Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 5
Capítulo 05 — O Retorno


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
O capítulo de hoje é especialmente para februgg. Muito obrigada pela recomendação. Eu adorei! Espero que goste do capítulo.

A todos, desejo uma boa leitura.



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Somente depois de contar a Joshua, pela milésima vez, como conheceu o pai dele, Rosalie deixou o quarto do filho. Mesmo com a insistência em saber cada vez mais do pai, conseguiu fazê-lo prestar atenção na leitura, e dar continuidade quando chegou sua vez.

Ficou um tempo, recostada a porta do quarto dele, imaginando o quão difícil seria contar a verdade a Emmett. Na primeira tentativa, esteve a ponto de ter um colapso com simples fato de ouvir a voz dele ao telefone. Nem mesmo conseguiu manter o celular nas mãos. Não conseguia imaginar como seria estar frente a frente.

Não contar a ele da existência de Joshua, não era mais uma opção. O garoto queria conhecer o pai, e tinha todo o direito de fazer isso. Assim como Emmett, de saber que tinha um filho crescendo sem ele. Um garotinho bastante esperto e talentoso.

Nem percebeu que prendia o ar, até soltá-lo devagar pela boca. Tentaria uma segunda vez entrar em contato com Emmett por telefone. Uma vez tomada à decisão, foi para o quarto levando o celular na mão. Encarou a tela apagada por um tempo desnecessário. Sentou na beirada da cama buscando se acalmar um pouco antes de localizar o contato na agenda.

Não estava funcionando, quanto mais tempo olhava o aparelho na mão, mais nervosa ficava.

O rosto rechonchudo de Joshua ainda bebê surgiu na tela de bloqueio.

[…]

Nova York

Emmett estava saindo do carro, no estacionamento do condomínio, quando seu celular tocou no bolso do paletó. Afastou a mão da porta do veículo, deixando que fechasse sozinha, para atender a chamada.

“Outra vez aquele número”, pensou. Começou imaginar que a pessoa que o procurava não estivesse conseguindo iniciar a conversa de modo que não entregasse sua ansiedade ou, quem sabe, desespero.

— Alô?

[…]

O choque em ouvir a voz dele outra vez, após anos sem notícias, a obrigou largar o celular da mesma forma que aconteceu durante a tentativa na noite anterior. No desespero, buscou o aparelho no meio das cobertas, levando então ao ouvido.

— Oi, Emmett.

[…]

O som de sua voz foi o bastante para fazer, por um segundo inteiro, o mundo em que Emmett considerava parte dele, acontecer em câmera lenta. Ele voltou ao passado, bem lá atrás, no ano em que se conheceram, quando ainda eram crianças.

A garota de longos cabelos louros, se balançando sozinha num dos balanços do parque. Nunca tinha visto alguém tão bonita, até aquele momento. Ficou completamente encantado com sua presença. Nem mesmo conseguiu deixar de olhar para ela quando uma bola o atingiu nas costas. Buscou coragem, não soube de onde, para se aproximar.

Ela virou o rosto em sua direção assim que puxou o balanço ao lado e se sentou nele. Emmett enfiou a mão no bolso da bermuda retirando uma bala de morango que há poucos minutos conseguiu na sorveteria. Gentilmente ofereceu a bala a ela. Sorrindo, Rosalie lhe disse “obrigada”.

[…]

O nervosismo causado pelo som da voz dela o obrigou levar a mão à cabeça. O passado invadindo o presente, deixando-o confuso. Olhou em volta como esperasse encontrar alguém saindo de detrás de um dos carros ou coluna de sustentação.

Teve dificuldades em pronunciar o nome dela ao telefone.

— Rose? É você?

[…]

— Oi, Emmett. Sou eu…

— Caramba! — Ela o ouviu murmurar. Sabia que, assim como ela, não esperava voltar a se falarem nesse momento.  — É… — ouviu a voz dele novamente.

— Imagino que esteja se perguntando o porquê do telefonema? — Ela se recostou a cabeceira da cama ao falar.

— Sim. Estou surpreso, também.

As mãos de Rosalie tremiam, ela precisou segurar o celular ao ouvido com ambas as mãos para evitar que caísse mais uma vez. O que ela não sabia, era que as mãos de Emmett tremiam tanto quanto as suas.

