Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 28
III - A marca




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Ryeowook colocou uma xícara fumegante de chá de morango ao lado de Heechul, que se apoiava na mesa de estudo do quarto de Junmeyon, o único lugar da casa que tinha um computador com internet. O ômega olhou para o lado ao notar o cheiro doce do chá e logo depois o cheiro citricamente frutado do Kim mais novo. Levantou o rosto para fitar o marido, que lhe sorriu pequeno antes de puxar um dos pufes de Junmyeon para perto da mesinha, mas antes que pudesse sentar, Heechul passou um braço por sua cintura e o trouxe para perto, afastando a cadeira no processo para que o ômega pudesse se acomodar sobre suas coxas.  

— O que está fazendo? — Ryeowook perguntou depois que se acomodou sobre as coxas do marido, suas costas contra o peito dele e os cotovelos apoiados na mesinha. Os olhos grandes liam com pressa o que estava escrito no documento que Heechul estava digitando há algumas horas.

— Hum... — resmungou, um tanto ocupado em beber do chá que lhe fora trazido. — Estou falsificando um documento. — contou naturalmente.

O outro virou-se muito rápido na direção do ômega, os olhos assustados com o que tinha acabado de escutar. Seus olhos tinham relampejado naquele verde bonito que Heechul gostava de admirar, mas ele se viu mesmo foi deixando a xícara sobre a mesa e usando a mão para bagunçar os cabelos castanhos do mais baixo, a boca formando o começo de um sorriso despretensioso.

— Não é para nada ilegal. — falou, tentando tranquiliza-lo.

— Então por que está falsificando? — cruzou os braços.

— Não quero que Leeteuk torre minha paciência.

— O que está planejando? — estreitou os olhos, desconfiado demais para conseguir esconder, ainda mais depois de escutar o nome do marido alfa de quem estava separado há algum tempo.

Heechul revirou os olhos e segurou o Kim pelos ombros, ainda meio sorrindo como se estivesse se preparando para contar a melhor piada do mundo.

— Eu preciso de algo que ele tem. — Ryeowook podia ver a pontas das presas de Heechul, que afiadas no seu sorriso. — E ele não vai me dar se eu pedir. — bufou, o sorriso foi se apagando do seu rosto e o Kim mais novo entendeu onde aquela conversa toda ia chegar.

— Está dizendo que... que vai falar com Leeteuk? — os braços descruzaram apenas para que o outro segurasse suas mãos, mas o ômega as tirou do seu aperto ao mesmo tempo que Heechul passava seus braços a sua volta, abraçando-o desajeitadamente quando percebeu que Ryeowook se afastaria. — Esqueceu tudo que ele fez? Heenim...

— Não. Wookie, claro que não. — sussurrou no seu ouvido, os olhos se fechando e tentando passar alguma segurança para o ômega, afim de mostrar-lhe que estava dizendo a verdade. — Mas eu preciso, entende? Eu preciso de algo que Leeteuk possui.

— O que é? — sussurrou de volta, dessa vez deixando que suas mãos segurassem na barra da camisa do outro, os dedos finos apertando o tecido com força.

Os ossos de Jihyun e do bebê*. — contou.

Ryeowook se afastou, fitou o marido ômega e piscou, confuso com o que Heechul havia dito. Era um fato que Byun Siwon havia cumprido a sua parte do acordo ao dar para o Kim os restos mortais de Jihyun e seu primeiro filho, depois que o casamento entre Minseok e Baekhyun aconteceu. Mas o ômega não entendia porque Heechul estava interessado nisso, quando aquilo tudo pertencia a loucura de Leeteuk, pois aquela confusão só tinha tido início por causa do modo como o alfa havia se mostrado alguém vingativo e rancoroso, uma pessoa totalmente diferente do amoroso e atencioso homem por quem Ryeowook tinha se apaixonado.

Às vezes, o ômega se pegava pensando em como podia ter sido tão cego ao ponto de nunca ter notado esses traços na personalidade do alfa. E agora que tudo isso havia acontecido, Wookie só conseguia se sentir um tanto culpado, um tanto impotente e um tanto raivoso com todos os acontecimentos. Mas no momento em que fitava Heechul, depois de escutar a sua resposta, sentiu um tremor estranho no peito, parecia demais com medo. Não queria que a história se repetisse, não queria ser machucado de novo. Queria acreditar que Heechul não estava sendo manipulado pela marca que havia no seu ombro, pois o Kim sabia como ômegas marcados eram facilmente influenciados pelo parceiro alfa através da marca.

— Por que está me olhando assim? — Heenim resolveu se pronunciar.

— Heechul... — molhou os lábios com a ponta da língua, um tanto nervoso pela pergunta que queria fazer. — Isso que disse tem algo a ver com a marca? — perguntou de uma vez, nunca tinha sido muito bom em fazer rodeios.

— Pela Grande Mãe, Woook! — Heechul soltou, um tanto surpreso pela pergunta, mas havia uma nota de diversão na sua voz que incrivelmente relaxou o ômega no seu colo. — Claro que não. — respondeu, erguendo as mãos e segurando o rosto pequeno de Ryeowook, fazendo seus olhos encontrarem os seus. — Eu sinto Leeteuk todos os dias, Wook. Mas cada passo que dou é fruto dos meus comandos, não dos dele.

A marca era uma ligação de almas, não podia ser desfeita e não podia ser feita em mais de duas pessoas, em parte por causa do modo como as pessoas se conectavam. Era como se cada uma doasse uma parte sua a outra pessoa, fazendo assim com que ela tivesse acesso até mesmo aos seus pensamentos — em alguns casos. Heechul havia escutado uma vez que o corpo de um ômega era como um computador limpo de comandos, apenas a espera de alguém para configura-lo. E essa configuração vinha através da marca. Os dentes do alfa eram a chave de configuração, nela vinham todos os dados necessários para uma programação perfeita.

Mas em alguns casos isso não dava certo, ele sabia. O que aconteceu com a irmã de Leeteuk, Joohyun, era o perfeito exemplo disso. No entanto, o seu caso havia dado certo. Certo até demais, porque nos primeiros dias depois da separação, o ômega sentia como se alguém tivesse arrancado o seu braço direito. Puxado-o bem forte até que fosse tirado de si, pois a dor que sentia era parecida com isso e o fato de escutar Leeteuk o chamando, também não ajudava a parar a dor. Ele quis morrer apenas para não ceder ao seu instinto de obedecer, mas Ryeowook tinha sido paciente. Tinha cuidado de si devagar, se aproximado aos poucos até que tudo se tornasse suportável o suficiente.

