A Voz Do Destino. escrita por Flor Da Noite


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Há, hoje cheguei certinha.
Espero que gostem do capítulo.



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De início não entendo nada, era apenas um corredor muito escuro, mas aos poucos meus olhos vão se acostumando com o escuro. Percebo que no chão mais a frente começam duas linhas luminosas onde se encontram a parede e o chão. O corredor é em formato de arco e é enorme. Vejo um feixe de luz no fim do corredor.

— Um corredor?

— O mais legal está lá no final. Temos que seguir a luz no fim do túnel. – Ele dá uma piscadinha e continua a caminhar.

Presto bastante atenção no corredor e percebo que o arco inteiro é de vidro, com exceção de intervalos feitos de um material parecido com o concreto. Não consigo enxergar nada através do vidro, do outra lado está escuro demais. Algo encosta no vidro e eu tomo um susto.

— O que tem ali?

— Aqui é o corredor que te falei, passamos dentro de cada tanque, mas como lá fora já deve estar escuro não conseguimos ver nada. – Matthew explica.

Ali embaixo faz um silêncio estranho, porém muito confortável. Só podemos ouvir nós mesmos, não é possível ouvir nada do mundo interior.

De repente começo a ficar aflita. Ele havia me trazido para o pior lugar possível. Ali naquele silêncio ensurdecedor eu não teria o mundo para me distrair e Ela se tornaria impossível de ignorar.

“E você pensou que poderia me ignorar.”

Sinto o sorriso da Voz se alargando ao voltar na minha mente, ela sempre sabe a hora de aparecer.

“Ele não é coisa boa Maeve, você sabe que não é. Coisas novas nunca são coisa boa.”

— Não, não, não. Me deixe em paz. – Murmuro bem baixinho, sinto o olhar de Matthew sobre mim, porém não consigo dar atenção para nada que não seja a Voz, é como se o mundo a minha volta se torna-se embaçado.

“Olhe só Maeve, ele te trouxe para esse lugar, ele não pode estar querendo o seu bem. Vamos para casa, onde é seguro e confortável.”

Eu tremo, com muito, muito medo. E então simplesmente me viro e começa a voltar. Eu não conseguia mais desobedece-la, o medo é maior. Algo agarra meu braço rápido me dando um susto e fazendo e voltar a foco.

— Não fuja, por favor. – Fico apenas o encarando. – Existem várias câmeras aqui, não poderia fazer nada com você de ruim nem se eu quisesse. E eu não quero.

Fico em dúvida.

“Não lhe escute.”

— Vem comigo, se quiser fico bem longe de você. Mas acredite em mim, vai valer a pena.

Continuo em silêncio, sem saber o que fazer. Matthew nem se mexe, o mundo parece completamente parado.

— Você prometeu não sair correndo. – Ele por fim apela.

Solto um longo suspiro.

— Eu não vou sair correndo Matt. – O sorriso que ilumina o rosto de Matthew faz valer a pena. Ele solta o aperto da minha mãe e levanta as mãos para cima, como um sinal de rendição e se afasta quase um metro de mim. Seu gesto instala um pouco mais de confiança em mim. – Não precisa disso. – Lhe digo assim mesmo, ele, porém, apenas abaixa as mãos e continua um pouco afastado.

— Eu sabia que você não resistiria em usar Matt. – Diz para amenizar o clima o que da certo.

— Você obviamente ouviu errado, limpou seu ouvido hoje? – Ele me mostra a língua e eu rio. Voltamos a andar, Matthew não para de falar tentando me distrair do último acontecimento e me sinto extremamente grata por isso.

Ele pareceu muito confuso com meu desespero repentino, mas não vi um sequer traço de julgamento, se me achava louca não demonstrou hora nenhum.

E enfim chegamos ao lugar de que ele tão falara, eu fiquei de boca aberta. O túnel estava totalmente iluminado agora e eu os intervalos no vidro diminuíram, não havia mais repartições de concreto e era bem claro o porque.

Não estávamos dentro dos tanques, estávamos no mar.