— Posso imaginar o quanto. — se pegou dizendo.

— Você ligou para mim recentemente?! — deduziu ele.

— Liguei, sim.

— Ouvi uma tempestade. — lembrou. — Por que não falou comigo? Pensei que você. Quero dizer, a pessoa que me ligava, estivesse precisando de ajuda. Até tentei ligar de volta.

Precisava de ajuda, mas não da forma como ele estava imaginando. A ajuda de que buscava era de sua presença na vida de Joshua e, com sorte, decidisse permanecer.

— Não consegui — admitiu. — Estava muito nervosa.

— O que te fez mudar de ideia quanto a me procurar? Digo isso porque partiu de você a decisão de se afastar de mim. — O tom de tristeza e ressentimento em sua voz foi facilmente reconhecido por ela. — Achei que nunca mais fosse voltar ouvir sua voz.

Rosalie sabia bem o porquê desse pensamento. Ele deve ter acreditado em todas as mentiras que disse quando terminou o namoro. Mas a verdade era bem diferente; tiveram um filho juntos, e ela jamais o deixou de amar. Nem mesmo chegou sair da Carolina do Norte.

— Preciso falar com você. O que o tenho para dizer não pode ser dito por telefone. É o tipo de coisa que se diz olho no olho.

— Você não está com algum problema de saúde, está? Isso não é uma despedida definitiva, ou é?

— Sua mãe imaginou a mesma coisa.

— Você falou com minha mãe? Quando isso aconteceu?

— Foi ela quem me passou seu telefone para contato. Também seu endereço em Nova York. Ela ainda é tão legal quanto me lembrava — completou sem pensar.

— Está em Raleigh? Onde você está?

— Não. Apenas fui a casa deles pedir que me ajudassem com um meio de falar com você.

— Falei com minha mãe ainda hoje. — comentou num tom de descrença. — Ela nem mesmo mencionou você. Nada, nenhuma palavra que pudesse me dar uma localização.

— Fui eu que pedi para não falar nada. Não a culpe por isso.

— Por quê? Por que pediu para não me falar que esteve com ela?

— Não tinha certeza se teria coragem para ir tão longe, no que pretendia fazer.

— Gostaria de dizer que entendo, mas não posso.

— Conseguiria um tempo em sua agenda de trabalho para falar pessoalmente comigo?

— Imagino que não esteja aqui em Nova York. Então, diga onde e quando encontrá-la.

— Poderia ser em Raleigh, se estiver de acordo.

— Você disse que não estava em Raleigh.

— E não estou. Mas estarei na data e hora marcada.

— Então me diga onde e à que horas devo encontrá-la.

— Pode ser na casa dos seus pais. Só preciso que isso aconteça nos próximos quinze dias. É importante que seja nesse prazo. Se estiver de acordo, envio uma mensagem quando estiver chegando.

— Está acontecendo alguma coisa?

— Você saberá quando me encontrar.

— Não dá para adiantar o assunto?

— Não posso. Peço que me avise quando estiver em Raleigh, para que eu possa me organizar.

— Amanhã mesmo eu estarei em Raleigh. Quando estiver na casa dos meus pais, ligo para avisar.

— Não imaginei que pudesse ser tão rápido. É melhor que seja assim.

— Depois dessa conversa inicial, sem chance de eu ficar sem saber do que se trata. Às cegas.

A curiosidade de Emmett a levou pensar em Joshua. Eles eram iguaizinhos nisso.

— Obrigada, por aceitar me encontrar na casa de seus pais. Uma viagem para Nova York agora, não seria possível para mim.

— Então… — ele pareceu estar pensando na pergunta, porque levou um tempo para terminar. — Você não está mais viajando pelo mundo?

Mais uma vez, Rosalie se pegou pensando que nem mesmo deixou o estado onde nasceu. Não podia dizer isso para ele agora. O motivo era Joshua, e Emmett não merecia saber desse jeito. Por meio de um telefonema.

— Terá todas as respostas em breve — se limitou em dizer.

Um longo e doloroso silêncio se estendeu, até Emmett ter coragem de dizer.

— Senti sua falta… todos esses anos.

