Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 26
I - Os Park's




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Junmyeon colocou os papéis que estava lendo sobre a mesa do seu escritório e encostou o quadril na borda da mesa, apenas para fechar os olhos por um momento e respirar fundo. Estava tentando se manter calmo diante das palavras que Sehun escreveu para si. Parecia um pouco surreal que o primo e amigo tivesse tomado aquela decisão, mas o Kim conseguia entender muito bem porque aquilo tinha acontecido e uma parte sua acreditava que faria a mesma coisa se estivesse no lugar de Sehun: se isolaria. Pois era isso que o primo estava fazendo quando deixou um anúncio escrito sobre a retirada do seu apoio a Alcateia Kim.

Agora, pela primeira vez em muito tempo, os Oh’s não estavam mais consigo. Quer dizer, com sua Alcateia. De repente, Junmyeon estava pensando em como o pai reagiria quando soubesse disso, mas logo estava deixando isso de lado pois tinha sido o próprio Kim mais velho que tinha obrigado Sehun a tomar aquela decisão, depois daquela loucura que foi obrigar Minseok a casar no lugar de Kyungsoo com Baekhyun.

Voltou a abrir os olhos e dessa vez tirou os óculos de leitura do rosto e os deixou sobre a mesa, só para que a porta do seu escritório fosse aberta e a cabeça de fios escuros de Henry aparecesse. Seus olhos curiosos sobre o alfa e a boca se entortando no canto, mostrando aquela ruga de preocupação que parecia fazer parte de tudo que Henry era, mesmo que Junmyeon não soubesse metade da sua vida.

— Tudo bem aí? — o escutou perguntar.

— Não tanto. — confessou antes que pudesse se conter e então pegou a carta do Oh sobre a mesa ao mesmo tempo que a porta se abria mais, revelando o ômega chinês por completo. — Oh Sehun nos abandonou. — contou, estendendo a Henry o papel, que foi prontamente apanhado e lido.

— Dê um tempo a ele. — o ômega disse ainda com os olhos no papel. — Com toda essa confusão que foi o casamento do Minseok, é de se esperar que ele sinta um pouco de raiva.

— Tem razão. — concordou ao mesmo que se desencostava da beirada da mesa, dava a volta em si e sentava-se em sua cadeira. — Tenho algo para você. — mudou de assunto, abriu a pequena gaveta que havia na mesa e puxou de lá uma pasta. — Meu pai fez essa seleção.

— O que é isso? — Henry segurou a pasta e depois a abriu, encontrou fotos de pessoas variadas, algumas ele reconheceu da Academia.

Junmyeon soltou um suspiro, meio cansado, mas sabia que quando o pai ômega — Heechul — havia tido aquela ideia, era pensando no seu bem e no bem da Alcateia, afinal eles estavam perdendo aliados depois do jeito como Leeteuk havia quebrado o contrato de casamento de Sehun com Minseok tão fácil. Tinha dado a entender para as outras Alcateias que os Kim’s não tinham palavra e se não tinham palavra não eram de confiança.

— Meu pai, Heechul, fez essa relação de possíveis aliados. — contou ao seu secretário. — Todos com quem posso ter um possível casamento, então quero que marque uma reunião com cada um. Eu vou propor...

— Não pode se casar! — Henry acabou interrompendo, impulsivamente, diferente de tudo que Junmyeon estava acostumado.

O Kim ergueu uma sobrancelha, um tanto confuso e desconfiado ao mesmo tempo daquela reação do ômega e o próprio ao perceber o que tinha feito, simplesmente corou tão furiosamente que afetou o alfa, que se viu sentindo as bochechas queimando também. Abaixou o rosto mais que rápido, achando, de repente, a superfície escura da mesa muito interessante ao mesmo tempo que ouvia Henry apertar a pasta, sem cuidado algum nas mãos, o papel raspando na palma da sua mão alertando sobre todo o nervosismo do ômega e a porta batendo no minuto seguinte, abafando o modo agitado que o seu coração batia.

O que, raios, tinha acabado de acontecer? — se perguntou ao fechar os olhos e suspirar. Passou a mão no cabelo, a outra mão estava apoiada na superfície da mesa. Nos seus pensamentos via os olhos arregalados de espanto de Henry ao dizê-lo para não casar e escutava o eco da porta batendo ao ser fechada. Será que...? Não, era melhor não, percebeu. Esse tipo de coisa não podia acontecer, muito menos com Henry. Junmyeon tinha coisas demais para fazer, coisas demais para pensar e tempo de menos para si mesmo. No momento, o alfa precisava se focar apenas na Alcateia. Precisava arrumar toda a bagunça que seu pai tinha deixado para si.

