e Minseok entrassem primeiro, como que afim de provar o seu ponto de que seu pai não fez mal à ninguém.

— Dasom! — seu pai exclamou assim que viu Baekhyun e Minseok entrando na sala de refeições, desaprovador, mas não tanto. Era um fato que Park Hyukjae nunca conseguia ficar bravo com sua filha, mesmo em situações de desobediência como esta. — Eu disse que os soltaria no almoço.

Dasom suspirou e sentou-se na cadeira vazia à sua direita, a que Chanyeol tinha ignorado. Cruzou os braços e tentou parecer brava.

— Papai, não pode prender nossos convidados desse jeito. Já pensou na imagem que vai passar a Minseok? — ela soou brava. — É a primeira vez que Baekhyun volta aqui desde que casou e não me surpreende ele ter negado o convite que fiz tantas vezes.

Hyukjae teve coragem de revirar os olhos numa atitude nenhum pouco adulta e Dasom bufou.

— Peça desculpas. — ela mandou e o alfa riu, o que só serviu para que os olhos de Dasom tornassem-se prateados sobre o pai, intensos.

— Não me olhe assim. — ele demandou e ficou de pé, fitou Baekhyun e Minseok que conversavam com Chanyeol, preocupados com sua condição física, fazendo perguntas diversas. — Sentem-se. — mandou usando a voz de alfa, estava sem saco para conversinhas.

Minseok sentiu o corpo estremecer e automaticamente quis se encolher, mas a mão de Baekhyun escorreu por seu braço até alcançar a mão e o ômega se sentiu relaxar. Encarou os olhos de Hyukjae, em algum tipo de desafio e o alfa teve coragem de lhe sorrir, o canto dos lábios curvando-se em ironia.

Chanyeol foi o primeiro a se sentar, sem saber o que mais poderia fazer. Estava apenas seguindo seus instintos. Baekhyun o seguiu depois, simplesmente porque conhecia seu tio o suficiente para saber que ele não falaria nada até que todos estivessem de acordo com suas ordens. Minseok ainda encarou o alfa mais um pouco, em algum tipo de desafio que não passou despercebido pelo Byun. Mas por fim, o ômega sentou-se ao lado de Baekhyun, todos perfeitamente enfileirados ao lado direito de Park Hyukjae.

— Devem estar se perguntando porque os tranquei nos quartos. — começou e Dasom os fitou, como que pedindo para escutar seu pai antes de julga-los, mas Baekhyun não conseguia fazer isso, ainda mais depois de muitos anos sendo torturado naquele lugar durante a infância e adolescência.

— E sumiu com nossos celulares. — Chanyeol resmungou e Dasom virou-se para o pai, mais indignada ainda.

— Eu vou devolver, ok? — ele sussurrou à filha, que relaxou as feições. — Pela manhã recebemos uma notícia horrível. — ele estendeu o jornal à filha, que passou a Chanyeol. Baekhyun inclinou-se sobre o irmão, tentando ler o que havia ali e Minseok fez o mesmo, mas nenhum dos dois conseguia acreditar no que estava ali. — Seu pai nos expôs a comunidade humana. — falou. — Como pode ver, está em todos os jornais, há fotos e relato de testemunhas. — suspirou, como se não acreditasse naquilo. — Por esse motivo, eu fechei os portões da alcateia.

Minseok arregalou os olhos e Hyukjae quase riu diante da face assustada do ômega.

— Isso é ilegal. — Baekhyun se levantou.

— Estou protegendo meus lobos. — Hyukjae explicou. — Você sabe tão bem quanto eu o que isso significa. — rosnou em direção ao sobrinho. — O Conselho vai caçar o seu pai e qualquer Byun que tenha uma participação nisso, eu estou fazendo um favor e tanto em mantê-los aqui quando poderia joga-los na rua e deixar que os humanos comam suas carcaças. — Chanyeol lançou um olhar assustado para o Park e o lobo quis rir da forma como ele parecia um filhote assustado. — Você é sangue do meu sangue, Baekhyun, entenda que só estou tentando protegê-lo. Protegê-los. — olhou para os outros ali e Minseok engoliu em seco.

