Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 11
IX - Deslocado




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Baekhyun empurrou o corpo da mulher de cima de si e suspirou. Seus lábios estavam inchados pelo esforço do beijo de antes e sua cabeça estava uma confusão de problemas e por isso não conseguia se concentrar no que devia estar fazendo. Fechou os olhos, para evitar fitar o teto do quarto. Não queria olhar para o padrão familiar das vigas ao mesmo tempo que queria fazer isso, para se lembrar do motivo de estar ali.

Abriu os olhos quando sentiu o corpo da mulher rolar para cima do seu, mas não se mexeu quando sentiu os lábios dela nos seus novamente. Seus pensamentos estavam longe naquele dia. Ficavam voltando a todo momento ao instante em que viu aquele ômega loiro... Não era para ter tomado essa importância toda, ele sabia, mas não conseguia se impedir de sempre voltar ao mesmo instante.

Lembrava-se de como saiu do escritório para almoçar com alguns sócios humanos. Era uma reunião sobre patrocinar algum boygroup no seu comeback e mesmo que o seu pai achasse isso perda de tempo, Baekhyun sabia que ia ser bom para a visibilidade da empresa. E foi por isso que concordou com esse almoço e antes da hora marcada havia saído da sua sala, pensando em que caminho pegaria para chegar no restaurante na hora certa — era perfeccionista a esse ponto. Odiava atrasos, odiava se atrasar.

Então, dispensou o motorista e decidiu ele mesmo dirigir até o lugar. O trânsito estava calmo e o dia quente, fazendo-o ter que ligar o ar-condicionado no máximo e praguejar um pouco por estar de terno. No entanto, estava tocando uma música interessante no rádio e tudo parecia normal para aquela quarta-feira, até o momento em que parou no sinal vermelho e teve o disparate de olhar para o lado, um ato tão normal e involuntário que não se preocupou com as consequências desse ato até estar totalmente imerso em uma confusão de sentimentos e lembranças.

Havia um carro ao lado do seu. Era um táxi, sabia disso por causa da placa com os dizeres em cima do mesmo. Primeiro viu o motorista, um humano com cheiro de suor e óleo de cabelo, roupas simples e o cabelo grisalho. Encarou o homem por algum tempo, meio perdido em algum tipo de torpor porque estava sentindo aquele cheiro... aquele cheiro doce, que já deveria ter se apagado da sua memória. Sentiu o seu corpo se retesiar quando reconheceu aquele odor ao mesmo tempo que sentia o seu lobo se agitar, incomodado ou, talvez, meio nostálgico. E só então deixou que seus olhos vagassem pelo táxi até encontrarem a janela de trás.

Reconheceu Kyungsoo, na janela esquerda, rindo e totalmente distraído para notar o cheiro de Baekhyun perto. Mas o alfa conhecia o cheiro do ômega e por isso tinha conhecimento que seu desconforto não era por causa dele, afinal eles se conheciam há tanto tempo. Franzio a testa, meio confuso pensando que estava enlouquecendo, quase estalou a língua no seu céu da boca como que numa forma de desdenhar de si e tranquilizar o seu lobo. No entanto, seus olhos perceberam que havia mais alguém no táxi junto de Kyungsoo. Não queria, mas o seu lobo praticamente o obrigou a se inclinar na janela do carro para observar melhor.

A pessoa inclinou-se minimamente para frente, meio sorrindo e usando óculos escuros. O cabelo ainda loiro, um tom mais escuro do que nas suas lembranças e parecia mais maduro, sem as bochechas fofas da época do ensino médio. Mas o cheiro que desprendia de si entregava a sua natureza ômega... doce, era o cheiro malditamente doce de mirtilo.

