Naruto, mais do que qualquer um, merecia toda a felicidade que uma família podia oferecer. Talvez por isso o dia de seu casamento estivesse tão perfeito.

A cerimônia havia se iniciado ao pôr do sol, e Sasuke devia admitir que mesmo não sendo um romântico, tudo ocorrera graciosamente.

No templo escolhido para a realização  do evento tudo havia sido preparado da forma mais delicada, flores de lavanda e jasmim ornavam o local, havia um lindo jardim que tinha sido decorado com pequenas lanternas e os demais ornamentos para receber os convidados após a cerimônia formal. Como amigo do noivo ele, assim como Kakashi estavam próximos ao altar, Sakura havia determinado que eles ficariam ali, representando a família dele, ela no entanto ainda não havia chegado. No lado do noivo haviam muitas pessoas, todos amigos que o Uzumaki fizera durante aquela jornada, todos felizes e ansiosos pelo loiro. Alguns ilustres como o próprio Kazekage, Gaara, e o irmão do Raikage, Killer Bee, além de alguns rostos estranhos para o moreno. Do outro lado do cômodo o contraste entre os convidados dos noivos se mostrava evidente, a maior parte era composta por integrantes do clã Hyuuga, e alguns dos amigos da noiva salpicavam os assentos, como a morena de coques, o esquisito dos insetos e o Inuzuka. 

Apesar da evidente diferença, no entanto, havia uma aura de felicidade ao redor de todos. Mesmo ele se sentia muito feliz pelo amigo, por isso havia decidido estar ali, naquela ocasião tão especial para Naruto. O loiro havia espalhado o convite por cada posto de informações ao alcance. Então quando Sasuke soube da ocasião ele decidiu que poderia fazer uma visita a Konoha e estar presente naquele momento que era tão especial para o Uzumaki, mesmo chegando quase atrasado, havia menos de um dia que estava ali.

Naruto estava mais a frente, trajando um Haori e Hakama preto, o kimono abaixo do haori era naquele  laranja gritante característico dele. Mais cedo ele havia reclamado que Sakura não havia permitido que ele usasse o traje completo na cor alaranjada, ameaçando os futuros filhos dele se o loiro ousasse vestir um, e apenas permitiu o kimono. Ela também havia providenciado as roupas que Sasuke usava, um Kimono azul marinho com o símbolo de seu clã bordado as costas, e uma Hakama preta, Naruto havia dito que ela nunca duvidou que o Uchiha viria para o casamento de seu melhor amigo, e havia preparado tudo. 

Por mais que não quisesse admitir, ele havia ficado ansioso com a ideia de reencontrá-la depois da última despedida, onde ela havia se oferecido para lhe acompanhar, e ele havia negado. Sasuke sempre soube que sentia algo por Sakura, mas desde cedo havia enterrado aquele sentimento sob muito ódio, raiva e vingança. Ela não merecia um amor tão manchado. Então ele precisaria primeiro encontrar seu caminho, arrumar aquela bagunça dentro dele para então ser digno do amor dela. E depois de dois anos ele podia ver com muita clareza aquele sentimento. Tanta clareza que ele havia ficado incomodado com o fato de ela não ter lhe dado atenção desde que havia chegado, mas entendia que ela estava ocupada com toda a organização do casamento, e ele tinha que admitir que sorriu ao ver que as roupas que ela havia preparado para ele lhe serviam perfeitamente, ela ainda lhe conhecia e se importava.

O noivo lá na frente, estava completamente inquieto, ansioso e hiperativo como sempre, parecia não se conter, e Sasuke quase riu, Kakashi ao lado dele estava entretido com um exemplar de sua coleção infame. Aquela familiaridade era reconfortante.

—Será que aconteceu alguma coisa? - questionou Naruto pela enésima vez.

—Hinata deve ter mudado de ideia - Sasuke ironizou revirando os olhos, ciente de que era mais fácil o inferno congelar do que a Hyuuga desistir do loiro.

—O que!? - ele esbravejou de repente desesperado, e dessa vez o moreno quase não conseguiu prender o riso.

—Naruto baka! - todos ouviram o grito da entrada do templo, a voz de Sakura estrondosa repreendendo o loiro - É o seu casamento, se comporte que Hinata está vindo! - ela continuou.

