Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 3
Capítulo 03 — A Visita


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pela demora, pessoal.
Espero que gostem do capítulo.



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A porta traseira bateu, após Joshua entrar no carro da mãe, se acomodando no seu assento elevatório.

— Eu queria poder ir com você — se queixou.

Era a quinta vez, em menos de cinco minutos, que escancarava o seu desejo em ir com a mãe a Raleigh. Rosalie colocou o cinto de segurança, logo em seguida, pôs o carro em movimento.

— Nós já falamos sobre isso, Josh.

— Ainda não entendi, por que não posso ir? Por quê?

Já estava nervosa com a situação, e a insistência de Joshua não estava ajudando.

— Não posso fazer isso sem falar com ele antes… — Calou-se ao perceber o que estava fazendo. Um segundo depois, acrescentou: — Chega de fazer perguntas. Chega.

Joshua mostrou sua revolta, soltando o ar com força pelos lábios. Virando o rosto para olhar a imagem, tão conhecida, que passava pela janela.

Nenhum dos dois voltou a falar, até Rosalie estacionar o carro na entrada de veículos, na frente da casa dos pais.

— Mamãe?

Ela saiu do carro. Desejando que Joshua se apressasse, abriu a porta para ele sair também.

— Não vai começar de novo, não é? Não estou com cabeça para isso agora.

— Eu só queria dizer que vou sentir sua falta.

— Ah, filho… — Ela fez um gesto com a mão convidando-o a sair do carro. — Vem cá, amor. Não é que eu não queira levar você comigo, eu não posso fazer isso agora.

Joshua saiu, agarrando a cintura dela com um abraço apertado.

— Me desculpe — pediu ela. — Tudo o que tenho feito, e o que ainda irei fazer, são por você filho. Quero ter certeza que está feliz.

— Eu sou feliz — Garantiu o menino, em meio ao abraço que os unia. — Só que serei muito mais feliz quando conhecer o meu pai. Porque eu tenho um pai, em algum lugar. — Lá estava ele outra vez insistindo na figura do pai em sua vida. Deixando Rosalie num beco sem saída.

— É por isso que estou indo. Para dar a você o que tanto deseja. Que é a chance de conhecer o seu pai. — E, num sussurro, completou: — Ainda que ambos possam sentir raiva de mim quando souber a verdade.

— O que disse mamãe?

Rosalie se dobrou, beijando no alto de sua cabeça.

— Nada importante.

A porta da frente foi aberta, e Esme surgiu no jardim. Animada com a chegada dos dois.

— Que bom que chegaram — comentou indo encontrar com eles.

— Oi, vovó — Joshua a cumprimentou de longe. E foi pegar a mochila dentro do carro. — Cadê o vovô? — perguntou já com a mochila na mão. — Ele está preparado para o nosso jogo de futebol?

— Ele está tomando café. Por que não vai até lá falar com ele.

— Tá bom, vovó. — Ele pôs a mochila nas costas. — Tchau, mamãe.

— Tchau, vida. Seja bonzinho com seu avô. Ele não sabe jogar futebol.

— Tá.

Rosalie e Esme observaram Joshua entrar na casa.

— O que foi? — pediu Esme. — Você parece nervosa. — Chegando mais perto, colocou a mão no ombro da filha. — Vai ficar tudo bem. Está indo hoje somente para pegar o endereço de Emmett com os pais dele. Ainda não é a hora da verdade.

— Não está ajudando — lamentou Rosalie.

— Desculpe querida.

— Josh está impossível hoje. O tempo inteiro insistindo. Querendo ir comigo. Queria que fosse tão fácil quanto ele pensa.

— É normal. Ele está ansioso.

— Eu sei. É que me deixa aflita. Estou indo atrás de pessoas que não vejo há muito tempo. Não sei como irão me receber. Fico preocupada com ele, também.