— Está falando sério? — o ômega teve coragem de perguntar.

Heechul bufou um tanto impaciente, mas quando Ryeowook achou que ele se afastaria, apenas se aproximou e o beijou. Do jeito firme que sempre fazia, como se ele fosse a pessoa que tinha inventado aquele ato.

 — Isso responde sua pergunta? — afastou-se minimamente, o suficiente para fitar seus olhos.

O mais novo assentiu, de leve, um pouco envergonhado do modo como podia ser inseguro mas Heechul parecia gostar de si mesmo assim, então estava tudo bem.

O Kim mais velho o trouxe para perto mais uma vez, beijando-o novamente enquanto sentia os dedos finos de Ryeowook descendo por sua costa e se infiltrando devagar por baixo da sua camisa. O ômega sempre fazia isso de procurar a sua pele, de tê-la sob a palma da sua mão como que afim de provar a si mesmo que o outro realmente estava ali. Heechul não reclamava, porque uma parte sua compartilhava da mesma insegurança do ômega: não queria ser machucado de novo.

Ryeowook separou-se dele, deitando a cabeça no ombro do marido e ficando ali. Muito quieto, os dedos ainda passeando pelas laterais do corpo do outro. Até que subiu o suficiente e encontrou uma cicatriz na altura das costelas. Fechou os olhos e segurou o suspiro que queria soltar, porque mesmo que Heechul tivesse explicado como havia ganhado aquilo e nada parecesse ter a ver consigo, Ryeowook ainda se pegava se culpando pelo modo como roubou toda a atenção para si naquela época, deixando que Heechul cuidasse se si sozinho, como se não tivesse um alfa**.

— Mas Heechul... — resolveu começar ao perceber uma falha em tudo que o Kim tinha lhe dito. — por que precisa dos ossos de Jihyun e do bebê?

Heechul engoliu em seco. Não queria mentir, mas também não queria falar a verdade. Então ficou em silêncio, sem saber o que deveria responder. Aquilo que planejava devia ser mantido longe do conhecimento das pessoas próximas a si, porque o ômega sabia da grande porcentagem de erro que aquela missão tinha e não queria que Ryeowook ou mais alguém fosse afetado, principalmente Junmyeonque estava no começo da sua liderança na Alcateia onde qualquer escândalo podia afetar a confiança dos lobos no novo líder.

— Ryeowook... — começou, molhando os lábios com a ponta da língua no segundo seguinte, querendo ganhar tempo para pensar nas palavras certas.

— Por favor, Heechul. Não minta pra mim. — o outro Kim se pronunciou, segurando na borda da camisa do marido, apertando o tecido, quando percebeu o tom hesitante que ele tinha dito seu nome.

O Ômega Principal se viu em silêncio, incapaz de continuar com a mentira que iria contar e Ryeowook abraçou o seu silêncio, como se entendesse todas as limitações que aquele homem tinha. O Kim sabia que Heechul escondia alguma coisa, que havia algo na sua vida que nem mesmo Leeteuk sabia e por isso não insistia em saber, mas também não queria ser colocado de lado do mesmo modo que o alfa fazia consigo quando coisas sérias aconteciam na Alcateia. Ele queria participar, queria que Heechul soubesse que eles eram uma dupla, que podiam confiar um no outro.

— Desculpe-me por isso. — Heechul sussurrou com os olhos fechados, os braços se fechando em volta do corpo do outro.

Sentia-se mau por nunca ser cem por cento com o marido, do jeito como havia sido com Leeteuk. Uma parte sua sempre tinha se sentido culpada por nunca ter sido verdadeiro com Leeteuk. Talvez se ele tivesse contado tudo quando os momentos certos chegaram, Ryeowook não teria existido na vida do alfa porque o ômega sabia muito bem o que o Kim estava procurando quando terminou dividindo uma cama com o ômega.

— Está tudo bem. — o escutou sussurrar de volta, como se fosse um segredo. — Não precisa me contar, só... só não minta pra mim. — pediu.

— Não vou. — decidiu, mas ele sabia que talvez nunca pudesse contar realmente todos os pormenores que rondavam sua vida, afinal o que havia entre ele e a Organização era bem mais do que uma relação de patrão e empregado.

Eles voltaram a ficar em silêncio e dessa vez nenhum dos dois parecia interessado em quebra-lo, então apenas permaneceram do jeito que haviam sido ensinados, já que desde pequenos ômegas eram doutrinados a esperar em silêncio, contudo aquele silêncio era diferente. Não era pesado, não trazia um clima estranho. Pela primeira vez em muito tempo, era apenas silêncio. Um puro e simples silêncio, se espalhando por aquele cômodo e aproximando Ryeowook de si de uma forma que ninguém foi capaz de ser em todos aqueles anos.

***

Donghae parou em frente a pia, segurou-se ali por um momento e respirou fundo. Estava sentindo-se enjoado, mas sabia que era normal, mesmo que já estivesse perto de completar quatro meses de gravidez.

— Hae? — escutou a voz do marido chamar ao mesmo tempo que se aproximava e assumia aquela posição protetora que sempre parecia ter em relação a si. — Tudo bem?

Levantou o rosto devagar e fitou o marido, então assentiu devagarinho enquanto repuxava os lábios em um sorriso singelo. Siwon sorriu de volta, erguendo a mão para acariciar o seu rosto, apertou a bochecha numa brincadeira apenas para ver Donghae abrir mais o sorriso e depois se aproximar, abraça-lo e ficar ali, aspirando o seu cheiro de alfa e acalmando seu estômago enjoado. O marido alfa o abraçou de volta, fazendo questão de apoiar o queixo sobre o topo de cabeça do outro. Era bom ficar com Donghae daquele jeito, seus corpos se encaixavam tão bem e a marca que compartilhavam sempre lhe trazia paz, porque se sentia completo e não mais sozinho.

— Tem certeza que está bem? — tornou a perguntar, uma das mãos descendo e subindo nas costas do marido ômega, como que afim de ajuda-lo naquele mal-estar.

