Sangue escrita por Salomé Abdala
‘’Vou descobrir tudo’’, foi o que Pierre disse com invejável determinação enquanto Rebeca ria. Rebeca, de certa forma, tinha lá suas razões para rir, e pôde confirma-las no primeiro mês de investigação... Pierre não encontrou nada... E não sejamos injustos em dizer que ele não procurou o bastante, durante semanas foi tudo o que ele fez; vasculhou o apartamento, entrevistou pessoas, invadiu cartórios, subornou pessoas e nada... nenhuma pista ou informação sobre seu passado, família, nome ou qualquer coisa do tipo. Tudo o que Pierre pôde descobrir foi o que todos já sabiam: um belo dia, Fip chegou na cidade dizendo que queria dançar e logo estava se apresentando nos melhores teatros do país e do mundo. Seu talento era incontestável, insuperável, assim como seu carisma e sua sagacidade. Consequentemente, Fip acabou se tornando uma lenda viva no país inteiro... Seguiram-se três anos de glória e fama, com uma ótima representatividade fora do país e incontáveis prêmios vindos de todos os grandes festivais, tanto nacionais quanto internacionais.
Sabe-se que ele estava se preparando para uma turnê pela América Latina, que seria anunciada na semana após o dia se seu suicídio...o por que de sua morte continua uma incógnita para todos...
—E então? Desistiu de bancar o detetive? – pergunta Rebeca enquanto penteia seus longos cabelos negros.
—Aff, estou quase desistindo, Rebeca. Não sei mais onde procurar! E o que mais me intriga é o porque de tanto mistério! O que ele tinha de tão grande para esconder? Para que esconder tão bem assim todo o seu passado?
—Para tornar as coisas mais interessantes para você, Pierre. Só isso.
—Como assim?
—Por favor, Pierre, ele só morava a três quarteirões daqui!
—E o que tem isso a ver? Eu não estou entendo onde você quer chegar!
—Ah, você não precisa entender. – pega a bolsa, uma imitação grosseira, mas não muito barata, da Gucci, dessas que se encontram aos montes na 25 de março - Estou de saída, ok? Acho que não volto para casa hoje. Tchauzinho.
—Rebeca, espere!
—O que é?
—Você não ia me ajudar?
—Não.- e ela fez aquela cara de ‘’não me importo mesmo com você’’.
—Por favor, Rebeca.
—Ah Pierre, vai a merda! Eu tenho mais o que fazer do que ficar aqui ajudando você a escrever o nada que você descobriu! Ah, e quase me esqueci, chegou uma carta para você hoje à tarde, passaram por debaixo da porta, está na mesa da cozinha. Não tem remetente, espero que você não esteja metido em confusão. Tchau! – bate a porta.
Pierre se levanta do sofá e vai até a mesa buscar a tal carta. Tratava-se de um envelope envelhecido, lacrado com parafina, sem nenhum remetente.’’Como ela chegou?’’ – pensa ao abrir a carta que dizia o seguinte:
‘’Céu, 23 de novembro de 2003.
Caro Pierre.
Venho por meio desta informar-lhe que o senhor foi convocado para uma reunião a respeito de seu novo alvo jornalístico: Francisco Ivan Perez III, a quem o senhor conhece por Fip. Enfiando a formalidade no rabo de quem a inventou, vamos direto ao assunto! Eu tenho algo que pode lhe interessar muito sobre Fip. Trata-se do diário que ele/eu escrevi antes de abandonar a cidade de Alvinópolis, onde foi morar aos 18 anos. Apareça na casa noturna ‘’ Lithium’’ amanhã, dia 23, as 23h e 45 min... não se preocupe em me encontrar eu estou morto, mas o pessoal encontrará você ( fala a verdade, sentiu um leve frio na espinha, não? ). Lembrando que ali estarão reunidas as três, e talvez quatro, personagens mais importantes dessa história: Flavius Augusto Alves, Michel Janis Angoti, Naasha Silva Azevedo e, caso acredite em vida após a morte, talvez eu. Não esqueça de levar a Rebeca com você, ela será de suma importância para que tudo corra bem.
Não perca muito do seu tempo tentando desvendar essa carta. Você não chegara à conclusão alguma. E se você quer mesmo muito uma explicação, contente-se com essa: armar esse tipo de cena fazia o meu tipo... e isso significa muita coisa.
—^_^-
E foi assim que aconteceu...simples assim...
Ass: papai do céu
ps: isso não é uma brincadeira! (apesar de parecer, e muito!)’’
-Isso só pode ser uma brincadeira! – disse Pierre a si mesmo enquanto amassava o envelope junto à carta jogando-os no lixo. – Típico da Rebeca! – e já se imaginou chegando na tal boate e se deparando com Rebeca e seus amigos de trabalho caçoando de sua cara. – Que tipo de brincadeira é essa? – e ele observa seu rosto magro de nariz pontudo no espelho.
Mas Pierre não conseguiu dormir naquela noite. ‘’E se for verdade?Eu estaria desperdiçando a chance da minha vida’’
‘’A chance da minha vida’’, é impressionante o peso que essas palavras juntas podem ter...talvez por isso Pierre não conseguisse mesmo dormir, enquanto as palavras daquela carta chicoteavam sua cabeça. ‘’isso não é uma brincadeira, apesar de parecer.’’...ARGH!!EU PRECISO DORMIR!!
Rolou na cama por horas, pensou e repensou muito, buscou a carta no lixo e a releu centenas de vezes, e enfim dormiu...acordou cedo no outro dia, porém chegou atrasado ao trabalho...
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