— Não se preocupe com Josh. Ele vai ficar bem. Vai se divertir com seu pai, tanto que nem vai ver as horas passarem.

— Queria que fosse assim para mim também.

— Qualquer coisa, me ligue.

Rosalie entrou no carro. Abaixando o vidro para falar com a mãe uma última vez antes de partir.

— Obrigada, por sempre me apoiar.

— Vá tranquila, meu bem.

Rosalie fez um pequeno aceno. Saiu com o carro da entrada de veículos, seguindo então pela rua asfaltada.

[…]

Foi com o coração cheio de saudade. Os pensamentos voltados a lembranças boas, que estacionou onde Emmett viveu com os pais e a irmã durante parte da infância e adolescência. Só esperava que ainda vivessem na mesma casa, ou as quase duas horas de viagem até Raleigh teria sido em vão.

Respirou fundo, a poucos passos de estar frente a frente com parte de seu passado. Saiu do carro, a bolsa embaixo do braço. Os óculos escuros no rosto lhe dando falsa confiança.

No caminho até a porta da frente, esteve perto de desistir. Sentiu-se ansiosa e insegura, como a adolescente que foi um dia. A lembrança vívida da primeira vez que esteve diante aquela mesma porta, tanto tempo antes, quase a fez chorar.

Emmett a tinha levado ali para conhecer os pais dele. Estava contente, e ansioso pelo momento que a apresentaria a família como sua namorada. Depois daquele dia tornou-se frequentadora assídua da residência McCarty.

Levou a mão à campainha em modo automático. Dando-se conta de ter feito somente quando uma voz conhecida falou seu nome sem disfarçar o tom de surpresa.

— Rose? É você mesmo?

Rosalie sentiu as mãos trêmulas. Ergueu uma das mãos afastando os óculos escuros do rosto.

— Carmen — sua voz soou estranha ao pronunciar o nome da mãe de Emmett. Ela parecia igual, apenas seus cabelos escuros estavam um pouco mais curtos. Vozes no interior da casa atraiu sua atenção para lá. Ainda não estava preparada para vê-lo. Viu-se desejando que Emmett não estivesse. Encontrar com os pais dele já estava sendo difícil o suficiente para um único dia. Precisava de um preparo emocional maior antes de ficar frente a frente com seu grande amor do passado.

— Minha nossa! — exclamou Carmen. — Há quanto tempo não tinha notícias suas. — Ela pegou Rosalie num abraço desprevenindo. Deixando-a sem reação. — Querida, o que faz aqui?

— Eu… — Rosalie tentou, sendo interrompida pelo entusiasmo de Carmen.

— Olha só para você. — Fez uma breve análise da imagem de Rosalie e tornou a falar. — Está ainda mais bonita que aquela jovenzinha de alguns anos atrás.

Sem saber como agir, Rosalie conseguiu apenas murmurar.

— É… Obrigada.

Uma voz feminina soou de dentro da casa, atraindo sua atenção novamente.

— Quem está aí, mãe?

Carmen abriu um sorriso.

— Bella, você não vai acreditar.

Saber que Isabella estava em casa, só serviu para deixá-la mais nervosa. Pelo que lembrava Isabella e o irmão sempre foram unidos. Reconheceu os cabelos de tom que beiravam o marrom chocolate no momento que a irmã de Emmett se aproximou da porta principal.

Assim como Carmen, ela também se espantou com sua presença.

— Rose! Putz é você mesmo garota?! — Isabela a abraçou tão inesperadamente quanto Carmen havia feito. — Não consigo acreditar que esteja aqui, depois de todos esses anos.

— É… Oi, Bella. Como você está?

— Eu estou ótima. Ah, minha nossa, nem consigo acreditar que seja mesmo você aqui. É tão inesperado.

— Sou eu mesma. — Tentou parecer tranquila, quando, na verdade, estava uma pilha de nervos.

— Entre, querida — Carmen a convidou, conduzindo-a para o interior da casa.

