Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 12
X - O acordo




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Kyungsoo observou quando Minseok saiu do banho, a toalha felpuda enrolada na sua cintura, deixando o seu tronco exposto. Estava diferente. Mais encorpado, nada das gordurinhas que costumava ter quando mais novo. Notou uma cicatriz perto do quadril e um aranhão esbranquiçado atrás do ombro esquerdo. Não lembrava dessas cicatrizes e por isso sabia que não tinham sido fruto da infância. Será que havia sofrido algum acidente na escola? Como podia ter ganhado algo tão irregular como aquela marca no seu quadril?

No entanto, o que mais lhe surpreendeu foi o momento que o gêmeo virou-se de lado, deixando a sua lateral direita exposta para si. Havia algo pior do que aquelas cicatrizes na sua pele, havia uma tatuagem ali. Sobre as suas costelas, uma figura se destacava na sua pele clara, era o símbolo matemático Ômega (Ω) tatuado ali.

— Você tem uma tatuagem! — exclamou assustado, porque nem mesmo ele que sempre foi o mais maluco entre os irmãos, tinha uma.

Minseok olhou para o gêmeo olhava e viu a sua tatuagem exposta, corou mas depois sorriu, afinal não havia nada demais em ter uma tatuagem.

— Um presente da França. — contou, soando divertido. — Mostra quem eu sou. — explicou o significado da tatuagem, porque além de mostrar que era um ômega, contava também a quem pertencia.

Era o slogan da organização que fazia parte. Heechul tinha uma também, no calcanhar do pé esquerdo. E Henry também tinha uma, na nuca. Todos eles tinham uma, espalhada em alguma parte do seu corpo, para mostrar a quem pertenciam e o que faziam. E também para serem reconhecidos entre os iguais.

— Nosso omma vai pirar. — Kyungsoo disse, obviamente muito surpreso.

Minseok riu mais um pouco. Nunca que achava que Kyungsoo ia ligar para o que Ryeowook pensava, quando tudo que fez na adolescência foi desobedece-lo.

— Eu já tenho vinte e um, Soo. — rebateu terminando de se vestir. — E então? Vamos?

Tinha colocado apenas uma camisa e uma calça jeans, com suas botas. Adorava botas, pois sempre se sentia muito elegante ao usa-las. Kyungsoo olhou para o modo como o irmão estava vestido, devia parecer despojado mas tudo que o ômega mais novo via, era como ele parecia terrivelmente elegante com aquelas roupas simples. Não combinava com a aldeia Kim, onde todos usavam qualquer coisa.

O Kim até mesmo olhou para as roupas que estava usando, se sentindo intimidado pelo modo como Minseok parecia tão... tão... tão altivo... tão elegante.

— Vamos. — se escutou dizer, com um fio de voz e teve sua mão segurada pela do irmão mais velho.

O ruivo sorriu para si e começou a puxa-lo em direção a saída do quarto. Eles iam almoçar e depois iam passear pela vila, Kyungsoo tinha dito que iria lhe mostrar como tudo estava diferente em cinco anos. Por isso, Minseok parecia mais animado. Queria saber como todos da Alcateia estavam, então sentou-se à mesa da cozinha junto com seus pais ômegas e seus irmãos.

A sua postura estava ereta, do jeito que lhe foi ensinado, colocou o guardanapo sobre as coxas e ajeitou os talheres por ordem de uso na sua frente e só então levantou o rosto para fitar a comida. Porém, pegou o olhar de todos sobre si, como ele tivesse feito algo de errado. Menos Heechul lhe olhava com surpresa, porque ele estava sentado do mesmo jeito. Tudo perfeitamente organizado na sua postura e em seus talheres. O ômega deu um sorrisinho para o pai, porque eles se entendiam ao passo que Junmyeon achava estranho o jeito educado do irmão, Ryeowook sentia uma pontinha de orgulho e Kyungsoo, se sentia terrivelmente errado.

