Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 43
XIV - Faça um pedido




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Siwon sentou-se ao lado de Donghae na sala da sua casa, um balde de pipoca em uma mão e um copo de refrigerante na outra. Donghae aproveitou a aproximação do marido para deitar a cabeça sobre seu ombro, suspirando por conta do desconforto que era estar sustentando uma barriga de nove meses. O alfa meio se afastou, afim de colocar o copo de refrigerante sobre a mesinha de centro, mas continuou segurando o balde de pipoca e nesse meio tempo, o ômega aproveitou para pegar um pouco da mesma e comer.

— Já apertei o play. — avisou quando Siwon voltou a encostar as costas no encosto do sofá e quando voltou a deitar a cabeça sobre o ombro dele, mastigando vagarosamente.

Siwon ficou quieto esperando o filme começar, mas Donghae se remexeu mais um pouco. Suas costas estavam doendo pela forma como estava sentado.

— O que foi? — o alfa perguntou quando viu o bico enorme nos lábios do marido.

— Minhas costas estão doendo. — reclamou.

O alfa inclinou-se e deixou o balde de pipoca sobre a mesinha e então virou-se no sofá, de modo a ficar sentando com as costas encostadas no braço esquerdo do sofá, abriu os braços e chamou pelo ômega. O Lee meio sorriu antes de se ajeitar entre os braços do marido, com as pernas esticadas, a dor pareceu ir embora, estava confortável ali. Siwon aproveitou o pescoço exposto do Lee para deixar um beijo ali, o que arrancou mais risadinhas deste. Então, Siwon estava esquecendo do filme e deixando que suas mãos chegassem até a barriga de nove meses do ômega, deslizasse pelos lados, sobre o tecido de algodão da camisa GG que ele usava. E como se soubesse que era o pai alfa, Ji Eun chutou contra sua palma.

— Oh. — Donghae se assustou, fazendo o alfa rir contra sua orelha. — Ela está animada hoje. — comentou depois que Siwon parou de rir.

Desde quando acordara que sentia a filha inquieta, o surpreendendo constantemente com chutes.  

— Deve estar ansiosa para conhecer seus pais. — deixou mais um beijo no pescoço do Lee, apenas para tê-lo relaxando em seus braços.

— Ela pode nascer a qualquer momento. — quase sussurrou, quase um segredo. — Estou ansioso.

— Eu também. — enlaçou seus dedos nos dele. — Mas está tudo bem, — tentou assegura-lo. — estamos preparados. — referiu-se aos médicos da alcateia que estavam em prontidão e também ao fato de já terem dois filhos adultos.

Estavam sozinhos em casa. Os filhos, Chanyeol e Baekhyun, haviam ido para o Festival na Alcateia Park junto de Kim Minseok, o marido do filho mais velho. Os Lu’s haviam ido para a Alcateia Kim, afim de comemorar com seus novos parceiros as bênçãos da Deusa Dal. Então, sobrara os dois. Donghae que não podia ficar saindo depois de completar nove meses e Siwon que não o deixaria sozinho. Por isso, tinham decidido assistir um filme qualquer naquela noite de lua cheia, aproveitariam a companhia um do outro enquanto todo os outros lobos sofriam com as mudanças de hormonais.

Donghae não era afetado por estar grávido e Siwon por ser seu parceiro e ambos serem marcados. A marca acabava servindo como algum tipo de alerta para a Lua, dizendo como eles estavam isentos daquilo tudo quando tinham um ao outro para cuidar. Mas Siwon sabia que nem todos tinham essa sorte, um exemplo era o seu primogênito e o marido. Às vezes, o alfa se pegava observando os dois, coletando dados para comparar com o que Donghae lhe contava sobre eles, sempre florindo seus relatos e transformando tudo em um romance de novela. E é claro que o Byun percebia a tensão entre os dois e mais do que isso, percebia a forma como seu filhote estava afetado pela presença do outro.

Talvez, devesse ter uma conversa com Baekhyun sobre isso, mas achava que ainda era cedo, principalmente pelo modo como ele estava ocupado com algumas questões na alcateia. A transferência dos Lu’s estava deixando tanto seu filho quanto o líder Lu Han em claro, sempre contando e recontando as pessoas que já haviam ido e as que ainda faltavam. Mas em meio a isso tudo, havia essa pequena folga, disfarçada de Festival, que poderia trazer alguma paz ao alfa mais novo, ainda mais pelo modo como Siwon sabia que ele se deixaria levar por seus instintos e se enterraria nos braços de Minseok.

— Amo você. — O Lee disse por fim, quase suspirando no fim da declaração e fazendo Siwon sorrir contra o seu ombro, onde estava encostado.

— Também amo você. — devolveu e o ômega achou que bem poderia flutuar.

Mesmo depois de tantos anos de casamento, Donghae ainda pegava seu coração dando saltos frenéticos quando recebia uma recíproca daquela, pois bem conhecia Siwon para saber que ele não fazia o tipo de homem que falava dos seus sentimentos abertamente, era o tipo de coisa que Baekhyun havia herdado assim como o jeito sutil como demonstrava, os trejeitos levemente preocupados que para qualquer um de fora pareciam normais, mas que para os dois eram um passo e tanto do seu interesse e por isso, preocupação com o bem-estar. Donghae conseguia lembrar-se da forma como notou isso em Siwon, a delicadeza dos gestos quando colocava comida no seu prato, a forma como ele sorria minimamente para si, o jeito como o ajudou a terminar os estudos.

Siwon, que tinha um rosto esculpido em seriedade e que podia ser tão perigoso quanto demonstrava, tinha delicadeza em seus gestos para com Donghae. E tudo bem, se ele fosse ríspido, as vezes, porque Donghae conseguia abraçar todos os seus estados com maestria, que até mesmo ele se surpreendia com o tanto de amor que cabia em seu peito.

Eles ficaram em silêncio, relaxados o suficiente para voltar a prestar a atenção no filme. Donghae virou o rosto para poder assistir, da mesma forma que Siwon fez, mas, de vez em quando, o alfa deixava beijinhos em seu pescoço e ombro, sempre fazendo o Lee sorrir e corar pela surpresa. Estavam sozinhos, pensou, então estava tudo bem. Conhecia os medos de Siwon o suficiente para saber que ele preferia demonstrar qualquer coisa quando estavam a sós, afinal, anos vivendo sob o controle do pai, tinha deixado suas sequelas.

Wonie. — chamou baixinho, depois de quase uma hora de filme, estava sentindo o peso do rosto do marido contra seu ombro e bem achava que ele tinha dormido. — Wonie. — chamou novamente, quando não teve respostas e dessa vez mexeu o ombro, levemente, tentando chamar a atenção do homem.

— Hum. — resmungou piscando os olhos, tinha cochilado por um momento.

— Está babando em mim. — Donghae brincou e Siwon riu contra seu ombro.

— Não faço essas coisas. — se defendeu e então o ômega estava rindo. — O filme já acabou? — notou os créditos subindo na tela da tevê.

— Faz algum tempo. — contou. — E você dormiu o filme inteiro, senhor Byun Siwon. — virou o rosto para fitar o marido, que teve a decência de sorrir envergonhado.

Com a cabeça deitada daquele jeito contra seu ombro direito, Donghae não conseguia não achar Siwon bonito, ainda mais quando sorria meio contido, os lábios parcialmente escondidos no tecido de algodão da sua camisa.

— Eu prestei atenção... — começou, mas o Lee ergueu a sobrancelha desconfiado. — um pouco... bem pouco. — concluiu e então o ômega suspirou, apenas para meio se aproximar, formou um bico nos lábios, pedindo um beijinho, que Siwon prontamente deu. — Quer deitar? — perguntou quando notou Donghae afastando-se de si, começando a ficar de pé.

— Sim. — meio esticou os braços e as pernas. — Estou tão cansado. — bocejou antes de colocar as mãos na barriga, Ji Eun estava chutando novamente.

Estava agitada demais naquela noite.

— Eu arrumo aqui. — Siwon disse e Donghae assentiu antes de começar a se afastar em direção a escada, iria para o quarto, tomar um banho quente e então dormir um pouco.

O alfa suspirou ao ver o outro andando com dificuldade e bem podia imaginar o tanto que a barriga pesava e a forma como prejudicava sua coluna. Esperava que Ji Eun não demorasse tanto para nascer, afim de dar algum alívio ao seu marido, afinal ele não era mais tão novo assim para sustentar uma gravidez tão numa boa, precisava de muitos cuidados.

Ocupou-se em arruma a sala, levar a pipoca que não terminaram de comer para a cozinha. A casa estava tão silenciosa quando terminou, fazia Siwon se sentir sozinho. Gostava da movimentação dos Lu’s, os gritos e bagunças do pequeno Yixing e também do som dos passos de Kim Minseok, as conversas de Baekhyun no telefone, sempre falando com alguém do trabalho ou da alcateia, os escândalos de Chanyeol, que não era capaz de parar quieto ainda mais depois que começou a tentar convencer Yixing de que era um bom alfa, estava sempre tentando ter a atenção da criança, coisa que arrancava risadas dos irmãos Lu’s.

Já estava saindo da cozinha quando escutou um barulho, parecia que estavam forçando a fechadura da porta. O alfa olhou naquela direção, mas quando a maçaneta não mexeu, achou que tinha sido apenas impressão, por isso seguiu até a escada e subiu até seu quarto. O corredor estava silencioso como esperava, mas mesmo quando parou para tentar escutar algo vindo de fora, apenas porque sua alcateia nunca ficava realmente quieta até depois das onze horas da noite, Siwon não foi capaz de escutar nada. Tudo estava, irremediavelmente, mergulhado em silêncio. Mas não se importou, atribuiu isso ao fato de que mais da metade da alcateia não estava ali, os mais novos e até mesmo alguns mais velhos, haviam ido para o Festival na Alcateia Park, deixando para si alguns sentinelas betas — que não tinham interesse em eventos —, crianças — que não podiam participar do evento — e velhos — que não tinham mais energia para participar do evento.

Passou pela porta do seu quarto e escutou o barulho característico do chuveiro. Donghae estava tomando banho, notou. Foi até o guarda-roupa que dividia com o marido e resolveu separar um pijama confortável para que o mesmo não se cansasse tanto procurando, apenas vestisse e descansasse. Quando encontrou, deixou-o sobre a cama, e começou a tirar suas roupas, desabotoou a camisa e procurou a camisa do seu pijama no guarda-roupa e foi justamente durante esse ato, que escutou um barulho. Piscou os olhos em direção à porta fechada do seu quarto, mas quando — mais uma vez — não escutou mais nada, voltou sua atenção para o ato de trocar de roupa.

A porta do banheiro foi aberta e logo, Donghae estava ali, secando o cabelo com uma toalha de rosto e uma toalha normal envolta na cintura. Os olhos meio fechados de cansaço. Demorou para notar o pijama sobre a cama, simplesmente porque foi em direção ao marido alfa, passou os braços por sua cintura e encostou o nariz em sua nuca, atrás do cheiro gostoso de hortelã que Siwon tinha. O alfa sorriu ao mesmo tempo que colocava suas mãos sobre as de Donghae, sentia a barriga de nove meses sendo pressionada contra sua costa. Virou-se nos braços do ômega e deixou um beijinho na ponta do seu nariz, o que só serviu para que Donghae enrugasse o nariz e o mexesse de um jeito fofo.

Então, o Byun encostou sua testa na do marido e olhou bem nos olhos dele. Havia um sentimento gostoso se espalhando por seu corpo, a velha sensação de quentura que só servia para mostrar ao alfa que não havia lugar no mundo em que ele pertenceria mais do que ali: sob os olhos e nos braços de Donghae. Passou o nariz contra o nariz do marido, devagarinho, em um carinho singelo antes que o ômega o puxasse para mais perto e cobrasse um beijo demorado. Siwon deslizou os lábios pela bochecha do ômega, descendo pelo pescoço e capturando o gosto dele com a ponta da língua até que pudesse beijar o ombro nu. Donghae arfou, baixinho, as mãos subindo pelos braços do marido e se fincando ali, em um aperto enquanto os olhos fechavam-se com força.

Siwon passou a língua sobre a pele, sentindo o gosto do sabonete na mesma. Beijou demoradamente ali, antes de erguer o rosto e procurar a boca do marido mais uma vez. No entanto, logo Donghae estava se afastando e olhando em direção a porta.

— Escutou isso? — perguntou voltando a fitar o marido.

O alfa franzio a testa, desconfiado da expressão no rosto do marido, mas afastou-se dele a contragosto, foi até a porta ao mesmo tempo que Donghae ia até seu pijama sobre a cama e começava a se vestir. Ele segurou a maçaneta da porta, girou devagar, meio se perguntando o que Donghae poderia ter escutado quando ele mesmo não foi capaz de fazê-lo. Abriu a porta e colocou a cabeça para fora, avistou o corredor em completo silêncio, se dando conta que ele havia escutado barulhos também. Abriu mais a porta e dessa vez saiu por inteiro, pediu que Donghae ficasse no quarto enquanto ele verificava a casa, pois sabia bem que o marido não conseguiria dormir com algo daquele tipo o incomodando. Pegou o celular no bolso e digitou uma mensagem para Kangin, perguntando se estava tudo ok. Andou até o fim do corredor, parou no começo da escada e olhou para baixo, apenas para encontrar a porta aberta. Totalmente escancarada, mas Siwon não entendia como isso podia ter acontecido quando tinha total certeza de que ela estava trancada.

Mas antes que pudesse pensar sobre isso, sentiu uma dor na parte de trás da cabeça. Seu corpo cedeu como papel na água, foi de encontro ao chão tão rápido que nem ao menos conseguiu usar as mãos para aparar a queda, bateu a têmpora contra o piso, forte o suficiente para que tudo girasse com mais afinco. A visão desfocou o bastante para começar a escurecer, o deixando como uma última imagem: coturnos pretos.