— Foi apenas um enjoou. — respondeu e levantou o rosto do peito do alfa para fita-lo.

— Devia ficar descansando, sabe que não precisa cozinhar. Temos empregados para isso. — Siwon disse e Donghae mordeu o lábio, mostrando que estava desconfortável com aquele assunto.

— Não estou doente, Wonie. — falou erguendo os braços e colocando em volta do pescoço do outro. — E eu gosto de cozinhar. — aproximou o seu rosto do dele e deixou um selar simples nos lábios do marido. — Está tudo bem, sim?

— Me ligue se algo acontecer. — pediu voltando a se aproximar beijando levemente seus lábios, Donghae sorriu contra os mesmos.

— Eu não preciso. — sussurrou de volta, de olhos fechados esperando que Siwon voltasse a se aproximar, como assim o fez no segundo seguinte.

E de fato Siwon sabia que não precisava de uma ligação. Eles possuíam a marca, que podia alerta-lo sobre qualquer coisa de errado com Donghae mais rápido do que uma ligação telefônica. Era uma das belezas de se ter a marca, pois Siwon sempre saberia se algo de errado acontecesse com o ômega, mesmo se estivesse a milhas de distância.

Deslizou os lábios da sua boca e deixou um beijo na bochecha do Lee, para no momento seguinte levar a boca até o seu ouvido e sussurrar as palavrinhas mágicas, que sempre faziam o peito de Donghae se aquecer:

— Eu te amo. — os braços se fecharam em volta do corpo menor, trazendo-o para perto, deixando que o Lee deitasse a cabeça sobre seu ombro e ficasse ali.

Eles ficaram algum tempo em silêncio, absorvendo o que tinha escutado e o que tinha dito. Donghae sabia que era amado e que Siwon tinha formas peculiares de demonstrar isso, e que a marca que ambos compartilhavam ajudava e muito nesse quesito, mas quando o alfa abria a boca para externar aquilo, era tão bom que Donghae não podia evitar se sentir como se estivesse pisando em nuvens.

— Você vem para o jantar? — o Lee perguntou baixinho, não querendo estragar o clima, mas precisava saber se ainda veria Siwon antes de dormir.

— Eu sempre venho, não? — a mão subiu e acariciou a nuca do ômega, devagar, a ponta dos dedos calejados tocando a pele macia fazendo-o fechar os olhos.

Queria segurar na mão de Siwon e arrasta-lo para quarto, então eles poderiam se embolar entre os lençóis e ficar abraçados até o fim dos tempos, mas o Lee sabia que isso não era possível com a agenda agitada do alfa na empresa porque ele bem podia ter passado o cargo de líder para Baekhyun, contudo o cargo na empresa continuava sendo seu. O Lee sabia que ele queria sair logo para poder aproveitar a sua gravidez, mas não era como se Siwon pudesse fazer as coisas apressadas no mundo dos humanos pois quando se tratava de humanos, tudo tinha que ser aos poucos e sem levantar muitas desconfianças, coisa que sempre deixava os dias de Donghae terrivelmente solitários até que Siwon pudesse ficar consigo.

No entanto, era só uma questão de tempo até que tudo pudesse se ajeitar e eles dois pudessem ter seu tempo um com outro e com o bebê que chegaria no comecinho do ano que vem.

— Vou esperar você então. — levantou o rosto para fitar o marido e Siwon sorriu para si. — É melhor eu fazer o café logo antes que você se atrase. — falou e o alfa assentiu levemente, só que nenhum dos dois se mexeu e talvez nem se mexeriam se não fosse o som de passos apressados descendo a escada.

Separaram-se vagarosamente. Siwon sentou-se à mesa e Donghae virou-se de frente para bancada antes de começar a procurar os ingredientes pelos armários, sob o olhar atento do alfa. A empregada beta apareceu na cozinha, oferecendo ajuda, dizendo como já havia terminado de arrumar os quartos no andar de cima e como Minseok não estava em sua cama, fato esse que fez o ômega franzi a testa, meio confuso. Não havia escutado barulho algum pela manhã e não sabia dizer se o ômega tinha realmente saído ou só dormido em outro lugar. Então lembrou-se que tinha pedido na noite passada que Baekhyun falasse com o loiro.

Será que...? Parecia improvável demais que isso acontecesse, percebeu, ainda mais pelo modo como Baekhyun nem ao menos chegava muito perto do outro. Era mais provável que Minseok tivesse dormido em algum lugar e isso ficou comprovado quando Baekhyun apareceu na cozinha, ajeitando a gravata e olhando para todos os lados, visivelmente procurando algo. E mesmo quando os três se sentaram para tomar o café da manhã, o alfa mais novo continuava com aquele olhar agitado em direção a porta. Donghae quase fez a pergunta, mas resolveu no último segundo que aquilo, Baekhyun devia resolver sozinho.

— Voltem pro jantar. — o ômega ainda falou à porta, acenando levemente para os dois.

Siwon virou-se e sorriu enquanto Baekhyun lhe devolvia o adeus, ainda com aquele mesmo olhar preocupado. Todavia, foi depois que fechou a porta que suspirou, um tanto cansado, passou a mão na barriga que já começava a tomar forma e encostou as costas na madeira da porta fechada.

— Eles vão voltar, bebê. — sussurrou para o seu filhotinho no ventre. — Papai vai estar aqui mais tarde. — então sorriu ao sentir como se alguém estivesse o abraçando, o calor se espalhando por todo o seu corpo, e a sensação de segurança se apossando de si.

Sabia que era a marca. Que era Siwon pensando em si, dizendo em pensamento o quanto o amava e o quanto estava com saudade. Contudo, seu momento de paz foi interrompido quando escutou seu celular tocar. Foi um toque curto, indicando que havia recebido uma mensagem, então se desencostou da porta e foi até a mesinha de centro, onde deixara o celular no começo da manhã, antes de seguir para a cozinha e fazer o café da manhã. Segurou o aparelho na mão e destravou a tela, era uma mensagem de texto de um número que não conhecia, abriu a mesma e leu o que havia ali:

“Me encontre às 16hs no Parque.

— Jihyun.”

