Sangue escrita por Salomé Abdala


Capítulo 54
Capítulo 52 – Um esgoto a céu aberto.




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   “Abri os olhos ainda confuso. Tantas luzes e festas na noite anterior! Nem me lembro direito o que aconteceu depois da oitava dose de tequila. Acordei deitado no carpete do apartamento do Thiago. Não sabia que eu ainda conversava com o Thiago. O apartamento está lotado de gente, cada um caído pra um lado:

—Bom dia bela adormecida. – disse a Andressa saindo da cozinha com um prato de macarrão que mais parecia vomito nas mãos.

—A gente não ia pra casa do Jonas? – perguntei.

—Ia, aliás, fomos, mas ele ficou puto porque alguém quebrou a tv dele e botou todo mundo pra fora.

—Não fui eu não, né?

—Não. Acho que não. Sei lá.

—Nossa, o que eu fiz ontem? Fiz algo que eu deva me arrepender?

—Nada, você se comportou até bem. Só bebeu demais, gritou um tanto, vomitou no meu sapato e depois dormiu.

—Nossa, que majestoso!

—Né?

—Ai, que horas são?

—Quase uma.

—Da tarde?

—Lógico!

—Putz, preciso ir!

—Por que? Seu namorado caipira briga se você demorar a voltar pra casa?

—Flavius não é caipira. E ainda que fosse eu não quero que você se refira a ele desse jeito.

—Tudo bem, tava só brincando.

—Tranquilo. Só estou avisando que a próxima vez que você “brincar” desse jeito eu vou brincar de rasgar sua cara inteira com uma gilete.

Ela riu de um jeito engraçado. Eu passei a mão na cabeça dela e disse:

—Bem, vou indo, da um tchau pra todo mundo por mim.

Sai. Decidi ir caminhando pra casa do Felipe. Não era exatamente perto, mas não estava afim de arriscar um ônibus. Engraçado, adorava o cinismo da Andressa antigamente. Hoje acho um saco! Natasha tem um senso de cinismo mais elaborado. Não é barato e maldoso como o da Andressa, tem uma sagacidade moral. É diferente! Chega a ser um abuso comparar as duas!

Foi divertido sair com a galerinha de antigamente, mas essa noitada só me serviu pra provar que gosto muito mais dos meus amigos atuais. Sei lá, me divirto mais nas festinhas vazias na minha casa... Natasha, Michel e Flavius conseguem (sozinhos) ser infinitamente mais divertidos que essa multidão de riquinhos metidos a besta!

   Natasha... fico pensando na sorte que foi conhece-la. Nos conhecemos de um jeito tão absurdo que é fácil imaginar que poderíamos jamais ter nos cruzado! E hoje, por um presente divino, tenho um amor maior do que de qualquer irmão. Estou ansioso para encontra-la e saber o que achou da apresentação. Flavius... Michel. Quero saber a opinião de todos!

   Era frio na capital. Um frio gostoso que fazia o coração acelerar. Gosto de sentir esse clima faz-me lembrar de um tempo bom.  Faz parecer que tudo pode dar certo! Peguei meu celular e mandei uma mensagem pro Flavius, disse que já estava chegando, pra ele não se preocupar. Senti um carinho especial por ele nesse instante e quis lhe comprar algum mimo. Mas o que? Que tipo de pequena lembrança Flavius gostaria de receber? Fiquei surpreso ao me pegar sem saber a resposta. É estranho quando nos damos conta de que não sabemos como presentar quem amamos!

   Natasha, por exemplo? O que eu daria para ela de presente? Um cd do Hole, talvez. Óbvio demais... Flavius gosta de livros, mas qual comprar? É desconfortável se ver nessa situação. Parece que não amamos o suficiente.... o que é um absurdo de se pensar. Se tem uma pessoa que eu amo o suficiente essa pessoa é o Flavius...”

 

...