Havia um gosto amargo na sua boca, quando tentou abrir os olhos. Dor se alastrou por sua têmpora esquerda, tentou levar a mão até ali por instinto, mas não conseguiu. Seus pulsos estavam presos, percebeu. Por que? Franzio a testa ao mesmo tempo que se forçava a levantar a cabeça para olhar em volta. Tudo estava desfocado diante de si, meio girando, fazia-o se sentir tonto. Sentiu um cheiro doce perto de si, depois escutou vozes, porém não conseguia distingui-las. Tentou soltar os pulsos mais uma vez, porém sem sucesso, continuava os tendo presos as costas. Forçou o corpo para cima, apenas para notar as pernas amarradas.

A corda escura envolvia suas pernas em espirais bem apertadas, deixando-o sentado no chão. Reconheceu o padrão do piso da cozinha da sua casa, os azulejos floridos que sua mãe escolhera muito tempo atrás. Levantou o rosto mais uma vez, a dor acertando o lado esquerdo da sua têmpora, como agulhas sendo enfiadas lentamente em seu cérebro. Balançou a cabeça, afim de tentar espantar a confusão e só então, piscou os olhos mais uma vez e tentou olhar em volta, novamente.

Tudo ainda tremia diante os seus olhos, mas agora conseguia reconhecer o cheiro doce de antes e distinguir parcialmente os sons. Eram homens falando, alguém dando ordens, um choramingo... Procurou por esse último, um tanto desesperado, e sentiu o peito afundar ao encontrar o dono daquele som.

Lee Donghae.

Amordaçado, um pouco longe de si, mais precisamente, perto da entrada da cozinha. Os olhos cheios de lágrimas, um corte na sobrancelha direita, mãos e pés amarrados da mesma forma que Siwon e a barriga de nove meses destacada no pijama. Quando o ômega percebeu os olhos do marido abertos, não pôde se impedir de tentar chegar até ele, as lágrimas caindo dos seus olhos, descendo pela fita prateada que tapava sua boca. Siwon não conseguiu se impedir de fazer o mesmo, mas era difícil se arrastar naquele chão, só que mais difícil do que isso era ver seu ômega daquele jeito. Tão assustado, tão machucado.

O que estava acontecendo?

Forçou as mãos mais um pouco, tentando afrouxar o nó para poder se libertar ao mesmo tempo que forçava seu corpo a ir até o marido, precisava chegar perto e avaliar o seu estado, precisava libertar seus braços e acolher Donghae ali, precisava... Olhou em volta quando notou passos se aproximando, viu Donghae se encolher ainda chorando, tão assustado. Siwon olhou para a entrada da cozinha e viu homens vestidos de preto entrando, pareciam como uma divisão, todos com o mesmo símbolo sobre o peito esquerdo. O que era aquilo? Assaltantes?

O homem que andava na frente de todos o viu acordado e foi até si, enquanto os outros começavam a se amontoar ao redor de Donghae, suas expressões ilegíveis para Siwon. 

— Quem são vocês? — rosnou em direção ao homem.

— Divisão do controle de pragas. — respondeu se inclinando sobre o alfa, sem medo nenhum nos olhos. — Trabalhamos com o extermínio de coisas como você. — os olhos de Siwon se arregalaram. — Ah, sim. — o homem continuou quando viu a surpresa nos olhos dele. — Eu sei bem o que você é.

O Byun não soube o que dizer, a surpresa era tanta pela invasão de humanos em seu território quanto por eles saberem que haviam lobos vivendo entre humanos. Mas então, estava lembrando-se da forma como o território Lu foi arrasado, as vidas perdidas, o ataque surpresa. ‘Eles estão nos caçando há anos’, Lu Han tinha lhe contado. E alguma coisa deve ter aparecido na sua expressão, porque logo o homem estava sorrindo, mostrando todos os dentes em uma diversão que não fazia parte do momento, deixando o alfa mais inquieto ainda por aquelas pessoas o terem encontrado, terem encontrado sua alcateia. Pensou em todos os seus lobos que tinham optado por não ir ao Festival, pensou nos velhos e crianças indefesos, e então pensou nos sentinelas que deveriam estar tomando conta da segurança, principalmente Kangin.

Mexeu-se, puxando as mãos com brutalidade, sentindo a corda cortar a pele dos pulsos tamanha a força que fazia. Precisava se libertar e proteger seus lobos, proteger Donghae e seu filhote. Ele era um alfa, disse a si mesmo, o mais forte de todos.

No entanto, o homem pareceu se cansar de dar atenção a si, pois logo estava virando-se para os seus subordinados:

— Levem-no. — mandou e logo os homens estavam segurando Donghae e tentando levanta-lo enquanto o ômega tentava se debater com os braços e pernas amarrados.

— Larguem-no! — Siwon gritou forçando mais as amarras, seus pulsos estavam ardendo e ficando úmidos, mas nada importava mais do que Donghae naquele momento. — Deixem-no em paz! — o homem riu da forma desesperada que o outro gritava.

— Não se preocupe, eu vou cuidar bem dele. — sorriu mais um pouco antes de virar de costas para Siwon e começar a se afastar, os passos soando divertidamente perversos para o Byun.

Foi então que o medo se alastrou por todo o seu ser. Não podia perder Donghae e muito menos sua filha, precisava fazer alguma coisa. Urgente. Rápido. Agora. Ele gritou enquanto puxava os braços, as cordas cedendo diante do seu desespero em proteger o marido ômega. O choramingo do Lee pareceu ficar mais alto aos seus ouvidos, acertando o seu lobo, fazendo a ira dele acordar de uma forma avassaladora. O homem virou-se para trás, a testa franzida em apreensão quando via Siwon rosnando, as presas despontando e todo seu corpo formigou em antecipação para o que já sabia: ele estava transformando-se em lobo.

Viu, com pavor, a pele humana se rasgando para dar lugar a pelos brancos, o corpo de Siwon ficando maior a cada segundo, a mandíbula se alongando e os olhos tornando-se âmbar, tão intimidadoramente claro. O homem deu um passo para trás, assustado demais para esconder, afinal não tinha tido uma boa experiência com lobos antes. Mas Siwon estava possesso demais para prestar atenção no medo que causava no outro. Ele só queria chegar até Donghae.

As cordas arrebentaram, seu corpo ficou mais forte e tudo foi diminuindo a sua volta enquanto tornava-se grande. O homem de preto caiu à sua frente, quando Siwon firmou as patas contra o piso, enormes patas brancas de lobo. Arreganhou os dentes em direção ao homem e rosnou em alto e bom som, causando calafrios no humano. Avançou neste, sem cerimônia alguma, segurou a cabeça entre os dentes e em apenas um balançar, escutou o crack de osso quebrando. Mastigou aquilo, forte o suficiente para sentir a cabeça separar-se do pescoço na sua boca. O corpo deslizou por seus lábios finos de lobo, caiu às suas patas e manchou o piso inteiro de vermelho. Cuspiu o outro pedaço do humano e avançou pela porta, indo atrás do parceiro.

Não havia nenhum sinal dele na sala, apesar de ter homens vestidos de preto ali também. Eles avançaram em sua direção, armas em prontidão, mas Siwon não se incomodou com os tiros na sua direção, só correu em direção a saída, sem se importar em estraçalhar um ou dois homens no caminho. Sentia o gosto amargo do sangue na boca, o vento estava rugindo nos seus ouvidos e o seu corpo estava quente de raiva por terem mexido com seu ômega. Avançou pela noite, a lua brilhava enorme no centro do céu quando parou e uivou.  Uma, duas, três vezes, o sinal certo para reagrupar. Estava chamando seus lobos, chamando por Kangin, chamando por qualquer ajuda.

Olhou em volta apenas para encontrar mais humanos vestidos de preto no seu encalço. Mostrou os dentes afiados na direção deles antes de saltar por sobre a cabeça de um. Correu em direção a saída da alcateia, pegando pelo canto de olho a movimentação de mais lobos brancos. Reconheceu a pelugem de Kangin em algum momento e agradeceu por ainda estar vivo, mas não parou, precisava continuar procurando Donghae. Farejou atrás do seu cheiro, se concentrou na marca, podia senti-la pulsar, o guiando em direção à um local, o desespero de Donghae servindo como combustível para a sua raiva.

“Senhor!”, escutou ser chamado, apenas para ter um lobo branco tão grande quanto si, na sua frente.

Kangin, reconheceu.

“Organize uma retaguarda, não deixe ninguém sair”, mandou e Kangin mexeu a cabeça em concordância.

Então, Siwon voltou a correr ao mesmo tempo que escutava Kangin uivando às suas costas. Já estava perto da saída e para cada vez que se aproximava, conseguia distinguir mais humanos. Eles estavam colocando algo dentro de uma van enquanto outros se agrupavam, entrando em outra van. Siwon reconheceu o tom do pijama do marido e ofegou internamente ao sentir a marca se torcer, como se alguém estivesse brincando com seus intestinos. Era desconfortável o bastante para que entendesse que Donghae estava sentindo muita dor além de medo. Correu com mais afinco, apenas para que os homens começassem a virar as armas na sua direção, atirando em si logo em seguida. Não parou de avançar até que conseguisse dar um salto sobre a van, parando do lado oposto.

O Byun empurrou a van, virando-a de lado, escutou um grito estridente, o que o deixou saber que havia esmagado alguém. Humanos se prostraram a sua volta, as armas em riste. Fazia Siwon querer rir, mas na sua forma de lobo alfa, se contentou em avançar neles, pegando-os com a boca, afundando os dentes na carne com vontade, chacoalhando-os e os soltando como se não passassem de bonecos. Viu pelo canto de olho outros lobos vindo em sua direção, notou alguns Lu’s em sua pelagem cinzenta.

Eles pularam por sobre a van, aterrissando ao seu lado, deixando-o no meio, livre para atacar os humanos que vinham pela sua frente enquanto eles se ocupavam com os humanos das laterais. Então, tudo era uma bagunça de rosnados e ossos quebrados. Outros lobos brancos apareceram, liderados por Kangin, eles fecharam a entrada da alcateia. Siwon se afastou dos corpos dos humanos ali e foi até a van virada. Enfiou o rosto na porta de trás aberta e avistou Donghae deitado ali dentro, ainda amarrado e com o rosto brilhando de medo e alívio quando reconheceu o alfa.

No entanto, o Lee não estava sozinho. Havia alguém atrás de si, segurando uma arma em direção ao ômega. Siwon rosnou para ele, fazendo a arma tremer em suas mãos. Queria entrar ali e estraçalhar aquele homem, mas não caberia além de ter a possibilidade de machucar Donghae. Então, rosnou mais uma vez ao mesmo tempo que via pelo canto de olho, Kangin em sua forma humana novamente, pegar uma das armas caídas no chão e assentir para o alfa Byun, pronto para atirar. Siwon mexeu as orelhas em sinal de que podia prosseguir e num piscar de olhos, Kangin estava subindo na van e explodindo a janela acima da cabeça do homem em um tiro.

Seu corpo caiu atrás de Donghae e só assim, Siwon conseguiu enfiar o rosto mais um pouco e puxar o marido pelas cordas que adornavam suas pernas. Rasgou-as com os dentes, libertando-o. O Lee pulou em direção ao seu pescoço, fungando depois de tirar a fita dos lábios. Contudo, estava se encolhendo em seguida, gritando de dor, chamando atenção pro tanto de sangue que escorria por entre suas pernas.

Siwon passou a língua em seu rosto, tentando acalma-lo quanto ele mesmo começava a se desesperar. Donghae estava perdendo a filha deles.

“Chame o médico”, quase gritou a Kangin.

— Está morto, senhor. — o beta disse, o estômago se revirando enquanto via o ômega do Byun se contorcendo de dor, segurando a barriga e chorando.

O lobo branco olhou em volta. Não havia tempo para pensar, precisava fazer algo. Mas não dava para aparecer em um hospital humano sem querer sobrancelhas arqueadas de surpresa para um homem grávido. Ele abaixou o rosto, tocou o focinho úmido no rosto do ômega, chamando sua atenção, pedindo que subisse em suas costas. Só havia um lugar para ir, era o mais perto que eles tinham de ajuda.

“Cuide dos feridos, organize a alcateia e avise Baekhyun”, deu as ordens a Kangin, quando sentia Donghae segurando-se sobre si, tentando se manter firme. “Eu irei para os Kim’s”.

— Mas, senhor, sua forma...

Kangin sabia que aquilo não ia acabar bem. Outros humanos podiam ver, ia dar em jornais e em qualquer meio de comunicação, todos poderiam ficar sabendo sobre sua espécie.

“Eu não tenho escolha”, deixou claro, realmente não tinha. Era o modo mais rápido de chegar até os Kim’s. “Preciso salvar minha família”.

O beta o fitou longamente antes de assentir. Os outros, que ainda estavam em sua forma de lobo, uivaram em despedida, todos pedindo a Dal que tivesse piedade daquele ômega e daquela criança.

***

Park Hyukjae tinha tatuagens nos braços e pulsos, o desenho no peito chegava até a base do seu pescoço, deixando Minseok ver as pontas das labaredas de fogo que escapavam pelo colarinho aberto, fazia o ômega imaginar o que estaria desenhado no peito do tio de Baekhyun, apesar de já ter uma ideia, quando a Lua e o Sol batalhavam nos braços e pulsos do mesmo. Mas, naquela noite, sob a luz da lua, Park Hyukjae lhe causava curiosidade.