Ele sabia que Leeteuk tinha tentado fazer o seu melhor como líder, mas algumas coisas tinham simplesmente saído do controle e depois do casamento de Minseok, o Kim só conseguia perceber como tinham ficado além do seu alcance. Pois agora, mais da metade dos clãs a qual sua alcateia era aliado, tinha se retirado. Todos tinham deixado uma carta, comunicando o quanto não podiam se aliar a um clã que não cumpria sua palavra. E, claro, que Junmyeon entendia como eles tinham quebrado um contrato, ido contra as palavras ditas, isso afetava a confiança dos outros. Por que quem gostaria de se aliar a um clã que quebrava sua promessa?

Voltou a abrir os olhos e procurou o seu celular em meio a bagunça de documentos que havia sobre a mesa. E quando o encontrou, não hesitou em procurar o número de Jongdae. Era engraçado pensar como aquele Kim havia se tornado tão próximo em tão pouco tempo e na variedade de coisas que eles tinham em comum. Mas Junmyeon gostava da sua companhia, eles se entendiam de uma forma branda e mesmo que as vezes o alfa fosse um tanto misterioso, o líder entendia que ele apenas tinha tido um passado ruim e por isso se tornava um tanto recluso as vezes.

Não demorou muito para que o alfa respondesse, contando como o Kim estava com sorte por tê-lo contatado no momento que ele chegava em Seul. E nos segundos seguintes, quando Junmyeon passou pela recepção do seu escritório, apressado demais para querer observar Henry em uma ligação telefônica, desejou que Jongdae pudesse lhe dar um bom conselho.

***

Minseok observou os pingos de chuva deslizando pelo vidro escuro do carro enquanto esperava que o marido aparecesse. O motorista já estava ali também, indicando que ou Baekhyun estava atrasado — o que nunca acontecia — ou que eles estavam adiantados. Estava claro que era a segunda opção, mas mesmo assim o loiro se viu procurando seu celular no bolso interno do seu blazer e verificando o horário. E como esperado, estava adiantado quinze minutos, contudo antes que pudesse suspirar o seu desagrado em ter sido tão apressado, percebeu que havia uma mensagem de texto de Henry. Destravou a tela e leu o que havia ali.

Não era algo realmente urgente como pensou. Não passava de um convite para tomar um café no fim da tarde, convite esse que o Kim foi obrigado a recusar com um suspiro audível, já que durante o resto da tarde e o meio da noite estaria preso em uma cerimônia de homenagem aos mortos na Alcateia Park. Se viu digitando uma mensagem rápida de desculpas para o amigo ômega, sem perceber que o motorista tinha começado a observa-lo através do espelho retrovisor.

Voltou a travar o celular e virar o rosto para observar a chuva fina que caia, ajeitou os óculos no rosto ainda e só então viu através da janela molhada o corpo magro de Baekhyun se aproximando do carro. O Byun avançava pela chuva, o cabelo molhado e o terno seguindo o mesmo exemplo enquanto atrás de si Kangin se aproximava com um guarda-chuva. O ômega observou quando o beta segurou no braço do alfa e começou a lhe dizer algo, notou jeito que os ombros de Baekhyun pareciam tensos indicando seu possível estresse com algo.

Ele sempre está estressado, pensou antes de virar o rosto e notar o modo como o motorista ajeitou-se no banco, os olhos abaixando-se rápido demonstrando o seu desconforto. O loiro franzio a testa, confuso e desconfiado, a boca se abriu levemente para perguntar o que havia de errado, mas as palavras se perderam quando a porta do seu lado direito foi aberta. Desviou o rosto naquela direção apenas para encontrar a figura molhada de Byun Baekhyun em um terno caro. Os sapatos estavam parcialmente molhados e a borda da calça também, assim como os ombros e o cabelo escuro, mas o modo como os seus lábios se destacavam em um vermelho atraente, Minseok soube que ele estava com frio.

O alfa desabotoou terno e o sacudiu, querendo que um pouco daquela umidade toda fosse embora. Ao seu lado, viu o ômega encolher-se e virar o rosto para fitar qualquer coisa pela janela. Comprimiu os lábios e encostou suas costas no encosto do banco, deitou a cabeça ali e fitou o teto do carro. Estava se perguntando pela milésima vez naquele dia se tinha sido uma boa ideia levar Minseok consigo para a Alcateia Park. Uma parte sua dizia-lhe como deveria ter deixado o loiro em casa, junto dos lobos da sua Alcateia, um lugar onde saberia que nada poderia lhe acontecer. Contudo, outra parte sua, apenas lhe sussurrava como seria ruim para a sua imagem aparecer numa cerimônia importante sem o seu esposo quando seu pai estava levando Donghae.

