Uma Nova Alvorada escrita por MoonLine


Capítulo 11
Capítulo 11- Ao Fim do Mar de Areia




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Ao abrir meus olhos, percebi que não estava no alojamento, senti mãos e braços ao meu redor, e entrei em desespero, me debatendo, mas logo uma voz grave me acalma.

—Você não precisa lutar tanto assim. – Suna falou enquanto me colocava sentada ao chão – Já estamos longe do alojamento agora, não precisa se preocupar por enquanto.

—Como conseguimos fugir? – minha pergunta repercutiu em minha mente e me fez desesperar novamente – Nós fugimos? Ou...?

—Fugimos. – ele sorri sarcástico – Não estou te machucando, estou?

—Não... – reparei no soldado que esse tempo todo estava atrás de nós – Quem é esse?

—Me chamo Shizen! – o jovem soldado se apresenta energético – Ajudei lorde Suna a fugir por uma falha na estrutura do alojamento. – ele passa as mãos pelos cabelos, como se estivesse sem graça – Foi difícil, mas pelo menos já estamos longe e sem deixarmos pistas substanciais para sermos perseguidos.

Diante meu silêncio, Suna interrompe, afirmando que devemos prosseguir, encontrar um lugar que pudéssemos, de fato, nos esconder. Perguntou se eu conseguiria andar por mim mesma e respondo positivamente, logo partindo em busca de um esconderijo. Estávamos nos aventurando por uma estrada de terra, do lado direito havia paredões de pedras irregulares relativamente grandes, com algumas pequenas vegetações em locais estratégicos da natureza, do nosso lado esquerdo havia apenas um vasto campo, com algumas árvores, mas não densas o suficiente para formar uma floresta digna de abrigar fugitivos.

Caminhamos por tempo o suficiente para observar as cores do céu mudarem gradativamente, bem como as paisagens serem substituídas por outras.

—Se entrarmos nessa floresta, acredito que seremos capazes de, pelo menos, dormir por algumas horas. – o soldado diz com tom mais sério – Se dermos sorte, podemos achar algum rio.

—Suna. – chamo pelo lorde, que me olha surpreso pela intimidade em minha fala – Lorde Suna... Enquanto lutávamos na primeira fase do teste, você era capaz de sentir onde estávamos pela areia, certo? Não pode fazer isso para descobrir se esse é um bom lugar?

—Eu não tinha tanto controle assim. – ele afirma enquanto analisa o local apontado pelo soldado – Eu apenas tinha informação por parte dos soldados. Na verdade, minha facilidade de lutar contra você, além da minha experiência e força obviamente, se dá por proximidade, quanto mais perto, mais fácil é controlar a areia. – ele volta o olhar para mim – Para resumir, estou cansado demais, carreguei você por metade de um dia e sequer comi, estou tão exausto quanto qualquer um aqui.

Volto a ficar em silêncio e Suna decide que deveríamos tentar a sorte na mata que acabamos por encontrar. O início dela é repleta de árvores e arbustos tão próximos que torna a passagem entre os mesmos difícil, no entanto, Shizen tinha uma faca que ajudava em momentos de muito aperto. O caminho foi gradualmente se tornando mais espaçado, sem tanta dificuldade para transitar de um lado para o outro, o que permitia também uma maior visibilidade de onde estávamos indo.

Suna faz um sinal para que parássemos por alguns instantes, o cansaço, a dor nos pés, fome e a sede me fizeram sentar enquanto o mesmo analisava nossa posição. O que foi um erro para mim, passei a notar que se não tivesse pensando em sobreviver, eu estaria pensando em por que eu sobrevivi... Mas um som bem baixinho chamou minha atenção, olhei ao redor e percebi que Shizen também havia prestado atenção.

—Água! – gritei, fazendo Suna me olhar com olhos arregalados – Está ouvindo também, certo Shizen? Está bem baixinho, mas deve ter um rio bem perto daqui!

—Consigo ouvir, realmente não deve estar longe.

—Se sabe a direção nos leve. O sol está começando a pintar o céu com seus típicos tons de crepúsculo. – Suna contempla o céu por instantes, ates de focar novamente nas ordens – É importante que tenhamos um local adequado para passar a noite, sem contar os lábios rachados de sede. – ele olha para mim, novamente com aquele sorriso sarcástico

Seguimos o jovem soldado em direção ao riacho. Imediatamente, assim que o alcançamos, me coloquei de joelhos em sua borda e bebi a água até me perceber sem ar. Tomei fôlego novamente e dei mais alguns goles, na concha que formei com minhas mãos. Suna e Shizen fizeram o mesmo. O céu agora estava de um tom de roxo muito bonito, parei para apreciá-lo por alguns instantes, sendo acompanhada pelo lorde ao meu lado.

Havia uma grande árvore logo ao lado do riacho, não estando cercada por muito mato e sequer por outros empecilhos, o extrovertido soldado sugeriu que passássemos a noite ali, para em seguida partimos para um lugar que pudesse ser mais seguro. Concordamos e tentamos nos encolher. O vento gélido fazia com que meus dentes se chocassem um contra o outro sem cessar. Ascender uma fogueira poderia entregar nossa posição e não sabíamos se ainda estávamos sendo procurados, no entanto, em todos os diálogos que escutei envolvendo Suna, a Imperatriz parecia ter sentimentos pelo o mesmo.

Minhas falhas tentativas de dormir culminaram em pesadelos e visões da noite anterior, enquanto estávamos no inferno, e não consegui fechar os olhos pela noite toda. Não queria processar o que havia acontecido, mas não tinha controle sobre minhas emoções e minhas lágrimas derramavam, junto a pequenos soluços e fungadas baixinhas. E foi assim que amanheceu.