Sasuke não se conteve para esperar ver a Haruno, e se virou para acompanhar a visão dela vindo até eles, e ele quase perdeu o ar. Ela estava tão linda… 

Usava um furisode de um verde suave, a barra e as longas mangas bordadas com folhas em um tom mais escuro de verde, o obi em sua cintura era rosa, e ela parecia ter saído de uma pintura. Os cabelos curtos estavam soltos e apenas uma mexa havia sido puxada para trás presa por um pente dourado e branco em forma de flor de ameixa, e apesar da irritação, ela carregava um brilho de felicidade nos olhos direcionados ao amigo no altar. Quando ela direcionou o olhar ao moreno corou suavemente, e lhe sorriu com os lábios carnudos pintados em um rosa forte. 

—Sakura-chan onde está a Hina-chan! Eu vou florescer se continuar plantado aqui! - choramingou.

—Ela já vem Naruto - ela disse delicada e suave dessa vez, passando do local onde Sasuke e Kakashi estavam e indo direto a Naruto, arrumando os amarrotados das roupas dele - agora fique quieto no seu lugar para recebê-la.

O loiro apenas assentiu e ela se direcionou ao local onde era esperada. Kakashi fechou o livreto o escondendo entre as dobras do Kimono e sorriu por debaixo da máscara de forma nostálgica.

—Kakashi-sensei, Sasuke-kun - ela cumprimentou a ambos - vocês estão ótimos - ela sorriu ainda mais.

—Só por que você cuidou para que estivessemos - Kakashi disse - mas você minha cara, está muito bonita.

—Obrigado sensei - ela corou agradecida e se posicionou entre os dois.

A presença dela parecia queimar na pele do moreno, e ele gostava daquele calor, gostava tanto que queria mais. Queria saber como seria passar os braços ao redor dela, sentir como seria por o nariz na curva de seu pescoço fino e sentir aquele cheiro que mesmo a distância em que estavam, provocava sensações estranhas a ele. Ela parecia nervosa ao seu lado, a mão estava trêmula, e ele não soube se era por estar perto dele ou pela ocasião. Tremor que piorou quando o cerimonialista anunciou a chegada da noiva.

Em um ímpeto que ele não soube de onde veio, tomou a mão dela que estava próxima a ele e em seguida encontrou seus olhos um pouco arregalados. Ele se deleitou com a visão dela tão próxima, daqueles olhos que eram como uma lago secreto e cristalino, paradisíaco, e então sussurrou:

—Vai dar tudo certo - ela soltou o ar e assentiu.

Todos olharam para a entrada do templo, Naruto parecia um bobo com um sorriso de orelha a orelha, felicidade pura reluzindo em seus olhos. Ino, trocando um olhar com Sakura, deu uma última alisada no tomesode que Hinata usava, muito ricamente trabalhado, o azul suave do tecido bordado com muitas flores em roxo, o obi laranja com certeza tinha seu significado, e estranhamente ornou perfeitamente a vestimenta. A Hyuuga entrou, o cabelo preso e ornamentado com  pentes e presilhas, o leque que ela segurava a frente do rosto até a altura do nariz não escondia a felicidade em seus olhos enquanto ela caminhava até Naruto.

A cerimônia foi linda e emocionante, o Uchiha tinha de admitir. Enquanto o ancião do templo proferia as palavras de compromisso e significado os olhos dos noivos jamais se afastaram. Como ditava a tradição eles se curvaram três vezes, uma para a terra e para o céu, uma para os ancestrais, e uma vez um para o outro, servindo em seguida o vinho cerimonial, trocado entre eles oficializando a união. Como de costume Naruto burlou as regras e ao estar em frente a, agora esposa, depositou um casto beijo em sua bochecha, arrancando suspiros dos convidados e um soluço de Sakura. Curiosamente, a mão de Sasuke nunca deixou a dela até o fim da cerimônia. 

Todos saudaram felizes, e a festa se desenrolou noite adentro. No jardim as mesas baixas dispostas sobre tapetes e almofadas estavam carregadas de comidas e bebidas, todos circulavam pelo local cumprimentando os noivos e velhos conhecidos. Mesmo Sasuke trocou uma ou duas palavras com alguns dos antigos companheiros da vila. Mas em momento algum ele tirou os olhos dela. Sakura andou por todo o jardim sempre sorridente e alegre. Já havia um tempo, ela ocupava uma das mesas junto a Godaime e Ino, ambas trajando Yukatas floridas, e bebiam como Sasuke nunca achou ser possível para alguém aguentar. Ino já tinha cedido e dormia sob as almofadas, mas a Senju e Sakura riam enquanto continuavam a entornar garrafas de Sake.

