Uma Nova Alvorada escrita por MoonLine


Capítulo 8
Capítulo 8- Epifania




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Depois daquele pesadelo, todas que sobreviveram foram levadas para o alojamento, estávamos vendadas, como sempre, mas não era preciso enxergar para perceber o quanto a fase três destruiu todas ali. No mesmo dia e alguns dias depois o clima estava extremamente pesado, ao ponto de não ter nenhum outro treinamento mesmo já tendo se passado uma semana. Boa parte dos quartos estavam vazios, afinal, dez meninas morreram naqueles dois dias de puro inferno. Meu relacionamento com a Rin não melhorou, apesar de compartilhar o mesmo quarto o dia todo, não nos falávamos sequer por segundos. Ela já não lia seus livros, ficava o dia todo sentada ou deitada em sua cama, nos raros momento em que tentei me reaproximar, fui empurrada para longe por seu olhar.

            Apesar do silêncio prevalecer quase em 100% do tempo, vez ou outra era possível observar um grupo de meninas reunidas para chorar e falar sobre as mortes trágicas que haviam testemunhado. No meu caso, não falei para ninguém sobre o que aconteceu a Katsumi, mas acredito que não precisava, já que todas as noites eu acordava chorando e gritando por seu nome. Meu sonho não era sobre ter visto ela morrendo, não somente, eu a via sendo esfaqueada pelo soldado, a via correndo, implorando para que alguém a salvasse, mas além disso, me via parada, tremendo, sem fazer nada para vingá-la. E era isso que me corroía por dentro.

            A calmaria foi substituída por um tumulto fora dos quartos, no campo de treinamento básicos. Olhei pela janela do quarto e percebi que os lordes Suna e Kasai estavam chamando a todas, enquanto seguravam uma caixa cada um. Levantei da cama e coloquei uma blusa de frio, já que o sol estava se escondendo por toda essa semana, e além da leve chuva que durava o dia todo, o vento soprava frio. O caminho até os lordes não era grande, mas minha ansiedade fazia parecer.

—Muito bem – começou lorde Suna – Tendo conhecimento do ocorrido durante as duas últimas fases, pedimos para que seus familiares escrevessem cartas para cada uma de vocês.

—Elas poderão permanecer com vocês. – lorde Kasai completa – Porém, não trazemos apenas notícias boas e sendo assim, o treinamento será retomado em dois dias. Peço que se cuidem e durmam bem para que possam realizá-lo com sucesso.

—Deixaremos as explicações e regras para quando a hora chegar. Por enquanto, façam como o lorde Kasai sugeriu.

—Conforme chamarmos seu nome, venha pegar sua carta.

Não demorou muito para que eu pegasse a minha carta, corri para meu quarto para que pudesse ler em paz e sozinha enquanto Rin não entrasse.

Querida Amaya, todos sentimos muito a sua falta. Desde que você se foi, não houveram mais chuvas. Seus irmãos chamam por você todos os dias, bem como todos nós aguardamos sua chegada quando o sol se põe.

Um guarda pediu para que escrevêssemos uma carta apoiando você e incentivando seus esforços no treinamento. A única coisa que peço é que volte viva, independente do que vá fazer, sobreviva e volte para casa. Te amamos muito!

Com amor, mamãe e família.

Enquanto a lia, era praticamente impossível não derramar lagrimas e apertar os lábios numa falha tentativa de suprimi-las. Minha mãe não gostava de escrever, muito menos de demonstrar sentimentos com palavras, ela preferia fazer coisas por nós que nos mantivéssemos vivos como forma de amor. Perceber que ainda esperavam por mim, de certa forma, me dava forças para continuar. Tive perdas grandiosas durante esse treinamento: perdi a inocência de uma garota que brincava com os irmãos na chuva, perdi o contato com as pessoas que formaram minha base, e perdi pessoas aqui dentro. Mesmo não sendo próxima das meninas que morreram, eu sabia como elas se sentiam, eu sabia da dor que é estar longe e isolada enquanto luta para sobreviver.

Coloquei a carta em meus lábios e logo em seguida em meu peito, deitei na cama e me permiti ficar triste por mais um tempo. Foi aí que tudo piorou: Rin entrou no quarto, começou ler a carta em silêncio, parada ao lado de sua cama, mas logo pude perceber que ela não estava bem. Suas mãos tremiam e seus olhos estavam transbordando, bem como suas pernas começaram a falhar e logo ela estava ao chão, de joelhos. Primeiramente pensei em deixá-la sozinha, já que a semana toda estava sendo evitada, no entanto, eu não pude obedecer a mim mesma e assim que vi a terrível expressão que se formava em seu rosto, corri para abraçá-la.

Então, ali estávamos: Rin no chão, de joelhos com as mãos abaixadas e a carta jogada ali perto, enquanto eu estava a abraçando e cedendo meu colo a ela. Ficamos assim por meia hora, sendo que a cada soluço e grito que saia de sua boca, mais eu a envolvia em meu abraço apertado. Até que ela finalmente se acalmou e olhou para mim com aqueles lindos olhos, que agora estava inchados e vermelhos.