   Flavius, Michel, Natasha, Artur e Felipe conversavam animados à mesa quando Fip abriu a porta. Sobre a mesa restos do bom almoço feito por Artur, seus excelentes dotes culinários eram o assunto da conversação quando a porta se abriu e o sorriso de Flavius imediatamente se apagou. Não que ele tivesse fechado a cara ou se esforçado em ser antipático, mas algo em seu brilho, espontaneidade e alegria sincera desapareceu. Era como se sua alma tivesse se escondido atrás de seu olhar e no seu sorriso ficou uma máscara incoerente de músculos dissimulados:

   -Bom dia meus queridos! – disse Fip abrindo os braços.

   Como a recepção não foi, nem de perto, calorosa como ele tinha imaginado, Fip pensou que havia algo errado. Natasha olhou para ele e soltou um sorriso amarelo, Artur riu e disse oi. Michel olhou imediatamente para Flavius que abaixou os olhos e Felipe, por fim, fechou a cara e começou a recolher a louça da mesa:

   -Chegou na hora. – disse Felipe num tom seco – Ainda tem um resto de almoço no fogão, é só esquentar.

   -Qual é gente! Ninguém vai dizer um grande oi ao melhor bailarino da noite?!

   -Ué? O Manuel veio contigo? – disse Flavius.

   -Quem é Manuel? – perguntou Natasha de sobressalto (aparentemente se divertindo com a situação).

   -Ah, vocês saíram antes dele se apresentar! Foi a apresentação mais incrível que já vi! O cara era perfeito! Corpo lindo! Carisma de palco... nossa, perfeito!

   Natasha riu da provocação, olhou para Fip(que cruzou os braços e fechou a cara) e disse:

   -Nossa, pelo visto a noite foi bem produtiva ontem.

   -Sim. – disse Flavius – Sem dizer que ele é um cavalheiro! Sabia, Natasha que aquele gentil cavalheiro fez a gentileza de me trazer até aqui? Não sem antes me pagar um jantar, claro. Não se fazem mais homens assim.

   -Manuel te pagou um jantar? – disse Fip num tom quase histérico – Como!?

   -Está com ciúmes, Chico? – perguntou Natasha.

   -Estou com inveja! Dei em cima do Manuel a vida toda e ele nunca pagou um jantar pra mim!

   -Sinal de que você não tem o charme que eu tenho. – disse Flavius.

   -Como assim ele pagou um jantar pra você? Como vocês se conheceram?

   -Depois que você me deixou plantado que nem um idiota na frente do teatro ele veio falar comigo.

   -ELE foi falar com você?

   -ELE foi falar comigo! Por que? Você acha que só porque seus amigos me consideram um caipira ninguém mais vai me achar interessante?

   -Eles não te acham caipira de verdade. Estavam falando aquilo de brincadeira. Se você quer saber até comentaram que você era muito bonito.

   Flavius fez cara de quem não se importava. Mas mentia, em verdade regozijou em ouvir aquilo. Tirava-lhe um peso das costas, mas não daria o braço a torcer:

   -Pois Manuel disse a mesma coisa.

   -Eu não acredito que você e o Manuel ficaram! Esse era o meu sonho! – disse se sentando no sofá.

   -Espera aí! Nós não ficamos! Ele só me levou para jantar depois me deixou aqui. Fez uma gentileza, ele sabia que eu não sabia voltar sozinho!

   -Vocês não ficaram?

   -Não.

   -Que idiota você. – disse tentando disfarçar seu contentamento em saber do fato – Eu não teria perdido a oportunidade.

   -O que mostra que existe uma clara diferença entre o respeito que eu tenho por você e o respeito que você tem por mim.

   -Vish! Depois dessa eu acho melhor irmos ajudar o Felipe a lavar a louça. – Disse Natasha se levantando e puxando Artur pelo braço.

   Michel fez menção de se levantar, mas mudou de ideia:

   -Eu não sei como se saiu esse Manuel, não o vi. Mas até onde assisti você foi o melhor da noite, Fip.

   -Obrigado por me prestigiar, Michel! Seria um homem muito feliz se meu namorado fizesse o mesmo!

