Uma Nova Alvorada escrita por MoonLine


Capítulo 10
Capítulo 10- Gatilho




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Mostro a direção para lorde Suna, que permanece em silêncio, sendo acompanhado de lorde Kasai. E logo estamos no quarto, ao qual Rin pertence. Suna a deita em sua cama e fica bons segundos a olhando, com preocupação em seu rosto.

—Eu – tento iniciar um diálogo – Eu nunca o agradeci, a nenhum de vocês, na verdade. – olho para lorde Kasai por instantes antes de voltar minha atenção novamente para Suna – Por terem nos salvado tantas vezes e serem gentis conosco. As cartas... foram realmente importantes.

—Não tem motivos para agradecer. – Suna diz friamente – Eu sinto muito, por tudo isso. – diz enquanto se retira do local

—Lorde Suna parece frio, mas ele realmente se sente mal com o que todas vocês precisam passar para sobreviverem aqui. – lorde Kasai se pronuncia – No final, somos nós que estamos em contato com vocês, que nos importamos. Por isso ele disse que sente muito, mas tenho certeza que ele ficou feliz com suas palavras de agradecimento. Preciso me retirar. – ele se curva em reverência –Por favor, cuide-se.

Assim que os lordes saem do quarto, volto toda minha atenção para Rin. Suas mãos estavam mais grossas agora, havia calos em algumas partes e pequenos machucados em outras. E embora estivesse inconsciente, seu rosto ainda guardava uma expressão de dor. Pensei, por alguns instantes, em me deitar com ela, mas devido a nossa situação, isso seria incômodo para a mesma, então, após pegar uma cadeira, me sentei ao seu lado. Não havia trago livros para ler, entretanto, procurei algum em meio aos dela que pudesse me interessar, o que foi em vão. Decidi apenas ficar ali, aguardando seu despertar.

Rin abriu os olhos vagarosamente, duas horas depois do corrido, me perguntando o que havia acontecido e fiz a gentileza de explicar tudo que havia entendido do ocorrido, já que muita coisa ficou confusa, principalmente com a fala da Imperatriz.

—Caramba Rin, você basicamente colocou todo mundo para sentir o que você sentia. – falei de forma animada – Você é muito forte, eles vão fazer questão de te manter viva. Será uma Imperatriz e tanto!

—Não sabia que tinha todo esse poder... – ela parece pensativa – Embora possa relacionar com algumas situações que passei em meu reino.

—Como assim? – indaguei enquanto me locomovia para pegar algumas frutas de lanche – O que quer dizer com “relacionar com as situações”?

—Bom... – mesmo longe, percebi a sua dificuldade em falar sem que um choro se iniciasse – Meu noivo me deixou assim que parti para o treinamento... Você acha que um relacionamento com verdadeiros sentimentos terminaria assim? Devido à um tempo fora?

—Eu nunca tive um relacionamento. – dei de ombro e entreguei a ela uma banana e uma maçã – Minha única amiga morreu há um tempo, desde então, só convivia com minha família. No entanto, não sei se podemos dizer que apenas isso seja uma demonstração do seu poder.

—Não é apenas isso! – ela morde a maçã com certa voracidade – Meu reino, as pessoas que moram ali, sempre tiveram os mesmos sentimentos, era como se estivéssemos interligados de alguma forma. – ao perceber que eu estava prestes a interrompê-la, inicia rapidamente uma nova frase – Não desde sempre Amaya, desde que EU nasci.

—Você pode perguntar aos lorde Kasai e Suna a origem do seu poder, talvez eles poderiam revelar como foi escolhida. – decido tentar encerrar esse assunto, já que parecia não ter uma resolução – Qual foi seu maior medo?

—Meu ex noivo sem morto por estilhaços de vidros. – ela diz sem cerimônia, me espantando, por tamanha semelhança com a minha ilusão – Mas meu desespero não foi por isso. – ela aperta a maçã com mais força, logo em seguida dando uma grande mordida – Eu era os estilhaços...

—Como você poderia ser os estilhaços? – pergunto com certo espanto, tentando controlar meu nervosismo

—Eu simplesmente era.

Rin não quis conversar mais e, sinceramente, não quis insistir. Era como se nossos diálogos não fluíssem mais, como se estivéssemos presas em pensamentos demais para nos ligar à nossa voltar. Deitei em minha cama, repousando minha cabeça sobre o travesseiro e deixando uma ou duas lagrimas caírem. Ver minha família naquela situação, mesmo sendo uma ilusão, foi traumatizante de alguma forma, era impossível, para mim, fechar meus olhos e não ver todo aquele sangue e aqueles olhares amedrontados implorando pela vida. E mais do que isso, perceber que a Rin me afetou de tal forma a conseguir fazer com que eu visse seu medo, mas pela minha perspectiva, foi realmente preocupante.