Baekhyun era metade Park, mesmo que tentasse negar isso de vez em quando, então era imprescindível que estivesse presente na cerimônia de homenagem a sua mãe biológica, Jihyun. O que acabava sendo a oportunidade perfeita para apresentar-lhes Kim Minseok, com quem tinha casado às pressas sem o conhecimento dos Park’s.

— Vamos nos atrasar. — a voz de Minseok tirou-lhe de seus devaneios.

Virou o rosto na sua direção, mas o ômega não o estava fitando. Continuava na mesma posição, fitando através da janela molhada. Baekhyun notou como parecia mais escuro lá fora e como o vidro estava mais molhado, se perguntou como o outro conseguia enxergar algo, se é que o estava mesmo fazendo. Do jeito como eles tinham mal trocado algumas palavras nesses dois meses de convivência, Baekhyun duvidava que o ômega estivesse olhando realmente através da janela, era mais provável que ele apenas o estivesse evitando da forma que sempre fazia.

Tirou os olhos dali e verificou o horário no seu relógio de pulso. Então deu a ordem ao motorista. Seriam trinta minutos de viagem até Incheon, para encontrar os Park’s era tempo suficiente para que ambos sufocassem naquele silêncio, pois até aquele momento nunca tinham passado tanto tempo sozinhos. Se viu virando o rosto para o lado oposto enquanto ajeitava a gola do seu terno. Estava um tanto escuro dentro do carro e do lado de fora, no entanto Baekhyun conseguiu identificar a silhueta do carro do pai ultrapassando o seu.

Não conseguia entender porque o pai insistia em ir todos os anos na cerimônia de falecimento de Jihyun, pois era óbvio o como eles apenas o suportavam ali. Na verdade, Baekhyun não entendia porque tinha que comparecer a aquele show de tortura todos os anos, quando sabia que também não era querido. Mas é claro, ele ainda assim era filho de Jihyun, mesmo que a própria preferisse que não. E era justamente esta metade de si que fazia os Park’s sempre repensarem seus planos de ataque para com os Byun’s, pois era de conhecimento geral como os Park’s odiavam os Byun’s mas não podiam fazer nada a respeito por causa da aliança de casamento de vinte anos atrás e por causa do filho que nasceu dessa aliança.

O alfa levou a mão até a gola do terno e puxou a gravata um pouco, pretendia ficar confortável em suas roupas até o momento que chegasse na Alcateia Park. Na verdade, pretendia dormir alguns poucos minutos antes de ter que enfrentar toda aquela horda de falsidade que os Park’s exalavam. No entanto, se pegou mais uma vez virando o rosto na direção do Kim e fitando-o por alguns minutos.

Queria poder saber o que ele tanto pensava, descobrir todas as palavras que usava para descrever aquela vida, pois uma parte sua estava realmente cansada do rosto sempre sério do loiro. Em seus pensamentos, para cada vez que fechava os olhos, via os olhos de Kim Minseok, sugando-lhe a alma, do mesmo jeito que foi durante a adolescência.

— Por que está me olhando tanto? — a pergunta o pegou de surpresa e por isso o fez se desconsertar por um momento, os olhos desviando rapidamente como se ele fosse um mero humano tímido.

— Ainda não acredito que casamos. — se viu voltando a fita-lo, dessa vez encontrando os olhos grandes do Kim na sua direção.

Recuperou a sua compostura séria, apenas para olhar além do ômega, seus olhos castanhos se desviaram para a janela e fitaram as gotículas de chuva incrustradas no vidro. Era mais fácil olhar o reflexo do cabelo loiro do ômega ali do que encarar o infinito das suas iríses claras.

— Também não. — Minseok concordou ao passo que voltava a se ajeitar no banco, de modo que ficasse na mesma posição de antes, olhando através da janela.

Baekhyun continuou olhando-o através da janela. O vidro, agora, refletia, a face do ômega, seus olhos grandes o encaravam de volta sem pudor algum.

— Deveria ter ficado na França. — se escutou dizer depois que molhou os lábios levemente.

— Fui burro em ter voltado. — o outro concordou, os olhos nunca deixando o rosto de Baekhyun, fazendo-o ficar desconfortável, mas o alfa não desviou.

