Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 16
XIV - O traidor




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O alfa líder da alcateia Byun se inclinou levemente para frente afim de ver as fotos que estavam sobre sua mesa. Eram quatro ao todo, duas garotas e dois garotos. Sendo as primeiras, uma beta e uma ômega e os dois últimos, dois ômegas. Eram os quatro pretendentes para o seu filho mais velho, Baekhyun. O Byun comprimiu os lábios diante das fotos. Eram bons pretendentes. Um garoto e uma garota Park’s, uma Choi e incrivelmente um Oh.

— São só esses? — perguntou ao homem sentado à sua frente.

— O senhor pediu os mais importantes. — falou. — Esses são os disponíveis para um possível casamento. — continuou e Siwon ergueu uma sobrancelha desconfiado.

Dentre todos os clãs não era possível que apenas quatro estivessem disponíveis para um casamento. Era óbvio que aquele beta cerimonialista estava escondendo outros pretendentes, o alfa só não entendia porquê.

— Não minta pra mim. — disse sério. — Eu sei que você tem mais do que só esses quatro.

O homem se encolheu na cadeira, pois a áurea do alfa estava lhe afetando afinal Siwon estava irritado naquele começo de manhã, ainda mais pelo modo como seu esposo estava esquisito, não deixando que se aproximasse de si na hora do banho. Sempre tinham tomado banhos juntos pela manhã, mas justo naquele dia Donghae parecia sonolento demais e quando Siwon tentou acorda-lo ou quando tentou se juntar à ele no banho, foi totalmente negado. O que lhe parecia era que o Lee estava fugindo de si e isso, deixava Siwon totalmente irritado porque amava tanto o modo como o corpo do ômega se encaixava no seu.

— Senhor Byun... — o beta começou, sabia que não tinha como fugir daquilo ainda mais quando o alfa à sua frente estava com uma expressão de poucos amigos. — Há mais dois, mas achei que o senhor não ia querer...

— Você não tem que achar nada, — Siwon interrompeu a fala do outro. — tem apenas que mostrar o que pedi. — bufou, levado a mão até o cabelo e bagunçando os fios escuros. Céus, seu lobo não parava de pedir por Donghae, como se estivesse prevendo algo de ruim, e isso estava o deixando maluco. — Quem está escondendo? — inquiriu, a voz saindo mais dura do que pretendia e fazendo o beta se encolher minimamente, apenas para no segundo seguinte começar a vasculhar em sua maleta escura as fotos dos pretendentes.

O alfa observou o Cerimonialista mexer em sua maleta, as mãos tremendo como se temesse por sua vida e Siwon achava que ele estava exagerando em sentir-se tão ameaçado assim, mas também não podia culpa-lo, tinha total conhecimento sobre como sua áurea de alfa estava forte e por isso deixando os nervos do beta todos bagunçados. Se fosse um ômega ali, já estaria encolhido no chão chorando. Afinal, os ômegas eram os últimos na hierarquia e por isso eram os mais afetados pela áurea de um alfa, mesmo que os betas também fossem, mas esses últimos tendiam a não serem guiados pelos instintos como os ômegas eram.

O beta encontrou por entre as fichas dos tantos lobos que agenciava, as fotos dos dois pretendentes que tinha escondido do Byun, em parte porque sabia como os clãs não estavam na sua melhor fase e tinha certeza que aquilo só aumentaria a briga entre eles. No entanto, o líder Byun já tinha lhe pedido por aqueles pretendentes bem antes da grande festa sangrenta que foi aquele Festival no território dos Kim’s.

Empurrou as duas fotos sobre a superfície da mesa de carvalho do escritório do alfa, segurando um suspiro pesaroso. Ainda era novo na profissão de cerimonialista, mas sabia que com o tempo ia aprender a lidar com alfas, betas e ômegas sendo que esses últimos sempre eram mais fáceis de lidar. Afinal, eram doces por natureza.

Siwon se inclinou levemente em direção as fotos que lhe eram empurradas, seus olhos reconhecendo as figuras mesmo que nas fotos eles parecessem mais crescidos, no entanto os traços dos seus pais estavam evidentes nos seus rostos, não deixando que nenhuma dúvida restasse em sua consciência. Eram os herdeiros Kim. Os filhos ômegas de Kim Jungsoo — mais conhecido como Leeteuk, seu ex-melhor-amigo.

— Esses são Kim Minseok e Kim Kyungsoo, com 21 anos. São gêmeos e até onde foi me informado, os dois não tem pretendentes. — o beta disse enquanto Siwon trazia as fotos dos dois para perto com a ponta dos dedos.

Um era loiro e o outro moreno. O primeiro tinha olhos grandes gateados, um olhar castanho desafiador enquanto o outro tinha olhos grandes também, mas sua aparência fofa prevalecia ali, mostrando que ele era tudo o que seu rosto transparecia. No entanto, os olhos do alfa se prenderam no ômega loiro, achara-o intrigante com aquela aparência fofa enquanto os olhos pareciam profundos, cheios de mistério. Fazia-o se lembrar de Heechul. Na verdade, os dois se pareciam com Heechul, não era a aparência, estava mais para a impressão.  

 — Eu não os mostrei antes... — o beta começou.

— Marque um encontro com esses quatro. — Siwon o interrompeu, deixando as fotos dos Kim’s de lado e puxando a fotos dos primeiros quatro pretendentes na sua direção. — Baekhyun vai encontrar com cada um e decidir com quem quer casar. — o beta se apressou em puxar sua agenda e anotar o que o alfa falava. — Quanto a esses Kim’s... — se interrompeu, não sabia ao certo o que fazer.