***

—Podemos aproveitar a luz do dia e caçar algo para comer. – o soldado sugere – Ascender o fogo ainda pode ser perigoso devido a fumaça, mas durante o dia os riscos diminuem.

—Concordo. – Suna o olha como se tivesse se esforçando para ser simpático – O que conheço de Chikaku nos conforta, ela não sairá para nos procurar, mesmo que seja eu. É muito perigoso para ela se aventurar por Reinos que a detesta.

—Ela é muito forte, tenho certeza que não teme meros cidadãos. – minha voz demonstrava certo desdém.

—Eu entendo que você tenha testemunhado um episódio traumático com ela. – Suna agora parecia irritado – Mas eu não sei, exatamente, onde foi que você viu coragem no que ela fez, em como ela fez e o motivo de ter feito. Pelo contrário, ela se esconde no título de Imperatriz, atrás de soldados e do medo. Acha que ela matou a Rin por coragem? Ela tinha medo!

Meus olhos se tornaram cheios de lágrimas assim que o nome da minha preciosa amiga fora citado, para então ficarem vazios de qualquer esperança. Percebendo o que havia falado, Suna se torna desajeitado, abrindo e fechando a boca diversas vezes, tentando encontrar palavras para se expressar, mas é salvo pela voz gentil e compassiva do soldado que o chama para caçar, me deixando ali, sozinha. E eu pude jurar que uma enorme sombra estava me engolindo lentamente, ao ponto de me deixar paralisada de medo e dor.

—Eu não queria estar viva... – me encolhi, envolvendo com meus braços meus joelhos e apoiando minha cabeça nos mesmos – Eu não queria nada disso.

—Não deveria fala assim. – uma voz desconhecida surge, junto a figura de um homem de cabelos e olhos negros, com uma yukata igualmente negra e olheiras bem marcantes – Lorde Suna está arriscando sua vida por você, deveria se considerar digna.

—Q- quem é você?! – me forço a me afastar do mesmo e grito pelo Suna

—Kuroi. – me responde de forma direta – Onde está o lorde Suna? Fui mandado pela Imperatriz dos Sentidos em uma missão de caça aos fugitivos do campo.

—Amaya! – Suna me chama enquanto corre em minha direção, seguido por Shizen – Kuroi, o que faz aqui?

—Fui mandado pela Imperatriz dos Sentidos em uma missão de caça dos fugitivos do campo. – ele repete como se nunca tivesse dado essa informação – Ela deve ser importante para você, lorde Suna. A Imperatriz está furiosa.

—Kuroi... – Suna busca forças para se impor – Você sabe o que é viver como um lorde, estou farto disso e essa garota pode nos ajudar.

—Fiquei sabendo dos poderes relacionados a água, mas lorde Mizu tem mais experiência que ela, como ela seria mais útil que ele? – sua pergunta desarma Suna, que estava em minha frente em posição de defesa o tempo todo.

—Não é igual. Mizu controla a água que já existe, ela cria água, não apenas manipula, seu poder tem capacidade para superar o de Chikaku.

—Eu acredito que isso seja muito difícil. – ele olha para mim, me analisando – Mas foi você e lorde Kasai que me salvaram da morte uma vez, portanto, irei levá-los para algum lugar mais afastado.

—Kuroi... – Suna suspira aliviado – Como vai fazer isso? E se...?

—Eu não tenho mais medo da senhora Chikaku, a sua segurança e de lorde Kasai são o mais importante para mim, nesse momento. Você sabe que meu poder me permite criar esses portais para levá-los rapidamente, mas sabe também que não consigo abri-los em uma longa distância. Será complicado abrir tantos portais, mas a senhorita Chikaku já me obrigou a fazer isso várias vezes...

—Igual agora? – perguntei em um impulso, reparando seu olhar de incômodo – Eu só interpretei isso devido ao tempo que levou para nos encontrar e...

— Suas olheiras. – Suna interfere – Fez isso a noite toda?

—Não foi fácil achar a direção até aqui. Não podemos perder tempo, vamos, por favor.

Kuroi abriu um portal negro por dentro, como um buraco, apenas movendo sua mão no local desejado que o mesmo aparecesse, que nos levou para um lugar mais a frente, abriu outro, que fez o mesmo, e assim foi, várias vezes, até nos encontrarmos logo atrás de uma pequena montanha, com um rio de água cristalina por perto, algumas vegetações e uma caverna que serviria de abrigo.

—Eu preciso voltar, a Imperatriz deve estar muito ansiosa, já que se passou meio dia. – ele olha para Suna com muito respeito – Esse lugar deve esconder sua presença por um tempo, mas não garanto que eles não irão lhe achar. Se cuida.

—Você cresceu muito Kuroi, eu tenho muito orgulho de você, assim como Kasai. – Suna o abraça – Obrigado por tudo, iremos te salvar quando estivermos prontos.

—Tenho certeza que sim.

Kuroi se foi assim como apareceu, me lembrou a habilidade de lorde Kasai no teste da floresta. Suna ficou observando o espaço que antes o pequeno lorde ocupava, enquanto Shizen tratou de vasculhar a caverna, bem como procurar por madeira. E eu? Eu estava apenas parada, me perguntando como Chikaku pode ser Imperatriz com tantos revoltados ao seu lado. Observei Suna de canto de olho, seus olhos verdes não se desprendiam do horizonte e, por segundos, tive a sensação que ele estava não somente triste, como com medo do que estava por vir.


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