Engoliu em seco e voltou a colocar a cabeça para dentro do carro ao mesmo tempo que o sinal abria, mas no seu pavor de ter encontrado Minseok nem ao menos sabia o que fazer. Respirou fundo enquanto detinha os olhos fechados, apenas para aspirar mais do cheiro do ômega. Rosnou para si mesmo com isso ao ligar o carro e sair dali. Odiava o cheiro de Minseok desde o colegial. Era doce demais, era frutado demais, era familiar demais... lembrava o cheiro da sua mãe falecida e isso era motivo suficiente para que ficasse irritado, contudo o pior de tudo era o modo como aquele cheiro se impregnava em si, colando na sua pele durante o resto do dia e fazendo o seu lobo mexer-se inquieto e o deixando cada vez mais irritado no passar das horas.

E toda essa irritação se refletiu no seu desempenho no trabalho e lhe deixou tão estressado, que precisou espairecer um pouco e não havia jeito melhor de fazer do que numa casa de prostituição. Precisava esquecer de si mesmo nos braços de alguma beta atraente. Nunca dormia com ômegas ou humanas, esse primeiro era porque não conseguia gostar do cheiro de nenhuma, seu lobo rejeitava qualquer ômega. Enquanto humanas eram frágeis demais pra o tipo de sexo que gostava. Por isso sobrava-lhe as betas. Sem cheiro algum e prontas para qualquer coisa.

Tinha encontrado uma.

Era bonita com a pele escura e o cabelo tão escuro quanto, olhos caramelados grandes e a boca delicadamente cheia. A curva da cintura era macia ao toque e o jeito como as pernas dela tinham se fechado em volta do seu corpo, parecia bom demais. No entanto, Baekhyun não conseguia se concentrar nisso. Ele nem ao menos tinha conseguido ficar excitado depois do modo como o corpo dela se esfregara contra o seu ou o jeito como as mãos dela desceram por seu peito e se enfiaram dentro da sua calça. Não, não tinha um pingo de excitação nisso e isso era frustrante. Pois tudo que vinha na sua mente era a cena de mais cedo, os detalhes de Kim Minseok dentro daquele táxi.

Empurrou mais uma vez a prostituta de cima de si e soltou o ar, frustrado demais consigo mesmo para fazer qualquer outra coisa. Seu lobo estava inquieto no seu peito, fazendo-o ficar mais irritado ainda. Por que estava tão agitado assim? O que havia de errado, afinal? Será que estava doente?

Sentou-se na cama e começou abotoar sua camisa ao mesmo tempo que sentia a mulher se mexer sobre o colchão, ficando do seu lado. 

— Já está indo? Mas nem começamos. — ela disse.

— Não se preocupe. — falou ficando de pé depois que ajeitou as suas roupas. — Eu vou pagar mesmo assim. — vasculhou no bolso do seu paletó atrás da sua carteira, encontrou-a e tirou algumas notas altas de wons, parecia certo compensa-la por aquela perda de tempo. Entregou a mulher.

— Mas isso é muito. — falou, encarando o dinheiro.

— Apenas aceite, sim? — insistiu e começou a sair do quarto.

Andou pelo corredor, sem esperar pela garota. Ainda não ia para casa. Ia parar no bar e beber um pouco, talvez o álcool lhe desse o que aquela beta não deu: um pouco de paz. O bar estava quase vazio. Havia apenas outra pessoa ali, o resto estava reunido em volta do pequeno palco, apreciando o show da noite. Foi até o bar e sentou-se em um dos lugares vazios, de frente para a bancada.

— Whisky. — pediu ao barman.

Não era a primeira vez que ia naquele lugar. Tinha virado rotina desde a primeira vez que o seu pai lhe trouxe. Algumas vezes por mês costumava ir ali para beber. Era raro as vezes que dormia com alguma prostituta ou prostituto. Em parte porque não gostava do modo como tinha que pagar para ter atenção de alguém, assim como odiava o modo que fingiam sentir atração por si. Mas incrivelmente tinha se acostumado com os cheiros do lugar, com o modo barulhento e com o movimento.

— Não encontrou ninguém interessante? — alguém perguntou tirando-o dos seus pensamentos.