Ele permaneceu sustentando o olhar de Minseok através do vidro da janela, que por causa das gotículas de chuva, parecia, aos seus olhos, que o ômega estava chorando. Mas Baekhyun sabia que isso não fazia o estilo de Minseok. Se algum dia ele tivesse que chorar, choraria de cabeça erguida e bem longe de todos. Porque esse Minseok que tinha voltado da França era diferente daquele que tinha ido embora. O alfa conseguia ver a diferença, conseguia pegar os detalhes desse novo Minseok devagar e comparar com aquele garotinho que tinha lhe mandado uma caixa de biscoitos com um pedido de desculpas, eram totalmente diferentes. Quer dizer, essa pessoa com quem tinha casado tinha o mesmo cheiro daquele ômega adolescente, mas a dureza com que ele calculava seus atos, era totalmente diferente do jeito que o adolescente da sua memória se comportava. Mas mesmo quando se pegava tentando desvendar essa pessoa nova, percebia como cada parte sua tinha uma preferência maior por essa pessoa de agora.

Baekhyun viu os olhos de Minseok relampejarem em cinza por trás das lentes dos seus óculos de grau e quis perguntar o que tinha de errado para que o seu lobo estivesse se manifestando daquela forma, contudo um solavanco na estrada fez com que as palavras tremessem sobre sua língua e perdessem o sentido. Desviou os olhos da janela, interrompendo todo aquele momento em que se encaravam para fitar o motorista.

— A estrada está ruim, senhor. — o homem disse com a voz cheia de desculpas.

— Apenas tente fazer esse caminho silencioso. — falou, virando o rosto para a outra janela, abandonando de vez a figura loira de Kim Minseok pelo resto do trajeto até Incheon.

Eles não trocaram nenhuma palavra durante o caminho e pelos trinta minutos que se seguiram nem ao menos se olharam, mas para cada minuto que se passava, Baekhyun tinha certeza que poderia sufocar a qualquer momento com o cheiro doce de Minseok ao mesmo tempo que o loiro pensava em como nunca tinha se sentido tão desconfortável em tão pouco tempo.

Quando, finalmente, chegaram até Incheon, o primeiro a sair do carro foi Baekhyun. A chuva tinha parado, mas as nuvens se acumulavam no céu, todas formando uma barreira cinzenta contra a luz do sol e por isso, tudo parecia cinzento, até o momento que Minseok saiu do carro. O loiro do seu cabelo, mesmo parecendo pálido, ainda chamava a atenção assim como cada parte do ômega. Baekhyun não conseguia entender o que havia de errado nos momentos em que se pegava olhando para o Kim, assim como não entendia aquela inquietação na boca do estômago como se estivesse prevendo coisas ruins para aquele dia. Mas não era como se realmente esperasse coisas boas, era o aniversário da morte da sua mãe, aquilo por si só era o suficiente para tornar aquele dia ruim.

— Estacione o carro por perto e espere minha ligação. — escutou Siwon dizer aos dois motoristas, para só então ajeitar a gola do seu terno e segurar a mão de Donghae.

Baekhyun ainda se viu olhando para Minseok mais uma vez, se perguntando se deveria chama-lo para perto e fazer a mesma coisa que seus pais estavam fazendo, mas balançou a cabeça no segundo seguinte, abandonando aquela ideia insana. Então não fez coisa alguma, apenas seguiu os pais em direção a entrada do complexo onde a pequena e antiga Alcateia Park morava. Até onde o alfa sabia, os Park’s tinham vindo para a Coréia durante a dinastia Joseon, por volta de 1300. Eles eram um dos primeiros lobos a viverem fora de uma Alcateia e a construir uma. Eram cheios de audácia e seguiam uma religião antiga, que consistia em dois deuses que representavam o masculino e o feminino: A grande deusa Mãe, que chamavam de Lua e o grande deus Pai, que chamavam de Sol. E de acordo com o que pregava, eram essas as duas divindades que tinham dado vida e consciência aos lobos.

Sempre muito religiosos, os Park’s, tinham uma tradição rígida e regrada a rituais além de apresentar uma das Alcateias mais separatistas de todas. As crianças tendiam a ser classificadas em uma classe assim que nasciam. Todas passavam por um exame de sangue que mostrava a qual classe pertencia e por isso, eram tratadas com os privilégios que seu sangue pedia. Geralmente, os ômegas eram prometidos em casamentos ainda muito novos, antes de um cio apenas para que seu futuro esposo/esposa tivesse o prazer de ser o seu primeiro. Betas eram treinados para serem guardas, trabalhavam em prol do líder da Alcateia enquanto alfas subiam no nível mais alto que seu gene permitia, sendo muitas vezes os mais ricos da alcateia, seguido do líder.

Baekhyun tinha presenciado essa realidade quando era adolescente. Nas férias de verão, quando era obrigado a passar alguns meses com a outra metade da sua família, na presença das suas avós indiferentes e do seu tio sádico, era capaz de ver o quanto aquele tipo de governo não era bom para ninguém. Os ômegas eram subjugados mais do que seus corpos permitiam e por isso muitos deles fugiam da Alcateia e eram pegos e castigados. O Byun havia cansado-se de ver tantos lobos Park’s sendo castigados em praça pública, a palavra traição queimada em suas costas. Mas ele não podia dar palpite algum naquela época, porque não era mais que um filhote e também não podia dar palpite algum agora que era líder de uma Alcateia.

