Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 30
IV - Doces mentiras




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Hyukjae fitou os anéis em seus dedos, principalmente o que tinha uma pedra verde. Estava experimentando, dentre as outras opções que o velho mercador, à sua frente, tinha.

— Vou levar este. — decidiu e quase riu quando o homem à sua frente meio sorriu, meio segurou o suspiro de alivio.

Não era um segredo para ninguém que os lobos da Alcateia Park não tinham uma condição boa de vida, quando eram obrigados a arranjar uma forma de sustento muito cedo. Isso era facilmente visto quando quem acompanhava o homem, empurrando a velha carroça de bugigangas, era um garoto mais novo. Provavelmente o filho do mercador, com idade beirando os 13 anos, Hyukjae achava. Mas de qualquer forma, era nessas horas que o líder agradecia por ter nascido na Família Park Principal e poder desfrutar de toda a riqueza que possuíam.

— Obrigado, senhor. — o homem agradeceu quando Hyukjae o pagou em dinheiro.

Belíssimas notas de wons que poderiam o sustentar até o fim do mês? É, achava que era isso mesmo. Contudo, sabia que dava ao mercador não era nem metade do valor real da esmeralda, que agora adornava o anel no seu dedo mindinho. Mas é claro, ele não contaria isso ao mercador.

— Não há de que. — teve coragem de dizer, meio sorrindo e os olhos brilhando em prata por baixo das lentes escuras dos óculos.

Então começou a lhe dar as costas, voltando a seguir o seu caminho. Escutou as rodas da velha carroça do homem contra o chão ladrilhado de pedras e logo em seguida, sua voz alta gritando por atenção, no seu marketing para vender mais joias e quem sabe garantir mais um mês com comida na mesa. Mas o Park sabia que seria difícil chamar a atenção quando havia outros mercadores ali, várias outras bancas e até mesmo bordeis para competir consigo. Essa era a parte escura da sua Alcateia, o lugar onde aconteciam trocas, vendas e saques.

Os outros lobos chamavam de mercado negro, mas não por ser proibido, mas por causa das mercadorias que eram vendidas. O Park não interferia, pois sabia como seus lobos tinham que arranjar alguma maneira de lhe pagar o imposto de cada mês, que servia para investimentos na vida deles próprios na Alcateia, ou pelo menos era isso que os lobos pensavam. Porque Hyukjae tinha encontrado um jeito melhor de gastar aquele dinheiro.

Andou mais um pouco, as pessoas abriam espaço para que ele passasse quando notavam quem estava ali. Avistou a entrada no bordel, para onde estava seguindo. Havia ômegas na frente, se exibindo para quem estava passando, querendo alguns trocados para pagar o almoço naquele dia. Alguns ainda eram muito novos e mal tinham cheiro. Torceu a boca para esses, costumava preferir os mais experientes, mas de vez em quando se deixava conhecer as curvas intocadas de alguém virgem. Não apoiava a introdução de crianças na prostituição quando nem ao menos tinham tido um cio, até mesmo tinha criado uma lei para impedir isso. Mas seus lobos eram desobedientes, pelo que via.

— Vocês deveriam estar em casa. — disse as crianças, que quase passaram despercebidas por si. — Ou ao menos trabalhando em outra coisa, não querem que eu os mate, não é? — e elas se encolheram contra a parede, assustadas pela ameaça repentina.

O Park não era muito bom com palavras, tendia a sempre ameaçar primeiro. Era mais fácil, segundo sua mãe alfa. A alcateia tinha que respeitar o líder e o jeito mais fácil e limpo de conseguir isso era que eles tivessem medo, então tudo estaria no seu devido lugar e o líder poderia reinar em paz.

— Mas senhor... — o mais velho deles começou a dizer.

— Apenas saiam daqui antes que eu chame meus guardas para capturarem vocês. — disse olhando-os de cima, mas eles não se mexeram. — Já! — intensificou e as crianças correram para longe de si, se dispersando no meio da multidão e sumindo da sua vista.

Suspirou e continuou andando até a entrada do bordel, pensando em como podia ser misericordioso. Afinal, se fosse realmente mau teria chamado os guardas naquele momento e aquelas crianças estariam sendo usadas para mostrar ao povo como deveriam escutar seu líder, mas daria um jeito nisso até o fim do dia. Por enquanto precisava ter uma conversa importante com uma certa pessoa.

Passou pela entrada, a travessando a cortina feita de miçangas e dando de cara com todo o esplendor que era morar na Alcateia Park. Por dentro, o bordel era mais organizado, diferente da fachada cheio de luzes desconexas. Havia mulheres em seus pedestais, encostados à parede, com poucas roupas e fazendo suas melhores expressões sensuais. Homens se aglomeravam aos seus pés, deixando dinheiro no seu pedestal e pedindo para que tirasse mais uma peça de roupa. Encontrou homens ômegas e betas sentados nos sofás ou no colo de alguém, deixando-se serem tocados por homens e mulheres alfas. Contudo, não parou. Continuou avançando até o lugar em que encontraria a mulher com quem queria conversar. Seguiu pelo corredor lotado de quartos próprios para os programas. Escutava gemidos abafados pela música que tocava na entrada.

Então avistou o que queria. Bem no fim do corredor, escondida atrás de uma porta vermelha de carvalho ele sabia que a encontraria, no entanto antes que pudesse apenas abri-la, escutou quando a porta à sua direita abriu e uma pessoa usando um manto branco saiu. O capuz não estava erguido, mas olhava para baixo, a cabeça raspada como o oficio pedia. Hyukjae meio tombou a cabeça para o lado e quis achar graça de encontrar um sacerdote ali, naquele prostibulo e ainda por cima no quarto de uma das prostitutas mais requisitadas, pois conhecia muito bem a quem pertencia aquele quarto. Não ia negar para si mesmo, como já tinha visitado aquela beta mais de uma vez, afim de um pouco de alivio durante o seu cio e até mesmo quando não estava nele.

— Sacerdote. — fez uma breve mesura com a cabeça e a pessoa fez o mesmo, sem dizer coisa alguma e se preparou para ir embora, mas Hyukjae o segurou pelo tecido do manto, um tanto curioso. — Não é engraçado pensar que um sacerdote frequenta um prostibulo? — brincou e esperou que o outro risse, coisa que não aconteceu.

— Não é engraçado pensar que o Líder frequenta um prostibulo? — a pessoa rebateu e foi só aí que o Park notou que era um garoto.

Adolescente ainda. Provavelmente, 14 anos pelo modo como seu cheiro era tão suave para Hyukjae. Ômega.

— Eu não sou um homem casado, sacerdote, tenho direito aos prazeres da carne. Já você...

— Estou de visita. — contou, a voz era baixa, mas o alfa gostou do jeito como os olhos dele eram puxados, diferente do que estava acostumado.

— Aposto que sei o que veio visitar. — brincou com malicia, o tecido entre seus dedos era macio e se perguntou se a pele daquele garoto também era. — Deve ter se divertido o bastante por baixo desse manto, por que não me mostra o que tem aí? — não era uma pergunta e o garoto sabia.

Engoliu em seco antes de puxar o tecido da sua roupa da mão do outro.

— Desculpe-me, senhor, mas não sou um prostituto. — falou dando um passo para longe do alfa. — Sou um sacerdote.

Hyukjae riu, deixando que o outro visse seus belos caninos, mas não se aproximou ou insistiu como o outro esperava. Apenas ergueu os braços, como se tivesse se rendido e deu um passo para trás.

— Ainda é muito novo para ser um sacerdote completo. — o alfa analisou e o garoto deu mais um passo para trás. — Qual o seu nome?

Ele sabia que era demais sair correndo da presença daquele alfa. Já tinha escutado os boatos, sabia como Park Hyukjae não gostava de ser contrariado e muito menos ignorado.

— Huang Zitao. — acabou sussurrando.