Lembro-me das notícias que ouvíamos vez ou outra em Yoru, sobre meninas recrutadas que possuíam poderes semelhantes à alguma das Imperatrizes e morriam. Por alguns minutos, pensei que a vida da minha amiga estava em risco, já que a Imperatriz dos Sentidos é, geralmente, retratada como muito rígida em relação aos poderes despertados. No entanto, não era o caso da Rin, certo? Ela apenas transmitia o que sentia para os demais, não o que ela queria que os mesmos sentissem. Bom, era isso que eu queria acreditar.

Ainda estava tarde, mas não o suficiente para adormecermos. O sol já estava pintando o céu com suas cores alegres e, ao mesmo tempo, calmas, os tons de alaranjado e avermelhando, que eu tanto odiava antes, passaram a representar um recomeço para mim, e por isso, adquiriam uma nova posição em relação às minhas preferências. Mesmo assim, o clima estava mórbido. Mexer com nossos medos foi inteligente, previsível, mas inteligente. Isso abala qualquer pessoa.

Ouvi um certo alvoroço lá fora, por parte dos soldados, e me encolhi de medo diante à nova possível ameaça, no enquanto, não ousei me mexer mais do que isso. Então, passos cada vez mais altos invadiram nossos quartos e todas fomos, praticamente, arrastadas para o lado de fora. Olhei ao meu lado e Rin estava tão assustada quanto imaginei, mas até mesmo aquelas que não se importavam com mais nada estavam bastante assustadas. Logo, todas as meninas e soldados estavam presentes no campo, e os lordes se aproximavam com certa urgência e espanto, como se nem mesmo eles estivessem esperando pelo ocorrido.

Uma forte áurea se fez presente e de repente, medo era a única coisa que sentia, ao ponto de me colocar de joelhos no chão, enquanto tremia sem parar, até mesmo meu estômago doía. Então, uma silhueta feminina e elegante apareceu nos portões do campo. Uma dama de longos cabelos brancos e ondulados, com um vestido digno de uma princesa e olhos tão vermelhos que brilhavam no escuro, se aproximou lentamente, esbanjando um sorriso sádico em seu rosto.

—Suna, você não me disse que tínhamos uma pessoa assim no treinamento. – ela olha na direção do lorde, que usa todas suas forças para se manter de pé e em forma diante toda atmosfera – Devo me preocupar?

—Não havia a necessidade de lhe informar, estamos com tudo sobre controle. – Suna se esforça para manter sua frase perfeita, sem qualquer demonstração de fraqueza – Como chegou aqui tão rápido, minha Imperatriz?

—Oh Suna... – ela se aproxima do mesmo e coloca as mãos em seu rosto – Isso é o que mais amo em você, sua força. – ela torna o olhar para as novatas – Qual delas é a garota?

Meu corpo queimou com o choque daquelas amargas palavras. Embora sua voz parecesse elegante, sexy e suave, as palavras que eram proferidas apenas causavam dor. Olhei desesperadamente para Rin, que se encolhia e chorava como uma criança. Tentei alcançar sua mão, mas fui repreendida pelo soldado que me “vigiava”. Então, Suna olhou em nossa direção.

—A de cabelos curtos? Ou a loira? – ela perguntou quase que impaciente enquanto soltava o rosto do lorde

—Loira. – ele respondeu simples, seco e direto, mas também, desviou o olhar

—Me incomoda – ela inicia um discurso – que eu tenha sido avisada por terceiros sobre sua existência. Levante-a. – ela ordena para o soldado ao lado de Rin – Seu rosto é tão delicado, você seria facilmente muito poderosa. – e então, seu polegar passa delicadamente sobre os lábios de Rin, lambendo-o logo em seguida – Mas sabe? Eu não gosto da ideia de ter alguém com um poder igual ao meu vagando por ai.

—O poder dela pode ser diferente, minha Imperatriz. – Suna suplica pela atenção da poderosa Chikaku – Se a treinarmos direito, ela poderá ter um poder semelhante, mas com particularidades que ainda permitirão sua prevalência.