Desde que o gêmeo chegara, Kyungsoo não conseguia parar de comparar-se a ele. Percebendo o quanto parecia inferior perto da educação digna de príncipes que Minseok tinha. Era meio frustrante, sabia disso, em parte porque não deveria fazer isso consigo mesmo. Pois Minseok era diferente de si, não era só porque eles eram gêmeos que tinham que ter gosto iguais e personalidades iguais. Mas Kyungsoo ainda se lembrava do modo como seu pai ômega os vestia iguais, quando crianças. Eles eram duas partes de um todo, certo? Então por que ele sentia como se já não soubesse quem era Minseok?

Era nisso que estava pensando quando terminaram o almoço e correram para a floresta. Minseok havia concordado em brincar de pique-esconde com os irmãos. Junmyeon tinha corrido na frente dos dois, dizendo que iria se esconder enquanto o loiro tinha ficado encarregado de procurar os irmãos. Kyungsoo observou quando o irmão encostou a cabeça no tronco de uma árvore e começou a contar alto o suficiente para que qualquer um deles escutasse. E sem esperar nada, o ômega saiu correndo afim de se esconder, estava rindo durante o caminho. Se sentia uma criança novamente.

O gêmeo escutou os passos do irmão ômega se afastarem, de olhos fechados inclinou a cabeça na direção do som guardando a informação de que ele fora para esquerda enquanto capturava o cheiro de Junmyeon vindo do sul da floresta. Ia ser uma bela caçada, pensou divertido pois adorava essa brincadeira. Era divertido caçar os seus companheiros ômegas na época da escola, assim como era muito divertido brincar de se esconder com Henry. Só Henry era capaz de acha-lo, quando este era a presa em vez do predador, como agora.

Ao chegar no cem, desencostou a cabeça dos braços e abriu os olhos, ficou de costas para o tronco e olhou em volta. Tudo estava silencioso.

— Lá vou eu! — gritou, para avisar os seus irmãos.

Ocupou-se durante um momento em tirar as suas roupas. Deixou-as no pé da árvore e então transmutou-se em lobo. O tom caramelado do seu pelo se destacando no meio daquela floresta. Deitou-se no chão e rolou nas folhas, queria disfarçar o seu cheiro, para impedir que seus irmãos soubessem que estava se aproximando. E depois de se sujar bastante com a terra e folhas, correu pela floresta. Primeiro foi em direção ao cheiro de Junmeyon, pois sabia como seria mais difícil encontra-lo, afinal o irmão alfa era ótimo em estratégias. Era por isso que gostava de jogar xadrez consigo quando eram mais novos.  

Não encontrou sinal algum do irmão no caminho que pegara. Verificou o caminho para saber se ele tinha se transformado ou não em lobo, mas não achou nenhuma pegada, então indicava que ele ainda estava na forma humana. Andou vagarosamente, não queria fazer barulho pelo caminho e ser descoberto. Levantou a cabeça para sentir o cheiro, e acabou sentindo o cheiro forte de Jun. Seguiu o caminho, que achava o certo. Mas tinha certeza que estava sendo enganado, porque Junmyeon nunca deixaria o seu cheiro a mostra assim. Então decidiu fazer o caminho inverso.

Voltou por onde tinha vindo, indo direto para o ponto de início. Subiu em uma árvore, com certa dificuldade e com sua visão maximizada pela transformação olhou de cima, atrás de alguma pista do irmão. Mas ao contrário do que imaginou, avistou as roupas de Kyungsoo jogadas sobre folhas secas, não muito longe dali. Sorriu por dentro. Ia pegar Kyungsoo primeiro e depois iria se divertir procurando Junmeyon.

Desceu da árvore com um salto e correu na direção que viu as roupas do irmão. Acabou encontrando um lago, jogou-se ali e depois rolou na terra. Disfarçando melhor o seu cheiro. Resolveu fazer pegadas falsas, fingindo que estava indo para um lado. Depois voltou a sua forma humana e subiu na primeira árvore que achou, começou se locomover através dos galhos da mesma. Pulando de uma árvore a outra, olhando de cima o progresso do seu plano.

