Flame

Mal acabei de falar, o garoto escorregou numa poça d'água e quase caiu no chão.

— Cuidado. - Eu alertei, mas não olhava para ele.

— Ah, eu só escorreguei. Está tudo bem. - Ele fez um gesto para eu deixar para lá, mas, sinceramente, eu não estava nem aí se estava tudo bem com ele ou não. Eu o empurrei para o lado para poder ver melhor o que tinha me chamado a atenção.

Primeiro pensei que eu estava vendo errado, mas percebi logo que era aquilo mesmo. Na janela do outro lado, um movimento me fizera prestar atenção no que acontecia por lá e agora eu via exatamente o que era.

Era um zumbi.

— O que é que... - O loirinho desastrado parecia confuso com a presença do zumbi. - Vamos, Flame! - Ele gritou quando a janela foi quebrada e o morto-vivo começou a entrar.

Subimos a escada com dois degraus de cada vez, mas, assim que chegamos a parte de cima, o menino virou em um dos corredores e eu o perdi de vista. Não sabia para que lado ir e hesitei no topo da escada.

— Vem comigo. - O garoto voltou de onde tinha vindo e segurou a minha mão para evitar que eu me perdesse. - Professora, tem zumbis aqui. - Ele anunciou ao chegar na sala, mais calmo do que achei pertinente com a situação. Um coro surpreso passou pela turma.

— Tem certeza? - Ela não parecia nem um pouco surpresa. Para falar a verdade, nem parar de escrever no quadro ela tinha parado. - Não houve um ataque duas semanas atrás? Está muito cedo para outro. - O jeito dela falar sobre isso como se fosse uma previsão do tempo estava começando a me irritar.

— Zumbis? - Uma garota loira olhava diretamente para mim. Seus olhos eram de um azul muito claro e muito bonito e por um instante eu me distraí. Só voltei a me concentrar quando ouvi um menino de camisa xadrez rir.

— Nem se conhecem e já estão pegando na mãozinha... - Ele comentou e eu e o loirinho soltamos nossas mãos com se tivéssemos levado um choque. - Acho que foi assim que me avós começaram a namorar...

— Isso é impossível. - A menina de cabelo rosa que eu estava olhando antes afirmou confiante, voltando ao assunto dos zumbis, claramente mais importante.

— Concordo com ela. - Um menino parecido com ela disse do outro lado.

— Pois eu acho ótimo. - Uma garota muito bonita de cabelo preto começou a andar em direção da porta. - Pelo menos a aula acaba mais cedo.

— Não tinha pensado nisso. - O engraçadinho da camisa xadrez concordou com ela e também levantou. A professora se virou para brigar com os dois, mas um zumbi entrou pela porta aberta, interrompendo a todos.

— Nossa, é verdade mesmo! - Alguém falou no fundo da sala e pude ver pela janela ao lado da professora que diversos outros mortos-vivos invadiam a cidade.

O zumbi gritou e nos assustou. Uma menina gordinha com cabelo roxo cacheado entrou na frente dela com um celular.

— Oh my Glob! Que babado fortíssimo! - Não sei se ela foi burra ou inconsequente, mas o resultado foi uma bela mordida de zumbi no braço.

Não esperava que ela viesse até mim, mas ela veio. Segundos depois da mordida, já havia se transformado totalmente. Tomei um susto quando ela se jogou na minha direção e reagi com um empurrão. Ela mal tinha se recomposto quando eu a soquei no rosto e ela caiu.

Eu havia começado a treinar minhas habilidades no início do ano passado. Antes, eu conseguia apenas mandar uma grande rajada de fogo que queimava tudo à minha volta, sem distinção. Agora, eu consigo concentrar essa energia em algum ponto, como a minha mão, e usar esse poder só em quem eu escolho, como no soco flamejante que dei na garota que virou zumbi. Seu cabelo chamuscou um pouco e sua camiseta ficou levemente queimada, mas sem danos maiores. Isso foi uma grande evolução e fiquei feliz com os resultados do meu treinamento.

Outros zumbis entravam na sala.

— Droga. - A menina dos olhos azuis praguejou quando bateu com uma cadeira no zumbi e ele espirrou uma espécie se sangue pegajoso nela. O loirinho terminou o serviço, batendo a cabeça dele na parede com força.
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