Seria o certo ir até Leeteuk e propor um casamento, uma aliança de paz entre os clãs. Mas sentia orgulho demais para isso quando ele sabia que sua alcateia não tinha tido culpa nenhuma no que aconteceu no Festival.

— Apenas me deixe informado sobre eles. — se escutou dizer, não ia desperdiça-los assim, no fim das contas. Talvez algum dia precisasse de algum deles.

O beta assentiu enquanto anotava, depois se pôs de pé e recolheu as quatro fotos dos primeiros pretendentes, mas quando foi se inclinar para recolher as fotos de Minseok e Kyungsoo, Siwon as puxou na sua direção deixando claro que ficaria com aquelas. Não sabia ao certo porque estava se sentindo estranho em relação a àqueles garotos, mas preferia ficar com as suas fotos apenas para não esquecer os seus rostos. Eles seriam importantes de alguma forma, tinha certeza disso.

O Cerimonialista fez uma breve reverência antes de sair da sala e foi apenas quando estava do lado de fora que respirou fundo. A áurea de Siwon tinha lhe afetado de uma maneira ridícula, mas não era como se ele pudesse fazer muita coisa contra isso, ainda mais quando era um Beta com gene ômega, o que implicava que se tivesse filhos no futuro, eles seriam ômegas. Tudo culpa da sua mãe ômega. Ele colocou o seu chapéu e saiu dali sem olhar para trás, ao passo que a secretaria humana o olhava estranho de soslaio, pensando em como as pessoas que geralmente vinham visitar o seu chefe eram esquisitas. A começar pelo marido do mesmo, pois veja bem, ele era um homem e estava casado com outro homem. Isso era no mínimo doentio, mas não era como se ela pudesse dizer alguma coisa quando precisava do emprego. Então só via tudo calada, porque era esse silêncio que pagava as suas contas.

Porém, dentro do escritório, Siwon levantou-se da sua cadeira. Abriu os botões do seu paletó e respirou fundo, enfiando as mãos no bolso da sua calça social enquanto se afastava da sua mesa, as fotos dos Kim’s sobre a superfície. Andou até grande janela de vidro do seu escritório e observou todo o movimento ali fora. Estava um dia nublado, meio difícil de respirar por isso todos usavam máscaras e inclusive ele. Havia trazido a sua, estava guardada em sua maleta para quando saísse para o almoço ou no fim do seu expediente.

Não sabia ao certo o que estava pensando, afinal não havia algo de muito relevante na sua mente. Talvez não estivesse pensando em nada, só olhando para o tráfego de humanos lá fora. No entanto quando menos esperou, estava com a imagem do olhar de Kim Minseok no seu pensamento. Definitivamente, o garoto se parecia com Heechul, o que era o mínimo engraçado quando não compartilhavam realmente o DNA. Devia ser algo passado entre ômegas Kim’s, chegou a conclusão.

— Senhor! Não pode entrar! — a secretária gritou e Siwon virou-se em direção a porta do seu escritório apenas para ver a porta sendo aberta com violência e Kim Jungsoo entrando por ela, a sua secretária logo atrás dele, tentando fazê-lo sair.

— Está tudo bem. — se escutou dizer à mulher, que parou o que fazia e deu um passo para trás. — Deixe-o. — continuou e a moça fez uma reverência antes de sair.

Gostava do modo como humanos podiam ser tão submissos quanto ômegas.

Ela fechou a porta e o Kim deu um passo para mais dentro do escritório, se afastando minimamente da porta. Tinha o cabelo castanho claro bagunçado pelo vento do lado de fora, usava uma jaqueta de couro e jeans. As botas pretas o deixavam parecendo um motoqueiro em vez de o líder de uma alcateia grande como os Kim’s.

— O que faz aqui? — perguntou quando o outro não disse nada, parou de encara-lo e voltou a olhar pra frente ao passo que escutava o alfa se aproximando.

Verificando o seu escritório, procurando defeitos ou qualquer coisa suspeita. Leeteuk estava sempre em modo de defesa quando Siwon estava por perto e não era como se esse último pudesse culpa-lo, afinal eles dois já haviam se machucado o suficiente, o líder Byun mais do que o Kim.

— Você me deve algumas explicações. — o Kim disse, a voz saindo calma enquanto observava as fotos dos filhos sobre a superfície da mesa do outro, as sobrancelhas juntas em confusão. — Por que tem fotos dos meus filhos aqui? — perguntou, esquecendo-se do que ia falar ao outro.

Siwon virou-se para fita-lo e o encontrou segurando as duas fotos dos filhos ômegas, comprimiu os lábios em irritação. Odiava quando mexiam nas suas coisas, mesmo que o descuido tenha sido seu ao deixa-las espalhadas sobre a mesa.

— Soube que seus filhos estão disponíveis para casar. — se escutou dizer, uma pontada de divertimento na sua voz, queria saber qual seria a reação do alfa ao escutar isso, como se ele realmente quisesse um Kim na sua família, preferia que Baekhyun casasse com uma humana.

— Não estão disponíveis pra você. — respondeu, apertando as fotos nas mãos e amassando-as, deixando claro que tinha ficado irritado com o que o outro falara.

— Não tenho interesse em nenhum deles, apesar de ambos serem bem bonitos. — continuou provocando o rival. — O loiro é bem atraente, sabe. Belos olhos. — elogiou com malicia e viu com um prazer estranho, os olhos de Leeteuk se tornarem escuros como a noite.

O alfa avançou na sua direção, soltando as fotos amassadas no caminho, segurando o Byun pelo colarinho da camisa e encostando suas costas no vidro da janela do escritório.