O primeiro a cair na sua armadilha fora Kyungsoo. Ele viu o irmão sair debaixo de um amontoado de folhas secas, estava na forma de lobo. O pelo tão escuro quanto a noite se disfarça entre as folhas secas, sendo difícil vê-lo e o cheiro das folhas abafava o seu, floral. Minseok achou interessante o esconderijo do irmão, mas não era mais interessante que o seu. Sorriu, divertido demais quando percebeu que Kyungsoo notou as suas pegadas falsas e por isso seguiu na direção contraria, em direção ao começo. Porque o primeiro que tocasse o tronco, onde fizera a contagem, ganhava.

Seguiu o irmão por entre as árvores, enquanto ele corria em direção ao ponto de encontro. E sem aviso prévio algum, pulou em cima do irmão, transformando-se em lobo durante o salto e caindo com tudo sobre Kyungsoo. O gêmeo ficou tão assustado com o ataque repentino, que não teve tempo de se proteger. Quando deu por si, Minseok estava acima de si, rosnando contra o seu rosto, como se estivesse dizendo “te peguei”. Os olhos do irmão estavam perigosos sobre si, o avelã tão bonito.

Kyungsoo se encolheu e transformou-se em humano novamente, os olhos assustados. Nunca tinha visto Minseok levar algo tão a sério quanto aquilo. Era para ser uma brincadeira, pensou, então porque ele parecia tudo menos divertido? O que o moreno via nos olhos do irmão não era nada além de uma diversão sádica, como se tivesse pegado sua presa.

O lobo caramelado deixou sua língua escorregar por sobre a bochecha do irmão, estava o marcando com seu cheiro, mas Kyungsoo acreditou que era o modo do irmão o tranquilizar. Mas antes que pudesse dizer algo, Minseok já estava saindo de cima de si e correndo floresta a dentro, pois tinha escutado um barulho não muito longe dali.

Kyungsoo continuou deitado onde estava, a terra pinicando suas costas nuas e a mente vazia. Não demorou nem cinco minutos até que Minseok voltasse com Junmyeon sobre suas costas, amarrado. O ômega teve vontade de rir de nervoso, porque não entendia como aquela brincadeira se tornara tão séria para o irmão mais velho. Sentou-se no chão a tempo de ver o corpo do irmão alfa ser jogado no chão, as mãos e pés amarrados e Minseok transforma-se em humano novamente.

— Eu ganhei! — exclamou, sorrindo aberto e dando pulinhos animados.  

Junmyeon revirou os olhos antes de bufar, se sentia muito burro por ter pisado em falso naquele momento e alertado Minseok da sua localização, mas tinha que confessar que tinha adorado brincar com Minseok de pique-esconde. Pareceu-lhe mais emocionante. Por outro lado, Kyungsoo ainda se sentia acuado e nem um pouco divertido.

— Quero uma revanche. — Junmyeon pediu se contorcendo nas amarraras que Minseok fez nas suas mãos e pés, usando cipós.

— Dessa vez você conta. — o gêmeo disse e o alfa sorriu.

Mas ninguém perguntou se Kyungsoo queria continuar com a brincadeira, assim como nenhum deles parecia se importar com isso. O ômega se sentiu excluído, mas não saiu da brincadeira. Ele continuou ali, tentando se divertir com os irmãos enquanto Junmyeon parecia impressionado com as coisas que Minseok podia fazer. Os dois trocaram ideias sobre camuflagem, riram de Kyungsoo por não conseguir ganhar nenhuma das vezes que brincaram e quando a noite caiu, Minseok se ofereceu para carregar o gêmeo. Tinha notado o quanto ele estava se sentindo desconfortável com toda aquela aproximação com o irmão alfa, mas não era como se pudesse fazer alguma coisa quando ele e Junmyeon sempre se entenderam quando o assunto era lutas, armas e estratégias.

Kyungsoo estava nas costas do irmão gêmeo, se sentindo abandonado e fazendo um bico tão grande que arrancava risadinhas do ômega mais velho enquanto Junmyeon também ria baixo. Ele sabia como Kyungsoo tinha puxado o gênio de Ryeowook, ciumento demais para admitir.