***

Minseok ergueu a gola do seu moletom e em seguida puxou a manga da roupa até que cobrisse metade da sua mão, deixando apenas os dedos curtos de fora. Estava com frio, tinha que admitir, mas havia saído apressado demais da Alcateia Byun para pegar um casaco. Observou quando Henry sentou-se à sua frente, sobre as pernas cruzadas do mesmo jeito que si. O ômega Lu estendeu as mãos sobre a mesinha, as palmas viradas para cima pedindo silenciosamente que Minseok colocasse as mãos sobre as suas. Assim o fez, um tanto curioso por saber o que Henry faria, mas quando suas mãos se tocaram, o Lu não fez nada além de segurar as mãos pequenas de Minseok e aproximar dos seus lábios para assoprar um pouco de ar quente para as mesmas, fazendo Minseok perceber como Henry sempre estava aquecido.

Diferente do loiro que parecia sempre suscetível as mudanças climáticas, por ser um ômega e por isso ter um sistema imunológico mais fraco, Henry se destacava sempre com uma temperatura corporal normal e nunca tomando as vitaminas que Minseok era obrigado a tomar desde que se descobrirá ômega.

A marca é quem me deixa assim, sabe. — o Lu começou a dizer quando notou os olhos curiosos do amigo sobre si. — Diferente dos outros ômegas.

Minseok olhou para as suas mãos juntas sobre a mesa, sem muita coragem de encarar o outro e ver o semblante triste que o rosto do amigo sempre assumia quando tinha que falar qualquer coisa sobre a marca que carregava no ombro. O loiro sabia que não era um assunto fácil pra ele, que causava-lhe muita dor mesmo depois de seis anos, mas Minseok sabia que mesmo que já estivessem passado dez, vinte ou quarenta anos, Henry ainda lhe lançaria aquele mesmo olhar triste quando citasse algo sobre sua marca.

— Você fica protegido. — Minseok tentou, as palavras saindo baixas e hesitantes.

Henry riu, baixinho, como se não pudesse acreditar no que o Kim tinha dito, porque só ele sabia como aquela marca não era nada além de uma maldição e maldições não protegiam ninguém, elas te aprisionavam e te sufocavam.

— Eu fico preso, na verdade. — concertou a frase do amigo. — Fico eternamente preso a alguém que nem ao menos sei o nome.

— Henry...

— Eu ainda sou capaz de senti-lo, sabia? Mesmo depois de tanto tempo, ainda o sinto como se ele estivesse perto de mim, morando comigo. É como ser assombrado por uma entidade: você não pode ver, mas sabe que está lá. Te observando e tomando conta de todos os seus passos.

Mochi. — dessa vez era Minseok que estava segurando as mãos do chinês, acariciando seus dedos calejados de tanto mexer na terra, como o bom botânico que era. — Está tudo bem, se você continuar tomando os remédios ele nunca virá atrás de você.

— Os remédios servem para enfraquecer a marca, Minseok, não para fazê-la desaparecer. Ele pode me sentir do mesmo jeito que eu posso. — contou e o Kim engoliu em seco.

Sempre tinha escutado da boca dos anciãos da sua aldeia como ter uma marca era bom, como ter um parceiro te fazia completo, mas quando conheceu Henry percebeu que a marca era uma via de mão dupla, podia ser tanto libertador quanto aprisionador. No caso de Henry havia sido nada além de uma coleira que ele carregaria até o fim dos seus dias, pesada demais para que o chinês conseguisse se livrar dela, pois não havia realmente um jeito de fazê-lo sem que um dos dois morresse.

Henry levantou o rosto e fitou o loiro, os olhos grandes e lagrimosos fazendo Minseok querer abraça-lo e sussurrar um tudo bem, mas o ômega sabia que o amigo precisava bem mais do que isso, no entanto, mesmo assim se viu soltando as mãos dele e abrindo os braços, meio se inclinando sobre a mesinha e puxando Henry para um abraço demorado.

O chinês tinha um cheiro diferente. Minseok conseguia notar algumas notas doces, indicando o cheiro real do Lu, mas isso se misturava com o amadeirado fraco, mostrando a si que aquele era o cheiro do alfa que havia marcado Henry há tanto tempo, quando o garoto não passava de um ômega recém-formado, apenas 15 anos de idade, fraco demais para conseguir se defender no primeiro cio. Contudo, Henry não era um caso isolado. Havia outros ômegas que eram marcados contra a sua vontade, principalmente durante o cio quando o mesmo não conseguia controlar suas emoções.

— Minseok. — escutou o amigo chamar depois um tempo. — Seu cheiro está forte. — alertou, a voz saindo preocupada.

O loiro afastou-se do Lu e olhou para baixo, a mão direita indo em direção a sua nuca e ficando ali para mostrar seu desconforto com aquele assunto, mas mesmo assim se escutou dizer:

— Meu cio está perto.

— Isso é bom ou ruim? — Henry perguntou, voltando a sentar como antes do mesmo modo que o Kim já tinha feito, observava o jeito como a expressão de Minseok se contorcia, meio perdido demais na sua realidade.

— Eu não sei.

O chinês tombou a cabeça pro lado, confuso com a resposta recebida e mais confuso ainda pelo modo que o loiro o fitava, como se estivesse esperando que ele tivesse alguma solução, mas Henry nem ao menos conseguia encontrar aonde estava o problema real.

— O que? Como assim? — soltou.

Minseok abriu a boca para responder, mas as palavras que tinha preparado se perderam no ar quando a porta de entrada da casa de Henry foi aberta, revelando um Lu Han com o cabelo castanho bagunçado trazendo um Yixing irritado no colo, o cantinho dos olhos puxados cheios de lágrimas.

— Henry será que você pode... — começou a dizer, mas se interrompeu quando notou a presença do Kim. — Ah, Minseok. — disse sem muito interesse e o Kim revirou os olhos ao mesmo tempo que fechava a boca.

Ele e Lu Han nunca tiveram um relacionamento muito bom, mas por causa de Henry sempre acabavam se suportando.

— Lu Han. — devolveu e o chinês sorriu.

Bàba. — Yixing meio chorou meio reclamou no colo do pai e dessa vez era Lu Han quem estava revirando os olhos. — Bofu. — o garotinho de 2 anos virou-se no colo do pai e estendeu os braços na direção de Henry.

