Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 4
Capítulo 04 — O Telefonema




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786179/chapter/4

Aproximava-se do final da tarde, no momento em que Rosalie e Joshua se encaminharam ao estacionamento, prontos para irem embora. Rosalie acabou aproveitando que filho estava com ela em seu local de trabalho, para ficar mais um pouco, adiantando algumas coisas que julgou necessário.

— Mamãe — começou Joshua assim que pôs o cinto de segurança —, eu vou vir com você amanhã de novo? Como não posso ir à escola…

— Não me lembre disso, Josh.

— Desculpe… Você ficou brava de novo?

— Não fiquei brava de novo. Só não quero lembrar o que você aprontou na escola hoje cedo. E o motivo de não poder ir amanhã.

— Eu iria gostar de ver a Alice outra vez. Ela é divertida. Às vezes faz coisas como fosse uma criança.

— Pior que é exatamente assim que vejo. Há momentos que penso que ela não cresceu. Quando digo isso, não é da altura dela que estou falando. — Mãe e filho deram risadas juntos.

— Vamos jantar na casa da vovó hoje?

— Não, hoje não. Estou cansada, quero dormir cedo essa noite. O dia foi exaustivo.

— Está dizendo isso por minha causa? Por causa do que fiz na escola?

— Esquece isso Josh, por favor.

Nenhum dos dois disse mais nada, pelo tempo que durou o trajeto até em casa.

Joshua foi direto para o banho assim que cruzaram a porta da frente. Rosalie se concentrou em preparar o jantar dos dois. Jantaram alguns minutos mais cedo que o horário habitual. Após deixar tudo em ordem na cozinha, permitiu que o menino assistisse um pouco de televisão, aproveitando esse tempo para falar ao telefone com a mãe.

Contou a Esme o que Joshua aprontou logo pela manhã, que levou o diretor a telefonar para buscar ele, minutos depois de tê-lo deixado na escola. Mencionou a conversa que teve com ele na pousada. Esme se ofereceu para ficar com Joshua enquanto estivesse no trabalho amanhã. Era o melhor a ser feito, então acabou aceitando a oferta da mãe.

Assim como o jantar foi servido mais cedo, também foram se deitar antes do horário. Como acontecia todas as noites, Joshua iniciou a leitura, e ela continuou.

Nessa noite, Joshua dormiu com a fotografia do pai ao lado do travesseiro. Rosalie recolheu a foto, pensando que precisava comprar um porta-retratos, assim Joshua poderia deixar a foto do pai sempre na sua mesinha de cabeceira.

Beijou na testa do filho cautelosamente.

— Boa noite, vida. — Deixou a fotografia na mesinha de cabeceira. Ao se virar, reparou no painel que Joshua mantinha logo acima da escrivaninha. Pequenas lembranças, de fases importantes de sua vida, registradas pela lente da câmera fotográfica. Um ou outro desenho feito por ele na escola. Arrumou espaço entre as recordações do filho deixando ali, pregado com um grampo colorido, a fotografia do pai dele, da época do ensino médio.

Percebeu, ainda no quarto de Joshua, que ventava bastante do lado de fora. De tempos em tempos, o céu noturno se iluminava com clarões. Isso a fez pensar que não gostava de tempestades. E uma estava a caminho.

Finalmente conseguiu um momento inteiramente seu, onde pôde relaxar e tomar um banho. Cuidar um pouco de si mesma. Ainda de roupão de banho, sentou diante o espelho. Hidratou a pele do rosto, depois a do corpo e vestiu o pijama. Os cabelos estavam presos no alto da cabeça, então, os soltou e os escovou até estarem totalmente desembaraçados.

Foi para a cama. O celular estava lá, bem ao alcance de suas mãos. De tempos em tempos, olhava na direção do aparelho, pensando na ligação que precisava fazer para Emmett, em Nova York.