— Quero você só pra mim hoje. Não quero o Jun lá em casa. — demandou e Junmyeon revirou os olhos.

— Hoje tem festa do pijama, Soo. — Minseok disse. — O Jun é nosso irmão, ele tem que estar lá também.

— E não esquece que Sehun vai estar lá também. — o alfa se pronunciou para total descontentamento do ômega mais novo, ele tinha esquecido de Sehun.

— Por que ele tem que estar lá? Ele já vai roubar o Min de mim, eu tenho direito de ter uma festa privada com meu irmão gêmeo. — parecia uma criança mimada, Minseok pensou, mas entendia o irmão.

Tinham passado tanto tempo longe, não é?

— Sehun não está roubando o Minnie. Podemos visita-lo quando quisermos e o Min sempre pode vim aqui quando quiser.

Kyungsoo bufou.

— Relaxa, soorujinha. — Minseok usou o apelido de infância para tranquilizar o irmão. — Sempre vou estar aqui para você. — Kyungsoo sorriu com isso, mas assim que passaram pela entrada da casa teve o seu rosto contorcido em uma carranca.

Junmyeon percebeu e engoliu em seco, porque Kyungsoo com raiva era alguém um pouco assustador. No entanto, antes que pudesse dizer “relaxe” Minseok soltou o irmão e correu, com as roupas sujas em direção a pessoa que estava em pé no meio da sala da casa.

— Henry! — abraçou o ômega tão forte que Kyungsoo teve inveja.

Xiumin. — Henry usou o apelido que dera ao amigo, ninguém o chamava assim além dele.

Eles pareciam tão íntimos, Kyungsoo pensou derrotado que se limitou a dar um suspiro e sair dali, em direção ao seu quarto, deixando Minseok com seu super amigo da França. Junmyeon viu o irmão ômega se afastar e foi atrás dele, afim de consola-lo. Sabia que ele estava se sentindo traído. Enquanto isso Minseok separava-se do amigo chinês para fita-lo.

— O que faz aqui? — perguntou, a voz saindo preocupada.

Henry ergueu a sobrancelha e olhou em volta, viu a figura de Heechul encostada no batente da porta, seus olhos escuros sérios sobre os dois. Eles faziam parte da mesma organização e por isso ambos sabiam que uma visita assim significava algo importante.

— Meu chefe quer falar com você. — Henry disse.

Minseok piscou confuso.

— Nosso chefe? — perguntou.

— Não, o líder da minha Alcateia exige uma reunião com você. — explicou e o garoto entendeu.

Seus olhos vagaram até o pai ômega e Heechul comprimiu os lábios, não podia se meter nos assuntos do filho. Cada um deles tinha o seu próprio propósito.

— Ele soube que você vai se casar com Oh Sehun. — continuou, dando a entender que apenas Minseok parecia ser o último a saber daquilo. — E me mandou porque sabe que somos amigos e que confiaria em mim.

— Isso é bem estranho. — disse e andou até a cozinha sendo seguido pelo amigo. Passou pelo pai e foi até a geladeira pegou um pouco de água. — Depois do que aconteceu, eu achei que Lu Han nunca mais fosse querer olhar na minha cara. Ele até mesmo me baniu do seu território. — soltou uma risada no final e Henry acompanhou.

— Você o provocou. — defendeu o líder ômega. — Devia tê-lo deixado ganhar.

— Nhá. — desdenhou deixando o copo vazio sobre bancada da pia e olhou para o pai, que parecia um pouco perdido na conversa. — Lu Han é o líder dos Lu’s. — contou. — Estudamos juntos e durante o Festival do seu décimo oitavo aniversário, ele fez uma competição. Eu ganhei dele na luta corpo a corpo. — deu de ombros.

— Na frente de toda a alcateia Lu. — Henry falou cruzando os braços. — Todos ficaram achando que Lu Han não era forte o suficiente para vencer um estrangeiro. E Minseok o provocou durante o resto dos dias de festa, fazendo questão de ganhar em qualquer jogo que competisse.