— Fique longe dos meus filhotes. — rosnou contra o rosto do ex-amigo.

Siwon teve coragem de rir enquanto erguia as mãos e empurrava Leeteuk, desdenhando de toda aquela cena paternal do mais velho.

— Não se preocupe com isso. — falou ajeitando o colarinho amassado da sua camisa. — Meu filho merece algo melhor do que um Kim. — se afastou da janela, andou em direção a sua cadeira, pretendia se sentar, mas não o fez.

— Seu filho... — Leeteuk bufou, lembrando-se o que tinha vindo tratar com o alfa. — É sobre o seu filho que quero falar.

O Byun ergueu a sobrancelha, desconfiado e virou-se para avaliar a expressão do Kim. Ele não parecia como alguém que ia blefar sobre algo, seus olhos tinham voltado para o velho tom de castanho que Siwon conhecia, indicando que o seu lobo estava sobre controle.

Seu filho alfa teve coragem de se aproximar do meu filho. — a raiva estava ali, muito presente e deixando o alfa muito curioso. — Mas isso não me surpreende quando é um dos seus, o que me deixa intrigado é: o que pretendia com isso? Achava que podia conseguir informações sobre minha Alcateia usando o meu filho? Você é baixo, Siwon.

O alfa ficou parado, o rosto se tornando confuso. Não entendia sobre o que Jungsoo estava falando. Seu filho estava saindo com um Kim? Mas como? Donghae havia lhe assegurado que Baekhyun não tinha interesse em nenhum ômega e até mesmo ele havia comprovado isso quando não sentira nenhum cheiro diferente no alfa mais novo, porém enquanto pensava nisso e sua boca se abria para chamar Leeteuk de louco, sua mente fez questão de mostrar-lhe mais um fato.

O namoradinho secreto de Chanyeol.

Fechou a boca novamente, totalmente irritado por ter sido enganado dessa maneira. Chanyeol estava esse tempo inteiro tendo um caso com o filho do seu inimigo. Logo, Chanyeol, que era de quem ele mais gostava, estava o traindo pelas costas. No entanto, o pior nessa constatação foi perceber as pistas e se dar conta de que aquilo estava bem debaixo do seu nariz e ele não foi capaz de ver.

Fechou a mão esquerda em punho. Precisava socar alguma coisa para extravasar a raiva de ter sido enganado por Donghae e seus filhos, porque era bem óbvio que o marido ômega sabia disso.

Idiota. Ele havia sido tão idiota. Mas pensaria sobre isso depois, nesse momento precisava não deixar Leeteuk saber como ele estava despreparado para aquela conversa, quando nem ao menos sabia sobre Chanyeol e o garoto Kim.

— Eu não preciso usar meu filho para conseguir informações sobre o seu clã. — falou ácido, sentia os caninos se alongando em raiva. — Elas vêm sem esforço algum para a minha mão. Sua segurança é fraca, Leeteuk. É uma surpresa que você tenha administrado essa Alcateia por tanto tempo sem cair, mas se bem que com os Oh’s do seu lado, não é surpresa que ainda consiga se manter no poder. Espero que Junmyeon faça um trabalho melhor como líder, afinal você nunca serviu pra isso mesmo. — alfinetou, se referindo ao irmão do alfa, que teria assumido a liderança se não estivesse morto.

Leeteuk mostrou-lhe os dentes antes de rosnar, os olhos ficando castanhos escuros e fazendo Siwon se divertir com o descontrole do alfa. Sempre tinha sido muito fácil tira-lo do sério.

— Eu quero o seu filho longe do meu. — acabou dizendo quando não encontrou palavras para rebater, erguendo o dedo e apontando-o para o rosto do outro. — Se eu pega-lo no meu território, vou estraçalha-lo e exibir seus restos.

— Se atreva a tocar em um fio de cabelo do meu filho, que eu destruo a sua alcateia. — Siwon bateu no dedo de Leeteuk, avançando na sua direção e segurando-o pelo colarinho.

— Não me ameace. — Leeteuk disse sem se afastar, as presas tinham despontado e os olhos estavam totalmente escuros. Ele estava pronto para uma briga. — Não tem o direito de fazer isso. — então o empurrou e Siwon se deixou ser afastado, em parte porque sabia que não tinha direito algum mesmo.

Ele mesmo havia bagunçado a vida de Leeteuk da maneira mais dolorosa que existia quando matou o seu irmão mais velho, Kyuhyun. Mas havia tido os seus motivos. Lembrava-se de ficar tão irado quando descobriu sobre Jihyun estava tendo um caso com Kyuhyun, que simplesmente não pôde se impedir de ir atrás do beta e tomar satisfação. Eles brigaram em suas formas de lobos, até que o Kim ficasse ferido o bastante porque nem o beta mais forte seria páreo para um alfa descontrolado como Siwon, naquele dia. Essa foi apenas a primeira briga. A segunda, que resultou na morte do beta, foi quando Siwon descobriu sobre a gravidez na esposa.

— Kyuhyun pediu por aquilo. — falou de costas para o alfa, respirando fundo afim de acalmar seu lobo. — Eu o mandei ficar longe. Jihyun era minha!

— Ela não era sua! — devolveu. — Ela te odiava! Ela preferiu morrer a ficar com você. — o Kim tocou na ferida e o Byun rosnou na direção do outro, totalmente irritado com aquele assunto.

— Jihyun morreu por isso mesmo, é isso que quer saber? Ela morreu porque me odiava o bastante para não querer viver ao meu lado. Deixou uma criança para trás porque me odiava o suficiente pra isso. — Siwon disse, meio sorrindo da sua própria dor em ter sido rejeitado tantas vezes pela esposa falecida. — E tudo isso é culpa daquele Kim.

