Sangue escrita por Salomé Abdala


Capítulo 20
Capítulo 18 – Uma leve brisa de tensão...




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‘’Eram quase duas da tarde quando voltei do meu almoço com dona Guilhermina. Ou Guigui, porque depois de dois dias consecutivos de visitas à sua casa já estou me sentindo íntimo! Ela estava animada com a ideia de se vingar do meu pai por tudo que ele fez com minha mãe, e queria me usar para isso. Não sei se todo mundo sabe, por que não me lembro de ter tocado nesse assunto, mas minha mãe se casou com meu pai quando era ainda muito nova e passou por muita coisa ruim ao lado dele. Um dia, ela decidiu que estava cansada da violenta tirania de meu pai e simplesmente desapareceu no mundo.

Eu não a culpo porque faria o mesmo se pudesse. Mas não nego que sinto falta dela ... Mas o foco não era esse. O foco é que Guigui sempre gostou muita da minha mãe e guarda um enorme ressentimento do meu pai por tudo que ele fez a ela. Por isso ela queria me usar para dar uma lição nele.  A ideia dela era marcar um encontro entre EU  e MEU PAI onde, na verdade, estariam uns capangas da Dona Guilhermina para pegarem ele de pancada.... poxa é irônico, não é? Junto com a pancadaria fica o aviso para ele me deixar em paz. É engraçado que eu deveria me sentir culpado por isso, mas não me sinto nem um pouco inclinado a isso.

Será na sexta feira. Hoje é terça. Fico um pouco apreensivo com medo do plano todo falhar. Não entendo, se meu pai sabe que estou aqui por que não veio direto até a minha casa? Bem, difícil saber... difícil saber....’’

...

Michel e eu almoçamos juntos naquele dia. Depois ele voltou para a casa do Fip pedindo para mim aparecer mais vezes por lá. Sinto um formigamento no corpo e uma sensação de que a qualquer momento vou explodir felicidade por todos os poros. Fiquei tão ansioso que mal consegui dormir e o dia demorou séculos para passar. Pensei diversas vezes em aparecer por lá a noite mesmo. Mas fiquei com medo de parecer muito atirado e por isso decidi aparecer só no outro dia depois da aula.

O Michel não anda aparecendo na escola, desde que saiu da casa dos pais. Dizem que ele vai reprovar. Uma pena. O dia na aula passou muito arrastado! Tentava me concentrar, prestar atenção em algo, mas logo meu pensamento escapava rumo ao Michel. Ao seu sorriso, à sua mão macia... como deverá ser seu beijo? Caloroso e avassalador como o do Fip? Com certeza não, Michel deve ser mais sutil, romântico... deve ser carinhoso. Imagino que deva ser bom, ficar deitado em seus braços depois de uma noite tranqüila de amor... ao contrário do Fip, que é um furacão... com aquele cheiro forte, corpo firme, aquela pegada que faz minhas pernas tremerem e o resto do mundo desaparecer...

Ai droga, lembrar do Fip faz meu corpo inteiro tremer. Que desejo é esse que sinto por ele? Sinto por ele uma atração sexual totalmente fora dos limites, incontrolável! Mas terei de me controlar, pois amo demais o Michel e não quero traí-lo jamais!

Do que estou falando? De traição? Engraçado, nem somos namorados... ainda... e pensando nisso sinto o sangue me subir ao rosto e percebo aquele formigamento. Abaixo a cabeça tentando esconder meus pensamentos da percepção dos outros... como se alguém estivesse interessado em saber o que o estranho do Flavius pensa...

...

—Você está bem, Fip? – perguntei.

—Mais ou menos, Michel.

Ele andava estranho comigo desde que voltei para casa ontem. Arredio, daquele jeito agressivo que ele tem de vez em quando.

—Se eu puder ajudar... – disse.

—Ajudaria se você morresse!

Ele falou se levantando e saindo da sala. Eu fui atrás dele! Não estava mais disposto a ouvir esse tipo de humilhação!

—E por que você está falando desse jeito comigo? Eu te fiz alguma coisa? Por acaso e te fiz alguma coisa?!

Ele se virou para mim e deu um tapa no meu rosto! Um tapa! No meu rosto! Quem esse patife desgraçado pensa que é? Nem mesmo minha mãe teria coragem de me fazer uma coisa dessas!

—Por que você fez isso? – eu perguntei.

—Eu não sei! EU NÃO SEI! – ele disse colocando as mãos no rosto.

—Então pense melhor antes de fazer esse tipo de merda!

—Desculpe. – ele disse num tom falso de arrependimento – Eu ando uma pilha de nervos. – Agi meio por instinto.

—O que está te deixando tão nervoso?

Ele se sentou no chão e começou a me contar toda a história entre ele, Guilhermina e seu pai. Achei tudo muito pesado e não soube exatamente como reagir. A única coisa que consegui dizer foi:

—Obrigado por me contar.

—Não tem como esconder nada desse seu rostinho bonito.

Senti o sangue invadindo-me a face, abaixei a cabeça constrangido:

—Ai Fip, para com isso...

—Ficou vermelho ou isso é o tapa que eu te dei?

Sem pensar duas vezes devolvi a ele o tapa. Foi a primeira vez que esbofeteei alguém na minha vida. Ele se virou para mim sorrindo e disse:

—Agora estamos quites, eu suponho?

—Sim. – eu disse.

—Ah, então deixe-me desequilibrar essa balança!