O chinês levantou-se e foi até o sobrinho pegando-o no colo e enxugando as lágrimas que molhavam suas bochechas macias.

— O que aconteceu, bebê? — perguntou a criança.

— Bàba tá chato. — contou fazendo Henry rir e Lu Han balançar a cabeça em negação enquanto cruzava os braços.

O filho do Lu havia aprendido aquela palavra há alguns dias com Jongin, o irmão recém-adulto de Lu Han que estava na fase de achar tudo incrivelmente chato, o que acabava por sempre incluir o ômega Lu nesse meio.

— Não dê ouvidos à ele. — o líder Lu falou e Yixing mostrou-lhe a língua, arrancando uma risadinha de Minseok e fazendo Lu Han olha-lo firme, apenas para que o filho se encolhesse no colo do tio postiço, Henry.

— Eu tenho doces na cozinha, você quer? — Henry tentou mais um pouco com o Yixing, queria fazê-lo abandonar a expressão azeda.

Lu Han aproximou-se de Minseok e sentou-se ao seu lado depois de soltar um suspiro pesado, sabia que não valia a pena argumentar com Henry sobre dar doces demais a Yixing, o ômega sempre acabava os dando de qualquer maneira, fazendo com que ele fosse o típico tio legal enquanto o Lu era o típico pai ranzinza e chato.

Quelo. — o chinesinho assentiu, sorrindo, a palavra errada soando fofa demais aos ouvidos do Kim.

— Então vamos lá. — Henry começou a se afastar com o pequeno Lu no colo.

— Não o faça comer doces demais! — Lu Han não conseguiu se impedir de gritar enquanto o corpo de Henry e Yixing desaparecia ao entrar na cozinha, que ficava colada na sala.

Suspirou, sabendo que Henry não ia lhe dar ouvidos. Passou a mão no cabelo e Minseok achou que ele bagunçaria mais os fios, mas apenas viu os fios se organizando de uma forma totalmente nova. Lu Han era um ômega bonito, o loiro tinha que admitir. Havia alguma coisa na forma diferente que seus olhos se curvavam e no jeito que suas formas corporais eram discretas, que chamava a atenção além do cheiro meio doce meio floral, que era parte de tudo que o Lu era.

— Ele se parece com você. — Minseok se escutou dizer, quebrando o silêncio que tinha se formado ali.

O Lu virou-se para fita-lo, os olhos confusos no começo e logo depois entendendo a frase e a quem se referia, acabou sorrindo.

— Se parece mais com o pai. — confessou.

— Você contou a ele? — o loiro sabia que o outro pai ômega de Yixing tinha morrido no ataque à Alcateia Lu que vivia na China.

 — Contei do jeito mais leve que consegui e não acho que ele tenha realmente entendido o que aconteceu, mas Yixing é um garoto inteligente, sabe que não vai mais ver o pai.

— Sinto muito.

— Tudo bem. — tranquilizou o Kim. — Você vai me ajudar a salvar os que restaram, não é? — referiu-se ao acordo*** que tinham.

— Eu vim conversar com Henry sobre isso, soube que Junmyeon pretende se casar.

— Preciso que consiga uma reunião com ele até o fim da semana. Algumas coisas têm acontecido, fomos obrigados a instaurar toques de recolher e guardas durante a noite.

Minseok franzio a testa, confuso com o que ouvia. Lu’s eram um clã pequeno e secreto, nenhum outro clã tinha conhecimento da sua existência, o que sempre fazia Minseok se perguntar quem os estaria caçando com tanto afinco.  Parecia meio irreal que algum alfa chefe estivesse correndo atrás de uma lenda, porque era isso que os Lu’s haviam se tornado depois de tantos anos sem convivência com outros clãs: lendas urbanas, que seguiam de boca em boca sem que nunca alguém tivesse realmente tido contato, para dizer que era verdade ou não.

— Não se preocupe. Junmyeon tem um bom coração, com certeza vai ajuda-los.

— Eu espero. — Lu Han externou um tanto pensativo, então franzio o nariz e voltou a fitar o loiro. — Seu cheiro está forte, veio passar o cio com Henry? — mudou de assunto, fazendo Minseok corar levemente.

— Não é bem isso. — respondeu baixo, mesmo depois de tanto tempo convivendo com Lu’s, Minseok não tinha se acostumado com o modo aberto que eles tratavam o cio. — Na verdade, Henry me chamou até aqui. — resolveu dizer de uma vez, querendo mudar de assunto.

— Algo importante? — os olhos estavam grandes em interesse.

— Apenas o de sempre: Junmeyon. — puxou a manga da camisa mais um pouco para baixo.

— Henry tem feito um bom trabalho lá — o líder elogiou. — mesmo depois que até mesmo os pacíficos Choi’s abandonaram o seu irmão.

— Os Choi’s são chineses imprestáveis. — Minseok disse um tanto irritado. — O beta que os comanda, não tem muita noção do que faz.

— Mas eles ao menos honram suas palavras. — Lu Han rebateu.

— Kim’s também honram as suas. — defendeu.

— Então por que terminou casado com Baekhyun em vez de Sehun?

Minseok abaixou o rosto e fechou as mãos em punho. Sabia que não tinha argumentos contra isso além do “meu pai é louco”, que parecia ser a frase que definia toda aquela confusão, mas não gostava de pensar nisso, pois Leeteuk ainda era seu pai, tinha o criado com amor e paciência. O que só fazia Minseok não conseguir pensar em Leeteuk como sendo realmente o seu pai, era como se fossem dois homens diferentes, que compartilhavam a mesma aparência. Um era amoroso e atencioso e o outro era louco e vingativo.

— Não foi uma escolha minha, se quer saber. — falou sem olhá-lo. — Eu não pedi por isso tanto quanto você, apenas não pude evitar.

— Eu entendo. Ômegas nunca podem evitar muita coisa, fomos criados para aceitar e não para contestar.

— Mas você é um líder, pode contestar o que quiser.

— De fato e posso mandar também, mas estou dependendo de uma reunião com um alfa.

— É por uma boa causa. — o tranquilizou e Lu Han sorriu para si.

— Seu casamento também foi por uma boa causa. — levantou o rosto para fitar o ômega, não sabia muito bem o que devia encontrar no rosto dele mas não achou pesar fosse uma delas.