Sabia que devia ser culpa da lua, afinal não tomara os supressores que Henry e Lu Han lhe deram mais cedo e já conseguia se arrepender dessa escolha. Estava começando a sentir-se quente em suas roupas e para cada vez que Baekhyun o tocava, tinha que resistir ao impulso de se aproximar ou pedir por mais. Seria vergonhoso se fizesse qualquer uma dessas coisas, por isso se limitava a comprimir os lábios e aguentar firme, só que o calor que subia por suas pernas estava ficando cada vez pior a medida que a lua começava a chegar no centro do céu.

Pegou o olhar de Hyukjae sobre si e o cumprimentou com a cabeça, tinha nas mãos uma taça de vinho e queria evitar o máximo tocar no alfa, mas como se conseguisse adivinhar seus pensamentos, o Park estendeu a mão na sua direção. Queria um cumprimento do jeito ocidental.

— É bom vê-los aqui. — sorriu, educado, quando Minseok segurou sua mão.

Demorou-se no aperto, fazendo questão de olhar bem dentro dos olhos do ômega, ao passo que, ao seu lado, Baekhyun comprimia os lábios em claro desagrado. O que só servia para deixar Park Hyukjae mais sorridente.

— Não sabia que já havia chegado de viagem. — dirigiu-se a Chanyeol, soltando a mão de Minseok e a estendendo para o alfa.

— Faz pouco tempo. — respondeu, educado, apertando a mão do Park.

— Espero que se divirtam. — soltou sua mão e encarou os três.

Não fazia tanto tempo que tinham chegado a alcateia. Meia hora, talvez? A viagem de carro até ali não era exatamente longa, mas o silêncio que sempre acompanhava Minseok quando estava na presença de Baekhyun, era capaz de deixar tudo mais lento. No entanto, com a presença de Chanyeol no carro, tudo pareceu correr como o vento e em um piscar de olhos, os três estavam passando pela entrada do Clã Park e deixando-se levar pelo desconforto que aquele lugar lhes causava. Minseok havia estado entre os dois irmãos, agradecendo internamente pelo modo como eles serviam como guarda-costas, impedindo que qualquer pessoa desconhecida se aproximasse. Mas, é claro, não podia impedir Park Hyukjae, o dono daquele evento.

— E Minseok, — voltou a olhar só para si, o canto dos lábios se curvando em mais diversão para o desagrado do Kim. — soube que aceitou participar da cerimônia com Baekhyun.

— É tradição que o ômega acompanhe seu alfa. — respondeu antes de beber um pouco do vinho, afim de esconder o leve rubor em suas bochechas por referir-se assim a Baekhyun.

— Está certo. — concordou e então estava olhando para o Byun mais velho. — Há pessoas que quero te apresentar.

Baekhyun assentiu apenas para começar a seguir o Park e Minseok deu um passo em sua direção, mas o alfa virou-se no último segundo para impedi-lo de continuar. Pediu que ficasse com Chanyeol, silenciosamente, era isso que o Kim conseguia ler em seus olhos, por isso, ficou. Viu o marido lhe dando as costas, dando passos silenciosos para cada vez mais longe de si, fazia-o se sentir ansioso, deixava seu lobo agitado, mas Minseok não conseguia entender porquê.

Chanyeol colocou a mão sobre seu ombro direito, a mão grande demais dava tapinhas reconfortantes.

— Parece que sobramos. — brincou, trazendo os olhos do ômega para si, a taça de vinho meio cheia na sua não.

— Eu tenho que me preparar para a cerimônia. — falou, não conseguiu conter o tremular da voz no final da frase.

— Sinto muito por isso. — não sabia o que mais poderia dizer.

Era uma tradição, afinal. Algo que só os Park’s insistiam em seguir, quando em outras alcateias os costumes haviam sido reformulados. Cada uma seguiu um padrão diferente, adicionando seus próprios gostos. Chanyeol conhecia os ritos do seu Clã, a forma como os ômegas dançariam em volta da fogueira, todos vestidos de branco e apenas isso. Alfas e betas podiam participar, mas só com a permissão dos ômegas, os verdadeiros donos do amor da Deusa.

Havia uma história, que seu omma costumava lhe contar quando o colocava para dormir. A história de como eles foram criados, da forma como a Deusa deu uma parte de si para cada um dos seus três filhos. Os alfas herdaram a força, os betas eram sábios e os ômegas eram puro. Seres frágeis e bonitos, abençoados com a capacidade de gerar vida, mesmo quando nasciam machos. Atraentes o suficiente para fazer alfas e betas enlouquecerem, mesmo quando esses últimos não eram afetados pelos hormônios. E tudo parecia pior quando a lua se erguia tão redonda e brilhante no centro do céu, uma vez ao ano, pois deixava os ômegas no ápice de todo o seu charme.

Chanyeol podia sentir, mesmo que seu lobo se recusasse a aceitar, o quanto o cheiro de Kim Minseok era atrativo. O mirtilo alcançava seu olfato, parecia ficar mais forte a cada segundo, se infiltrando com mais afinco em suas roupas, fazendo seus dedos formigarem apenas com a possibilidade de tocá-lo. E isso o estava deixando evasivo além de irritado, porque sentia o descontentamento do seu lobo em se sentir atraído por outro ômega quando já havia escolhido um parceiro e mesmo Chanyeol também sentia-se terrivelmente estranho quando seu estômago se revirava nervosamente a cada vez que os olhos do Kim encontravam os seus.

Era uma tortura, principalmente porque sentia como se estivesse traindo o irmão. No entanto, em alguns momentos, se perguntava se o mais velho não estaria sentindo as mesmas coisas que si em relação a Minseok, mas com a diferença de poder se aproximar do ômega sem culpa, afinal, pela forma como percebia os olhos do Kim atentos aos movimentos do irmão, duvidava muito que ele reclamasse de receber alguma atenção. Parecia, na verdade, estar implorando por isso. Mas, talvez, fosse culpa da Lua, pensou, já que quase nunca os via interagindo em outros momentos.

— Está tudo bem. — Minseok lhe lançou um sorriso nervoso, antes de desviar os olhos de si e olhar em volta, parecia a procura de algo. — Eu vou me preparar para a cerimônia.

— Ah, sim. — levou a mão até a nuca, de repente tinha imaginado o cunhado usando o manto tradicional do ritual, nada além dela, como a tradição pedia. Sentiu-se estremecer de excitação, o que só serviu para fazê-lo desviar os olhos para o relógio de pulso. — É melhor se apressar, — falou ainda fingindo verificar o horário. — a abertura é daqui a pouco.

O loiro assentiu, entregou-lhe a taça de vinho vazia e então se afastou, meio correndo em direção à um grupo de betas. Mediadores em suas túnicas brancas e colares de miçangas azuis adornando o pescoço, até mesmo já usavam as máscaras de lobo no rosto, protegendo sua identidade.  O alfa olhou em volta depois que o cunhado sumiu de vista, procurou a silhueta de Baekhyun e quando achou, foi até si. Entrou de supetão na conversa e se surpreendeu por conhecer o assunto e ainda dar palpites coerentes, ao que parecia o tempo que passara cuidando dos negócios do pai na China, tinha servido para alguma coisa, pois agora já não se sentia tão alienado.

— Soube que casou-se. — um dos homens na rodinha dirigiu-se a Baekhyun, um copo de whisky na mão e o cabelo branco se destacando na luz das chamas.

— Foi um casamento de última hora. — justificou seu ato, pois bem sabia como os Park’s se ressentiam por não terem sido convidados assim como por não ter sido Dasom a escolhida.

— Precisa vê-lo. — Hyukjae fez o favor de se pronunciar. — Kim Minseok é um ômega muito bonito, só de olhá-lo consegue perceber porque Baekhyun o escolheu.

Eu não o escolhi, Baekhyun pensou.

— Devia leva-lo nos encontros em minha casa. — o homem falou e Chanyeol lançou um olhar para o irmão, os lábios estavam comprimidos em claro sinal de desagrado, mas o mais novo não entendia por que, afinal, o homem só parecia interessado em conhecer o marido de Baekhyun. — Tenho certeza que todos iriam adorar conhece-lo. — Chanyeol franzio o cenho para a nota de malícia na voz do homem, por acaso aquele homem estava insinuando que Minseok deveria dormir com outros alfas?

— Minseok não gosta desses tipos de encontros. — Baekhyun disse por fim, tentando encerrar o assunto.

— Baekhyun é um alfa ciumento.  — outro homem disse, rindo. — O que há de mau em dividir? — riu mais um pouco, como se fosse realmente uma piada, como se Minseok não passasse de um pedaço de carne.

Chanyeol encarou o homem, incrédulo com o que escutava, as sobrancelhas se juntaram em desagrado. Desviou os olhos para Baekhyun, que teve coragem de esboçar um sorrisinho no canto da boca, mas Chanyeol notou que era só encenação para não parecer mal educado na frente do tio, pois os olhos do Byun estavam terrivelmente perigosos.

— Eu arrisquei a popularidade do meu clã por esse tipo de exclusividade. — respondeu fazendo os outros alfas da rodinha rirem como loucos, até mesmo Chanyeol se obrigou a rir, mesmo que o som soasse amargo em seus ouvidos.

Hyukjae bebeu um pouco do whisky em seu copo antes de colocar a mão sobre o ombro do sobrinho, sua postura inteira denotando divertimento com a forma como Baekhyun havia conseguido sair de uma situação constrangedora como aquela. Chanyeol o observou se inclinar sobre o irmão, sussurra-lhe algo no ouvido. Baekhyun assentiu para ele antes de voltar a olhar para frente, o rosto muito sério.

— Bom, senhores, — Hyukjae começou quando as risadas ficaram mais espaçadas. — precisamos nos arrumar para a cerimônia.

— Oh. — o homem grisalho olhou o horário em seu relógio, parecendo surpreso por o tempo ter passado tão rápido. — É melhor nos apressarmos.

— Apenas sigam por ali. — o líder Park disse, o queixo sendo erguido em direção ao caminho que os outros alfas deveriam tomar.

— Você não vem? — outro perguntou ao tio de Baekhyun e Chanyeol desviou os olhos para o Park, com o mesmo questionamento nos olhos.

— Esse ano Dasom irá me representar. — respondeu apenas para beber um pouco mais da sua bebida.

— E você? — o homem referiu-se a Chanyeol, que não pôde evitar engolir em seco pela surpresa de ter sido notado.

— Eu não tenho um par. — optou por dizer.

Ele nem mesmo é um Park. — Hyukjae riu, mas Chanyeol sentiu o ácido na frase, gotejando, deixando claro para quem quisesse ver que o alfa não fazia parte deles.

Mas Chanyeol só conseguia sentir pena da forma como Baekhyun fazia parte.

— Uma pena. — Chanyeol brincou, rindo, mas aliviado demais por isso para esconder.

— Vamos logo. — Baekhyun cortou o assunto, se apressou para longe da rodinha e do irmão, estava irritado demais, inquieto, o mais novo conseguia perceber.

Os outros alfas se afastaram atrás dele e logo Chanyeol estava sozinho com Park Hyukjae.

— Eu vou atrás de mais disso. — mostrou a taça que ainda segurava, a que Minseok tinha deixado consigo.

— Por ali. — Hyukjae disse, havia algo de terrivelmente estranho na forma como seus olhos brilhavam tão cheios de diversão quando fitavam Chanyeol. Fazia o Byun ter calafrios. — Espero que aprecie nossos rituais, Chanyeol. — o seu nome escorregou por entre os lábios dele como se fosse pegajoso, nojento demais para Hyukjae.

Tudo isso por que ele era um Byun?

— Eu vou. — inclinou a cabeça em despedida e então começou a se afastar.

Era o melhor a se fazer: ficar o mais longe possível daquele alfa.

***

Ryeowook encarou sua imagem no espelho, ajeitou o colar de miçangas azuis em volta do pescoço. Não pretendia realmente fazer parte do ritual, mas queria dançar em volta da fogueira e como soube, que naquele ano, os Kim’s iriam deixar suas tradições de lado e abraçar as tradições dos Lu’s, o ômega achou que estava tudo bem usar um colar de mediador, quando não era um beta. Suas roupas eram normais, nada da túnica branca dos mediadores ou o vermelho-sangue dos ômegas, apenas jeans e camisa e chinelos, porque Ryeowook só queria dançar um pouco e esquecer de si mesmo.

Foi até a porta do seu quarto e saiu. Tudo continuava silencioso, apesar de meia hora atrás ter escutado Junmyeon rindo ao falar no telefone com Jongin. Ryeowook achava bonitinho a forma como os olhos do filho alfa ficavam pequeninhos quando sorria, tão apaixonado por aquele ômega Lu e achava mais adorável ainda a forma como Jongin correspondia, sempre corando, desviando os olhos, rindo baixinho com a mão em frente a boca. O Kim tinha tido o prazer de conhecer o noivo do filho mais cedo e se encantara com toda a pureza do mesmo. Jongin era mesmo um achado da natureza, uma força avassaladora de olhos gentis e cheiro doce. Um tanto diferente do seu irmão mais velho, o senhor Lu Han, que tinha uma aura tão intimidante quanto qualquer alfa, mas que se derretia inteiro quando estava com Yixing, seu filhote de quase 3 anos, nos braços.

E ainda havia Lu Henry, o secretário do seu filho. Responsável e distante, e também irmão de Jongin. Ryeowook nem ao menos conseguia imaginar como Henry conseguiu ser tão discreto com sua origem quando vivia entre os Kim’s. No entanto, o que mais surpreendeu Ryeowook foi a história contada por Lu Han, sobre o  clã de humanos que os vinha caçando há anos, a forma como uma alcateia inteira foi destruída e a forma como eles quase foram. Mas, agora, parecia tudo bem, os Kim’s podiam os proteger.