— Um Huang. — Hyukjae saboreou o sobrenome na língua. — Achei que não existiam mais. — abaixou os braços e se aproximou, segurou o rosto do garoto e avaliou seu perfil. — Um belo espécime você é. Uma pena que esteja se escondendo por baixo desse pano todo.

Zitao o encarou, mordendo a parte interna da bochecha e arrancando mais um sorrisinho do Park. Eles se fitaram e Hyukjae não conseguia parar de pensar em como alguém daquela alcateia podia estar bem na sua frente, depois de terem lutado contra o seu Clã na Grande Guerra, mas tinha conhecimento do modo como os poucos sobreviventes tinham se dispersado pelo mundo, alguns tinham se refugiado em outras alcateias e pelo visto, alguns Huang’s tinham vindo para o seu território. Era só uma pena pensar que um deles, provavelmente o único, estava fadado a ser um sacerdote no Santuário. Essa decisão deveria ter vindo dos seus pais, já que por falta de dinheiro para sustentar os filhos, muitos tendiam a entregar as crianças para o Santuário, onde a criança teria comida e um teto para viver. No entanto, não podia deixar de se sentir excitado com a ideia de ter alguém com aquele sangue na sua frente.

Acabou tendo seus pensamentos interrompidos pelo abrir de uma porta.

— Líder Hyukjae. — a pessoa chamou e o Park soltou o jovem ômega. — O que o traz aqui? — perguntou ao mesmo tempo que o alfa virava-se para fitar a mulher.

Zitao por outro lado não esperou melhor memento para se retirar, afinal quanto mais longe daquele homem melhor.

— Tenho questões para tratar com você, Lee Hi. — a avançou pela porta, empurrando a mulher para o lado para poder entrar no cômodo, esquecendo totalmente do garoto sacerdote. — Por que não atende meus chamados? — estava irritado, tinha que admitir.

Avançou pelo local e sentou-se na cadeira atrás da mesa da mulher. O lugar onde Lee Hi costumava comandar as finanças do maior prostibulo da Alcateia Park. A beta se limitou a fechar a porta, tranca-la, na verdade. Não queria que ninguém os incomodasse.

— Andei ocupada, meu senhor. — respondeu e Hyukjae não podia deixar de apreciar o modo como aquela mulher era submissa a si. — Mas estou aqui agora. — virou-se para ele e andou até a sua mesa de trabalho, sentou-se na beira. — O que deseja?

Era bonita com aquele cabelo ruivo comprido, o Park tinha que admitir, a forma do quadril e os seios pequenos, também não o deixavam pensar outra coisa. No entanto, a falta de cheiro realmente era um problema. Não que não gostasse de betas, mas simplesmente não ficava tão excitado do jeito que costumava ficar quando sentia o cheiro de ômegas. Aquele sacerdote, por exemplo, tinha despertado seu interesse do mesmo jeito que Kim Minseok o tinha feito. Os dois tinham cheiros bem diferentes, mas carregavam o mesmo aviso de proibido na testa e isso era excitante o suficiente para querer fazê-lo se aproximar mais. Era só uma pena que Kim Minseok não fosse o ômega indefeso a qual estava acostumado a tirar vantagem.

— Eu quero outra leitura. — disse.

Lee Hi mordeu o lábio superior e jogou a cabeça para trás, meio rindo. Era engraçado pensar que Park Hyukjae vinha em um bordel, não atrás de uma transa fácil, mas sim de uma leitura de mão. Mas a mulher não podia negar que fazia sentido. Algumas outras pessoas a procuravam para isso também, só era uma pena que não pudesse cobrar por seus serviços, pois do mesmo jeito que a deusa Lua a tinha dado aquele dom, poderia muito bem tirar se visse que a beta não estava usando-o de forma devida.

Levantou-se e foi até o homem, puxou a cadeira para trás e sem cerimônia alguma sentou-se no colo do alfa. Este colocou sua mão sobre as coxas da mulher, indo até borda do vestido escuro que usava e tocando-lhe por entre as pernas, subindo com a ponta do indicador. Lee Hi riu, enfiando o rosto na curva do pescoço dele. Gostava do modo como Hyukjae ia direto ao assunto, sério demais para se deixar distrair.

— Me dê sua mão. — sussurrou rente a sua pele, apenas para no minuto seguinte retirar o rosto da curva do seu pescoço e segurar a mão que a acariciava.

O Park fitou-a, erguendo uma sobrancelha quando viu os olhos da mulher adquirem o tom prateado que pertencia apenas ao Clã Park. Quando era pequeno, costumava escutar sua mãe dizendo como os outros Clãs eram misturados e como a linhagem pura deles tinha se perdido depois de tantas alianças. Era para impedir isso que os Park’s não faziam alianças com outros Clãs, eram uma Alcateia independente como os Oh’s. Casavam-se entre si afim de evitar a contaminação do sangue por outro clã e tinham sua cor bem destacada pelas írises prateadas e a pelagem cinzenta. Mas então sua irmã Jihyun desapareceu e eles foram obrigados a se juntar com os Byun’s. O clã de lobos brancos.

Abriu a palma, de modo que ela pudesse fitar as linhas gravadas em sua pele e decifrar os códigos que o destino deixava por ali. Lee Hi era conhecida como bruxa na aldeia Park, era fácil encontra-la quando se queria qualquer coisa relacionado a religião. Alguns encaravam aquilo como pagão, mas o povo inteiro tinha se erguido sobre essa sombra, não seria agora que iria se livrar dela. Ainda mais pelo modo como eram adoradores da Deusa Dal (Lua) e do Deus Taeyang (Sol). Havia aqueles do seu próprio clã que tentavam se livrar dessa herança, mas a grande maioria a abraçava com fervor. E era justamente por isso que Lee Hi estava ali, usando seus chás medicinais e oferecendo leituras em mãos para mostrar como Park’s eram abençoados por seus criadores.

— Hum. — resmungou e o Park a fitou com mais intensidade por baixo das lentes escuras dos óculos, interessado demais no que ela estava vendo para disfarçar. — Não há muita coisa. — confessou. — O que você quer é proibido e não terá. — Lee Hi riu e Hyukjae bufou. — Mas o que pediu pode acontecer, quer dizer... eu não sei. Está confuso aqui. Pelas mãos de quem pediu, não irá acontecer, mas há outras mãos no meio disso que podem fazer acontecer. Entende? — olhou para o alfa e Hyukjae retirou os óculos com a mão livre.

— Você que está me deixando confuso, querida. — disse e a bruxa riu.

— Há mais alguém aqui. — apontou com o queixo para a palma aberta do homem. — Não vejo apenas você e aquele garoto ômega.

Agora parecia interessante, Hyukjae pensou.

— Eu o conheço? — perguntou e a beta negou. — Que interessante. — externou antes de recolher mão.

Fechou-a ao mesmo tempo que Lee Hi saia do seu colo, então ele se pôs de pé. Procurou no seu bolso algum dinheiro e deixou sobre a mesa. Ela ergueu uma sobrancelha, já que não esperava que ele fosse pagar, mas não reclamou quando se aproximou para contar as notas.

— Quando precisar, estarei aqui. — disse meio sorrindo e o alfa colocou os óculos escuros novamente.

Estava com os pensamentos longe, se questionando porque Kim Minseok tinha que ser tão teimoso e dar as costas para algo tão grandioso que seria a morte de Byun Baekhyun. Será que haviam lhe dito errado quando afirmaram que o ômega gostava de Oh Sehun? Porque, Hyukjae sabia que quando um ômega se apaixonava fazia de tudo para ter aquela pessoa, principalmente se fosse correspondido. Tinha sido assim com sua irmã quando se apaixonou por aquele Kim. Contudo, o que estava lhe incomodando a mente levemente era o modo como mesmo que o ômega não participasse, ainda teria ajuda para derrubar Byun Baekhyun do posto de líder e ter a famosa liberdade que tanto ansiava.