A luz elétrica oscilou uma primeira vez enquanto pensava nele. Um forte clarão antecedeu o trovão que ribombou no céu. A luz elétrica voltou oscilar. Rosalie desligou a lâmpada ao lado da cabeceira da cama, e se enfiou embaixo das cobertas. Não resistiu, alcançando o celular com a mão. Desbloqueou a tela, onde a foto de Joshua ainda bebê, sorria com poucos dentinhos, exibindo covinhas nas bochechas.

O contato de Emmett já estava registrado em sua agenda. Não era tarde da noite, ainda podia encontrá-lo acordado, se tentasse. O que a motivou fazer isso, foi o sorriso do bebê que jamais deixou que se esquecesse do sorriso de Emmett.

[…]

Nova York

Sozinho no apartamento, Emmett tinha acabado de sair do banho. Tinha a toalha preta presa à cintura no momento que ouviu o toque do celular. Aproximou-se da cama, estendendo a mão para pegar o aparelho. Não reconheceu o número, ainda assim decidiu atender a ligação.

— Alô? — ninguém respondeu de volta. Em vez disso, notou o som de uma tempestade ao fundo. Seja lá quem fosse a sua procura, o céu estava desabando em água onde estava. — Alô? — repetiu. A ligação ficou totalmente silenciosa, quem quer que esteja tentando falar com ele desistiu ou a ligação caiu por conta da tempestade, imaginou.

[…]

O celular caiu das mãos de Rosalie direto no colchão, como tivesse causado uma descarga elétrica. O som da voz dele, depois de tanto tempo sem ouvir, ainda era a mesma. O efeito foi avassalador. Lembranças, de um tempo em que lhe falava ao pé do ouvido, lhe ocorreram. O corpo estremeceu. O coração pulsou forte dificultando a respiração.

Medo. Saudade. Esperança. Sentimentos que a puseram à prova. Como dizer o que tinha para dizer, sem sentir medo das consequências?!

O forte desejo de estar com ele outra vez, a deixou perturbada.

O céu estava desabando do lado de fora. Talvez tenha escolhido o momento errado.

Agora, sentada na cama com as pernas encolhidas, ouvindo a voz de Emmett sair do celular, não conseguia parar de tremer. Junto ao rimbombar do trovão, num rompante alcançou o aparelho finalizando a ligação.

[…]

Encarando a tela do celular, o número desconhecido, Emmett pensou em ligar de volta. Imaginou que a pessoa que ligou pudesse estar precisando de ajuda, já que parecia chover bastante onde estava. Então foi o que fez, ligou para o número desconhecido de volta.

[…]

Rosalie se assustou com o toque do celular ainda em suas mãos. O reconhecimento quase a fez parar de respirar. Não pensou que pudesse ligar de volta, nem mesmo pensava direito quando iniciou o telefonema. Agora ele estava tentando descobrir quem era ao telefone.

Tomada pelo impulso de se livrar da situação, soltou novamente o celular na cama. Como não parava de tocar, empurrou para debaixo de um dos travesseiros.

— Pare de tocar… pare de tocar… — implorou repetidas vezes, até ouvir somente o barulho da tempestade outra vez.

[…]

Emmett se deu por vencido. Quem quer que fosse, havia desistido de falar com ele. Deixando novamente o celular em cima da cama, foi em busca de algo para vestir. Decidiu-se apenas pelo conforto das calças de um pijama.

Caminhou descalço pelo apartamento. A organização chegava ser impecável, nem um só objeto fora de lugar. A iluminação aconchegante. Mobília escura, trazendo elegância e sofisticação. Quebrando os paradigmas de que as cores escuras trazem sensações ruins para o ambiente.

No bar, se serviu de uma taça de vinho que levou consigo para o quarto. Sentou na cama com as costas apoiadas aos travesseiros. Entre um gole e outro tornou verificar o celular. Leu algumas das várias mensagens deixadas para ele. Respondendo somente a de Gwen e de mais duas pessoas. Gwen tinha mencionado a garota do passado cujo ele nunca deixou de amar. O que o levou abrir a gaveta do criado-mudo a procura da fotografia, tirada na cabine fotográfica do parque de diversões itinerante, onde ele e Rosalie faziam caretas para a lente.

