Mexeu Comigo escrita por Ragnar


Capítulo 1
Capítulo 1 - Mais solitário que um paulistano




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Fazia tempo que Izuku Midoriya não pisava em São Paulo e não sentia aquele calor barra poluição barra tempo que não decide se garoa ou faz sol. Não é que ele tivesse reclamando do tempo de Sampa, mas ele mesmo não tinha como evitar reclamar da cidade da qual cresceu.

Novamente ele estava ali e para acompanhar a formação do curso de enfermagem dela que seria na Vila Mariana e eles... Bem, eles teriam que ficar um tempo em uma localidade um pouco longe já que a antiga casinha deles residia em um dos municípios de São Paulo que ninguém falava o nome ou que morava lá.

Do celular, as mensagens de Uraraka enchiam as notificações que recebia e ainda mais as de Iida também, esse que perguntava a todo momento se Izuku e sua mãe tinham chegado bem, se precisavam de uma pessoa para guia-los na capital ou leva-los até o local do curso da senhora Midoriya.

Será que o seu amigo lembrava que Izuku tinha tecnicamente crescido ali? E outra, não tinha como ele os guiar a lugar nenhum quando na verdade, estava na faculdade em tempo integral e lá na puta que pariu no campus da USP, não tinha nem condições do outro gastar a condução para se locomover tanto!

— Izu? Querido?

Era engraçado como sua mãe engordava e emagrecia em pouco tempo, mas de alguns anos durante a sua infância foi mais “comum”. Depressão, sua mãe foi diagnosticada e se negou a tomar os remédios, alegando querer estar consciente para ver Izuku crescer e não dar motivo para a guarda dele passar para o pai.

Ali, ela parecia respirar melhor longe de Goiás, longe de toda a fofoca e clima ruim que cercava a cidadezinha que eles moravam com a avó deles. Izuku não negou ajudar sua mãe, para falar a verdade, aceitou estudar no centro caso passasse em alguma prova e já tinha o trabalho para ajudar a pagar as contas.

— Me diz que não entrou um gato aqui em casa, por favor... — Choramingou e ela deu uma risada, adentrando o quarto com um prato com bolo de cenoura e cobertura de chocolate — Sério, mãe... Não precisava — Sussurrou, um pouco envergonhado pela sua mãe levar um pedaço de bolo pra ele.

Não era justo.

— Aceite logo, não é todo dia que eu vou mimar você ou estar presente pra isso — Falou brincalhona e ele não resistiu dar uma risada também — Deixei a janta toda arrumada, vou sair um pouco mais cedo hoje pra comprar um pouco de mistura, acabou e não tem nem nada pra preparar — Resmungou — Deixei também um pouco de dinheiro na mesa, acho que deve ser o suficiente pra você, querido.

— Mãe...

— Fica quieto e aceita — Rebateu, fingindo estar brava e Izu apenas revirou o olhar — Tchau, docinho de coco.

E ela o deixou ali, com um doce logo de manhã e nem mesmo reclamou dele estar mexendo no computador tão cedo pela manhã. Já era de se esperar, mas as páginas que estavam abertas eram as de provas de verão na região centro de São Paulo.

Bem, ser filho de um cara paulistano que se negava em ver o próprio filho e de uma mulher que era filha de imigrantes japoneses, Izu estava ótimo. Tentava ver em qual gastaria menos, qual seria mais viável de usar o dinheiro do pai e enviar o boleto como prova e que se tenha dito, boleto é a coisa de adulto mais chata que tem!

Novamente o barulho de sininho tocava e Izu suspirou, olhando para o celular pocket e as mensagens de Uraraka tentando puxar assunto.

Conteve até um suspiro apaixonado, como tinha uma qued—, queda não, um penhasco por Uraraka. Sério, menina doce e de voz melodiosa, curtia os sertanejos que ele tocava na escola no tempo do ensino médio e tentava abafar ao se achar o novo Luan Santana ao tê-la cantando ao seu lado, nem ligando para os olhares dos garotos fuzilando ele.