O loiro não entendia porque Lu Han parecia triste quando olhava para si depois de dizer aquilo, contudo o Kim chegou à conclusão que, talvez, Lu Han não estivesse triste consigo, mas triste com toda a situação, com a grande bagunça que todo aquele acordo tinha virado. Pois, era um fato que a Alcateia Oh seria um parceiro melhor do que os volúveis Byun’s, que ninguém realmente confiava.

— Se eu tiver um filho, ele ainda casara com Yixing. — Minseok assegurou e o ômega riu, baixinho, balançando a cabeça em negação como se não pudesse acreditar naquela nova realidade e Minseok compartilhava da mesma incredulidade.

— Então passe o cio com Byun Baekhyun. — Lu Han meio brincou, fazendo o loiro corar e não tirar essas palavras da cabeça durante o resto do caminho até a Alcateia Byun.

Ele sabia que Lu Han tinha brincado, que não falara realmente sério. Mas o ômega não tinha conseguido evitar levar aquelas palavras a sério, disseca-las e perceber que era isso mesmo que teria que acontecer caso quisesse ter um filho com Baekhyun. Contudo, não parecia cedo demais para pensar nisso? Eles ainda estavam com dois meses de casados e não se falavam direito. Os dois deveriam tentar se conhecer antes que o ômega engravidasse, porque era óbvio que se isso acontecesse, ia ser um desastre total, ainda mais quando Baekhyun soubesse que Minseok tinha planejado aquilo e que o filho de ambos já estava prometido a alguém.

Resolveu que era melhor deixar isso para o futuro, quando ele e Baekhyun conseguissem ficar um ao lado do outro sem achar que o desconforto fosse esmaga-los. Após decidir isso, pagou o táxi que tinha pegado até ali e saiu do mesmo, passando pelo portão do condomínio que pertencia a Alcateia Byun e seguiu para a casa principal, onde morava com os pais e com o próprio, Baekhyun. Era uma casa bem grande, então Minseok não via realmente motivo em sair de lá e Baekhyun não parecia ver também.

Quando entrou em casa, estava quase tudo silencioso se não fosse pelo cantarolar que vinha da cozinha. Seguiu até lá, apenas para encontrar Donghae fazendo bolinhos de arroz. Enrolava os bolinhos na palma da mão com os olhos distraídos, mostrando que seus pensamentos estavam anos-luz dali, tão longe quanto qualquer coisa.

— Senhor Donghae? — chamou.

— Hum? — piscou saindo do seu transe de distração. — Ah, Minseok. — notou quando focou os olhos na entrada da cozinha. — Eu estou fazendo o jantar. — explicou quando percebeu que o loiro fitava suas mãos sujas de trigo.

— Bolinhos de arroz? — perguntou e o Lee sorriu.

— Baekhyun gosta deles. — contou. — Gosta também?

— Meu pai costumava cozinha-los para Kyungsoo. — lembrou-se, o nome do irmão saindo amargo da sua boca.

Donghae percebeu e por isso soltou um suspiro. Ele tinha conhecimento do que tinha acontecido, do modo como o Kim mais novo tinha desaparecido e até, agora, dois meses depois, não havia nenhuma pista do seu paradeiro.

— Junmyeon não conseguiu nada? — perguntou, referindo-se ao gêmeo de Minseok.

— Não. — respondeu. — Ninguém o viu sair, não há nenhuma pista. É como se Kyungsoo tivesse evaporado no ar. — encostou-se no batente da porta e levou a mão ao cabelo, bagunçando os fios loiros, frustrado demais para consegui esconder.

— Ele não pode ter sumido assim. — Donghae falou. — Você conhece bem aquela alcateia, não é? Deve conhecer todos os caminhos que ele poderia pegar para sair dali, certo? — tentou, querendo tirar aquela expressão do rosto do mais novo.

O ômega Kim piscou os olhos, de repente lembrando de algo importante. Haviam vários meios de sair da alcateia sem ser visto, mas havia um meio melhor. Era o caminho que Kyungsoo sempre usava para fugir nas madrugadas e ver Chanyeol na cidade. Como não tinha pensado nisso? — se perguntou. Estava sendo tão bobo por não ter pensado naquele caminho ainda.

— Tem razão. — meio sorriu, os olhos piscando e vendo algo em sua memória. — Tem algo... — colocou a mão sobre a boca, pedaços de lembranças tomando conta da sua mente. — Eu preciso...  — falou se desencostando do batente da porta e virando para Donghae. — Obrigado, senhor Donghae. — curvou-se.

— Me chame só de Donghae. — o Lee sorriu ao passo que Minseok se afastava apressado.

Ainda parou no meio da sala, sem saber ao certo o que deveria fazer: correr até Junmyeon e contar o que tinha lembrado ou subir para o seu quarto e deixar para amanhã? Olhou para a janela e percebeu que a noite já caia, mostrando-lhe que não valia a pena ir até os Kim’s quando nem poderia sair na floresta e encontrar o caminho que o irmão tinha pegado. Era melhor ver isso amanhã, com calma e com Henry e Junmyeon ao seu lado.

Então subiu para o seu quarto, determinado a tomar um banho demorado e tentar mascarar seu cheiro de mirtilo, que estava demasiado forte por causa da proximidade do cio. Terminou mergulhado na banheira, com espuma até o pescoço, enquanto pensava no que faria no dia seguinte. Repassava as lembranças na mente e sentia uma vontade absurda de chorar, pois via a imagem do irmão gêmeo em seus pensamentos, congelado no tempo em sua memória e desejava poder vê-lo novamente, saudável e vivo. Fechou os olhos, para ver melhor a imagem do irmão em sua mente e sem perceber, o sono foi vindo aos poucos até o que ômega foi dominado.

Acordou muito tempo depois, com os dedos enrugados e com frio. Levantou-se da banheira e procurou a toalha, enrolou-se nela e saiu do banheiro. Notou que tinha perdido o jantar, pelo horário no relógio digital sobre o criado mudo ao lado da cama. Já passava da meia-noite. Arregalou os olhos para o horário e sentou-se na beira da sua cama, parando por um momento para processar o fato de que já era bem tarde e que ele havia dormido mais de duas horas naquela banheira, nem ao menos tinha percebido que estava tão cansado. Acabou atribuindo isso ao cio, pois sempre sentia-se um tanto cansado e manhoso no começo deste.