Avançou pelo corredor, foi até a sala, determinado a ir embora. Mas não conseguiu se impedir de notar Kim Heechul na cozinha, comendo alguma coisa, e Kim Jungsoo na sala, as luzes apagadas enquanto a tevê ligada iluminava o local. Se conseguisse se concentrar, podia escutar a agitação dos lobos fora daquela casa, no entanto, Jungsoo parecia alheio a isso quando o volume da tevê estava tão alto.

Passou por si, rumo a porta de saída.

— Onde está indo? — a voz de Jungsoo chegou até si quando sua mão girou a maçaneta.

Não olhou para o ex-marido.

— Indo para o Festival. — a porta não abriu, estava trancada.

Olhou para a fechadura e não encontrou a chave costumeira dali, olhou em volta, a mão ainda na maçaneta e o rosto todo confuso.

— Você não vai sair. — ergueu a mão, mostrando a chave entre os dedos.

Soltou a maçaneta e deu um passo em direção ao alfa, a boca meio aberta em incredulidade.

— O que acha que está fazendo? — praticamente rosnou.

Estava tão terrivelmente cansado da forma como Leeteuk vinha agindo, sempre vigiando seus passos, o sufocando sempre que podia, como que afim de mostrar que era o alfa ali e que por isso Ryeowook lhe devia satisfação. Mas bem poderia ter sido assim antes, mas agora o ômega já não estava mais vivendo um relacionamento com ele. Estava sozinho o suficiente para começar a tomar decisões por si mesmo.

— Não use esse tom comigo. — Jungsoo ficou de pé, os olhos brilhando naquela mistura de irritação e superioridade que Ryeowook odiava com todas as suas forças.

— Não use esse tom comigo, você! — deu mais alguns passos até o alfa e parou na sua frente.

Era vergonhoso ser tão baixo perto dele, mas quando ergueu o queixo para encarar Leeteuk, sentia-se tão alto quanto. Estava com seus sentimentos inflamados o suficiente pela Lua, para não abaixar a cabeça daquela vez. Não era mais o ômega de Jungsoo e ele precisava aceitar isso de uma vez. Ergueu as mãos e as espalmou no peito do alfa, empurrando-o, pegando-o de surpresa o suficiente para que seu corpo cedesse e caísse sentado no sofá.

— Você não é meu alfa. — rosnou, os olhos brilhando naquele tom de verde perigoso que Leeteuk amava.

O Kim mais velho teve coragem rir, a cabeça sendo jogada para trás e fazendo as bochechas do ômega corarem em uma mistura de irritação e vergonha, por não estar sendo levado a sério.

— O que está acontecendo aqui?! — uma terceira pessoa se pronunciou.

Ryeowook cruzou os braços, encarou Heechul e sentiu vontade de chorar de tanta frustração. Os olhos ardiam e o peito borbulhava em raiva daquele homem sentado no sofá.

— Eu estou indo embora daqui. — se escutou dizer.

O alfa arregalou os olhos na sua direção, o corpo foi para frente e ficou de pé novamente. Achava que Ryeowook se referia a sair aquela noite, mas Heechul sabia mais. Podia ver nos olhos do ômega sobre a verdade, o modo como ele precisava sair dali antes de sufocar da mesma forma como Heechul estava sufocando.

Leeteuk ergueu a mão e tocou no ombro do Kim, mas Ryeowook deu um passo para trás, o rosto todo contorcido em nojo deixando o alfa enjoado. Por que Ryeowook estava agindo daquela forma, afinal? Eles eram um casal. Dois maridos que tinham filhos lindos, que se amavam, que compartilhavam risadas. Esses momentos não podiam ter se perdido apenas por causa de um deslize seu. Ryeowook tinha que aprender a olhar pra tudo o que eles tinham construído juntos, pro amor que ainda sentiam, porque Leeteuk acreditava com toda a sua alma que o outro ainda nutria algum sentimento por si. Tinha que sentir! Uma coisa dessas não podia sumir tão rápido assim, um amor tão bonito... tudo que Leeteuk tinha construído com Ryeowook não podia ter sumido assim, não podia ter sido substituído por nojo.

— Não toque em mim. — se afastou mais um pouco antes de ir em direção a janela mais próxima.

Abriu-a, lançou um olhar desafiador para Jungsoo e o alfa até mesmo deu um passo em sua direção, mas Ryeowook foi mais rápido ao sair pela janela e correr pra longe daquela casa que um dia havia chamado de lar. Jungsoo encarou as cortinas se agitando com o vento, trazendo até si o cheiro do marido, totalmente alheio ao modo como Heechul engolia em seco por ter presenciado aquela cena, os olhos muito tristes. Queria poder fazer alguma coisa, pensou. Queria poder ajudar Ryeowook a ir embora, mas o amor que sentia pelo ômega o tornava egoísta e por isso não conseguia solta-lo, mesmo vendo o quanto aquela situação o fazia mal.

— Deveria deixa-lo em paz. — o ômega falou, a voz saindo baixa e cheio de aviso, trazendo a atenção de Jungsoo para si.

— Do que está falando? — estava incrédulo.

— Deveria deixar Ryeowook em paz. — foi mais claro, os braços se cruzando para dar mais ênfase a expressão irritada.

— Está com ciúmes agora? — usou o tom divertido e Heechul captou um brilho na sua mão, entre seus dedos. Era a chave da porta, reconheceu, só agora entendendo o que de fato estava acontecendo entre Ryeowook e Leeteuk.

— Não é ciúmes. — deu um passo em sua direção, a voz saindo firme. — É apenas um aviso.

— O que é isso? Você é um alfa agora? — riu. — Não pode usar esse tom comigo, Heechul.

O Kim se aproximou mais um pouco, o suficiente para que Leeteuk comprimisse os lábios em desagrado e terminasse a distância até chegar em si. O alfa se inclinou e sussurrou no ouvido do marido:

— Você é só um ômega.

— E desde quando isso é o que realmente importa? — Jungsoo se afastou quando Heechul não demonstrou nenhum sinal de ofensa. — Eu te vejo sempre repetindo isso, apontando pessoas por sua classe e se colocando no topo apenas porque é alfa, mas somos todos pessoas no fim das contas, Jungsoo. Pessoas que se apaixonam, que sentem dor e que sentem raiva. — fitou o marido. — Você não é melhor do que ninguém só porque é alfa.

O Kim teve a decência de desviar os olhos dos do ômega, envergonhado o suficiente da sua atitude, afinal, quando ele se tornara assim? Porque a muito tempo atrás, havia desejado com todas as suas forças ser um ômega e depois quando se descobriu alfa, chorou por não ser um beta. Jungsoo era a última pessoa na face da Terra que podia julgar alguém com base na sua classe, quando ele já quisera fazer parte delas. Todas, menos a primeira. Odiou tanto a si mesmo quando o primeiro cio veio, corroendo sua alma, mostrando a si o quanto não passava de um alfa. Um maldito alfa apaixonado por outro alfa. Um alfa que não sentia atração alguma por ômegas ou betas. Odiava o cheiro doce dos ômegas e a simplicidade dos betas, preferia o cheiro forte dos alfas. Amava como todo o seu corpo reagia diante de um alfa, os arrepios, a bagunça no estômago, o coração descompassado... Tinha se encontrado com alfas o suficiente na adolescência para saber o quanto gostava, amava, adorava, se deliciava com as sensações que só os lobos dessa classe lhe davam. E se arrependia do modo como trairá Heechul inúmeras vezes com alfas que conhecia nas noites, prostitutos, qualquer um que pudesse acabar com aquela necessidade de ser tocado por outros da mesma classe que a sua.

No entanto, sempre desconfiara que Heechul sabia, simplesmente porque ele nunca fora capaz de disfarçar as manchas arroxeadas na sua pele ou o cheiro terrivelmente forte em si. Era a sua forma de demonstrar seu desgosto com aquele casamento e consigo mesmo. Mas Heechul nunca lhe dissera nada sobre suas saídas, nunca cobrara muita coisa além da vida de aparências deles. E foram bons meses fazendo isso, até que Ryeowook surgiu. Menor do que si e com os olhos no mesmo tom de verde do seu irmão falecido.

Ele era quieto, engraçado e tinha mãos macias. Jungsoo não conseguia entender porque a cada vez que o encontrava se sentia tão atraído, o jeito como Ryeowook foi crescendo no seu peito só o deixava mais assustado. Ele era um ômega, afinal. Nada do cheiro forte e dos toques brutos, nada da necessidade de estar no controle e dos músculos proeminentes. Kim Ryeowook era delicado, pequeno, gentil... ele era todos os adjetivos possíveis para se descrever um ômega, totalmente diferente do que Jungsoo se acostumara a querer e por isso, quando o coração falhou uma batida quando o Kim sorriu para si no começo daquela primeira, há mil anos atrás, Jungsoo sabia que não podia deixa-lo escapar.

Então se agarrou à ele. O enfiou em sua vida, prendeu-o em um casamento, lhe deu filhotes e sua atenção, deixou Heechul de lado, porque ele acima de todo mundo deveria saber a sensação de querer pertencer à alguém. E o ex-líder Kim quis tanto pertencer a Ryeowook e se livrar dessa doença que era sentir tanto desejo por alfas, que nem ao menos percebeu como aquilo o matava um pouquinho a cada dia. Quer dizer, é claro que amava Ryeowook e que amava os filhos que tiveram. É claro que aprendera a amar Heechul como marido e que amava Junmyeon também, mas também é claro, que odiava o jeito como nos seus cios desejava uma pegada mais forte e a forma como podia gozar apenas de sentir o cheiro de algum alfa, mas não podia! Então, se forçava a se satisfazer com Ryeowook ou Heechul, ou ambos ao mesmo tempo.

Se afogava neles afim de aplacar aquilo. Não queria ser assim, nunca quis! Seu pai lhe dizia como alfas que gostavam de alfas terminavam, eram a escória da sociedade. Afinal, onde já se viu isso? Alfas eram o topo da hierarquia, eles mandavam nos outros, eles eram os fortes da relação. Não havia modo de um alfa preferir outro, isso não existia. Alfas ficavam com ômegas ou betas. Alfas foram feitos para dominar e se tinham um outro parceiro alfa, qual dominaria qual? Não havia equilíbrio e sem equilíbrio, não havia chance de estar certo.

Escutou os passos de Heechul se afastando, levantou o rosto para fitar suas costas. Os ombros estavam baixos e tudo nele detonava um cansaço que Leeteuk havia visto em si mais cedo e que com certeza, veria mais uma vez quando se olhasse no espelho. Seu corpo foi pra frente, fazendo menção de ir atrás do ômega, mas desistiu no último segundo. Não sabia o que deveria dizer, pois pedir desculpas parecia vago demais para tudo que já fizera à aquele ômega. Eles tinham crescido juntos, haviam brincado de pique-esconde na floresta, dado risadas e acobertado um ao outro em algumas travessuras, eram amigos. Deveriam ser melhores amigos se Siwon não tivesse chegado primeiro, pensou. Mas eram amigos, se deu conta. O verbo no passado só deixando tudo mais melancólico e solitário.

Eram.

Então o corpo se empertigou novamente em direção ao ômega, havia aquela coragem fajuta nos seus ossos, instigando-o a ir atrás dele e falar tudo de uma vez, porque estava terrivelmente cansado da forma como eles haviam se perdido no tempo, se tornado nada além de estranhos um pro outro.

Heenim, — o apelido escorregou dos seus lábios com gosto de saudade, as palmas das mãos ficaram úmidas e o estômago se revirou em ansiedade. Heechul parou, estava bem na entrada do corredor, de costas para si, a mão se apoiou na parede mais próxima. — me desculpe. — o pedido saiu mais baixo do que queria, mas na escuridão da casa, Leeteuk sabia que as palavras tinham chegado até o ômega.

— Pelo que? — ele teve coragem de perguntar.

Leeteuk fechou os olhos, imaginando a lista infinita de faltas que mereciam desculpas.

— Por tudo. — a voz saiu mais alta agora, mesmo que estivesse meio tremendo. — Nós dois... eu sinto muito.

Não pude amar você, nem ao menos consegui o respeitar, eu... eu sinto muito, Heechul.

— Tudo bem. — disse simplesmente, mas o alfa sabia que não tinha nada bem.

— Nós éramos amigos, Heechul, e eu me aproveitei de você. — continuou, sem poder se conter. — Eu... eu trai você de tantas formas.

Heechul abaixou o rosto e meio sorriu, sabendo muito bem ao que Jungsoo se referia. Jihyun e Kyuhyun. Na época, em que eles começaram a se encontrar, Heechul desconfiara que Leeteuk os estava ajudando, mas nunca falou nada sobre isso. O ômega apenas observou de longe o modo como seu amor ia embora, cada vez mais preso entre os braços daquela Park.

— Eu sei. — deixou-o saber de uma vez, sempre soube mais do que queria. Virou-se para fitar o marido. — Eu sempre soube de tudo, mas está tudo bem, Jungsoo, porque eu traí você também e traí Kyuhyun. — havia um tom de diversão macabro no seu tom de voz, não conseguia controla-lo e muito menos se livrar dele, porque doía demais ao ponto de querer rir daquilo tudo e quando os olhos de Leeteuk ficaram grandes de surpresa, Heechul achou que podia rolar naquele chão de tanto rir da sua desgraça.

— O que?

— Foi eu quem disse à Siwon onde Kyuhyun encontraria Jihyun naquele dia. Eu o acompanhei até lá e apontei o local. — a narrativa sai calma dos seus lábios, mas seu coração batia tão forte, nunca tinha contado aquilo em voz alta. — Eu sugeri o duelo, também.