— Devolva meu celular. — Baekhyun disse, por fim. — Preciso falar com meu pai.

— Isso é algum tipo de brincadeira pra você? — Hyukjae apoiou as mãos sobre a mesa e encarou o sobrinho. — O Conselho pode muito bem estar com seu pai agora, pode ter grampeado o seu celular e o estar monitorando atrás de cúmplices. Você não entende o quanto Byun Siwon nos colocou em perigo? Olhe pra isso! — exaltou a voz e Minseok se encolheu, sem conseguir evitar, odiava quando alfas usavam sua voz ativa, por ser ômega, seu lobo sempre se encolheria diante delas. — É o seu pai na capa do jornal. — Baekhyun desviou o olhar para o jornal, estava no escuro, não tinha o que fazer além de escutar o tio. — Ele acabou de expor toda a comunidade lúpus, o mínimo que podemos fazer agora é fechar os portões e torcer para que as autoridades humanas não saibam do nosso envolvimento com o seu pai.

Chanyeol fitou o irmão e Minseok suspirou antes de afastar a cadeira e ficar de pé.

— Nos devolva os celulares. — pediu.

Hyukjae mordeu a parte interna da bochecha. Ele odiava tanto Kim Minseok, aquele maldito ômega que não conseguia abaixar a cabeça aos seus superiores. Encarou o ômega e suspirou antes de negar.

— Até ficar seguro novamente, vocês são meus convidados. — então ele afastou a cadeira e começou a ir embora.

***

Kyungsoo fitou a entrada da sua alcateia. Reconhecia o lugar, reconhecia o cheiro, sabia onde tinha que pôr os pés e se fechasse os olhos, quem sabe, pudesse adivinhar o que havia atrás dos portões. Mas ali através da janela do carro de Kibum, no banco de trás, o ômega apenas esperou.

O alfa o fitou através do espelho retrovisor e depois virou-se no banco para fita-lo, enquanto que ao seu lado estava Sungmin, quieto.

— Está é nossa deixa. — o alfa disse e Kyungsoo desviou os olhos até ele. — Não vamos entrar com você. — ele respondeu à pergunta silenciosa que seus olhos faziam.

— Por que? — perguntou.

— Não podemos nos envolver nesse tipo de coisa. — Sungmin respondeu. — Nosso trabalho requer descrição, mas está tudo bem agora. — ele também virou-se no banco para fitar o ômega. — Está entregue agora, Kyungsoo, pode voltar para casa. — sorriu e o Kim sorriu de volta.

Kyungsoo voltou a olhar pra porta, então ergueu a mão e a abriu. Colocou os pés para fora e então, estava fora. Olhou para trás e sorriu mais uma vez para o beta e o alfa. Voltou a olhar pra frente e andou até a entrada, onde se localizava o guincho, o lugar em que os guardas estavam. Escutou quando o carro deu partida e não olhou para trás para vê-los ir embora, ele só chamou a atenção dos guardas.

— Olá, — ele começou baixo atraindo os olhares dos dois betas ali dentro. — eu sou Kim Kyungsoo e preciso entrar.

Os betas arregalaram os olhos diante da sua declaração.

— Senhor Kim, você voltou. — Kyungsoo sorriu e agradeceu a forma como estava sendo recebido até o momento em que o portão se abriu e ele entrou.

O guarda perguntou se ele precisava de ajuda para chegar até a casa principal, já que o mesmo havia notado a barriga de sete meses que Kyungsoo sustentava, mas o ômega negou e seguiu sozinho pelo portão. Alcançou a pracinha do lugar, olhou para cada canto procurando lembranças e as encontrando. Podia escutar os sorrisos de crianças na sua memória, conseguia dizer onde costumava brincar e pra que lado ficava cada coisa. Suas lembranças estavam no lugar certo, agora percebeu. Conseguia lembrar-se de quase tudo, não sentia-se mais um completo desconhecido para si mesmo. Estava tudo acontecendo da forma como Sungmin havia dito. Se ele recebesse um estimulo positivo, iria conseguir lembrar de tudo de uma forma melhor e mais rápida.