— Onde será que está agora? — falou consigo mesmo. — O que estará fazendo? Ainda estará viajando pelo mundo ou agora vive sossegada em algum lugar? Será que, assim como eu, guarda recordação de nosso passado juntos? — Tomou mais um gole do vinho, sem deixar de olhar a garota da imagem. — Será que alguma vez voltou a pensar em mim? — Se achou ridículo por estar pensando nela, quando, o provável é que o tenha esquecido.

[…]

Logo cedo pela manhã, Joshua entrou no quarto da mãe. Subiu em sua cama, e começou cutucá-la para que acordasse.

— Acorde mamãe! Estou com fome. Fome… Fome… — cantarolou ao final.

De olhos fechados, Rosalie sorriu de leve.

— Vou pra casa da vovó ou com você para o seu trabalho? Eu ainda não sei onde vou ficar hoje. Isso me deixa inquieto.

O celular estava tocando em algum lugar, o som abafado a fez lembrar-se de tê-lo escondido embaixo dos travesseiros.

— Seu celular, mamãe — Joshua avisou. — Não vai atender? — Ele começou a procurar pelo aparelho telefônico, enfiando as mãos embaixo dos travesseiros e cobertores, sem esperar por uma resposta.

— Não, Josh! — Rosalie fez o alerta, pegando-o de surpresa. A forma repentina como se sentou na cama deixou o menino de olhos bem abertos.

— Por quê? — pediu ele. — Você está estranha, mamãe. É a vovó. Ela deve estar querendo saber onde vou ficar já que aconteceu aquilo que não quer ser lembrada… Na escola, ontem.

Um suspiro deixou os lábios de Rosalie quando Joshua começou mencionar o motivo de não poder ir à escola essa manhã. Ela se deixou cair no colchão, respirando aliviada por se tratar de Esme ao telefone. Ouviu Joshua falar com avó, agradecida por não ser Emmett novamente tentando descobrir quem estava ligando no número dele.

Minutos mais tarde, estava na frente da casa dos pais, se despedindo de Joshua.

— Se comporte. Está ouvindo? — Tinha acabado de beijar a testa dele.

— Eu queria ir com você.

— Ontem foi uma exceção. Vou tentar sair na hora do almoço, está bem?!

— Vai almoçar aqui com a gente?

— Sim.

Joshua sorriu, satisfeito.

— Tá bom, então.

Esme estava a sua espera na porta da frente.

— Agora vá. Sua avó está esperando.

— Tchau, mamãe. Tenha um bom dia de trabalho.

— Tchau, vida. Obrigada. Não vá fazer seu avô jogar futebol. Ele ainda está destruído da última vez.

A gargalhada de Joshua revelou que se divertia com a resposta que deu. Ele alcançou a avó, com a mochila nas costas, pronto para seu dia na companhia dela.

— Hoje o vovô está trabalhando, lembra? — disse para a mãe.

Joshua segurava na mão de Esme, quando virou para olhá-la.

— Que sorte a dele — brincou, arrancando uma nova gargalhada do filho. — Até mais tarde.

Esme acenou para ela. Em seguida, entrou com o neto na casa.

— Então — começou Esme, puxando assunto —, você bateu mesmo num colega?! Confesso que não acreditei no começo.

Joshua sacudiu a cabeça.

— Agora estou proibido de voltar à escola por dois dias.

— Josh…

— Eu sei… Foi horrível o que eu fiz. A mamãe já falou isso um milhão de vezes. Ela ficou muito brava. Tipo, muito mesmo.

— Imagino que sim. Ela ainda estava aborrecida quando me contou.

Joshua foi deixar a mochila na sala de televisão.