—Me desculpa... – sussurrou com certa dificuldade – Eu... Eu não sei o que fiz... Eu – lágrimas, novamente, rolaram por suas rosadas bochechas – Realmente...

—Tá tudo bem! – afirmei em um impulso – Eu não vou perguntar o que aconteceu a menos que queira me falar, mas por agora, eu tô aqui, com você.

A abracei mais forte e tentei me manter firme, enquanto ela voltava a chorar com toda sua força. Somente depois de se acalmar Rin conseguiu explicar o que havia acontecido. Em sua carta, seu noivo dizia que não a amava mais, que já estava vivendo feliz com outra moça, que apesar do pouco tempo que passaram separados, ele percebeu que ela não era a pessoa certa pra ele. Infelizmente, seus pais não haviam escrito nada, deixando essa responsabilidade para o, agora, ex noivo. A coloquei em sua cama, deitando junto a ela e ali ficamos falando sobre como nascemos, como nossas relações se desenvolviam e como nosso Reino era.

—Minha mãe dizia que quando nasci estava chovendo muito, nosso Reino é conhecido pela chuva durante quase o ano todo. – falei em uma tentativa de distrair Rin enquanto fazia carinho em sua cabeça – Estranhamente, ela disse na carta que desde que parti não chove mais, no entanto, nosso Reino nunca passou mais de duas semanas sem uma leve chuva sequer.

—Minha mãe diz que antes que eu viesse ao mundo, nosso Reino era extremamente instável e volátil, até mesmo perigoso, às vezes. Mas quando nasci, o Reino havia acabado de entrar em uma época de paz. Todos da cidade pareciam sempre sentir o mesmo que outros. Conheci meu ex noivo e imediatamente nos sentimento atraídos. – seus olhos se inundaram novamente – Realmente pensei que ele seria o homem da minha vida.

—Eu sinto muito que não tenha sido...

—Eu sinto muito pela Katsumi. – ela se levanta e olha em meus olhos – Eu sei que você se importava com ela.

—Bom... – fui interrompida

—Sinto muito pelos pequenos filhotinhos que fiz ficarem órfãos. E sinto muito por ter sido grossa com você. Eu estava...

—Tentando não sentir? – indaguei com a voz embargada – Eu também tentei, mas acho que no final, isso não foi a melhor escolha. E agora está tudo bem chorar e sentir. – a olhei com certa ternura e toquei em sua bochecha – Você pode se permitir, tem alguém aqui para te ajudar a se manter de pé. Assim como você me ajudou.

Nossos olhares estavam profundamente conectados, aqueles olhos azuis penetrando através das minhas armaduras, atingindo meu coração com tamanha força, seu lábio inferior sendo pressionado por alguns dentes e o nervosismo do momento, suas mãos delicadas que repousavam sobre meu tórax e minhas mãos, que seguravam seu pequeno, delicado e perfeito rosto. Tudo se encaixava perfeitamente, como um quebra cabeça de sentimentos. Me aproximei lentamente de seu rosto, até encostar nossos narizes e nossas respirações quentes se cruzarem. Fiz menção de beijá-la e dei tempo para que a mesma negasse ou permitisse minha passagem. Ela não se afastou e iniciei um beijo lento e molhado enquanto fechava meus olhos. O toque dos seus lábios macios era quase como um veludo e logo senti uma de suas mãos segurar meu rosto. Queria que aquele momento nunca tivesse acabado.

Quando finalmente nos separamos, percebi que o olhar da Rin estava atônito e na mesma hora a soltei. Pensei que tivesse feito algo ruim e que agora ela estava brava, mas seus olhos começaram a brilhar, como se ela estivesse prestes a chorar e o desespero tomou conta de mim.

—Rin, eu sinto muito se a ofendi... – tentei me sentar na cama e dar espaço a ela – Me desculpe.

—Amaya, eu... – ela para de repente, para então falar decididamente – Eu não quero te confundir mais. Por favor, não se sinta mal com isso, mas não estou bem para tal envolvimento e...

—Tudo bem. – tento sorrir – Eu agi sem pensar, pra variar. Não se preocupe. – Rin fica em silêncio, apenas me olhando com pena – Posso te pedir um favor?

—Bom, acho que sim.

—Não lembre somente desse momento. Tudo que eu disse antes é verdade: sou sua amiga e estou aqui para te dar suporte quando necessário.

Rin não respondeu, continuou me olhando e sorriu gentilmente. Meu rosto estava muito vermelho e meu coração estava extremamente acelerado, mas confesso que doeu quando vi aquele olhar. Não percebi que nossos sentimentos não eram sincronizados, na verdade, é muito difícil entender meus próprios sentimentos quando estou perto dela, é como se me deixasse ser influenciada por ela a todo momento.

Voltei para a minha cama e fiquei olhando pela janela, enquanto via as estrelas no céu e a linda lua cheia que o iluminava. Não havia muitas estrelas ao redor da lua, e me senti como ela, sozinha.


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Notas finais do capítulo

Espero que esse capítulo tenha sido bom para vocês. Escrevê-lo foi um incrível desafio para mim, mas estou muito feliz com o resultado.
Espero que tenham gostado!



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