   -E como EU seria feliz se o MEU namorado me levasse para jantar depois de sua apresentação ao invés de me deixar para trás em troca de meia dúzia de idiotas!

   -Eu te deixei pra trás? Você não quis ir!

   -Eu não quis ir? Fip você realmente se lembra do que aconteceu?

   -Sim! Eu te chamei pra ir comigo, você não quis, eu fui sozinho! Não posso?

   -Você jura que na sua cabeça as coisas foram simples assim?

   -E por que não seriam, Flavius?!

   Flavius abaixou a cabeça e soltou uma risada:

   -Eu sei lá. Talvez você seja mais sonso que cruel... como saber, né?

   -Do que você está falando?

   Flavius se levantou e passou o braço pela cintura da Natasha:

   -Vamos ajudar Felipe com  a louça?

   -Vamos. – disse a ruiva que lançou ao Fip um olhar que dizia: “Vish você está com problemas sérios por aqui e eu vou adorar ver você tentando resolver isso”.

   -Você consegue entender uma coisa dessas? – disse Fip para Michel.

   -Na verdade eu consigo.

   -Então me explica pelo amor de deus!

   -Ao que me consta, pelo menos pelo que o Flavius me disse, você trocou ele pra ficar com seus amigos. Convidou ele de um jeito nada convidativo e foi um tanto grosso na hora de mandar ele embora. O que eu não duvido nem um pouco porque você sabe ser grosso como ninguém!

   -Eu grosso? Se enxerga Michel! Vê lá se um cara que sai da cidade pra ficar longe da mãe tem moral pra falar de grosseria pra mim! Aliás, um cara que faz de tudo pra ficar longe da mãe não tem nem direito de respirar!

   -Tá vendo?

   -Ah, não vem com essa psicologia barata pra cima de mim que não cola. Vocês têm uns argumentos muito chulos. Quase desnecessários.

   -Então você não amassou o dinheiro e jogou na cara dele?

   -... talvez eu tenha feito isso, mas....

   -Nem riu da piadinha idiota que a sua amiga fez da cara dele?

   -Não... – riu – Isso não. E defendi ele!

   -Defendeu?

   -Sim!

   -Sei... mas enfim, você acha que ele se sentiria a vontade pra sair com seus amigos se eles ficavam fazendo piadinha dele?

   -Mas que bobagem! A gente faz piada um com o outro o tempo todo!

   -Mas nós somos amigos, Fip! Temos intimidade pra fazer isso! SEUS amigos não SÃO amigos do Flavius. Eles não têm liberdade pra fazer certos comentários. Talvez eles achassem que tinham por ver ele como uma extensão sua... mas convenhamos, estamos falando do Flavius, o menino que foi motivo de piada da cidade a vida inteira! Como você queria que ele levasse isso numa boa?

   -Tá, mas não fui eu que fiz piada dele! Foram eles!

   -Mas você não defendeu ele!

   -Mas ele não precisa que eu o defenda! Ele sabe fazer isso sozinho, e muito bem! Essa parte ele não conta! Mas ele também fez uns comentários bem ácidos pros meus amigos!

   -Depois dos deles, aposto!

   -Sim! Mas isso não é se defender? Desculpe, Michel, mas o Flavius não ficou de coitadinho não! Toda ofensa que ele recebeu ele soube responder bem a altura.

   -Mas talvez ele esperasse que você assumisse essa postura.

   -Mas por que eu?

   -Porque são os SEUS amigos, Fip! Se você se cala diante disso você automaticamente consente!

   -Claro que não!

   -Ah é? Então me responde uma coisa! Você sempre foi um menino forte, não é?

   -Hãm? – disse cruzando os braços.

   -Você sempre enfrentou o seu pai, você me conta isso!

   -Enfrentava! Mas pra não dar o braço a torcer pra ele ué!

   -E nenhum dos seus tios te defendia quando ele te batia! Eles consentiam! E você tem raiva de muita gente por isso!

