Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 2
Capítulo 02 — A Fotografia


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, pessoal. Espero que gostem.
Aproveito para agradecer a Zuukitta pela recomendação maravigold. Obrigada, o capítulo é dedicado a você.



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Rosalie tinha coisas a resolver no trabalho, e ainda deixar Joshua no treino de futebol. Dormiram um pouco mais que o esperado, agora corria contra o tempo para dar café da manhã ao menino antes de partirem.

— Rápido filho! — Ela deixou as torradas em cima da mesa ao lado da geleia de mirtilo que Joshua adora. — Estamos atrasados, vida.

Joshua entrou na cozinha usando seu uniforme do time de futebol. A mochila que usava para levar suas coisas aos treinos foi jogada no chão junto à cadeira onde sentou. Pegou uma torrada, cobrindo-a com geleia antes de uma mordida generosa.

— Vai me pegar depois do treino? — pediu de boca cheia.

— Não fale de boca cheia, Josh, por favor. — Ela se movimentou de um lado a outro na cozinha, ajeitando coisas em cima da ilha e fogão. — Não acho que vou conseguir filho. Em todo caso, sua avó vai estar lá.

— Eu vou ficar na vovó ou ela vai me deixar na pousada depois?

— Provavelmente, na casa da vovó.

Joshua continuou comendo, no mesmo ritmo apressado. Assim que terminou, correu para escovar os dentes.

O celular tocou em cima da ilha. Rosalie deixou um prato dentro da pia, se apressando em atender a chamada.

— Mamãe?!

— Oi, meu bem. Já saiu de casa?

— Ainda estou presa aqui. Não sei como fui perder o horário. Parece que está tudo dando errado.

— Exagero de sua parte.

— Não esquece que me prometeu pegar Josh no treino. Não queria ter de trabalhar hoje, mas tenho de ir. É hoje a festa de noivado de que te falei. Preciso estar lá agora pela manhã para orientar o pessoal. E preciso garantir que Josh tenha alguém para pegá-lo no horário certo.

— Como poderia me esquecer disso. É do meu neto que estamos falando.

Rosalie saiu da cozinha ainda falando ao telefone. Recolheu a bolsa no sofá da sala onde deixou mais cedo. Mantendo uma mão na porta, outra no celular, apressou o menino.

— Vem, filho!

Joshua chegou à sala correndo. Entrou na cozinha e logo em seguida voltou com a mochila nas costas.

— Pergunta se o vovô vai com ela? — passava pela mãe, quando pediu.

— Josh está perguntando se o papai vai com você pegar ele no treino mais tarde. A propósito, como ele passou a noite? Melhorou do mal-estar?

— Ele acordou ótimo. Já até fez planos de jogar minigolfe com os amigos. Vai almoçar por lá, também. Então, diga a Josh que sinto muito, o vovô não vai ao treino dele comigo.

— Que bom que está bem para jogar com os amigos. Lamento pelo Josh, ele sempre fica animado quando o papai vai ao treino dele.

Já do lado de fora, Joshua pediu:

— Ele vai, mamãe?

— Seu avô vai jogar minigolfe com os amigos hoje.

— Ah, que chato — se queixou, virando de costas, seguindo caminho até o carro da mãe, estacionado na entrada de veículos, em frente à casa térrea de paredes de tijolinhos e cerca branca de madeira.

Rosalie saiu, e fechou a porta.

— Até mais tarde, mamãe.

Joshua aguardava ao lado do carro.

— Põe o cinto, filho — ela orientou, assim que entraram no veículo.

Outra vez, observou que Joshua olhava sempre que encontravam alguém passeando com o cachorro. Era como se a cena o atraísse.

Minutos mais tarde, estacionou em frente à escolinha de futebol. Joshua retirou o cinto. Estava com a mão na porta, pronto para saltar, quando se lembrou de perguntar.

— Quando vai falar com meu pai?

A menção ao pai, novamente fez o coração de Rosalie falhar uma batida. Era difícil pensar em Emmett e não sentir o fantasma de ter feito a coisa errada rondando.