Esfregou os olhos e bocejou uma vez antes de levantar-se e ir até o guarda roupa, a procura do seu pijama. Só precisava descer até a cozinha e procurar alguma coisa para comer antes de voltar a dormir. Vestiu-se rápido e saiu do quarto. Estava tudo em silêncio, por isso caminhou devagar, desceu a escada com cuidado e correu na ponta dos pés até a cozinha. Achou que o lugar estaria vazio, mas acabou encontrando Byun Baekhyun sentado à bancada segurando um sanduíche, prestes a dar uma mordida.

Minseok parou, segurando-se na entrada da cozinha, quase escorregando pelo susto enquanto Baekhyun quase deixava o sanduíche cair, tamanha a surpresa por ver o marido ômega entrando na cozinha correndo.

— Ah... hum... — o loiro tentou, soltando a entrada e segurando uma mão na outra em frente ao seu corpo. — Desculpe. — nunca sabia como devia reagir na presença do outro.

— Tudo bem. — Baekhyun disse, abaixando a cabeça e dando atenção ao seu lanche da meia-noite.

Havia ficado preso no trabalho e por isso não havia chegado a tempo para o jantar, então terminara sozinho, tarde da noite, comendo um sanduíche sozinho.

Minseok entrou na cozinha, seguiu até a geladeira quando notou que Baekhyun não estava mais prestando atenção em si. Abriu-a e começou a procurar algo, estava atrás dos bolinhos de arroz que Donghae tinha feito, desejava que tivesse sobrado algo. Contudo, acabou encontrando algo melhor. Escondido atrás de algumas garrafas de água, estava uma bela fatia de bolo. Segurou o prato onde ela estava e se afastou da geladeira. Baekhyun olhou de soslaio para o ômega, observando os seus atos até o momento que saiu da cozinha levando a fatia de bolo. Uma parte sua quis dizer que aquilo era de Donghae, mas acabou não dizendo nada, porque achara bonitinho o jeito que Minseok tinha olhado para o doce.

Balançou a cabeça e sorriu consigo mesmo. Compraria um bolo para o pai amanhã, por enquanto só queria observar o loiro de longe. O que de fato fez, segurando seu sanduíche em uma das mãos e indo até a sala. Minseok estava lá, sentado no sofá, vendo tevê sem interesse aparente.

O alfa deu um passo em direção ao sofá, sentia um cheiro gostoso vindo de Minseok. Era frutado e lembrava alguma coisa, lembrou-se no meio do caminho o que era. Mirtilo. O cheiro que fazia parte de tudo que Minseok era, que representava uma fração de toda a sua personalidade, que tinha assombrado seus pensamentos quando o garoto estava vivendo na França. Parou onde estava, confuso com o modo como tinha se aproximado do outro, não parecia certo. Não parecia ele. Balançou a cabeça, querendo tirar aquilo da mente. Abaixou o olhar e notou que ainda segurava o sanduíche. Levou-o a boca e terminou de comer, ainda parado há poucos passos do ômega.

Observava sua silhueta no sofá, o topo do cabelo loiro se destacando na escuridão da sala, sendo parcialmente iluminado pela luz da televisão. Não sabia dizer o que o outro estava vendo na tevê, porque não conseguia se forçar a olhar para outro lugar que não fosse as formas do corpo de Minseok naquele sofá.

Não soube dizer quanto tempo ficou ali, mas viu o ômega terminar de comer e se levantar, vir em sua direção e parar na sua frente, segurando o prato vazio.

— Com licença. — o Kim falou, querendo que o alfa abrisse passagem para que pudesse passar.

Baekhyun observou a boca dele se mexendo, os lábios pequenos brilhando em rosa muito claro, chamando sua atenção. Os viu mexer novamente, mas não conseguia realmente escutar o que o outro estava dizendo até o momento que Minseok bateu o pé no chão, mostrando sua impaciência e fazendo Baekhyun piscar, saindo do transe.

— Saia da frente. — mandou, irritado, e o alfa deu um passo para o lado.

Minseok passou por si, indo para a cozinha, demorando-se em lavar o prato e guarda-lo. O Byun, não conseguia se forçar a sair do batente da porta, não conseguia tirar os olhos do ômega. O que havia de errado? Por que, de repente, ele queria chegar perto? O que foi, o que acabou fazendo.

Aproximou-se, com passos apressados do ômega. Parou atrás de si, encostando-se em suas costas, suas mãos se apoiando ao lado do corpo do ômega, na bancada da pia e fazendo Minseok estremecer. Ele tinha parado de lavar a louça há algum tempo, só estava ali, parado, meio tremendo, sentindo que o seu cio tinha chegado.

Baekhyun fechou os olhos e aproximou o seu rosto da nuca do marido, sentindo o cheiro doce que ele exalava, tocou a ponta do nariz na pele dele, fazendo a pele arrepiar e o mesmo fechar os olhos, as mãos se fechando em punho sobre a bancada.

— O que está fazendo? — Minseok perguntou, baixo, quase um sussurro.

— Seu cheiro... — Baekhyun balbuciou, as mãos saindo da superfície da bancada e vindo pousar na cintura do ômega. — tem alguma coisa de errado. — confessou de olhos fechados, a boca sobre a pele da nuca do loiro, fazendo-o apertar os olhos ao mesmo tempo que o alfa apertava-lhe a cintura.

— Estou no cio. — confessou.

E o alfa quis se afastar, mas não conseguia. Seu lobo o forçava a ficar, segurava seu corpo ali, seu instinto de alfa estava muito forte, o que só o deixava muito confuso porque o Byun nunca tinha passado o cio com o um ômega, porque nunca tinha se sentido atraído pelo cheiro de um. Todos os que Donghae costumava lhe apresentar, eram mimados demais com um cheiro doce demais para que ele conseguisse se aproximar sem querer vomitar. Contudo, ali estava Minseok, em pleno começo do cio, exalando o cheiro mais delicioso que o alfa já tinha sentido.

Encostou os lábios na pele exposta da nuca do marido e aspirou mais do seu cheiro, enquanto as pontas dos dedos seguravam na borda da camisa do pijama de Minseok e subiam o tecido devagar, procurando a pele quentinha por baixo. Roçou a ponta dos dedos ali, fazendo Minseok soltar a respiração, que nem ao menos sabia que estava segurando.

