Uma Nova Alvorada escrita por MoonLine


Capítulo 13
Capítulo 13- Confissões Cruzadas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786635/chapter/13

Já dentro da caverna, novamente o silêncio reinava, o cansaço se fazia presente em toda minha expressão corporal, a exaustão estava chegando, exatamente como no alojamento, exceto que agora, eu estava sozinha, Rin não estava mais comigo e nunca mais estaria. Meus olhos se enchem de lágrimas e fungo para tentar reprimi-las, no entanto, minha tentativa de esconder meus sentimentos é falha, uma vez que recebo olhares de pena de ambos cavalheiros. Tento ignorá-los, mas é uma missão difícil. Suna rompe o silêncio.

—Como foi o treinamento?

—Se você não observou, eu apanhei o tempo inteiro. – respondo com sarcasmo.

—Entendi, então nem mesmo o básico você consegue fazer? – ele me olha com desgosto – Não vejo como você poderia derrotar Chikaku a essa altura.

—Eu. Não. Pedi. Por. Isso – falo pausadamente, numa tentativa de dar ênfase ao meu aborrecimento – Que droga!

—Você tem potencial para superá-la! – ele se levanta abruptamente – Não entendo qual sua dificuldade de decidir agir!

Não é que eu não queria agir. Eu estava com medo e me escondi atrás de desculpas que não seriam suficientes para cobrir a verdade.

—O que você sabe?! – me levanto e tento ficar a sua altura, em vão, já que o mesmo era uns vinte centímetros maior que eu – Os lordes são privilegiados! – reparei nos seus olhos arregalados – Não precisaram ter que se matarem em campo! Eu não sei como você descobriu seus poderes, mas com certeza não foi perdendo uma pessoa que era mais importante que você mesmo! – nesse ponto, começo a chorar – Você me diz que a culpa de não perceber os “sinais” dos meus poderes é minha, por não ser atenta. Mas quem disse que eu queria essa responsabilidade?!

—Você está agindo como uma garota mimada! – ele se irrita ainda mais, sua voz agora era grave e alta – Isso vai além da sua dor, é a dor de muitas outras pessoas juntas. Quer saber como eu descobri ou evolui meus poderes? – ele se aproxima de mim com fúria nos olhos – Eu e Kasai éramos amigos de infância e sempre brincávamos juntos, no início parecia coincidência que a areia e o fogo nos obedecia, mas então percebemos que era muito mais que isso. Um dia Kasai se empolgou e uma plantação que estava ressecada incendiou, todos acharam ser um acidente infeliz da natureza, mas as Imperatrizes suspeitaram e todas as meninas do meu Reino passaram por uma avaliação, mas nenhuma foi “aprovada”. Tínhamos quatorze anos. – sua voz falha por um momento – Algumas crianças que não gostavam das nossas particularidades nos entregaram para um dos soldados. Chikaku se interessou por Kasai imediatamente, já que ele assumiu a responsabilidade para me livrar de possíveis consequências, e enquanto o levavam, tentei lutar por ele, então consegui levantar uma quantidade relevante de areia, o suficiente para despertar o interesse dela. Ela é dez anos mais velha que eu, no entanto, isso não a impediu de se apaixonar por mim. – ele pausa, seus olhos se enchem de lágrimas e, agora, seu tom de verde brilha como uma esmeralda – Mesmo declarando me amar, seu lado sádico era mais forte e ela obrigava que eu e Kasai lutássemos à exaustão, e a luta só deveria ser dada como finalizada quando um acertasse o outro de forma fatal. – Suna tira sua camisa e mostra as várias queimaduras por todo seu tronco – Eu não tinha coragem de machucá-lo e mesmo ele ganhando todas as vezes, eu ainda era o favorito e ele o punido. – ele respira fundo e veste sua camisa novamente – Se você acha que foi difícil para você, tente entender que foi para muitos outros e que vai continuar sendo enquanto ela não for tirada do poder.