— Primeiro preciso localizá-lo. Lembra que te falei que não sei onde seu pai mora agora?

— Contrate um detetive. Eu vi na televisão outro dia, que eles conseguem encontrar qualquer pessoa.

— Espero não precisar dos serviços de um.

— Por que eles cobram muito caro? Você pode quebrar o meu porquinho, se precisar. Ele já tem bastante dinheiro, o vovô e a vovó sempre estão contribuindo para a barriguinha dele ficar cheia. Aposto que já tem muitos dólares lá.

— Não vou quebrar o seu porquinho, vida.

— Como vai então fazer para localizar meu pai?

— Falando com as pessoas certas. Seu pai não é um fugitivo nem nada, com certeza alguém do nosso passado saberá dizer onde posso encontrá-lo.

— Quem são as pessoas certas?

— Josh, mamãe está atrasada para o trabalho. Podemos falar sobre isso depois?

— Tá bom.

Ele já ia saltando do carro, quando Rosalie lembrou:

— E o beijo da mamãe?

Joshua largou a porta do carro aberta, sem muita disposição, dobrando-se entre os assentos da frente, para beijar no rosto da mãe. Estava ansioso por notícias do paradeiro do pai.

Novamente, antes de ele sair, fez um lembrete.

— A mochila, Josh. Está esquecendo a mochila.

Joshua arrastou a mochila no banco pela alça, e a colocou nas costas.

— Tchau, mamãe.

— Tchau. — Joshua soltou a porta com um baque. — Te amo — ela falou da janela, após abaixar o vidro.

— Também te amo — ele respondeu de volta, mas não olhava para trás. — Seguindo a passos largos, tentando compensar o atraso.

Enquanto Joshua caminhava, reconheceu nele o jeito de caminhar do pai. Antes de desaparecer de vista, Joshua acenou para ela uma última vez. Rosalie acenou de volta, sem ele saber que admirava nele as semelhanças com o pai.

A caminho da pousada onde é gerente, se perguntou, como em poucas horas conseguiu se encrencar tanto? Encontrar Emmett e abrir o jogo. Como fazer isso? Não era o medo de ele renegar Joshua que a preocupava. Mas, sim, com que cara olharia para ele no momento da revelação. Qual seria sua visão diante o que fez?

Sentia sintomas de ansiedade, quando chegou à pousada para trabalhar. Não eram todos os sábados que trabalhava, mas, quando isso acontecia, sempre precisava de alguém para buscar Joshua no treino de futebol.

— O que você tem? — Alice atravessou seu caminho, sorridente. Os cabelos escuros que ela nunca deixava crescer o suficiente, lhe caiando na testa. Alice era filha dos donos da pousada. Dizia trabalhar na recepção, mas, a maior parte do tempo, estava à toa.

— Ah, Alice — falou Rosalie. — Estou com um baita de um problema.

— E, assim, eu poderia saber que problema é esse?

— Preciso localizar meu primeiro namorado.

— O pai de Josh?

— Exatamente.

— Definitivamente, você tem um problema. — Alice deu um tapa amistoso no ombro dela. — Imagina só, você chegando para ele depois de tanto tempo e dizendo: você tem um filho, que logo irá completar oito anos de vida.

— Você não está ajudando — se queixou Rosalie.

— Desculpe.

Seguiram uma ao lado da outra até o salão da recepção.

— Mas você sabe onde ele está? — Alice se recostou na bancada, cutucando numa pilha de panfletos deixados ali estrategicamente.

— Não faço ideia. Não tivemos mais contato desde que terminamos.

— Você quer dizer; você terminou com ele. — Rosalie suspirou em desgosto. — Como vai fazer para encontrá-lo?

— Josh estava me fazendo à mesma pergunta agora a pouco.

— Mas, e aí?

— Vou começar pelo princípio. Os pais dele. Se ainda estiverem em Raleigh, com certeza irão me dizer onde encontrá-lo.

— Vai contar para eles sobre Josh?

— Não sem antes falar com Emmett. Não seria justo com ele.