— Baekhyun. — ofegou, as mãos fechadas tão apertadas que podia sentir as unhas curtas entrando na palma.

— Eu posso te soltar. — o alfa sussurrou contra a sua pele, deixando beijos delicados sobre a mesma logo em seguida.

Não queria realmente o fazer, mas também não queria obrigar Minseok a passar o cio consigo só porque eram casados.

— Eu sei. — o ômega sussurrou de volta, mas não disse nada mais, o que só fez com que Baekhyun segurasse na sua cintura, apertasse a carne forte e depois o virasse de frente para si.

— Diga que quer que eu pare. — o Byun quase mandou, fitando os olhos de Minseok.

O Kim abriu a boca levemente, quase fazendo o que o alfa tinha pedido, mas havia alguma coisa no jeito que os olhos dele pareciam claros como âmbar, que o fez permanecer ali, sem dizer palavra alguma, apenas sentindo as mãos dele no seu corpo. Queria se livrar daquela camisa, porque de repente parecia muito quente, mas ao mesmo tempo queria aproximar o corpo de Baekhyun. Era estranho sentir tanto calor e ao mesmo tempo querer mais.

— Minseok. — o alfa chamou, meio chacoalhando-o, querendo desperta-lo do transe do cio, mas tudo que o ômega fez foi abrir as mãos, ergue-las e segurar Baekhyun pela nuca, para que suas bocas se encontrassem.

— Não me solte. — o Kim sussurrou-lhe ainda com as bocas juntas.

E Baekhyun não soltou. Na verdade, ele deslizou as mãos, segurando as coxas do ômega, fazendo-o sentar sobre a bancada para poder se encaixar entre suas pernas enquanto as mãos se apressavam em livra-lo daquela camisa. Minseok não ficou muito atrás, mas quando Baekhyun tentava não destruir seu pijama, o Kim simplesmente desistiu de desabotoar a camisa do outro, abriu-a de supetão, descasando os botões a força, fazendo alguns saírem e se espalharem pelo chão. Mas tudo que Minseok precisava era das suas peles juntas, por isso só o trouxe para perto. Chocando seus peitos, enfiando o rosto na curva do pescoço do alfa e deslizando a língua por ali, provando o gosto salgado misturado com o cítrico, que fazia parte do aroma de alfa do Byun. Era uma mistura deliciosa no seu paladar.

Baekhyun tentou tomar a dianteira naquilo, mas Minseok parecia disposto a comandar. Então eles viraram uma mistura de toques e sons, que pareciam totalmente novos ao ouvido do ômega. Em um momento, sentia o alfa segura-lhe as mãos, mantê-lo da forma mais submissa que conseguia quando deslizava os lábios por sua pele, raspando os dentes e marcando onde podia, mostrando à ele toda a possessividade que carregava. Mas o Kim também se via invertendo isso, puxando-o para perto, afastando-o, mostrando o ritmo que gostava.

Em algum momento foi encostado na parede de dentro do seu quarto, o alfa segurava suas mãos acima da sua cabeça e descia os lábios por seu pescoço. Dava-lhe pequenas mordidas, que deixariam marcas, mas que faziam Minseok fechar os olhos e gemer baixinho. Havia alguma coisa terrivelmente boa em estar sendo o tocado daquela maneira por Baekhyun, que se intensificava a cada vez que o alfa segurava-o com força, mantendo-o perto como se ele pertencesse a si. Era diferente de tudo que já tinha provado, tinha que admitir.

Mas quando os dois se misturaram sobre sua cama, sem nenhuma peça de roupa no corpo, mais suado do que acharia possível em uma madrugada fria de inverno como aquela, Minseok percebeu que gostava do tom de âmbar que havia nas iríses de Baekhyun quando o alfa erguia-se sobre seu corpo, investindo contra si como se fosse o inventor daquele ato. As mãos estavam firmes na sua cintura e o ômega mordia o lábio para impedir os gemidos altos, que queria soltar.

Uma parte sua dizia que aquilo era loucura, que não valia a pena. Mas o Kim já tinha se deixado levar pelo cio, seu lado humano o faria sentir-se culpado depois, mas naquele momento o ômega não queria nada mais do que o alfa sobre si, abaixo de si, onde fosse, o tomando como o instinto mandava.

Contudo, mesmo que aquele fosse o começo de três dias de cio. Minseok sabia que não deveria esperar muito do alfa e isso ficou comprovado quando três dias depois, ele acordou sozinho em sua cama. O cheiro de Baekhyun ainda estava no seu corpo e espalhado pelos lençóis, mas não havia sinal algum do alfa pelo cômodo além das lembranças confusas na sua mente. Ainda procurou algum sinal do mesmo no quarto, talvez um bilhete? No entanto, não havia nada, nem mesmo a marca no ombro, coisa que o deixou aliviado quando procurou. Mas, mentia, havia uma coisa, sim.

Baekhyun tinha deixado um vazio esquisito no seu peito.


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Notas finais do capítulo

*Em “O choro do lobo”, há uma cena em que Leeteuk fecha um acordo com Siwon para deixar que Baekhyun e Chanyeol pudessem sair da sua Alcateia, então além do casamento, há também a entrega dos restos mortais de Jihyun e do bebê para o Kim. E é isso que Heechul quer.
**Ryeowook descobriu sobre a cicatriz que Heechul carrega na lateral do corpo, sobre a costela, depois que eles começaram a viver juntos. Ele ganhou essa cicatriz no “festival da lua sangrenta”, durante a luta com os Byun’s e Park’s, mas foram os Park’s que o machucaram por causa de uma rixa que há entre os dois. Essa cicatriz é conhecida no capítulo seguinte “dupla face”.
***Há um acordo entre Minseok e Lu Han, que foi fechado no capítulo intitulado “o acordo”, onde Minseok prometeu que conseguiria uma reunião com o Líder Kim para o Lu e onde, também, prometeu que seu primeiro filho casaria com o Yixing (que é o filhinho do Lu Han de 2 anos de idade), para firmar a parceria do Clã Lu e do Clã Oh, com quem Minseok se casaria na época.



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