Bons tempos, um tempo que ele teve várias chances de se declarar e jogar um buquê de flores nela e sair correndo, levar a pamonha que a mãezinha dele fez e ficar também com cara de pamonha ao vê-la reagindo talvez de forma negativa.

“Não, não sofremos um arrastão. Não, tô seguro e vivo. Não é só porque tô em São Bernardo do Campo que vão aparecer dois caras numa moto e levar minha miniatura de celular”, respondeu assim que leu as perguntas preocupadas da amiga com relação ao local que estava.

“Você é impossível, Deku!”

“Véi, é fofo e tudo mais você se preocupando comigo, sei que sou irresistível e tudo de bom, mas estou vivo e bem como disse ao Iida”, teve que brincar já que a outra sempre entrava nas brincadeiras dele, mas iria parar caso incomodasse aquela colocação idiota dele com ela.

“Não é isso, só desejo boa sorte pra ti e espero que não encontre com aquele seu amigo explosivo, ele fazia bully contigo né? Só não me esqueça e não me deixe de molho só porque vai estar trabalhando, tá?”

“Eu não ousaria, Uraraka”

E ele não ousaria mesmo, a garota era tudo de bom para sequer pensar em deixar ou ignorar por conta da cabeça cheia. Como ele iria esquecer da garota que ele gostava, que ela tinha aquela proximidade com ele apenas por serem amigos, mas na verdade, Izuku era um idiota mesmo por dar ar a um balão vazio e estourado.

Comeu o bolo como um morto de fome e por consequência sujando o notebook velho, pior do que seu playstation 2 que juntava pó e teve que limpar por conta das formigas que entraram por conta do calor do console. Apenas deixou o prato de lado na cama e sacudiu o troço, nem ligando com a tampa dele abrindo mais ou o risco de levar pela sétima vez o notebook pro concerto.

Acabou por se arrumar e arrumar a bagunça do seu ninho, escondeu um pouco da bagunça debaixo da cama, embolou o cobertor em cima do travesseiro e jogou os três casacos no armário. Pronto, estava tudo arrumado. Só levou o prato pra cozinha e pegou a mochila, arrumando as roupas que iria trocar no trabalho.

Feito, estava pronto para correr até o ponto de ônibus como se sua carteira dependesse disso. Mas na realidade ele apenas enrolou mais meia hora e saiu de casa, o passo apertado e conseguindo por proeza.

Lotadaço e com o costumeiro cheirinho de suor, parecia que nem chegava perto do que pegar o ônibus lotado em horário de pico, mas Izu não iria reclamar, já conseguiu pegar o transporte e nem chegaria atrasado, uma dadiva.

Outra mensagem de Iida e Izu só conseguiu ver assim que chegou ao bendito local de trabalho. Desempacotado, o melhor de toda rede de mercados Extra, ninguém empacota coisas como ele, o menino Deku.

Seu supervisionado sempre o chamava como se fosse chamada de quinta série, ele desempacotava alguma entrega do caminhão pra repor nas prateleiras, colocava os produtos no devido lugar, o que era quase no fim do expediente. Uma coisa que Izuku queria e muito era que as pessoas colocassem as coisas que pegam no lugar, já imaginaram catar um refrigerante e do nada aparecer um na seção de ração de gato? Então, imaginem agora uns dez produtos assim ou o dobro. Deku, o menino empacotador e desempacotador fica muito agradecido demais da conta.

A rotina dele era assim pela semana inteira até sexta, até as oito da noite e com o maravilhoso cansaço de andar pra lá e pra cá, de ter que ajudar na parte das frutas e pesar cada uma pra colocar o preço já que alguns caixas não tinham essa função.

Se preocupava um pouco com sua mãe durante o trabalho. Ver a veia ficar no curso por seis horas e ainda estagiar no hospital perto do mesmo pra compensar o tempo e dinheiro que estava gastando, imaginava até como seria ela virar a madrugada de plantão e com intervalos curtos.

Uma das funcionárias chamava sua atenção para ir até a parte da padaria e cortar as fatias de presunto para algum cliente e Izu apenas concordou.