— Escondeu dele que estava grávida. Não foi justa com ele desde o começo.

— Eu achei que você fosse minha amiga.

— Não é por estar dizendo à verdade que não sou sua amiga. Mais vale a verdade dolorosa que uma mentira aveludada.

— Por favor, não me faça me sentir pior do que já me sinto.

— Você quer mesmo que eu minta?

— Ah… por favor, não diga mais nada. — Rosalie deixou escapar um gemido de derrota, se afastando da recepção e assim de Alice também.

— Então eu não direi. Mas, por quanto tempo devo ficar sem dizer nada? Ei, psiu! Não me deixe sem resposta.

Rosalie deixou escapar mais um gemido de desgosto. Desaparecendo de uma vez da recepção.

[…]

Esme assistia ao final do treino de Joshua, da arquibancada, próximo à grade.

Joshua se despediu dos colegas e também do treinador. Foi ao banco dos reservas e pegou a garrafa de água do bolso, na lateral da mochila.

— Vovó — acenou para ela, depois de um longo gole na boca da garrafa.

A avó acenou de volta. E foi encontrá-lo no caminho.

— Já faz tempo que você chegou?

— Deu tempo de assistir o final do treino.

— Gostou de como joguei?

— Você estava ótimo, como sempre.

Os dois seguiram para o estacionamento.

Joshua tomou mais um pouco de água.

— Minha mãe te contou que vai procurar o meu pai?

Esme pensou no que disse. Nas possíveis consequências que a revelação tardia traria a vida de todos os envolvidos. Especialmente a vida de Emmett, Rosalie e Joshua.

— Ela me falou sim, querido.

Estavam dentro do carro quando Joshua voltou a falar.

— Vovó, e se o meu pai não quiser me conhecer?

— Não se preocupe com isso, Josh. Seu pai vai, sim, querer te conhecer.

— A mamãe também disse isso.

— Ela não mentiu.

Do nada, Joshua mudou de assunto.

— O vovô já chegou do jogo de minigolfe com os amigos?

— Ainda não. Seremos apenas nós dois até a hora do jantar. Sabe o que a vovó fez para nossa sobremesa do almoço?

Joshua balançou a cabeça em negativa.

— O quê? — pediu.

— Torta de mirtilo, um de seus sabores favoritos.

— Obá! — Joshua passou a língua nos lábios antevendo o sabor da torta que a avó preparava como ninguém. — O vovô vai perder essa.

— Vai mesmo, não é? — Esme achou graça. — O seu avô é um bobo.

Joshua emendou.

— Quem mandou ir almoçar com os amigos no minigolfe. Nem é tão divertido quanto jogar futebol.

Avó e neto riram juntos.

[…]

Nova York

— Gwen, eu sinto muito por ontem — Emmett se desculpava com ela por telefone.

— Pare de se desculpar homem. Chega a ser sacanagem isso. Você é tão legal que não consigo ficar com raiva por mais que algumas horas. Isso não está certo.

Emmett deu risada.

— É por isso que não quero que fique com raiva de mim. Gosto da sua companhia. E quando digo, gosto de sua companhia, não é de sexo que estou falando. É divertida e confiável.

— Assim você me quebra — ela falou num tom que parecia se divertir. — Então, essa garota por quem me chamou ontem…

— Gwen…

— Relaxe, não vou mais dar chilique.  Só queria dizer que é uma garota de sorte. Você é um cara legal pra caramba.

— Acho que ela não pensa assim. Já que foi ela quem sumiu de minha vida.

— É a garota por quem era apaixonado, não é? Na verdade, você ainda é. Se encontrasse com ela hoje, diria que foi burra em te deixar. Quem não iria querer ficar com um cara como você? Bonito, inteligente, bem-sucedido, eu mesma sou quase uma minhoca rastejante atrás de você, meu bem.

Emmett deu risada novamente, e dessa vez, Gwen o acompanhou.

— Você é maluca — comentou.

— Talvez por isso você nunca quis nada sério comigo. Minha maluquice o assusta. Gosta mesmo é das certinhas.