Continuou andando, sem se preocupar para onde estava indo porque agora sabia que estava em casa. E antes que pudesse perceber, estava em frente a casinha amarela em que cresceu. Colocou as mãos sobre o portão antes de escorrega-las até o ferrolho e abri-lo. A casa parecia silenciosa, o céu estava nublado, havia chovido o caminho inteiro até ali, mas a chuva tinha dado uma trégua agora. Kyungsoo entrou no lugar, passou pelo jardim e bateu na porta.

Ele não sabia se seria bom entrar de uma vez, afinal não queria ser inconveniente, então apenas optara por bater, afinal parecia ser a melhor decisão. Só que não houve resposta. Ergueu a mão mais uma vez e bateu com mais força, escutou um resmungo do outro lado e seu coração bateu forte antes que a porta fosse aberta. O ar sumiu dos seus pulmões do mesmo modo que o rosto da pessoa à sua frente tornou-se pálido de surpresa.

— K-Kyungsoo? — o alfa disse.

Sabia que era um alfa pelo cheiro.

Mas o jeito como seu lobo se encolheu dentro de si e a forma como sua têmpora doeu, fazia-o perceber que havia algo de errado. Mas não precisou de muito tempo para descobrir, porque assim que a palavra, a identidade daquele homem escorregou por seus lábios, Kyungsoo sabia muito bem o que havia de errado.

— Pai.

A lembrança veio mais rápido do que imaginava, forte, como um tapa certeiro. Seu coração bateu rápido ao passo que sua mente se enchia de imagens horríveis, todas protagonizadas pro aquele homem na sua frente. Engoliu em seco enquanto o estômago se revirava e sem poder se controlar muito, inclinou-se ali mesmo, em frente ao alfa e vomitou sobre seus pés.

***

Minseok encarou a vista do seu quarto, os braços cruzados enquanto Baekhyun estava deitado na cama que dividiam. Eles estavam em silêncio, cada um não pensando em nada realmente, simplesmente porque não havia o que pensar. No primeiro dia, havia uma certeza de que podiam reverter aquele quadro, que Park Hyukjae podia se cansar daquela brincadeira e os libertar, contudo, quando nada parecia funcionar e eles só ficavam cada vez mais emaranhados na Alcateia Park, os dois entenderam que não havia muito o que fazer.

Chanyeol ainda não entendia, apesar de tudo. Ele estava frequentemente tentando formas para escapar, mas Minseok e Baekhyun já tinham percebido que não havia forma de se revirar ali, lutar ou gritar, você só precisava aceitar aquela desculpa fajuta de proteção e abdicar — temporariamente — da sua alcateia. Era o que Baekhyun havia feito e o que preocupava Minseok, porque o ômega conseguia ver nos seus olhos o quanto ele se culpava por aquilo. Mas como eles podiam adivinhar? Estavam ali para celebrar um festival e não assinar um termo de cárcere.

No entanto, depois de uma semana ali, o ômega percebia que, talvez, aquela brincadeira de mau gosto nunca perdesse a graça para Park Hyukjae, o que era péssimo porque o Kim precisava voltar para casa, para sua família, para seus lobos e não viver ali, como um eterno brinquedinho do líder Park.

O Kim afastou-se da janela. Já tinha enjoado-se daquela vista. Depois de uma semana sendo obrigado a olhar para ela, Minseok já decorara todos os detalhes do centro da Alcateia Park. Ele fitou o marido e suspirou, não sabia o que Baekhyun podia estar sentindo com aquilo, mas sabia que o marido acreditava que tudo era culpa sua, como se ele realmente pudesse adivinhar o que se passava na mente do tio. E Minseok tentava ser paciente quanto a isso, sabia que o marido tinha alguns problemas de insegurança e mais outros que culminavam em pesadelos.

Contudo, Minseok tinha que admitir que desde a última conversa que o marido tivera com Hyukjae, na última noite, estava mais quieto. Quase como se estivesse tentando decidir algo.

Aproximou-se da cama e sentou-se na beira, atraindo os olhos de Baekhyun para si.

— Tudo bem? — Baekhyun perguntou e Minseok suspirou erguendo a mão em direção aos cabelos.

— Acho que eu quem deveria perguntar isso.