—Baa-chan, Sakura-chan! Vocês vão acabar sozinhas com toda a bebida da festa! - reclamou Naruto se aproximando.

—Naruto seu pivete! Não me chame de vovó! - esbravejou a mais velha, a voz bêbada proferia palavras que se atropelavam.

—Não se preocupe Naruto, o presente de casamento que a shishou vai abastecer a taça de todos - Sakura riu, ela estranhamente não parecia alcoolizada, feito incrível para a quantidade de álcool que ele já havia visto ela consumir.

—Sua velha! Seu presente vai ser todo gasto com você mesma! - riu Naruto 

Pouco tempo depois Tsunade se juntou a Ino e Sakura sorrindo se afastou, adentrando os jardins mais profundamente, e como um imã Sasuke a seguiu. A noite era escura e ele tinha suspeitas de que já era madrugada, o céu estava salpicado de estrelas, e os convidados, como também os noivos não pareciam cansados de comemorar.

Sasuke viu Sakura parar próximo a um banco à beira de um lago, e se sentar, pensou em observá-la de longe mas decidiu se aproximar. Ela descansou o queixo na mão e tinha os olhos fechados, talvez tivesse finalmente ficado bêbada e estar ali poderia ser perigoso.

—Eu não estou bêbada Sasuke-kun - ela falou ainda de olhos fechados quando ele estava a menos de um metro dela. 

—Você demorou a me perceber - ele comentou - a essa distância poderia ser facilmente assassinada. - ele quis se justificar.

Ela sorriu enquanto falava - só você pra pensar nisso em um casamento - então abriu os olhos - Eu soube da sua presença assim que começou a me seguir - ela esclareceu - e de fato, eu não fico bêbada facilmente, eu fiz pra mim algumas pílulas fortificantes que não deixam eu perder a sobriedade, mas o álcool deixa meus sentidos ninjas bem prejudicados. Ainda sim eu jamais deixaria de reconhecer seu cheiro. - a última parte ela falou quase em sussurro, fugindo do olhar dele.

Ele não soube o que dizer, embora tivesse muito a falar. Havia passado os últimos dois anos solitário e em silêncio a maior parte, sem grandes diálogos, às vezes as palavras lhe faltavam. Ele queria poder dizer a ela que também sentia o perfume dela quando estavam no mesmo ambiente, e que mesmo depois ainda permanecia lhe assombrando. Mas as palavra às vezes eram muito vazias e ele preferia outras formas de demonstrar o que sentia. Ela se levantou para voltar a festa mas ele segurou seu pulso. O simples toque entre as peles aquecia seu coração com uma chama que ele desconhecia.

Ela voltou seus olhos pra ele surpresa, e parou. Sasuke se aproximou mais dela, evidenciando a diferença de altura entre eles, o topo de sua cabeça batia do queixo do moreno. Ela ergueu um pouco o queixo e ele abaixou olhar para o dela, os olhos presos um no outro, as respirações se mesclando. Sasuke abaixou ainda mais a cabeça, até realizar aquele desejo que queimava dentro de si, encostando a ponta do nariz na pele nua do pescoço de Sakura. Ela arfou e ele passou o seu único braço ao redor da cintura dela, trazendo-a para si, sem resistência alguma. O cheiro dela, ali sob a pele era ainda mais inebriante, uma mistura de flores cítricas e hortelã, a pele quente e suave ao toque.

—Sasuke - sussurrou, a voz meio rouca.

