Sangue escrita por Salomé Abdala


Capítulo 36
Capítulo 34 - Novos Prazeres




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—E o Michel? – perguntpou Fip com um tom que me fez pensar que ele desconfiava de algo.

Engraçado pensar que, quando fazemos algo considerado errado, ou alguma coisa que queremos esconder, encaramos qualquer pergunta, indagação, olhar, como um sinal de desconfiança. Sentia que Fip podia ler meus pensamentos e neles estava escrito: transei com Michel ontem, e foi melhor do que eu esperava. Fiquei com medo de responder. Queria negar tudo, mas e se ele já soubesse? E se estivesse a testar minha sinceridade?

—O que tem ele? – respondi para ganhar tempo.

—Como assim o que tem ele? Ele não é o amor da sua vida?

—Se fosse, pensa que teria te pedido em namoro?

—Sei lá, as vezes aconteceu alguma coisa que fez você perder as esperanças. E ai você decidiu ficar comigo mesmo.

—Não seja ridículo, Fip. Michel foi uma paixão adolescente, ele parecia mais interessante antes de eu o conhecer. Sei lá, depois que conheci ele de verdade, parece que tudo perdeu a graça.

—Sei como é. Ontem fiquei com medo de rolar alguma coisa entre vocês. Sei que parece idiota, mas eu fiquei todo enciumado. Não que não pudesse acontecer... digo, vocês dois são livres, podia muito bem ter acontecido, mas... ah, sei lá. Eu tive medo que pudesse... bem, você sabe.

Ele estava me testando sim! Queria um parecer meu sobre a noite de ontem. Só não sei se ele sabia de fato de alguma coisa ou se tinha apenas uma desconfiança. Senti-me em uma enrascada: se ele soubesse de tudo e eu negasse, poderia estar quebrando sua confiança. Mas, por outro lado, se fosse apenas uma desconfiança “idiota”, como ele diz, não seria melhor que ele continuasse a pensar que não passava de uma teoria? Seu olhar me encarava exigindo uma resposta, eu precisava ser rápido:

—Bem, não nego que cheguei a pensar nisso...

—Sei. – ele disse separando seu braço do meu corpo, gerando um certo afastamento físico. Nesse instante percebi: ele não sabia de nada. Se soubesse tentaria me encorajar a contar. Mas, como se mostrou irritado com a mera possibilidade de ter acontecido, como se pego de surpresa, imaginei que ele não soubesse de nada.

—Mas não tive coragem de tomar nenhuma iniciativa.

—Ah, claro, isso eu devia imaginar de você. – ele disse já com as costas viradas para mim.

—Porque pensei no quanto isso poderia te machucar e não quis te submeter a isso. Sabe, doeu muito quando eu vi vocês dois juntos... – ele se virou novamente de frente para mim – E eu pensei que não queria que você sentisse isso; - menti.

—Você está falando sério, Flavius?

—E por que acha que eu vim até aqui hoje para te pedir em namoro? Porque ao pensar nisso, percebi o quanto você é importante para mim. Percebi o quanto gosto da sua companhia e que eu quero mesmo ficar contigo. – eu não estava completamente certo daquilo que dizia. Dentro de mim ainda havia certa dúvida de preferência entre Fip, Michel e até Felipe. Mas, no fundo, em algum lugar, eu sentia que estava fazendo a coisa certa. Sabia, de alguma forma intuitiva, que era com Fip que eu queria ficar, mesmo que agora, nesse momento, meu coração parecesse confuso.

—Eu te machuquei muito quando fiquei com ele, não foi?

—Foi.

—Quase te perdi para sempre por isso, não é?

—Sim. Eu não sei com que direito você decidiu se sentir enciumado! Eu é quem tenho que sentir ciúmes por aqui. Vocês moram juntos, já transaram sei lá quantas vezes e podem voltar a fazer isso quando quiserem! Você é quem não liga nem um pouco para os sentimentos dos outros e...

—Shh. – ele disse encostando o dedo na minha boca – Aquilo não vai voltar a acontecer nunca mais, entendeu? Nunca mais!

—Eu não acredito em você. – disse depois de morder seu dedo – Eu te conheço, Fip, sei que você não é capaz de se controlar.

—Não é bem assim. O que rolou entre eu e o Michel foi uma bobagem, eu fiz para te atingir! Porque você não me dava bola. Agora é diferente! Agora nós temos um compromisso! Eu sei respeitar isso!

—Não é o que Felipe diz. – disse cruzando os braços e franzindo o cenho. Mas, na realidade, estava muito feliz por conseguir inverter a situação. O mastro da desconfiança estava em minhas mãos agora! E não ia perdê-lo tão cedo. Enquanto o foco de pessoa amoral estivesse a iluminar Fip, a dúvida não recairia sobre mim!

—Não ouse a se comparar com Felipe! – ele disse subindo em cima de mim como um animal! – Você não é um idiota mesquinho igual ele, e nunca será tratado como um!

—Eu duvido mui...

