Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 15
Abandono


Notas iniciais do capítulo

Voltei gente, desculpe a demora.
Capítulo menos do que o costume mas cheio de importância. Boa leitura e me perdoem os eventuais erros ortográficos.



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— Sasuke-kun? 

 

Ao ouvir seu nome Sasuke desviou os olhos dos tomates que cortava, as oito partes idênticas de cada uma das frutas se amontoando no prato ao lado para se tornar seu jantar, e olhou para Sakura, ela estava sentada no chão da sala, em posição de lótus e rodeada por pergaminhos, folhas com estatísticas e todo seu material de trabalho, já que para ela apenas passar o dia no hospital não era o suficiente.

 

— Hun?

 

— Diga, você já andou por muitas nações diferentes, e eu conversei com o sensei sobre levar o programa de tratamento psicológico infantil para as outras vilas, pelo menos as da aliança agora. Estamos estudando as possibilidades, mas como alguém que já andou por muitos lugares, qual das cinco grande nações você acha que pode ser mais acessível? Com exceção de Suna é claro, já falei com Gaara e vou pra lá realizar a implantação em breve. - 

 

Gaara? Desde quando se tratavam tão informalmente?

 

Ela olhou para ele piscando seus grandes olhos verdes, uma expressão interrogativa enfeitava seu rosto - Kirigakure - respondeu.

 

Um vinco se formou entre as sobrancelhas cor de rosa - Kiri? Sério? - ela engatinhou pelo chão e Sasuke tremeu a mão no cabo da faca ao observar o movimento. No auge do outono em Konoha, ela vestia um shorts preto curto e uma regata, as longas pernas se dobraram e a curva que sua coluna fez foi felina, os dedos longos se esticando para alcançar a folha distante, uma fio de suor desceu pela testa do moreno. Sasuke tinha a impressão de que sua fase de adolescente cheio de hormônios não havia passado, apenas sido adiada, as vezes simplesmente olhar para Sakura era luxuriante. 

 

Ela se levantou, as pernas poderosas sustentando seu peso de músculo magro talhados com anos de treinamento, e andou até ele - Se bem que, a Mizukage realmente parece ser bem menos assustadora do que eu imaginava, e ela vem tentando mudar a imagem da aldeia certo?

 

Ele assentiu quando ela desviou seu sorriso e olhos cristalinos para Sasuke, mostrando a folha que tinha nas mãos. A única coisa legível era o nome água, uma sequência de rabiscos e formas que ele imaginou serem números seguiam na página, o sorriso de canto surgiu involuntariamente - Eu não entendo.

 

Ela franziu o cenho e voltou a página pra si mesma, as bochechas tomando uma coloração avermelhada e o moreno quase riu do misto de raiva e vergonha que ficou estampada em sua face. Sakura era um clichê de médica com letra ilegível, e sempre se irritava quando alguém lhe apontava o defeito, ele havia visto acontecer com Naruto, que ganhou um bom soco, com uma enfermeira no hospital, que tremeu diante do olhar pedregoso dela, e até Kakashi havia reclamado dos relatórios ilegíveis - Isso não tem graça - antes de se virar e sair ela roubou um de seus tomates e riu travessa - Isso é por zombar da minha letra.

 

Ela se virou com a intenção de voltar para seus papéis, rápido demais, e não flagrou o olhar sardônico de Sasuke. No instante seguinte ela estava com as costas grudadas na parede da sala, olhos arregalados, lábios entreabertos, um sorriso mínimo se desenhava no canto da boca de Sasuke quando ele sustentou seu olhar e em seguida capturou seus lábios, ainda com gosto do tomate surrupiado.

 

Depois de alguns segundos de surpresa Sakura se juntou ao beijo carinhoso, passando os braços pelo pescoço do Uchiha e trazendo seu corpo mais pra perto, o único braço dele lhe enlaçou a cintura. O beijo terminou com um estalo e Sasuke carinhosamente beijou o canto da boca, a bochecha e o topo da testa dela - Não me provoque Sakura.

 

A risada manhosa que saiu dos lábios cor de rosa encheu os ouvidos do moreno como um som vindo direto do paraíso, ele se afastou e voltou ao seus tomates, abandonando a faca e se deliciando com as tiras da fruta. Sakura lhe olhou primeiro indignada, e em seguida com uma expressão maliciosa. Ela se virou e andou até sumir no corredor, Sasuke sorriu internamente.