Jungsoo deixou que a boca se abrisse em descrença e o ódio viesse até si, por isso não percebeu quando avançou no ômega e o segurou pelos ombros, empurrando as costas contra a parede. Heechul fitou-o nos olhos, o queixo erguido em toda aquela imponência que Leeteuk nunca entendeu de onde vinha, afinal o Kim era e sempre seria só um ômega e agora, um cúmplice no assassinato do seu irmão.

— Você o amava! — gritou contra o seu rosto, como se aquilo fosse motivo o suficiente para que Heechul visse o seu pecado.

— E o que?! Ele estava me traindo com aquela vadia! — gritou de volta, se debateu no aperto do alfa, mas Leeteuk não o soltou e muito menos se afastou. — Eu, Jungsoo! Ele estava me traindo! A mim! — então os olhos estavam cheios de lágrimas, acumulando-se na borda e descendo pelas bochechas, quentes de tanta raiva e frustração e dor. — Eu o amava tanto, mas ele estava me traindo com aquela ômega. — se debateu mais um pouco e Jungsoo tornou a empurrar suas costas contra a parede, dessa vez mais forte, fazendo o Kim sentir dor e parar de se mexer. — O que eu deveria fazer? — perguntou baixinho, o cabelo tinha caído em frente ao rosto, escondendo um pedaço da sua dor. — Estava cansado do seu desinteresse e estava mais cansado ainda de ver Siwon se arrastando atrás de Jihyun. Você não via, Jungsoo? Nós dois estávamos morrendo, eu tive que fazer alguma coisa.

Jungsoo intensificou o aperto no ombro de Heechul até que o escutou gemer de dor e então se afastou, passou a mão no cabelo e respirou fundo ao passo que o ômega se deixava escorregar até o chão, os ombros e costas doendo. Fechou os olhos e soluçou, alto demais para o alfa se incomodar.

— Ainda assim, ele era meu irmão. — falou, como se aquilo justificasse tudo o que fizera.

— Rá! — riu, alto, com todo o escarnio que ainda tinha no corpo. — É nisso que realmente acredita?! Por Dal! — fez esforço para ficar em pé novamente, o canto dos lábios gotejava em ressentimento. — Você nos entregou para sofrer, Leeteuk, e não foi porque Kyuhyun era seu irmão. — os olhos brilhavam em mágoa. — Nós, seu alfa desgraçado, éramos seus amigos! Nós crescemos juntos, caramba! E mesmo assim você não pensou duas vezes antes de nos apunhalar pelas costas! E tudo isso por que?! Han?! — apontou o dedo no rosto do alfa, que teve a decência de se encolher. — DIGA! — gritou, totalmente fora de si, mas o Kim virou o rosto, não podia olhar para Heechul.

Ele fez menção de ir embora, de sair correndo. Aquilo era demais para si. Mas Heechul o segurou pelo braço, puxando-o forte na sua direção, sua pele estava quente de medo enquanto Heechul brilhava em dor.

— Diga! — tentou mais um pouco. — Pare de fugir!

— Não pode jogar a culpa em mim assim! — ele soltou-se do aperto do ômega, tentando fugir daquela conversa.

Heechul riu, jogando a cabeça para trás e os olhos cheios de lágrimas não derramadas. Voltou a fitar o alfa, na escuridão daquele corredor, ele pareceu-lhe mais frágil que qualquer ômega.

— A culpa é sua. — falou. — Eu e Siwon matamos Kyuhyun, mas você, Jungsoo, você nos matou primeiro. — o alfa começou a lhe dar as costas. — Não adianta negar! Você sabe que fez isso! Entregou eu e Siwon para a fogueira, nos deixou queimar naquela porcaria só porque não era capaz de se assumir para si mesmo que amava ser fodido por um alfa.

Jungsoo parou, as mãos se fecharam em punho e ele simplesmente deu meia volta e foi até o ômega, empurro-o tão forte, que o fez cair no chão.

— Não diga isso! — gritou.

— Acha que ninguém nunca soube?! Eu sabia! Siwon sabia! Kyuhyun sabia! Você é um péssimo mentiroso, Leeteuk. — cuspiu no chão, tamanha a sua raiva. Não entendia de onde vinha tanta mágoa, mas para cada vez que tentava se conter, havia uma força avassaladora que o fazia continuar. — Quantas vezes foram, han? — continuou provocando. — Depois que casamos acontecia com que frequência? Você os deixava te domarem? — Jungsoo se aproximou mais, segurou o braço de Heechul e o fez ficar de pé, apenas para enfiar os dedos no seu cabelo e puxar para trás, forte o suficiente para fazer o ômega arfar de dor. — Você imaginava Siwon te fodendo? — não conseguia parar. — Aposto que sim. — seu corpo foi empurrado contra a parede. — Até mesmo quando estava comigo, imaginava Siwon, não é?! — então o primeiro tapa veio, tão quente contra sua bochecha que o Kim sentiu gosto de sangue e riu por causa disso. — Oh, Siwon. Mais fundo, mais forte! — teve coragem de gemer, os dentes manchados de vermelhos, apenas para receber mais um tapa.

Cuspiu no chão, mas não conseguia parar de rir.

— Cale a boca! — gritou usando sua voz ativa de alfa. — Não sabe do que está falando!

— Siwon nunca te quis. — continuou. — Ele preferiu se arrastar atrás da Jihyun, preferiu se casar com um ômega sem sangue nobre, do que ficar com você. — fungou, ergueu a mão para limpar as lágrimas dos olhos. — E... e eu sinto muito por isso.

— Você sente muito? — desdenhou, sorrindo amargo. — Pelo que sente muito? Por ter entregado Kyuhyun daquela forma e acabado com a minha vida? — Heechul soluçou diante de si enquanto ele mesmo sentia as lágrimas vindo até si. — Eu tive que assumir você, eu tive que assumir uma alcateia inteira, eu tive que deixar meus sonhos para trás para ser a porcaria de um líder. É por isso que sente muito, Heechul? — o sacudiu sem cuidado, tentando o fazer fita-lo. — Meu pai esperava muito de mim, todos esperavam muito de mim, até mesmo você e eu tentei, porra, Heechul, eu tentei tanto ser um bom líder e um bom marido, um bom pai. Mas olha pra isso...  — e o soltou, ficou parado à sua frente. — eu estraguei tudo do mesmo jeito.

O ômega levantou o rosto para fita-lo. Estava tão terrivelmente quebrado. Nada parecido com aquele garotinho da sua infância, que saia correndo para chamar Kyuhyun todas as vezes que alguém implicava consigo.  O que aconteceu com aquele garoto que amava as cantorias em volta da fogueira e que lhe escreveu cartas carinhosas quando estava na França? O que tinha acontecido com o olhar gentil que ele sempre sustentou? O que deu errado?

O que aconteceu conosco?

Fechou os olhos e ergueu a cabeça o suficiente para encostar a parte de trás da mesma contra a parede, respirou fundo, capturando o cheiro do alfa. Em outra vida, ele não teve cheiro de nada, mas agora, ele tem esse cheiro forte de alguém cansado demais.

— Eu estraguei tudo também. — se escutou sussurrar, tão baixo.

Sentiu Jungsoo aproximar-se de si, encostar-se na parede ao seu lado e então escorregar até o chão. Abriu os olhos para fitar o topo da cabeça do alfa, o rosto escondendo-se entre os braços, que estavam apoiados sobre os joelhos. Ele se encolhia todo, parecia um filhote. Mas quando os seus ombros tremeram, Heechul sentiu o coração se partir mais um pouquinho, porque não lembrava de ver Jungsoo chorando. Nem mesmo quando enterraram Kyuhyun, Leeteuk foi capaz de derramar uma lágrima, estava anestesiado demais para fazer qualquer coisa. E pela forma como os soluços dele ficavam cada vez mais altos, Heenim percebeu que aquela era a primeira vez, desde a morte do irmão, que Leeteuk chorava.

O ômega abaixou-se do seu lado, passou um dos braços por sobre seu ombro e o trouxe para perto. Jungsoo não o abraçou, mas Heechul o segurou forte, descendo a palma da mão pela extensão da sua costa, num carinho singelo. Está tudo bem, disse a si mesmo, mesmo que estivesse com vontade de chorar. E como se Jungsoo soubesse disso — sabia por causa da marca — levantou o rosto e abriu os braços, puxando-o para mais perto. Heechul escondeu o rosto na curva do seu pescoço e chorou toda a dor que foi ser trocado, perder um filho, a culpa enorme que carregava todos os dias por ter entregado Kyuhyun daquela maneira e a forma como a vontade de ser amado havia se mostrado uma armadilha ao aceitar uma marca, pois agora estava preso em alguém que não o amava e que muito menos amava de volta.

O que eles fariam agora? Uma marca não podia ser desfeita só porque os parceiros se odiavam, porque os lobos haviam aceitado. Seus lobos se reconheciam como parceiros.

Ele foi meu primeiro amor. — subitamente Jungsoo lhe sussurrou, a voz saindo abafada de choro. Heechul retesiou o corpo em surpresa, mas não se afastou e muito menos disse qualquer coisa, não queria assustar Jungsoo e o fazer ficar acuado novamente. — Eu devia ter dez anos quando notei que gostava dele, mas foi com catorze que percebi que era mais forte do que devia. Havia alguma coisa no jeito como ele sorria, na fala, no cheiro da sua pele, que sempre me atraia para perto, entende? Mas aí, ele se apaixonou por Jihyun e depois por Donghae, e mesmo quando confessei meus sentimentos, ele não pode ficar comigo.

Eles ficaram em silêncio.

Heechul guardou as palavras de Jungsoo com carinho, trancafiou-as no seu peito e intensificou o abraço, mas não foi capaz de dizer qualquer coisa. Eles só ficaram muito tempo ali, abraçados, as lágrimas secaram no rosto e tudo parecia um tanto mais leve. Heechul sentia seu rosto doer dos tapas que levou e a costa acompanhava o mesmo ritmo, mas permaneceu onde estava, o rosto deitado sobre o ombro do alfa. Estava meio sonolento e duvidava muito que aguentaria mais um pouco sem acabar dormindo ali mesmo, só que também não conseguia se forçar a se afastar de Jungsoo. E o alfa parecia na mesma.

Então, eles permaneceram. Sorveram o silêncio até que as respirações se tornassem lentas e tudo ficar muito calmo. As batidas do seus corações estavam no ritmo certo, nada do peso da culpa de palavras não ditas mais ali. Heechul esperou que Jungsoo dissesse mais alguma coisa, algum relato sobre o modo como direcionou a frustração de não poder ser si mesmo para Siwon ou sobre como odiava tanto Donghae por ser simplesmente o dono de toda a atenção do seu primeiro amor, mas nada veio. Só existia silêncio naquele corredor.

Jungsoo suspirou contra a sua pele antes de começar a se afastar, um pouco receoso em retirar as mãos do corpo do ômega. Heechul o fitou, procurando nos seus olhos alguma coisa, mas não havia nada além de uma vergonha engraçada por ter chorado na frente de alguém, mesmo que esse alguém fosse Kim Heechul. O ômega sorriu, tentando tranquilizar e ergueu a mão para limpar as lágrimas que ainda residiam no rosto do marido.

— Desculpe-me por isso. — Leeteuk pediu, a voz saindo muito rouca e alta naquele corredor, a mão estava acariciando a bochecha machucada dos tapas de antes.

— Está tudo bem. — sussurrou, em parte porque a voz não queria sair e em parte porque parecia um crime destruir aquele silêncio.

Então, Jungsoo estava suspirando novamente e dessa vez se afastando com mais afinco, ficando de pé e o observando de cima, as mãos tinham ido se esconder nos bolsos da calça e os ombros encolheram só para mostrar a Heechul que ele não era mais do que o Leeteuk da adolescência, envergonhado demais de ter-se descoberto alfa.

— Você deveria ir. — ele falou e o ômega piscou na sua direção, sem entender ao que se referia. — Sabe, atrás de Ryeowook. — a mão estava na nuca agora, arranhando a pele em nervosismo, como que numa forma de punir a si mesmo por ter segurando o outro ômega tão perto contra a sua vontade.

— O que está dizendo? — o Kim perguntou, ainda sentado no chão, com o cabelo jogado na frente dos olhos só servia para parecer indefeso aos olhos do alfa.

— Vá atrás dele. — repetiu, dessa vez com mais firmeza, retirou a mão da nuca, enfiou-a no bolso novamente e olhou pra além do corredor, enxergou a sala silenciosa e sentiu saudade de quando eles eram uma família. — Ryeowook não me quer mais. — confessou sem olhar pro ômega. — Mas eu sei que ele quer você.

Heechul meio sorriu quando olhou para baixo. Era estranho falar sobre Ryeowook com o marido, não só porque o ômega era o ex-marido deste, mas porque Leeteuk ainda tinha sentimentos por ele, mesmo que fossem um tanto confusos no momento, o que fazia Heechul duvidar se era mesmo amor.

— Mesmo que eu vá, o que deveríamos fazer? Não tem futuro para essa relação. — ainda estava olhando para baixo, observou a curva do seu tornozelo onde a tatuagem da Organização se destacava representando o seu último segredo. — Eu sou um ômega marcado.

— Eu sei e sinto muito por isso, — abaixou-se na sua frente, segurou-lhe o rosto e fez seus olhos se encontrarem. — mas deve ter um jeito, sim. — Heechul conseguia ver a eterna culpa estampada nos seus olhos, desse pecado ele nunca se perdoaria. — Hoje é a noite pertence a Dal e aos ômegas.

— Pertence aos lobos, Leeteuk. — ele sorriu, tentando conserta-lo, as mãos também foram parar no rosto do alfa.

Aos ômegas. — insistiu, mesmo que o canto dos lábios estivesse curvado em diversão. — Todos sabemos que Dal sempre amou mais os ômegas.