Lágrimas arderam nos olhos de Rosalie, e facilmente molharam seu rosto. As palavras chegaram ao coração de forma dolorosa. A falta que sentiu dele foi enorme. O remorso pesou. Era culpa sua que tenham sentido tanto a falta um do outro nos últimos anos. Podia ter feito tudo diferente e não fez. Quem sabe fossem uma família hoje. Já não tinha mais certeza de ter feito a coisa certa há um bom tempo.

Quis muito dizer a ele o quanto sentiu sua falta, também. Mas, a coragem não foi suficiente.

— Então ficamos combinados assim; você me liga quando estiver em Raleigh, e eu vou ao seu encontro.

— Esteja esperando.

— É… — murmurou. — A gente se fala, então.

— Sim, a gente se fala. Rose?

— Oi? — respondeu, cheia de esperança.

— Obrigado por entrar em contato.

— Obrigada por aceitar me ver — ela emendou.

Permaneceram os dois sem mais nada a dizer, desejando poder estender a ligação uns minutos mais. Deram-se tchau e boa-noite mais de uma vez. Rosalie foi a primeira a desligar. Ainda tinha o celular na mão quando deitou com a cabeça no travesseiro. As batidas do coração se normalizando. Os tremores nas mãos deixando de ser incomodo.

O segundo passo havia sido dado. Restava agora o mais difícil de todos: revelar a ele a existência de Joshua.

[…]

Emmett se encontrava encostado ao veículo. Nem mesmo se deu conta em que momento, durante a conversa, isso aconteceu.

Respirou fundo, afastando-se do carro. Sacudiu os braços como para aliviar a tensão gerada pelo telefonema inesperado. Mal podia acreditar no que acabou de acontecer. Emitiu um rosnado que era uma mistura de euforia e alívio. Uma gargalhada explodiu, em seguida. Não estava acreditando na sorte em poder falar com Rosalie, depois de tantos anos. Jamais pôde esquecer-se dela.

De repente, se lembrou de olhar para os lados verificando se não havia ninguém por perto.

Sentiu-se como o adolescente que foi um dia. Contando os segundos para estar outra vez ao lado dela. Entrou no elevador, sem conseguir deixar de sorrir.

[…]

Bem cedo pela manhã, Emmett cancelou todos os compromissos do dia, e também os do dia seguinte. Não foi tão fácil, mas conseguiu. Logo depois, ligou para o aeroporto fazendo uma reserva no próximo voo para Raleigh.

Chegando à casa dos pais bem depois do horário do almoço.

— Oi, mãe.

Carmen cedeu passagem a ele, chegando para o lado ao abrir a porta.

— Não fiquei surpresa quando me enviou a mensagem ontem dizendo que estava fazendo as malas para vir para cá.

Emmett entrou na casa onde passou boa parte da infância e da adolescência, deixando as malas na sala de estar. Eram muitas as lembranças que o acompanhavam ao andar pelos cômodos.

O táxi que o trouxe do aeroporto, partiu antes mesmo de tocar a campainha.

— Era questão de tempo, Rosalie te ligar. Admito que imaginei que se encontrariam em outro lugar.

Emmett sentou no sofá. Carmen fez o mesmo sentando no sofá oposto.

— Por que não me disse que Rose veio me procurar?

— Foi um pedido dela, querido. Achei que fosse melhor assim, afinal ela podia mudar de ideia. Estaria te deixando aflito por nada. Eu estava certa, não é? Rose mal te ligou e já está aqui.

— Depois de anos sem contato algum é normal que eu queira saber o motivo de ela está me procurando.

— Sei que nunca deixou de amá-la. Fico preocupada que, com essa aproximação, se encha de esperança e acabe se magoando.

— Mãe, eu já não sou mais um garoto há muito tempo. Nunca escondi de ninguém meus sentimentos por Rose. Se ela tem algo a me dizer, com certeza vou querer saber.

— Está certo. No seu lugar também gostaria de saber.

— Como ela está? Mudou muito?

Carmen notou a inquietante curiosidade em querer saber se Rosalie havia mudado.

— Está ainda mais bonita.

Emmett sorriu, lembrando a garota com quem namorou por um bom tempo. Até se atreveu imaginar a Rosalie de agora.

— Será mesmo possível está ainda mais bonita? Acho difícil.

— Em breve poderá tirar suas próprias conclusões.