— Eu estou bem. — Baekhyun respondeu por si mesmo e Minseok sorriu, apenas para que o alfa erguesse a mão e tocasse seu rosto, então ele estava se abaixando o suficiente para beija-lo.

Nenhum dos dois sabia quando começara a ficar natural, mas de repente parecia que sempre tinham feito aquilo: trocar beijos em momentos aleatórios. E como nenhum dos dois reclamava, então estava tudo bem, principalmente pela forma como pareciam mais confortáveis ao lado um do outro e sem nenhuma barreira.

— Quer me contar o que está acontecendo? — Minseok foi direto ao ponto, aproveitou para deitar ao lado do marido e Baekhyun suspirou pensando em como dizer que não era nada importante. — Eu o vi falando com você depois do jantar.

— Ele me convidou para ir até seu escritório. — o alfa disse de uma vez e Minseok comprimiu os lábios.

Sabia que qualquer convite vindo de Hyukjae não era nenhum pouco confiável, ainda mais um feito pessoalmente por ele. Por isso, sua mente já estava imaginando mil e umas coisas que ele poderia querer com Baekhyun e nenhuma delas parecia boa. Estava pronto para abrir a boca e dizer que o alfa não deveria sequer chegar perto daquela porta, mas o marido já havia se decidido:

— E eu aceitei.

O loiro mordeu o lábio, as mãos se juntaram sobre a barriga, os dedos nervosos quando os estralou. Não sabia o que pensar sobre aquilo, mas percebeu quando Baekhyun virou-se de lado e observou seu perfil, esperando uma atitude diante da sua resposta.

— Eu não acho que seja uma boa ideia. — foi sincero.

— Eu também. — Baekhyun concordou.

— Então, por que aceitou? — virou-se de lado também, queria olhar em seus olhos.

— Não havia muitas escolhas. — contou e Minseok sabia que não. E se Park Hyukjae estivesse pronto para liberta-los? — Talvez, ele esteja atrás de um acordo agora, afinal já estamos há uma semana aqui e nenhum humano veio incomoda-lo ou alguém do Conselho. — sua fala tornou-se esperançosa. — Pode ser que meu pai tenha o ameaçado.

Minseok sorriu ao mesmo tempo que Baekhyun. O ômega compreendia muito bem de onde vinha toda aquela admiração pelo pai alfa, afinal ele já sentira o mesmo sentimento pelo próprio pai, mas isso havia sido há um milhão de anos. Sentia que era assim, como se tivesse vivido tudo aquilo em outra vida, como se seu pai ainda fosse o mesmo Jungsoo a qual todos amavam, o que era conhecido por seu coração gentil e suas palavras calmas e não o homem de mão pesada que o espancou sem nenhuma piedade, que o tratara como se fosse nada além de um lixo qualquer.

Contudo, naquele momento, Minseok realmente quis acreditar que Byun Siwon tinha aquele poder todo só para que Baekhyun não se decepcionasse da mesma forma que ele, afinal, o ômega bem sabia como o marido não era lá muito estável em seus sentimentos. Era o tipo de coisa já notara, um pouco antes que o muro entre eles fosse extinto: Baekhyun era terrivelmente inseguro. Ele estaria sempre desconfiando de si mesmo, com medo de falhar e achando que tudo que fazia era mais importante do que realmente era.

— Siwon realmente mete medo em qualquer um. — Minseok o apoiou e Baekhyun aproximou-se, daquela forma que ele sempre fazia quando sabia que estava sendo acolhido e não julgado.

Minseok se aproximou de volta, porque ele também gostava da sensação de ser acolhido nos braços de Baekhyun. Quem sabe, o alfa não fosse o único inseguro ali.

Eles encaram-se por tempo suficiente para que o loiro erguesse a mão e colocasse no rosto de Baekhyun, afim de trazê-lo para perto, para que pudessem se beijar de uma vez, porque Minseok odiava quando eles entravam naquele clima. Odiava porque seu coração sempre perdia o ritmo e seu lobo fazia aquela coisa de se remexer ansioso dentro de si, da mesma forma que costumava acontecer quando o Kim amava Jongdae. Dava medo, um medo terrível, que era compensado pela forma como sabia que não estava sozinho naquilo, porque conseguia ver nos olhos do alfa a forma como ele estava tão confuso quanto si e isso era reconfortante para o ômega.