— Me diverte. — Ele reafirmou. — Quando não está no papel de ciumenta.

— Tem toda razão. Isso não combina com a gente.

— Acho que devemos manter nossa relação na amizade de agora em diante.

— Eu concordo, apesar de achar que vai ser difícil pra caramba ficar sem nosso sexo casual. Mas, eu meio que estou cansada dessa relação que não é uma relação.

— Sem ressentimentos? — ele arriscou.

— Sem ressentimentos. Então, o que está fazendo agora?

— Fazendo um lanche, aqui mesmo no apartamento. Pensando em sair para correr no Central Park. E com vontade de ter um cachorro.

— Boa corrida para você. E, quanto ao cachorro, compra ou adota um. Depois passo aí para te devolver a chave do apartamento. Não vou mais invadir seu espaço, agora você já pode dormir tranquilo. Não terá mais a louca a te atacar na cama.

— Me avise quando estiver vindo.

Gwen deu risada.

— Pode deixar.

O celular ficou na bancada, após a ligação ser encerrada. Emmett terminou de comer, trocou de roupas, colocou os fones nos ouvidos e saiu para se exercitar ao ar livre. Estava um dia agradável, ideal para uma caminhada.

[…]

A tarde chegava ao fim, quando Rosalie estacionou o carro em frente à casa dos pais, após um dia inteiro de trabalho, num dia que tudo o que queria era estar em casa com o filho vendo televisão. Ela entrou na casa usando a cópia das chaves que eles lhe deram há algum tempo.

— Mamãe? — chamou.

— Oi, meu bem — Esme apareceu na sala de estar. Mãe e filha se cumprimentaram com um beijo breve no rosto.

— Onde está Josh?

— Na sala de televisão. Usando meu celular para jogar.

— Não deixou que ficasse a tarde inteira no celular, não é?

— Claro que não. Ele foi superprestativo me ajudando com as plantas no jardim, depois do treino de futebol.

Rosalie seguiu com a mãe para a sala onde Joshua estava. Lembrando-se de perguntar:

— E o meu pai? Já chegou?

— Ligou agora a pouco, já está a caminho.

Rosalie sentou ao lado do filho no sofá, colocando as pernas dele no colo.

— Oi, vida.

— Oi, mamãe. — Joshua fez uma pausa no jogo para cumprimentar a mãe com um beijo. — Tenho de devolver o celular da vovó agora?

— Preciso falar com sua avó. Pode continuar jogando enquanto isso. — Aproveitou para apertá-lo no abraço. — Hummm… que cheiro bom que você está vida.

— É o novo shampoo que a vovó comprou pra mim.

— Legal. Eu vou falar com a vovó na cozinha, está bem? Você pode continuar jogando. — Deu um tapa amistoso nas pernas dele e se levantou.

Joshua voltou a deitar com a cabeça na almofada. Dedicando inteiramente a atenção à tela do celular.

Entraram na cozinha uma após a outra. Esme se adiantou colocando a cafeteira para funcionar.

— Então, o que tem para me dizer que Joshua não pode ouvir?

Rosalie pegou as xícaras no armário deixando-as na ilha. Deslizou o dedo na borda de uma delas, pensando como dizer o que faria no dia seguinte.

 — Preciso que fique com Josh de novo amanhã.

— O que está pretendendo fazer?

— Ir a Raleigh.

Esme se virou para poder olhar no rosto dela.

— Tem certeza?

— É o jeito mais fácil de encontrar o pai de meu filho, indo na casa dos pais dele. Josh não quer uma festa de aniversário, quer conhecer o pai. Não tenho muito tempo. Talvez eles ainda morem na mesma casa.

— Estou preocupada, Rose.

— Emmett não fará nada que magoe nosso filho.

— É com você que estou preocupada. Sei que ainda é apaixonada por ele. E, dependendo de como reaja à notícia, você saia magoada.

Sons de passos alertaram para aproximação de alguém.

— Olha só, se não são as mulheres de minha vida confabulando na cozinha. — Carlisle sorriu indo cumprimentar a filha com um beijo no rosto.