E ele pulou em cima de mim. Quando me dei conta estávamos rolando pelo chão numa briga fingida. É engraçado porque nunca gostei desse tipo de brincadeira, nunca me imaginei metido em uma dessas, mas logo percebi que estávamos vivenciando um jogo de dominação! E Fip era bom nisso, de verdade! Tinha muita força nos braços e sua elasticidade ajudava muito! Mas eu tinha meus truques na manga: já havia feito algumas lutas... coisas do meu pai...

E logo assim que ele percebeu que existia uma chance de ele perder, arrumou um jeito de fugir de mim rumo as escadas. Mas eu não estava disposto a deixar isso assim. Minha camiseta estava rasgada, meu corpo todo vermelho e Fip também, totalmente ruborizado, suado. Natasha apenas nos observava com olhos arregalados. E lá estávamos nós, embrenhados na escada, tentando vencer um ao outro, rindo como duas crianças bobas:

—Na escada não! – disse Fip, aqui podemos nos machucar!

Disse isso enquanto puxava seu pé que deixei escapar propositalmente. Ele aproveitou a brecha e escorregou para o corredor, engatinhando como um bebê, quase vencido, ofegante. Pobre Fip, ele está acostumado a lidar com amadores, com pessoas que não sabem lutar. E deve ter se deixado levar pela minha aparência frágil... agora está acuado, tentando fugir. Eu não, ainda estou disposto! Ainda posso mostrar a esse garoto que o mundo não gira em torno do seu poder.

Enquanto ele tentava engatinhar rumo ao seu quarto eu corri em sua direção. Pisei em suas costas forçando-o a se deitar no chão:

—Estamos quites agora? – disse.

—Tá bom, chega! Eu me rendo!

—Se rende uma ova! Ainda tenho alguns truques para mostrar!

Disse isso me deitando em cima dele, segurando seus braços de modo a imobilizá-lo. Mostrando a ele quem manda agora aqui:

—E então, Sr. Fip? Está satisfeito agora?

—Não! Era para mim estar no seu lugar!

—Mas não está! – disse fazendo-o se virar de frente para mim. – E agora vou tomar meu prêmio.

—Estou entregue. – disse ele.

...

—Ahahahahaha! Eu me lembro disso! – Disse Natasha. – E eu não estava com uma maçã na mão, estava com um suco de caixinha! Sempre adorei sucos de caixinha! Eu lembro de ter ficado olhando para vocês e pensando: Mas que porra é essa? Vocês pareciam dois moleques rolando daquele jeito no chão!

—É, eu me lembro desse dia também. – Disse Flavius num tom sombrio.

—Mas nem vem. – disse Natasha – Agora é minha vez de contar.

...

Eu ficava lá olhando para aquela cena estranha, quase ridícula de dominação masculina. Eu nunca entendi bem essa necessidade dos homens de ter essas pequenas provas de poder, de força, dominação. Eu acho uma bobagem... mas pensando bem, nós mulheres temos duelos de poder também, mais sutis, mas ainda assim duelos... enfim, onde eu estava? Ah sim. O duelo bobo que terminou em uma seção de sexo onde Michel dominou Fip. Muito bem. Eu sei que terminou em sexo porque a coisa rolou ali mesmo no corredor, na entrada do quarto, pelo menos de início. Quando eles se deram conta de que deviam entrar no quarto já estavam despidos e no meio do furacão.

Felipe, que estava no jardim, logo veio para a sala, com os olhos arregalados me perguntando:

—Mas o que ta acontecendo?

—Ah, seu primo com o Michel lá em cima.

—O que tem os dois?

—Nessa idade você ainda não sabe?

—Ah... ah droga – ele disse num tom de desespero que me deu pena – Ah.. ah não... Francis... por que?

Estava com lágrimas nos olhos, coitadinho. Eu fiquei com dózinnha dele, de verdade:

—Oh meu bem, não fica assim não. – eu disse – Poxa. Err... eu não sei o que dizer, mas não fica assim não.

—Como não? Eu ajudei ele! Eu ajudei ele em tudo e agora ele me faz isso?

—É, bem, isso dá pra ver. Você gosta muito mais dele do que ele de você. Mas eu sei que isso não soa como consolo, mas o Fip é assim mesmo meu querido. Ele só gosta dele.

—Droga, Natasha. Eu rodei meio país pra ver ele!

—Vem cá, vem? – eu disse, ele me obedeceu. Deitou no sofá e eu fiquei afagando os cabelos dele. Ele tentava não chorar, mas eram claras suas lágrimas. – Não fica assim, meu amor. Eu sei que não serve de consolo, mas você sabe que seu lugar, para o Fip, será sempre seu. Mas o Fip não é o tipo de pessoa que dará prioridade para ninguém.

—Eu sei... mas como eu posso simplesmente aceitar isso?

—É... eu não sei...

Foi quando a campainha tocou. Felipe foi abrir, era o Flavius. Estava sorridente e saltitante. Chegou perguntando por Fip e por Michel:

—Estão no quarto. – eu disse.

Ele secou o sorriso. Olhou-me nos olhos com um olhar estranho. Percebi que tinha falado demais. Lembrei do Fip ter mencionado alguma coisa sobre Flavius gostar do loirinho. Mas que droga de boca eu tenho!

...

—Tá bom, Natasha. – disse Flavius – Agora é minha vez.

—Acho justo. – ela respondeu.

...


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