Desviou os olhos das bebidas dispostas na prateleira atrás do bar e olhou para quem tinha falado. Era um homem. Parecia ter a sua idade, o cabelo castanho meio encaracolado estava penteado para o lado lhe dando um ar simpático enquanto os olhos pequenos e a boca fina completavam isso. Pelo cheiro que saia de si, cítrico, percebeu que era um alfa.

— Eu vim pela bebida. — respondeu depois de avaliar o homem, segurou o copo de vidro que foi colocado na sua frente, bebeu o que havia ali só de uma vez. O rosto quase se contorceu em uma careta.

— Ow. — o estranho soltou meio rindo, sua risada parecendo um tanto familiar pelo jeito contido que o som saiu. — Vai com calma. — pediu, os olhos brilhando em entusiasmo por algo que Baekhyun não sabia.

O Byun pediu mais uma dose e bebeu do mesmo jeito. O líquido descendo gelado e amargo por sua garganta e abafando a inquietação do seu lobo, embaçando seus sentidos e fazendo aquele cheiro sair da sua memória devagar. Só precisava beber mais para que toda a lembrança fosse embora e só sobrasse paz, afinal não fazia sentido algum ficar nesse estado por causa de um Kim. Logo o Kim... Não! Não por um Kim, pelo cheiro de um Kim. Não fazia sentido ficar assim por causa de algo tão pouco como um cheiro.

Mas Baekhyun sabia sobre as histórias antigas. Sobre como os primeiros lobos reconheciam seu parceiro para a vida através do cheiro... Mas isso era patético, ele sabia. Sabia que isso não funcionava na vida real. Era tudo uma grande bobagem, porque em vinte um anos de vida não tinha conseguido gostar do cheiro de nenhum ômega. Na verdade, só conseguira odiar o cheiro de Minseok.

— Dia difícil? — escutou o estranho perguntar, depois que bufou antes de beber mais um pouco.

— Que te importa? — devolveu, não gostava de pessoas se intrometendo na sua vida.

— Calma, cara. — soltou mais uma risadinha. — Só fiquei preocupado pelo modo como está bebendo, como se quisesse esquecer algo. — jogou a isca.

Baekhyun ergueu a sobrancelha. Conseguia saber quando alguém queria algo de si e esse cara definitivamente queria alguma coisa, por que que tipo de pessoa faria perguntas para um estranho? Não fazia muito sentido. Ele sabia disso, mas também estava ficando meio bêbado. Estava bebendo rápido demais, Baek percebeu. Devia ir devagar se quisesse voltar dirigindo para casa.

Casa...

Nem sabia porque chamava aquele lugar de casa. Talvez fosse por causa de Donghae e de Chanyeol, porque sem eles lá aquele lugar seria elevado a um grau de inferno que Baekhyun já teria enlouquecido. Seu pai era tão perfeccionista, tão centrado e tão malditamente arrogante, que se pegava odiando aquilo tudo, as vezes. Sentia vontade de sumir no mundo e nunca mais aparecer na frente da sua alcateia, porque segurar o fardo de líder se mostrava demais a cada dia.

No começo acreditava que seria fácil, que quando aprendesse tudo as coisas iam se tornar menos pesadas. Mas na medida que ia crescendo e aprendendo como tudo na alcateia e fora dela funcionava, sentia que não estava nenhum pouco pronto para aquilo. Mas era o tipo de coisa que não podia fugir. Era para isso que tinha nascido. Não podia fugir das suas responsabilidades.

— Talvez eu queria esquecer quem sou. — respondeu por fim, não pegando e nem largando a deixa do estranho.

Queria saber até onde aquilo podia ir.

— Parece que você teve um dia bem ruim. Problemas na alcateia?

Ele não era nenhum pouco sutil, pensou e teve vontade de rir. Será que era um espião de alguma alcateia e o tinha seguido até ali afim de descobrir algo? Não seria a primeira vez que acontecia. Era por isso que se tornara tão desconfiado, pois a maioria das pessoas quando se aproximava de si estava apenas atrás de alguma coisa. Seja informações sobre a sua alcateia ou querendo se aproveitar do seu status de Byun — que era uma família importante na Coréia independente do sangue de lobo que eles carregavam.

