Just another girl escrita por Nina Spim


Capítulo 5
Chapter Five


Notas iniciais do capítulo

mais um capítulo no ar :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786431/chapter/5

Eu não vou deixar a sua memória me assombrar,

eu vou ser sonâmbula.

(Tell me if you wanna go home, Keira Knightley)

Não é possível. De verdade.

Eu saí daquela escola. Eu saí pra ter uma vida.

Mas parece que eu não mereço coisas boas.

Sinto meu coração em pânico, quase saindo pela boca, enquanto ando pelo corredor. Desço as escadas no meio do pessoal que está subindo. Ninguém me nota e isso é bom. Minha respiração está rasa e estou quase prestes a chorar de pavor.

Minhas mãos começam a tremer com o tempo e eu odeio isso. Não tenho a mínima ideia de onde estou indo, mas continuo mesmo assim.

Paro no saguão quase vazio, porque o sinal já tocou há alguns minutos. Perto das vidraças há poltronas que parecem ser confortáveis. Me sento no sofá, no canto direito. Coloco a bolsa no chão e sinto vontade de vomitar.

Meu Deus, quando isso vai passar? Já faz meses que eu me sinto do mesmo jeito. Eu não agüento mais. Era para ter sido tudo diferente. O McKinley era para ter sido um recomeço.

Eu não acredito que isso ainda está acontecendo.

Tento controlar a minha respiração, mas não dá muito certo, eu ainda estou muito ansiosa.

Vejo um cabelo rosa no fim do corredor e isso quase me faz sentir pior.

Ah, não... Essa garota tem que parar com isso.

Quinn me vê e anda até mim. Meu coração agora, com certeza, vai explodir. Quero ficar sozinha. Será que ela não entende?

Ela começa a falar antes mesmo de chegar perto de mim.

— O que aconteceu?

Não respondo. Minhas lágrimas estão quase despontando e não quero que Quinn – nem ninguém – me veja chorar.

— Pode... pode me deixar sozinha? – pergunto com dificuldade.

— É claro que não, você parece prestes a ter um ataque cardíaco! Quem vai chamar a enfermeira?

Não tenho forças para contestar. Quinn se senta ao meu lado.

— Feche os olhos e respire pelo diafragma – ela me diz, de repente.

— O quê?

Ela repete, mais incisiva.

Olho para ela, surpresa.

— Vai, finja que eu não estou aqui. Isso vai passar. Você sabe respirar pelo diafragma, né? Você é cantora, deve saber.

Fecho os olhos com dificuldade, porque não consigo me concentrar.

— Inspire pelo nariz e expire pela boca – ela me guia.

Ficamos em silêncio. Faço o que Quinn diz. Minha mente ainda trabalha, mas meu corpo vai se acalmando. Sinto Quinn pegar minha mão e quase a afasto, mas percebo que o toque é bom. Meus dedos ainda estão trêmulos e fico com vergonha.

Quando abro os olhos mais uma vez, estou meio tonta, mas me sinto mais leve.

— Melhor? – Quinn me pergunta com suavidade.

— Eu não posso voltar lá – digo de uma vez, ainda um pouco aflita.

— Tudo bem. Quer ir para onde?

Não respondo, não sei o que responder. Por que ela está sendo tão legal?

Quinn não está maquiada e agora posso ver melhor seu rosto. Nossos olhos se encontram e, de repente, eu esqueço que acabei de ter um ataque de pânico.

— Vem, eu sei para onde podemos ir – ela me diz, sorrindo de leve.

{...}

Vamos parar na gelateria mais uma vez. Agora pedimos um sundae enorme, que dividimos.

Ela não me pergunta de novo o que aconteceu. Não diz mais nada, só fica em silêncio ao meu lado, e eu percebo que gosto disso. Não quero falar sobre o que aconteceu. Se possível, queria esquecer que saí da cama hoje.

Fico observando através da vidraça o movimento fraco do trânsito.

Não sei que horas são e não quero saber. O dia está bonito, como que zombando de mim. Que bom que estou fora da escola para ver esse céu azul.

— Você não vai entrar em encrenca por causa de mim? – pergunto, depois da quarta colherada.

— Nah. Eu nem gosto da escola.

— Eu gostava – ela me responde, meio amuada.

Rachel me olha, mas não diz nada. Não sei se ela não se interessa ou se simplesmente está me dando espaço.

— Ouvi dizer que as audições para o Glee são na semana que vem. Vai se inscrever? Porque acho que deveria.

Sorrio fraco com a gentileza dela.

— E você? – pergunto.

— O quê, o Glee? Nem pensar. Eu sei lá pra que nasci, mas com certeza não foi pra isso.

— Bom, você nunca vai saber se não tentar, né?

Quinn inclina a cabeça, pensativa.

— Sabe, eu fui líder de torcida no ano passado – ela diz. – Eu gostava da atenção, porque sei lá... Eu era boa em alguma coisa.