Quando me dei conta, Suna havia saído da caverna, me deixando parada encarando o nada e com os olhos marejados. Shizen estava extremamente desconfortável com a situação, sua boca estava cheia de comida e ele me olhava com certa apreensão. Pedi licença e fui em busca do lorde. O mesmo estava parado em pé, fitando a lua a poucos passos da entrada da caverna, a brisa balançava seus longos fios loiros e secava as lágrimas que ainda teimavam em transbordar, seu rosto estava vermelho, seus lábios levemente inchados e sendo pressionados pelos dentes inferiores.

—Eu- eu sinto muito mesmo... – toquei em seu ombro – Eu não... – suspiro, como quem iria desistir.

—Acho que tenho me exaltado com você desde que saímos do alojamento, normalmente tento ser calmo, racional e, na medida do possível, gentil. Estou com tanto medo quanto você. – dessa vez ele não tenta segurar suas emoções – Kasai é meu amigo de longa data e Chikaku deve estar torturando-o em busca de informações sobre mim, bem como Kuroi, que arriscou sua vida pra nos presentear com esse lugar.

—Como você o conheceu? – tento soar delicada e preocupada, ao invés de apenas curiosa.

—Tenho vinte e quatro anos agora, passei longos dez anos naquele inferno de prisão, e Kuroi chegou mais novo ainda que eu, com apenas dez anos ele já demonstrava um poder imenso. Apenas pensando e apontando para um determinado local ele é capaz de criar um espaço que nos leva ao outro, um portal. Ele tem apenas dezesseis anos, e sofria muito graças a Chikaku, Kasai e eu tentávamos dar o mínimo de afeição possível a ele. É um bom menino. – ele finalmente me olha nos olhos – Eu entendo como se sente sobre a Rin, porque é assim que me sinto sobre eles.

—Na verdade... – respiro fundo, essa seria a primeira vez falando da Rin depois de tudo isso – Eu nunca entendi o que senti por ela... No início parecia empatia, pois estávamos na mesma situação, rapidamente se tornou em uma amizade muito forte e em um piscar de olhos eu estava apaixonada por ela. – ele não esboçou reação de surpresa pela minha confissão – Sentir a perda dela é real e me dói, mas eu simplesmente não consigo processar todas as informações que ocorreram nesse tempo. É frustrante.

—Não é de se admirar, o poder dela era muito forte, projetar suas próprias emoções inconscientemente em outras pessoas... Nem mesmo a Chikaku conseguira tal feito.

—Eu sinto muito, sabe, pelo meu comportamento. – olho para a lua, numa tentativa de fugir do olhar do loiro – Eu realmente tentei, mas eu não conseguia pensar em nada além da dor que eu estava sentindo. Fui muito egoísta... – meus olhos transbordam novamente – Me desculpa.

—Você tem dezoito anos. – ele acaricia meus cabelos enquanto me conforta – Sua dor é real, mas ela não vai passar ou deixar de existir com você passando por cima dela, ou mesmo se apoiando nela pra sempre. Eu quero acabar com esse regime de tortura e dor, seria muito bom ter alguém forte como você ao meu lado. – ele oferece a mão para mim, mas a retira constrangido, o que me faz rir – Acho melhor descansarmos agora. Você pode pensar nisso e me responder quando amanhecer.

Ele se virou e saiu, me deixando parada no mesmo lugar, olhando sua silhueta se afastar. Suas palavras foram aconchegantes o bastante para fazer minhas bochechas molhadas se contraírem em um sorriso e por um momento toda dor passou. Eu sentia falta da Rin e queria ter sido capaz de salvá-la, mas não fui e agora tenho a chance de me juntar à dois homens corajosos e enfrentar esse sistema podre e corrompido.

A dor não irá de fato sumir, e talvez eu terei pesadelos todas as noites, como Suna, mas poderei tentar fazer algo. E junto a esse novo amanhecer que estar por vir, eu terei a chance de lutar e mudar. Eu irei tentar! Vou me esforçar e dedicar minha alma nessa batalha!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Nova Alvorada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.