Os beijos evoluíram para algo mais necessitado, algo mais selvagem quando Minseok sentiu os dentes de Baekhyun em seu lábio inferior. De olhos fechados, ele apenas gemeu quando as mãos do alfa deslizaram por suas costas até sua cintura, apertando-a. O ômega enfiou as mãos por baixo da camisa do marido, tocando sua pele e logo depois suspendendo o tecido, fazendo-a ser retirada do seu corpo. Baekhyun ficou por cima de si, enfiou o rosto na curva do seu pescoço e deixou beijos por ali, fazendo Minseok suspirar sem entender porque se excitava com tão pouco.

As peças de roupas foram embora aos poucos, os beijos eram mais intensos e os gemidos de ambos aparecia com mais frequência, até o momento em que se encaixaram. Minseok sentado sobre o colo de Baekhyun e as mãos deste, segurando-o firme enquanto suas peles se chocavam com uma velocidade que deveria ser estudada. Sentia o suor escorrendo por suas costas e o cabelo úmido colado contra a nuca, mas não conseguia se forçar a parar, ainda mais quando Baekhyun desceu a boca até seus mamilos e os mordiscou, chupando logo em seguida, provocando gemidos um tanto mais altos e desesperados e Minseok bem sabia que Chanyeol podia escuta-los no quarto ao lado, mas quem se importava realmente com isso? Ele, com toda certeza, não.

Suas mãos subiram até os cabelos do alfa e puxaram, fazendo seu rosto ficar na altura do seu para poder beija-lo novamente. Chupar sua língua, morder seus lábios, provar o gosto no centro da sua língua. Suas mãos afrouxaram nos fios de cabelo de Baekhyun, libertando-o para voltar a beijar seu pescoço, lambendo a pele salgada com gosto de mirtilo no minuto seguinte. Às vezes, o alfa se perguntava como isso de ter um cheiro realmente funcionava, porque tudo que ele conseguia perceber a cada vez que transava com Minseok, era que ele inteiro era doce. Terrivelmente doce em cada canto do seu corpo e isso era delicioso. Suspirou contra seu pescoço, apenas para perceber a forma como o ômega inteiro se arrepiou.

O alfa levantou o rosto para observar a expressão no rosto do marido e bem podia gozar apenas com aquilo, porque nada no mundo era páreo para as bochechas rosadas de esforço de Kim Minseok. O cabelo bagunçado e os olhos semicerrados daquele modo só serviam para instiga-lo a se aproximar mais um pouco enquanto aumentava a velocidade de ir e vir no ômega. Suas mãos voltaram a se fincar em sua cintura, trouxe-o para mais perto, apenas para ter o pênis dele prensado entre os dois e descendo e subindo a medida que o ômega fazia a mesma coisa. Ele enfiou o rosto na curva do seu pescoço e deixou beijos na pele marcada de chupões feitos alguns minutos atrás. Minseok gemeu, arrastado contra sua pele, deixando-o arrepiado e fazendo ele mesmo gemer.

Baekkie. — ele subitamente sussurrou, manhoso de uma forma que não combinava com aquele momento e que fazia Baekhyun descer as mãos até suas coxas apenas para aperta-las. — E-eu vou...

Sim, querido. Baekhyun sabia, sentia pela forma como o ômega inteiro tornava-se manhoso em seus braços, era uma característica. O tipo de coisa que havia percebido algum tempo atrás: Minseok sempre o chamaria, baixinho, como um segredo, quando estivesse perto do seu ápice. E Baekhyun mentiria se não dissesse que gostava, porque não havia momento melhor do que aquele, quando Minseok agarrava-se à ele, os dedos se fincavam nas suas laterais, apertando-o contra si e os movimentos se tornavam mais intensos, então seu nome escaparia dos lábios maltratados por seus dentes e o fim estaria ali, arrastando Minseok e consequentemente, Baekhyun.