   -Mas é totalmente diferente!

   -É bastante diferente, mas o sentimento é o mesmo! O Flavius se sentiu abandonado por você! Mesmo sabendo se defender sozinho eram os seus amigos, quem tinha que colocar um limite neles era você! Fazer nada passa a sensação de que você concorda!

   -Você acha?

   -Claro que eu acho!

   -Nossa, mas o Flavius também! Se ofende com cada coisa....

   -Claro! Ser ofendido pelos seus amigos, deixado pra trás numa cidade desconhecida e ter um bolo de dinheiro jogado na sua cara é uma coisinha boba... Fip acorda! O menino estava sozinho lá! Num lugar que ele não conhecia ninguém! Num lugar que ele foi só pra te ver! Você era o único porto seguro dele lá! E você agiu que nem um idiota!

   -Sério?

   -Você tá tipo em duvida mesmo ou tá zuando com a minha cara?

   -Um pouco dos dois. Sei lá, Michel eu entendi mais ou menos o que você falou. Mas acho que não é pra tanto.

   Michel encarou o Fip com aquela cara de : “Ou você me entende AGORA ou eu não sei o que posso fazer!”. Fip disse:

   -Mas talvez o Flavius ache, né?

   -É isso que eu to tentando te dizer, criatura!

   -Ok, suponhamos que eu tenha feito merda. O que eu continuo achando que não fiz. O que eu devo fazer agora?

   -Pega o carro do Felipe emprestado e leva o Flavius pra sair.

   -Mas agora? Eu nem dormi direito e... – Michel o encarou longamente – Ok, eu vou.

...

   Fip entrou na cozinha com aquela pose de pavão que ele sempre assumia quando queria pedir desculpas. Andou em direção ao fogão, abriu uma das panelas, olhou seu conteúdo e disse:

   -Acho que prefiro comer fora. Você quer vir comigo Flavius?

   -Estou lavando louça. – eu disse – Por que não chama a Andréia, era esse o nome dela? Ela é tão divertida.

   -É Andressa.  Mas acho que ela está ocupada agora. Você vem ou não?

   -Acho que não.

   -Você vem sim. – ele disse me puxando pelo braço – Não estraga meu esquema!

   Eu quis puxar meu braço de volta, fazer uma cena! Mas fiquei sem jeito por causa do Artur, ele estava lá e fez uma cara estranha quando viu Fip me puxar pelo braço. Senti vergonha:

   -Se você insiste com tanta delicadeza. – eu disse num tom que fazia parecer que eu estava levando aquela situação na brincadeira. Talvez amenizasse a meu vexame.

   Ele me soltou e foi andando na frente:

   -Felipe to pegando a chave do seu carro. – disse enquanto abria a porta.

   Peguei meu casaco e sai. Ele veio atrás de mim:

   -Então? Para onde vamos? – disse ele enquanto esperávamos o elevador.

   -Você quem disse que queria sair. Por mim tanto faz.

   -Seu babaca! Estou perguntando pra você! Pra onde você quer ir animal!?

   -Eu quero ir pro raio que te parta!

   Ele me segurou pelos dois braços e me jogou na parede:

   -Ok! Vamos começar de novo! Pode ser?

   -Adianta eu dizer que não?

   -Adiantaria, mas nesse caso pode piorar a situação.

   O elevador chegou:

   -Então vamos pro carro.

   Tinha uma mulher no elevador o que nos forçou a ficar em silencio. Aquele tempo desconfortável que o tempo leva pra passar quando você tem de fingir que não tem nada a dizer. Quando chegamos no estacionamento tentei prologar o silencio e andei na frente. Fip entendeu a deixa e só tornou a falar quando estávamos dentro do carro:

   -Ok. – ele disse – Pode ser que eu tenha agido feito um idiota ontem. Mas estou tentando arrumar a situação, ok?

   -Você é ótimo em fazer isso! – disse com ironia.