Heechul soltou uma risada, pois não conseguia acreditar na loucura do filho em enfrentar um líder Lu daquela maneira. Parecia consigo quando mais novo, quando teve uma pequena rixa com uma Park na época da escola.

— Eu não tenho culpa de ser tão bom. — se vangloriou.

— Tome cuidado Minseok. — Heechul alertou. — Han vem de uma grande linhagem de guerreiros, ele não vai ser benevolente para sempre com a sua implicância.

— Foi ele que começou com isso quando destruiu minhas roupas. — revelou, cruzando os braços e fazendo um bico como uma criança mimada.

Dessa vez, quem riu, foi Henry. Lembrava-se do trote com os ômegas recém-chegados na Academia.

— Nem parece que era o melhor da turma com esse comportamento. Vamos lá, Xiumin. Vista-se e vamos logo, não tenho tanto tempo e aposto que nem você.

Minseok comprimiu os lábios e fez o que foi pedido, afinal estava curioso sobre o que Han queria consigo, quando eles se odiavam mais do que tudo. Porém, ao entrar no seu quarto para tomar um banho rápido e trocar de roupa, não encontrou nenhum dos seus irmãos ali. Por um momento agradeceu por aquilo, porque estava ficando cansado de sempre omitir coisas deles. Fazia-o se sentir um pouco mal, mas sabia que era necessário. Não podia sair por aí contando sobre o que fazia.

Arrumou-se rápido e com o cabelo ainda úmido encontrou Henry na cozinha, seus irmãos estavam ali também junto de Heechul.

— Então vocês estudaram juntos?  — Kyungsoo estava perguntando, os braços cruzados.

O Kim soltou um suspiro, sabia que Kyungsoo estava sendo ciumento e por isso sabia que ele desconfiaria de Henry, no entanto não tinha tempo para as crises de ciúmes do irmão. Tinha coisas mais importantes para se preocupar, como o encontro com Lu Han.

— Vamos. — disse simplesmente, aparecendo na entrada da cozinha, a voz saindo séria demais.

Henry olhou para o amigo e depois fez uma reverência aos outros três então começou a se afastar em direção ao amigo ruivo.

— Onde estão indo? — Kyungsoo perguntou se apressando em ir atrás do irmão.

— Na cidade. — Minseok disse, não era exatamente mentira. — Vou deixar Henry na rodoviária, afinal ele só veio fazer uma visita rápida.

— Ah, deixe-me ir com vocês, tenho algo para fazer na cidade. — não tinha, mas estava com tanto ciúmes de Henry, que colaria em Minseok apenas para não deixa-los sós.

Minseok suspirou enquanto olhava para Henry, pedindo socorro, porque ele sabia que Kyungsoo fosse, as coisas iam dar errado.

— Do que precisa? Podemos comprar. — Henry disse, simpático.

— Você não saberia, tenho que ir eu mesmo.

O ômega virou-se para irmão gêmeo ao mesmo tempo que fechava o zíper do seu casaco. Não queria ser grosso, mas sabia que Kyungsoo não o deixaria em paz até que o levasse.

— Ótimo. — disse por fim. — Pegue o seu casaco e venha conosco.

Henry lançou um olhar reprovador para si, mas Minseok desviou o olhar ao passo que Kyung pegava o seu casaco e corria animado até o irmão, se sentia vitorioso por conseguir a companhia do irmão. Por outro lado, o ômega mais velho sussurrou para Henry como deveria ligar para Lu Han e escolher outro lugar para o encontro. E foi assim que eles três terminaram dentro de um supermercado perto da rodoviária.

Kyungsoo estava fingindo que procurava alguma coisa em uma prateleira utensílios de higiene enquanto Minseok tinha desaparecido em um dos corredores, alegando que queria alguma coisa. Deixou Henry com Kyungsoo, para impedi-lo de vir até si enquanto ele não terminasse o que tinha para conversar com Lu Han. E foi no corredor dos congelados que encontrou o chinês líder da Alcateia Lu.