— O que você é? — perguntou de vez, odiava rodeios e acima de tudo odiava pessoas que tentavam o enrolar com esse papinho de amigos.

O único amigo que tinha era Chanyeol, seu irmão mais novo com quem cresceu e conhecia melhor que si mesmo.

— O que? — a pessoa se desconsertou e Baekhyun sorriu, meio vitorioso ao notar a surpresa no olhar dele.

— O que você é? Eu sei que é um alfa como eu, mas de qual alcateia? — foi mais claro, em seguida bebeu um gole da sua bebida calmamente.

O estranho bufou e lançou um sorriso para o Byun, mas os olhos estavam cheios de algo que Baekhyun não reconheceu. No entanto, sua postura relaxada combinava em nada com a desconfiança do alfa.

— Alcateia Kim. — se apresentou, ficando de pé e fazendo uma reverência. — Me chamo Kim Jongdae.

Baekhyun achou interessante o jeito como o alfa se curvou para si. Não ia negar, era tão narcisista quanto o seu pai alfa e por isso adorava o jeito como as pessoas pareciam idolatra-lo só porque era um Byun. Devia haver alguma vantagem em ser tão cobrado, não é? A vantagem, era isso. Fazer até mesmo Kim’s — sempre tão orgulhosos — se curvarem para si.

Observou quando o alfa voltou a se sentar, os olhos pequenos e muito escuros quando focados em si.

— Eu sou Byun Baekhyun. — disse por fim, achava justo se apresentar depois do que o Kim fizera. Fazia parte da etiqueta que tinha sido rigorosamente obrigado a aprender desde muito novo.

— Ah. — estalou a língua no céu da boca e sorriu. — Eu sei. — o alfa Byun sorriu minimamente antes de beber mais.

Quem não sabia, não é mesmo? — pensou amargo. Sua vida era tão privada por ser tão aberta, que as vezes era sufocante. Era por isso que não gostava de voltar para sua casa. Tudo era tão regrado ali dentro, que chegava a deixa-lo louco. Era por isso que gostava desse prostibulo. Aqui, tudo era uma bagunça. Seja de cheiros ou de pessoas. Tudo ficava fora do lugar e isso fazia Baekhyun se sentir no lugar, como uma prateleira de livros perfeitamente organizada em um quarto bagunçado.

Ele ia ali, observava aquelas pessoas tão bagunçadas. Homens atrás de alguma diversão depois de um dia de trabalho frustrante, mulheres querendo nada mais do que um pouco de carinho comprado para suprir a solidão de ter ninguém. A música sempre desconexa, os cheiros misturados com luxúria, o gosto da bebida na boca deixando tudo mais amargo. Aquele era um lugar amargo, porque ele sabia que nenhuma daquelas pessoas estaria ali se tudo estivesse bem. E era justamente por nada estar bem, que todos se encontravam ali, tentando ficar bem por um momento, se afogando devagar nos vícios só para não ver a bagunça em volta e em si mesmo. Baekhyun não queria olhar para o modo organizado da sua vida, preferia olhar para essa bagunça de pessoas afim de evitar a sua própria bagunça interna. Acreditava que ali, por tudo ser pago, tinha o controle de algo.

Voltou a fitar Jongdae. Ele não parecia bagunçado. Não parecia pertencer a aquele lugar, coisa que só reforçava a sua suspeita de que ele era um espião. No entanto, havia admitido tão abertamente o seu clã, que quase lhe passou confiança. Quase.

— E o que mais você sabe? — jogou, estava curioso sobre aquele cara.

— Que sua mãe era uma Park. — respondeu.

Baekhyun desviou os olhos do Kim, fitou o seu copo vazio e se pôs de pé. Retirou a carteira do paletó e colocou algumas notas sobre o balcão, então virou-se para Jongdae, que o fitava meio confuso pela mudança brusca do outro.