***

Jongin encarou seu reflexo no enorme espelho que cobria a parede inteira da sala onde dava aula de balé para crianças. Tinha se formado em dança um ano atrás e fazia apenas alguns meses que tinha conseguido esse emprego. Não tinha o melhor salário do mundo, mas gostava da turma de crianças humanas entre 6 e 8 para quem dava aula. Lu Han, seu irmão mais velho, não aprovava esse emprego e não era por causa do salário, mas sim por não ser na Alcateia Lu.

Na verdade, Lu Han não aprovava muita coisa e isso incluía qualquer coisa que envolvesse sair dos arredores da Alcateia. Jongin sabia que isso tinha haver com o jeito como a Alcateia do Norte* tinha sido encontrada, todos mortos depois de terem usado o código 07.

— Tio Nini. — um dos garotinhos de sete anos chamou, puxando a barra do seu casaco.

Ele já estava encerrando a aula, tinha trocado de roupa e agora esperava com algumas crianças o momento em que os pais viriam e os levariam para casa. No momento, apenas três ainda estavam ali. Uma garotinha e dois garotinhos muito agitados, coisa que deixava claro porque os pais tinham matriculado aquelas crianças em aulas de dança. Era necessário canalizar aquela energia toda para alguma coisa produtiva e dança era o melhor para crianças, ajudava na coordenação motora.

— O que foi? — ele se abaixou para ficar na mesma altura do menininho.

— Você tem um cheiro engraçado. — ele disse e Jongin riu.

As crianças eram as mais curiosas quanto ao seu cheiro, além de ser as que mais notavam. Às vezes, ele contava para elas como era um grande lobo cinza-amarronzado, com patas enormes que poderia correr atrás delas pela sala e realmente corria, fazendo caras e bocas enquanto todas riam e se escondiam de si.

— Eu tenho um perfume engraçado. — contou e a criança riu ao mesmo tempo que ele erguia a mão e bagunçava o cabelo do mesmo. — Olha lá. — apontou. — Sua mãe chegou. — e a criança se curvou para si antes de correr até a mais velha.

— Omma! — exclamou enquanto Jongin ficava de pé novamente.

Observou quando a mulher o pegou no colo e dera tchauzinho para si, depois foi a vez dos outros dois irem para casa. Então, Jongin se viu sozinho na pequena academia de dança. Verificou mais uma vez o lugar para saber se não tinha nada bagunçado, e quando viu que estava tudo certo, fechou as cortinas e trancou a sala, para então sair.

O lugar não era muito grande, não passava de um pequeno prédio reformado para aulas de balé e outros tipos também, localizado no centro de Seul. Quem passasse pela rua, podia muito bem ver ele e seus alunos praticando através da enorme janela de vidro que tinha ali, já que a sua sala era a primeira do primeiro piso, depois da recepção, que ficava no térreo. Era um bom lugar mesmo sem privacidade, mas ele achava que para um primeiro emprego estava muito bom.

Ergueu a gola do seu casaco, era começo de inverno e então o frio estava ficando mais rigoroso, e seguiu andando. Teria que pegar um ônibus até os arredores de Seul e então poderia seguir a pé até o pequeno bairro, que os Lu’s tinham dominado há alguns anos. Ficava no subúrbio da cidade, escondido na sombra dos arranha-céus. Jongin sabia que não era o melhor esconderijo de todos, mas eram sua melhor aposta em anos. Geralmente, os Lu’s eram nômades, sempre mudando de lugar afim de nunca serem pegos, mas tudo tinha mudado desde quando Yixing nascera, há dois anos atrás. Seu irmão achava que não era bom para o lobinho ficar viajando a cada ano, o garoto precisava de estabilidade e Jongin também, por isso concordou, pois mesmo que não quisesse, sentia falta de dormir e pensar que acordaria no mesmo lugar no dia seguinte.

Preparou-se para levantar a mão e fazer sinal para o ônibus, mas desistiu quando avistou uma lojinha do outro lado da rua. Estava com fome, percebeu e começou a atravessar — os raios do pôr-do-sol alcançavam os seus olhos e o cegando por um momento. Decidiu que iria comprar algo rápido e então correria até o ponto de ônibus, tinha certeza que ia dar tempo. Contudo, antes que pudesse prever, escutou o grito de alguém, o som de uma buzina e então tudo ficou escuro.

Quando acordou, havia alguém tocando-lhe a bochecha. Chamando-o devagar para que acordasse. Piscou os olhos vagarosamente e focou no ser acima de si. Era um homem. O cabelo preto caia ao redor do seu rosto, moldando a forma meio arredondada e a boca pequena pronunciando “ei” vagarosamente, parecia charmosa.

— Ei. Consegue me ouvir? — ele perguntou, mas Jongin não conseguia se concentrar na pergunta.

Sentia sua cabeça latejando, culpa da queda, ele sabia. Todavia, havia outra coisa o deixando desnorteado, era aquele cheiro. Não sabia se estava delirando por causa do choque do seu corpo contra o asfalto, mas o cheiro estava ali. Suavemente tomando conta de si, como num sonho. Só que o cheiro não lhe era nem um pouco familiar, não pertencia a si. Jongin tinha certeza que nunca sentira aquele cheiro antes, mas podia muito bem dizer de que classe aquela pessoa pertencia. Lu Han o tinha ensinado a diferenciar os cheiros dos lobos alfas e ômegas. E aquele cheiro era definitivamente de um alfa. Mas de onde estava vindo?

Piscou os olhos mais uma vez e só então pôde olhar realmente para a pessoa acima de si, ainda tentando trazê-lo aos seus sentidos. Era dele que vinha aquele cheiro de café meio amargo, parecido com terra molhada e grama. Tudo se misturava e virava aquela confusão engraçada, que não era nem um pouco intoxicante, como Henry costumava descrever cheiros de alfas para si.

— Você... é — ele sussurrou, tão baixinho que o homem teve que se aproximar para poder escutar. — um alfa. — terminou e subitamente o homem estava sorrindo, quando Jongin voltou a ver seu rosto.

— E você é um ômega. — disse de volta, os olhos relampejando em um vermelho pálido que chamou a atenção do ômega. — Consegue ficar de pé? — perguntou, a voz se tornando preocupada no minuto seguinte.

Jongin assentiu e logo o alfa estava segurando sua mão e lhe dando suporte para ficar de pé, mas alguma coisa deu errado nesse processo porque o Lu logo estava gemendo de dor quando tentou firmar os pés no chão. Havia alguma de errado com o seu pé esquerdo. Ele se apoiou no alfa, quando este cedeu o ombro, e se curvou um pouco para frente para avaliar seu pé e acabou encontrando o jeans do seu joelho esquerdo rasgado e o sangue descendo por ali.

— Estou ferido. — externou, a voz saindo preocupada demais para poder esconder. — O que aconteceu? — voltou a olhar para o homem, este estava olhando para o seu ferimento.

— Eu te atropelei.  — confessou e Jongin abriu a boca em surpresa. — Mas em minha defesa, digo que você atravessou na minha frente. Por que não olhou para os lados?

— Estava distraído. — confessou, meio atordoado com a informação que recebeu. 

— Te levarei para minha Alcateia.  — disse. — Temos um curandeiro lá, que pode te ajudar e meu pai é enfermeiro, talvez possa...

— Não. — cortou-o, firme o suficiente para fazer o alfa fita-lo. — Eu preciso voltar para casa.

Não podia simplesmente sair por aí com alguém que mal conhecia, ainda mais se essa pessoa fosse um alfa. Já tinha escutado histórias suficientes sobre lobos de outros clãs e sobre alfas, sabia que não deveria confiar em ninguém que não fosse um Lu.

O alfa não questionou e então começou a conduzi-lo até o seu carro.

— Deixe-me ao menos fazer um curativo. — pediu depois que o acomodou no banco de trás.