— Não deixe que Minseok se afaste, Baekhyun. — Donghae lhe sussurrou quando a porta se abriu.

Olhou para o lado, procurando o loiro, só agora entendendo que o mesmo nunca tinha estado tão longe da sua alcateia.

— Fique perto. — sussurrou para ele e o mesmo piscou em sua direção, os olhos brilhando em castanho muito claro atrás das lentes dos óculos.

Baekhyun viu a relutância dele em querer obedecer, mas não havia escolha. O ômega não conhecia aquele lugar, não conhecia aquelas pessoas. Era melhor confiar, ao menos uma vez em Byun Baekhyun.

***

Junmyeon teve seu braço segurado e depois colocado sobre os ombros de Kim Jongdae, no primeiro momento achou que o amigo estava se apoiando nele, as quando deu o primeiro passo, percebeu que era o contrário. E por isso, soltou uma risadinha, colocando a mão livre em frente a boca, afim de esconder os dentes.

— Nunca mais me deixe beber tanto. — se escutou dizer para o Kim.

Jongdae balançou a cabeça em negação pelo que o outro dizia ao mesmo tempo que abria a porta do seu carro e o ajudava a entrar.

— Mas eu não deixei, você que é teimoso demais para me escutar. — rebateu depois que o fez sentar no banco e com um cuidado que não pertencia ao momento, colocou o cinto de segurança no alfa. — Aliás, como toda a sua família. — não perdeu tempo de alfinetar e Junmyeon só riu diante da fala do outro.

— É genética. — falou e Jongdae esboçou um sorriso enquanto se afastava e começava a se ajeitar no banco do motorista. Passou o cinco de segurança por seu tronco.

— Aposto que sim. — resmungou depois que ligou o carro e começou a conduzi-lo para fora do estacionamento.

O alfa no banco do carona ajeitou a postura e se inclinou em direção ao rádio, sentia seus dedos escorregadios quando tentou girar o botão de ligar do aparelho. Jongdae bufou diante da tentativa falha do amigo e acabou ele mesmo afastando a mão do Kim e ligando o rádio, colocando numa estação qualquer.

— Eu não sabia que era tão fraco para bebida. — Jongdae comentou voltando a prestar atenção no trânsito.

— Nunca gostei muito de álcool. — deu de ombros.

O alfa mais novo sentia-se mais leve e risonho. Todas as vezes que levantava os braços não sentia como se eles pesassem alguma coisa assim como achava que estava pisando em nuvens todas as vezes que dava um passo. Parecia surreal sentir-se tão leve por algo que vendiam engarrafado, mas o gosto estava na sua boca e cheiro espalhado por sua roupa, então Junmyeon podia acreditar, que sim, eles eram capazes de vender a leveza em garrafas.

— Dá próxima vez: cerveja sem álcool pra você. — o mais velho disse ao pegar a rodovia que os levava para fora de Seul e que os levaria direito para a Alcateia Kim.

Ya. Você parece um irmão mais velho falando. — virou o rosto em direção a janela do seu lado e começou a tentar ver a paisagem, mas estava escuro demais para o seu eu bêbado.

Jongdae se limitou a balançar a cabeça, como que fazendo pouco caso do que o Kim mais novo falava, o que de fato era isso mesmo. Continuou dirigindo silenciosamente, mesmo que a cada cinco minutos Junmyeon o brindasse com algum comentário sem sentido. Não demorou muito para que chegassem na Alcateia Kim, onde — mais uma vez — Junmyeon precisou do corpo de Jongdae para se apoiar. As luzes da casa amarela de Ryeowook estavam apagadas e por isso os dois alfas acreditaram que os pais ômegas de Junmyeon estavam dormindo.

— Só mais alguns passos. — Jongdae disse quando avançavam pelo corredor.

— Jongdae, eu acho que gosto de Henry. — confessou baixo, a voz naquele tom arrastado por causa do álcool.

— Você não gosta dele. — falou ao abrir a porta do quarto alfa.

— Mas...

— Só está sobrecarregado demais. — o interrompeu. — Não quer se casar e por isso acha que gosta de Henry só para fugir disso.

Junmyeon comprimiu os lábios, o desconforto da verdade se fazendo presente na boca do seu estômago. Uma parte sua sabia que o alfa estava falando a verdade enquanto a outra só estava querendo arranjar uma desculpa para não casar com um desconhecido. No fim das contas, o Kim só estava assustado com a ideia de ter que dividir a vida com alguém que nunca viu antes.