   -Escuta! Eu to tentando ser legal, tá? Você pode pelo menos fingir que está dando certo? Porra! Facilita as coisas pra mim, pelo menos uma vez!

   -Claro, meu amor! – eu disse num tom exageradamente doce – Estou tão contente de estar nesse carro com você!

   -Você não precisa agir desse jeito comigo!

   -Que jeito?

   -Esse jeitinho irônico! Tá certo que eu fiz merda, mas você também não precisa ficar me maltratando pelo resto da vida!

   -Não é pelo resto da vida! É só até minha raiva passar!

   -Então vai! Me xinga até passar a raiva!

   Fiquei olhando pra cara dele meio sem saber o que fazer:

   -Eu não vou te xingar.

   -Anda! Xinga! Fala tudo! Deixa nada guardado ai dentro não!

   -Fip, para!

   -Eu sou o Flavius bocó!- ele disse fazendo uma voz fina e irritante – Eu não sei xingar as pessoas! Sou tão bobinho e panaca... ai de mim...

   -Vai tomar no cu, seu idiota! Retardado! Você é muito idiota sabia!? Idiota! Irritante! Tem hora que eu tenho vontade de esmurrar você! AArrg! Você é muito otário! Muito! Ontem eu fiquei te esperando que nem uma besta! Doido pra apresentação acabar logo! Pra poder te abraçar! Pra poder dizer o quanto eu tinha gostado! Você reclamou tanto que ninguém nunca tinha assistido a uma apresentação sua! Eu achei que era importante pra você!!! E isso fez ser importante pra mim! Eu fiquei duas horas, DUAS HORAS assistindo um monte de apresentação chata! EU NEM GOSTO DE DANÇA! Eu fiquei lá POR VOCÊ! Por que eu amo você! Seu idiota! IDIOTA! E você me aparece com quatro pedras na mão! Diz que tem outros planos! EU QUERIA TER SAIDO COM VOCÊ! QUERIA TER FICADO COM VOCÊ! Mas você não parecia querer que eu fosse junto! Você ficou com vergonha de mim! Quis me esconder dos seus amigos! Só porque eu não sou tão inteligente ou descolado como eles! Você teve medo de se envergonhar de mim! E não me olhe com essa cara de que eu estou mentindo! EU VI ISSO NOS SEUS OLHOS!

   Ele ficou me olhando com a boca branca e olhos arregalados por uns dois minutos, depois disse:

   -E... eu não tive vergonha de você.

   -Mas teve medo que eu te desse motivos para se envergonhar.

   -Nã...não é bem isso. É que o seu jeito e o jeito deles é muito diferente. Não é que você fosse me envergonhar. Eu só pensei.... só pensei que você não fosse se adaptar. E você sabe que não ia! Você não ia curtir sair com a gente!

   -Então pelo menos admita que você não queria que eu fosse e para de colocar a culpa em mim!

   -Mas você também não queria ir. Você sabia que não ia gostar.

   -Talvez eu gostasse se você tivesse agido diferente. Se tivesse me passado segurança!

   -Como eu te passaria segurança!?

   -Seus amigos me destrataram porque não me viram como seu namorado! Eles me respeitariam se você tivesse exigido que eles me respeitassem! Se você tivesse me respeitado! Eu me sentiria diferente! Eles me sentiriam diferente! Mas não! Você não me defendeu! Eu tive que me defender sozinho! E por causa disso eles passaram a me ver como um encrenqueiro birrento! E o fato de você não ter me defendido deles fez com que eles pensassem que você também me visse assim! E isso FOI O PIOR!

   -Mas você é meio birrento às vezes!

   -MEIO BIRRENTO? Eles estavam me atacando! Eu tive que me defender!

   -Eles estavam brincando!

   -Mas eu não estava!

   -O que torna você um birrento!

   -Não gostar que uma pessoa com a qual você não tem liberdade brinque com você não te torna birrento!

   -Mas não se abrir para que as pessoas TENHAM liberdade com você sim!

   -Eles não eram meus amigos, Fip! Eram seus!