E ficou assim dar o horário de descanso dele que já era... Quatro da tarde? Ótimo, ele tava só o pó da rabiola mesmo, ele mesmo iria descansar em algum corredor de comida ou um longe das câmeras.

Comeu a comida da marmita e olhava as notificações lentamente com a quantidade de mega baixa da operadora.

“Ficou sabendo? O Tenya mandou um recado pra mim me falando de uma festa no campus dele. Espero que você vá, faz tempo que não o vejo e queria ter essa chance”

Mensagem da Uraraka e uma novidade que Deku nem esperava ver. Festa. Ótimo, faltava ela falar que o vilão dele tava juntando pó.

“Não sei de nada, nunca nem vi”, respondeu e deu uma leve risada, comendo o seu feijão preto e arroz com cenoura.

“Você não toca no seu violão desde que terminamos o ensino médio, né? Deveria ir, seria fofo ver você tocando novamente”, falou e Izu rolou o olhar e digitou uma resposta pronta.

“Ocupado demais pra atravessar meio mundo e ver o Tenya”, falou e no mesmo instante a Uraraka já tinha algo na ponta da língua.

“Sinto sua falta”

Que tipo de friendzone era essa? Ainda bem que ele não tinha comida nenhuma na boca, era provável que ele engasgasse e tossisse como um condenado, mas a reação dele foi apenas o queixo caído mesmo.

“Você é o meu melhor amigo, vai por mim, se divirta por mim, Izu”, pedia e com um emoji de carinha fofa, Izuku controlou a vontade de gritar pro mundo, sair correndo que nem idiota pelos corredores como comercial de detergente.

Chantagem emocional não contava, iludir era jogo sujo e ele era idiota por pensar que era o centro do universo com uma frase simples.

“Também sinto sua falta, Uraraka... Mas você sabe que não me dou bem em festas depois daquilo”, frizou o final e ela digitava e parava por dois minutos até responder de volta.

“Sabe que não foi sua culpa, né?”, lembrou e Izu rolou o olhar “Izuku Midoriya, você sabe que aquela situação toda não foi sua culpa! Me recuso ter que discutir isso com você”

“Mas você que começou...”, respondeu, já pegando a tapoé e levando até os armários onde guardava suas coisas.

Ele não iria pra uma festinha de arromba, não depois daquilo. Ele separou um casal! E ainda fez um deles ser chacota por ter tocado uma música dedicatória. Nunca foi preconceituoso, só que ele acabou sentindo na pele por alguns segundos o que alguém homossexual sentia todo dia quando era diminuído por gostar de alguém.

— Ei, você!

Só por terminar de arrumar a bagunça que um par de gêmeas fez na seção de doces, um cara o chamou e Izu virou, já respirando fundo e buscando paciência. Ser o menino empacotador e desempacotador não era fácil, era árduo.

— Que cê tá fazendo aqui, Deku?

Aquele olhar vermelho, cabelo arrepiado e loiro, blusa do Corinthians bem não original... Deveria ser um Katsuki. Espera, aquele deveria ser mesmo o Katsuki, o “amigo” de infância de Izuku quando ainda morava em sampa?

— Precisa de ajuda, senhor? — Forçou o melhor dos seus sorrisos.

Sorria pra câmera.

— Senhor é o caralho, Deku — Rebateu e lá se foi o sorriso — O que cê faz aqui? Deveria tá lá no mato comendo queijo — Tirou sarro e Izu respirou fundo, bem fundo mesmo.

— É Izuku, cara... Vê se aprende meu nome direito — Resmungou, voltando pra arrumação e pegando os que não eram dali e colocando no carrinho, seguindo caminho e sendo acompanhado por Katsuki Bakugou.

Infelizmente.

— Não acredito que pra encontrar você tem que ser justamente no lugar que eu trabalho e que nem fica no centro — Resmungou.