— Ela falou que não está na cidade, mas que virá me encontrar aqui. Quando esteve aqui chegou a mencionar onde está morando agora?

— Ela não quis me dizer. Percebi que tentava não entrar muito nesse assunto.

— Por um instante, cheguei a pensar que estivesse doente. O modo como iniciou a conversa, foi no mínimo questionável. Sua atitude inesperada.

— Confesso que cheguei pensar o mesmo — Admitiu Carmen. — Ela me garantiu que a saúde está ótima.

— Foi um alívio e tanto a ouvir dizer que estava bem.

— Quanto tempo pretende ficar? É sempre tão focado no trabalho. Admira-me que tenha conseguido estar aqui tão depressa.

— Tive que cancelar alguns compromissos e adiar outros. Caso precise de mais tempo, seguirei adiando.

— Está com fome? Posso te preparar algo para comer, se quiser.

— Eu só preciso de um banho, para relaxar.

— Bem, você já conhece a casa.

Emmett se colocou de pé.

— Bella tem vindo aqui nesses últimos dias? — lembrou-se de perguntar.

— Sua irmã estava aqui quando Rosalie apareceu.

— Então Rose conheceu minha sobrinha? — Ele alcançou a escada subindo os dois primeiros degraus.

— Sim, ela a conheceu. Tem certeza de que não quer um lanche?

— Não se preocupe mãe. Se sentir fome, eu mesmo posso cuidar disso. Não quero que fique achando que tem de me servir o tempo todo.

— Você sabe que sempre posso fazer isso. Gosto de cuidar de minha família.

— Obrigado, mãe. Realmente não estou com fome agora.

— Se mudar de ideia, estou aqui.

Emmett levou a bagagem para o antigo quarto. Estava exatamente igual quando saiu de casa para iniciar a faculdade em Nova York. Retornou algumas vezes para visitar a família, mas jamais sentiu necessidade de modificar qualquer coisa. Tudo ali, desde o papel de parede a luminária no teto, tinha sua história. A cama de solteiro, onde muitas vezes deu uns amassos em Rosalie. Pôsteres de futebol e bandas que fizeram sucesso na época, ainda estavam na parede. A estante com medalhas e troféus. Livros lidos por ele há muito tempo.

No painel restavam algumas fotografias, muitas delas tinham levado com ele para o alojamento da faculdade, depois para os dois apartamentos por onde passou. Hoje a maioria delas está guardada em uma gaveta dentro do closet.

Encontrou uma fotografia caída no chão, à imagem estava virada para baixo. Ao se abaixar para pegar, reconheceu a fantasia do último halloween juntos. Sua fantasia de Van Helsing, e Rosalie, Anna Valerious.

Pendurou a fotografia de volta no mural, tendo o cuidado em garantir que não caísse novamente. Pegou na mala o que precisava, e saiu para o banheiro no fim do corredor.

Minutos mais tarde, quando voltou à sala, não encontrou a mãe por perto. O desejo de reviver momentos, o levou descer até o porão.

Embora o porão tenha passado por reforma recente, ainda era capaz de lembrar onde antes ficava cada objeto que ele e a irmã mais nova costumavam deixar ali. Hoje um escritório do pai, onde pudesse trabalhar quando estivesse em casa.

Andou por todo o porão reconhecendo as melhorias feitas. A bateria que ele e a irmã costumavam tocar desapareceu. Não fazia ideia qual teria sido seu destino. O sofá-cama onde ele e Rosalie fizeram amor pela primeira vez, também havia desaparecido.

Sentou na cadeira atrás da mesa de trabalho do pai. Alcançou o celular no bolso, facilmente localizando o contato de Rosalie, para quem realizou uma chamada.

[…]

Falava com o responsável pelo jardim da pousada, quando percebeu o toque do celular. Suas mãos tremeram ao reconhecer na tela o contato de Emmett.

— Algum problema? — pediu o homem com quem falava sobre a manutenção do jardim. Ele tinha aproximadamente quarenta anos, e trabalhava para os pais de Alice muito antes de Rosalie chegar. Sua pele era ligeiramente bronzeada, as linhas de expressão um pouco fortes demais para sua idade.

Rosalie encarou a tela do celular.

— Eu só preciso atender essa ligação — comentou, sem graça. — Com licença.

