Mexeu Comigo escrita por Ragnar


Capítulo 3
Capítulo 3 - Girassol sem sol




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Acordar com dor de cabeça não era a melhor das coisas durante o início do dia não. Com bafo de onça, musculação da coxa doendo e os pés dormentes só mostravam claramente que Izu fez alguma merda no dia anterior e ele só lembrava do som alto, de pessoas dançando e ele dançando. Muito.

Estava deitado no sofá e só por isso explicava a dor no corpo inteiro, além da baba que saia da boca e tornava as coisas mais constrangedoras do que já estavam. Se apoiando no cotovelo e ficando meio sentado, observou bem o lugar e concluiu que não sabia em que porcaria de lugar era aquele.

O cheiro de café sendo feito e de alguém mexendo em alguma xícara acabou o despertando ainda mais e com que se levanta-se finalmente do sofá e fizesse um esforço mínimo para poder andar pelo apartamento, pelo menos era o que parecia, talvez uma república ou um cativeiro querendo a recompensa dele para grandes nadas.

Além do cheiro de café, tinha também o de chá, o que destacava era algo bem forte e ficava assim a medida que Izu se aproximava da cozinha, sendo intrometido ou não, mas com uma leve amnésia do que aconteceu no dia anterior e poderia muito bem colocar a culpa na bebida, era a melhor coisa para se fazer.

— Bom dia, flor do dia! – Uma pessoa tão empolgada àquela hora da manhã irritava sim um pouco Izuku, mas daquela vez o assustou mesmo por ter vindo atrás de si e ser alguém desconhecido.

Quase pulando pra frente e batendo com algo como a bancada, olhou para trás e viu uma garota de pele negra, mas o que se destacava era o cabelo rosa choque e o olhar pouco puxado. Sorria de graça por ter assustado Izuku e sorria ainda mais com uma figura que estava logo na frente dele e de soslaio ele viu o mesmo garoto do dia anterior. Dele Izuku lembrava.

— Acabamos ficando preocupado com a sua dormência no sofá, Katsuki pensou em até jogar água fria pra ‘te acordar pra irem embora – Tagarelava a garota e não teve como Izu não ficar envergonhado com o papelão que estaca passando.

Katsuki era um amor de pessoa, atrapalhava até mesmo quando ele estava dormindo e só piorava quando não podia ter guarda ou noção quando estava desperto e atento ao redor.

Agora estava em um lugar diferente e que nem se recordava direito como tinha ido parar. Recordava que tinha cheiro de cigarro, bebidas diferentes e muito salgado, além de um chá horrível que ou sentiu o cheiro ou acabou provando. Tudo em uma noite só e estava envergonhado só por isso, por não lembrar.

— Ele já foi embora? – Perguntou, sua carona ir embora e deixar ele sozinho sem nem saber como chegar no metrô mais próximo era no mínimo assustador.

— Está em uma lanchonete aqui perto, no centro – O garoto falou, um tom neutro e a voz marcante, grossa que fez Izu arrepiar.

Não por ser boa de se ouvir, mas por ser diferente de como o ouviu ontem, mais assustador talvez?

— Que tal tomarmos um café da manhã antes e contar sobre ontem? – Sugeriu e Izu concordou – Ótimo, última coisa que vamos querer é assustar alguém com amnésia alcoólica – Brincou e o rapaz de cabelos bicolor deu um leve sorriso.

Acabou comprovando que não era apenas o cheiro do café que estava bom, tinha pão quentinho e mesmo que já fosse meio-dia, os dois ali não se incomodaram em deixar Izu comer e ainda, a garota recomendou que ele bebesse muita água para diminuir a dor de cabeça.

Uma aspirina e uma garrafinha inteira de água, mas ele conseguia ainda interagir. Por exemplo, o nome da garota era literalmente Mina Ashido, mas preferia o “Ash” por ficarem fazendo piadas com seu primeiro nome. Ela lamentou que seu pai tivesse escolhido o nome dela por parte oriental e não “Amanda” como sua mãe queria. Izu compartilhava essa sensação, mas sua mãe que tinha escolhido e mesmo assim ele gostava do seu nome.

— E você tinha tocado ontem – Ela ainda tagarelava e só por mencionar que ele tinha tocado, Izu parou de comer o cereal e prestou atenção nela, total atenção – Foi tão bonitinho~! Você deveria estar alterado, mas dedicou a música ‘pra uma garota e foi tão bonito – Comentava e Izu sentiu que nasceu um pimentão vermelho no rosto – Mas não fique assim, você dedicou música a todos da festa, mas foi só a garota e o Shoto que ganharam uma versão estendida.

Era impressão dele ou Ash tinha sugerido algo além na sua frase? Coisa de carioca talvez...

— Costumo dedicar algumas músicas quando vejo que elas estão estampadas nas pessoas – Contou, vendo a curiosidade na face dela e o garoto que tinha recebido Izu ontem, parou de mexer na pia e se juntou com eles na mesa, trazendo um pão na chapa – Não é sempre que isso acontece.

— Por que não? – Shoto, deveria ser o nome, perguntou e Izu coçou a nuca um pouco constrangido

— Eu fiz isso no ensino médio com um suposto “casal” e não deu muito certo, então as dedicatórias acabando saindo em momentos em que a bebida ‘tá envolvida – Explicou e Ash concordou, comendo o bolo de milho dela, mas Shoto o encarava, sério.

— A bebida faz você esquecer que fez besteira, afinal, ontem, quando você tocava... – Fez uma pausa, tossindo – Parecia que tocar violão é algo importante demais para você parar e voltar a tocar apenas com o efeito da bebida – Comentou – Você não quer comentar sobre?