— Meu irmão não tem culpa pelo que aconteceu.

— Mesmo? Ele podia ter conversado comigo antes de me trair daquela maneira. — sua voz saindo incrivelmente controlada.

— E você podia não ter roubado Baekhyun de mim. — Leeteuk rebateu, finalmente deixando toda o seu ódio aparecer.

Siwon riu enquanto se aproximava da sua cadeira, se deixou sentar ali. Agora entendia porque o Kim estava tão empenhado em ataca-lo daquela maneira. Leeteuk era tão previsível.

— Então é isso? — soltou desdenhoso. — Por que ainda insiste nisso? É bem óbvio que Baekhyun é meu. — ergueu uma sobrancelha, um começo de sorriso no canto da sua boca.

Odiava quando Leeteuk entrava nesse assunto. Sempre duvidando da sua paternidade para com Baekhyun, mas não havia como negar que o garoto era seu filho, já que quando nascera, o amante da sua mãe estava morto há dois anos. E a primeira criança da Jihyun estava morta, mas é claro, Jungsoo insistia no impossível. Sabia que Jihyun tinha tido uma criança, fruto do seu adultério, mas não aceitava que a mesma estava morta mesmo com todas as provas que apontavam para isso e quando não estava insistindo na falsa morte da criança, estava insistindo que Byun Baekhyun era seu sobrinho perdido, coisa que Siwon achava engraçada porque mostrava como Leeteuk estava enlouquecendo.

— Como posso acreditar em você? Nunca vi o corpo do meu irmão. Até onde sei, ele pode muito bem ainda estar vivo como prisioneiro na sua alcateia.

— Você quer os restos dele? — Siwon havia ficado com o cadáver de Kyuhyun, como algum tipo de troféu mórbido que mostrou à esposa ômega, apenas para vê-la sentir a mesma dor que sentiu ao ser traído. — Acho que ainda tenho os seus ossos, então você pode fazer os testes e descobrir como Kyuhyun já estava morto quando Jihyun engravidou. — soltou um suspiro, encostando suas costas no encosto da sua bela cadeira estofada de couro escuro. — E aí pode parar com essa paranoia de que Baekhyun é o seu sobrinho perdido. Ele é meu filhote.

Leeteuk lançou um olhar raivoso para o alfa antes de virar o rosto para o lado. Estava pensando no irmão e em como ele deveria estar vivo agora, talvez casado com Heechul, como o contrato de casamento deles previa. Afinal, o ômega deveria ter sido desposado por seu irmão mais velho em vez de si, como acabou acontecendo. Mas com a morte de Kyuhyun, o contrato acabou sendo assumido por ele. Não conseguia pensar em como seria ver Heechul com outro lobo, dividindo uma cama e uma vida com este, mas ao mesmo tempo não conseguia se impedir de imaginar como seria se o irmão estivesse vivo. Sentia saudades do seu irmão beta.

E sua esperança de ter o irmão de volta, mesmo que só um pouco embutido em outra pessoa era através do seu sobrinho perdido. Tinha certeza de que aquela criança não estava morta, não podia estar. Lembrava-se de Jihyun grávida, a tinha observado às escondidas e sabia como o bebê estava saudável apesar do cárcere privado, no entanto quando o bebê nasceu, simplesmente recebeu a notícia — através dos seus informantes — que a criança nascera morta. Então dois anos depois aparecera Baekhyun. Rechonchudo e quieto nos braços de Donghae, quando os avistara sem querer no parque da cidade.

Até aqueles dois anos, Leeteuk não tinha visto o corpo de Kyuhyun e por isso tinha esperança de que o irmão estivesse vivo e que Siwon pedisse algum tipo de resgate, mas nada acontecera. Porém, ali estava Baekhyun nos braços do segundo esposo do seu ex-amigo.

O alfa tinha plena noção que podia estar se iludindo, mas simplesmente não conseguia parar de ter esperança em um dia encontrar um pedaço do irmão. E esse pedaço podia muito bem ser Baekhyun.

— Eu quero um teste de DNA. — se escutou dizer.

— Não pode exigir nada aqui, Kim. — Siwon respondeu se aprumando em sua cadeira, preparando-se para continuar o seu trabalho como se o que estivesse discutindo com o alfa não fosse nada demais. — Apenas aceite que a sua criança estar morta e que Baekhyun é meu filhote.

No entanto, Leeteuk não estava tão controlado assim. Suas emoções estavam inflamadas o suficiente para que ele avançasse em Siwon, virasse-o em sua cadeira e o segurasse pelo colarinho da camisa, seus olhos perigosamente negros de raiva.

— Aquela criança não estar morta. — demandou o que acreditava. — E eu vou encontrá-la.

— Boa sorte com isso. — o tom divertido em sua boca. — Não vai encontrar nada além de ossos.

— É o que veremos. — Leeteuk desafiou soltando Siwon e se afastando. — E mantenha os seus longe dos meus ou... — deixou no ar.

— Ou o que? Você já estaria morto antes de conseguir chegar perto de um deles. — o Byun ameaçou de volta e dessa vez quem sorriu foi Leeteuk, enquanto erguia as mãos, desdenhoso, e se afastava em direção a saída.

Os olhos de Siwon não o deixaram até que a porta foi fechada, ao passo que no seu pensamento só havia uma coisa: Precisava proteger sua alcateia.