Jongin o fitou. Parecia sincero no que dizia e o jeito como seus olhos estavam escuros de culpa, faziam o ômega querer abraça-lo e dizer que não fora culpa dele, afinal realmente estava distraído quando atravessou a rua. Nem ao menos olhou para os lados, para verificar a passagem. E por isso, assentiu para o alfa. Então o viu fechar a porta do seu lado e ir abrir a porta do lado do motorista e entrar ali. Notou quando o moreno o fitou pelo espelho retrovisor e quase sorriu para tranquiliza-lo, mas não o fez porque sabia como se o fizesse ia parecer uma careta de dor.

Limitou-se desviar o olhar e fitar seu pé machucado. Ajeitou-se no banco de modo que ficasse sentado e apalpou a perna esquerda, olhando de perto a ferida no joelho e depois tocando seu pé até que encontrou o ponto central da dor. Tinha torcido o tornozelo, mas não se preocupou muito. Sabia que só precisava de uma boa noite de sono para sarar. Lobos tinham a imunidade acima da dos humanos, isso os protegia mil vezes mais de pegar um resfriado, além de poderem cicatrizar de qualquer ferimento cem vezes mais rápido do que um humano.

Em algum momento viu o moreno estacionar e sair do carro, entrar em uma farmácia e depois voltar com alguns itens de primeiros socorros. Suspirou ao pensar no que tinha se metido, afinal ele só tinha que pegar o ônibus até em casa. No entanto, ali estava ele, atropelado e recebendo cuidados de um alfa que não conhecia. Se Lu Han soubesse daquilo com toda a certeza ia deixa-lo de castigo, como da vez que fugiu da Alcateia para ir a uma festa junto de alguns amigos humanos. Todavia, não era como se ele fosse um garotinho indefeso. Se algo desse errado, se aquele alfa quisesse se aproveitar de si, Jongin podia muito bem usar os golpes que aprendera com Henry, em uma das suas sessões de defesa pessoal.

Todos da Alcateia recebiam essas aulas, principalmente depois do incidente que acontecera com a Alcateia Lu do Norte. Porque Jongin sabia como a situação deles não era das melhores, quando noventa por cento do clã era constituído de ômegas e mesmo um desses era o líder, pois a natureza deles o tornava fracos diante de alfas ou betas. Era preciso saber se defender, quando se era um Lu e isso sempre fazia Jongin se perguntar quando teria um lar só seu, onde poderia dizer o seu nome sem ter medo.

Estava pensando nisso quando a porta foi aberta revelando a figura atrapalhada daquele alfa com cheiro de grama e terra.

— Pra que tanta coisa? — meio riu quando ele deixou tudo que trouxera no banco vazio ao seu lado.

Havia gazes, ataduras, esparadrapo, band-aid e alguns comprimidos, além de uma garrafa de álcool e algodão. Jongin não era um profissional na área, mas jurava que não estava tão ferido assim para que tivesse que usar tantas coisas. Ele segurou a atadura, sem entender realmente para que o alfa usaria.

— Vou enfaixar seu tornozelo. — explicou quando notou o olhar do outro naquilo. — Você torceu, não foi?

Jongin assentiu, devagar, devolvendo a gaze para o lugar. Então o alfa sentou-se no banco ao seu lado, puxando a perna do ômega de modo que ficasse sobre suas coxas e empurrando os utensílios para o meio dos bancos, que por serem colados, não havia como cair dali.

— A sua calça já era. — meio brincou e Jongin sorriu.

— Na verdade, prefiro encarar esse buraco como moda.

— Uma moda um tanto sangrenta. — começou a limpar o sangue com o algodão em volta da ferida.

Não tinha sido tão feio como o alfa pensara, apenas um ralado na pele um tanto fundo por ter ido em contado com o asfalto. Talvez ficasse uma cicatriz, realmente não sabia se os genes lobos poderiam não deixar que uma cicatriz se formasse.

— Nada que uma lavagem não resolva. — Jongin disse e o alfa virou o rosto para fita-lo, um meio sorriso no canto dos lábios.

O ômega notou que ele tinha uma pintinha sobre o lábio, na parte esquerda. Era bonita ao ser tão redondinha daquela maneira. O Lu sabia que se o fizesse sorrir aberto, veria a pintinha subir da forma mais graciosa possível, e uma parte sua desejou aquilo.

— Está muito feio? — resolveu perguntar quando percebeu que estava encarando muito os lábios do alfa, desviou olhar para sua perna machucada e meio corou, por um motivo que não sabia ao certo.

Estava se sentindo esquisito.

Mas o outro ainda demorou o seu olhar nele. Uma parte sua tentava descobrir se já tinha visto aquela pessoa antes, porque não era comum encontrar lobos na cidade. Eles não se topavam na rua e diziam oi. Todos costumavam se ver uma vez no ano, no Festival da Lua ou quando um clã visitava a alcateia do outro. Mas aquele garoto ômega... Bom, não. Nunca o tinha visto em lugar nenhum. Nem mesmo reconhecia o seu cheiro ou suas feições, pois geralmente Clãs costumavam ter feições parecidas como os Byun’s, que eram em sua grande maioria lobos brancos ou como os Choi’s, que se destacavam pela íris esverdeada, ou até mesmo os Park’s, que tinham em seus ômegas o cheiro adocicado característico.

— Acho que não ficara cicatriz. — falou, voltando sua atenção para o curativo que estava fazendo.

Então utilizando esparadrapo e gaze, fechou a ferida para que não entrasse em contato com poeira. Depois, com cuidado, retirou o sapato de Jongin e observou o seu tornozelo. Aparentemente, não havia quebrado nada. Ao que parecia, só tinha torcido. Por isso enfaixou com uma delicadeza que surpreendeu Jongin. Pois ele sempre estava escutando de Henry como alfas podiam ser maus e ignorantes, além de escutar sempre muitas precauções de Lu Han, ainda mais depois que o irmão disse que ele estava prometido em casamento para um alfa de outra Alcateia.

Jongin não sabia se queria casar com 21 anos, mas também não queria que a Alcateia ficasse com problemas só porque ele estava com medo do que encontraria. O problema, no fim, era que Henry sempre estava lhe contando histórias de outros alfas de outras Alcateias, pintando um ser tão horrível que o Lu se perguntava como Lu Han tinha sido capaz de promete-lo em casamento para alguém desconhecido. 

— Como se chama? — o ômega perguntou, quebrando o silêncio que eles tinham sido mergulhados.

O moreno franzio a testa, havia sido pego de surpresa pela pergunta do ômega. E de repente lembrava-se do modo como a maioria dos lobos sempre o tratava diferente quando sabia sua identidade, até mesmo ômegas no qual ele já tivera interesse. Lembrava-se do modo como seu irmão mais novo o marcava a pele, para impedir que interesseiros se aproximassem. Olhou para Jongin de canto de olho e quis que ele não fosse assim, e por isso resolveu dar como nome um dos seus apelidos:

— Suho.

Jongin piscou, achando estranho como o nome dele podia ser tão pequeno. Mas não reclamaria quando o seu irmão se chamava Lu Han.

— E você? — completou, logo em seguida.

O Lu piscou e mordeu o lábio antes de dizer:

— Kai. — não podia dar seu nome completo assim, para um desconhecido.

— Só Kai? — perguntou, desconfiado, imaginava que saberia a qual alcateia ele pertencia através do seu nome.

— O seu é só Suho? — devolveu e o alfa sorriu.

— Só Suho. — confirmou, a pontinha do sorriso curvando no canto da sua boca enquanto seus olhos encaravam o par de olhos do outro.

Jongin não entendia porque eles sempre caiam naquilo, como se os dois estivessem procurando algo no outro e quando os olhos de Suho relampejaram no vermelho bonito, Jongin deixou que ele visse o violeta que era a marca dos Lu’s.