Mais lembranças vagaram pela mente de Rosalie, enquanto reconhecia parte da mobília na sala deles. A forte lembrança de Emmett, sorrindo para ela, do sofá da sala, a fez sorrir.

— Eleazar — continuou Carmen. — Vem ver quem está aqui.

Em pouco tempo, Eleazar apareceu na sala trazendo um sorriso amistoso no rosto. Dando a Rosalie a sensação de que, assim como para Carmen, o tempo não havia passado para ele.

— Rosalie Hale — mencionou, num tom de descrença. — Sim, é você mesma — admitiu, por fim. — Seja bem-vinda novamente. Não sabíamos que estava de volta à cidade.

Ela balançou a cabeça como que para afugentar as lembranças.

— Na verdade, estou só de passagem.

— Espera — Isabella chamou sua atenção. — Quero que conheça uma pessoa. — Mostrou a mão com aliança a Rosalie. — Sou uma mulher casada agora, por incrível que pareça.

— Meus parabéns, Bella.

Isabella não deu nem tempo de ela terminar de falar já foi chamando o marido para fazer as apresentações.

— Edward, meu bem. Venha até aqui.

Rosalie reparou na figura masculina que chegou a sala. Os cabelos na cor de bronze e os olhos verdes formavam a combinação perfeita.

— Quero que conheça a Rose — Isabella segurou sua mão. — Ela foi à primeira namora do meu irmão. E isso durou um tempão. Eles eram fissurados um no outro. Nunca consegui entender porque terminaram.

— Olá! — cumprimentou Rosalie. Um pouco sem jeito de estar de volta com a família do homem para quem ela mentiu. E continua mentindo até agora.

— É um prazer conhecê-la. Bella já tinha me contado algumas histórias onde você aparecia.

Rosalie olhou para Isabella, imaginando quais histórias ela ateria contado.

— Que sorte a nossa, termos vindo visitar meus pais hoje — Isabella se gabou.

Rosalie não conseguiu frear os pensamentos, tornando parte dele pergunta.

— Vocês têm filhos? — Talvez, imaginar que Carmen e Eleazar tinham outros netos, pudesse fazer sua culpa, em esconder a existência de Joshua, menor.

— Justo eu que não me cansava de dizer que não queria me casar. Casei. E tenho uma bebê de dez meses. Ela está dormindo no meu antigo quarto agora. Está no horário de sua soneca. Posso levá-la para vê-la assim que ela acordar.

— Como ela se chama?

— Renesmee.

— Advinha só quem escolheu o nome? — Edward brincou.

— É o nome perfeito — Isabella bateu o pé. E, olhando para Rosalie, perguntou: — Mas, e você, casou? Está namorando?

— Nem uma coisa, nem outra.

— Tenho certeza que é por opção.

Eleazar notou que ficou desconfortável com as perguntas feitas por Isabella, e tentou ajudar oferendo algo para beber.

— Eu aceito uma água — Rosalie pediu.

— Bella, por que não pega água para Rose?

— Claro. Volto num minuto — falou ao se retirar. Edward foi atrás dela.

— Parece preocupada — Eleazar mencionou. — Por que não senta um pouco.

Rosalie aceitou. Ao sentar pôs a bolsa no colo.

Carmen sentou ao lado dela, tomando suas mãos gentilmente.

— Está acontecendo alguma coisa? — pediu. — Suas mãos estão trêmulas, querida.

— A verdade é que vim aqui por um motivo. — Rosalie hesitou. — Preciso que me ajudem com uma coisa.

— Pode falar — Incentivou Carmen.

— Preciso de o endereço onde encontrar Emmett.

Eleazar e Carmen trocaram olhares à menção ao filho.

— Preciso muito falar com ele. É importante que seja quanto antes.

— Querida, você não está doente, está? — Carmen arriscou.

— Quem está doente? — Isabella perguntou de volta a sala com Edward. Entregou a água a Carmen, que passou para Rosalie. — Você está doente, Rose?