O moreno fez o caminho de seu pescoço ao seu rosto, observando a expressão de Sakura, as pálpebras estavam baixas, a boca entreaberta, as bochechas coradas. Ela levou a mão ao rosto dele trazendo o moreno mais pra perto até os narizes se tocarem, e pela primeira vez Sasuke se amaldiçoou por não ter o outro braço, queria tocá-la mais, queria ela mais perto…

Antes que ele pudesse findar a distância entre seus lábios ele lhe olhou nos olhos, aqueles olhos transparentes. Ela não queria nada dele, e nem se importava se ele só tinha um braço. tudo que Sakura queria, como sempre, era apenas ele. Ela sempre havia apenas amado ele, com defeitos e todo o resto. Não era certo, ele sabia, ele não era certo para ela. Não era certo ele toma-la assim sem certeza de futuro algum, afinal ele poderia ir embora a qualquer hora. Mas não conseguia pensar direito com ela lhe olhando com aqueles olhos embebidos no desejo que ele também sentia. 

Era um caminho sem volta, ele percebeu assim que os lábios se tocaram. Ele jamais se cansaria daquilo. Os lábios macios dela acariciavam os seus com fome e paixão, ele a trouxe ainda mais pra perto, se é que era possível, se deliciando com a boca macia com gosto de álcool. O beijo era suave, e cheio de paixão, Sakura segurava a nuca de Sasuke com uma mão e com a outra puxava seus cabelos, e quando precisaram se separar por falta de ar, a dor foi quase física.

Ele olhou pra ela, ofegante assim como ele, e sem esperar muito Sasuke a puxou pra si novamente. Sakura estava perdida com a sensação da boca dele sobre a dela, mal percebeu quando o chão lhe faltou e quando deu por si estava de novo no banco, agora sentada no colo dele. Sem a necessidade de ter que se concentrar em ficar de pé, o Uchiha abraçou a rosada com mais firmeza, ele queria extinguir todo o espaço entre eles, que por tanto tempo fora tanto, ele ficava louco ao sentir as mãos dela lhe puxando os cabelos, acariciando o lóbulo de sua orelha, a língua dela dançando com a sua. Sasuke nunca pode imaginar que alguém pudesse lhe despertar tais sensações, e ele queria mais. Deixou seus lábios com um suspiro sôfrego, e resolveu explorar o pescoço dela, distribuiu beijos pela pele nua e Sakura jogou a cabeça para o lado oposto dando total liberdade ao moreno. Sasuke não se conteve e gemeu quando a pequena dor lhe atingiu ao sentir Sakura lhe morder a orelha, e cravar as unhas em suas costas sobre o Kimono. Ele teve ódio das camadas de tecido do furisode dela e de seu próprio kimono, ele queria mais da pele dela, e ela parecia compartilhar dos pensamentos dele.

—Sasuke me leve pra casa - ela pediu, e ele sabia o que aquilo significava.

Ele se levantou e sem que Sakura soubesse como ele a tinha colocado em suas costas. As pernas dela agarradas a cintura dele, os braços ao redor do pescoço, ela não precisou pedir de novo e ele já estava correndo pelos telhados da vila com ela nas costas.

—O prédio vermelho no centro - ela apontou a construção ao longe - último andar, a varanda com flores.

Ele ouviu atentamente e logo identificou o prédio, seguindo em sua direção. Quase tropeçou ao sentir a pequena mordida no lóbulo da orelha novamente - Sakura, desse jeito nós vamos cair - sua voz saiu divertida e rouca.

—Eu não pude resistir - riu.

Ele avistou a varanda repleta de vasos com pequenas flores e pousou suavemente. Ela desceu de suas costa e apenas empurrou a porta que estava destrancada, abrindo o cômodo e adentrando em seguida, jogou as sandálias em algum lugar e assim que se virou encontrou os lábios de Sasuke já prontos para os seus, lhe roubando um beijo afoito. Tudo aquilo era tão novo pra eles, e tudo o que queriam era estar tão próximos quanto possível, como se aquilo fosse necessário para viver. Sasuke tateou o tronco de Sakura até encontrar o obi do furisode dela se livrando dele em seguida, Sakura apenas sentiu enquanto as três camadas de tecido deslizavam por seus ombros e eram jogadas longe enquanto ela própria se livrava do kimono de Sasuke. 

Quando ela sentiu a pele das costas repousar sobre a cama tudo o que lhe cobria era a roupa íntima, enquanto Sasuke permanecia apenas com a hakama, o abdômen nu revelando os músculos sob a pele alva.