— Seus olhos... — meio se inclinando na sua direção, estava maravilhado.

Nunca tinha visto aquela cor antes nos olhos de nenhum lobo e aquela certeza, só deixava claro como não conhecia aquele ômega de lugar nenhum. Jongin abriu a boca para responder, mas de repente o cheiro de Suho parecia mais forte e o embriagava devagar, entorpecendo seus sentidos quando o alfa se aproximou mais e mais e segurou-lhe o rosto. Eles continuaram se olhando, como se estivessem presos em algum transe, o ômega entendia que algo grave estava acontecendo. Alguma coisa fora do comum e terrivelmente importante. E quando o outro desviou os olhos para os seus lábios semiabertos, Jongin entendeu que não estava sentindo aquilo sozinho. Mas antes que o alfa pudesse roubar-lhe o primeiro beijo, o Lu escutou se celular começar a tocar.

Suho se afastou, assustado consigo mesmo por ter se aproximado tanto de um ômega que mal conhecia. Ele não havia sido criado assim, não era do seu feitio tocar um ômega indevidamente daquela maneira. Seu pai Heechul o puniria se soubesse o jeito como se aproximou do outro e do modo como quis beija-lo sem pedir permissão.

Encostou as costas no encosto do assento e fechou os olhos enquanto escutava Jongin atender a ligação, retirar as pernas de cima de suas coxas e ficar ereto no banco.

— O que? — ele perguntou, a voz mais preocupada do que Junmyeon podia imaginar.

Voltou a abrir os olhos para fitar o outro, queria perguntar o que havia de errado. Mas logo ele estava abrindo a porta e saindo apressado, pisando no chão sem cuidado e gemendo de dor.

— Espere! — gritou, mas o ômega não pôde parar.

Algo grave tinha acontecido em sua Alcateia. Ele precisava chegar em casa e saber como todos estavam, precisava abraçar Lu Han e Yixing.

— Kai! — Suho gritou, segurando inutilmente a porta aberta do seu carro.

— Desculpe-me! — Jongin exclamou para o alfa.

Então parou um táxi e entrou, o telefone ainda na orelha e os olhos brilhando no violeta preocupado, diferente do que Suho tinha visto no carro. O líder Kim ainda abriu a boca para chama-lo mais uma vez, porém Jongin já estava indo embora. O táxi já tinha dado a volta e seguia por um caminho que Junmyeonnão conhecia. Então ficou parado, encarando o trajeto que o ômega desconhecido pegara. Esperou que o táxi sumisse de vista para poder entrar no seu carro e riu quando encontrou o sapato do mesmo ali, no chão do carro. Segurou aquilo e se questionou se era real mesmo, por que... que tipo de conto de fadas era aquele?

***

Minseok parou em frente ao espelho do banheiro e avaliou sua aparência. Não parecia de todo ruim para alguém que tinha acabado de sair de um cio, mas mesmo assim teria que usar maquiagem para esconder as manchas roxas no pescoço, porque Baekhyun podia muito bem não ter fincado seus dentes na pele macia do ombro, mas tinha deixado vários chupões naquela área. Suspirou e resolveu que primeiro tomaria um banho e depois esconderia qualquer rastro de que Baekhyun o tinha tocado.

O banho não demorou do jeito que queria, pois o som estridente do seu celular tocando estragou qualquer plano que o ômega tinha de ficar ali até que sua pele enrugasse. Não conhecia aquele número, notou depois que segurou o aparelho. Molhado do banho e completamente nu, ele encarou desconfiado a ligação. Acabou resolvendo que era melhor atender, talvez fosse um engano ou Henry poderia ter mudado de número, do jeito que estava sempre fazendo a cada três meses. Ele mesmo deveria fazer isso também, mas quando já não fazia mais parte da Organização, já não tinha sentido se esconder dessa maneira.

— Alô? — disse meio incerto, a ligação estava no viva-voz, o celular sobre a pia de mármore.

— Ah, olá. — a pessoa respondeu, a voz feminina nem um pouco familiar aos ouvidos do loiro. — Byun Minseok, certo? — tentou confirmar a identidade.

— Kim Minseok, na verdade. — consertou e a voz do outro lado, riu baixinho quase como se esperasse esse tipo de atitude vindo do garoto. — Quem fala?

— Desculpe-me, esqueci de me apresentar. — o loiro piscou, ainda mais desconfiado da ligação. — Sou Hyuna.

Minseok mordeu o lábio, de repente estava nervoso. Podia sentir a água secando sobre sua pele e o deixando com frio, assim como podia sentir seu estômago começando a revirar, como se o frio estivesse atravessando sua derme, alcançando a epiderme e se afundando em sua corrente sanguínea. Conhecia aquele nome, ou melhor, conhecia aquele codinome. O pseudônimo que todos temiam na Organização. A pessoa por trás de tudo que eles eram.

Hyuna.

— Senhora? — meio soltou, não sabia ao certo o que deveria fazer. Chama-la de Chefe, talvez?

A mulher riu do outro lado da linha, achando graça do jeito que ele parecia nervoso.

— Está tudo bem. — disse despreocupada.

Mas Minseok sabia que não estava, pois se realmente estivesse, Hyuna não teria ligado.

— Por que está ligando? — acabou perguntando, dessa vez a voz saindo um tanto mais firme, a curiosidade tinha começado a aparecer em si.

— Tenho um trabalho pra você. — contou sem cerimônia alguma, a tranquilidade na sua voz só deixava Minseok mais curioso.

— Eu não faço mais parte da Organização. — fitou o seu reflexo no espelho da pia, onde estava encostado.

Suas bochechas estavam pálidas e o cabelo ainda molhado se colava na testa.

— Eu sei. Isso é o que torna tudo mais interessante, Ômega Negro. — abriu a boca em busca de alguma coisa que pudesse dizer, mas de repente se sentia acuado diante daquela mulher que nem mesmo estava ali de verdade. — Você vai saber sobre o que estou falando à noite, as instruções chegaram para você e se aceitar, é só ligar para o número no final da página em até 24h.

— Senhora... — tentou dizer.

— Eu aguardo o seu contato, Kim Minseok. — então a ligação estava encerrada, apenas o vazio da chamada regia a perplexidade estampada no rosto do ômega.

Era surreal demais pensar que Hyuna o tinha ligado para oferecer uma missão quando estava desativado. Por que isso agora? Não fazia nenhum sentido quando ela tinha outros ômegas ao seu dispor na Organização, contudo ela havia deixado claro que sabia a sua condição. Sabia que ele não fazia mais parte da Organização e era justamente por isso que o estava contatando, deixando claro que o quer que Hyuna quisesse de si, devia ficar em segredo, até mesmo da Organização.

Suspirou, fechando os olhos e tentando não pensar em nada por um momento. Afinal, era melhor não mexer nisso ainda. Esperaria pelas instruções que Hyuna prometera, mas até esse momento, teria que se focar em outra coisa. Voltou a abrir os olhos apenas para poder fitar o box, de onde sairá apressado. Olhou para a tela do celular apagada e decidiu que era melhor terminar seu banho, pois pelo visto teria um dia longo.

Quando chegou na cozinha, distraído em puxar a manga da camisa e ajeitar a gola para que as marcas não aparecessem, não esperava encontrar alguém ali ainda, simplesmente pelo fato de que já era tarde. Pelas suas contas, todos já teriam tomando café. Mas havia alguém ali, sentado de cabeça baixa na mesa, meio lendo o jornal. Acabou encarando a pessoa sem poder se conter, do mesmo modo como a pessoa o encarou de volta.

Eles se fitaram como se fossem dois desconhecidos e Minseok pensou seriamente em perguntar ao marido por que não o esperou para o café, no entanto desistiu, pois não era como se eles se conhecem ou gostassem um do outro. Desviou o olhar e continuou o seu caminho até a mesa, que ainda estava posta com o café da manhã. Sentou na cadeira oposta ao alfa e sem realmente querer, notou a marca arroxeada que ele carregava na lateral do pescoço. Não era muito, mas até que o fez se sentir melhor em saber que não era o único marcado depois daquele cio.