Sentiu os dentes do marido ômega contra sua clavícula, da forma como ele sempre fazia quando era intenso demais: não conseguia controlar seu lobo. E uma parte de Baekhyun ficava satisfeito com aquilo, simplesmente porque aquilo era um sinal de que o lobo de Minseok o via como parceiro. O alfa sentiu seu nó se formar no interior de Minseok e o escutou resmungar, não tão satisfeito e Baekhyun acariciou suas costas, podia imaginar como era desconfortável, mas não podia voltar atrás. Beijou-lhe o ombro e olhou de esguelha para o próprio braço, onde tinha — mais uma vez — mordido a si mesmo, numa forma de não marcar Minseok. O sangue descia por sua pele, caindo direto no chão e latejava pouco devido a forma como já estava acostumado e a forma como seu corpo inteiro não se importava com aquilo quando tinha nos braços um ômega de cheiro terrivelmente bom. Fechou os olhos e voltou a aspirar o cheiro do marido da mesma forma como o sentia fazendo consigo.

Quando acabou, quando o nó se desfez, Minseok saiu de cima de si e deitou-se na cama, as bochechas ainda denunciando todo o seu esforço e fazendo Baekhyun se aproximar novamente, para beijar cada uma delas. Eles beijaram-se na boca mais pouco até que Minseok bocejasse e Baekhyun deixasse um último selo em sua testa, numa despedida tosca, como se eles não fossem se ver nunca mais. Minseok sorriu e o puxou para perto, para que pudessem dormir de uma vez e Baekhyun foi, aceitou o convite implícito ali. E eles adormeceram por tempo suficiente para que quando Baekhyun acordasse, primeiro do que o loiro, estivesse descansado o suficiente.

Ele notou a hora no relógio sobre o criado mudo e levantou-se da cama no minuto seguinte, depois de afastar, com cuidado, Minseok. Tomou um banho rápido e vestiu-se na mesma velocidade, ainda teve coragem de beijar os lábios de um Kim adormecido e então saiu do quarto em direção ao escritório do tio Park.

A caminhada até lá não foi vagarosa como pensava. Atribuiu isso a sua ansiedade que fazia seus passos ficarem terrivelmente rápidos, porque quando deu por si estava em frente ao escritório do tio, pronto para bater na porta e saber o que o mesmo queria consigo. Respirou fundo antes de bater na porta e respirou fundo novamente quando escutou a voz do alfa dizendo que podia entrar. A porta rangeu quando entrou, como se ela mesma estivesse lhe dando algum tipo de aviso sobre como aquilo não terminaria bem. Mas Baekhyun quis acreditar que estava tudo bem, que sua intuição estava errada e que agora, ele poderia ir embora dali com Minseok e Chanyeol.

— O senhor queria me ver. —Baekhyun começou depois se sentar na cadeira vazia em frente à mesa do tio.

— Acredito que essa uma semana aqui deva ter relaxado você o suficiente para me contar o que eu quero saber. — Hyukjae começou, numa falsa simpatia que não combinava com o momento.

Baekhyun franzio o cenho, sem saber ao que o mesmo se referia.

— O que? — soltou.

— Não se faça de bobo, garoto. — Hyukjae começou a perder a paciência. — Eu o mantive aqui com um único propósito, então apenas diga que vale a pena eu ter esperado tanto.

— Que propósito?

— Sua mãe, é claro.

O Byun comprimiu os lábios, totalmente confuso com o rumo daquela conversa. Afinal, entendia que Park Hyukjae só o aturava por causa do sangue da sua mãe, mas ela estava morta e aquela conversa não fazia sentido algum para si, simplesmente porque não via como sua mãe morta poderia ajudar o tio em qualquer que fosse a coisa que ele queria.

— Do que está falando? — resolveu perguntar.

— Pare com esse joguinho! — Hyukjae usou sua voz ativa de alfa de uma vez, pegando Baekhyun de surpresa. — Eu já sei que sua mãe não está morta coisa nenhuma e que você e seu pai a esconderam esses anos todos.

Baekhyun piscou diante do que ele dizia, desviou os olhos do tio e olhou em volta como se pudesse encontrar qualquer pessoa para dizer que aquilo era só uma brincadeira de mau gosto.

— O-o que? — se odiou por gaguejar, mas estava assustado com o que escutava.