— Como foi no minigolfe? — Rosalie perguntou.

— Fiz uma excelente pontuação — contou orgulhoso.

— Josh não gostou muito de ser trocado pelo minigolfe.

— Já me desculpei com ele na sala. — Ele foi cumprimentar Esme com um beijo.

— Aceita um café, querido? Estou acabando de passar — Esme esclareceu.

— Eu vou aceitar, sim. Obrigado.

Rosalie foi pegar outra xícara no armário para o café do pai.

— Então, do que estavam falando?

— Rose vai a Raleigh falar com os pais de Emmett.

O olhar de Carlisle alcançou o de Rosalie, avaliando sua reação.

Esme serviu as xícaras com o café fresquinho, e cada um tomou posse da sua.

— Eles são os únicos que podem me dizer onde encontrá-lo, me poupando tempo e aflição.

— Está fazendo a coisa certa filha. — Carlisle aprovou. — Emmett e Joshua tem todo o direito de conhecerem. Quanto mais demorar em promover esse encontro, pior será para todos.

 — Eu sei… Ver Josh com esse desejo crescendo dentro dele e não fazer nada, não está dando para mim. Em especial, pelo pai dele ser uma boa pessoa. O único problema, é que me sinto amedrontada.

— É compreensível. — Carlisle tomou um gole do café. — Se precisar de mim para alguma coisa, é só falar. — Terminou o café, deixando a xícara na ilha. — Vou até lá ficar um pouco com meu neto.

— Faça isso — lembrou Esme. — Ele estava se sentindo abandonado por você hoje.

— Vou dar um jeito de compensá-lo.

Não levou muito tempo, ouviram a voz de Joshua.

— Vovô, vem ver que legal que é esse jogo.

— Claro, me deixe ver — o avô se mostrou interessado, o que deixou Joshua bastante satisfeito.

Rosalie imaginou os dois, com os olhos vidrados na tela, apreciando um joguinho no celular.

Esme a tirou dos devaneios.

— Então, vai mesmo amanhã?

— O aniversário de Josh está chegando. Se é a presença do pai que deseja, é isso que ele vai ter.

— Eu o busco ou você o traz até aqui?

— Eu trago.

— A que horas pretende ir?

— Cedo. Não pretendo passar a noite lá.

— Fica para jantar com a gente hoje?

— Acho que vou aceitar.

— Ótimo! Adoramos quando você e Josh ficam para jantar.

— Deixe que te ajudo.

— Não está cansada?

— Estou bem. Vai me fazer relaxar.

[…]

— Josh — Rosalie o chamou, pouco depois do jantar.

— Estou aqui mamãe, assistindo televisão com o vovô.

Rosalie foi até lá. Tinha deixado tudo em ordem na cozinha da mãe logo que terminaram de jantar.

— Preciso falar com você filho.

Joshua olhou dela para o avô ao seu lado.

— O vovô pode ouvir nossa conversa? — pediu.

— Claro, não vejo problema algum. — Ela foi se sentar com eles no sofá. Passou o braço em volta dos ombros de Joshua, beijando o alto de sua cabeça loura. — O que estão assistindo? — Olhou na tela da televisão ao perguntar.

— Um documentário sobre a vida marinha. Está nos comerciais agora — Joshua esclareceu.

— Não sabia que gostava desse tipo de programação.

Joshua se esticou para falar ao pé do ouvido dela.

— Eu não gosto. Mas o vovô, sim.

— Então só está assistindo para fazer companhia a seu avô?

— Mamãe — Joshua a repreendeu.

Rosalie levou a mão à boca, sabendo que havia falado demais.

— Desculpe.

Carlisle disfarçou uma risada, tentando não demonstrar que ouvia a tudo que diziam.

— Amanhã terei de ir a Raleigh — ela contou a Joshua. — Você terá de ficar com a vovó e o vovô.

— O que vai fazer lá? E por que não posso ir junto?