— Melhor não... – Sorriu, sem graça.

— Ignora o Shoto, psicólogo é chatinho assim mesmo – Ash comentou, mas Izu notou a cara feia que ela lançou para o outro – Mas falando em tocar, me conta mais sobre ver a música nas pessoas, “Deku”, tão romântico~! – E com o ar de estar insinuado algo, Izu não conseguiu conter uma risada.

— Sabe, ocê já ouviu falar que algumas pessoas tem um padrão de cores que combina com elas? Com a música é quase o mesmo – Falou, vendo o sorriso de Ash aumentar – Qual música eu toquei pra ti ontem? – E dessa vez ele se virou e perguntou para Shoto.

— Segundo sol – Falou, terminando de comer o pão.

Puta que pariu, pior que a música combinava com ele, mesmo que sua feição fosse séria. Os olhos daquele cara eram firmes quando falava e nem parecia, mas parecia ter o coração mole. Poderia não se recordar bem do dia anterior, mas sentia que as merdas que fez estavam bem frescas na cabeça dos outros e principalmente... Na cabeça do Tenya! Ele esqueceu do seu amigo!

Lembrava dele ter comentado que mostraria gravações para Ochako e torcia para que o amigo não o tivesse feito de jeito maneira. Como iria encarar a garota depois da merda feita? Um segredo... Ele não ia!

— Shoto ficou todo vermelhinho, foi uma graça – Ash deu corda para o assunto, nem se importando com a cara e reação do colega cujo dito ficava vermelho, de novo – E você deveria ter visto, mas o Shoto é solteiro e corta para os dois la–.

— Chega né, Ash? – Shoto cortou a fala dela e Izu não conseguiu conter a risada, mas pelo menos a segurou – O guri nem conhece a gente direito pra você vir aqui soltar abobrinha ‘pra ele, então, chega – Tentou dar o assunto por morto.

— Desculpe se ontem o constrangi, não foi minha intenção – Falou, sorrindo fracamente para o outro e vendo o mesmo devolver o sorriso – Acho que é melhor eu ir, não quero atrapalhar em nada e nem incomodar – Deu por fim o assunto, já se levantando – Obrigado pelo remédio e o café da manhã meio tarde, foi um prazer conhecer vocês.

— Foi um prazer pro Shoto ter conhecido você – Ela respondeu, já o acompanhando – Deixa eu pegar o teu violão no quarto, enquanto isso... Shoto, pega o meu celular e liga pro Tenya vir buscar o gatinho aqui? Certeza que o Katsuki foi embora e o largou aqui.

Ah é, quem tinha levado Izu até ali foi aquele poço de gentileza do Katsuki... Como ele esquece uma coisa daquelas? Talvez ele tenha feito outra besteira que envolvesse bebida e música, duas coisas que não se casam de jeito nenhum.

Sozinho ali na sala com o outro cara, tentava não olhar e de segundos, pareciam que se arrastavam e Ash tinha ido fabricar outro violão, porque não era possível aquela demora toda pra uma coisa só! Mas paciência, ele sabia onde estava e onde deveria ir, por isso foi até a sala e pegou o celular e o viu com tão pouca bateria, já lamentando não tê-lo deixado carregar.

— Achei! – Ash voltou, empolgada e sorrindo, entregando – Conseguiu? – Se voltou para Shoto e ele apenas concordou – Ótimo, agora seja um bom menino e leve o Izu até onde aquele Golias deve estar, não é tão difícil perder ele em uma multidão.

— Katsuki está com ele e as meninas – Contou – Você não vem? – Perguntou e Ash apenas negou.

— Vão vocês – E sorriu, empurrando ambos pelo ombro até a porta – Não façam o que eu faria – Brincou, dando dois beijos em cada lado no rosto de ambos.

E assim ficaram “sozinhos” de novo. Em uma hora acabou criando um climão constrangedor entre Izu e Shoto, mas parecia que essa era a intensão de Ash ou esse foi o empurrãozinho que ela quis força. Não tinha nada mais constrangedor do que um amigo ou conhecido querendo jogar alguém solteiro pra ti e Izu ainda tinha a quedinha por Uraraka.

— Tu era do interior?

Talvez o outro tivesse se sentindo no direito ou obrigação de quebrar o silêncio, por querer parecer gentil além de acompanhar Izu pelo campus sem parecer uma obrigação. Achou uma graça da parte dele.

— Minas Gerais, era e não era do interior – Contou, vendo o outro se interessar e prestar atenção – Mudei com a minha mãe, coisa de família e trabalho dela, mas faço tudo por ela...

— Valorizar os pais é algo lindo, seus olhos até brilham – Comentou e Izu sorriu sem graça.

Jovens adultos não falavam dos pais, faziam coisas idiotas e ignoravam a existência dos pais. Mas ele sentia orgulho demais da sua mãe para simplesmente esquecê-la, não era ingrato.

— Tu fez aquilo de novo – Falou e Izu franziu o cenho – O nariz, ele mexeu como se tivesse coçando... – Contou e Izu o olhou surpreso, aquela parecia não ser a primeira vez que Shoto o viu assim, Izu poderia ter ficado a tarde e a noite fazendo aquilo ou o outro era um bom observador.

Uma peculiaridade sua ser observada assim o deixava sem graça, era como se o outro tivesse criado um interesse genuíno nele, sem outra pessoa empurra-lo para a situação.

Aquilo era gostoso de sentir, mas não tinha interesse que aquilo continuasse.


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