A Voz Do Destino. escrita por Flor Da Noite


Capítulo 1
Capítulo 1




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Capítulo 1

—É isso mesmo que quer fazer Maeve? - Encaro minha mãe, ela colocava a última mala no carro. - Quero dizer… Atravessar o país para cursar medicina é mesmo o que quer fazer? Sei que é uma decisão sua, mas você não parece estar tão animada.

O vento balançava meus cabelos e eu tive que tira-los do rosto antes de poder olhar novamente para ela. Em agosto ventava muito em Flowercity e as folhas caiam das árvores por toda parte. 

Suspiro criando coragem para responder-lhe com confiança, mesmo que fingida. 

— Sim mãe, é isso que quero fazer. - E sorrio tentando tranquilizar lhe, e apesar dela parecer não acreditar concorda. - Não se preocupe comigo, só estou nervosa com a universidade. 

É mentira. Odeio medicina, não quero atravessar o país para cursar anos de algo que odeio. Mas não tenho escolha, ela não deixaria. A Voz quer que eu atravesse o país para estudar medicina e é isso que farei. Não posso correr o risco.

"Isso mesmo, seja uma boa garota. Está se saindo muito bem."

Ignoro a Voz e entro no carro quando o meu pai tranca a porta de casa e mostra as chaves do carro. O carro era um Ford Galaxie bem velho, devia ser mais velho que eu, mas o meu pai era apaixonado por aquele carro e sequer cogitava vender.

— Você vai amar o apartamento querida. - Meu pai comenta animado. - Fica em um bairro seguro e parece bem confortável.

— Sabe que eu posso ficar num dormitório, não é? Um apartamento vai ficar bem caro.

Sinto a Voz ficar irritada comigo, ela descartava totalmente a ideia de ficar em dormitório, isso significava ter colegas de quarto e ela fazia questão de que eu tivesse nada mais que o necessário de contato com outras pessoas.

— Sei que pode, porém gosto de saber que está confortável e segura.

— Obrigada pai. - Sorrio pra ele. 

Sei que na verdade ele queria me dar um presente bom pelo meu aniversário de 18 anos, já que eu não o deixara me dar um carro dizendo-lhe que morria de medo de pegar num volante.

Outra mentira, na verdade. Gosto de carros tanto quanto o meu pai e dirgir seria um máximo, mas a Voz não deixava. É muito perigoso, segundo ela. 

Olho pela janela, passamos pela casa de Bilye Andans, um garoto da minha escola, ou melhor, antiga escola. Havia várias pessoas ali, parentes e amigos, para se despedir do garoto. Sinto um pouco de inveja, não havia ninguém para se despedir de mim quando estava saindo de casa.

Bilye parecia alguém legal, ele tentara ser meu amigo no primeiro ano do ensino médio. Lembro-me dele sentar ao meu lado na aula de biologia e me pedir uma caneta emprestada, o fato é que ele claramente não precisava de uma caneta, já que seus estojo estava cheio delas. 

Ele querer puxar assunto comigo me animou e por impulso emprestei a caneta para o garoto, além de dar uma risadinha quando ele exclamou:

— Olha só, eu já tenho uma dessas! Ah, que importa? A sua é mais legal. - E acrescenta com uma piscadinha.

            Acabei gostando dele, mas isso irritou a Voz e não era nada legal irritar a Voz. Definitivamente não era. À noite o castigo que recebi por irrita-la não é nada legal de se lembrar. No dia seguinte meu medo era tanto que quando ele veio se sentar ao meu lado, apenas me levantei e fui para o outro lado da sala.

Isso deve ter chateado Bilye, pois ele nunca mais tentou puxar assunto comigo. O que era melhor, na verdade, mas não deixava de ser doloroso e triste. 

A imagem de Bilye e seus amigos desaparece enquanto o carro vai se afastando e eu fico olhando-os até desaparecerem por completo como se dissesse adeus para aquela lembrança. 

O percurso até o aeroporto dura quase duas horas. A Cidade das Flores ficava no interior do estado e esse era o aeroporto mais perto. O lugar já estava bem cheio, não existiam faculdades muito boas por perto e os estudantes começavam a se dirigir para outras cidades em busca de cursar o curso dos sonhos. As aulas só começariam em duas semanas, mas a maioria preferia chegar mais cedo e conhecer a área onde vão passar alguns anos de sua vida.

— Pegou tudo querida? - Minha mãe pergunta, meu pai põe a mala para despacho na esteira e a mulher do balcão aperta o botão que leva minha mala embora de forma nada delicada.

— Sim, está tudo aqui. - Mostro a bolsa de mão e a mochila, no meu pescoço estava um daqueles travesseiros de viagem e na alça da mochila um fone de ouvido amarrado. Estava tudo pronto, eu iria mesmo para longe dos meus pais e isso era assustador.

Não era assustador porque eu não sabia cuidar de mim, eu sabia muito bem. Mas era assustador porque estaríamos só eu e a Voz, sem ninguém para atrapalhar seu plano.

"Acalme-se pequena, sabe que eu apenas quero o seu bem."

Meu bem… É claro.

— Acho melhor entrar, faltam apenas meia quarenta minutos para o seu voo. - Meu diz olhando no relógio.

O detalhe é que não quero ir, não quero estar só com ela. Mas não digo nada, é claro.

Abraço meus pais com força, eles me enchem de beijos e minha mãe não aquenta não chorar derramando suas lágrimas. Vários "Eu te amo" e "Vou sentir tanto sua falta" são proferidos por nós três.

E por fim eu tenho de ir, olhando para trás uma última vez entro na área de embarque. É um passo dolorido, mas necessário, se eu ficasse ela não os deixaria em paz.