Eu não tinha palavras suficientes naquele momento. Tudo o que eu conseguia fazer era observar impressionadíssima.

Nunca em toda a minha vida tinha visto coisa mais magnífica, a iluminação não era muito forte e trazia um ar mágico ao cenário, pelo vidro eu podia ver uma quantidade excepcional de seres vivos vivendo sua vida como se nem existíssemos. Uma tartaruga passa bem próximo ao vidro e consigo enxergar cada detalhe do seu casco deslumbrante.

Paraíso não é a palavra certa para descrever esse lugar, pois paraíso é uma palavra concreta demais para isso e não existia uma palavra capaz de se comparar aquele lugar.

— Poseidon sentiria inveja desse lugar. –Murmuro, apoio as mãos no vidro sem saber ao certo se podia fazê-lo, mas o encanto é mais forte. – Isso é a prova vida de que sereias não existem, o encanto delas seria inútil perto disto.

— É perfeito, não é?

— Perfeito? Ah, perfeita é a matemática e ela não chega nem perto disto. – Suspiro, ao longe uma silhueta gigante nada pelas águas em uma graciosidade que parece quase impossível. – Aquilo é uma baleia?

— É, ainda não estamos fundo o suficiente para elas chegarem perto.

— Tem como ir mais fundo? – Pergunto, devia estar parecendo uma criança, mas naquele momento nem estava ligando, ele apenas ri e aponta mais para frente. O túnel ainda tinha bastante coisa para andar.

Vou andando com a mão no vidro maravilhada e então me lembro do Frankart falando de turistas batendo no vidro e tiro a mão imediatamente.

— Tudo bem, pode por a mão, o vidro é resistente e não causa uma vibração se quer lá fora.

— Como está tão claro se já está à noite?

— Fizemos um sistema automatizado de iluminação, ele permite que a gente veja os animais, mas os animais não podem sentir a luminosidade de forma que isso não atrapalha no sistema deles em nem um décimo. Somos o primeiro lugar do mundo a testar essa técnica de iluminação debaixo da água, é algo complexo demais para eu saber explicar.

— Isso é mais do que incrível! E os animais sabem que estamos aqui?

— Não, nós estamos na gaiola e eles na vida deles.

Quando finalmente alcançamos o fim do corredor eu me sento no chão de pernas cruzadas e apoio a cabeça nas mãos. Matthew se senta ao meu lado, não sinto mais nenhum temor sobre o moreno. Não sinto mais medo e o silêncio que se instaura é totalmente imperceptível, tudo o que consigo focar é no mundo à minha frente.

— O mais louco sobre o oceano, em minha opinião, é que o ser humano já descobriu coisas sobre lugares a milhares de anos-luz da Terra, mas não conseguiu descobrir tudo o que há no mar. – O garoto comenta, me fazendo desviar por alguns segundos os olhos daquela visão hipnotizante.

— Talvez porque não deva ser descoberto, eu acredito que a natureza para se salvar está escondendo seus maiores segredos dos humanos.

— Você parece gosta bastante de mitologia. – Matthew comenta, mas agora não olha mais para mim, está prestando atenção em peixe colorido que passa pertinho do vidro.

— Quando eu era menor não podia sair muito para brincar, então os livros eram uma grande distração.

— Porque não podia sair para brincar? – Ele pergunta, porém não consigo responder aquilo então dou de ombros e ignoro a pergunta.

— Você acredita em alguma teoria da conspiração?

O moreno me encara por ter descaradamente ignorado sua pergunta, mas não o encaro de volta e ele entende que não é um assunto sobre o qual quero conversar.

— Alienígenas. – Ele dá continuidade à conversa. – É muito narcisismo pensar que em meio a um universo tão colossal a gente seja os únicos seres pensantes. Cara, a gente é microscópico!

            Ele ficava fofo empolgado e não resisto a encara-lo por um longo minuto antes de dar alguma resposta cabível. Eu nunca tinha pensado daquela forma e era até bem coesiva.