Sasuke deitou Sakura sobre a cama e permaneceu de pé admirando as curvas sinuosas dela. Seu corpo pequeno e magro escondia segredos pecaminosos, a cintura era fina, os seios pequenos, perfeitos, o pescoço longo. As pernas eram uma perdição, torneadas e fortes pelos anos de treinamento árduo, os quadris largos. Ela era perfeita, seus olhos verdes estavam afogados em desejo e paixão, a boca carnuda estava inchada e avermelhada, assim como ele, a rosada devorava sua imagem é a ausência do braço não parecia lhe incomodar de forma alguma. Sasuke desceu sobre ela suave como um felino, capturou seus lábios mais uma vez, e então se dedicou a pele dela, quente, de perfume inebriante, e se perguntou se era possível se cansar daquilo. Beijou o pescoço, desceu para o colo e os ombros, a pele em chamas onde se encontrava com a dela, que também se deleitava com ele, enrolando suas pernas ao redor da cintura do moreno, cravando suas unhas em sua pele, lhe beijando onde alcançava. Ele queria mais. Ela queria mais.

Mas não podia ser irresponsável quanto àquilo.

—Sakura - ele falou com a voz rouca, e ela protestou quando seus lábios se separaram. Ele tirou uma mecha de cabelo rosado de seu rosto, e olhou diretamente em seus olhos quando falou - Você quer isso? - ele olhou bem nos olhos dela, as diversas perguntas implícitas naquela, tomando seu olhar. Você quer isso mesmo depois de tudo? Você quer isso mesmo se eu for embora de novo? Você quer isso mesmo eu não merecendo? Você me quer?...

De alguma forma ele sabia que ela lhe entendia, tudo aquilo que seus olhos escuros confessavam aos dela. Quando Sakura pousou suas mão dos dois lados do rosto dele, acariciando sua pele com o polegar Sasuke apenas fechou os olhos gemendo lentamente diante do carinho.

—Eu quero. - ela sussurrou - Eu amo você. E não me importa se isso é só por hoje ou não, eu quero aproveitar cada segundo ao seu lado Sasuke, por que eu amo você, eu sempre amei. É minha escolha e eu vou arcar com as consequências.

Ele abriu os olhos e por um tempo tudo o que ele viu foi ela, que tanto lhe amava. Ele queria poder dizer aquelas palavras pra ela, mas elas pareciam não sair.

—Você não precisa me dizer nada - sorriu - apenas me olhe assim. Apenas olhe pra mim e eu vou saber.

Ele sempre soube que ela conseguia ler seus olhos, ela parecia entender as palavras que boiavam na superfície das piscinas negras dele. 

E ele amava ela. 

E queria que ela soubesse. Então deixou aquilo nítido quando lhe encarou e acariciou seu rosto lindo. Ela sorriu, feliz e reluzente como uma estrela. E assentiu, uma lágrima solitária escorreu de seus olhos, e Sasuke a enxugou com um beijo, traçando uma trilha ardente até a boca dela.

O resto do tecido que separava seus corpos foi tirado do caminho e Sasuke beijou cada centímetro do corpo dela. E quando eles se uniram no encaixe perfeito, como se fossem duas partes do mesmo ser, ele a beijou pra afastar a dor. Eles se amaram apaixonadamente até a exaustão. E Sasuke adormeceu ao lado dela, o braço ao redor de sua cintura, as pernas entrelaçadas. E foi a melhor noite de sono que ele teve desde a infância.

&

Quando chegou aquela noite no hospital para deixar Sarada pra dormir, assim que atravessou as portas soube que havia algo acontecendo. Um certo burburinho preenchia o local.

Ino esperava por eles. Sua expressão era estranha, parecia feliz e tensa.

—Boa noite Sarada-chan! - cumprimentou a loira

—Boa noite Ino-san. É uma surpresa ver você aqui a essa hora. - observou a mais nova.

De fato, as vezes que Sasuke esbarrava com a loira pelo hospital era quando fazia visitas durante o dia. Se ela estava ali era possível que algo tivesse mudado no estado de saúde de Sakura? O moreno se empertigou, queria perguntar diretamente mas com Sarada próxima, e dependendo da resposta da loira talvez não fosse uma boa ideia. Felizmente, ele não precisou perguntar.

—Bem observado pequeno leque - Sasuke franziu o cenho diante do apelido que a loira deu a Sarada, por acaso faltava algum parafuso na cabeça da Yamanaka? - Eu estou aqui para lhe dizer que sua mãe acordou. - revelou simplesmente.

