Uma Nova Alvorada escrita por MoonLine


Capítulo 12
Capítulo 12- De volta ao básico




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Shizen retorna com alguns galhos envoltos em seus braços, olhou para mim e Suna com um ar de orgulho por ter conseguido, junto à um sorriso grande e simpático. Depositou os gravetos no chão da caverna, não tão ao fundo, mas não tão próximo à abertura. Nos olhou novamente, em convite para entrarmos. Suna negou com a cabeça e me chamou, pediu para Shizen caçar, enquanto iria me treinar. O gentil soldado saiu imediatamente para cumprir a ordem, quanto a mim, fiquei parada encarando Suna, sendo trazida para a realidade bem rápido.

—Precisamos treinar Amaya. – fala simplista – Seu poder é bom, mas você precisa controlá-lo.

—Eu não sei como fazer isso, sequer sabia que tinha poderes até... – minha voz é cortada de imediato e me forço a não pronunciar o que aconteceu – Não sei o porquê da sua fé em mim.

—Não é fé. – ele corta o assunto – Agora quero que feche seus olhos. – assim o fiz, mesmo contrariada pela abrupta mudança – Respire fundo e imagine a água fluindo por todo o seu corpo. Tente imaginar ela saindo de você, tomando forma e obedecendo seus desejos.

—Isso não está funcionando! – bufei depois de ficar vinte minutos, tentei me concentrar como em suas ordens – Foi assim que você aprendeu?

—Não. Eu aprendi enquanto lutava para sobreviver aos treinamentos cruéis de Chikaku. – ele revira os olhos – Estou sendo paciente e bondoso com você. Agora, se concentre de verdade.

Passamos o restante da tarde nesse treinamento, que claramente não estava funcionando. Mesmo fechando os olhos e respirando fundo, quando eu deveria imaginar a água fluindo de mim, a única imagem que conseguia reproduzir em minha mente era Rin morrendo e a explosão que saiu de dentro do meu peito. Eu não tive controle naquele momento, sequer sabia desse poder, então pensei que talvez não devesse tentar controlá-lo.

—E se ao invés de eu tentar controlar, você me atacar até que eu seja capaz de explodir de novo? – quebrei o silêncio e percebi o olhar gélido de Suna sobre mim.

—Irá precisar que alguém morra toda vez para que possa reagir? – ele fala com desprezo – Eu não serei voluntário.

—Do que está falando?! – pergunto irritada – Eu não quis que a Rin morresse!

—Se você soubesse controlar seu poder desde sempre, isso não teria acontecendo.

—Como eu poderia?! – gritei – Eu sequer sei porque fui recrutada!

—Sério? – ele indaga com desdém e ironia – Desde que você nasceu seu reino passou a ser reconhecido como “O Reino da Chuva” porque não havia períodos específicos de chuva e seca, apenas muita chuva e, nas melhores das hipóteses, um dia nublado sem chuva. Seus irmãos estavam sempre doentes por brincarem com você na chuva, mas sua saúde era impecável quando se tratava disso. – ele suspira – Vocês nunca param para observar ao redor, é por isso que falham miseravelmente, sempre.

—Você é um...

—Pessoal. – sou interrompida por Shizen – Está escurecendo, eu consegui achar um porco do mato, vamos comer, descansar, e amanhã iniciar novamente o treinamento. Dessa forma, todos estarão em condições físicas e psicológicas para isso, certo?

Shizen sorri e aponta em direção a fogueira que já havia preparado. O sol estava se escondendo no horizonte, mas dessa vez, me forcei a não prestar atenção na transição de cores, mesmo que fosse difícil não perceber os jogos de luzes que refletiam ao nosso redor. Suna apenas concordou com o jovem soldado e se direcionou a caverna, deduzi que estava tudo bem fazer o mesmo. Nos sentamos em volta da fogueira, enquanto pedaços do porco estavam presos em alguns gravetos mais fortes que Shizen preparou para nós.

Jantamos em silêncio, nos entreolhando e mastigando a saborosa carne preparada pelo nosso amigo extrovertido. Assim que terminamos, Suna e Shizen discutiam a respeito da fogueira, se a manteríamos acesa durante a noite: Suna confiava em Kuroi, tinha certeza que não seriam encontrados com facilidade mesmo com a fogueira, já Shizen, temia que todo cuidado seria pouco. O vento frio não conseguia adentrar completamente na caverna, mas as frias paredes e chão, tornavam o ambiente levemente congelante. Ambos repararam meu bater de dentes e decidiram testar, por apenas aquela noite, se haveria problemas em deixá-la acesa, sendo decidido que faríamos turnos para vigiar o local. O soldado decide assumir o primeiro turno, enquanto o lorde o segundo e mais difícil, e por fim, fiquei responsável pelo terceiro turno.

Tentei fechar meus olhos e de fato descansar, mas o medo das visões que aquela noite havia me proporcionado fazia com que abrisse meus olhos como em um reflexo, por diversas vezes, até que o cansaço tomou meu corpo, sendo assim capaz de descansar por algumas horas, antes de ser acordada por Suna novamente.

O lorde se deitou, enquanto levantei e me forcei a assumir uma postura responsável, logo o sol estaria nascendo e a fogueira poderia ser apagada. Não havia passado sequer uma hora de vigília quando percebi que meus olhos pesavam, devido a noite toda ter sido tranquila, me convenci de que estava tudo bem cochilar por instantes, apenas para “descansar meus olhos”, e estava realmente quase conseguindo, quando percebi que Suna não parava de se mexer. Ao me aproximar, pude ouvir, bem baixinho e com muita dificuldade, o loiro implorando para que algo parasse, seguido por pedidos incessantes de desculpas. Meu coração se apertou por um momento, tentando pensar o que seria tão ruim ao ponto de desesperar alguém tão forte como ele.