Então, como que para calar qualquer argumentação contra, Leeteuk beijou-lhe os lábios. Encostou sua testa na dele e com os olhos fechados pediu uma última vez:

— Vá de uma vez. — ofereceu a chave da porta, brilhava na sua palma aberta.

Heechul sorriu e recebeu ajuda para ficar de pé, apenas para dar as costas ao marido e sair correndo dali.

***

A máscara incomodava.

Minseok ergueu a mão para tentar ajeitar o nó atrás da cabeça, mas não teve tempo suficiente, pois logo estava sendo empurrado pelos outros ômegas atrás de si. Ele meio andou meio tropeçou, sussurrou um pedido de desculpas para o ômega na sua frente, mas não escutou nada em resposta. Estavam todos em silêncio. Apesar das histórias que escutara quando mais novo, na sua Alcateia, da boca dos anciãos, aquilo que os Park’s praticavam não parecia em nada com aquilo.

A noite pertencia aos ômegas. A Deusa Dal, que amava mais os ômegas que seus outros filhos, que deu à eles a doçura e a fragilidade, além da capacidade de gerar filhos, mesmo quando eram machos. Era por isso que Minseok entendia porque eles eram a atração principal, mas não entendia porque não eram os donos do evento, da forma como acontecia na sua alcateia ou como acontecia nos Byun’s. Lá os ômegas podiam ditar as regras, escolher seus parceiros, escolher quem iria participar. Tudo tão diferente da forma como eram manipulados ali.

Ele ergueu-se na pontinha dos pés, tentando ver o que acontecia no começo da fila depois que todos pararam de andar. Avistou o cabelo castanho longo de Park Dasom, a coroa de flores se destacando no topo da cabeça da filha de Hyukjae enquanto o manto vermelho se destacava em seu corpo. Era da mesma cor que o seu, mas diferente de si, Dasom não usava o capuz erguido, seu rosto estava amostra quando nem mesmo usava a máscara que os outros ômegas atrás de si, deixando claro para quem conhecesse as regras, que ela era a rainha entre os ômegas ali, a mais preciosa, a mais pura.

Eles voltaram a andar, em fila, e Minseok fez esforço para não tropeçar em seus pés ou pisar no manto e cair. Levantou o rosto para observar para onde estavam indo. A fogueira brilhou não muito longe, deixando o Kim nervoso. Engoliu em seco na medida que ele começava a escutar a cantoria e o barulho da dança dos betas, esticou o pescoço para observa-los dançando ao redor da fogueira.  Pulando, os braços erguidos em clamor e as roupas brancas esvoaçando com os movimentos. Estavam cantando alguma coisa, que no nervosismo de estar tão perto, fazia Minseok não entender palavra alguma.

Sentiu frio quando a fila de ômegas parou em frente a fogueira, o som dos tambores ficou mais altos e o Kim ergueu as mãos para puxar o tecido do manto mais para perto, abraçou-se numa tentativa de fazer o frio ir embora e desejou estar com roupas de baixo, quem sabe assim não se sentisse tão inseguro. No entanto, no minuto seguinte, todos os ômegas estavam se espalhando ao redor da fogueira e ajoelhando-se diante dela, a cabeça baixa.

Minseok os imitou.

Os betas dançaram às suas costas, haviam sons de risadas e o deslizar dos pés contra o chão de terra batida. O loiro observou, através da máscara em forma de lobo, as suas mãos contra o manto vermelho. A pele parecia laranja por causa da luz do fogo e talvez, fosse por causa do fogo que Minseok sentia aquele comichão na boca do estômago e na ponta dos dedos dos pés.

A cantoria parou e Minseok olhou para o lado, apenas para imitar o gesto dos outros de olhar para cima. Os betas tinham ajoelhado-se às suas costas, de cabeças baixas e com os mantos brancos sujos da dança de antes. Minseok observou a lua, enorme e brilhante, em perfeita sintonia com a fogueira. Não conseguiu se impedir de fechar os olhos e ofegar, pois aquele comichão tinha arrastado-se por suas pernas e estava chegando na sua virilha, fazendo-o sentir-se quente. Sentiu algo sobre seus ombros e abriu os olhos.

Acima de si havia um rosto, usando a mesma máscara de lobo que a sua e por isso, Minseok não tinha certeza de quem era, mas acreditou que fosse Baekhyun. A pessoa o fez se erguer, virou-o para si. Minseok fitou-lhe mais um pouco, o capuz escuro erguido não deixava que visse muitos detalhes da pessoa e mesmo quando procurou o seu cheiro, tudo que veio até si foi uma bagunça de odores que só serviu para que o Kim enrugasse o nariz.

A pessoa ergueu as mãos e começou a desfazer o nó do seu manto. Estava na hora, Minseok pensou e não conseguiu se impedir de olhar em volta. Alguns ômegas já estavam nus juntos de seus alfas e alguns até mesmo se beijavam ferozmente, totalmente dominados pelo poder da lua. Voltou a olhar para a pessoa à sua frente e molhou os lábios, nervoso demais, começou a erguer as mãos em direção ao nó do manto do alfa à sua frente, mas antes que pudesse completar o ato, teve suas mãos seguradas com força. Olhou para o lado, surpreso demais atrás da máscara.

Ele foi puxado em direção ao toque, posto atrás do corpo daquela pessoa que surgiu de lugar nenhum e viu-a, por sobre o ombro, empurrar o alfa que tinha estado na sua frente antes. Abriu a boca para protestar, mas as palavras ficaram presas na sua garganta quando reconheceu o cheiro da pessoa, que agora virava-se de frente para si. Baekhyun.

O marido ergueu a mão e desfez o nó da máscara que usava, revelando o seu rosto, como que para provar ao ômega sua identidade. Minseok estava confuso, não entendia o que tinha acabado de acontecer. Por que havia outro alfa no lugar de Baekhyun?

— Você está bem? — o alfa sussurrou, chegando perto demais de si para isso.

O Kim assentiu ao mesmo tempo que sentia Baekhyun enfiando as mãos por baixo do seu manto, tocando na cintura e o trazendo para mais perto. Minseok deitou a testa no ombro dele e ficou quieto ali, de olhos fechados, aspirando o cheiro cítrico que Baekhyun tinha, fazia-o lembrar-se de uvas, algo como vinho, com aquela ponta adocicada e alcoólica, que fazia Minseok querer chegar mais perto. Contudo, ele estava se afastando. Não era hora para aquilo. Eles precisavam continuar aquela cerimônia.

Baekhyun o fitou. Era estranho olhá-lo sem a máscara, mas sentia-se mais seguro assim, podendo olhar em seus olhos. Ergueu a mão e desfez o nó da sua máscara, deixou-a cair no chão e fitou o alfa. Baekhyun ergueu a mão e tocou-lhe o rosto, a ponta dos dedos deslizando pela bochecha, chegando perto da boca e os olhos seguindo o mesmo caminho. Minseok sentiu-se estremecer, o estômago se revirou em ansiedade para o que iria acontecer, abaixou o olhar. Não conseguiria fazer aquilo direito, havia gente de mais a sua volta, sons de mais, ar livre demais. Fazia-o se lembrar da sua primeira vez, há tanto tempo, mas não por causa do cenário, mas pelo modo como estava nervoso e nenhum pouco pronto.

Sentiu as mãos suarem e os olhos se encherem de lágrimas, e como se soubesse disso, Baekhyun o puxou para perto, novamente, os lábios deslizaram pela lateral do pescoço, fazendo Minseok retesiar o corpo inteiro.  Todavia, os lábios de Baekhyun estavam alcançando a sua orelha, sussurrando um pedido de desculpas, afinal, Baekhyun acima de todo mundo sabia como aquilo era constrangedor, um tanto humilhante. Fazia Minseok se perguntar quantas vezes Baekhyun fizera aquilo ou se também era a sua primeira vez, mas duvidava muito que fosse. O Byun era metade Park e a não ser que Hyukjae convidasse os lobos de outros clãs para participar, Baekhyun ainda era obrigado a fazê-lo simplesmente porque metade do seu DNA provinha de uma Park.

Minseok imaginou Siwon e Donghae participando daquilo até que Baekhyun tivesse idade suficiente para fazê-lo. Quase podia escutar Park Hyukjae sussurrando no ouvido do marido como não participar era um desrespeito as tradições e principalmente, a sua mãe morta. Mas será mesmo que Park Jihyun aprovava aquilo?

Ergueu o rosto e fitou o alfa, a fogueira queimava às suas costas e a lua estava no seu ápice. O som dos tambores chegava até si no mesmo ritmo do seu coração, abafando todos os outros sons da cerimônia à sua volta. Minseok ergueu a mão e tocou no rosto de Baekhyun. Eles tinham um contrato implícito, lembrou-se. Deveriam confiar um no outro, principalmente naquele momento, porque o ômega não poderia sair correndo e envergonhar o alfa daquela maneira.

— Apenas olhe pra mim, sim? — Baekhyun pediu e Minseok concordou, a mão escorregou da sua bochecha e foi até o nó do seu manto.

O Byun observou quando o loiro desfez o nó da sua vestimenta e depois deixou-a escorregar por seu corpo. Forçou-se a fitar o marido nos olhos, pois sabia que se olhasse para qualquer outro lugar, desistiria daquilo tudo. Tornou a erguer as mãos, as pontas dos dedos estavam tremendo quando alcançaram o nó da vestimenta de Baekhyun. O alfa tocou-lhe o rosto, as pontas dos seus dedos estavam geladas contra sua bochecha, deixando Minseok saber que estava corado. Baekhyun teve coragem de sorrir, antes de passar a mão por sua nuca e o trazer para perto.

Era terrivelmente estranho fazer aquilo, Minseok pensou. Em parte porque não sentia o seu lobo querendo o mesmo, nem ao menos o sentia revirar-se de desejo da forma como acontecia quando estava no cio, onde praticamente implorava para que Baekhyun o tocasse. Ali, embaixo da Lua, Minseok sentia-se apenas humano e pela forma como o alfa estava tocando-lhe, percebeu que Baekhyun se sentia do mesmo jeito.

Procurou-lhe a boca, quem sabe ali encontrasse um pouco mais de coragem. A mão de Baekhyun desceu até sua cintura, apertou-o contra si, firme o suficiente para que Minseok tomasse coragem para deslizar a língua para dentro da boca do marido, atrás de profundidade. Seu lobo deu sinal de vida, remexeu-se devagarinho dentro de si como se estivesse despertando de um sono profundo e o gosto de Baekhyun na sua língua, só servia para que o mesmo ficasse mais alerta. O cheiro de uva pareceu ficar mais forte para si ao mesmo tempo que tornava-se consciente da forma como os dedos de Baekhyun puxavam os cabelos da sua nuca, a mão deslizando pelas costas, os dentes raspando na sua língua e lábios. Sem perceber, gemeu baixinho contra os lábios do alfa, os olhos muito fechados pela sensação devastadora que era se embriagar daquele jeito.

Baekhyun separou suas bocas e enfiou o rosto na curva do seu pescoço para beijar a pele que encontrava, a língua desceu pela extensão do pescoço, sugou o gosto da sua pele. O mirtilo vinha doce contra a sua língua, despertando o seu lobo, deixando-o mais possessivo na medida que apertava e trazia Minseok para mais perto. Escutou mais um gemido do ômega e não pode se conter em rosnar contra sua pele, os dentes raspando onde alcançava, apenas para deixa-lo arrepiado em seus braços.

As mãos de Minseok encaixaram-se em seu corpo também, descendo pela lateral do corpo, arranhando a pele, puxando-o para perto quando a língua de Baekhyun deslizava por seu pescoço. Minseok gemia baixinho de olhos fechados enquanto a respiração do alfa ficava pesada contra a sua pele. Tinha plena consciência de que seu cheiro estava forte devido a excitação, mas quando o Byun deslizou os dedos por entre suas pernas, percebeu também que estava escorrendo em desejo. Tornou a procurar a boca do alfa, as mãos seguraram seu rosto como se estivesse com medo de que ele se afastasse e as línguas se encontraram sem impedimentos.

Podia sentir Baekhyun duro e tinha certeza que estava na mesma, aproximou o seu quadril do dele e esfregou-se ali, apenas para ter o prazer de escutar o primeiro gemido de Baekhyun, meio ofegante contra os seus lábios e os olhos abertos brilhando em âmbar. Minseok teve coragem de sorrir antes de voltar a beija-lo, chamando seu lobo para tomar o controle de uma vez. E então, tudo tornou-se vermelho diante dos seus olhos.

Minseok fechou os olhos, a cabeça foi jogada para trás, expondo toda a extensão do seu pescoço para que Baekhyun aproveitasse. Seu corpo inteiro ferveu quando sentiu os dentes do marido raspando sobre a pele do ombro, o lugar exato onde uma marca ficaria. A possibilidade de ser marcado o excitou tanto que sentiu-se escorrer mais um pouco, as pernas tremeram, e Baekhyun rosnou contra sua pele, tudo culpa da forma como seu cheiro tornava-se cada vez mais forte. Se viu abrindo os olhos ao mesmo tempo que sentia a pele ser sugada, segurada entre os dentes, coisa que com toda certeza deixaria marcas no dia seguinte. A lua estava enorme acima de si, tão incrivelmente brilhante, fazia Minseok sentir-se parte dela.

Havia alguma coisa na forma como nada ao seu redor importava mais além dos toques de Baekhyun e da forma como a lua brilhava acima de si. Seu corpo inteiro formigou ao sentir os dedos de Baekhyun mergulhando em si, sem muito cuidado, mas igualmente delicioso. Gemeu ao procurar os lábios dele, apenas para morde-lhe a ponta da língua e suga-la ao mesmo tempo que sentia-o ir e voltar para dentro de si. Sabia que haviam outros sons à sua volta, mas só conseguia se concentrar nos seus, nos que Baekhyun provocava. A respiração pesada do alfa contra o seu pescoço só deixava tudo mais intenso, a forma como ele se apertava contra si a cada vez que gemia, servia para que Minseok pedisse por mais.