— O vovô já saiu para o trabalho?

— Por uns minutinhos, você não o pegou em casa.

— Ah, poxa — lamentou Joshua.

— Sua mãe me disse que não quis contar a ela do que Brian a chamou. Você não quer me dizer?

— Eu não sei…

— Tudo bem se não quiser falar. Só precisa saber que a vovó está do seu lado. Você já tomou café hoje?

— Sim. A mamãe preparou antes de sairmos.

— O que quer fazer agora na parte da manhã?

— Ele chamou a mamãe daquele nome que também é de um peixe. O que começa com a letra p. Não vou repetir ele para você, vovó.

Esme olhou com atenção no rosto envergonhado do neto.

— Eu sei que não era do peixe que ele estava falando.

Ela chegou mais perto, sentando ao lado dele no sofá.

Joshua continuou.

— Outro dia eu ouvi a mãe do Dilan falar mal da colega de trabalho do pai dele dessa mesma forma. Ela também dizia ao pai dele que a moça era oferecida. E queria todos os caras que conhecia. Nem os casados ficavam de fora.

Espantada, Esme questionou:

— A mãe de Dilan disse isso perto de vocês?

— Ela não sabia que estávamos espiando. Dilan e eu nos escondemos no alto da escada.

— Acho que preciso conversar com sua mãe sobre suas idas à casa do Dilan.

— Vovó, se você for falar com a mamãe sobre isso, ela não vai mais me deixar brincar na casa do Dilan. E vai ficar triste quando descobrir que Brian a chamou disso. Vai ficar chateada. Talvez, até brava.

— Josh, como eu vou olhar para sua mãe sabendo disso e não contar a ela?

— Por favor, vovó… Vai querer ver sua filha chateada? E o seu neto sem amigos?

— Não posso prometer isso. Entendo que não queira repetir para sua mãe que o Brian disse sobre ela. Mas ela precisa saber que anda ouvindo esse tipo de coisa por aí. E não me chantageie, rapazinho. 

— Eu não deveria ter contado — resmungou arrependido. Cruzando os braços, evitou olhar no rosto da avó. — Agora minha mãe vai saber o que eu não queria que soubesse.

Esme tocou seus braços, cruzados em frente ao peito.

— Não fique zangado, querido.

— Não quero que minha mãe fique chateada. Nem que tenha vergonha de andar na rua. Não me importa que não me deixe mais ir à casa do Dilan, porque a mãe dele diz esse tipo de coisas. Mas me importa que ela se preocupe que as pessoas a enxerguem dessa maneira.

— Ah, Josh… As pessoas não a enxergam dessa maneira. — Mudando de assunto, Esme perguntou: — O que acha de ajudar a vovó com uns brownies na cozinha, para depois do nosso almoço?

— Está tentando me distrair?

— Está funcionando?

Joshua ficou de joelhos no sofá, passando os braços em volta do pescoço da avó.

— Está sim — afirmou.

Esme beijou seu rosto. Ficou de pé com ele ainda nos braços, antes de colocá-lo no chão.

— Se não fosse a mamãe ficar super-ultra-hiper-mega brava por eu ter sido suspenso, não seria tão ruim assim ficar sem ir à escola. Eu ficaria todos os dias, enquanto a mamãe está no trabalho, com você vovó.

— Não diga isso para ela nem brincando.

— Eu não sou nem doido.

Joshua correu para a cozinha, deslizando no assoalho quando chegou lá.

— Vem vovó! — apressou.

— Já estou indo.

— Vamos começar com isso logo. Eu vou querer lamber a tigela depois. Sabe vovó, é possível que em outra vida, eu tenha sido uma formiga.

A avó teve de rir.

[…]

— Ei, Rose! — Alice cumprimentou, ao passar por ela na recepção. — Cadê Josh? Achei que viesse com você, já que não poder ir à escola hoje.