— Está errado. — disse, a língua ficando pesada na boca quando reunia coragem para negar aquilo. — Meu omma é um Lee. — não esperou resposta do Kim, deu-lhe as costas e saiu dali em busca de outro lugar para beber e aplacar um pouco da sua bagunça, pois o seu lobo ainda estava a se agitar no peito, inquieto demais para deixar Baekhyun ter uma noite de sono decente.

***

Ryeowook segurou o seu filho mais velho com força, fazendo o mesmo soltar um resmungo de dor.

— Meu bebê. — o ômega mais velho estava falando desde que Minseok chegou em casa. — Meu bebê voltou.

Estavam todos na sala da casa do segundo marido Kim, Ryeowook, com Minseok sentado obrigatoriamente no seu colo e com os braços do pai envolta de si, mantendo-o tão perto quanto conseguia. Afinal, estava com tanta saudade do filhote ômega que poderia passar a vida inteira com ele nos seus braços.

— Omma. — o ruivo resmungou mexendo-se desconfortável no colo do pai enquanto Junmyeon segurava o riso no sofá à sua frente. — Está me sufocando. — e de fato estava ao aperta-lo com tanto afinco.

— Não seja chato, Minseok. Deixe-me ficar com você um pouco. — o pai rebateu e enfiou o rosto na curva do pescoço do filho, capturando o seu cheiro e fazendo o seu lobo relaxar.

Era muito superprotetor, ainda mais quando envolvia Minseok. Seu frágil Minseok, que tinha nascido menor do que Kyungsoo e que todos achavam que não ia sobreviver. Ele tinha sido uma criança sempre tão tímida, quieto demais para a sua idade enquanto Kyungsoo crescia agitado e cheio de si. Tinha sido difícil fazê-lo ir à escola e depois tinha sido difícil deixa-lo ir embora do país, mas Wook sabia que era assim que funcionava. Você protegia o seu filhote até quando podia, mas tinha que deixa-lo se proteger sozinho em algum momento. E quando Minseok passou para a escola na França, havia ficado confuso. Uma parte sua estava orgulhosa em saber que o seu filhote era bom o suficiente para aquela escola enquanto a outra estava com medo de deixa-lo ir embora assim, para tão longe de si. Mas agora, cinco anos depois, conseguia ver que tinha sido melhor assim.

Minseok precisou desse tempo fora para aprender coisas sobre a vida e si mesmo, precisou disso para crescer. Porque estava tão maduro agora. Tão sério e sem aquele ar frágil que sempre o tinha cercado. Isso deixava Ryeowook orgulhoso, pois todos estavam sempre dizendo como seus filhotes eram fracos. Mas não eram. Kyungsoo havia se tornado alguém tão cheio de luz e beleza enquanto Minseok era um espécime raro, cheio de saúde e força. E havia se tornado tão bonito... estava tão bonito com aquele tom de cabelo loiro e as formas do corpo bem trabalhadas.

— Como foi lá? Você ainda não me contou. — Kyungsoo disse, lançando um olhar esquisito para o modo como seu omma se agarrava em Minseok. Nunca tinha feito aquilo consigo, nem mesmo quando passou um ano fora da Coréia.

— Foi legal. — respondeu simplesmente, soltando uma risadinha no final ao sentir a ponta do nariz do pai toca-lhe o pescoço, fazendo cócegas. — As pessoas são mais abertas, sabia? Havia muitos lugares para ir. Eu e Henry costumávamos ir numa cafeteria perto da escola todas as quintas, porque eles serviam o melhor café de Paris. — mentiu a cidade.  

A escola que frequentara por cinco anos ficava numa cidade francesa chamada Lyon, mas para todos os efeitos era melhor dizer que ficava em Paris. A belíssima e famosa Paris, cheia de luzes e lugares para se esconder. Lembrava-se quando chegou na França, cinco anos atrás. Tinha desembarcado meio receoso, mas depois que foi recebido por alguém no aeroporto, ficara mais tranquilo. No entanto, quando a pessoa o guiou até outro terminal para que pegassem outro avião, Minseok entendeu que havia algo de errado. Mas foi só no começo, depois foi-lhe explicado tudo, inclusive sobre seu omma Heechul.