Então, suas mãos estavam alcançando o pênis de Baekhyun, segurando junto do seu e movimentando os dois. O alfa gemeu, rouco, com a testa encostada no seu ombro e ele gemeu de volta, os dentes se fincando na pele do ombro para descontar um pouco do prazer que sentia. O crepitar do fogo às suas costas servia como música para a dança erótica de seus corpos, mas não era só isso. Sem realmente querer, notou quando os betas voltaram a dançar. Pulando e girando em volta dos ômegas e alfas, entrelaçados. Baekhyun segurou em sua coxa, suspendendo a perna, fazendo-a enlaçar sua cintura apenas para que eles pudessem deitar-se sobre suas capas, no chão.

As mãos dele voltaram a se fincar em sua cintura, segurando-o em cima de si e Minseok inclinou-se o suficiente para beija-lhe a bochecha, tão carinhoso que Baekhyun não pode se impedir de fechar os olhos para aproveitar a sensação. Mas eles tinham um prazo para cumprir, Minseok sabia, por isso apressou-se em encaixar-se no alfa. O calor estava de volta ao seu corpo espalhando-se como louco por toda a sua pele, deixando seus gemidos mais altos e fazendo Baekhyun ofegar abaixo de si.

Sabia que seus olhos estavam brilhando em avelã simplesmente porque era capaz de vê-los refletidos no âmbar extremamente claro de Baekhyun. E as mãos dele apertavam-lhe as coxas, subiam até a cintura, o chamavam para baixo, se fincavam no seu cabelo, seguravam-no tão forte que Minseok acreditou que podia se desfazer apenas com aqueles toques.

Os sons dos tambores ficaram mais altos, os sons dos clamores dos betas chegaram em si com mais força, o corpo de Baekhyun estremecia abaixo de si e tinha plena consciência que o seu também. Abaixou-se para beijar o marido, de olhos abertos porque seu corpo arrepiava-se em mais excitação quando percebia ser o dono de toda a atenção do alfa.

Baekhyun passou os braços por suas costas e o abraçou antes de rolar no chão e deixa-lo por baixo. Os olhos estavam ferozes quando encontraram os seus, fazia Minseok lembrar-se do modo como eles tinham lutado, no meio da chuva, no chão do território Kim há um zilhão de anos. O cabelo escuro dele colava-se na nuca e na testa, o que só serviu para que o loiro erguesse a mão e afastasse os fios da testa e depois o trouxesse para baixo em um beijo profundo de desejo. Baekhyun tinha aquele gosto amargo de álcool no centro da língua, que não combinava em nada com o cheiro adocicado de uva que tinha no corpo, mas Minseok gostava e queria provar por mais tempo, e o teria feito se Baekhyun não tivesse se afastado, ofegante, a testa franzindo em antecipação para o que Minseok já estava perto.

Seu corpo estremeceu mais um pouco quando o marido aumentou a velocidade, entrando mais fundo em si e o fazendo gemer mais alto. A lua atrás do alfa, brilhava como nunca. Dal estaria apreciando os seus sacrifícios? Ela o recompensaria? Ergueu as mãos e segurou nas laterais do corpo do marido, puxando-o para perto num abraço desajeitado enquanto seu corpo inteiro se desfazia em prazer. Os olhos fecharam e os dentes se fincaram no ombro do alfa, numa marca involuntária.

Baekhyun gemeu, surpreso pela marca e pela forma como Minseok contraiu-se inteiro ao redor de si, tornando o seu prazer mais intenso quando veio. Derramou-se inteiro dentro do ômega e o puxou para mais perto, ao sentir o nó se formar em seu interior. Estava ofegante quando beijou-lhe o ombro, as presas tinham despontado, mas Baekhyun mordera o lábio em vez da pele do marido. Afinal, era preferível o gosto do próprio sangue na boca do que uma marca indesejada.

Tornou a soltar Minseok, deixando que ele deitasse no chão. Apoiou-se nos cotovelos e observou a face corada do loiro. O cabelo loiro estava bagunçado e a maquiagem em volta dos olhos, borrada, mas as bochechas eram vermelho puro de esforço e de vergonha por realmente ter feito aquilo e Baekhyun deveria estar na mesma, porque sentia o seu rosto queimando também e pareceu piorar quando Minseok sorriu para si, tão terrivelmente doce que o alfa não conteve o impulso de abaixar-se e rouba-lhe o sorriso em um beijo delicado.

Ainda houve mais beijos. O suficiente para fazer Minseok suspirar contra os lábios do marido em desagrado quando tiveram que se separar de vez, cada um voltou por onde tinha vindo, no fim do ritual. E voltariam a se encontrar, já devidamente vestidos, no salão da casa de Hyukjae. Todos os lobos mais importantes estariam ali, bebendo e aproveitando-se dos ômegas solteiros ali.

Minseok avançou pelo salão, procurando Baekhyun e Chanyeol com os olhos, meio nervoso. Odiava lugares com muitas pessoas, mas acima disso, odiava o território Park e a malícia contida em seus gestos. Avistou a cabeleira avermelhada de Chanyeol e se preparou para dar um passo em sua direção ou acenar o braço para chamar sua atenção, quando foi barrado. Alguém colocou-se à sua frente, um homem desconhecido para si e com um cheiro forte de alfa no corpo, que o fez dar um passo para trás.

— Você deve ser Kim Minseok, certo? — curvou-se para si, os olhos escuros estavam brilhando em uma curiosidade que o ômega não entendia de onde vinha.

Mas pelo modo como seu nome foi pronunciado, já começava a perceber que tudo se devia a sua linhagem, afinal, Park’s e Kim’s nunca de deram bem e Minseok devia ser o primeiro Kim a pisar em território Park em séculos.

Assentiu para o homem quando seus olhos voltaram a focar-se em seu rosto.

— Se me permite dizer, — sorriu, parecendo envergonhado e Minseok sorriu de volta, porque não sabia o que mais poderia fazer. — é muito bonito, senhor Kim.

O loiro olhou para baixo, totalmente pego de surpresa pelo elogio e principalmente, pelo modo como aquele homem surgira de lugar nenhum apenas para dizer aquilo.

— Obrigado. — agradeceu e se preparou para dar a volta no corpo do homem, afim de continuar seu caminho, mas então a mão do homem estava em seu braço, firme, como se eles fossem íntimos. Minseok desceu os olhos para o toque, as sobrancelhas se franziram em confusão. — O que está fazendo? — tornou a levantar o rosto para o alfa.

— Ah, desculpe-me. — pediu, mas a mão continuou ali, fazendo o ômega comprimir os lábios em desagrado. — Eu soube que não é um ômega marcado. — a sobrancelha do homem se ergueu, havia aquele tom engraçadamente sugestivo na sua fala, como se não fosse exatamente isso que queria dizer, mas dizia por ser próximo do que realmente queria.

— Sou casado. — Minseok tentou puxar o braço, mas o alfa aumentou a pressão do aperto, segurando o pulso com força o suficiente para fazer o Kim arfar em surpresa e dor.

O que aquele homem estava fazendo?

O alfa sorriu para si, a simpatia de antes não estava mais ali. Havia só a ponta de malícia que Minseok detestava.

— Ora, ora. Você deve ser Kim Minseok, estou certo? — outro homem surgiu, mais velho, com o cabelo grisalho brilhando no mesmo tom de prata que seus olhos.

O ômega fitou-o apenas para notar um terceiro alfa se aproximando, eles amontoaram-se ao seu redor, fazendo o seu estômago se revirar em nervosismo. O que estava acontecendo?  Ele tentou puxar o braço mais uma vez, mas sem sucesso. Aquilo já o estava deixando irritado.

— Quem são vocês? — perguntou, o rosto contorcido em desagrado.

Os alfas riram.

— Você é mesmo uma gracinha. — ignorou sua pergunta, a mão do terceiro alfa foi até o seu rosto, apertou-lhe a bochecha num carinho indesejado, fez sua pele queimar em raiva.

— Somos amigos de Baekhyun. — o segundo alfa se pronunciou. — E ficamos curiosos para conhecer você. — explicou com naturalidade.

— Que jeito estranho de me conhecer, me encurralando no meio do salão. — comentou ácido, fazendo os alfas rirem.

— Parece chateado. — o terceiro alfa deu um passo em sua direção, aproximando o rosto, como que para firma sua posição de controle ali.

— E o que denunciou isso? — Minseok desafiou. — Minha expressão de desagrado?

Os três riram mais um pouco, pareciam gostar da forma como o ômega tornava-se cada vez mais arisco.

— Seus pais não te ensinaram a se comportar? — o alfa que segurava seu braço, perguntou. — Sua língua é afiada demais para um ômega.

— Soube que foi educado na França, numa escola especial para ômegas. — o segundo alfa se pronunciou. — Não te ensinaram nada lá?

Minseok piscou os olhos, tão terrivelmente inocente que os alfas sorriram da forma como aquilo soava como vergonha, parecia que tinham pegado o ômega. Mas não era nada disso, o Kim só estava tentando pensar em um jeito de sair da presença daqueles três sem chamar atenção de mais pessoas, pois não achava que entrar numa briga corpo a corpo com aqueles alfas ia servir para aumentar sua popularidade entre os Park’s, afinal, já tinha notado a forma como não era bem-vindo. Os lobos estavam lhe lançando olhares tortos desde que chegara a festa e tinha sido pior quando estava se preparando para cerimônia, todos o tratando como se fosse um intruso.

Voltou a levantar o rosto, havia um sorriso no canto dos seus lábios. Decidiu que era melhor manter a pose de submissão, pois parecia que os alfas gostavam daquilo, principalmente os que tinham o sangue Park.

— Ensinaram-me muitas coisas, senhor. — o pronome de tratamento escorregou dos seus lábios com doçura, o que só serviu para o segundo alfa abrir um sorriso.

Provando ao Kim que aqueles lobos deviam ter algum fetiche por ômegas submissos.

Viu o alfa abrir a boca, quem sabe para dar em cima de si mais um pouco, mas o momento foi perdido no instante em que o loiro avistou Baekhyun e Chanyeol se aproximando, pareciam — finalmente — tê-lo notado ali, para o alívio de Minseok, que já não aguentava mais a forma como o cheiro dos três alfas se misturavam no seu olfato. Lhe dava enjoou.

— O que acham que estão fazendo? — a voz de Baekhyun soou grave para si, assustou os alfas, obrigando-os a se afastar um passo do ômega e a libertar seu braço.

Minseok massageou o pulso e o braço, os olhos tornando-se raivosos outra vez quando fitou os três alfas. Andou em direção ao marido e ficou entre ele e Chanyeol. O irmão mais novo do alfa, passou um braço por sua cintura, como que para firma-lo ali, entre eles, deixando claro aos outros que Minseok pertencia à eles.

— Estávamos apenas tendo uma conversa. — o que tinha segurado o seu braço, se pronunciou.

— Com autorização de quem? — Baekhyun perguntou, os olhos estavam perigosamente irritados.

O Kim achou engraçado quando eles engoliram em seco, sem saber o que responder e muito menos o que inventar. Uma parte sua se sentia vingada pelo modo como agora eles se comportavam com submissão.

— Nós só achamos que...

— Erraram. — os interrompeu, deu um passo em direção à eles. — E se não quiserem errar novamente, é melhor que fiquem longe. — avisou.

Era uma ameaça, Minseok percebeu. O tom implícito nas sílabas, se destacando nos espaçamentos das palavras e ganhando força no fim da frase. Era uma ameaça elaborada de um jeito educado, que fez o ômega erguer as sobrancelhas em agrado. Alguma coisa em si gostava do tom perigoso que brincava na ponta da língua de Baekhyun, atraia-o.

O alfa não esperou mais para dar as costas aos alfas e também não pareceu esperar muita coisa quando lhe lançou um olhar. Ele só começou a andar, dando tudo como encerrado, fazendo Chanyeol se apressar atrás de si da mesma forma que Minseok.

— Vamos nos retirar. — ele ditou quando estavam longe o suficiente, quase na saída do salão. — Hyukjae preparou quartos para que passemos a noite aqui. — falou antes que Chanyeol pudesse dizer qualquer coisa sobre onde estava estacionado o carro.

Minseok não disse coisa alguma quando saíram do salão e muito menos quando Hyukjae surgiu para lamentar sua saída tão cedo da festa, mesmo que não parecesse tão triste assim. O Park os guiou até os quartos, em sua casa. Ficavam no andar mais alto com a desculpa de que a vista era mais bonita dali, mas Minseok sabia que não era isso. Tinha a ver com a forma como era difícil de fugir dali, porque o que eles fariam em caso de emergência? Desceriam lances e mais lances de escadas ou se jogariam da janela?

Chanyeol lhe lançou um olhar nervoso, como se estivesse preocupado com as mesmas questões que o ômega. Nenhum deles confiava nos Park’s, no fim das contas.

Hyukjae os deixou na porta dos seus quartos. Eram apenas dois. Um para Chanyeol e um para Baekhyun e Minseok, um ao lado do outro, o que de alguma forma, tranquilizou Minseok, porque se alguma coisa desse errado, eles não estariam exatamente tão separados.

— Aqui estão as chaves. — o Park entregou uma chave a Chanyeol e outra a Baekhyun antes de desejar boa noite e ir embora, quase saltitando pelo corredor.

— Seu tio me dá calafrios. — Chanyeol comentou e o Byun mais velho, se limitou a balançar a cabeça.

