Flavius colocou a última meia dentro da mala e ficou observando toda aquela bagunça. Ele parecia ter alguma espécie de dificuldade natural em manter suas malas organizadas. Michel tinha tudo arrumado; as camisetas bem dobradas, as calças separadas por cor, cuecas e meias separadas em compartimentos diferentes... Já sua mala era um emaranhado de coisas. Por mais que tentasse não lograva em conseguir dobrar as roupas descentemente, então, no fim das contas, preferia simplesmente embolar tudo e ir enfiando as coisas na mala do jeito que dava. Observou mais uma vez a vista da janela do antigo quarto de Fip. Era hora de partir, voltar para a cidade.

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Natasha deixou o vento despentear seus cabelos. Olhava Alvinópolis ficar para trás pelo retrovisor do carro, esperando em seu coração que jamais retornasse a essa cidade. A casa de Alvinópolis seria vendida, isso estava decidido. Vendida e demolida, com a graça divina. Olhou para o lado e lá estava Michel com as mãos no volante, guiando-os de volta para casa... casa? Seria mesmo essa sua casa? Quantas coisas estava deixando para trás? O restaurante, o apartamento... tantas conquistas... Seria muita loucura fazê-lo?

Loucura seria continuar com aquela vida sem sentido, longe do afeto, longe dos amigos. Trabalhando como uma louca... para que? Para ser uma grande empresária? Uma grande cozinheira? De que isso vale? Para quem isso vale? “A vida não é feita do que fazemos, mas sim de com quem estamos.” – pensou observando seus meninos. Quanto tempo haviam perdido? E foi necessário que Chico partisse para que se dessem conta de que o tempo nos devora?

“Não, não. Não dessa vez, senhor tempo! Dessa vez você não vai me ferrar!”

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De volta ao apartamento, Michel abriu as portas do guarda roupa. Talvez precisasse de um maior agora que Flavius iria se mudar para lá. Um comichão subiu por entre seus quadris. Repetiu a frase mentalmente para sentir o gosto de sua realidade: Flavius iria se mudar para lá. Sorriu e buscou com as mãos pelo corpo do rapaz que, ao seu lado, desmanchava suas malas:

–O que foi? – perguntou Flavius pego de surpresa pela carícia.

–Estou feliz que esteja aqui. – disse puxando o corpo do menino para perto do seu – Estou feliz. – beijaram-se.

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–Você não acha que isso tudo está fugindo do controle? – perguntou Pierre servindo a mesa.

–Do que está falando?

–Toda essa história... As vezes penso que estamos indo longe demais. Seria justo interferir tanto na vida desses meninos? Sabe, é muito louco, mas acho que estou me afeiçoando a eles.

–Eu acho que isso tudo era exatamente o que Fip queria no final das contas.

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