— Não. Minha saúde está ótima.

— Nossa, que alívio. — Isabella suspirou. Então sentou no sofá oposto, junto com Edward.

— Emmett está em Nova York. — Carmen contou. — Ele vive lá agora. Não voltou depois da faculdade.

Um suspiro escapou por entre os lábios de Rosalie.

— Então ele conseguiu… — se pegou sussurrando.

— Do que está falando? — Tentou Carmen.

— Do sonho dele.

— Ele conquistou tudo que planejou — se orgulhou Eleazar. — Sempre foi um garoto esforçado.

— Fico feliz por ele.

— E você querida? — Carmen tentou. — Conseguiu conquistar tudo o que planejou? Está feliz com o caminho que escolheu?

Forçando um sorriso, Rosalie respondeu:

— Acabei mudando alguns planos pelo caminho.

— Seja lá qual for, espero que esteja realizada.

Rosalie sorriu, pensando em Joshua. Ele não foi planejado, mas hoje era seu maior amor. E, sim, era feliz vivendo com o filho, ainda que lhe faltasse parte importante dessa equação.

— Sim, eu estou.

— Fico feliz que seja assim. — Carmen deu um tapa amistoso nos joelhos de Rosalie. — Vou pegar para você o endereço e telefone onde possa encontrá-lo. — Ela ficou de pé, tomando o caminho da escada. — Ele vai gostar de te ver.

— Obrigada.

— Meu irmão não vai acreditar.

— Bella — tentou Rosalie —, eu preferia que seu irmão não soubesse que vim aqui. Não sem antes falar com ele.

— Só para você saber. Ele não se casou, por opção.

Estaria mentindo se dissesse que a notícia não a fez feliz. Porque durante todo esse tempo, continuava amando-o.

Carmen não demorou em voltar com as anotações.

— Ele vai ficar feliz em reencontrá-la — disse. — Aqui está o telefone e o endereço onde pode encontrá-lo.

— Obrigada, Carmen.

— Algo me diz que continua gostando do meu filho. Nunca pude entender por que terminaram tão de repente. Cheguei a pensar que iriam muito mais longe juntos.

Talvez não estivesse mais tão distante de entender, pensou Rosalie. Constrangida, sorriu para a família do homem a quem tanto amou.

Rosalie passou um tempo falando com eles do passado. E quase nada do presente, evitando mencionar o futuro. Até porque não fazia ideia como ficaria seu futuro, depois de falar com Emmett.

Ouviu toda a história de como Edward e Isabella se conheceram na faculdade e também do casamento. Apesar de todos eles serem gentis, e de conhecer a família de Emmett há bastante tempo, a verdade é que estava desesperada para sair da casa deles.

Pôde finalmente conhecer Renesmee, depois da soneca. Pensou que era uma bebê linda. E, assim como Joshua, tinha um pouco da mãe e do pai.

Saiu de lá tendo de prometer voltar mais vezes para uma visita. Imaginou se seriam tão compreensivos assim quando soubessem o que fez. Pensou em Joshua. Já estava com saudades dele.

Infelizmente, não conseguiria chegar em casa antes do anoitecer. A visita à casa dos pais de Emmett em Raleigh levou mais tempo do que imaginou. Foi com remorso que percebeu que eram também a família de Joshua.

[…]

De volta a New Bern, Rosalie estacionou na entrada de veículos, em frente à casa dos pais. Pensando na visita aos McCarty, retirou da bolsa, no banco do carona, o papel onde Carmen anotou o endereço e o telefone de Emmett.

Ficou um bom tempo com o papel na mão, imaginando como criar coragem em entrar em contato, depois de tanto tempo. As letras se embaralharam causando a falsa sensação de tontura.

Uma batida no vidro da janela, no lado do motorista, causou-lhe sobressalto. Respirando, aliviada, um instante despois, reconhecendo que era apenas sua mãe a bater no vidro.