— Quem é Henry? — Junmyeon se apressou em perguntar, a voz cheia de ciúmes.

Sempre tinha sido ciumento com os irmãos. Pelas cartas que recebia dele, sempre lhe perguntando se estava se envolvendo com alguém. Fazia-o desconfiar se ele e o pai alfa não estavam planejando algum acordo de casamento para si. Era normal que pensasse nisso, afinal, ômegas serviam para aquilo, principalmente ômegas herdeiros... sempre seriam dados em troca de alguma coisa.

— Um amigo ômega. Ele era meu colega de quarto. — disse animado, o sorriso ficando tão bonito no seu rosto quando falava de Henry que Kyungsoo engoliu em seco, estava se sentindo ameaçado. — Vocês precisavam conhece-lo. Você ia ama-lo, Omma. Henry sabe cozinhar como ninguém e adora qualquer tipo de arte. Ele me ensinou a tocar piano. — contou.

Amava o amigo. Seu amigo de cinco anos naquele lugar. Seu querido Lu Henry, que tinha ficado na França para resolver seus problemas antes de ser designado para uma missão. Minseok esperava poder vê-lo novamente algum dia ou menos esperava poder continuar mantendo contato consigo, pois sabia como era complicado isso de manter contato. Quando se graduou fez um juramento de nunca deixar as pessoas saberem o que acontecia naquela escola assim como prometeu cumprir os seus deveres do melhor jeito possível. Era por isso que não podia mais falar com Henry, era preciso cortar os laços com aquele lugar mesmo que amasse aquele lugar mais do que tudo.

— Parece que ele era incrível mesmo. — Kyungsoo comentou cruzando os braços e Minseok teve vontade de gargalhar com a pequena cena de ciúmes que o gêmeo estava fazendo, mas antes que pudesse fazer isso viu a porta da frente de abrir e por ela entrar os seus pais, Heechul e Leeteuk.

Sem pensar duas vezes, soltou-se dos braços do pai ômega e correu em direção ao outro. Pulou sobre si, cheio de saudade e quase chorando de emoção. Tinha estado com tanta, mais tanta saudade de Heechul que não podia se conter. Sentiu os braços do ômega passarem em volta de si, meio rindo durante o abraço enquanto Minseok lhe sussurrava o seu maior orgulho “Eu voltei, omma. Eu consegui” no pé do seu ouvido.

— Meu filhote. — Heechul disse abraçando Minseok tão forte e enfiando o rosto na curva do seu pescoço e aspirando o seu cheiro.

Estava tão orgulhoso de Minseok. Tão imensamente orgulhoso que poderia gritar isso para qualquer um como um maluco, mas sabia que não podia. Isso era só deles, assim como as outras coisas que viriam pela frente. Era o tipo de coisa que ninguém podia saber, era a coisa que eles dividiam agora e por isso tinham se tornado tão próximos. Porque só Heechul sabia como aquela vida era solitária, mas agora eles dois tinham um ao outro para ajudar a segurar aquele fardo.

— Eu tenho tanta coisa para lhe contar! — Minseok se animou, meio pulando nos braços do pai e sorrindo como uma criança.

Sabia que para Heechul não precisaria mentir, para ele podia contar tudo como realmente aconteceu. Ia poder falar sobre como foi a sua graduação, como odiava as aulas de etiqueta e como amava segurar uma arma e atirar. Tinha a melhor mira da sua classe além de ser perfeito em estratégias e nunca perdia o jogo de pique-esconde. Queria se gabar sobre como o seu nome estava na melhor colocação da sua classe junto com o de Henry. Ah, Henry. Queria contar tudo sobre esse Lu, que tinha se tornado o seu amigo.

— Eu sei, querido. — o ômega falou e acariciou os cabelos do filho mais novo. — Mas me conte mais tarde, sim. — sussurrou contra o seu ouvido quando percebeu que todos na sala os encaravam, os olhos faiscando de Ryeowook sobre os dois e o olhar descrente de Kyungsoo.

