Uma Nova Alvorada escrita por MoonLine


Capítulo 19
Capítulo 19- O vazio da vitória




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Kasai estava apoiado em mim e nosso ritmo, embora acelerado, não parecia ser o suficiente para alcançarmos Suna tão rápido quanto o esperado, mas nossas preocupações diminuíram quando Kuroi apareceu. Ele estava com uma aparência cansada e suas olheiras estavam mais fundas do que da primeira vez que o vi, no entanto, seu olhar parecia determinado, era possível sentir seu desejo de salvar aqueles que uma vez o salvou.

Os portais facilitam nossa locomoção pelo castelo e ajuda a manter nossas energias, exceto de Kuroi, na medida do possível, já que todos estavam bastante exaustos a esse ponto. Passamos por mais três portais, devido ao estado físico do lorde mais novo, seus portais não conseguiam atingir uma grande distância, que seria o normal para o mesmo, sendo que a cada portal criado, sua expressão de dor se intensificava e meu coração acelerava, fazendo meu sangue ferver e minha adrenalina subir. Kuroi nos deixa num local próximo à arena de combate feita por Suna e Chikaku, mas que antes era responsável por ser o jardim do castelo, e sai sem muitas explicações ou despedidas, o que é compreensível, devido seu estado crítico e ao caos que nos esperava logo a frente. Os passo seguintes até o campo se tornaram cada vez mais pesados e mais difíceis conforme a forte pressão de como iriamos encontrar nosso amigo afligia nossos corpos. Pouco antes de finalmente entrar na zona de conflito, fechei meus olhos e respirei fundo, para então avançar em direção ao lorde que me aguardava.

Embora meus olhos estivessem abertos, manter a atenção estava sendo extremamente difícil. Assim, enquanto examinava o campo coberto de areia, com algumas árvores se sobressaindo por sua lateral e pequenas plantas que lutavam contra o soterramento, fui capaz de identificar um jovem lorde apoiado em seus joelhos, envolvendo seu abdômen com os braços e encarando a impiedosa imperatriz com certo desprezo e dor estampado em seu rosto, estava localizado à minha direita, longe o bastante para não me perceber e para me impedir de alcançá-lo facilmente, enquanto a Imperatriz estava à minha esquerda, com sua pose impecável e seu delicado vestido quase intocado, havia um corte em sua bochecha que só era possível ver graças ao vermelho vivo do sangue que contrastava com sua pele alva. Suna estava visivelmente bem, e com isso quero dizer que não havia machucados visíveis, braços ou pernas mutiladas, cortes, e demais, ele estava fisicamente bem. Entretanto, esse é o poder de Chikaku, a grande Imperatriz dos sentidos, ela é capaz de infligir uma dor e medo além da capacidade de simples olhos observadores entenderem.

Meu impulso era correr em sua direção e tentar lhe dar o melhor e mais simples do conforto que poderia ofertar naquele momento, mas me obriguei a pensar e agir como em um verdadeiro confronto de vida ou morte, afinal, essa era a realidade. Era uma confronto de vida ou morte. Então olhei para Kasai e o alertei com meu olhar de que iria começar a interferir a partir daquele momento, ele concordou e parti para um ataque surpresa.

Antes de me aproximar de Suna lancei uma onda de água que foi capaz de arrastar Chikaku para longe do mesmo e desestabilizá-la temporariamente. Aproveitei a chance para concluir meu objetivo inicial.

—Suna! – grito enquanto corro em sua direção – Eu estou aqui, irei te ajudar agora! – paro de costas para o mesmo, me colocando como um escondo entre ele e Chikaku.

—Tentando parecer legal em uma hora como essa... – ele força um sorriso, que é desfeito por um gemido de dor – Eu estava errado, temo que somente nós dois não seremos suficiente para derrotá-la, talvez seja me...

—Não! – o interrompo rispidamente – Não estamos sozinhos. – não lhe dou a informação de quem mais estaria ali, caso contrário, Chikaku saberia também.

Nosso momento amigável é interrompido por uma risada perturbadora, a Imperatriz agora estava de pé e seu olhar nos fitava com uma intensidade e desejo que eu não conseguia compreender, mas que eram suficientes para me deixar amedrontada. Ela não fala nada, nem se mexe, apenas ri histericamente enquanto ajeitava seu vestido agora encharcado. Então, ela para de rir e subitamente uma dor rompe meu corpo, que agora insistia para que me apoiasse contra o chão, no entanto, tento resistir o quanto posso enquanto a olho com petulância. Busco forças e lanço um jato de água contra mesma, com pressão suficiente para perfurá-la, caso eu a acertasse, o que não aconteceu e com isso a dor aguda se tornou mais presente e ainda mais forte.

Kasai aproveitou desse momento para, sorrateiramente, se aproximar da inimiga. Observamos que, embora fosse muito habilidosa para fazer um campo todo de novatas sentir aquilo que desejasse, ela precisava de muita concentração para tal movimento, o que não era tão fácil de se obter com duas pessoas dispostas a te atacar, e possivelmente matar, no primeiro deslize. Sendo assim, o jovem mestre do fogo nos usou de isca para realizar contra ela um golpe capaz de tornar possível nossas chances de vencer. Os olhos vermelhos de Kasai brilhavam cada vez mais conforme sua distância entre a imperatriz diminuía e ele finalmente conseguiu cumprir a primeira parte da missão.

