Sugarcoat escrita por Camélia Bardon


Capítulo 9
Saviour


Notas iniciais do capítulo

A batalha para terminar a história no prazo achou que podia me vencer?
Achou, porque ainda faltam dois KKKKKK



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A aura deprimente que tanto tentávamos evitar acabou por consumir o resto do dia. Creio que, pela exaustão do choro, Cassy dormiu primeiro que eu. Pela segunda vez, velei seu sono e, quando ela pediu, também a ajudei com as malas. Às quatro, já estávamos de pé, fingindo que tínhamos dormido alguma coisa.

Decidi ficar no Joanna's. Era barato, a Dália Negra tinha sido assassinada no quarteirão ao lado, nada de praia, nada de multidão...

Nada de Cassy, também.

Maravilha.

Sam me mandou uma mensagem às quatro e meia, dizendo que estava indo para o aeroporto com Yelena. Quando respondo que vou acompanhá-lo, tenho certeza de que ele sabe que tem algo errado. Conhecemo-nos desde quase sempre. Pelo menos, é para isso que torço. Para que ele saiba que tem algo de errado, sem eu ter a necessidade de falar nada. Só mais um mimo, universo. Só mais um.

O voo deles estava marcado para as 7h, e o de Cassy para 6h45. Eu tinha quinze minutos (ou menos) para me despedir dos três e retomar minha vida como se eu não tivesse acabado de conhecer a única pessoa que me cativou na vida.

Enquanto a abraço no carro, com sua mala enfiada por entre minhas pernas, eu penso: Parece que terei de ser meu salvador, aqui. Sam poderia financiar minha viagem, se eu quisesse. Mas já está na hora de encarar as coisas como elas são. O dinheiro é dele, mas a vida é minha. As rédeas são minhas. E minhas rédeas finalmente dizem: não há nada que você possa fazer dessa vez, Ian. Então, respiro fundo.

O aeroporto não está lotado, pelo que não estamos em nenhum período festivo ou de férias. É inevitável não se sentir minúsculo naquele espaço enorme e quase vazio. As pessoas que transitam aparentam estar tão desanimadas quanto nós; eu chamo isso de consolo improvável.

— Com fome? — pergunto em voz baixa, mesmo não sendo algo necessário para o momento.

Cassy nega com a cabeça, apertando o cabo da mala com insistência.

— Melhor não... Estou tão nervosa que é capaz de eu colocar tudo para fora. Eu como no avião, obrigada — então, ela sorri, para me tranquilizar.

Ela aponta com a cabeça para os bancos de espera enquanto vai até o balcão de embarque despachar a mala e carimbar o passaporte. Sam me manda outra mensagem, perguntando se já cheguei. Respondo que não, e que vou chegar bem em cima da hora, infelizmente, por conta do trânsito. Que belo mentiroso eu sou... São 5h30 da manhã, que trânsito?

Ah, é. Estamos em LA. Faz sentido o trânsito.

Tudo bem, sem pânico.

— A moça disse que já posso entrar daqui meia hora, se quiser... — ela engole em seco, assim como a frase que está digerindo. — Eu... Você quer que eu fique mais um pouco ou prefere ir logo de uma vez com o Sam e a Yelena?

— Se eu conseguisse prever qual opção dói menos... — rio fraco, entrelaçando os dedos uns nos outros. — Tudo bem se quiser ir mais cedo...

— Tem certeza?

Não.

— Tenho sim — forço um sorriso, estendendo o braço sobre o outro banco para que ela possa se sentar confortavelmente. E é o que ela faz. Enrosca-se no meu abraço como se o mundo não estivesse prestes a desabar. — E você, tem?

— Parece ser o certo... Você contou para o Sam e a Yelena que vai... Ficar aqui?

— Ah, não. Se eu contasse, ele provavelmente inventaria de ficar aqui, comigo, até voltar para Salisbury. E financiando tudo. Não quero ser esse peso para ninguém.

Cassy assente com a cabeça, assimilando tudo. Daí olha para mim e segura meu rosto com firmeza. Essa é uma expressão sua que ainda desconheço – quantas eu conhecia, de fato? –, e vê-la provoca uma sensação estranha na boca do estômago.

— Escute bem o que eu vou te dizer. Você não é e nunca vai ser peso nenhum, para ninguém. Você é amado e querido por nós três, por mais que não fosse óbvio em determinadas situações. E se você ousar se esquecer disso, eu saio de lá de Fortaleza para me certificar que você não está sendo paranoico.

— Não posso continuar com essa ideia para você ficar? — pergunto, com falsa esperança.

Arrependo-me automaticamente quando vejo sua reação. Os olhos ficam marejados e sou obrigado a me lançar em sua direção antes que ela desabe. Por um minuto, Cassy treme, no entanto logo se recompõe.

— Desculpa. Não vou dizer nada do gênero de novo.

— Não tem problema — ela murmura, apertando meu braço com uma delicadeza surpreendente. — Mas estava falando sério. Tem que me prometer que não vai se menosprezar. E não minta para mim, eu tenho um faro para essas coisas.

Consigo rir de seu comentário, passando as mãos por seu cabelo para acalmá-la.

— Eu prometo. Vou me comportar direitinho — sorrio. — Com a condição de que também vai prometer não soltar os cachorros com a sua família, também.

— Cruel... — ela murmura, fazendo bico. — Mas é justo. Temos um acordo, então.

Dito isso, Cassy estende uma mão para mim. E eu, é claro, a aperto, selando nosso acordo de tempo e distância questionáveis. Para não deixar as coisas assim, a puxo com cuidado para frente. Ela entende automaticamente.

Beijo-a pela última vez como se nunca tivesse o feito. E como se nunca fosse fazê-lo novamente – porque é bem provável que seja essa a realidade, daqui para frente. Após alguns minutos, nos apartamos um tanto sem graça.

Pela primeira vez em alguns dias, trocamos nossos números, apesar de eu não acreditar que teremos a coragem de continuar a conversar como se nada tivesse acontecido. No entanto, é bom que ela tenha alguém para conversar sobre a situação com a avó, fora da família.

Cassy guarda o celular na bolsa de mão e morde o lábio quando é anunciado que ela já pode entrar no avião.

É como se os mimos que eu pedi mais cedo ao universo cobrassem o favor instantaneamente.

Meia hora já tinha passado? Quando todas as pessoas na espera tinham chegado?

— Bem... É isso, então — ela começa, me abraçando pela cintura. Seu queixo quase alcança o meu, então não faria sentido se ela me abraçasse pelo pescoço. — Eu... Mantenho você informado de como as coisas estão, lá.

— Ok — sorrio o mais convincentemente que posso, e me inclino de leve para beijar sua testa. Seguro suas mãos e elevo-as à altura do coração. — Estarei bem aqui, pelo tempo que quiser. No matter what you say, I'll be only just a call away — canto, numa tentativa de parecer seguro de meus sentimentos.

Seus olhos reluzem, não de choro dessa vez. Ela agarra a mala de mão com firmeza, estufando o peito com coragem renovada.

— Esse tom ficou bem melhor que o do Judas Priest...

Gargalho com gosto, ao passo que nos apartamos. É assim que quero me lembrar.

Se estivéssemos em uma de suas fotos, essa teria uma moldura alegre e cheia de rabiscos.

Memórias boas.

É isso que mantenho nos pensamentos enquanto ela acena para mim uma última vez e embarca de volta... De onde nunca deveria ter ido embora.


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=JyID5ghuoOQ
Música cantada pelo bonitinho: https://www.youtube.com/watch?v=jOPPq90khJA



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