Mas não falou nada, se limitou a começar a se servir. Pegou uma tigela e colocou arroz e em outra colocou uma pouco de sopa de legumes, era o melhor para recuperar um pouco das forças. Ainda se sentia um tanto fraco e aquela dor de cabeça estava começando devagar, sabia que aquilo eram sintomas de fraqueza e que por isso precisava comer. E foi justamente isso que fez, começou com a sopa, por vezes misturando arroz com o caldo da mesma. Então, escutou o arrastar de uma cadeira e quando levantou o rosto viu Baekhyun se levantando.

Ele não devolveu o olhar, parecia querer evitar olhar para si e Minseok se viu engolindo o que havia na sua boca antes que se tornasse amargo, como o vazio que havia no seu peito quando não encontrou o alfa do seu lado na cama. O Kim não entendia como Baekhyun podia ser tão recluso, mas sabia exatamente o que o Byun fazia ao evita-lo daquela maneira, era o jeito mais fácil de dispensa-lo sem usar palavras.

O loiro tinha conhecimento do modo como o alfa não gostava de si e o que aconteceu entre eles, foi apenas efeito do cio. O seu cheiro forte tinha chamado a atenção do lobo de Baekhyun. Era só isso, não havia nada de mágico acontecendo e isso era deixado claro pelo modo como o alfa não olhava em sua direção. Fazia o peito doer de um jeito engraçado, como se não pudesse classificar aquele mal-estar como dor realmente.

Voltou a encarar sua comida e resolveu que era melhor não se preocupar com isso. Engoliu todo o desconforto que Baekhyun lhe causava com aquele silêncio e se focou em recuperar as forças, afinal a Organização não o tinha recrutado para no final, ele ser apenas um ômega que chora porque não recebeu atenção depois do cio. Segurou a colher e iria enfia-la na sopa mais uma vez, porém teve o movimento interrompido quando viu uma tigela pequena ser empurrada na sua direção. Ele fitou o conteúdo da mesma. Eram várias fatias de carne mergulhadas em molho, parecia bom. Contudo, logo depois estava deixando isso de lado e levantando o olhar para fitar Baekhyun, que era quem tinha empurrado a tigela na sua direção.

— Coma. — ele mais mandou que pediu e isso deixou Minseok confuso, pois logo estava piscando os olhos grandes na direção do outro. — Vai ser bom pra você. — falou mais um pouco e então soltou a tigela e começou a se afastar, sem esperar mais nada e sem dizer também.

Minseok balançou a cabeça, um tanto descrente com o que tinha acontecido, mas resolveu não pensar nisso também. Balançou a cabeça e focou sua atenção em comer, pegou os hashi e pescou uma das fatias de carne e comeu. Era bom, constatou enquanto do batente da porta, Baekhyun o observava comer. Ficou ali só por um tempo e depois se afastou, uma parte sua estava inquieta desde que deixara o ômega dormindo sozinho no quarto, então por isso tinha ficado tempo demais na mesa do café da manhã, esperando que ele aparecesse e este pudesse comprovar que estava bem e que não o tinha machucado. O alfa sabia que era mais fácil perguntar, do que esperar silenciosamente, mas também sabia que não queria mais se envolver nisso.

Já estava confuso o suficiente para uma vida só. Não queria enlouquecer do mesmo jeito que sua mãe e foi por isso que achou que seria melhor, deixar uma distância segura do outro e mostrar assim como não sentia nada e que o cio não passou de um cio, apenas sexo, nada de afeto. Contudo, se era isso mesmo por que fez questão de pedir a empregada que fizesse aquele café da manhã reforçado para Minseok? Também não queria se confrontar com aquelas perguntas. Era melhor só não pensar em nada e ir trabalhar. Iria se encher de trabalho suficiente para nem ao menos se distrair com a lembrança do jeito como Minseok podia ser terrivelmente sensual quando gemia do seu nome, no pé do seu ouvido.

Enquanto isso, na mesa de café da manhã, Kim Minseok afastava a cadeira. Satisfeito. Agora estava pronto para ir até a sua Alcateia e procurar Junmeyon. Precisava falar consigo sobre Kyungsoo e Lu Han. Procurou seu casaco e então saiu ao mesmo tempo que ligava para Henry, mas ele não atendera até o momento que entrou no carro da Família Byun.

— Me leve até a Alcateia Kim. — mandou e o homem no banco do motorista assentiu.

O Kim pegou o celular mais uma vez tentou ligar para o amigo Lu, mas não teve sucesso. Então resolveu escrever-lhe uma mensagem. Era estranho que Henry não o tivesse atendido, o amigo sempre estava grudado naquele telefone, esperando ligações importantes. Como um agente duplo, da Organização e dos Lu’s, Henry deveria sempre estar atento, contudo para ele ter sumido dessa maneira só queria dizer que algo estava muito errado. Minseok só esperava que não fosse nada grave.

Quando chegou na Alcateia, pediu ao motorista que o esperasse ali, afinal não pretendia demorar tanto assim. O beta assentiu sem dizer mais nada, seu líder havia deixado bem claro como sempre deveria obedecer Minseok, mesmo que ele fosse um Kim.

O loiro se afastou, entrando na Alcateia e indo direto para o escritório do irmão. Esperava encontra-lo ali e realmente o encontrou, no entanto, ele não estava sozinho do jeito que esperava. Junmyeon aparentemente estava tendo uma discussão com Oh Sehun em seu escritório, pois mesmo que Minseok não quisesse foi impossível não escutar os dois acusando um ao outro de algo que ele não entendia, pensou em bater na porta e interromper aquilo, mas não queria ver Sehun. Então deu um passo para trás, se afastando da porta do escritório do irmão mais velho, decidindo esperar ali fora até Sehun sair ou os gritos esmaecerem. No entanto, suas costas bateram em algo e logo braços estavam segurando-o pelos ombros e uma risada familiar estava preenchendo seus ouvidos.

Kim Jongdae, pensou.

— Cuidado. — falou e Minseok soltou-se dos seus braços, apenas para que o Kim, sem cerimônia alguma batesse na porta antes de abri-la e colocar a cabeça para dentro do cômodo. — Tudo certo com o que me pediu. — disse sério. — Mas ainda preciso das autorizações assinadas até amanhã. — abriu mais a porta enquanto Minseok se encostava na parede ao lado da mesma.

Junmyeon bufou dentro da sala e fitou Sehun, irritado. O Oh o fitou, sentado na cadeira em frente à mesa de trabalho do amigo, só conseguia pensar em como Junmyeon estava defendendo uma causa perdida e para falar a verdade, Sehun nem sabia porque tinha vindo ali, porque tinha se preocupado com o amigo depois do que Henry falara para si naquele dia que fora até sua casa, exigir sua ajuda com alguma coisa que não sabia o que era.

— Tudo bem. — escutou o primo dizer ao alfa na entrada do escritório. — Eu falarei com Henry quando ele aparecer.

— Ah, só mais uma coisa. — Jongdae riu e isso fez Sehun irrita-se mais um pouco, por algum motivo nunca tinha ido muito com a cara do alfa, achava-o dissimulado demais para ser o braço direito de Junmyeon naquele governo. — Seu irmão está aqui. — então o Kim olhou para o lado e quando menos Sehun esperou, Minseok apareceu na entrada do escritório, fazendo Sehun segurar a respiração, como se o fato de aspirar o cheiro do outro no ar o pudesse matar.

— Minseok. — Junmyeon arfou e abriu os braços para que irmão fosse até ele, coisa que o ômega fez sem nenhum impedimento, ignorando com fervor a presença do ex-noivo ali. — Faz tanto tempo que não te vejo. — sussurrou o irmão mais velho no pé do seu ouvido e outro Kim fechou os olhos, era bom estar nos braços de alguém que o amava e se preocupava consigo.