***

Henry segurou o seu copo de café enquanto, sentado à mesa da lanchonete, observava Minseok em pé, em frente ao balcão olhando para o enorme cardápio na parede, tentando decidir o que ia pedir. Suspirou, pois sabia que o ômega ia demorar bastante nisso, já que tinha a tendência a ser indeciso. Virou a cabeça para o lado e o observou o tráfego de pessoas do lado de fora.

Ainda era cedo, não passava das sete e talvez por isso tudo parecia meio congelado, devagar demais denunciando que a cidade estava acordando. Voltou a fitar o seu café. Tinha pedido um simples expresso americano, para ver se conseguia suprir um pouco da necessidade que sempre tinha de provar gostos diferentes. Levou o copo até boca e bebeu devagar ao mesmo tempo que notava a figura de Kim Minseok vindo em direção à mesa.

O ruivo sentou-se à sua frente, no pequeno assento estofado em couro vermelho. Uma fatia de bolo de chocolate no prato que trazia nas mãos. Deixou a fatia sobre a mesa e enquanto afundava o garfo no bolo, perguntou:

— Então?

Retirou um pedaço e comeu ao passo que Henry focava seus olhos no pedaço de bolo do amigo, se perguntando como Minseok conseguia comer doces àquela hora da manhã. Suspirou e deixou o seu copo de café sobre a mesa, abriu o seu casaco e retirou dali um envelope, colocou-o sobre a superfície e o empurrou com a ponta dos dedos em direção ao ômega.

Minseok levantou os olhos da fatia de bolo e fitou o envelope pardo, deitou o garfo na borda do prato e puxou o envelope na sua direção. Estava aberto, então por isso apenas precisou puxar o conteúdo. Era uma carta da Organização. Desdobrou o papel e leu tudo muito rápido, enquanto suas costas se apoiavam no encosto do sofá. Não podia negar que estava ávido por notícias da Organização, afinal sentia saudades do lugar e das pessoas que viviam lá, mas no momento em que processou as palavras, sentiu um frio subir por sua nuca.

— Eles estão investigando, Minseok. — Henry acabou dizendo quando o ômega ficou muito calado depois de ler o conteúdo da carta. — Estão nos chamando de volta, para refazer os testes.

— Isso não pode estar acontecendo. Já fomos classificados. — deixou a carta sobre a mesa, não aguentava mais encarar aquelas palavras.

— Você sabe muito bem porque eles estão investigando. Estão desconfiados, Minseok. — Henry inclinou-se minimamente em direção ao amigo, sussurrando as palavras com urgência. — Vão nos pegar.

O ômega olhou em volta, os olhos nervosos, estava com medo de que alguém os estivesse espionando.

— Não vão. — falou confiante, os olhos se focando nos do Lu. — Já estamos classificados, eles não podem voltar atrás.

— Mas Minseok...

— Esquece isso, Henry. — cortou o amigo e pegou a carta, amassando-a nas mãos e depois enfiando no bolso de trás da sua calça.

Claro que ele estava com medo de ser descoberto, mas não era como se ficar apavorado fosse resolver alguma coisa. E além do mais, Henry já estava apavorado o suficiente por eles dois, Minseok precisava mostrar que tudo ia ficar bem, porque de fato iria ficar. A Organização não tinha como saber da sua mentira, afinal tudo tinha sido muito bem feito, sem chances de pontas soltas. No entanto, mesmo assim não podia se impedir de sentir aquele frio na barriga antecipando algo de ruim, pois Minseok sabia muito bem que não deveria mentir para a Organização.

Mas quando recebera a sua classificação, ficara tão decepcionado consigo mesmo. Não queria fazer parte dos Ômegas Negros, queria ser um dos Vermelhos como seu pai Heechul, porque assim poderia construir algo na sua terra natal, em vez de sempre mudar de nome e cidade como os Negros faziam quase que o tempo inteiro. Contudo, tinha que admitir que estava no lado errado, porque ser um dos Vermelhos se tornava sufocante, as vezes. Já tinha se pegado pensando no peso de uma arma, quase todos os dias, mas acabava empurrando essa vontade para bem fundo do seu ser, porque tinha medo do modo como se identificava mais com esse lado escuro do que com a vida que estava vivendo.

Encarou a sua fatia de bolo. Tinha perdido a vontade de comer aquilo, o pedaço não parecendo mais tão apetitoso aos seus olhos. Acabou suspirando enquanto retirava os óculos do rosto, deixava-os sobre a mesa e fechava os olhos. Aquilo era estressante.

Acreditava que quando estivesse vivendo aqui, todas as coisas iam ser apagadas. Mas não era bem assim, tudo a sua volta estava se agitando. O caos começando devagar, dispersando a energia aos poucos para que tudo começasse de uma vez. Não sabia ao certo o que esperar, a impressão que tinha era que seria atacado a qualquer momento e se isso acontecesse mesmo, sabia que a culpa seria sua. Estava sendo imprudente ao esconder sua natureza assim.

Xiumin? — Henry chamou e Minseok abriu os olhos e o fitou. — Você nunca me disse por que fez isso.

O ômega teve coragem de corar, a vergonha em admitir como sentira medo de si mesmo aparecendo. Voltou a abaixar os olhos, fitou a fatia de torta mais um pouco e então pegou o garfo e comeu um belo pedaço da mesma, queria ganhar tempo para organizar as palavras na sua cabeça.

— Você estava com medo? — o chinês insistiu mais um pouco quando percebeu que Minseok estava tentando fazê-lo desistir do assunto ao começar a comer o bolo.

— Não era medo. — se escutou dizer. — Eu apenas queria ser como meu omma.

— Estava com medo. — Henry confirmou diante da resposta do amigo. — Minseok, segurar uma arma e gostar disso, não te faz um monstro. Eu sei que deve pensar em como isso é ruim. Mas os Ômegas Negros são o escalão de ouro da Organização, ser classificado como um é como... ser o maioral.