— Ficou na casa dos meus pais. Minha mãe vai olhar ele hoje para mim.

— Que pena. Eu achando que teria com quem me divertir nesse lugar.

— Sei… Estava era querendo ensinar coisas erradas ao meu filho.

— Isso é uma calúnia. Como se atreve?  — Alice fingiu indignação. — Guardas, cortem-lhe a cabeça! — Foi impossível permanecer seria diante todo aquele teatro. — Sou uma pessoa divertida, não acha? — Alice arriscou.

Rosalie respirou fundo, antes de voltar a falar.

— Vamos trabalhar Alice.

Afastava-se da recepção, quando ouviu a voz de Alice outra vez.

— Ei, Rose!

— Que foi dessa vez? — A expressão em seu rosto revelava divertimento.

— Só me esclarece uma coisa: aquele seu irmão bonitão, vai estar presente no aniversário de Josh?

— Por que a pergunta? Por acaso estaria interessada nele?

Alice balançou a mão, fingindo não dá importância.

— Só curiosidade mesmo.

— Sei…

— É verdade.

Rosalie se virou de costas.

— Assim, só por curiosidade — Alice voltou a falar. — Ele ainda está solteiro?

— Sim, para as duas perguntas. Meu irmão virá no aniversário de Josh. E está solteiríssimo.

Alice não conteve a vibração, depois ficou tentando disfarçar.

— É melhor a gente ir trabalhar — ela mesma foi quem falou dessa vez. Aproveitando a deixa para sair de fininho.

— Ai, essa Alice — murmurou Rosalie.

[…]

Emmett começou o dia com uma reunião de negócios. Em seu horário de almoço, não foi diferente. Novamente esteve reunido com outras pessoas relacionadas ao trabalho.

[…]

Rosalie reservou seu horário de almoço para estar na companhia de Joshua, na casa dos pais.

[…]

— Josh, pegue um carrinho para a mamãe, por favor.

Rosalie e Joshua tinham acabado de chagar ao mercado. Faltavam poucos minutos para as dezoito horas. Acabou resolvendo passar no mercado a caminho de casa, depois de pegar o menino com os avós.

Joshua correu até a área reservada aos carrinhos de compras. Ele dava o impulso, depois se dependurava, repetindo isso até alcançar a mãe dentro do mercado.

— Mamãe, eu posso escolher um chocolate? Sei que não é fim de semana, nem nada. O problema é que minha vontade de comer um doce, não entende isso.

— Não sei se está merecendo. Não se comportou bem na escola, lembra? E sei bem que comeu doce na casa da vovó.

Joshua saltou da barra do carrinho e Rosalie tomou posse. Joshua se mostrou cabisbaixo, depois de sua resposta. Levando-a prometer pensar no assunto.

— Vou pensar. Antes de sairmos, digo se pode ou não.

— Tá bom, mamãe.

— Mas já pode escolher o seu cereal.

Joshua sabia exatamente onde ficava seu cereal favorito. Então foi para lá que ele correu. Rosalie foi logo atrás dele. Quando virava de um corredor para outro, encontrou com Royce, um ex-namorado. Sua relação com ele começou quando Joshua tinha cinco anos, e não chegou nem mesmo há completar um ano.

Não se sentia feliz ao lado dele, embora não fosse uma pessoa ruim com ela. Também havia Joshua, que sempre foi prioridade em sua vida. Os dois nunca se tornaram amigos como pensou que aconteceria.

— Rosalie — O rosto de Royce se iluminou com um sorriso largo no momento em que a viu.

— Royce?

— Fazendo compra sozinha? — Ele olhou para os lados, como buscasse a presença de mais alguém.

— Não, Joshua está comigo. Ele está no corredor ao lado, escolhendo cereal.

Royce tentou disfarçar o incomodo ao ouvir o nome do menino.