— Estou ficando louco. — afirmou quando o alfa mais velho o ajudou a chegar até a cama e sentado na beira, viu o amigo abaixar-se para tirar seus sapatos.

— Provavelmente. — Jongdae brincou lhe oferecendo um sorriso de baixo e o Kim riu junto antes de se jogar na cama.

— Não fale sobre isso para o meu pai. — pediu quando notou o alfa já de pé ao lado da sua cama.

Jongdae entendeu que ele falava de Heechul e não de Jungsoo.

— Então não enlouqueça. — rebateu e Junmyeon fechou os olhos.

O Kim mais velho balançou a cabeça em negação para o modo como aquele garoto de 21 anos era péssimo para beber. Então deu as costas ao alfa e começou a ir em direção a saída, fechou a porta com cuidado e com passos leves avançou pela casa, saindo devagar para não acordar ninguém. Contudo, sentado à varanda da casa, usando nada mais do que seu pijama azulado, Kim Heechul tinha entre os dedos um cigarro.

— Ele dormiu? — perguntou sem virar-se para fitar o alfa.

— Sim. — respondeu simples, não sabia mais o que podia dizer.

— Não o leve mais para beber. — parecia uma ordem e não um pedido. — Junmyeon pode ser maravilhoso com números e pessoas, mas não serve para o álcool. — contou.

— Eu achei que ele podia estar querendo espairecer. — Jongdae desculpou-se.

— Vocês podem espairecer de outra maneira. — disse um tanto irritado e o alfa notou como o mais velho soava como um pai preocupado com seu filhote.

Heechul levantou a mão e levou o cigarro aos lábios. Ele era bonito de um jeito selvagem, o cabelo escuro formava sombras sobre seu rosto e seus olhos pareciam mais escuros que o normal. O alfa percebeu que ele não estava de bom humor e por isso apenas fez uma reverência para desculpar-se ao mesmo tempo que se perguntava como nunca tinha notado o jeito que Heechul podia ser tão paternal.

— Dá próxima vez serei um Hyung mais cuidadoso. — falou e o ômega assentiu enquanto apoiava os cotovelos na cerca da varanda, o cigarro sendo jogado sem pudor entre as plantas que ornamentavam a frente da casa.

Jongdae começou a se afastar, deu um boa noite desajeitado antes de fechar o pequeno portão. Heechul acenou para ele, sem muito entusiasmo, enquanto seus olhos relampejavam em vermelho, cheios de dúvidas sobre aquele garoto. Quer dizer, sempre o tinha achado gentil e inteligente demais, além de que Leeteuk parecia gostar demais dele. Será que poderia estar o usando para espionar Junmeyon? Parecia surreal demais pensar isso do marido alfa, mas dado as circunstâncias, não parecia impossível que ele estivesse fazendo isso quando tudo que menos quis foi sair da cadeira de líder da Alcateia. Contudo, mesmo que fosse isso ou não, era saudável desconfiar de desconhecidos.

— Chullie? — escutou a voz sonolenta de Ryeowook o chamando e por isso virou o rosto para encontra-lo. Estava no seu familiar conjunto de pijama amarelo com estampa de girafas, que tinha ganhado de Kyungsoo há uns três anos, o cabelo bagunçado e os olhos semifechados de sono. — Teve pesadelos de novo? — perguntou baixinho, bocejando no final da pergunta e os braços curtos se fechando em volta da cintura do maior ao abraça-lo por trás.

— Estava esperando Junmyeon chegar. — disse sem realmente responder a pergunta do marido ômega.

— Ele chegou? — parecia mais alerta agora, sempre ficava mais alerta quando o assunto envolvia algum dos seus filhotes.

— Bêbado como um gambá. — Heechul brincou e o ômega riu escondendo o rosto entre as omopala do maior. — Jongdae veio deixa-lo em casa.

— Ah, esse Kim é um bom garoto. — falou. — Fico feliz que Junmyeon esteja se dando bem com ele.

— Não o acha estranho? — o maior questionou ao mesmo tempo que começava a andar, segurava as mãos de Ryeowook a sua volta, o fazendo vir junto e o abraço não ser desfeito.

— Por que acharia? Ele é gentil e educado. Sempre me ajuda a carregar as compras do mês ou quando preciso de uma mão a mais no jardim. — contou.

— Não sabia que eram próximos.

— Ele me lembra o meu irmão. — deixou que o outro soubesse e Heechul soltou um suspiro.

Sabia sobre a história de Ryeowook, sobre como tinha perdido a família em um acidente de carro em Taiwan. Ele fora o único sobrevivente e como não tinha mais ninguém para viver em Taiwan, acabou vindo para a Coréia, onde moraria com sua única tia. Contudo isso não durou muito, já que no ano seguinte estava casando com Leeteuk.