 Procuro os portões indicados no painel com os horários dos voos e olho em volta em busca de um lugar para sentar-me. Vejo um único próximo ao meu portão de embarque, mas logo também avisto outro um pouco mais longe e sem ninguém por perto.

"Nem ouse, vá para o mais afastado garota." 

Bufando faço o que ela deseja, com tantos lugares vagos por perto não ligo de por minha mochila na cadeira do lado. Coloco meus fones com uma música qualquer da minha playlist e me desligo um pouco do mundo.

……

— Bom voo senhorita Willys. - A moça do portão de embarque  me devolve minha passagem e documentos e entro pelo tubo que me leva até o avião. 

Minhas passagens indicam o número 13A, ou seja, um pouco pro final e na janela, gosto de sentar na janela e observar a vista, faz eu me sentir em paz. 

Quando chego ao meu lugar vejo que a cadeira ao lado está ocupada por um garoto, ele parece ter aproximadamente a minha idade e é muito bonito. Incrivelmente bonito para falar a verdade. Ele está de olhos fechados com fone, e está apoiado na mochila que está sobre a minha poltrona. Que abusado!

— Moço.- Chamo revirando os olhos, sinto-me bastante observada pela Voz que aparentemente estava analisando a situação. - Moço! Oi moço! - Por fim decido lhe cutucar. 

O garoto parece levar um susto e me olha sem entender. Encaro seus olhos cinzas, combinam perfeitamente com o cabelo castanho e a pele clara, poderia facilmente ser modelo, quero dizer, isso se já não fosse. 

— Bem… o avião ainda não é estável o suficiente para que eu fique em pé durante toda a viagem, então eu gostaria muito de me sentar no meu lugar. - E aponto para a mochila.

— Ah claro, pode sentar, tenho certeza que a mochila não se importa de dividir o lugar com você. - Ele diz e eu o olho chocada.

"O que? Chame a aeromoça imediatamente."

— Só estou brincando, devia ter visto sua cara, foi hilária. - Ele sorri sacana e tira a mochila do meu lugar, guardo a minha no lugar certo e me sento. - Desculpe pela mochila, eu estava distraído com as músicas e me esqueci completamente. Me chamo Matthew Frankart.

Ele me estende a mão, mas eu apenas lhe dou um sorriso forçado e me viro pra janela. É melhor assim.

— Ok, ok olhos azuis, já entendi. Você é do tipo caladona? - Para mostrar-lhe que não estou nem um pouco a fim de papear ponho meus fones de ouvido. Sinto o bufar ao meu lado e desistir de puxar assunto. 

Apesar de ser deixada de lado não consigo ficar totalmente em paz já que a Voz fica repetindo o discurso de segurança da aeromoça que eu perdi por causa dele. 

Tento me concentrar nas nuvens, no céu azul já um pouco alaranjado ou em qualquer coisa que não fosse aquela Voz chata que estava sempre ali. Quando penso que finalmente posso relaxar alguém puxa o meu fone com cuidado.

— E então olhos azuis, o que vai ser? - Encaro o garoto e ele aponta para a aeromoça.

— Desculpe lhe incomodar senhorita, mas o que vai querer?

"Siga a dieta, nada de porcarias Maeve."

— Uma água apenas. - A aeromoça me entrega e passa para os próximo assentos.

— Água? Simplesmente decepcionante olhos azuis.- Matthew comenta ao meu lado.

O encaro já irritada. Como aquele garoto consegue me tirar do sério tão rápido? Ele da uma risadinha e sustenta meu olhar. Pego o copo de Coca-Cola em sua bandeja e bebo até o último gole, em seguida coloco meu copo de água onde estava a Coca.

— Aproveite sua água então. Ah, e meu nome é Maeve Willys  então pare com essa merda de "olhos azuis" - Digo de uma vez só.

E então percebo a merda que fiz.

"Você ficou maluca? Que comportamento é esse? Estou mega irritada com você Maeve Willys, então espero que compense essa Coca-Cola e esse comportamento infantil de alguma forma mais tarde. Ou teremos sérios problemas."

Encolho os ombros e volto a me virar para a janela.

— Ah não, logo agora que nossa conversa estava começando a ficar interessante Maeve Willys? - O garoto reclama, mas dessa vez estou muito assustada para lhe dar trela. 

Ele resolve me deixar em paz de vez e eu agradeço aos céus por isso. Que garoto irritante. 

A lembrança do primeiro castigo vem a minha mente e eu estremeço. Foi há muitos anos, uns 12 ou 13 anos. Eu estava sentada na sala olhando pela janela as outras crianças brincarem na rua.

"Não vá lá, nós podemos montar quebra-cabeças." 

Mas eu não queria montar quebra-cabeças com a Voz, isso fazia eu me sentir entediada e chateada, queria brincar com as outras crianças de correr na rua. 

Eu estava na casa de vovó, meus pais estavam trabalhando e me deixara lá para passar à tarde já que eu estava de férias.

— Vovó, vou brincar na rua! - Lembro-me de ter gritado antes de sair de casa.

"Volte já para dentro criança ou eu não vou ser mais sua amiga."

— Não quero ser sua amiga! - Gritei com a Voz e fui brincar. 

Diverti-me muito naquele dia, estava cheia de sorrisos e risadas, estava feliz de verdade. Mas essa felicidade durou pouco pois quando cheguei em casa descobri que meu gatinho Chico havia morrido e a última coisa que me lembro é da Voz falando:

"Tentei ser sua amiga, mas você me desobedeceu Maeve e teve que pagar por isso.”

Depois daquele dia minha vida foi toda voltada para agradar as vontades da Voz, vontades que muitas vezes passavam longe do quesito felicidade.


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Notas finais do capítulo

Comentem, logo trarei o próximo cap.



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