Ele me interrompeu me dando um beijo:

—Se quer ficar comigo, terá que aprender a confiar em mim, caso contrário isso não dará certo.

—E você também terá que confiar em mim!

—E quem disse que eu não confio?

...

 

—Artur, não repara na bagunça, deve fazer um mês que ninguém entra nessa casa! – disse Michel ao abrir a porta.

—Na verdade parece que ninguém nunca entrou aqui! – disse o rapaz ao se deparar com a sala praticamente vazia.

—É que não moramos aqui. – disse Natasha se atirando no colchão que ficava jogado no chão com algumas almofadas e lençóis bagunçados em cima dele. Era a única coisa, além das cortinas, que tinha na sala.

—Isso dá pra ver. – disse o rapaz. – E o que tem nos outros cômodos?

—Ah, no banheiro e na cozinha tem quase tudo. No meu quarto tem uma cama e um guarda-roupa. A gente nem se preocupou em mobiliar direito.

—Tudo bem, vocês tem que ver o lugar onde eu moro, é quase menor que essa sala!

—Que horror! – disse Michel – Pra quem saiu de uma casa como a sua!

—É, a casa da minha mãe é bem grande, mas eu prefiro ter o meu cantinho. – disse se jogando também no sofá. – Lá é pequeno mas cabem todas as minhas convicções.

—Pelo visto você não se dá bem com a sua velha.

—Não muito.

—Então bate aqui. – disse erguendo a mão. – Eu fugi de casa.

—Ahahahah, que inusitado!

—E vim parar aqui porque uma louca me atropelou no meio da estrada e me jogou na praça. Se não fosse por Fip eu teria morrido!

—Fip é o dono da casa que você realmente mora, certo?

—Isso.

—Parece um bom sujeito. E você, Michel? Ouvi dizer que tinha saído de casa também.

—É, tive uns problemas com meus pais.

—E também está morando com esse Fip?

—Sim.

—Ahahahhaha, esse Fip não quer me sustentar também não?

—Com esse corpo que você tem. – disse Natasha – Eu não duvido nada que ele aceite.

—Ah, você gostou do meu corpo, foi?

—Ando gostando cada vez mais. – disse a garota abrindo alguns botões da camisa do rapaz.

Michel tentou desviar o olhar para disfarçar o interesse, mas não conseguia disfarçar. Artur sorriu e disse:

—Seu corpo também parece muito bonito. Posso observar melhor?

—Mas é claro! – disse Natasha se sentando e levantando a blusa, deixando seu sutiã a mostra. – O que acha?

—Magnífico. – disse o rapaz puxando-a pela nuca e beijando sua boca.

Michel, desconcertado pela posição de “vela”, tentou se levantar, mas Artur o segurou pelo pulso e disse:

—Aonde você pensa que vai, rapazinho?

—Não quero ficar segurando vela.

—Então junte-se a nós. – ele disse.

 

...

 

“Depois que Flavius dormiu eu fui até o jardim para respirar um pouco de ar puro. Vi, pela minha janela, que havia gente na casa da Natasha. Ela e Michel devem ter pensado em dar privacidade para mim e meu menino... bem pensado.

Sentei-me nas escadas que levavam ao jardim e fiquei pensando sobre o dia que havia passado: Flavius havia me pedido em namoro. Engraçado isso, é uma atitude que eu nunca esperei que esse pivete fosse tomar! Ah, Flavius, vive para me surpreender! Pensei que, depois de tudo, ele se afastaria cada vez mais de mim. Como é estranha essa coisa de gostar! Quando gostamos de alguém ficamos totalmente submetidos aos caprichos de nossos sentimentos! Mudamos de opinião a cada instante e perdemos completamente a noção de nós mesmos. Fico imaginando Flavius, pensando em vir atrás de Michel e logo em seguida se perceber apaixonado por mim. Que loucura!

Me senti mal por toda a desconfiança que senti por ele. Flavius não é ardiloso e mesquinho como eu! Ele tem razão: eu sou indigno de confiança, ele não! Flavius é um menino bom, puro, e é exatamente por isso que sofreu tanto a vida toda. Ele é incapaz de qualquer ato covarde... já eu... eu sou um animal, uma besta sem controle. Transaria com Michel agora mesmo se ele estivesse aqui! Enquanto ele (Flavius) dormia tranquilo no quarto a pensar em mim! Que grande cretino eu sou! (Não que eu me arrependa, mas eu sinto que Flavius não merece esse tipo de traição).... vou tentar me controlar melhor daqui pra frente. Gosto muito desse menino e não quero estragar tudo.

É a primeira vez que sinto que meu coração está no lugar. Ainda me parece que essa informação não é verdadeira, que estou a viver em um sonho... mas é real, somos namorados e estamos prontos para nos amar! Vou tentar não fuder com tudo (nem com todo mundo que aparecer na minha frente). Serei para o Flavius o namorado que ele merece! Vou fazer por merecer essa oportunidade! Vim para essa cidade pra procurar uma vida nova e essa pode ser a minha grande chance!”


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