— A mamãe precisa resolver alguns assuntos. É melhor que fique aqui com seus avós. Vai se divertir com eles. Eles te mimam mais do que mimaram a mim e a meu irmão a vida inteira.

— Quando o tio Jasper vai vir?

— Ele virá no seu aniversário. Ele já confirmou.

— Eu não quero uma festa de aniversário. Quero conhecer o meu pai.

— Eu sei que quer isso. E eu vou fazer o possível para acontecer.

— E o impossível também — Joshua a encurralou.

Carlisle tentou tirar a filha do sufoco, buscando a atenção de Joshua para outro assunto.

— Posso te levar ao minigolfe amanhã. Ou jogar futebol. O que você preferir.

Joshua deu um sorrisinho.

— Você joga muito mal o futebol vovô.

Então foi a vez do próprio avô e a mãe rirem.

— Você tem razão — aceitou Carlisle, bagunçando de forma divertida os cabelos do neto.

Joshua olhou sério no rosto da mãe.

— Amanhã terei muito trabalho pela frente.

Rosalie tornou a rir.

— Seja paciente com o seu avô. Ele já é velhinho.

— Não sou tão velho assim — Carlisle se queixou. — Nem mesmo tenho cabelos brancos.

Joshua e Rosalie riram juntos.

— Vovô, você pinta os cabelos?

— É claro que não — o avô se fez de ofendido.

— O que está acontecendo? — Esme foi entrando na sala onde estavam enquanto perguntava.

— Esses dois aqui — respondeu Carlisle. — Insinuando que pinto os cabelos para esconder os fios brancos. Omitindo minha real idade quando sou questionado.

— E se eles estiverem certos?

— Isto é um complô agora?

Enquanto os três se esforçavam em não rir, Joshua perguntou:

— Mamãe, o que é um complô?

— É quando duas ou mais pessoas tramam secretamente uma ação. Quando elas se juntam contra alguém ou uma autoridade.

— Entendi.

Pouco tempo depois, Esme entrou em outro assunto.

— Por que não deixa Josh dormir aqui hoje? Assim ele não terá de acordar cedo amanhã.

Rosalie buscou a atenção do filho.

— Você quer dormir com a vovó e o vovô hoje, Josh?

— Quero dormir em casa. Quero ficar com você. Já vou ficar com a vovó e o vovô amanhã o dia inteirinho.

— Tudo bem. Vá pegar sua mochila então que a gente já vai.

O menino saltou do sofá.

— Vovó, não fique triste. Eu vou voltar amanhã. Você vai até enjoar de mim.

— Claro que não estou triste. E muito menos vou enjoar de você, querido. Vovó te ama.

Assim que Joshua saiu da sala, Esme comentou com a filha.

— Ele detesta ficar sem você.

— E eu sem ele.

Joshua retornou com a mochila nas costas e a chuteira na mão.

— Pronto, mamãe. Já podemos ir.

Rosalie se levantou.

— Por que não deixa as chuteiras? Vai precisar delas para jogar futebol amanhã com seu avô.

— É mesmo.

Joshua fez menção de deixar as chuteiras na lavanderia, mas, Esme não deixou que voltasse lá.

— Pode deixar aí mesmo Josh. Depois vovó leva para você.

Joshua deixou o par de chuteiras ao lado da porta.

— Obrigado, vovó.

— Se despeça dos seus avós — Rosalie pediu.

O menino abraçou um por vez, depois seguiu a mãe pela porta de saída.

[…]

Mais tarde, após colocar Joshua na cama, Rosalie voltou vasculhar a caixa de recordações. Encontrou a fotografia de Emmett, na época do ensino médio. Uma fotografia apenas de busto, onde ele vestia a camisa do time de futebol americano no qual fez parte.

Guardou a caixinha, levando a fotografia com ela para a cama. A saudade que sentiu daquela época foi dolorosa. O grande desejo de Joshua em conhecer o pai no oitavo aniversário estava trazendo de volta todo seu passado.

Fechando os olhos, quase pôde sentir os braços de Emmett a envolver seu corpo uma vez mais. Desejou poder sentir seu perfume. Os anos, afastados, deixou entre eles uma ponte, restava a ela a coragem para cruzá-la.