Estou surpresa, mas nem tanto. Quase consigo vê-la em roupas curtas e sedutoras e com pompons amarelos nas mãos. Bem diferente dessa calça jeans rasgada e dessa camiseta puída de agora.

— E por que não volta?

— Sei lá, era bom, mas não era eu, sabe? Mas minha mãe ficou feliz quando passei nas seletivas, porque era uma boa atividade extracurricular pra ganhar alguma bolsa universitária. Só que não quero ganhar bolsa, só quero fingir que a faculdade não existe. É difícil escolher alguma universidade se eu não gosto de nada.

— Mas você gostava, você disse que era bom.

Ela faz uma cara desanimada.

— Entendi, você fazia por causa da sua mãe.

— É, acho que sim – diz, parecendo que acabei de revelar toda a verdade – Nossa, nunca tinha me dado conta disso. Acho que eu faço as coisas por causa dos meus pais, sabe? Eles me pressionam pra fazer as coisas e eu não consigo dizer não.

— Mas eles não te vêem infeliz fazendo coisas que não quer fazer?

Ela sorri, sem graça.

— Acho que eu sou ótima em esconder isso.

— Não deveria – argumento – A gente não tem que fingir sentir algo que não sente só pra fazer os outros felizes. E você? E o que você sente?

Nossa, que conversa esquisita. Isso parece uma sessão de terapia.

Quinn não responde, ou simplesmente não consegue responder. Talvez eu tenha lhe dado muitos pensamentos novos.

Ela olha o visor do celular e diz:

— E se a gente se divertisse ao invés de pensar nessas coisas?

Não entendo, a princípio, então fico calada, olhando para ela.

— A entrada do parque de diversão é só dez dólares hoje. Não quer ir?

Acho que ela está me levando para muitos lugares. E eu sempre odiei o parque de diversão, o barulho, as pessoas... e Kurt também não gosta, então nunca fui. Pelo menos à noite parece um pesadelo.

— É segunda-feira, aposto que não tem ninguém – ela tenta de novo.

— Hm, não sei...

— Você não gosta da escola e eu também não... Então, vamos fazer alguma coisa que a gente gosta de verdade.

— Mas nada de montanha-russa, tá? É sério.

— Tudo bem, eu amo o carrossel – ela diz e não sei se é verdade ou mentira, mas eu acabo rindo.

{...}

O parque está quase vazio. Compramos quatro tickets: carrossel, bate-bate, roda-gigante e tiro ao alvo (porque Quinn me diz que precisamos ter alguma emoção). 

O carrossel é chato e eu fico um pouco tonta. No bate-bate consigo ser a pior motorista do mundo (bato sete vezes na Quinn e acabo às gargalhadas, porque dirigir é horrível).

Erro seis dos dez tiros nas bexigas do tiro ao alvo e não levo nada além de uma moeda idiota do século passado. Quinn acerta cinco e consegue um unicórnio de pelúcia pequeno.

— Toma, vamos trocar – ela me diz, quando rumamos para a roda-gigante – Eu tenho uma coleção de moedas, quero essa.

Quinn coloca na minha mão o bichinho, e eu o olho. Eu nunca ganhei nada de ninguém, porque os garotos têm pavor de mim e o Kurt não conta (especialmente porque ele detesta dividir as coisas).

Sorrio devagar para o bicho e não tenho vergonha de carregá-lo nas mãos. Eu não faço ideia de qual é o significado de um unicórnio, mas as crianças parecem gostar muito deles, e talvez não seja uma má ideia. Pode ser que ele fique bem na minha cama, junto com as almofadas, ou na minha estante.

Ela deposita a moeda no bolso sem nem mesmo analisá-la.

— Nada de medo de altura, né? – Quinn pergunta, meio rindo.

Faço que não.

Apesar de eu não gostar do parque, não está sendo uma experiência ruim. Eu estou animada e até quase esqueci o episódio de mais cedo. É quase como se eu merecesse coisas boas, agora. Porque com certeza estou sentindo coisas boas.

Quando estamos lá em cima, eu vejo um pouco da cidade. À noite, deve ser legal estar aqui e ver todas as luzes. E deve ser legal também ser beijada no topo de uma roda-gigante. Pena que Finn nunca me convidaria para fazer algo assim, simplesmente porque eu não existo para ele. Quer dizer, não do jeito que eu quero que eu exista.

De repente, me sinto levemente deprimida.

Não tenho ninguém pra compartilhar a vida, além do meu melhor amigo que é zoado todos os dias na escola.

— Parece que estamos no topo do mundo, né? – Quinn interrompe meus pensamentos.

Vejo-a me olhando. E eu quase, quase acredito que ela vai se inclinar e me beijar de novo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

tudo indica que a era faberry está começando ♥

reviews?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Just another girl" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.