Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 2
I - Meu pedaço perdido




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Odiava as aulas aos sábados, mas sabia que tinha que ir, principalmente porque não eram aulas extras comuns, como a dos humanos que tinham aulas extras de música ou matemática. Essas aulas eram próprias para descendentes de lobos como ele. E como um membro da família Kim Principal — que comandava os outros lobos do clã — devia comparecer e mostrar uma bela imagem. E foi movido por isso que se pôs de pé e seguiu pro banheiro, não sem antes revirar os olhos ao notar que o irmão gêmeo ainda dormia. O acordaria depois que saísse do banheiro, decidiu.

Kyungsoo sempre tinha sido um tanto preguiçoso demais, pensou enquanto escovava os dentes, a cara de sono refletida no espelho sobre a pia. Enquanto ele sempre tinha sido mais submisso e educado, do jeito que os seus pais gostavam. Na verdade, Minseok sempre sido tinha um exemplo. Educado, bonito, gentil e inteligente, todas as qualidades que faziam as anciãs da aldeia o amarem e desejarem a Grande Mãe Lua que o alfa ou beta ou ômega que o desposasse, fosse alguém digno.

Mas Minseok sabia mais, sabia que gostava de Kim Jongdae — o forasteiro que viera da China há duas semanas para se juntar a eles. No entanto, essa era o tipo de segredinho que ele guardava a sete chaves, já que nem ao menos conseguia olhar para o Kim sem corar como um pimentão.

Terminou de escovar os dentes e foi logo tomar um banho, e só depois que já estava vestido e com os óculos de graus no rosto — sofria de miopia, enquanto Kyungsoo tinha herdado o astigmatismo da avó, mas odiava usar óculos, preferia apertar os olhos na direção das pessoas — cutucou as bochechas de Kyungsoo e o fez acordar.

— Vamos nos atrasar. — disse puxando o irmão, tentando fazê-lo levantar ou ao menos abrir os olhos. — Vai logo, Kyung. — deixou a irritação transparecer na sua voz, odiava atrasos mais do que odiava acordar cedo nos sábados.

Kyungsoo se limitou a resmungar e tentar se cobrir. Minseok revirou os olhos e puxou a coberta de cima do garoto ao passo que gritava pelo pai ômega:

— Omma! — o gêmeo mais novo, levantou-se o mais rápido que pôde e correu para o banheiro; o cabelo escuro bagunçado.

Minseok soltou uma risadinha, pois sabia como era fácil convencer Kyungsoo a fazer qualquer coisa contanto que colocasse o nome do pai ômega de ambos no meio, já que o homem costumava ser severo demais com menor devido a sua indisciplina, pois ao ver dele, tudo tinha que ser sempre perfeito. E esse perfeccionismo tinha sido passado a Minseok, as vezes ele se odiava por isso, pois sabia como podia se tornar um pé no saco quando insistia nisso de tudo sair perfeito.

Resolveu ir até o guarda-roupa do irmão e separar alguma coisa para ele, afim de adiantar o trabalho. Seus gostos eram parecidos e por isso era fácil escolher roupas pro irmão, tirando o fato que já estava acostumado a fazer isso. Deixou as peças sobre a sua cama enquanto se ocupava em arrumar a cama do gêmeo, antes que o pai aparecesse por ali fazendo aquela maldita inspeção. Sentou-se na beira da cama, a postura reta do jeito que tinha sido ensinado, as mãos pequenas sobre as coxas e os olhos gateados desfocados. Estava se perguntando se iria encontrar Jongdae lá, se poderia observa-lo de longe sem que ninguém percebesse... mas duvidava que conseguisse, pois o alfa era dois anos mais velho que ele e por isso, fazia parte de outra classe. Ao passo que Minseok ainda tinha catorze anos, ainda um filhote no meio de tantos outros. Talvez Jongdae o visse como uma criança ainda, afinal nem tinha tido o primeiro cio, coisa que achava injusto porque Kyungsoo — que era o seu gêmeo — já havia tido o seu.

No fim de semana passado, quando eles tinham marcado de acampar com Sehun e Junmeyon, na floresta, Kyungsoo começou a passar mal antes que saíssem de casa. Precisou apenas de dois minutos para que o cheiro do irmão inundasse a casa inteira e Minseok entendesse que o irmão estava entrando no cio. Era um ômega do jeito que todos previam e tinha um cheiro gostoso, que fazia os alfas da vila sempre lhe lançarem uma olhadela maliciosa, coisa que só servia para aumentar o ego dele.

Minseok tentava não ficar chateado com isso, mas sempre acabava se perguntando quando iria acontecer consigo, afinal já estava atrasado se fosse comparar com os outros ômegas e alfas da vila, que tinham o cio em torno dos doze a treze anos. No entanto, seu omma sempre o tranquilizava, dizendo que uma hora ia acontecer e se não acontecesse, não havia mal nenhum em ser um beta. O que havia, eram muitas vantagens até.

Betas não tinham cio e por isso não possuíam cheiro, então não eram atraentes a alfas e podiam fazer o que queriam, já que não eram incomodados por alfas ou qualquer pessoa. Minseok gostava de compara-los aos humanos, pois pareciam sem graça quando vistos de longe, mas podiam surpreender bastante quando perto. Betas eram assim, eles constituíam a classe de lobos que eram ótimos em combate e camuflagem, já que a ausência de cheiro contribuía para isso.