A mão direita do lorde envolve o pescoço de Chikaku, queimando sua pele e provocando-a dor o bastante para atordoá-la ainda mais. Nesse momento me coloco de pé e corro em sua direção, ao mesmo tempo, a Imperatriz consegue se livrar do caloroso movimento de Kasai e usa um golpe de defesa pessoal, ao segurar seu braço direito, não apenas o desestabilizou emocionalmente, como chutou a parte traseira de sua perna direita e girou seu próprio corpo com força o suficiente para jogá-lo longe e impedir outro ataque, mas isso não é o suficiente para desviar a minha atenção, e com os punhos já cerrados há um tempo, preparo um golpe com meu punho direito que acerta seu rosto e a faz cair de costas no chão. Tento controlar meu corpo, jogando o peso para trás para que eu não caísse sobre a mesma e coloco em posição de combate novamente.

Outra onda de dor percorre meu corpo, mas não chega a me atingir, ao invés disso sinto um terrível medo preencher meu peito, se transformando em um desespero profundo que consumia minhas forças e me forçava a ficar de joelhos no chão devido à falta de estabilidade em minhas pernas, minhas mãos trêmulas tentam incontrolavelmente buscar apoio em minha cabeça, enquanto me curvo para frente, lágrimas me encharcam e grito implorando para que aquela terrível onda simplesmente pare. E é o que acontecesse.

O medo lentamente me deixa e tomo coragem para entender a situação, tentei me reerguer, mas ainda estava muito abalada, olhei na direção de Suna, pensando que o mesmo havia me salvado novamente, e foi então que puder ver através dos meus curtos e pretos fios de cabelo uma linda mulher de cabelos prateados correndo em direção ao mesmo. Meus olhos se tornaram fixos, minhas mãos suavam e ao passo que me obriguei a levantar, movi desesperadamente minha mão em sentido à imperatriz, criando um jato de água que a arremessaria para além de Suna, assim ela não o tocaria, mas isso é, se tivesse a atingido. Porque ao meu lado estava Kasai, que instintivamente, tentando proteger seu amigo, antepôs pelas mesmas decisões que eu havia tomado. E nossos poderes se colidiram, e então, se anularam. O que antes era uma demonstração da nossa força de vontade de salvar nosso amigo, se tornou uma névoa quente que vaporizou nossa esperança e esforço.

Novamente meus olhos foram preenchidos por lágrimas e a imagem do jovem loiro agora estava embaçada, sendo vagarosamente substituída por um vestido esvoaçante, gritei por seu nome e fechei fortemente meus olhos ao imaginar o que estaria por vir. Ao abri-los pude ver Chikaku deitada em cima de Suna, que ainda estava em choque e me forcei a correr em seu rumo. Cheguei perto o bastante para ver um sorriso triste se formando no rosto da Imperatriz, ela estendeu a mão tentando alcançar o rosto do lorde e sussurrou com dificuldade.

—Por que você não me ama? Eu fiz tudo que eu podia para transformar você nesse forte homem que é hoje. Mas você... – ela se engasga com um pouco de sangue – Nem mesmo nesse momento consegue me amar? – lágrimas umedecem suas bochechas e se misturam com o sangue que escorria pelo canto de seus lábios e sua mão cai.

Os olhos verdes esmeraldas de Suna, agora, brilhavam devido à água que se acumulava e era fortemente repreendida, ao contrário do que imaginei, seu rosto não transmitia raiva, ódio ou sequer felicidade por ter conseguido sua liberdade, ele estava triste, estático, olhando para o sorriso da mulher que dizia o amar tanto e que mesmo em seu últimos momentos pedia por sua retribuição, a mulher que acreditou que toda aquela tortura era para seu bem e que por muito tempo foi uma das poucas pessoas para quem ele voltava ao final do dia. Suna agora parecia perdido ao perceber o vazio no olhar daquela que ainda tentava o alcançar e que manteve um sorriso mesmo depois de sua alma deixar seu corpo...

Meu coração também não se aliviou, eu não me senti melhor. Me pus de joelhos e chorei por toda a dor que havia passado, pela dor daqueles que não pude salvar, e pela dor que meu amigo estava sendo obrigado a enfrentar sozinho, pois ninguém, jamais, poderia entender um sentimento tão íntimo.

Kasai se aproximou aos poucos, sua respiração estava pesada e era perceptível a dificuldade em tragar o ar, ele sentou ao lado de Suna, que ainda mantinha o corpo da Imperatriz em seu colo, e gentilmente pousou uma de suas mãos no ombro do mesmo, o consolando por tudo. O loiro não se mexeu por um tempo, mas caiu em si quando Shizen o chamou enquanto corria em nosso encontro.

Kuroi, assim que nos deixou, ainda buscou pelo soldado, pois sabia que toda ajuda seria mais que necessária para derrotá-la, o lorde mais novo estava cansado e caminhava lentamente até nós, à medida que seu rosto se comprimia em uma expressão de alívio e exaustão.

—Entendo – o lorde da areia olha para o corpo deitado em seu colo e percebe o ferimento da bala em seu peito – Foi você quem fez isso Shizen. – seu tom de voz não muda, aparentando um certo distanciamento da realidade.

—Foi graças a Kuroi, que retornou e me buscou para ajudar. – Shizen parece aliviado, mas também sente o impacto do que acabara de acontecer – Suna eu... – ele respira fundo e reúne toda sua coragem – Eu sinto muito...

—Ela está morta agora...

O olhar de Suna não voltou a brilhar, nem mesmo pelas lágrimas. E o silêncio preencheu aquela pequena reunião pós vitória, enquanto todos pensavam nas perdas.


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