O Kim levantou os olhos para fitar o amigo, deixou que as palavras chegassem até em si. Ele sabia sobre a fama dessa classe de Ômegas, sabia como eles eram raros já que formar alguém com esse grau de eficiência era difícil. Era por isso que em uma classe de vinte ômegas, apenas dois ou três chegavam a ser classificados como Negros. Minseok deveria se sentir um sortudo, quando iria receber mais privilégios do que se era esperado e ele se sentia muito sortudo, mas simplesmente não conseguia eliminar da sua cabeça a ideia de que estaria indo por um caminho totalmente diferente do que o seu pai tinha planejado. Afinal, Heechul era um Vermelho e no fim das contas, o Kim mais novo só queria a estabilidade que a vida dos Ômegas Vermelhos tinham.

— Eu sei o que estou fazendo, Mochi. — usou o apelido do amigo e Henry suspirou, não ia insistir, pois só ele sabia como Minseok podia ser muito teimoso quando queria.

Segurou no seu copo de café e voltou a beber o seu conteúdo, ao mesmo tempo que via o ruivo virar o rosto para o lado e olhar através da janela, tinha perdido o interesse na fatia de bolo. Henry se perguntou no que o amigo tanto pensava, no entanto não precisou esperar muito para que a resposta viesse:

— Não quero me casar com Oh Sehun, Henry. — falou sem tirar os olhos da janela. — Estou com medo de gostar dele e depois perde-lo.

— As pessoas morrem o tempo inteiro, Min. Nós fomos feitos para perder. — o ômega repetiu o que sua professora sempre lhes dizia durante os treinos.

O Kim abaixou o rosto. De repente estava pensando nas consequências das suas escolhas e em como elas estavam afetando a vida de todos, porque era bem óbvio que se tivesse aceitado a sua cor, teria ficado na França, fazendo o possível para manter tudo longe do caos. Soltou um suspiro, não achava que isso podia estar acontecendo, mas estava desejando aquela vida em vez dessa. Pela primeira vez desde que tomara essa decisão, estava sentindo-se sufocado. Dissimular o tempo inteiro era cansativo...

— Eu vou escrever a diretoria. — falou, do nada, pegando Henry totalmente de surpresa.

— O que? — assustou-se.

— Vou contar à eles o que fiz.

— Mas Minseok...

— É o certo. — interrompeu o amigo e Henry engoliu em seco, já estava prevendo que isso não ia terminar bem.

Minseok se colocou de pé, não tinha terminado a sua fatia de torta. Pegou os óculos de cima da mesa e colocou no rosto.

— Vamos? — perguntou simplesmente como se não tivessem conversado sobre algo sério ainda agora. — Ainda temos que passar no mercado.

— Claro. — Henry concordou como que preso em um sonho, segurou o copo de café nas mãos e ficou de pé, apenas para seguir o ruivo pra fora da lanchonete.

E quando lá fora, o chinês segurou na mão do mais velho e lhe presenteou com um sorriso encorajador. Ia dar certo, pensou mesmo que ele não acreditasse muito nisso.

***

O jantar foi servido como de costuma e como de costume, todos estavam muito bem sentados em seus lugares, a postura reta e o rosto sem muita emoção. Siwon notou que Donghae parecia distraído, fitando os legumes no seu prato sem muito interesse, parecia até mesmo um pouco enjoado. Sentia pela marca que seu ômega não estava nada bem. Será que estava doente? Pensou em perguntar, mas engoliu as palavras, pois ainda estava bravo pelo modo como tinha sido enganado pela própria família.

Enfiou a ponta do garfo no pedaço de frango no seu prato e olhou de soslaio para o filho mais velho, sentado na ponta da mesa, no lado esquerdo. Não era uma mesa grande. Tinha apenas seis lugares, então por isso Baekhyun não estava longe de si. Siwon estava sentado no meio da mesa, com Donghae à sua frente e Chanyeol no lugar à sua esquerda, antes da ponta — onde Baekhyun estava. O alfa mais jovem parecia entretido em mastigar a comida, o castanho dos seus olhos desfocado demonstrando que não estava realmente ali.

Chanyeol, ao seu lado, parecia estar do mesmo jeito e Donghae, à sua frente, estava franzindo a testa, como se sentisse dor. E mais uma vez sentiu vontade de ficar de pé e pegar Donghae nos braços, pois o seu lobo alertava que havia algo de errado com seu ômega. Ignorou isso. Ignorou o instinto de alfa.

— Então, Baekhyun, hoje me encontrei com o Cerimonialista — quebrou o silêncio, atraindo os olhos do filho na sua direção, abandonando os pensamentos e ficando alerta na menção do seu nome. — Temos alguns pretendentes para você. Na semana que vem, vai sair com cada um e escolher com quem quer se casar. — ditou apenas para no segundo seguinte comer um pedaço de cenoura, calmo demais.

— Casar? — o Byun soltou, confuso, não sabia se tinha escutado essa palavra mesmo.

— Sim, casar. — confirmou. — Já está na hora, afinal já tem 21 anos. E logo depois que planejar o seu vou conseguir um casamento para Chanyeol também.

— Appa. — o filho caçula se apressou em dizer, sobressaltando-se quando teve seu nome enfiado na conversa sem mais nem menos.