Esfregou sua mão nas mãos do marido, afim de conforta-lo apenas para no minuto seguinte virar-se entre seus braços e pega-lo no colo. Ryeowook riu em surpresa enquanto limitava-se a passar os braços pelo pescoço do outro e beija-lo durante o caminho até seu quarto.

Eles não tinham tido o melhor começo, mas ambos gostavam do jeito como tudo estava agora. Era bom poder se sentir completo em mais de um abraço, Ryeowook pensou quando o ômega sentou-se na beira da sua cama e o acolheu ali, os braços longos se fechando a sua volta e o trazendo para muito perto.

— Eu acho que amo você. — Heechul foi o primeiro a falar e o menor riu baixinho ao esconder o rosto na curva do seu pescoço.

— Eu acho a mesma coisa. — confessou.

Heechul ficou quieto e Ryeowook também e nos minutos que avançaram pela noite, apenas escutaram o som do coração um do outro.

***

Foram recebidos por Park Hyejin e Park Yongsun, as avós de Byun Baekhyun. Minseok as achou simpática quando se aproximaram para dar um abraço em todos e se demoraram no abraço a Baekhyun, mas havia alguma coisa no jeito que elas olharam para eles quatro, que mostrava que elas não eram tão simpáticas assim. Contudo decidiu que não pensaria nisso. Queria apenas causar uma boa impressão para os familiares Park’s de Baekhyun e ir embora antes que o dia acabasse. Desejava poder dormir em sua cama ainda.

— Você deve ser Kim Minseok. — a mais velha entre as avós disse, o loiro a identificou como sendo Yongsun. — Se parece com seu pai. — segurou-lhe a face, apertando suas bochechas do jeito que uma tia faria.

— Conheceu meu pai, senhora? — perguntou, querendo saber de qual pai a mais velha falava.

— Ah, sim. Kim Heechul. — contou e Minseok estreitou os olhos para cima dela. — Fui sua professora e ele era um demônio, e posso ver o mesmo fogo nos seus olhos. — o loiro viu seus olhos relampejarem em prata, a cor dos Park’s.

Minseok corou diante do que Yongsun disse ao mesmo tempo que Donghae, ao seu lado, mordia o lábio para prender o riso pelo fato da mulher ter chamado Heechul de demônio.

— É melhor irmos andando ou vamos nos atrasar. — Hyejin disse chamando a atenção da esposa e a fazendo soltar o rosto do ômega e foi justamente no momento que ela abaixava a mão, quando a manga enrolou-se no seu pulso que o loiro pôde ver a pequena letra grega ômega gravada na parte de baixo do pulso da senhora.

Seus olhos se arregalaram levemente em surpresa por conhecer outra ômega da Academia, contudo deixou isso de lado quando se deu conta que já não era mais parte do mesmo mundo secreto daquela senhora. Começou a segui-la ao mesmo tempo que Baekhyun ficava ao seu lado. Já tinha notado como o alfa parecia estar sempre perto demais de si, mas preferia não pensar sobre isso porque parecia estranho demais que Byun Baekhyun quisesse algo consigo depois de dois meses de casamento, sendo que no primeiro mês simplesmente tinha arranjado uma viagem de trabalho e desaparecido por tempo suficiente para que Minseok achasse que tudo tinha sido um sonho maluco.

O complexo da Alcateia Park ficava nos arredores de Incheon e por isso ficava próximo a praia. Minseok notou que durante o caminho que fizeram até chegarem no templo, o chão era ladrilhado com pedras coloridas. Alguma se diferenciavam de outras, meio arredondadas como paralelepípedos, dentro delas tinha algo gravado. Ele se viu reconhecendo o latim, o sumério e o otomano. Eram inscrições que pediam paz, davam boas-vindas, saúde e prosperidade. Mas havia outras inscrições. Fogo. Morte aos pecadores. Obediência.

— Cuidado. — Baekhyun segurou no seu braço para impedir que tropeçasse e caísse, pego de surpresa, Minseok soltou-se apressado do aperto do alfa, os olhos um tanto arregalados com o que podia ler nas pedras no chão.

Que lugar era aquele, afinal?

Baekhyun deu um passo para o lado, conseguindo uma distância segura de Minseok, achando que o ômega só queria espaço. Contudo, quando notou o modo como o esposo estava olhando as pedras no chão colorido, entendeu porque ele estava tão distraído ao ponto de se deixar cair.

— Os Pak’s são muito religiosos. — confidenciou ao mesmo tempo que voltava a andar, as mãos sendo colocadas atrás de si.