O azul escuro do céu foi cedendo espaço para um tom mais claro, até que os primeiros raios solares tocaram o teto da caverna, despertando assim os que ainda dormiam. Me coloquei de pé e sai da caverna para pegar um punhado de água. Fui seguida por Shizen, que de forma simpática, iniciou uma conversa comigo.

—Acho que preciso fazer uma cesta ou vasilha para apanhar água e frutas. – ao perceber meu olhar curioso, sorriu e completou – Não é tão difícil quanto parece, preciso de algumas folhas e gravetos. Irei procurar enquanto vocês treinam, assim posso ajudar ao máximo. Estou torcendo por você.

Ele dá um sorriso e volta para a caverna, comunicando a Suna sua nova missão. Então passa por mim e se dirige para a floresta que ficava logo a nossa frente, atravessando o rio. Em contrapartida, Suna avança em minha direção, quase marchando, para a minha frente e começa o treinamento tudo de novo. Repetindo, exatamente, as mesmas coisas, enquanto tento, exatamente, segui-las como antes.

—Você está realmente tentando? – Suna indaga já furioso.

—Estou com fome! – retruco sem paciência – Não comemos nada desde a janta e seria bom poder ter algo para me sustentar agora.

—É nisso que está pensando? – me olha impaciente – Comida?!

—Você não sente fome?

—Você é impossível! – ele passa as mãos pelos cabelos – Que inferno!

—Eu NÃO tenho culpa Suna! – cruzo os braços em forma de protesto – Eu nunca quis estar aqui, eu não quero ter que lutar! Eu não quero lutar contra a Chikaku! Eu não quero viver! – grito, quase em desespero, como se desabasse por instantes.

—Você...

—Eu trouxe comida e umas cestas! – Shizan diz energético, mas logo percebe o clima – Ok... Talvez eu possa treinar ela fisicamente, primeiro, para então você assumir Suna. O que acha?

—Tanto faz. – Suna se vira e anda até a caverna.

—Qual o problema dele? – bufo em protesto.

—Bom... Estamos no mesmo barco aqui... – o soldado coça a cabeça – Meio que estamos nos arriscando por você e...

—Eu não pedi por isso. Entende? – o corto – Vocês tomaram essa atitude por vontade própria!

—Sabe, você não está parecendo aquela garota que ajudei diversas vezes no alojamento. – ele diz dando de ombros, com um ar mais sério – A garota que tentou ajudar uma companheira, que foi inteligente para pegar utensílios necessários dos soldados...

—Eu... – aquelas palavras me abalaram ao ponto de me deixarem sem falas.

—Você está com medo. – ele completa – Tem razão de estar. Sua amiga morreu. Você viu muitas meninas morrerem, no entanto, pensei que isso mexeria mais com você. Pensei que tentaria lutar por elas, porque acredite, elas não têm ninguém para fazer isso agora. O lorde tentou e eu também, mas... – ele para de falar e então muda de assunto – É melhor comermos um pouco antes de iniciar o treinamento em combate e armas.

Um tempo passou desde que sentei para comer algumas frutas. Suna não trocou palavras comigo, sequer olhou em minha direção, seu rosto estava apontado para o chão e assim ele ficou até eu me retirar da caverna. Shizen me seguiu e perguntou se já estava pronta. Mas antes mesmo que pudesse responder um “sim”, ele me chutou na altura do peito, o que fez com que eu caísse sentada no chão, enquanto lutava para respirar.

O olhei assustada e indignada, o mesmo disse “uma luta com o inimigo não é justa, ele não irá, humildemente e pacientemente, esperar você se aprontar”. Me levantei e avancei para cima do mesmo, com um soco armado que passou longe de atingi-lo, o que me fez perder o equilíbrio e cair novamente, dessa vez de joelhos. Antes de conseguir olhar para trás, senti a dor de um chute nas costas, me fazendo debruçar sobre o chão. Ouvi um suspiro de pena, seguido de passos se afastando, aproveitei para me levantar e me preparar para um possível ataque, mas ele não se mexeu. Tentei avançar em sua direção e recebi um soco na maçã direita do meu rosto. Eu havia reparado anteriormente que o mesmo era destro, então deduzi que o uso da mão esquerda era uma tentativa de minimizar sua força aplicada nos golpes.

Me afastei e tentei observar a situação, estava ofegante e meu corpo doía, mas não tinha muita opção. Em um ato de fé, parti para cima de Shizen esperando que o mesmo, novamente, tentasse me acertar com a esquerda, assim, desviei do soco e tentei desferir um gancho em seu abdômen. Acertei! Mas não com força o suficiente e recebi um golpe na cabeça que me atordoou ao ponto de me desestabilizar, então vi um chute vindo em minha direção, fechei os olhos e ele não chegou. Shizen me olhou, suspirou novamente e pediu para que eu bebesse água e fizesse um intervalo.

—Nós iremos continuar assim que seu fôlego voltar. – falou casualmente.

Bebi água e tentei controlar minha respiração, meu coração estava batendo muito forte e rápido, estava suando e sentindo meu rosto queimar, além da dor por todo o corpo, é claro. Me sentei e observei ambos meus salvadores. Continuamos nesse padrão de luta até entardecer, quando o sol estava mais ameno, o calor começava a deixar a terra do chão, o vento soprava sutilmente frio. Suna estava dentro da caverna, colocando na fogueira uma nova caça encontrada por ele, e Shizen me deu licença para que pudesse banhar no rio antes da lua e estrelas ocuparem o céu.


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