Ele ainda ficou olhando ela se afastar. Pensando que, por alguma razão, a ligação a deixou nervosa.

— Oi, Emmett. — Caminhava sem destino certo pelo jardim, sem saber o que fazer com o nervosismo a cada vez que tinha de falar com ele.

— Estou em Raleigh agora.

Rosalie sentiu o coração disparar. Emmett estava a menos de duas horas de distância do filho que nem mesmo sabia que tinha.

— Quando chegou? — a pergunta lhe escapou.

— Não faz muito tempo. Estou na casa dos meus pais — houve um silêncio repentino em ambos os lados da linha. Os dois estavam pensando no passado, momentos vividos naquela casa. — Estou no porão agora — contou como uma provocação. — Nada parece igual, mas se fecho os olhos… tudo está de volta, como numa viagem no tempo.

Rosalie quase pôde sentir o tom nostálgico na voz dele.

— Emmett…

— Você se lembra?

— Jamais pude esquecer.

Outra vez o silêncio, antes de ele voltar a falar.

— Quando vamos nos encontrar?

— Quanto antes, melhor. Se estiver de acordo, amanhã mesmo. Posso conseguir um tempo livre no trabalho para te encontrar.

— Onde você está? — tentou mais uma vez.

— Direi amanhã quando nos encontrarmos.

— Não entendo… Por que não fala de uma vez?

Não era seguro revelar a ele sua localização sem antes revelar a existência de Joshua. Poderia se precipitar indo até ela, e descobrir sobre o filho do jeito errado. Não iria correr o risco.

— Ao menos pode me dizer se virá sozinha?

— Sim. Estarei sozinha.

— Quanto vai levar para chegar aqui?

— Não estou muito longe.

— Caramba, Rose. Por que tanto mistério em dizer onde está? Eu poderia ir direto até você.

Ouvi-lo dizer seu nome como tanto tempo atrás, foi ainda melhor do que se lembrava.

— Continua o mesmo ansioso de sempre — afirmou.

— Como não estaria?

— Me desculpe Emmett. Preciso desligar agora. Estou em meu horário de trabalho.

— Nem vou perguntar com o que trabalha, porque sei que não vai me dizer. Ao menos não nesse momento.

— Prometo responder a todas as suas perguntas, amanhã. Depois do que tenho para te contar.

— Está bem. Não vou insistir.

— Até amanhã, Emmett.

Respirou fundo, após a ligação encerrada. A hora da verdade se aproximava. Agora era para valer.

[…]

Emmett deixou o telefone em cima da mesa de escritório do pai.

— Então é aqui que se escondeu? — brincou Carmen. Ela estava no porão, de frente para a mesa onde o filho estava.

— O que aconteceu com a bateria? — pediu Emmett. Em seguida se levantou, colocando o celular de volta no bolso.

— Sua irmã a colocou a venda quando seu pai iniciou a reforma. Não pensamos que fosse se incomodar com a reforma nem com a venda da bateria. Não usava ela há anos.

— Não, está tudo bem. Não me incomodei. Achei até que ficou bom.

— Você conseguiu falar com Rosalie?

— Sim. Acabei de falar com ela.

— Já sabe quando irão se encontrar?

— Amanhã mesmo. Pelo menos foi o que disse.

— Melhor que seja logo. — Ela fez uma pausa. — Estava te procurando, porque seu pai acabou de chegar. Ele quer te ver.

— Vamos subir, então. — Emmett ofereceu a mão à mãe, e ambos subiram a escada do porão.

[…]

Já fazia um tempo que Rosalie pegou Joshua na casa dos avós. Mandado ele para o banho e servido seu jantar. Agora estava na cama com ele, se preparando para iniciar a leitura. Joshua seria o primeiro, como quase sempre acontecia.

— Ficar com a vovó é legal — ele começou, saindo do foco que era a leitura. — Mas já estou com saudades da escola e dos meus amigos.

Os dedos de Rosalie deslizaram por entre os fios de cabelos dele que lhe caiam na testa. Plantando um beijo no alto de sua cabeça.

— Viu só como ir à escola é legal. Você já até sentindo falta.

— Quero que chegue logo amanhã.