Mas mesmo quando pensava nisso, Minseok não queria ser um beta. Queria ser um ômega, queria ter um cheiro e queria ter filhotes, queria — no fim — ser atraente a Kim Jongdae, pois sabia como ele nunca olharia para um beta, mesmo que fosse um Kim-maior. Estava pensando nisso quando Kyungsoo saiu do banho e começou a se vestir. E continuou pensando nisso depois que comeram o café da manhã e foram para a escola.

Não era exatamente uma escola. Era apenas um lugar ao ar livre, no meio da floresta, onde os anciãos se reunião para ensinar coisas aos mais novos. Lá, os ômegas mais velhos ensinavam coisas aos que eram ômegas a pouco tempo assim como os alfas e os betas faziam o mesmo. Kyungsoo estava na classe dos ômegas enquanto Minseok tinha que se contentar em sentar com outros mais novos do que si e que ainda não tinham tido um cio, coisa que só o fazia se sentir miserável pois ele sabia bem como os amigos de Kyungsoo o chamavam de filhote pelas costas.

Quando chegaram no local das aulas, o irmão apenas deu-lhe um tchau e foi se juntar com seus amigos ômegas, enquanto Minseok seguiu até a roda dos seus colegas de classe. Estava de cabeça baixa e por isso não viu a pedra no seu caminho, acabou tropeçando na mesma. E enquanto caia se chamou de idiota mentalmente, mas antes que atingisse o chão e fosse agraciado pelas risadas dos amigos do gêmeo, apenas sentiu braços se fecharem em volta de si e como se estivesse preso em uma cena clichê de um dorama, percebeu que alguém o havia segurado.

— Opa. — a pessoa disse e logo o olfato de Minseok foi inundado pelo cheiro cítrico, notou que era um alfa. — Cuidado aí. — ele disse, a voz saindo divertida enquanto firmava Minseok no chão, em pé.

O garoto levantou o rosto para saber a identidade do seu salvador e corou quando reconheceu as feições de Kim Jongdae. Abriu a boca para dizer alguma coisa, queria agradecer, mas nada saiu da sua boca e logo a risada do outro estava chegando nos seus ouvidos, aumentando ainda mais a sua vergonha. Acabou se limitando a curva-se em direção ao mais velho e sair, apressado, da sua presença. Sentou-se, no chão, na roda que estava sendo formada e respirou fundo.

Aquele era o primeiro contato que tinha com o Kim desde a sua chegada, quando o viu pela primeira vez na noite da Grande Lua. E de quebra tinha estragado tudo com sua timidez, pensou deixando os ombros abaixarem. Se sentia um idiota por ter corado na frente dele e nem ao menos conseguir pronunciar um “obrigado”. Soltou mais um suspiro, frustrado consigo mesmo. No entanto, se atreveu a olhar para trás, apenas porque queria ver o alfa novamente e se surpreendeu por ainda encontra-lo lá.

Jongdae acenou para si, um sorriso divertido no rosto, ao passo que Minseok se sentia corar mais um pouco e virava o rosto para frente, novamente, mas dessa vez havia um sorrisinho no seu rosto adolescente.

Depois desse dia ficou mais frequente encontrar Jongdae. Às vezes Minseok esbarrava consigo pela vila e os dois acabavam conversando, mesmo que a timidez do loiro ainda estivesse ali. Mas foi apenas depois que o Kim teve o seu primeiro cio, onde se tornou um ômega, foi que se sentiu mais seguro na presença de Jongdae, porque mesmo que agora já tivesse quinze anos e o outro dezessete, sabia que tinha alguma chance com ele. E essa certeza foi se estendendo até que completou dezesseis e os dois saíram para acampar naquele fim de semana.

A ideia tinha sido de Sehun, que era um lobo da alcateia Oh mas ainda assim primo dos herdeiros Kim’s — Junmeyon, Kyungsoo e Minseok. Todos tinham concordado e Minseok num ato de coragem tinha convidado Jongdae.

E por isso eles eram quatro naquele fim de semana, enfiados na floresta e sujos de folhas e lama, porque tinham brincado em suas formas de lobo até que a noite caísse. Mas depois que a lua se ergueu, no centro do céu, os outros já tinham dormido, deixando apenas Jongdae e Minseok acordados.

— Você tem um cheiro gostoso. — Jongdae disse do nada, quando Minseok sentou-se ao seu lado, em volta da fogueira.

— Er... obrigado. — conseguiu responder ao passo que sentia o sangue subindo para as suas bochechas e mesmo com isso, sorriu na direção do alfa. — Você também tem. — confessou e o alfa sorriu, abaixando a cabeça.

Eles ficaram enfiados naquele silêncio constrangedor, não sabiam se deviam dizer alguma coisa ou apenas inventar uma desculpa e ir dormir. Parecemos idiotas, Jongdae se lembraria de pensar, mas se recriminaria depois pois sabia que a culpa era sua, afinal foi ele quem tinha começado aquele assunto. No entanto, naquele momento, o alfa apenas fez a coisa que achava certo. Sem olhar para Minseok, deslizou a sua mão pelo tronco áspero — onde estavam sentados — e colocou-a sobre a mão do ômega.

Minseok se retesiou, os olhos se arregalando e o sorriso ficando maior no seu rosto, pois aquilo era a confirmação que tinha esperado há tanto tempo. Kim Jongdae correspondia aos seus sentimentos. Mordeu o lábio e enlaçou os dedos dele com os seus, e só então o alfa levantou o rosto para fita-lo, encontrando nos olhos gateados do ômega o mesmo sentimento que havia nos seus. Enquanto tudo que Minseok pensava era no quanto tinha encontrado o seu pedaço perdido.


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