— Não sabia que tinha voltado à cidade — mencionou Rosalie. — Ainda está trabalhando em Baltimore? — Ele tinha aceitado uma oferta de trabalho em Baltimore no ano seguinte, ao termino do namoro dos dois.

— Estou visitando minha família. Devo voltar em alguns dias.

Antes que Royce pudesse dar continuidade à conversa, Joshua surgiu no corredor onde estavam.

— Mamãe, eu escolhi… — Ele segurava uma caixa de cereal tamanho família. Parou de falar no momento que reconheceu a figura masculina perto da mãe. Aproximou-se sem dar importância a Royce, deixando a caixa de cereal dentro do carrinho. O olhar ranzinza ao perceber que Royce não se moveu de perto de sua mãe. — Vamos, mamãe.

— Bem… — Rosalie fez sinal, indicando que o carrinho de Royce impedia a passagem do seu. — Foi bom te ver — disse, quando finalmente conseguiu passar por ele.

— Ainda usa o mesmo número de telefone? — ele pediu.

Joshua empurrou o carrinho que a mãe levava, forçando-a seguir em frente.

— Sim. Exatamente igual.

— Vamos, mamãe.

— Calma, filho.

Royce colocou uma expressão zangada no rosto ao olhar Joshua. Sorrindo ao olhar para Rosalie.

— Desculpe — ela pediu, olhando na direção do garoto.

Distante de Royce, levando coisas para dentro do carrinho, voltou a falar:

— Não pode fazer isso, Josh. Não foi nada educado o modo como agiu na frente de Royce.

— Não gosto dele.

— Isso já ficou bem claro, não só para mim.

— Vai voltar a sair com ele?

— Claro que não. Mas isso não significa que tenho de tratar ele de forma grosseira.

Joshua suspirou, aliviado, por saber que a mãe não pretendia voltar a namorar Royce. Sem dar tempo de ela falar mais alguma coisa, correu para escolher o leite fermentado na gondola refrigerada.

[…]

Joshua a ajudou guardar as compras assim que chegaram em casa.

Rosalie ficou preparando o jantar, depois de mandar Joshua para o banho. Permitiu Joshua comer um pedaço de chocolate como sobremesa. Acabou deixando que pegasse a barra de chocolate antes de deixarem o mercado.

Limpou a cozinha, enquanto Joshua brincava na sala com sua enorme quantidade de peças de lego. Ele tinha construído um dinossauro e fazia uma imitação de grunhidos quase perfeita.

Rosalie sorriu ao entrar na sala. Então, para brincar com ele, teatralmente encarnou um dinossauro com grunhidos e forma de andar.

— Mamãe! — Joshua se animou.

— Não sou a mamãe, agora. Sou um Paquicefalossauro.

Dando risadas, Joshua, também, incorporou uma espécie.

— Eu sou um Hadrosaurus.

A sala de televisão havia se tornado, de repente, um habitat natural.

Após um bom tempo brincando de ser dinossauro com o filho, Rosalie saiu da personagem, apressada para ir ao banheiro.

— Dinossauros não usam banheiro — Joshua lembrou.

— Desculpe, vida. Mamãe está apertada.

Joshua se jogou no sofá, um pouco frustrado que a brincadeira tivesse terminado com a mãe correndo para o banheiro.

— Mamãe, seu celular está tocando. — Ele encarou o aparelho, que tocava em cima do braço do sofá. Chamou novamente. — Mamãe, seu celular… — Acabou ele mesmo atendendo a ligação.

O número não estava nos registros, não teve como saber quem estava ligando.

— Alô?

— Passe o telefone para sua mãe. É com ela que quero falar. — A voz de Royce soou do outro lado da linha. Nem mesmo se importou em disfarçar que não queria falar com o garoto.

— Ela não pode falar agora.

— Entregue o telefone a ela.

— Já disse que ela não pode falar com você agora. — Joshua finalizou a ligação sem dar tempo de Royce questionar. Foi só o tempo de soltar o telefone em cima do sofá, para voltar a tocar. — Eu já disse que ela não pode atender agora, seu chato. Deixe a gente em paz.