Grande sorte dele, aquele amigo que Uraraka se referia era Katsuki e Izu se lembrava bem dele, até demais. Lembrava de quando não podia jogar bola na rua com ele por não ser bom o suficiente e se jogava sempre era o goleiro, não podia lanchar com ele no infantil porque era pequeno e esquisito demais. Deixou de andar totalmente com Katsuki quando na infância as meninas os empurraram contra o estressadinho da turma e acabou perdendo (infelizmente) o seu primeiro “beijo” com o outro.

Foi nojento? Sim, porque quando se é uma criança de CINCO ANOS, beijar é nojento.

— É karma.

— E você sabe o que essa palavra significa? — Franziu o cenho, se virando pro outro com um sorriso convencido.

— Tá me chamando de burro, caralho? — Esbravejou, pronto pra avançar contra um funcionário do mercado e menino empacotador.

— Ei, bombinha ambulante! Cadê a massa de lasanha que a tia Mitsuki pediu? — Uma garota se aproximava deles e encarou Katsuki — ‘Tá me enrolando? Sério isso? ‘Bora.

— Não manda em mim, cacete! — Legal, uma pessoa que bate de peito com Katsuki e tem peitos — Vai procurar o que fazer, Julia!

— Tô fazendo, cuidando de uma criança do infantil, pior que meus alunos — Retrucou, agora olhando Izuku de cima a baixo — Seu namoradinho? — Perguntou com maldade e Izu fez uma careta.

— Armaria, não! — Respondeu, horrorizado.

— Não sou bambi não, diferente de você — Retrucou e ela cruzou os braços, dando uma risada debochada, mas se aproximou de Katsuki e o puxou pelo braço — Me solta, porra!

— Bora, tô sem paciência pra você hoje — Ignorou, o levando embora.

Leva e benza direito.

E ele seguiu na direção bem oposta do seu antigo bully de infância, ignorando o mesmo que gritava palavrões no mercado com a garota, parecia a mesma criança de sempre e nem parecia que tinha a mesma idade que Izuku. O mundo era estranho, mais estranho ainda era do porque aquele ser atravessar meio mundo apenas pra ir no mercado extra.

Vai saber, Katsuki não tinha lá o senso correto de direção.

Quando terminou cumpriu suas horas, voltou pra casa e ainda conseguiu a proeza de voltar mais tarde que sua mãe por conta do trânsito e da demora do transporte, uma maravilha de se ver.

Quando chegou em casa, faltou desmaiar de tão exausto. Queria dormir e acordar só amanhã, que fosse sábado.

Mas só foi ouvir vozes de alguém na sala que ele teve que desistir da ideia, teria que socializar com quem tivesse ali e estar disponível para a véia. Largou a mochila na cozinha e tirou o tênis, pegando um copo d’água e bebendo, olhou até uma lasanha bem cheirosa na mesa, mas o cansaço era maior que a fome

Seguindo pra sala e quase engasgando ao ver de novo, pela segunda vez, Katsuki ali com a mãe dele.

Por quê?

— Olha só, cê cresceu, hein Izu? — A mãe de Katsuki sorriu para si e a senhora, linda e maravilhosa, Midoriya sorriu junto — Sua mãe me contou que voltou e vim trazer a minha melhor lasanha pro descanso dela, não é fácil lidar com esses dias em sampa.

— Achei que todos nossos vizinhos tinham sumido, mas o facebook existe pra acha-los, não? — A senhora Midoriya sorriu contente e Izuku conseguiu se sentir mal por não querer a visita ali.

Droga.

— Não fale assim, sou sua amiga desde o ensino médio, não é uma virada pra Goiás que você pode se livrar de mim tão fácil — Comentou, o sorriso maroto.

E Katsuki ainda estava quieto, até demais... Pelo menos ele estava sem aquela camisa horrorosa do Corinthians...

— Eu acho que vou pro banho... — Sussurrou, indo antes mesmo da sua mãe tentar chamar sua atenção ou pedisse que ele fizesse algo.

Bateu na própria testa assim que entrou no quarto, tirando a blusa e pegando uma muda de roupas, se preparando pra ficar trancado no banheiro até que a segunda ordem mundial tenha sido dita.


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