   -Por isso você podia ter o mínimo de consideração com eles!

   -E a consideração deles por mim?!

   -Você não pode conquistar a consideração deles sozinho?

   -Ah! Muito bonito! Por que você exige que eu tenha consideração por eles e não exige que eles tenham consideração por mim? A minha consideração por eles é minha obrigação, mas a deles por mim eu tenho que conquistar?!

   -Não é isso!

   -É o que então?

   -É que... é que... sei lá! Era o ambiente deles! Você era o invasor... digamos assim.

   -Então aquele não era o meu lugar?

   -Claro que não! Você mesmo disse que nem gosta de dança! O que estava fazendo lá então?

   -Eu estava lá porque pensava que o meu lugar era do seu lado. Mas já percebi que estava enganado. – disse abrindo a porta e saindo do carro.

   -Espera aí, Flavius! Não precisa disso! Volta aqui, vamos conversar!

   -Conversar o que? Já está tudo conversado Fip! Eu já entendi o lugar que eu ocupo na sua vida. E me desculpe, não é igual o lugar que você ocupava na minha! Acho que é melhor a gente acabar tudo por aqui!

   -Flavius! Espera! Você tá exagerando, caralho!

   Ele correu na minha direção e me pegou pelo braço de novo:

   -Flavius, escuta!

   -SE VOCÊ NÃO ME SOLTAR AGORA EU NÃO SEI O QUE POSSO FAZER!

   -ENTÃO ME OUVE!

   -ENTÃO ME SOLTA!

   Paramos de frente um pro outro, evidente que estávamos diante de um empasse. Ele me soltou:

   -Tudo bem, mas você vai me ouvir?

   -Estou ouvindo.

   -Eu não tenho vergonha de você! Mas você e meus amigos vêm de mundos totalmente diferentes! E eu não soube como lidar com isso! Eu sei que a maioria deles te consideraria um idiota, um esquisito! E eu acho a maioria deles idiotas por isso! Mas querer te poupar deles não significa que eu concorde com o que eles pensam! Só significa que eu não sei como lidar com isso! E eu não sei, ok? Eu não saberia como te defender! Porque desde que eu conheço aquele povo que eles são daquele jeito! Eu acho isso estupido, mas o que eu posso fazer? São meus amigos, eu não preciso concordar com tudo o que eles fazem! E também não posso jogar fora toda a história que tive com eles por causa de você!

   -Nem eu quero que você faça isso!

   -Então! Da mesma forma que eu não quero que você largue seus amigos por mim!

   -Eu não tenho amigos, Fip. Você é o único amigo que eu tenho.

   -Mentira! Você tem a Natasha, o Michel.

   -Que eu conheci através de você.

   -Tem o Felipe.

   -Felipe não gosta de mim. Ele quer me usar pra te atingir!

   -Qual é Flavius! Você deve ter mais algum amigo.

   -Não. Eu não tenho.

   -Então é por isso que você não entende.

   -Talvez seja.

   -Ok, desculpe.

   -Desculpe também.

   -Você não tem do que se desculpar.

   -Acredite, tenho sim.

   -Deixa isso pra lá. Vem comigo até o carro. Eu estou morrendo de fome, quero te levar até um lugar onde tem o melhor cachorro quente que eu já comi. Fica dentro de um bosque, a vista de lá é inacreditável! Você vai adorar!

   -Vamos. – disse abraçando seus ombros .

   -Só vamos passar na casa da Andressa pra buscar ela. Ela adora cachorro quente! – ele disse brincando.

   -Tudo bem se você passar em uma loja de armas primeiro.

   -Ahahahahaha! Que crueldade Flavius.

   -Que isso... eu adorei aquela menina!

   -Percebe-se. Vocês tiveram um mau começo, mas ela é uma menina legal.

   -Talvez... debaixo de sete palmos.

   -Ahahahahaha! Ok, ok, vamos mudar de assunto. Você jantou mesmo com o Manuel ontem?


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