— Eu senti saudade. — confessou.

— Não mais que eu e os nossos appas juntos.

Minseok riu e Junmyeon se afastou para fita-lo em todos os seus detalhes. Estava mais magro e com olhos cansados por trás das lentes quadradas dos seus óculos de grau.

— Eu acabei de passar por um cio. — contou antes que o alfa perguntasse.

— Sozinho? — ergueu uma sobrancelha.

O mais novo sentiu seu rosto corar fortemente e isso fez Suho rir o suficiente para abraça-lo, afim de afastar o constrangimento de si, pois já havia entendido o que havia acontecido.

— Veio passar o dia conosco? — mudou de assunto.

— Na verdade, eu vim participar das buscas por Kyungsoo. — respondeu ainda no abraço do irmão, mas logo Junmyeon o estava soltando e o loiro, sem poder se conter olhou para Sehun, o convite para que o alfa Oh saísse da sala implícito ali.  — Mas antes eu preciso falar com você. — então virou-se para fitar Jongdae, ainda na entrada da porta, segurando a maçaneta como se não soubesse se tinha que fechar ou abrir mais a porta. — À sós.

O Kim deu de ombros e se preparou para se afastar ao passo que Oh Sehun se punha de pé seguia até a porta. Não fitou Minseok, do jeito que o loiro esperava e também não cumprimentou Junmyeon na saída. Viu o irmão ir até a porta e fecha-la.

— Não se importe com Sehun. — disse depois de ver o jeito rude com que tinha tratado o irmão mais novo. — Ele ainda está chateado com o que aconteceu.

— Com meu casamento. — consertou e deu um passo em direção a mesa do irmão mais velho. — É, eu sei.

— Não foi culpa sua Minseok. Leeteuk não estava pensando direito quando fez isso. — tentou tranquilizar o irmão, pois sabia como o loiro ainda se sentia culpado por tudo que tinha acontecido na vida deles.

— Foi melhor assim, de qualquer forma. — falou e olhou pro Kim por sobre o ombro. — Se não fosse eu ia ser Kyungsoo e então ele estaria numa situação pior.

Junmyeon não queria, mas uma parte sua concordava com isso, pois ele conhecia o irmão mais novo — gêmeo de Minseok — o suficiente para saber que este provavelmente surtaria se tivesse casado com Baekhyun. Era cruel demais imaginar o irmão vivendo aquela vida ao lado do irmão do seu amado, então, de uma forma um tanto mais amarga, era melhor que Minseok tivesse tomado o seu lugar, já que ele não tinha ninguém realmente no seu coração.

— Então, o que quer falar? — resolveu que era melhor mudar de assunto, nunca gostava de ficar muito tempo falando daquilo, pois começava a sentir raiva do modo como seu pai alfa agido como um louco.

— Henry me disse que está procurando um noivo ou noiva. — ergueu uma sobrancelha ao passo que se virava pra ficar de frente para o irmão, encostou a cintura na mesa e quase riu do modo como o alfa abaixou os olhos.

A ideia tinha sido do seu pai ômega, Heechul, e depois da perda da Alcateia Oh como aliados, o jovem líder Kim não achava que outra ideia podia ser melhor. Contudo, não era como se ele quisesse casar realmente. Ainda era novo, não tinha menos de 21 anos e nem sequer tinha tido um namoro sério por mais de alguns meses. Uma parte sua ainda queria aproveitar, na verdade, uma parte sua ainda estava embriagada pelo cheiro daquele ômega desconhecido que encontrará mais cedo.

— Até mesmo me mostrou sua lista de pretendentes. Você sabe que os Choi’s estão passando por uma crise, não é? Um novo líder assumiu recentemente, não há ninguém com quem possa fazer uma aliança através casamento lá. — contou, fazendo questão de apontar o primeiro erro na lista do irmão.

— Como sabe disso? — Junmyeon desconfiou, eram poucas as pessoas que sabiam sobre o novo comandante da Alcateia Choi.

— Eu escutei Baekhyun falando sobre. — mentiu. — Mas o fato é que não pode se casar ainda, Junie.

— E como pretende que eu consiga aliados? O melhor jeito é casando, Minseok, e se ainda não percebeu estamos sozinhos. Precisamos de dinheiro em caixa para poder seguir em frente e não dá pra fazer isso sozinho. Minha Alcateia está ficando sem suprimentos.

— É minha Alcateia também. — Minseok se irritou. — Se precisa de dinheiro, peça a Baekhyun. Os cofres dos Byun’s estão cheios, você precisa ver o modo como Baekhyun ordena as contas e toda aquela gente, os Byun’s conseguiram construir algo incrível naquele pedaço de terra, Junie. — havia um tom esquisito de admiração na voz do loiro, que Junmyeon não pôde evitar notar.

Eram dois meses vivendo naquele lugar para que o ômega não notasse como tudo acontecia no Clã. Ele tinha visto, sem realmente querer, o jeito como Baekhyun cuidava de todos, o jeito como organizava as finanças e como sempre estava disposto a tornar o lugar saudável para todos. Os Byun’s ofereciam aulas de lutas para qualquer classe, tinham seu próprio consultório médico além de uma creche para os lobos menores e uma escolinha para quem não confiava nas escolas humanas nos primeiros anos das crianças. Eles eram organizados de uma forma que os Kim’s nunca foram.

— Não é tão simples, Minseok. Nossa Alcateia não confia nos Byun’s**, todos te chamam de traidor por aqui e até mesmo Kyungsoo não escapa das más línguas, mas ainda tenho alguma aprovação deles. Nenhum lobo se ergueu contra mim ainda, mas se eu aceitar dinheiro dos Byun’s é o mesmo que pedir por isso. — tentou explicar.

E Minseok entendia, contudo não podia deixar de sentir pena do modo como Junmyeon estava sendo cobrado em tão pouco tempo.

— A melhor alternativa é conseguir os Choi’s de volta ou até mesmo os Oh’s, mas Sehun só tem sido mais teimoso que o normal e mesmo eu não confio no novo líder dos Choi’s, mas não há escolha. — confessou e o loiro tornou a se aproximar do irmão, o abraçou, fazendo questão de deitar sua cabeça sobre seu ombro. — Não quero ter que tentar uma aliança com os Park’s, Minnie. — resmungou.

— Eu tenho uma alternativa melhor. — expos ao mesmo tempo que se questionava se os Lu’s tinham mesmo como firmar uma aliança com os Kim’s, pois não adiantaria nada se os dois estavam com os caixas vazios, contudo lembrou-se do modo como Lu Han estava sempre mudando de lugar há dois anos atrás, e se ele podia fazer isso com tanta frequência, então tinha bastante dinheiro. — Eu conheço um Clã a qual pode se aliar.

Junmyeon levantou a cabeça do ombro do irmão e o fitou. Era esquisito que Minseok estivesse dizendo algo como aquilo quando, ele mesmo havia montado aquela lista com a ajuda de Heechul, com todos os nomes possíveis dos Clãs mais importantes que conheciam. Será mesmo que havia esquecido de algum?

— Os Lu’s. — respondeu à pergunta implícita do irmão e o alfa se viu se afastando, os lábios prontos para se abrir num sorriso, pois achava que o loiro estava brincando consigo. — Não me olhe assim, Junie. Estou falando sério, pergunte a Henry. Ele é um Lu.

O líder deu um passo para trás, piscando confuso. Lu’s... Henry... O que?

— O que? — externou.

— Escute, eu os conheci quando estava estudando na França e agora o líder deles me procurou. Eles precisam de ajuda, Junmeyon, e eu disse à eles que você podia ajuda-los.

— Isso não faz sentido. — era informação demais, pensou. — Lu’s foram extintos durante a Grande Guerra, junto dos Lee’s e dos Huang’s, você sabe, leu nos livros.