Minseok notou o tom de alerta do omma e soltou-se dele, entendendo que tinha quase dado um passo em falso.

— E eu? Não ganho nenhum abraço? — o pai alfa perguntou, soando divertidamente indignado.

— Appa! — Minseok se animou novamente e enlaçou o pai num abraço forte.

Tinha sentido falta do cheiro dele. O cheiro familiar que sempre o deixava calmo. Havia até mesmo levado uma camisa do pai consigo para França, apenas para se manter perto de casa quando as coisas estivessem muito pesadas.

— Meu filho! — o alfa exclamou apertando tanto o loiro nos seus braços que Minseok soltou um gemido de dor. — Meu filho voltou para casa.

A voz estava tão cheia de orgulho, que o Kim mais novo sentiu o seu peito se aquecer. Tinha feito tudo certo, afinal. Todos estavam orgulhosos de si por motivos diferentes. Heechul acima de todos, ele sabia.

Escutaram um limpar de garganta e instantaneamente se separar, todos os seis olhando para a pessoa que fizera esse barulho.

— Oi, Minseok. — a pessoa disse e o ômega soltou-se dos braços do pai, piscando os olhos grandes ao reconhecer a pessoa.

Foram cinco anos, pensou. E você continua o mesmo.

— Ah, Minseok, esse é Kim Jongdae. — o pai apresentou, totalmente alheio ao fato de que eles já se conheciam. — Não se lembra dele? Veio da China há cinco anos para se juntar a nossa Alcateia.

Claro que Minseok se lembrava. Como poderia esquecer, não é? Eles tinham dividido noites embaixo do teto da sua velha casinha na árvore, rindo e conversando sobre um futuro que nunca iam ter. O ômega havia lhe entregado seus beijos e a sua primeira vez. Tinha amado aquele Kim mais do que tudo quando era um garotinho bobo de dezesseis anos.

— Ah, sim. — fingiu surpresa e sorriu, mentiroso demais para se conter. — Eu lembro de você, Kim Jongdae. — estendeu a mão na direção do alfa, em um cumprimento.

Jongdae deixou os olhos vagarem do rosto do ômega para a sua mão entendida e ergueu a sua própria, afim de aperta-la. Fazendo questão de levantar o olhar durante o ato e fitar o ômega com demasia intensidade, deixou que seu olhar de saudade fosse mostrado apenas a Minseok. Porque mesmo que não quisesse, havia sentido saudade desse ômega mimado. Tinha percebido tarde demais que estava gostava dele. Era patético, porque o lobo havia se apaixonado pelo cordeiro.

— Jongdae é nosso melhor homem em combate.  — Junmyeon contou, orgulhoso. — Ele é quem cuida do treinamento do nosso exército na fronteira e das estratégias.

O ruivo sabia que aquilo era uma posição importante. Havia estudado sobre a hierarquia dentro das alcateias. Enquanto os Byun, eram especialistas em ataque, os Kim’s ganhavam no quesito defesa. Era da sua alcateia que vinham os melhores estrategistas, pois os soldados não eram muitos se comparados as outras alcateias ou aos populosos Byun’s. E Kim Jongdae ter subido tanto em tão pouco tempo ao ponto de terminar como o braço direito de Junmyeon e de seu pai, era no mínimo estranho. Mas Minseok estava tentando não desconfiar de tudo, por isso resolveu apenas parecer surpreso em vez de desconfiado. Era melhor assim, pensou. Depois faria uma pesquisa sobre isso.

— Eu me esforço. — se fez de modesto e sorriu, ao passo que Minseok soltava a sua mão.

Havia algo de diferente em Kim Jongdae ou talvez fosse ele que estivesse diferente demais, porque não conseguia encontrar nada de muito familiar no alfa. Namoramos escondido por um ano, pensou, e eu ainda não sei quem é você. E agora, cinco anos depois, eu só te conheço menos ainda.

— Minnie. — Kyungsoo se apressou em chamar quando percebeu o olhar triste no rosto do irmão a cada vez que fitava Jongdae. — Sabia que Sehun está vindo passar o fim de semana conosco apenas por sua causa?

