Despertar escrita por Ragnar


Capítulo 10
Capítulo 9




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A última coisa que Yasuo queria fazer era encarar Garen ao chegar do encontro com Katarina. Depois que voltou da casa das meninas e do “encontro” agradável com Rakan, voltar e esperar o resto do dia foi uma das coisas agonizantes que passou, segurando a estrela dourada em tom rosa, respirando fundo ao lembrar de forma vivida que viu o carro chegando, do som e quando desviou o olhar para não ver o resto.

Viu a reação de Rakan ao relembrar de uma morte que nem mesmo teve culpa, sendo manipulado. O mais assustador foi perceber que o ex-namorado de Garen foi um guardião estelar...

Ao ouvir a porta se abrir e ouvir poucos passos de uma pessoa apenas, não se mexeu de onde estava na sala, o rosto sério ao receber o outro, segurando o coelho em seus braços e ter Adorável dormindo aos seus pés, livre do quarto onde ficava com Yasuo, se escondendo de todos.

Parecia a face de velório, mas... A notícia em si já era de um velório. Sendo recebido pelo silêncio e tentando se expressar em palavras, quase perdendo a voz com a bola que se entalava em sua garganta, sentindo o rosto quente pelas lágrimas, sendo amparado por Garen e vendo a preocupação... Ele nem mesmo sabia e era Yasuo que daria a notícia, falando e não sabendo como conseguiu falar, vendo o choque passar diante dos olhos azuis do outro, a tristeza mais profunda de alguém, da notícia de alguém que esperou e não viu o retorno aquele que amava.

Entregando a mesma estrela dourada para Garen, mas sendo a mesma devolvida e embrulhada nas mãos de Yasuo. Por que doía tanto nele? Por que ele que estava sendo consolado ao invés de Garen?

Ter visto Taric morrer em uma visão que não era dele... Ver a estrela de guardião não ser recebida pelo outro, a única lembrança que tinha.

— Eu sinto muito... Eu sinto muito, Garen...

Apenas o silêncio o coelho escapando e Adorável em seus pés. Eles tinham feito um trato, não falar do mundo da qual Luxanna pertencia e disso, não falariam da morte de Taric, não falariam do acessório, da estrela dourada.

Foi a coisa que mais transbordava de dentro de Yasuo, mais profunda que se misturava em vários tons, algo que ele sentiu apenas uma vez... Na morte de alguém especial... Mas ele não conseguia lembrar, não conseguia recordar de onde sentia aquela familiaridade. Se sentia sufocado... Até se isolar em seu quarto e ter ali o familiar, Riku, pousando perto da escrivaninha, mostrando que havia uma presença além ali, tendo Rakan no quarto, sentado ao lado de Yasuo e sendo o próximo a consolar ele. Mas... Yasuo não queria palavras bonitas, não queria a ironia e sarcasmo de espinhos que o ex-guardião tinha, o queria perto, se fundir até dor sumir d si, se formarem algo diferente e que se assim, tornaria a dor transparente e quase invisível para reconhecer.

Sentindo o toque em seu rosto, a pele nua do peito dele contra seu braço e então, Rakan o puxou para um contato maior, uma afeição tão harmoniosa que a dor se transbordou, em lágrimas quentes e no toque dos lábios do outro, sentindo um beijo em um tom, molhado pelo mais puro e cristalino sentimento.

Não contendo as mãos para si mesmo, agarrando o rosto de Rakan em suas mãos, o tocando em seus ombros, passando para os braços, o mantendo para si, o querendo mais... Até ouvir o murmurar, o doce tom de uma melodia no timbre rouco do outro... Sentia sua dor ficando mais visível, se sentindo fraco e se encolhendo contra Rakan, o ouvindo, o beijando em meio a música cantada  e sem letras. Suspirando ao tê-lo tão para si, se perdendo em memórias que não eram suas, em uma vida que não conseguia lembrar e se recusava...

— É harmonioso... É como se essa bagunça fosse uma música... — Sussurrou, Yasuo — E você estivesse dando forma a ela... Como você faz isso?

— É uma badalada, algo perdido e que quando se encontra, se mistura com o que se perde... — Ele o sussurrou — Você é puro caos, Yasuo...

— Eu só quero que acabe... Mas não pare, quero ouvi-lo até me perder novamente...

— A nossa badalada, mieli...

Sentiu seu cabelo ser solto, acariciado, um carinho para ser deitado, sentir o outro deitado e o olhando, o dourado do sol, o iluminando e o aquecendo. Queria falar, queria perguntar de Xayah, da sua parceira, da mulher que o acompanhava e fazia parte daquela sombria missão, dos objetivos da primeira guardiã, mas não queria se perder tão cedo, queria o sol para si, aquela estrela o acolhendo.

Assim, dormiu nos braços de Rakan, repousando e acordando em uma semana para uma rotina comum. Para sua vida comum.

Recebendo pessoas diferentes na loja, vendo novamente Ahri, a colegial que não gostava nem um pouco acompanhada dos seus amigos, reconhecendo Sarah e Ezreal, menos outras duas. A estrela dourada que tinha sido confiado a ele ardia no bolso da calça, como um sentimento preso e refletindo o que Yasuo sentia.

Os mais gentis foram os que já conhecia, sendo apresentado a Soraka, uma menina doce, mas... Estranhando aquele papo todo e sentindo o olhar de Ahri em si, sério do que aconteceria.

— Vim me desculpar pela última vez.

Todos os cinco estavam no caixa com Yasuo, o colega de trabalho dele deveria estar perdido no espaço enquanto o deixou sozinho ali.