Não queria casar. Quer dizer, não queria que o pai planejasse o seu casamento, pois sabia que todos os pretendentes que o Cerimonialista teria, nem um deles seria Kyungsoo. E o alfa queria tanto que Kyungsoo fosse seu, que lhe doía o peito pensar apenas na possibilidade de nunca tê-lo. Tinha certeza que isso significava que o seu lobo havia escolhido Kyungsoo como seu ômega, pois o mesmo sempre se revirava em seu peito, querendo o calor do Kim.

— O que? — Siwon soltou, tendo coragem de soar divertido. — Não achou que fosse casar com aquele Kim, não é? — revelou de uma vez, fazendo todos presentes na mesa, prenderem a respiração.

Chanyeol abaixou os olhos, não sabia o que fazer além de sentir vergonha do fato de ter escondido isso por tanto tempo. Baekhyun, engoliu em seco, a mente trabalhando a mil, tentando encontrar argumentos para usar em favor do irmão ou apenas tentando prever o próximo passo do pai, pois já havia percebido como Siwon estava irritado. Donghae, à frente do marido, apenas se encolheu diante do tom duro que o alfa usara. Não estava se sentindo bem naquele começo de manhã e aquele mal-estar tinha lhe perseguido durante o dia e agora se sentia imensamente enjoado apenas com o cheiro dos legumes cozidos no seu prato.

— Appa, eu ia... — Chanyeol foi quem tomou coragem para dizer alguma coisa.

— Ia esconder isso de mim pela vida inteira pelo visto. — Siwon falou soando irritado, jogou os talheres contra o seu prato e simplesmente espalmou as mãos na mesa, forte o suficiente para que os pratos de todos pulassem e fizesse os três se encolherem diante da sua ira. — Vocês enlouqueceram?! — esbravejou, totalmente descontrolado. — Tantos malditos ômegas por aí e você foi logo se envolver com a cria daquele Kim. — se dirigiu a Chanyeol, que ainda permanecia de cabeça baixa.

— Eu o amo, appa. — disse baixo e Siwon revirou os olhos enquanto rosnava.

— Ama nada. — rebateu e empurrou a cadeira para trás, ficou de pé. — E quanto a vocês dois, — continuou, as mãos espalmadas sobre a mesa, apoiando o seu corpo. — Baekhyun está dispensado dos compromissos da empresa e do casamento. Chanyeol vai casar primeiro. — decidiu de última hora, fazendo o alfa levantar o rosto e fita-lo, assustado.

— Não! — protestou e Siwon rosnou na sua direção, fazendo-o se encolher na cadeira.

— Vai deixar aquele ômega de lado e nunca mais vai olhar na mesma direção que ele. — mandou e Baekhyun abaixou os olhos, fechando-os bem apertando enquanto escutava o pai falando com Chanyeol, conhecia o pai bem o suficiente para saber que o Byun não voltaria atrás quando terminasse de ditar a sentença do mais novo. — Está fora de cogitação qualquer...

— Siwon, querido, — Donghae o interrompeu, a voz baixinha e os olhos fitando a superfície da mesa. — Chanyeol escolheu Kyungsoo como seu ômega. — argumentou e isso deixou o alfa com mais raiva ainda.

— Não diga besteiras, Donghae. — então se desencostou da mesa. — Eu não me importo com o que a porra do lobo dele escolheu: Chanyeol não vai casar com um Kim, nunca!

— Não tem o direito de escolher por mim. — Chanyeol de pôs de pé, sua áurea de alfa ficando perigosamente forte e Siwon ficou de frente para o filho, seus olhos ficando muito claros.

Donghae sabia que eles iam se enfrentar. Talvez, até rolassem no chão em uma briga, porque era óbvio que eles dois estavam entrando numa de mostrar quem era o mais forte. O ômega fez algum esforço para ficar de pé, se sentia tão drenado e nem ao menos sabia porquê. Queria o corpo de Siwon junto do seu, pois sabia que só assim aquele mal-estar ia cessar, pois a marca roubaria um pouco da força vital do seu marido para si. Era pra isso que uma marca servia, no fim das contas, além do fato de liga-lo como parceiros, compartilhava bem mais do que as emoções um do outro.

— Siwonie... — o Lee tentou, usando o apelido que dera ao marido, mas o mesmo nem sequer olhou na sua direção quando disse:

— Fique fora disso. Afinal, já ajudou demais quando me enganou.

O Lee engoliu em seco e se apoiou na mesa, sentia seus olhos começarem a arder. Siwon nunca era ríspido daquela maneira consigo. Às vezes rosnava na sua direção, quando irritado, mas nunca tinha usado aquele tom cheio de raiva. Foi como levar um tapa. Sentia seus olhos começarem a marejar e a sua cabeça doer, se sentia meio tonto. Mordeu o lábio, querendo impedir o primeiro soluço de sair.

— E você ajudou também, não é Baekhyun? Encobrindo o seu irmão quando ele se encontrava com aquele garoto. — Baekhyun teve a decência de desviar os olhos do rosto do pai.

O Byun ainda estava sentado à mesa, sem coragem alguma de ficar de pé e ajudar o irmão em seus argumentos falhos. Realmente se sentia um traidor. Tinha traído a confiança do pai neles ao ajudar Chanyeol naquele romance fracassado. E logo com um Kim. Um maldito Kim, da mesma alcateia que destruirá a vida da sua mãe.

— Appa, eu... — tentou formular um pedido de desculpas, mas não conseguiu.

— É um traidor. — Siwon acusou.  — Todos vocês são. — olhou em volta para o filho caçula e para o marido. — Mas quem se importa com isso, não é? Vocês só estão pensando na porra do amor. Porém, querem saber de uma coisa: Kim Jungsoo foi até o meu escritório hoje me falar sobre como Chanyeol era um espião agindo sobre minhas ordens para conseguir informações sobre o clã Kim usando um dos seus filhos.