Minseok o acompanhou.

Morte aos pecadores parece um tipo estranho de religião. — comentou.

— Eles são um tanto opressores também. — falou depois que todos pararam de andar.

O Kim olhou para frente, tirando os olhos do marido alfa, e contemplou o grande templo. Era o lugar onde celebrariam o ritual para os mortos. Viu as avós de Baekhyun seguirem em frente e entrarem e logo depois Siwon e Donghae, a mão do ômega sempre junto da do alfa como se temesse por algo ruim. Baekhyun não esperou por si, simplesmente começou a avançar em direção ao lugar e por isso, o ômega loiro apressou o passo atrás do marido.

O templo por dentro era bem diferente da fachada. Enquanto o templo inteiro era pintado de preto, por dentro era completamente marrom e branco. O marrom vinha da madeira que era feito e o branco era espalhado pelas paredes e por muitas fitas que estavam presas no teto. Minseok segurou uma, notando as palavras ali também, mas ao contrário das inscrições nas pedras, essas eram em coreano e não passavam de pedidos simples. Coisas como “descanse em paz”.

Durma era o que estava escrito em tinta branca pelas paredes do lugar, se espalhando como um mantra que começava a dar sono ao ômega.

— Pare de ler. — escutou Donghae falar perto do seu ouvido e desviou a atenção para ele, piscando os olhos pesadamente. — Não dê atenção ao que está escrito. — continuou falando. — As palavras são bem mais que palavras aqui, Minseok.

— O que são? — perguntou.

— Elas têm poder.

Piscou mais uma vez sem entender o que Donghae queria dizer, mas mesmo com o aviso se viu olhando novamente em volta e depois avançando em direção ao altar. As palavras em branco se acumulavam a sua volta, todas as elas querendo que ele fizesse alguma coisa diferente, no entanto a mais frequente era “durma”. Ele quase podia escutar uma voz em sua mente dizendo sempre aquela mesma palavra.

— Pare com isso. — dessa vez era a voz de Baekhyun.

— O que?

— Pare de escutar. — mandou, mas o ômega não entendia ao que ele se referia.

— Eu...

— Está se deixando levar. — então ele levantou as mãos e colocou cada palma em sua orelha, tapando a sua audição. Minseok o fitou e o alfa não desviou o olhar. Eles ficaram daquele modo, o silêncio se apossando de si e mostrando à ele como os Park’s eram confusos, fazendo-o se lembrar das aulas de história que tinha recebido na Academia.

Os Park’s eram um dos clãs mais antigos e por isso tendiam a carregar uma bagagem mística nas costas. Durante a formação do clã, tinham passado por muitas religiões, fruto dos vários líderes que vieram a ter antes de se firmarem no bisavô de Hyejin como líder correto, o alfa que tinha lhes difundido no misticismo. Haviam relatos de que o homem gostava de mexer com magia negra e tinha passado isso para os filhos além de terem muitas histórias horríveis sobre isso. Estava na boca dos mais velhos da sua Alcateia.

— Baekhyun! — alguém exclamou em alto e bom som, fazendo o alfa retirar as mãos dos ouvidos de Minseok e virar o rosto para o lado.

O loiro fez o mesmo depois que respirou fundo, precisava manter suas emoções sobre controle. Não dava para simplesmente se deixar encantar por uma magia qualquer de lobo.

— Tio. — Baekhyun balbuciou antes que o homem viesse até ele e o abraçasse forte, como se realmente sentisse saudade, mas Minseok viu o jeito com as unhas do homem alongaram-se, como se quisesse esfaqueá-lo pelas costas.

Eles são perigosos.

— E esse é...? — o homem soltou o sobrinho e virou sua atenção para o ômega quando o notou olhando suas mãos nas costas de Baekhyun, as unhas voltando ao tamanho normal.

— Kim Minseok, senhor, esposo de Byun Baekhyun. — se apresentou, a mão estendida em cumprimento enquanto fazia uma reverência.

O Park segurou em sua mão e fez uma leve mensura com a cabeça, os olhos brilhando em prata quando focaram em si. Parecia o mais perigoso de todos, ainda mais pelo modo como as tatuagens se destacavam em seu pescoço. Eram as imagens do sol e da lua em sua pele, batalhando no céu por atenção.

Era lindo, Minseok pensou.

— Eu sou Park Hyukjae, o líder da Alcateia. — se apresentou, deixando que o ômega notasse o modo como haviam inscrições na pele de sua mão, mas quando Minseok inclinou o rosto para ler, teve sua mão separada da dele. — Vejo que estão todos aqui. — falou virando-se para fitar os seus convidados e as pessoas da sua alcateia. — Então vamos começar.


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