Vagando pelas lembranças, sentiu a mão de Joshua tocar seu braço. Sua voz infantil chamando para voltar à realidade.

— Mamãe? Mamãe?

Os olhos dela se abriram, deixando de enxergar o garoto a quem sempre amou para olhar no rosto do filho que tiveram juntos. Foi reconfortante ter Joshua ao seu lado.

— Você não estava dormindo, rapazinho?

— Acordei com outro sonho ruim. Posso ficar aqui com você?

— Pode, sim.

— De quem é essa fotografia? — Ele mostrou a fotografia que a mãe segurava junto ao peito, a imagem virada para baixo.

— Ah… — murmurou meio sem saber o que fazer. — É uma fotografia antiga.

— Eu posso ver?

Rosalie hesitou um instante. Mas acabou entregando a fotografia a Joshua, de toda forma. Era o certo a se fazer.

— Quem é ele? — Joshua segurou a fotografia do pai sem fazer ideia de quem ele era.

— Vem cá, pertinho da mamãe. — Ela deu um tapa no colchão instruindo Joshua a ficar ao seu lado. Suas cabeças ficaram juntinhas enquanto olhavam a fotografia. Os cabelos no mesmo tom de louro. — Reconhece algo no rosto dele? — tentou, atenta a expressão no rosto do filho.

Após uma minuciosa análise, Joshua arriscou.

— Os olhos dele, são iguais aos meus. — Então virou o rosto para olhar no rosto da mãe. Os olhares se encontraram, bem de pertinho. — Por que, mamãe?

— Porque ele é o seu pai, Josh.

O menino não demonstrou reação. Somente olhava no rosto da mãe.

— Josh? — pediu ela, ficando preocupada.

Então, ele piscou. Rosalie viu lágrimas se acumularem em seus lindos olhos azuis. Mas ele não chorou, em vez disso, fez um pedido.

— Posso ficar com ela?

— Pode. É toda sua.

— Onde estava? Por que não vi antes?

— Estava sumida — mentiu. — Encontrei arrumando umas coisas no meu armário. Agora ela é sua. — Ela beijou na ponta do nariz dele.

— Agora eu sei como é o rosto do meu pai.

— É uma foto antiga, filho. Hoje em dia, ele deve estar um pouco diferente.

— Não importa. A cor dos olhos dele ainda é a mesma.

— Com certeza é a mesma.

— Eu tenho a cor dos olhos do meu pai. E a cor dos seus cabelos, mamãe.

— Sim, mas isso você já sabia. Sempre te falei que tinha um pouquinho de nós dois.

Joshua beijou a imagem do pai na fotografia.

— Em breve vou poder beijar no rosto dele de verdade — murmurou cheio de esperança.

As palavras de Joshua pesaram no coração de Rosalie. Reavivando a culpa de tê-lo só para si durante todo esse tempo.

— Obrigado, mamãe.

— Por que está me agradecendo filho?

— Por me deixar ficar com a foto do meu pai.

— Não precisa me agradecer por isso. Você tinha todo o direito de ficar com ela.

Ambos ficaram por algum tempo observando a imagem de Emmett na fotografia. Na época, formavam um casal cheio de sonhos. Não faziam ideia de que pouco tempo depois, uma decisão os levaria para longe um do outro.

Rosalie se pegou revivendo o passado por meio de lembranças. E Joshua, imaginando o futuro. Se perguntando como seria.

Joshua acabou dormindo com a fotografia do pai nas mãos. Rosalie a recolheu com cuidado para não danificá-la, ou mesmo acordá-lo. Deixou na mesinha de cabeceira onde Joshua poderia pegar de volta assim que acordasse pela manhã. O cobriu com seu cobertor. E, finalmente, apagou a luz.

Não tinha certeza se conseguiria dormir. Prestes a buscar informações do paradeiro do pai de Joshua, a ansiedade estava consumindo-a pouco a pouco. Tentar era o que restava.

 


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