Mexeu Comigo escrita por Ragnar


Capítulo 7
Capítulo 7 - Moço, ninguém é de ferro - Capítulo Extra




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Esperando o cup nuddles ficar bom no micro-ondas e olhando as notícias no notebook velho, não se frustrava com a imagem distorcida que ela mostrava ou até mesmo com o pequeno chiado que saia dali, apenas... Se mantinha em silêncio junto do seu gato. Era uma sexta-feira de fim de mês, algo tranquilo e que Tamaki não se importava... Tinha um bom tempo que ele não se importava com as coisas, apenas as deixava fluírem. 

Estava de folga, era o seu dia de abonada e sua pós estava um inferno, o trabalho não colaborava e nem mesmo o famoso chá de camomila resolvia mais, custava então a ele descontar na comida menos saudável possível, preparando com maior lentidão do micro-ondas. 

Recebeu uma mensagem de Nejire e suspirou, não importava o quão longe do centro da cidade estivesse, se fosse em Niterói ou em Campo Grande, a última coisa que ele teria no Rio de Janeiro era paz. Deixou Fred sair do seu colo e abriu a mensagem, olhando o “falatório” enorme que ela soltava e cada fofoca acerca dos antigos colegas de escola deles, mas aquele nome que ocupou boa parte do texto o fez congelar... Mirio. 

“Ele quer falar com você, saber como você está”. Por que diabos o Mirio iria querer falar com ele? Já não bastava a vergonha que Tamaki o fez passar no ensino médio por ter se declarado para ele? Não queria repetir aquela sensação, sentir que humilhou o aluno de ouro para toda a escola com a declaração de um aluno gay, a pessoa mais exemplar da cidade pequena e sendo alvo de boatos ridículos, não queria aquilo de novo e no lugar onde ele era ninguém e se sentia bem com isso, 

“E também, como sei que além de demorar para responder a minha mensagem, você iria falar um belo de um não, essa semana tô no Rio com ele a passeio caso queira se encontrar com a gente”. O que ela tinha na cabeça? Franziu o cenho, levemente confuso com o convite amigável da garota. 

Mas então logo no final da mensagem havia a pergunta... “Podemos passar na sua casa?” 

Não. Mil vezes não. Olhou a sua volta e não gostou nem um pouco de imaginar a cena ali caso ocorresse porque estava tudo fora do lugar, ele parecia uma minhoca no casulo pra não virar uma borboleta quando saísse. Resumindo? Um horror!  

Mas mesmo assim... Ele olhou a cozinha e depois para a mensagem. Suspirou alto e pensou que negar não adiantaria nada, Nejire iria aparecer com ou sem Mirio Togata. 

Se levantou e ainda de pé, deixou uma música tocar de fundo enquanto colocava tudo no lugar, indo até a lavanderia e preparando os poucos produtos de limpeza para dar uma geral básica no chão e mesmo sendo tarde pra quase noite, não iria deixar que a preguiça tomasse conta dele. Limpou os potinhos de comida e água de Fred e colocou novamente, atraindo a atenção do mesmo com tudo fresquinho. Sorriu minimamente com isso e se colocou a se arrumar também. 

Apenas quando deu oito horas de noite, tudo estava com cheiro de lavanda. As prateleiras estavam sem pó e ele usou a máscara para não ter um ataque de rinite, além da janela estar escancarada para sair toda aquela sujeira que subiu no ar e era como se um espirito tivesse sido libertado daquele apartamento. No seu quarto, deu uma ajeitada e colocou todas as roupas para lavar e separou algumas para passar em uma passadeira no dia seguinte, uma coisa que exigiu esforço dos seus finos braços não tão másculos. 

Ele arrumou tudo quando tinha recebido apenas uma mensagem. No início daquele dia ele não conseguiu nem mesmo levantar da cama, não queria olhar ou desligar o despertado do aparelho celular e agora ele conseguiu largar o miojo e se mexer para fazer algo além da tese final da sua pós. Aquilo literalmente era uma vitória que ele começou a chorar, não de tristeza ou lamentação por se sentir miserável, mas por se sentir leve e com um pedaço de si mesmo sendo completo e aquecido. 

Sua gata apareceu e lambeu suas lágrimas e então, Tamaki reparou que estava no chão, dando risadas da língua áspera de Okami em seu rosto, levantando e pegando para que a mesma sozinha ficasse em seu ombro e tentasse limpar o cabeço dele. Ele tinha uma longa noite, mais chá para ser feito e mais páginas da sua tese da pós para serem feitas e sua noite ser concluída. Do porque foi mais fácil fazer tudo aquilo... Ele não sabia, mas ele gostou. Mandou uma mensagem de volta para Nejire e sorriu com o feito, algo simples que ele terminou aquele dia melhor do que antes, contente de que teria ainda mais três dias de abono e sossego do próprio estresse. 