— Que susto, mamãe — informou num murmúrio.

Esme não chegou a ouvir o que disse, apenas pela movimentação de seus lábios teve uma ideia do que poderia ter dito. Não era sua intenção assustar a filha. Sinalizando, pediu que abaixasse o vidro.

O vidro abaixou devagar.

— O que está fazendo aqui fora? — pediu Esme. — Vi que chegou há um tempo. Não está planejando passar a noite aí, está?

— Não. — Rosalie pegou a bolsa, guardando novamente o papel que Carmen lhe deu. Finalmente, saindo do carro.

— E então, os pais de Emmett ainda vivem na mesma casa, em Raleigh?

— Sim, e ambos continuam tão gentis quanto eu me lembrava.

— Como reagiram ao saber que procurava pelo filho deles?

— A princípio, pensaram que estivesse com algum problema de saúde. Que minha visita significasse uma despedida. Não estou doente, o que é uma benção. Por outro lado, senti como estivesse tamanho meu remorso.

Esme chegou mais perto, tomando-a em um abraço reconfortante. Rosalie teve a sensação de ter estado esperando o tempo inteiro por aquele abraço.

— Lembra-se da irmã dele, Isabella? Ela se casou. E tem uma bebê linda.

— Isso fez você se sentir menos culpada em ter escondido Josh da família do pai?

— De certa forma, sim.

— Entendo…

Esme passou o braço em volta dos ombros da filha. Ambas caminharam, rumo à porta da frente.

— Onde está Josh? — foi à primeira coisa que Rosalie pediu ao entrar na casa dos pais.

— Ele não aguentou te esperar acordado. Acabou dormindo no sofá. Seu pai o levou para a cama já faz um tempinho.

— Ele deve estar chateado. Prometi voltar a tempo de colocar ele na cama. Agora será difícil levar ele para casa.

— Por que não fica aqui essa noite. Pode dormir com Josh no quarto de hóspedes, a cama é grande o suficiente para os dois. Caberia uma terceira pessoa facilmente.

— Vou ter de aceitar. Mesmo que isso signifique que terei de acordar mais cedo amanhã. Josh vai precisar de sua mochila com as coisas da escola. — Numa breve análise ao redor, perguntou: — Onde está o papai agora?

— Josh acabou com ele no futebol. Está na nossa cama se queixando de dores no corpo. Depois diz que não está ficando velho. — Esme deu uma risadinha. — Ele insiste que é falta de costume.

Rosalie teve de rir.

— Coitadinho — disse.

— Imagino que não tenha jantado. Tem comida dentro do forno.

— Estou sem fome. Se estiver tudo bem, eu gostaria de subir e tomar um banho.

— Tem toalhas limpas no banheiro. — Esme incentivou. — Vou deixar um pijama para você no quarto.

— Obrigada, mamãe.

Não muito tempo depois, vestiu o pijama e deitou embaixo das cobertas, ao lado de Joshua na cama. No silêncio da noite, com uma única luz acesa no abajur, observou o ressonar do filho enquanto dormia. Deu um beijo de leve na pontinha de seu nariz.

— Conheci sua priminha hoje — contou-lhe. — Seus avós paternos e sua tia, continuam sendo as mesmas pessoas que sempre foram; gentis e honestos. — Ela ajeitou os cobertores sobre os ombros dele. — Me desculpe, não ter chegado a tempo de ler para você antes de dormir. Te amo. Eu posso ter errado com você filho, mas foi tentando acertar. Deus é testemunha.

Ficou de barriga para cima, encarando o teto e o nada ao mesmo tempo. Pensamentos insistindo em como seria seu reencontro com o pai de Joshua.

Não foi uma noite de sono agradável. Acordou mais de uma vez durante a noite. E, quando os primeiros raios de sol começaram a surgir, estava com o celular na mão pesquisando o endereço de Emmett, em Nova York. 