Rosalie se viu pensando que não queria que o amanhã chegasse tão depressa quanto Joshua desejava. Sabia que não seria fácil ficar frente a frente com o pai dele e revelar seu segredo. Lembrando então de dizer a Joshua que seria a avó a buscá-lo na escola.

— Vida, não vou poder te buscar na escola amanhã. Sua avó vai fazer isso por mim.

Joshua inclinou a cabeça de maneira a olhar no rosto dela.

— Por que, mamãe?

— Terei de ir de novo a Raleigh amanhã.

— O que vai fazer lá? Vai atrás das pessoas que sabem onde está o meu pai?

— Não. — tornou acariciar os cabelos dele. — Dessa vez vou encontrar com seu pai.

Joshua soltou o livro de forma repentina, ficando de joelhos na cama num instante.

— Meu pai?! Mas você disse…

— Liguei no número que as pessoas com quem estive me passaram. Eu falei com seu pai, Josh. Ele está em Raleigh aguardando para falar comigo.

Eufórico, Joshua pulou de um lado a outro na cama. Parando um instante para falar:

— Por que ele não veio direto para nossa casa?

— Seu pai ainda não sabe que moramos aqui.

— Por que não contou a ele? — Joshua segurou nos joelhos da mãe, esperando uma resposta. — Por quê?

— Bem… — Estava dizendo quando Joshua a interrompeu.

— Me leva com você. Eu quero ver o meu pai amanhã.

Rosalie estendeu a mão alcançando seu rosto.

— Amanhã você precisa voltar à escola. Já está há dois dias sem aula.

Esse não era o real motivo de negar a Joshua que fosse com ela ao encontro com pai dele em Raleigh, mas não podia lhe contar isso.

— Eu não ligo. Quero ir junto — Joshua insistiu.

— Desculpe Josh. Você não vai faltar à escola amanhã de jeito nenhum.

Contrariado, Joshua cruzou os braços em frente ao peito. Rosalie viu a expressão de seu rosto mudar em um curto espaço de tempo; primeiro foi alegria em saber que o pai não estava tão longe. Depois, frustração por não poder ir junto e por último, tristeza.

Voltou a se deitar, puxando o cobertor até encobrir a cabeça.

Rosalie afagou suas costas.

— Josh, não faz assim, vida. Olha para a mamãe — pediu.

— Não quero — respondeu com voz de choro.

— Josh? — ele não respondeu. — Não quer mais que a mamãe leia para você hoje?

— Você não quer me levar junto… — Ele soluçou, dando a Rosalie a confirmação de suas lágrimas.

— Não é que eu não queira fazer isso, filho.

— Então é o quê?

Rosalie deitou ao lado dele, abraçando-o mesmo ele se recusando a olhar para ela.

— Eu juro que seu pai virá aqui para te ver. Então vocês poderão conversar o quanto quiserem. Até brincarem juntos.

Assim que o percebeu mais calmo, pegou o livro de volta abrindo na página onde haviam parado a leitura. Leu duas páginas inteira, para Joshua finalmente voltar olhar em seu rosto. Rosalie o observou de canto de olho, sem interromper a leitura.

— Você promete? — Ele soou arrependido. Ela teve de parar a leitura para olhar diretamente em seus olhos.

— Prometo — respondeu, sabendo que Joshua se referia ao encontro com o pai.

— Tudo bem, eu vou à escola amanhã. Depois vou com a vovó pra casa dela.

— Você é um bom garoto, sabia?

— O meu pai também é. Você disse.

Um sorriso desenhou os lábios de Rosalie.

— Sim, eu disse. E é verdade.

— Não conte a ele que fui suspenso na escola por dois dias. Não quero que pense que sou malvado.

— Você não é malvado, querido.

— Você ficou muito brava quando soube. E se ele também ficar?

— Não precisa se preocupar com isso.

— Tá. — Joshua aguardou um segundo para então continuar: — Mesmo assim, você não conta, tá bom?

— Você quer que a mamãe continue lendo ou não?

Joshua balançou a cabeça, confirmando.

Rosalie continuou lendo por mais alguns minutos, até perceber que ele dormia. Fechou o livro com o marcador de páginas. Depositou um beijo na testa de Joshua e se afastou. O livro ficou na mesinha de cabeceira. Apagou a luz e o deixou sozinho no quarto. Esperando que aquela fosse uma noite sem sonhos para ele.

 

 


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