— Isso é mentira. — Chanyeol se defendeu. — Kyungsoo e eu nos amamos.

— Dane-se! — esbravejou em direção ao filho, que se encolheu. — Isso não é sobre amor, não é sobre nenhuma porra de sentimento. Será que não entendem como isso prejudica a estabilidade entre as alcateias? Leeteuk acredita que estou planejando algum golpe contra ele e por isso vai nos atacar primeiro, e tudo isso por que? Porque Chanyeol não conseguiu encontrar outro buraco para foder!

— Não fale assim! — O caçula tentou.

— Cale a boca! — Siwon ergueu a mão em direção ao filho e Chanyeol sentou-se, assustado com a possibilidade de levar um tapa, mas o Byun abaixou a mão no último segundo.

— Siwon, não é assim. — Donghae se pronunciou, o rosto levantado, procurou os olhos do marido, mas Siwon desviou e isso doeu no ômega. — Se explicarmos a Leeteuk sobre... — tentou falar, não sabia ao certo o que estava argumentando, só queria ajudar o filho a ficar com Kyungsoo.

— Explicar? Eu não devo explicações sobre o que não fiz aos Kim’s.

— Appa... — Baekhyun começou. — Omma pode ter razão, talvez se nós...

— Donghae não é seu omma. — consertou e o ômega, do outro lado da mesa, arfou, totalmente chocado com o que o marido tinha dito.

Era claro que era omma de Baekhyun. Foi ele quem criou o alfa, que o alimentou e que o ajudou em tantas coisas. Baekhyun era seu filhote, sim. E ouvir Siwon dizer o contrário, o machucou de tal maneira que nem ao menos percebeu quando a primeira lágrima desceu por seu rosto.

— Sua omma se chama Jihyun e está morta por culpa de um Kim. — falou. — Ou já esqueceu disso? Você acima deles devia ter tentado impedir isso, Baekhyun, em vez de acobertar. — balançou a cabeça em negação. — Eu esperava mais de você. Esperava bem mais de todos vocês. — ficou o marido, que se encolheu em vergonha.

Donghae nunca tinha lhe parecido tão frágil quando naquele momento, ao se encolher daquela maneira diante do seu olhar duro de raiva e decepção. Não estava realmente com raiva porque Chanyeol estava namorando com Kyungsoo, estava sentindo-se traído. Não esperava que sua própria família pudesse traí-lo dessa maneira, o enganado por tanto tempo ainda mais sabendo como tudo dependia de política e não de sentimentos.

Olhou para baixo e soltou um suspiro. Acabou por dar as costas aos filhos e marido, com raiva demais para continuar ali e se machucar mais com a certeza da traição.

O Lee observou as costas do marido, sentia pela marca como ele estava confuso e sentindo-se enganado. Se desencostou da mesa, queria ir atrás dele, pedir desculpas por ter escondido algo dessa gravidade de si. Não queria perder a confiança do marido, afinal tinham demorado tanto para chegar no nível que estavam agora. Siwon tinha demorado tanto tempo para dizer que o amava, que agora só sentia medo de regredir ao começo ou de ser tratado com indiferença.

Deu um passo em direção ao alfa, abriu a boca para dizer o seu nome, mas sentiu-se tão imensamente tonto que voltou a segurar na superfície da mesa. Sentia que cairia no chão se fizesse algum tipo de esforço. Baekhyun percebeu e se apressou em ir em direção ao ômega.

— Omma. — preocupou-se, fazendo-o se apoiar em si.

Siwon virou no último segundo, estava a um passo de sair da cozinha. Seu lobo estava implorando por Donghae e havia sentido uma fisgada no seu peito. Encontrou a figura do seu ômega, meio apoiado no filho, o rosto muito pálido. Sem pensar muito correu até ele e afastou Baekhyun, pegou Donghae no colo.

— Siwonie. — ele chamou, tão baixo, fraco demais.

— Ei, ei. — o alfa chamou quando percebeu que o ômega estava quase fechando os olhos. — Não durma. — pediu e lançou um olhar para o filho mais novo.

Chanyeol levantou-se com os olhos arregalados e correu para fora da cozinha, atrás do médico da alcateia, totalmente esquecido do que havia acontecido naquela cozinha. Sua mente só conseguia se concentrar no fato de que o seu omma estava doente.

O líder Byun ajeitou o ômega nos seus braços e começou a sair da cozinha.

— Diga para o médico subir. — falou a Baekhyun e o alfa assentiu, entorpecido.

Estava desorientado, não sabia o que fazer ou pensar. O que aconteceu com Donghae? Estava doente? Ia morrer? A preocupação embolava as perguntas na sua mente e por isso não conseguia processar o que estava acontecendo diante dos seus olhos. Ficou parado, perto da mesa, meio encostado no móvel enquanto via o pai sair da cozinha com o ômega nos braços, sussurrando alguma coisa pra o mesmo. Parecia terrivelmente preocupado, nunca tinha visto pai daquela maneira.

Quando Chanyeol apareceu com o médico, ainda estava parado no mesmo lugar. Apontou o quarto dos pais, no segundo andar e viu os dois irem em direção ao lugar. Devia ir também, sabia disso. Devia ir para saber como seu omma estava, mas simplesmente não conseguia se forçar a fazer isso. Pois de uma forma totalmente nova, estava se punindo. Aquilo tinha sido sua culpa, no fim das contas. Se ele tivesse impedido Chanyeol desde o começo, eles não teriam terminado naquela discussão na cozinha e seu pai Donghae, não teria passado mal.

Era tudo culpa sua.


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