Joshua acordou, e ao olhar para o lado e encontrar a mãe, quase não acreditou.

— Mamãe. — Se lançou sobre ela, deixando apenas metade do corpo no colchão.

Rosalie soltou o celular para abraçá-lo.

— Oi, vida.  — falou ao pé do ouvido dele. Terminando com um beijo no pescoço. — Bom dia, luz do dia.

— Fiquei com saudades — admitiu Joshua.

— Eu sei. Desculpe, não consegui voltar mais cedo.

Parecendo lembrar o que a mãe tinha ido fazer, Joshua sentou na cama.

— Conseguiu falar com meu pai? Ele vai vir me ver?

— Eu te expliquei filho. A mamãe foi somente atrás de informações.

Joshua voltou a abraçá-la.

— Não gosto quando não está em casa a noite — desabafou fazendo manha.

— Eu sei. E eu também não gosto de fazer isso. Mas, agora a mamãe precisa levantar para ir até em casa buscar seu material escolar. Você tem aula hoje. Você fica e toma café da manhã com a vovó e o vovô enquanto isso.

— Nada disso, eu vou com você pra nossa casa.

— Tudo bem, então. Vai, levanta. Deixa a mamãe se trocar.

— Vamos de pijama mesmo. Ninguém nem vai reparar.

— Tem razão, vamos de pijama mesmo. Poupamos tempo desse jeito.

Joshua ficou de pé na cama. Vestia um pijama azul com estampas de dinossauros. Com um pulo, alcançou o chão.

— Vamos nessa! — se animou, falando em voz alta.

— Psiu! Seus avós ainda estão dormindo.

— Não estão não. Eles levantam cedo.

— Como pode ter certeza disso?

— Tendo, ué.

Rosalie deu um tapa amistoso no bumbum dele. Saiu da cama, e começou organizar a bagunça feita por eles no quarto.

[…]

— É sério isso, Josh? — Irritada, Rosalie caminhou todo o corredor até o pátio na escola primária onde Joshua estuda. Tinham acabado de deixar a sala do diretor. Não fazia nem trinta minutos que deixou Joshua na escola teve de voltar para pegá-lo. — Dois dias de suspensão? Onde estava com a cabeça quando resolver bater em um colega? Quantas vezes eu te falei que violência não resolve nada?

— Eu não queria… — Joshua tentou se defender. A mochila nas costas e a lancheira na mão, tentando se manter no mesmo ritmo apressado que a mãe.

— Está querendo me dizer que seu punho acertou o nariz dele por acaso?

— Eu não queria… Ele provocou isso.

— Não tem desculpas para o que fez. Você está me entendendo?

— Estou encrencado?

Alcançavam o estacionamento, quando respondeu:

— Pode apostar que sim. — Ela retirou a chave na bolsa, desativando o alarme do veículo. — Entre no carro — ordenou.

— Vai me levar para a casa da vovó?

— Acha mesmo que vai ficar com sua avó depois do que fez? Com ela te mimando? Vai ficar comigo no trabalho. E vai se comportar.

— Tá bom.

— É claro que está.

Ela largou a bolsa no banco do carona assim que entrou no carro. Minutos mais tarde, deixou o carro no estacionamento da pousada.

— Anda, pegue suas coisas. Vai ficar estudando enquanto trabalho.

— Não tem lição.

— Vai estudar toda a matéria.

— Mas, mamãe…

— Nem adianta. Pensasse antes de fazer coisa errada. Estou desapontada com você Joshua. Envergonhada, também.

Joshua abaixou a cabeça, desapontado consigo mesmo.

— Ei, Josh! — Alice os encontrou na recepção. — Soube que acertou seu colega com um soco no nariz.

Rosalie a interrompeu.

— Ele está de castigo. E você, não fique incentivando. Foi muito feio o que ele fez.