—Suna. – ela diz rígida, e dessa vez, sua voz perdeu o tom suave – Eu não pedi sua opinião agora. Você deveria ter me avisado a respeito dessa jovem com antecedência. Mas agora, já passou, certo? – ela volta a falar suavemente – Agora eu tenho um desejo bem claro: eu quero que ela morra!

Todos no local se chocaram. Lorde Kasai estava com o semblante preocupado o tempo todo até o momento, mas deixou um olhar de fúria escapar por pouquíssimos segundos, antes de se forçar a caber na expressão contida de sempre. E apesar do lorde Mizu ser o mais sarcástico dentre os três, seu sorriso não se manifestou em nenhum momento durante o acontecimento, e com essa nova ordem da Imperatriz, pude sentir sua tensão. Quanto a mim, meus olhos estavam arregalados, meu coração acelerado, meu rosto estava quente e possivelmente vermelho, bem como úmido pelas lágrimas.

—Por favor, não! – gritei enquanto me levantava do chão, me desprendendo das mãos do maldito soldado – Não faça isso, por fa...

Antes mesmo de terminar minha frase, o gélido olhar da Imperatriz atingiu o meu, e uma onda de dor percorreu todo o meu corpo, fazendo com que me curvasse involuntariamente, para então me colocar de joelhos novamente, minha testa pressionava o chão, e salivava em excesso devido a imensa dor. Mesmo me forçando a levantar a cabeça, era impossível lutar contra tal tortura.

—Já chega, minha Imperatriz! – Suna diz apressado, quase como em um impulso – Deixe-me conversar, esclarecer a situação e... – Suna é cortado pelo olhar sanguinário da Imperatriz.

—Então você se importa com ela Suna? – Chikaku indaga com raiva – Se importa com ela?

—Não! – Suna imediatamente responde – Estou tentando atender à suas necessidades, minha Imperatriz.

—Minha necessidade é a morte dessa pequena garotinha. – seu olhar recai em Rin – E depois de sua amiguinha.

A dor comprimia meus pulmões, sem respirar, eu também era incapaz de falar, muito menos de me locomover. Não conseguia reagir. E então...

—Me cansei de esperar por uma iniciativa de vocês. – Chikaku falou impaciente – Eu mesma irei resolver isso!

Rin (que em nenhum momento havia parado de chorar) caiu ao chão, gritando de dor, medo e angustia. Ela ficou assim por dez minutos, antes de começar a se sufocar. Chikau então aliviou os sentidos dela, e enquanto Rin tragava uma grande quantidade de ar por instinto, a imperatriz se aproximou com cautela e rapidez, puxando uma adaga de um soldado que estava próximo a ela para logo em seguida preencher o peito de Rin com a mesma. Eu senti mais do que nunca!

Nem mesmo a tortura da Imperatriz superava a dor de ver uma pessoa que você ama e se importa morrer bem diante seus olhos, ali, ao seu lado, enquanto você se encontra incapacitada de ajudar.

Meu peito doía de uma forma tão intensa que gritei. Olhei para Rin, sua blusa outrora branca, agora estava manchada de um vermelho vivo, seus olhos azuis, já não brilhavam como antes, sua boca estava pálida e com sangue transbordando por ela e seu rosto encharcado por lágrimas que se misturava ao sangue no final. Chikaku exibia um sorriso de orgulho e satisfação ao contemplar a cena. Os lordes Suna e Kasai estavam perplexos, não conseguiam agir ou sequer falar, quanto a Mizu, apenas virou o rosto.

—O que você fez? – gritei com dificuldade – Como você pôde?!

—Não seja sentimental. – ela disse – Eu fui boazinha, viu só? Eu terminei com todo o sofrimento dela.

—Sofrimento que você causou! – me levantei – Você é terrível!

—Como você consegue se levantar? – ela indaga assustada – Com tudo que estou ordenando você a sentir... Como permanece em pé?

—Ahhhhhh!

Grito e do meu peito uma onda de água explode, meus braços permanecem abertos enquanto a explosão continua tomando conta de tudo, atingindo com força a imperatriz, que se desequilibra e cai de costas no chão. Mizu tentou controlar a água que saia de mim, mas foi em vão. Olhei para ele e movi minha mão em sua direção, jogando um jato de água forte o bastante para arremessá-lo para longe. Então me direcionei para os lordes restantes, porém, não tive coragem de acertá-los, caindo de lado logo em seguida.

Chikaku se levantou e se preparou para me atacar, mas uma tempestade de areia começou a dominar o local. Meus olhos se fecharam vagarosamente, enquanto lutava para mantê-los abertos, sendo minha última visão, um homem loiro correndo em minha direção.


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