Minseok virou-se para fitar o irmão, confuso pela mudança brusca de assunto.

— O que? — soltou.

Lembrava de Sehun. Seu primo alfa, que havia nascido doente por causa de uma marca malfeita na sua mãe beta. A história que contavam era como o pai de Sehun havia se descontrolado durante o cio e por isso marcado a sua esposa, mas o lobo da beta não havia aceitado a marca e por isso não era uma marca completa e quando ela engravidou de Sehun, o mesmo nascera doente. E por ser doente, quase não saia dos arredores da sua Alcateia. Lembrava-se dele mais novo, quando saiam para acampar e correr pela floresta. Mas na medida que ia crescendo, Sehun se tornava mais doente e por isso tinha parado de sair dos arredores da sua alcateia, afinal era o líder dos Oh’s há quase três anos, quando seu pai morrera numa briga de rua contra os Park’s.

— Nosso primo.  — Junmyeon se animou. — É verdade! Ele está vindo só para te ver, Min.

Minseok piscou mais uma vez, confuso pelo fato de Sehun se descolocar de tão longe só para vê-lo.

— Por que? — afinal, eles já iam se encontrar no Festival da Lua.

Ele viu os seus parentes se entreolharem e pegou o olhar tão confuso quanto o seu no rosto de Jongdae e quando se preparou para repetir a pergunta, porque não era idiota sabia quando estavam planejando algo por suas costas, Heechul foi quem tomou a dianteira em responder a sua pergunta:

— Esperávamos contar isso para você quando Sehun chegasse, mas já que estamos todos aqui vou dizer de uma vez. Seu pai decidiu dar a sua mão em casamento para Oh Sehun.

Minseok deu um passo para trás. Por essa, ele não esperava. Estava prometido? Era isso que havia escutado? Havia sido prometido em casamento para Sehun? Abriu a boca em descrença e andou a passos leves até o sofá, sentou-se ali. Os olhos baixos. Não era que não gostasse de Sehun. Gostava. Era seu primo, afinal. Tinham passado a infância juntos, ele sabia como o Oh era gentil e doce. Mas tinha sido pego de surpresa. Seria mesmo possível que estaria tudo dando certo tão fácil assim? Parecia coincidência demais, quando viera justamente para casar com o Oh. Pois essa era a sua missão, era para isso que havia estudado e treinado. Era para proteger Oh Sehun.

— Minseok?  — escutou chamarem e levantou o rosto, apenas para encontrar os olhos do seu pai ômega preocupados sobre si. — Tudo bem?

Piscou e então assentiu, então Ryeowook sorriu carinhoso e Leeteuk suspirou, aliviado. Achava que o filho ia dizer não ao contrato, mas pelo visto ele só estava surpreso demais.

— Depois conversamos sobre isso. — Leeteuk disse. — Preciso resolver algumas coisas. — olhou para Heechul e se aproximou para beija-lhe os lábios, então saiu levando um Jongdae, frustrado, consigo.

— Não é um casamento ruim, querido. — Wook estava dizendo, enquanto segurava a mão do filho. — Sehun é um alfa maravilhoso e precisávamos estreitar os laços entre os Kim’s e os Oh’s.

Ele sabia. O ômega tinha certeza que não era um casamento ruim. Todos se beneficiavam com aquilo, inclusive ele.

— Que tal um lanche? — Heechul disse tentando descontrair o ambiente.

— Eu quero. — Junmyeon falou.

— Eu ajudo. — Wook disse, apressado.

— Vou tomar um banho. — Minseok disse se pondo de pé.

— Vou com você. — Kyungsoo se agitou para perto do irmão, segurando-lhe o braço e indo consigo em direção ao quarto de ambos.

Heechul sorriu ao vê-los juntos. Tinha conhecimento sobre a grande solidão que assolava Kyungsoo desde que o gêmeo fora embora, mas esperava que ele não se machucasse ao descobrir como Minseok já não fazia mais parte deles.


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