— Aposto que o outro garoto mereceu. — Alice piscou para Joshua.

— Não faz isso, Alice. Vem, Joshua!

— Para aonde vamos?

— Já disse, vai estudar enquanto trabalho.

Bastou Rosalie virar de costas, para Alice fazer sinal de joinha para Joshua.

— Joshua — Rosalie apressou.

O garoto correu para acompanhar a mãe.

Rosalie abriu espaço num canto da mesa do escritório para Joshua estudar toda a matéria. Depois disso, se dedicou ao trabalho a maior parte do tempo. De vez em quando fazia uma pausa para verificar como estava indo.

Pouco depois das dez da manhã, Rosalie deixou Joshua sozinho no escritório. Alice aproveitou para ir até lá entregar um cupcake a ele as escondida.

— É nosso segredo — disse para o menino. Se retirando de forma teatral, como fosse uma espiã em missão. Joshua achou graça de como estava agindo.

Por volta do horário do almoço, mãe e filho almoçaram juntos na cozinha da própria pousada.

— Mamãe — Joshua pediu pouco depois de terminarem. — Ainda está muito brava comigo?

Rosalie mostrou que era bem pouco, sinalizando com a mão.

— Mas está de castigo ainda — reafirmou.

— Por quanto tempo?

— Eu ainda não sei.

— Vai durar até o meu aniversário?

— Talvez…

— Mamãe?

— Sim, Joshua?

— Estou com medo.

— De ficar de castigo até o seu aniversário?

— Que não queria mais procurar pelo meu pai.

— Ah, Josh… — O medo de Joshua de que isso pudesse acontecer foi real, Rosalie percebeu em seus olhos e no tom de sua voz. Ela estendeu a mão para ele. — Vamos dar uma volta pelo jardim.

— Não me chamou de Joshua de novo — ele percebeu com certo alívio.

O jardim florido se entendia por uma vasta área verde com algumas árvores no entorno.

Enquanto caminhavam, Rosalie explicou:

— Não vou fazer isso com você, Josh. — Quando o garoto olhou em seus olhos, fez questão de dizer: — Desistir de apresentar você ao seu pai, não é uma opção. Jamais faria isso com você. Mesmo tendo se comportado tão mal hoje. Agindo feito um valentão.

— Eu não queria agir feito um valentão.

Rosalie o convidou para sentar no gramado junto com ela.

— Então por que agiu feito um?

— Eu posso mesmo falar?

Rosalie segurou sua mão.

— Pode. Mamãe vai ouvir.

— Eu levei a foto do meu pai comigo para a escola hoje.

— Josh… Eu disse para não fazer isso. Você me desobedeceu.

— Desculpe— ele pediu de cabeça baixa. Mexendo as mãos uma na outra, completou: — Eu só queria provar para os meus colegas que eu também tenho um pai.

Rosalie passou o braço em volta dos ombros dele.

— Você não precisa provar nada para ninguém. Você sempre teve um pai, ele só não está aqui.

— Brian me chamou de mentiroso. Disse que era uma foto antiga, que podia ser qualquer pessoa. Que eu estava inventando um pai imaginário.

— Josh…

— Aquela foto é mesmo do meu pai?

— É claro que é do seu pai. Não enganaria você dessa forma. Acha mesmo que faria uma coisa dessas com você?

Joshua balançou a cabeça, em negativa.

— Onde está a foto agora?

— Na minha mochila. Vai querer ela de volta?

O olhar triste do filho lhe trouxe a sensação de fracasso.

— Não. Só fiquei preocupada que tivesse perdido. Ou mesmo rasgado. É a única que temos. Precisa tomar cuidado.

— Eu vou cuidar bem dela, mamãe.

— Com certeza vai. Você acertou o nariz de um colega. Fez isso quando ele te chamou de mentiroso?

Joshua negou, balançando a cabeça.

— Não? — insistiu Rosalie. — Quando então?