No dia seguinte ele conseguiu acordar tarde e não se sentir mal com isso, mas ainda demorando para levantar quando Okami estava deitada em seu peito e não querendo sair da cama assim como ele, mas acabaram os dois levantando e mexendo brevemente no celular, viu a mensagem de Nejire de que tinha planos de sair cedo de casa e chegar lá com o café da manhã para Tamaki, queria deixar a fera sonolenta doce e amigável, o que soou engraçado eram as fotos das comidas da padaria que ela comprou e Tamaki mandou apenas o endereço de onde morava para a garota e amiga, aplicando sua rotina normal para colocar seu notebook velho no lugar e não ver ele até o final do dia, não queria ver aquilo até se entupir de açúcar. 

Ele deveria preparar um almoço? Olhou os armários e viu que tinha pouca coisa, mas conseguiu preparar um arroz em uma panela pequena e uma salada, quase brigando e correndo atrás de Okami quando a gata comeu o arroz que ele provou da colher e deixou na pia. Ele tinha algumas frutas... Daria para fazer um suco quando ela chegasse e trouxesse com ela... Aquela pessoa.  

Recebeu uma ligação dela e de que estava perdida, a ligação o tranquilizou já que ele tinha considerado que eles não iriam mais ali, mas fez o que fez para se tranquilizar e se manter com cabeça no lugar, ouvindo a companhia tocando e sabendo que o porteiro tinha os deixado subir, segurando Okami nos braços e abrindo a porta para ver sua antiga amiga ali, sorridente e erguendo a sacola de doces. 

— Tamaki! Quanto tempo! — e nem esperou uma resposta, o abraçou na primeira oportunidade e deu dois beijos no rosto dele, o fazendo corar de vergonha — Trouxe pão quentinho pra ti e uns doces orientais, você disse uma vez que queria voltar a comer e então... Ah! Mirio, venha cá! 

Tamaki gelou, cada parte do seu corpo travou ao ver aquele sorriso tímido direcionado para ele. Uma parte do coração dele se aqueceu e trouxe um velho e estranho aperto no coração... Uma dorzinha conhecida, uma paixonite das cinzas. 

— Oi, Tamaki — o cumprimentou, acenando brevemente. 

— Oi... Mirio... 

— Vamos? Estou morrendo de fome — e Nejire os puxou para dentro e Tamaki fechou a porta atrás deles, deixando Okami cair de seus braços e seguir curiosa até os novos humanos ali — Você preparou comida? Não precisava! Estávamos pensando em comer fora e que você fosse conosco. 

— Nejire... — Mirio tentou chamar a atenção da garota e ela apenas ignorou. 

— Alias, posso usar o seu banheiro? Arrumem as coisas, volto já — e nem os deixou terminar ou interrompe-la, ela saiu em disparada pelo apartamento e os deixou ali, sozinhos. 

Que o silêncio era um bom amigo, isso Tamaki não poderia negar, mas ali o silêncio era um inimigo que lutava contra ele, não o deixava sair da prisão conhecida como timidez. Era horrível... 

— Quer um copo d’água? — ofereceu, o tom de voz baixo e quebrando o silêncio, se movendo pela cozinha e sentindo falta de Okami com ele ali, ela estava mais entretida com o visitante e miando para ele. 

— Por favor, obrigado — agradecia e de soslaio, ele viu Mirio se sentar e a gata o acompanhar, deitando em seu colo e trazendo uma risada dele, aquela boa e velha risada que Tamaki uma vez amou tanto. 

— Aqui... — ofereceu o copo e quando sua pele tocou por um breve momento com a de Mirio, sentiu o calor dela se chocando com a sua mão fria, ao que era estranho, estavam no Rio. 

— Tamaki? Eu queria... Me desculpar, sabe? — começou, olhando para Tamaki e nem mesmo desviando o olhar — Por não ter fal—. 

— Se você veio pedir desculpas, não precisa fazer nada — o interrompeu, a cabeça baixa — Faz tempo... Cinco ou seis anos? É, não precisa falar ou pedir desculpas, é passado. 

— Você não me deixa falar... Nem naquele dia você me deixou falar com você, Tamaki — talvez fosse impressão dele, mas havia um tom de desespero em Mirio, algo estranho e que deixou Tamaki desconfortável — Por favor, me deixe falar agora. 

— Voltei! — Nejire chegou na cozinha, o sorriso sumindo do rosto ao encarar os dois — Acho que eu posso voltar e ver se não derrubei algo no caminho... 

— Volta, Nejire — Tamaki pediu, a voz se embalando e ele queria apenas se encolher de vergonha — Vamos comer um café da manhã legal, nós três juntos de novo... — tentou sorrir, parecendo mais que estava com dor e tentou virar o rosto e tentar focar em arrumar a mesa com as coisas. 

Apenas os três e uma memória ruim que poderia ser deixada de lado. 


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