— Perdão, não sei do que você está falando, senhorita — Sorriu, passando o produto — Vai ficar dezessete e noventa — Falou.

— Fui rude e Sarah fez que eu admitisse o meu erro — Voltou a falar, deixando o dinheiro para ele — Mas ela me contou algo curioso também... De que um guardião estelar, um antigo, está treinando o grupo da Luxanna e você sabe da existência desse “guardião” — E recebendo o troco com a pequena sacola — Ficaria feliz se me falasse mais dele.

A única coisa que Yasuo fez foi lançar uma careta feia para Ezreal e Sarah, vendo o garoto ficar sem graça e Sarah... Bem, Sarah era Sarah.

— Por que eu falaria algo a você? Eu não sou um erro? — Rebateu, o cenho franzido e uma pequena fagulha de raiva crescendo nele.

— Eu pedi desculpas.

— Você queimou o meu ombro — A lembrou, indignado — Se desculpas fosse uma bandeira branca, haveria paz mundial.

— Eu disse que ele não iria aceitar — Sarah rebateu para a outra — Vamos...

— Um instante — E erguendo a mão, Ahri se aproximou ainda mais — Yasuo, as meninas correm um grande perigo se esse guardião for quem pensamos que é... Elas e você correm perigo e não falo isso apenas por ser alguém chata, é para o bem de todos que você conhece e são ligados não só a você como a elas, pessoas que não sabem da nossa existência, dependem de nós...

— Eu já dei a minha resposta, Ahri... — E se mantendo próximo também, olhando bem fundo nos olhos dela, vendo emoções tão evidentes — Eu não vou falar o nome desse guardião.

A estrela queimava ainda mais no bolso da calça, mas ele ignorou e manteve sustentado o olhar, a vendo recuar e sair da loja com seus companheiros.

Parecia que tinha segurado a respiração, sentindo o suor escorrer pelo corpo e se voltando para a rotina, não poderia sair da rotina. E ficou assim até acabar seu horário e esperar Garen o buscar, sentindo o silêncio dele e notando o inchaço no olhar.

O caminho inteiro foi silencioso e só mudou quando Yasuo ousou contar a piada mais sem graça do mundo, fazendo Garen rir e o fazer queimar pneu antes de estacionar direito. Foi a coisa mais idiota que ele fez e se sentia orgulhoso.

Adorável dormia na cama e por estar daquele jeito, fofinha como era, aproveitou para tomar um banho e respirar fundo pela enésima vez sobre aquela ser o início da semana, não deveria se estressar daquela forma.

Foi recepcionado por Rakan e da forma que ele parecia, estava pronto para ensinar alguma coisa sobre os guardiões estelares.

Abrindo a janela e sentindo a brisa gelada da noite, se sentando na cama e vendo a mão de Rakan estendida, dando a estrela dourada para o mesmo e sentindo Riku pousando em seu ombro.

— Eu me lembro de algo... Foi sussurrado para mim quando deveria ter me tornado um guardião estelar — Sussurrou, se sentando ao lado de Yasuo — “Quando um guardião abdica de seu dever ou se ausenta de alguma maneira, quando entrega sua essência de guardiã e vida, outro tomara seu lugar” — E olhando para a estrela em mãos, a apertou — “Para estabelecer a ordem, para manter o equilíbrio”.

— Alguém assumiu o lugar dele, então...

— Se assumiu, ele deve encontrar um grupo para assim, ser mais forte com seus iguais.

— Mas é isso que não consigo entender... — Yasuo murmurou — Você contou para as meninas não usarem muito além do poder delas para não se corromperem diante de outro ser da escuridão, para que se unir a outros iguais se tem esse risco? — Resmungou.

— Porque é o equilíbrio.

— O equilíbrio é idiota — Rebateu.

— O mundo é mais simples e fácil quando se tem o branco e o preto — Rakan falou, entregando a estrela na mão de Yasuo — O cinza? Muitos não sabem o que fazer com o cinza, a Primeira Estrela não moldou o incerto, ela apenas explodiu e se dividiu...

Aquela incerteza, Yasuo não queria se moldar para o incerto, não queria ser o meio... Queria ser melhor do que aquilo.

— É por isso que estou ajudando as meninas, para serem melhores e não serem o branco no preto, do preto para o branco... Serem as nuances do cinza, para que ninguém se torne como eu ou acaba com o mesmo fim que o meu — Contava — Que não acabem como Xayah... Mesmo não amando Xayah, eu quero salvá-la... Quero que ela viva...

— Rakan...

— Você entende? É o equilíbrio, Yasuo — O interrompeu, sorrindo fracamente — Eu fui imaturo por tempo demais e apenas agora estou sendo algo além, posso fazer algo importante e fazer o que quero antes de tudo acabar... Posso salvar vidas.

— Você está me assustando... — Sussurrou, não percebendo até sentir os dedos de Rakan passarem em seu rosto, o limpando.

— Estou ensinando tudo isso a você para que corra e não olhe para trás quando alguma merda acontecer — Contava — Não queria causar medo em você...

Negando com a cabeça, Yasuo apenas se encolheu nos braços de Rakan, fechando os olhos ao ter o carinho leve em seu braço.

Queria que aquilo acabasse logo.

— Eu o amo... — O ouviu sussurrar, sentiu uma lágrima dele o molhar, sentiu o carinho dele tremer em sua pele — Quero que viva, mas por favor, não tenha medo de mim... É meu único pedido.

— Eu não tenho medo... Apenas um — Sussurrou.

Queria que tivesse um fim...

— Eu o amo... — Declarou, por fim.

Nem que fosse o inicio do fim.


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