— Eu sei o que os livros dizem, mas aquilo é mentira. Eles ainda vivem, escondidos sob nossos narizes, mas agora estão passando por uma situação ruim. Tem alguma coisa os caçando, Junmeyon. Alguém os matou na América do Norte e agora quer os matar aqui. Precisam de ajuda.

O alfa andou até sua cadeira e sentou-se ali, a mão em frente ao rosto, achando que assim podia absorver o que Minseok estava dizendo para si. Parecia irreal demais. Ele tinha lido sobre aquele Clã, sabia da história que os tinha matado e sabia que não existia mais nenhum sobre o mundo, no entanto ali estava seu irmão mais novo lhe dizendo como era tudo mentira. Que eles existiam, sim. Que estavam vivos, sim. E que precisavam de ajuda, mas não uma ajuda qualquer, a sua ajuda. Porque pelo modo como Minseok estava falando, parecia que era algo exclusivo para Kim’s.

— Se... se isso é verdade, então onde eles estão? — se escutou perguntar e Minseok quase sorriu.

— Bom, é segredo, mas o líder deles pode vir aqui e conversar contigo.

Retirou a mão do rosto e encostou as costas no encosto da cadeira, então soltou um suspiro. Aquilo estava saindo do controle, ele sabia, mas também sabia como não teria nada a perder se recebesse o tal líder Lu na sua Alcateia. Se ele fosse um impostor, teria apenas que expulsa-lo dali e tudo voltaria a mesma bagunça de sempre.

— Tudo bem. — concordou, sem poder acreditar que estava realmente fazendo aquilo, seu pai Heechul iria rir de si quando lhe contasse isso. — Os traga amanhã, fale com Henry para ver um horário. — então riu ao lembrar-se que o secretário era um Lu, na verdade.

Pelo menos isso levava a sua curiosidade embora sobre o chinês, porque já havia perguntado qual era o seu clã, mas o garoto sempre dava um jeito de desviar o assunto, quase como se não pudesse falar de onde vierá e isso começava pelo nome que usava. Henry Lau.

— Junie. — o loiro chamou, se aproximando do irmão e segurando suas mãos. — Eu não estou mentindo. — assegurou suavemente.

— Eu sei. — confiou. — É isso que me assusta. — Minseok sentou-se sobre suas coxas e o abraçou.

— Vai dá tudo certo. — tentou parecer otimista. — Os Lu’s são legais.

E Junmyeon quis acreditar nisso.

***

Quando Jongdae terminou seus afazeres na Alcateia Kim e foi dispensado para o jantar, tudo que fez foi tomar um banho e sair em sua caminhonete por Seul. Passou em um mercado e comprou algumas coisas e só então seguiu para o seu destino final. De vez em quando ele tentava não pensar no que estava fazendo, mas simplesmente não podia deixar de notar o jeito como aquilo, mesmo sendo terrivelmente errado, aquecia o seu coração, pois quando era criança nunca teve muito lugares onde pudesse se esconder. Tudo era sempre tão agitado e sua avó não era um poço de amor, mas ali, pela primeira vez em muito tempo tinha o que quase parecia um lar.

— Oi? — soltou depois que entrou no apartamento, que ficava numa das partes mais ricas de Seul.

Era o seu apartamento secreto, pago com o dinheiro que juntou durante a vida através dos seus trabalhos esporádicos. Contudo, ninguém veio o receber e por isso fechou a porta e avançou pelo lugar depois de tirar os sapatos. Foi direto para a pequena cozinha, levando as sacolas de compras.

— Olá. — Kyungsoo cumprimentou, olhando por sobre o ombro quando sentiu o cheiro do outro.

— Ainda fazendo o jantar? — Jongdae riu. — Mas já passa das 21h.

— Na verdade, só requentando para você. — contou. — Eu e o bebê já comemos.

O alfa fitou a barriga de dois meses do ômega, que não era nem um pouco evidente.

— Isso é bom. — entrou no local. — Eu trouxe o que pediu.

— Deixe sobre a bancada. — pediu e assim o alfa fez.

Não era engraçado pensar que eles dividiam um apartamento agora, como se fossem melhores amigos. No entanto, Jongdae preferia não pensar nisso e nem Kyungsoo. E eles não estavam pensando nisso quando sentaram-se a mesa, Jongdae para comer e Kyungsoo para observa-lo enquanto tomava coragem para perguntar.

— Minseok apareceu na Alcateia hoje. — acabou contando sobre o olhar atento do ômega, quando percebeu que era sobre isso que queria falar. — Eu tentei falar consigo sobre você, mas ele me ignorou. — mentiu, então vasculhou no seu bolso e pegou as cartas que o menor tinha lhe dado. — Nenhum deles quer falar com você, Kyungsoo. — colocou sobre a mesa e empurrou na sua direção os envelopes. — Todos ainda estão com raiva por você ter sumido daquele jeito, Minseok foi o mais afetado nisso tudo, entende? — Kyungsoo fitou os envelopes não abertos das cartas.

Era como levar um tapa, tão forte e certeiro que ele sentiu vontade de chorar. Sempre escrevia para todos da sua família, todos os dias desde que fugira da Alcateia Kim. Até mesmo tinha deixado uma carta de despedida com Jongdae, para que este entregasse para o irmão gêmeo, mas nem isso Minseok quisera receber. Na verdade, nenhum dos seus familiares parecia querer nada de si. E isso machucava, porque não queria ter que viver naquele apartamento para sempre. O Kim queria correr para os braços de Chanyeol ou voltar para casa, mas Jongdae — que era a sua única ligação com a Alcateia — sempre estava lhe dizendo como nenhum deles queria contato consigo e como Chanyeol simplesmente desaparecera no mundo.

— Entendo. — sussurrou, ergueu a mão e pegou as cartas. — Eu estou com sono agora — mentiu. — Vou dormir. — então se levantou e foi embora sem esperar que Jongdae dissesse mais alguma coisa.   

E nos segundos que o Kim o via ir embora, não podia deixar de pensar em como Dal o castigaria por prender o mais novo daquela maneira, mas eles estavam jogando e Jongdae precisava usar todas as suas armas disponíveis, isso incluía, até mesmo, mentir para Kyungsoo, porque o baixinho podia não ter a menor ideia, mas ele era a mais importante das cartas naquele jogo. Por isso, estava o amarrando com suas mentiras. Era tudo para um bem maior, era tudo em nome da justiça. Justiça pelo que fizeram com sua família.

— É justiça, Kyungsoo. — disse depois que ele sumiu pelo corredor, espetava a carne no seu prato com a ponta do hashi. — Não é vingança, é justiça. — assegurou a si mesmo.


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Notas finais do capítulo

* “Alcateia do Norte” que o Jongin se refere na sua parte, é a Alcateia Lu que vivia na América do Sul, recebeu esse nome porque antes da guerra a alcateia inteira ficava ao norte dos outros clãs, e morreu sob circunstâncias misteriosas no capítulo “O acordo”, durante a conversa do Lu Han com o Minnie podemos ver isso. Ele diz como os lobos utilizaram o código 07, ou seja, o Código da Morte. Isso significa que os Lu’s do Norte se mataram por um motivo.
** “Nossa Alcateia não confia nos Byun’s”: Junmyeonestá se referindo ao modo como os Kim’s não se davam e não se dão bem com os Byun’s, desde o incidente em que Siwon matou o Kyuhyun, então pelo fato da alcateia não confiar nos Byun’s, também não quer receber o dinheiro deles mesmo que agora eles sejam aliados. Bom, isso só serve para complicara vida do Junie.
*** Dal e Taeyang são, respectivamente, Lua e Sol em coreano. Esses nomes vão aparecer muito, então não esqueçam que eles adoram a deusa Lua e o deus Sol, principalmente os Park’s.



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