Virou-se de frente para a porta ao mesmo tempo que Baekhyun e o esperou destranca-la. Chanyeol fez o mesmo com a sua porta.

— Até amanhã. — ele despediu-se.

— Não durma até tarde. — Baekhyun pediu. — Vamos sair bem cedo, amanhã.

Chanyeol assentiu antes de fechar a porta. Baekhyun suspirou ao abrir a porta e Minseok fitou-lhe a nuca, notando o cabelo grudando-se ali com o suor, denunciando o seu estresse com aquela noite. Assim que entraram, o alfa trancou a porta e aproximou-se do criado mudo para deixar a chave sobre si. O ômega notou que havia só uma cama e subitamente estava nervoso com a ideia de dividi-la com o marido.

Baekhyun foi até o guarda-roupa, parecia familiarizado com todo aquele espaço.

— Pode ir tomar um banho, se quiser. — falou calmamente enquanto começava a desabotoar sua camisa em frente ao guarda-roupa aberto, Minseok notou que haviam muitas roupas ali. — Há roupas aqui.

O ômega olhou em volta, capturando os detalhes do quarto. Havia uma janela enorme de vidro, se aberta, dava em uma varanda pequena. O banheiro ficava a esquerda enquanto a direita inteira se dividia entre um quarto normal e uma salinha com um sofázinho médio, tudo muito organizado em tons pastel e com cheiro de lavanda, denunciando que havia sido limpo naquele mesmo dia. Mas sobre o criado mudo haviam alguns detalhes pessoais demais: um globo de neve e um porta-retratos. Haviam roupas do tamanho de Baekhyun no guarda-roupa... Eram os detalhes suficientes para provar a Minseok, que aquele quarto pertencia ao alfa, não era um quarto de hóspedes normal.

Talvez, fosse ali que Baekhyun passou metade da sua infância e adolescência, quando era obrigado a passar as férias com a outra metade da sua família ou onde dormia depois da Cerimônia da Lua, todos os anos.

O Kim aproximou-se da sua cama e sentou-se ali. Não pretendia tomar um banho, afinal já o tinha feito depois da cerimônia. Inclinou-se sobre seus pés e retirou as botas que usava ao mesmo tempo que Baekhyun olhava-o por sobre o ombro, o tom de loiro dele parecia ficar mais claro quando naquela luz florescente. Voltou a olhar para frente, terminando de se trocar.

Não achava que o tio ia conservar o seu quarto depois que casara com um Kim, mas não podia deixar de agradecer por tê-lo feito, mesmo que uma parte sua estivesse se lamentando. Sabia que a aliança Park-Byun era um tanto instável e que nenhum dos dois parecia realmente feliz com o seu parceiro, mas tudo parecia ter ficado mais instável e mais perto do fim quando Baekhyun casara-se com Minseok, de surpresa e sem uma explicação plausível para terminar o quase contrato com Dasom, filha de Hyukjae. Eles deveriam ter se casado e deixado a aliança mais forte, misturando de vez suas linhagens. Mas aquela confusão toda tinha acontecido, Kim Jungsoo havia surtado e Byun Siwon ficara sem escolha.

— Quer uma roupa para dormir? — se escutou perguntar ao ômega.

Minseok levantou a cabeça ao mesmo tempo que Baekhyun voltava a fita-lo por sobre o ombro. Seus olhos se encontraram na mesma velocidade com que se desviaram, deixando-o corado pela surpresa do encontro.

— Tem algo confortável? — ficou de pé e foi até o alfa.

Parou o seu lado, os braços se cruzando porque não sabia o que fazer com a vontade de se encostar no marido, só um pouquinho... o suficiente para sentir um pouco mais do seu cheiro. Tudo culpa da Lua, Minseok assegurou a si mesmo.

— Fique à vontade para escolher. — ofereceu ao começar a se afastar.

Minseok observou os cabides e descruzou os braços para procurar algo, escutou os passos de Baekhyun se afastando, tinha ido em direção a salinha. Talvez, se afogar nas lembranças que aquele lugar carregava. Minseok deu de ombros para isso e começou a escolher algo. Desabotoou sua camisa e tirou o jeans, para substitui-los por um short e uma camisa simples. Aparentemente Baekhyun era mais magro que si, já que as peças ficaram justas no seu corpo, mas o comprimento era bom quando tinham praticamente o mesmo tamanho. Recolheu sua roupa e a dobrou, guardou na parte debaixo do guarda-roupa antes de fecha-lo e ir em direção a cama.

A luz da lua entrava pela janela aberta juntamente com um vento frio, que servia para deixar o quarto mais fresco. Eles estavam em pleno verão, então as noites eram sempre quentes e abafadas. Decidiu que era melhor deixar daquele jeito enquanto deitava-se na cama. Não sabia que estava cansado até o momento em que relaxou o corpo sobre o colchão, o sono vindo muito rápido.

Acordou sentindo frio, em algum momento da madrugada, e achando que estava no seu quarto, na alcateia Byun, procurou o lençol para se cobrir e no meio desse ato, percebeu que ainda estava sozinho na cama. Sentou-se, o cabelo bagunçado e bocejando, esfregou os olhos antes de conseguir olhar em volta, atrás de Baekhyun.

Não estava ali.

Levantou-se da cama e foi vasculhar pelo quarto. O encontrou dormindo na sala, sobre o sofázinho, as pernas encolhidas numa tentativa de caber ali. Bocejou novamente, confuso com a imagem. Não entendia porque Baekhyun estava dormindo ali, quando havia uma cama grande o suficiente para os dois. Decidiu se aproximar, cutucou o ombro do alfa com a ponta do dedo indicador. Baekhyun se mexeu mas não acordou.

— Baek? — sussurrou, a voz estava rouca de sono. Cutucou-o mais um pouco, até que o viu abrir os olhos. — O que está fazendo aí?

— Te dando alguma privacidade. — ele disse involuntariamente, sentou-se, os pés tocando no chão.

Sonolento demais para perceber o que tinha dito e se sentir envergonhado por isso.

— Oh. — Minseok soltou, o rosto todo ficando quente com a gentileza do gesto de Baekhyun.

Devia ter imaginado que Baekhyun o deixaria sozinho depois de todo o modo como tinham se tocado na frente de tantos desconhecidos, pois era típico dele fazer algo do gênero. Se sentia um bobo por não ter previsto aquilo, quando já haviam passado cios o suficiente para que Minseok percebesse que Baekhyun sempre o deixava sozinho depois que os hormônios se acalmavam. Sempre achara que o Byun não se importava, mas, na verdade, era o contrário. Ele importava-se o suficiente para achar que Minseok queria privacidade, acreditando que o ômega odiava tudo aquilo. E subitamente sorriu, a mão foi para frente da boca para abafar o som e os olhos transformaram-se em duas fendas bonitinhas.

— O que foi? — Baekhyun perguntou coçando os olhos com a costa da mão direita.

— É que você sempre faz isso. — deixou-o saber e quando Baekhyun o fitou confuso, Minseok continuou. — Sempre me deixa sozinho depois que fazemos sexo.

— Ah. — então, era a sua vez de ficar envergonhado, pois tinha notado o que dissera.

— Eu... eu sempre achei que não gostasse. — arranjou coragem para dizer, olhando para qualquer lugar que não fosse o rosto de Baekhyun. — Sabe, do sexo.

— Não... — se pronunciou e Minseok o fitou, surpreso pela negação. Então, não gostava? — Não é isso. — consertou, a mão subindo para a nuca, se alojando ali em vergonha pelo tema da conversa. — E-eu gosto. — gaguejou, baixo demais, fazendo Minseok olhar para baixo.

Decidira chutar o balde de uma vez, afinal, já havia começado aquilo.

— E-eu também.

Eles ficaram em silêncio. Constrangidos demais para tentar dizer qualquer outra coisa. Minseok não sabia se deveria sair correndo dali ou só ficar e esperar, com o rosto vermelho de nervosismo. Mordeu o lábio, meio tentando não pensar no que ia falar.

— Por isso... hum... não devia ir embora.

Baekhyun levantou o rosto, o escuro das suas iríses surpreso com que escutava. Minseok estava fazendo um convite? Aquilo era algum tipo de passe-livre para alguma coisa? O alfa não conseguia identificar realmente, mesmo que em sua mente pudesse escutar a voz do seu omma Donghae, as dicas que ele tinha lhe dado mais cedo quando contara que Minseok havia aceitado ir consigo na cerimônia. “Não fique muito perto, pode assusta-lo”. “Espere o momento certo”. Mas como ele saberia qual o momento certo? Aquele era o momento certo? Se parecia bastante com o momento certo.

Molhou os lábios ao mesmo tempo que Minseok o fitava também. Se forçou a não desviar os olhos, porque queria tentar ler o que havia nos do marido, procurou a confirmação de que aquele poderia ser o momento certo. E então, Baekhyun percebeu que era como estar de volta ao quarto, na casinha onde passava o seu cio, na alcateia Byun. Eles dois sentados ao lado um do outro na beira da cama, aquele silêncio leve sobre os dois, fazia Baekhyun se dar conta da forma como gostava de estar sob os olhos do ômega. Ter a atenção dele, fazia o seu lobo se revirar inteiro no seu peito, enviando uma sensação gostosa pelo corpo.

Minseok deu um passo em sua direção, subitamente corajoso demais ou só fosse impulsivo mesmo. E Baekhyun dominado pela mesma coisa, ergueu os braços e enlaçou sua cintura, abraçando-a, ainda sentado no sofá. A testa encostou-se na barriga e os olhos se fecharam, podia sentir o seu cheiro ainda na pele do ômega misturado ao mirtilo, que só servia para deixar seu lobo agitado.

— Você tem um cheiro gostoso. — sussurrou, a voz saindo abafada pela forma como a boca se pressionava contra o tecido da camisa.

— Achei que não gostasse do meu cheiro. — Minseok rebateu, a voz divertida.

E Baekhyun riu, ainda agarrado ao ômega. Era divertido a forma como o desconforto sempre se dissolvia tão rápido quando estavam juntos e acima disso, era engraçado recordar sobre o modo como costumava enrugar o nariz a cada vez que o Kim se aproximava quando eram adolescentes, sempre enfrentando-se pelos corredores do colégio, trocando farpas. Para Baekhyun, era como um hobby irritar o loiro, pois sempre acabava roubando a atenção para si. Só que mesmo quando pensava no Baekhyun adolescente e comparava com o Baekhyun adulto, se dava conta de que deveria ter tido mais coragem se soubesse que ia acabar casando com Kim Minseok.

— Era divertido vê-lo irritado. — confessou.

— Foi divertido te dar um chute. — Baekhyun o soltou só para encontrar o sorriso presunçoso no rosto do loiro.

— Aquilo foi horrível. — Baekhyun teve coragem de fazer uma cara triste e Minseok riu, um tanto alto, antes de se afastar e sentar ao seu lado no sofá.

— Você mereceu. — cruzou os braços, totalmente dono da razão e Baekhyun riu, se aproximando, cutucando-lhe a barriga tentando deixa-lo irritado em uma brincadeira.

— O seu cheiro estava tão forte naquele dia. — falou chegando mais perto a cada vez que Minseok se afastava sobre o sofá. — Mas eu sei que fui um babaca.

O ômega fitou-lhe os olhos, estava sendo sincero. Seus olhos vagaram pela curva do pescoço dele, avistou o começo da marca que tinha feito durante o ritual e se viu corando, novamente, mas aí Baekhyun estava chegando mais perto e dessa vez Minseok não se afastou, os braços se descruzaram e foram parar em volta do corpo do alfa ao mesmo tempo que a ponta do seu nariz tocava no dele.

— Eu namorava. — contou e Baekhyun assentiu.

— Eu sabia. Kyungsoo havia me contado, por isso era mais divertido vê-lo corando. — a boca chegou mais perto, desviou até sua bochecha, beijando a maçã do rosto avermelhada. — Você ficava uma gracinha.

— Está dizendo que era afim de mim? — Minseok sussurrou de volta.

— Eu não sei. — Baekhyun confessou igualmente baixo, de repente parecia que eles estavam trocando segredos. — Eu nunca soube o que acontecia comigo quando você estava perto.

Meu lobo sempre se revirava dentro de mim a cada vez que sentia o seu cheiro. Eu senti raiva quando soube que tinha um alfa e fiquei chocado com a forma como meu lobo entristeceu-se ao saber que casaria com Oh Sehun. E definitivamente, havia alguma coisa, que revivia um pouco mais a cada minuto, todas as vezes que seus olhos estavam nos meus.

— É uma confissão perigosa. — o loiro alertou, a língua ficando seca na boca.

— Eu sei. — Baekhyun encostou a testa no seu ombro e ficou ali, muito quieto, meio abraçado a si.

Minseok deixou, porque também não queria se afastar. E então, o silêncio estava de volta, os envolvendo num abraço esquisito e confortável. Mas Minseok não queria perder o momento, havia algo de delicado nas palavras ditas por Baekhyun, que pediam para que não as soterrasse naquele silêncio. Molhou os lábios, ganhando tempo para que a coragem ficasse forte o suficiente para confessar algo.

— Eu gosto do seu cheiro.

Baekhyun levantou o rosto, procurou sua face, atrás dos seus olhos, atrás da verdade.

— É uma confissão perigosa. — repetiu sua fala.

O ômega sorriu a mão levantando-se para se encaixar na bochecha esquerda do Byun. O puxou para perto, tocando sua testa na dele e fechou os olhos. Aquilo tudo era perigoso, se deu conta. Eles estavam ultrapassando algum tipo de limite, colocando o corpo a prova em nome de alguma coisa que Minseok não sabia o que era, mas estava curioso para descobrir.

Eu sei. — sussurrou, os lábios quase tocando os do outro, num convite implícito que Baekhyun prontamente aceitou.


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