— Então, você vai mesmo continuar com esse jogo, não é? — Hyukjae abriu a primeira gaveta da mesa e puxou uma pasta de papelão, colocou-a sobre a mesa e empurrou em direção ao alfa. — Aí está tudo que eu sei, então pare de mentir.

O alfa mais novo ergueu a mão e puxou a pasta para mais perto, abriu-a e observou as fotos que haviam ali. Não eram muitas, mas eram o suficiente para que ele reconhecesse seus pais Siwon e Donghae, aparentemente, indo até um restaurante. Ele continuou vendo a sequência de fotos até que não pôde mais continuar, porque estava assustado o suficiente. Ele conhecia aquele tom de cabelo e aquela curva do queixo, mesmo que seu pai alfa tenha escondido todas as fotos da sua mãe, Baekhyun tinha uma. Uma única foto que Donghae lhe entregara as escondidas. Ficava guardada no fundo da sua gaveta no criado mundo do seu quarto na Alcateia Byun. Uma bela mulher de cabelos escuros e olhos duros, traços delicados que não combinavam nenhum pouco com a personalidade, a mesma mulher estampada na foto que agora segurava. Park Jihyun.

— Isso está errado. — balbuciou achando que aquela podia ser uma foto antiga que Hyukjae queria que acreditasse que era recente.

— Olhe a data impressa no canto da foto. — o Park disse, irritado.

E Baekhyun olhou.

Era recente. Pertencia a aquele ano. Não muito longe da data em que estavam agora. Aquilo... aquilo era um pesadelo. Só podia ter um pesadelo.

Voltou a fitar o tio com a foto tremendo nas mãos, sentia como se alguém tivesse drenado seu sangue porque sentia-se inteiro gelado, como um morto vivo.

— Você não sabia. — Hyukjae finalmente adivinhou, meio se inclinando sobre a mesa para observar melhor o choque no rosto do sobrinho, sorriu diante daquilo e Baekhyun sentiu os olhos encherem-se de lágrimas. — Seu pai estava o enganando esse tempo inteiro. — o líder Park externou e Baekhyun engoliu o soluço que queria vir.

Ele afastou a cadeira e quis sair dali, porque estava desmoronando diante do sorriso satisfeito de Hyukjae.

— Nós fomos enganados, Baekhyun. — falou calmamente ficando de pé e indo até o sobrinho. — Seu pai o enganou, sua mãe o abandonou. — suspirou como se estivesse, de repente, compadecido da situação do mais novo. — Eu também fui enganado pelos dois, acredite, eu chorei a morte daquela maldita durante todos esses anos para no fim saber que ela estava andando por aí, viva, como se ninguém mais no mundo importasse.

Baekhyun levantou o rosto para ele, os olhos não pareciam mais perdidos. Pareciam cheios de raiva, tanta que Hyukjae achou que podia tocar. Decidiu que valia a pena alimentar aquilo mais um pouco.

— Jihyun nunca se importou com ninguém além dela mesma, garota egoísta. — continuou. — Olhe pra ela, —segurou o rosto do sobrinho e o obrigou a fitar a foto que ainda segurava. — tão bonita, nenhum pouco preocupada com as pessoas que abandonou ou rejeitou.

Baekhyun se desvencilhou do tio, ficou de pé e largou a foto.

— O que você quer? — ele fez a pergunta certa e Hyukjae sorriu, sabendo que havia tocado na ferida certa.

— Traga-a para mim.

— E o que? Nos deixara em paz? — com nós Hyukjae entendeu que era os Byun’s, Baekhyun estava propondo o fim da aliança e o Park nunca achou que aquilo podia ser tão produtivo.

— O que você quiser. — sorriu mais um pouco encostando-se na sua mesa. — Apenas traga-a para mim.

Baekhyun o encarou, parecia raivoso como nunca. Lembrava-o alguém, mas Hyukjae não sabia quem, contudo deixou isso para pensar em outro momento, porque no minuto seguinte o alfa estava assentindo, aceitando aquele acordo insano. Mas Hyukjae nunca poderia culpa-lo por entregar a mãe daquele jeito, afinal, ela já havia o machucado o suficiente e parecia na hora de Baekhyun dar o troco, provando o tipo de sangue de lobo que tinha correndo nas veias.


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