— Foi quando ele ofendeu você, depois de falar do meu pai.

A expressão de surpresa alcançou o rosto de Rosalie.

— Me ofendeu? Como ele poderia me ofender? O que Brian disse a meu respeito?

Joshua se recusou repetir o que o colega disse sobre Rosalie na sala de aula, antes de o professor chegar.

— Fala filho.

— Não. Não quero falar.

— É tão ruim assim? — ela ficou imaginando o que de tão ruim Joshua poderia ter ouvido a seu respeito a ponto de querer acertar o nariz do colega com um soco.

Joshua ficou de joelhos na grama e a abraçou.

— Eu sei que o que ele disse não é verdade — contou a mãe.

Rosalie afagou suas costas, reconfortando-o.

— Está tudo bem, filho. Pode me falar.

Novamente, Joshua se recusou.

— Obrigada por me defender. Mas, quero que me prometa. — Ela segurou no rosto de Joshua de modo a olhar olho no olho. — Nunca mais vai fazer o que fez hoje. Você promete?

— Uhun.

— Se disserem qualquer coisa que você não goste. Ou o magoe, tem de chamar um adulto para resolver a situação.

— Uhun — tornou murmurar Joshua.

— Vem cá, dá um abraço na mamãe.

O abraço forte fez com que caíssem deitados na grama.

A voz alegre de Alice soou há alguns metros de onde estavam.

— Prefiro vocês desse jeito. Sem aquela cara de brava e a carinha triste que chegaram aqui hoje.

Mãe e filho se levantaram.

Com um tapa amistoso no bumbum de Joshua, Rosalie lembrou.

— Vai brincar.

— Não estou mais de castigo?

— Está tudo bem. Você pode ir brincar.

— Obrigado, mamãe.

Joshua correu pelo jardim, explorando tudo a sua volta.

Alice se aproximou.

— Você é uma mãe maravilhosa para Josh. Ele é um garoto de sorte.

Rosalie olhou para trás, Joshua analisava um besouro no tronco da árvore.

— Eu sei que deu cupcake para ele quando ficou sozinho hoje pela manhã.

— Você é o que, algum tipo de vidente?

— Ele estava com a boca suja de chocolate. E você é a única que daria doces a ele sem minha permissão.

— Preciso dar umas aulas para Josh. Ele está muito amador ainda. Não consegue nem mesmo comer um bolinho escondido.

— Não quero você ensinando coisas erradas ao meu filho.

— Claro. Eu vou ensinar uma criança de quase oito anos a roubar um banco — Alice ironizou.

— Não tem graça, Alice.

— Eu sou um gênio do mal, você não sabia?

Rosalie balançou a cabeça.

— Vou voltar para o trabalho.  — Olhando na direção de onde estava Joshua, chamou: — Vem, filho! Vamos entrar.

— O deixe ficar. Eu vou ficar aqui mais um pouco.

— Não vou deixar meu filho no jardim, na companhia de uma gênia do mal, como você mesma acabou de dizer.

— Não falei sério. Você sabe disso?!

Rosalie deu risada.

— Relaxa, estou brincando. Josh, você pode ficar, filho. Alice vai ficar com você. — Olhando para Alice, ressaltou: — Nada de deixar ele sozinho.

— Ninguém vai raptar ele aqui.

— Ele é uma criança. Este é meu local de trabalho, não quero surpresas.

— Tá, tá, eu já entendi. Agora vá, antes que eu te demita.

— Não pode me demitir.

— Não, mas posso ser uma filha mimada e exigir que meus pais façam isso.

— Você é mesmo um gênio do mal.

As amigas riram juntas. Enquanto Rosalie retornava para o interior da pousada, Alice correu com Joshua pelo jardim como fossem duas crianças. Rosalie ainda pôde ouvir o filho dizer o quanto que Alice era divertida.

 


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Notas finais do capítulo

Se puder, deixe um comentário.
Beijo grande
Sill