Estava usando um gorro azul, um cachecol vermelho em volta do pescoço e um casado de couro completavam o seu visual de frio, parecia um adolescente vestido daquele jeito e por um momento Minseok se perguntou se ele era realmente mais velho que si. Andou até o ômega, parando ao seu lado enquanto ele se mantia encarando as frutas disposta à sua frente, nas cestas.

— Por que me fez vir aqui? — perguntou sem cerimônia alguma.

— Sempre tão sutil, não é? — Lu Han devolveu e se abaixou para pegar uma maçã e foi só então que Minseok notou que o ômega estava segurando uma cesta de plástico de compras na mão esquerda. — Tenho algo importante para tratar com você. — colocou mais uma maçã na sua cesta. — Preciso de ajuda.

Minseok esperou, surpreso demais para dizer alguma coisa pois só ele sabia como aquele ômega era orgulhoso. Era o líder solitário da sua pequena alcateia de ômegas. Tinha sido escolhido como líder muito novo e estava naquela escola francesa para aprender como ser um líder perfeito, Minseok conhecia a sua história de vida assim como sabia de como Lu Han protegeria a sua Alcateia com toda a sua alma e se estava se dando ao trabalho de pedir ajuda, era porque o que quer que havia acontecido na Alcateia Lu, era grave o suficiente para fazer o chinês engolir o seu orgulho.

— O que aconteceu? — Minseok enfiou as mãos no bolso do seu casaco e encarou as maçãs que Lu Han colocava na sua cesta. Tinha contado seis até agora.

— Minha alcateia na América do Sul está morta. — contou. — Todos eles, incluindo as crianças e os velhos. Todos mortos, Minseok.

— Foram atacados? — tentou não parecer alarmado, por isso controlou o seu tom para parecer calmo afinal estavam em um encontro secreto.

— Ao que tudo indica, sim. Alguém tentou rapta-los, leva-los para vender, talvez. Não sei, por isso todos usaram o código 07.

O Kim sabia sobre código sete. Era código da morte, feito para qualquer ômega que fizesse parte da organização e para os Lu’s, que eram os que mais usavam pois como eram os ômegas de sangue raro, eram muito caçados por outras alcateias para serem usados e exibidos como animais exóticos. Não eram lutadores, eram conhecidos por sua fragilidade e inteligência, sendo que grande culpa disso vierá do estereótipo de ômegas muito difundido pela sociedade deles. Sua caçada acabara se tornando um tipo macabro de hobby para os outros clãs. O Kim já até mesmo podia imaginar o que havia acontecido na Alcateia Lu na América do Sul, o modo como alguém descobriu sobre eles e para não serem pegos, todos se mataram. Afinal, era preferível a morte do que ser exibido como um animal.

— Sinto muito. — falou.

— Não mais que eu. — devolveu. — Meus números estão baixos agora. Somos menos de cinquenta, Kim. E agora só existimos na Coréia. — havia notas de tristeza na sua voz.

Han ficou de pé, segurando a cesta em frente ao seu corpo, o rosto sério enquanto fitava as frutas na sua frente.

— O que posso fazer para ajudar? — perguntou, tentando entender porque o Lu o havia chamado quando ele era só um ômega.

— Você vai se casar com Oh Sehun, o líder, vai ser o ômega principal da Alcateia. — falou. — Eu soube que os Oh’s têm um grande poderio em armamento.

— Você quer casar no meu lugar? — perguntou com uma pontinha de indignação na voz e o Lu riu.

— Não tenho interesse em casamentos, Minseok. Eu já sou um líder. — respondeu e se inclinou para pegar uma abobora, colocou na sua cesta e então virou-se para fitar o ômega. — Meu interesse é nos filhotes que vier a ter com Sehun. Quero uma aliança, Minseok. Seus filhotes casaram com qualquer ômega do meu clã, incluindo meu filho.

— O que? — soltou, descrente demais para dizer qualquer outra coisa, pois Minseok sabia o quanto Lu Han presava a liberdade e como deveria estar odiando isso tudo, odiando mais do que tudo ter que oferecer seu único filhote assim.