— Com quem está falando de forma tão grosseira, Josh? — Rosalie ficou espantada ao chegar à sala e encontrar Joshua falando ao telefone daquela maneira. O menino soltou o telefone como tivesse tomado um choque, preocupado que fosse levar uma bronca.

[…]

Emmett ficou sem reação com a grosseria do garoto. Tinha estado querendo saber de quem era o número desde a ligação de ontem à noite. Pensou que era estranho; primeiro ninguém atendeu ao retornar a ligação. Hoje, uma criança irritada o atendeu.

Acabou aceitando, pelo modo como aconteceu que talvez o garoto estivesse esperando outra pessoa ao telefone.

Enfiou o celular no bolso interno do paletó, saindo do elevador para o apartamento, depois de mais um longo dia de trabalho.

[…]

— Era Royce no telefone, mamãe. Reconheci a voz dele — Joshua contou a verdade na qual acreditava. Na primeira, sim, ele estava certo. Já na segunda vez, nem mesmo deu tempo para a pessoa no outro lado da linha falar.

— Você não pode falar assim com as pessoas.

— Ele é um chato. Falei que você não podia atender. E ele ligou de novo, na mesma hora. Aff!

Joshua estava irritado e nem tentou disfarçar.

— Calma. Respire — Rosalie tocou seu peito, massageando devagar. — Respire devagar. — Não é para tanto.

— Na segunda vez, nem disse nada, o chatonildo.

— Também, do jeito que falou com ele.

— Ele não gosta de mim — Joshua deixou claro. — Então, também não gosto dele.

— Tudo bem. Você não é obrigado a gostar dele. Mas também não pode agir assim. — Passado um minuto, perguntou: — Você ainda quer continuar brincando de parque dos dinossauros?

— Mamãe, o meu pai gostava de dinossauros?

— Talvez, quando tinha a sua idade.

Joshua sorriu, pensando a respeito.

— Você conheceu meu pai quando tinha minha idade?

— Não, vida. Você esqueceu, tínhamos onze anos quando nos conhecemos.

— Ah, é mesmo. Foi durante o verão, no balanço do parque — Joshua se lembrou da história contada por ela tantas vezes quanto podia. Mudando de assunto de forma repentina. — Ainda quero brincar de parque dos dinossauros. Dessa vez sou um Tiranossauro. — Joshua fez sua melhor imitação de Tiranossauro, levando a mãe a sacudir a cabeça.

— Então eu serei um Pachycephalosaurus.

— Você já foi esse, mamãe. Tem de ser outro dessa vez.

— Qual posso ser? Não conheço tantos dinossauros assim, me ajuda.

— Você pode ser o Megalossauro. Ele é quase tão grande quanto o Tiranossauro. E ambos são carnívoros.

— Okay, então sou um Megalossauro.

— Mamãe — Joshua caiu na risada, quando Rosalie o agarrou e os dois caíram no tapete da sala. — Dinossauros não ficam dando beijinhos no outro.

— Mas a mamãe Megalossauro, sim.

— Você é a mamãe, Rosalie, então. Porque essa, sim, adora dá beijinhos.

— Claro você é meu filhote. Eu beijo mesmo. Ainda que não goste. — Ela correu pela sala atrás de Joshua, que fugia do ataque de beijos, desviando de móveis e subindo no sofá.

— Não é assim que se brinca. Está fazendo do jeito errado.

Rosalie não deu bola, insistindo na tentativa de pegá-lo para encobrir de beijos.

— Agora a brincadeira vai ser do meu jeito.

— Do jeito errado.

— Pode até ser do jeito errado. Mas ainda é o meu favorito.

Joshua gargalhou no momento em que ela agarrou seu tornozelo. Ele se debateu conseguindo escapar outra vez. Correndo para longe com ela em seu encalço.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!