Sasuke conteve a vontade de correr até o quarto de Sakura, ele tinha que se lembrar de Sarada. A moreninha no entanto não tinha que se conter por isso após se surpreender com a notícia, disparou pelos corredores até o quarto de sua mãe.

Sasuke é claro, foi atrás, seguido de Ino. Seu coração martelava contra o peito à medida que fazia o caminho até o leito de Sakura, e isso não tinha nada a ver com as escadas. Como seria revê-la? Como seria a reação dela? Ela o odiaria tanto a ponto de não permitir mais ver Sarada? Ela lhe expulsaria do quarto aos gritos? Não importava. Ela havia passado anos lutando por ele, e se fosse preciso passaria o resto da vida tentando ter seu perdão, ou simplesmente ser esnobado por ela, desde que pudesse estar com ela e com sua filha, valeria a pena passar pelo inferno que fosse. 

Sarada saltou até a porta e abriu com a impetuosidade de uma criança. Ele desacelerou até chegar próximo a porta e ainda sem ver nada pôde escutar.

—Mamãe! - ela quase gritou.

—Floquinho! - Sasuke parou ante aquela voz. Ele pensou que nunca mais fosse escutá-la. Fechou os olhos e se apoiou na parede. Ela estava viva e aquilo nem parecia real. 

—Eu sei - ouviu Ino dizer com os olhos cheios de lágrimas e em seguida entrar no quarto.

Sasuke respirou fundo, e venceu a distância que faltava até alcançar a porta escancarada. Ele se recostou no batente e não percebeu quando um sorriso se desenhou em seus lábios ao ver a cena que se seguiu.

A moreninha marrenta que ele encontrou no vale a muitos dias atrás praticamente se desfazia em lágrimas no colo de sua mãe, lhe abraçando com toda força que tinha. Ainda na cama, sentada e com Sarada no colo Sakura também chorava, os braços finos rodeavam a pequena com todo o carinho do mundo, o queixo elegante pousado sobre as madeixas negras da moreninha. Ela não havia mudado quase nada, não envelhecera um ano sequer. Ainda sim parecia frágil e magra, o que era compreensível devido a situação em que havia sido encontrada. O cabelo curto como nunca, lhe caia lindamente, ela sorriu ainda de olhos fechados, e beijou a testa de Sarada. Separou-se da menor apenas para ver seu rosto, limpar suas lágrimas e colocar uma mecha de cabelo escuro atrás da orelha. Em um gesto que fez o coração duro de Sasuke amolecer Sarada imitou a mãe, lhe enxugando as lágrimas e brincando com a franja que caia lateralmente sobre os olhos.

Em algum lugar do quarto alguém fungou e Sasuke percebeu que além de Ino Tsunade e Naruto, que estranhamente estava quieto, também estavam presentes, é claro.

Ainda alheia a sua presença, como se tivesse olhos apenas para a criança a sua frente, Sakura perguntou:

—Você está bem Sarada-chan? - a voz rouca e chorosa - nenhum arranhão? - a mais nova apenas negou balançando a cabeça. - Você se afastou bastante da rota original né sapequinha? - ela brincou dando um peteleco no narizinho.

—Desculpe mamãe - ela chorou de novo dengosa 

— Tudo bem meu amor. Você está aqui, e está bem, é tudo o que importa. - ela voltou a abraçar a criança.

Sasuke limpou rapidamente a lágrima que escorreu de seu olho, assim que a sentiu se formar. Aquelas duas, ele sentiu o coração inchar, e se encher de tanto amor por elas que não sabia ser capaz de se sentir assim.

Elas se separaram novamente, e pela primeira vez em muito tempo, Sasuke tremeu. Os olhos de Sakura se voltaram para ele, ela não tinha nenhuma expressão em seu rosto, os olhos grandes e verdes dela, como duas joias infinitas e profundas. Sasuke estava errado. Ela havia envelhecido muito mais do que os oito anos que se passaram. Seu olhar era de alguém cansado e cheio de cicatrizes, e dores. E aquilo doeu. 

—Olá Sasuke-kun - ela disse apenas, um sorriso tão sincero quanto de costume emoldurava sua boca linda. 

Ele definitivamente não esperava por isso.