O pequeno Yixing de dois anos e meio, que tinha visto nascer. Ele era fruto das muitas relações entre ômegas que haviam naquele Clã. Era o que os Lu’s faziam: se relacionavam entre si, afim de aumentar seus números, sem compromissos matrimoniais. Eram poligâmicos e foi numa dessas aventuras, que Lu Han engravidou. Minseok lembrava do pai da criança, morava na aldeia de Lu’s na América do Sul e de acordo com o que tinha escutado de Lu Han, todos estavam mortos, o que incluía o pai do filhote do ômega. No fim, o líder Lu estava sofrendo mais do que Minseok podia saber.

— Preciso de proteção, Kim. Meu Clã está sendo caçado por alguém e a única coisa que posso oferecer é um deles em troca de proteção. Você sabe o quanto é difícil fazer isso? — e a dor estava ali, estampada no escuro dos olhos do ômega.

— Tudo bem. — disse. Não ia se opor ao que Lu Han pedia, mas não podia evitar ficar surpreso com essa proposta, quando nem sequer tinha casado com Sehun ainda. — Mas até meus filhos nascerem, vocês já morreram. O que espera fazer?

— Há algo que você pode fazer por mim. — disse calmo, o rosto tão sereno e bonito. — Arranje uma audiência com seu pai, vou fazer-lhe a mesma proposta.

— Quer casar com meu pai? Mas ele já tem dois ômegas.

— Não com seu pai. Com seu irmão.

— Quer casar com meu irmão? — estava surpreso e Lu Han riu.

— Não, Kim. Eu não posso casar, já sou um líder. É contra as regras que eu despose outro líder.

Minseok sabia sobre essa regra. Líderes não podiam casar entre si, porque uma alcateia devia ter apenas um líder.

— Vou oferecer meu irmão mais novo em casamento. — contou com suspiro pesado.

O ômega Kim conseguia ver o quanto Lu Han estava destruído por ter que fazer aquilo com seus lobos. Oferecer seu irmão assim, em um casamento arranjado apenas para ter proteção de outro clã e traçar o destino de crianças que nem nasceram para um bem maior.

— Han, talvez não precise fazer isso. Meu appa é um ótimo líder, quando ele souber sobre vocês vai querer ajuda-los...

— Preciso de algo confiável, Minseok. E não existe nada mais confiável do que os termos de um casamento. — demandou e o ômega Kim engoliu em seco, ele estava certo.

— Vou fazer o que me pede. — disse por fim e retirou as mãos dos bolsos, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa escutou a voz de Kyungsoo.

Han olhou por sobre o ombro do Kim e viu o outro ômega vindo na direção deles, com Henry não muito longe de si. O Lu fez uma breve reverência antes de continuar seguindo o Kim mais novo. Lu Han balançou a cabeça em cumprimento para o lobo e então deu as costas aos dois Kim’s, levando sua cesta cheia de frutas.

— Achei que tivesse me deixado aqui. — Kyungsoo reclamou se aproximando do irmão.

— Eu vim pegar maçãs. — mentiu e se inclinou para pegar uma única maçã vermelha nas mãos ao mesmo tempo que notava o cheiro de Lu Han se dissipando no ar.

Ele não tinha um cheiro forte. Era bem suave até, nada enjoativo e sempre se dissipava rápido no ar, como que mostrando que ele nem sequer esteve ali. Mas Minseok sabia que tinha estado e que agora seus filhotes tinham um destino traçado, contudo não estava preocupado com isso. Estava preocupado com o Lu e em como ele seguraria todo esse fardo sozinho, perder pessoas do seu clã assim... usando a morte para se proteger. Ele só esperava que seu pai aceitasse o acordo de casamento com este e que todos os Lu’s ficassem bem.

— Vamos para casa. — falou se afastando das frutas.

— Mas não tínhamos que deixar Henry na rodoviária? — Kyungsoo perguntou.

— Não, eu mudei de ideia. — o chinês disse sorrindo, os olhos virando duas fendas fofas. — Vou ficar para o Festival da Lua.

— O que?! — o ômega mais novo exclamou e Minseok revirou os olhos.

Ia ser um fim de semana difícil, pensou.


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