            - Tão pequenos quanto se quer possa se imaginar. – Concordo pensativa. – Acha que eles seriam como nós? Quero dizer... Que viriam ao nosso planeta pesquisar porque está preste a acontecer com o planeta deles o que pode acontecer com o nosso daqui a uns anos e eles precisam de um novo lugar para morar. Ou você acha que eles veriam a gente mais como os humanos veem os macacos?

            - Acho que a segunda opção, por que eles atravessariam milhões de anos-luz para habitar um planeta já meio destruído? Os próprios humanos estão tentando adaptar o planeta ao lado, então, acho que se eles têm tecnologia para viagens como essa eles também devem ter perfeitamente onde morar.

E continuamos nossa conversa por um longo tempo, sentados ali naquele lugar fechado e silêncio que parecia ao mesmo tempo em que parecia o meu pior pesadelo estava sendo o lugar mais perfeito que já estive em toda a minha vida.

Quando finalmente decidimos que é hora de ir já era quase dez da noite. Eu passei mais de duas horas com Matthew e nem surtei, quer dizer, foi quase, mas eu consegui.

Demoramos um tempo ainda, pois tínhamos de trancar inúmeras portas que de acordo com Matthew, seria parte do trabalho de Cleo se não estivéssemos lá.

— Ela é dois anos mais velha que eu, mora com o noivo a cinco quadras da gente. – Ele me responde quando pergunto dela. – Ele também trabalha aqui, mas já é veterinário, enquanto ela está quase terminando Administração.

— Ela quer cuidar da administração do instituto?

— Exatamente.

O moreno abre o carro e entramos, com exceção da guarita onde fica o vigia o estacionamento já está completamente escuro. Ponho uma música qualquer enquanto Matthew dirige.

— Eu estou morto de fome, vamos parar em algum lugar para comer. – Afirma, dou risada, pois parece que não tenho opções a me decidir.

Ele para em uma lanchonete qualquer e suspiro aliviada por ele não querer ir em nenhum lugar formal demais. A lanchonete tinha como o tempo anos 90, então era super colorida e divertida.

Sentamo-nos em uma mesa qualquer e pegamos o cardápio, quando a garçonete chega Matt faz seu pedido e em seguida me encara com um sorriso desafiador:

— Vai querer só uma água de novo May?

Que abusado! Devolvo seu olhar de desafio e me viro para a mulher:

— Vou querer o mesmo que ele. – Digo, ele dá uma risadinha e eu lhe mostro a língua.

Quando os lanches chegam fico impressionada, aquilo era gigante. Lhe lanço um olhar do tipo “eu quero te matar” e ele apenas da de ombro.

— Foi você quem pediu. – Mas tem um sorrisinho travesso nos lábios.

Só pelo desafio como aquele hambúrguer todinho, quase morro enfartada e ele come na maior tranquilidade do mundo, até acaba primeiro que eu! Mas então vejo minha vingança passar pela porta de entrada. Um homem usando uma jaqueta do time de natação que Matthew nadava com a palavra “técnico” escrita atrás.

— Isso não era um lanche Matt, era um monstro! – Digo alto o suficiente para que o homem ouça. Aparentemente da certo, porque ele se dirige para a nossa mesa após pegar uma bebida.

— Lanches durante a semana Frankart? – Ele balança a cabeça negativamente. – Espero que esteja preparado para nadar o dobro amanhã. – O técnico toma um pouco de sua bebida. – Se não ganhar aquela medalha na volta as aulas eu chuto seu trazeiro de merda moleque. Entendido?

— Sim senhor. – Diz mal-humorado.

— Ótimo. – Ele da dois tapinhas no ombro de Matthew e vai em direção a porta. – Senhorita. – Da um aceno pra mim de forma gentil e eu aceno de volta. Por um momento pensei que ele fosse igual a voz, mas percebi que é apenas faixada de técnico.

Quando a porta se fecha Matthew se vira pra mim e me mostra o dedo do meio, solto uma gargalhada.

— Foi você quem pediu. – Repito sua frase e ele acaba rindo também, dando início a uma conversa sobre a próxima competição de natação.


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Notas finais do capítulo

Comentem, isso ajuda pra caramba.



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