 

Nem um minuto se passou quando seu olhar afiado capturou a primeira peça voando até alcançar o piso da sala, confuso ele olhou para o tecido escuro do shorts que a pouco vestia Sakura. Antes mesmo de desviar o olhar da roupa, outra se juntou a ela, a regata. Ele largou o tomate e deu a volta no balcão, confusão e expectativa borbulhando em seu estômago, antes de chegar ao corredor o sutiã caiu ao seus pés, a peça simples, marfim logo ganhou a companhia de uma pedaço de pano triangular. 

 

Sasuke engoliu em seco, já sentindo o desconforto do aperto da calça - Sasuke-kun - a voz de Sakura era melodiosa e imbuída em toda a sensualidade que, felizmente, só ele conhecia, ainda parado no corredor ele sorriu com a atitude dela - Termine logo esses tomates pra irmos para a sobremesa.

 

O volume nas calças aumentou e o suor se acumulou em sua pele - Droga Sakura.

 

Ele não deu uma última olhada nos tomates que abandonou em cima do balcão antes de entrar no quarto.

 

Os tomates passaram a noite sozinhos.



&



O silêncio pesado que desceu sobre a sala depois da declaração de Tsunade foi sufocante. Sasuke continuou encarando a loira esperando acordar daquele pesadelo, talvez ela olhasse para ele e dissesse de repente que era tudo uma brincadeira de mau gosto, ele até mesmo cortou momentaneamente o fluxo de chakra para o sistema nervosos central na esperança de se livrar de um possível genjutsu - mesmo ele sendo o único usuário do doujutsu capaz de subjugar qualquer técnica ilusória - aquilo só podia ser mentira.

 

O silêncio se estendeu ao atual Hokage que assim como o Uchiha, encarava Tsunade de forma muito incrédula. 

 

As lembranças dançavam na mente cansada de Sasuke, a oito anos ele havia caído de paraquedas na morte mais que abrupta de Sakura, e o evento quase o matou. Sobreviveu por anos apenas para se tornar alguém digno do amor que um dia ela lhe ofereceu. Ele havia sido uma criatura tão desonrosa para o universo a ponto de ser tripudiado por ele repetidas vezes com aquilo que mais lhe machucava? Por que ele precisava continuar perdendo as pessoas que ama repetidas vezes?

 

— Eu pensei que a Sakura-chan tinha dito que essa fórmula era sei lá, perfeita, não era isso o que faria todo o experimento dar certo? 

 

— E era - a Godaime assumiu uma postura contemplativa - Sakura me contou que depois das alterações que empregou na fórmula, a toxina deveria ser capaz de abrir os canais de chakra do indivíduo sem que este morresse no processo. No entanto o processo da mudança seria além de doloroso nocivo para o corpo nos primeiros meses, mas depois do período correto de adaptação, à mudança empregada em seus canais de chakra faria com que o shinobi fosse capaz de utilizar o chakra natural, sem a necessidade de desenvolver um modo sábio para isso. Claro é antinatural e obviamente teria consequências a longo prazo.

 

— Então o que aconteceu pra isso a estar... matando? - Sasuke tremia mal conseguindo proferir aquela palavra que queria sempre levar Sakura para longe deles.

 

— Sarada. - todos olharam para a presença esquecida de Jung próximo a janela, ele se virou, a expressão sombria e raivosa - Sarada aconteceu, Sakura estava grávida.

 

Os olhos de Sasuke se fecharam involuntariamente diante do peso das palavras do ruivo. O peso do mundo se instalou do peito do Uchiha ao imaginar Sakura em uma situação como essa, sozinha, sofrendo e ainda por cima grávida. A raiva e a culpa corroeram seu ser como a ferrugem corrói o ferro, se ao menos ele tivesse ficado…

 

— Exato - Tsunade suspirou - A reação mutagênica da toxina no corpo teria provocado um aborto em Sakura, assim como o procedimento de expurgo que ela poderia fazer para retirar a substância de seu organismo. Ao invés de expurgo ela usou seu chakra para proteger seu bebê.

 

— E como isso mudou as coisas para ela? - a voz distante de Naruto era muito estranha aos ouvidos de Sasuke, as vezes ele esquecia do forte vínculo entre o loiro e Sakura, afinal quando Sasuke deixou a vila, os dois se uniram para reunir o time sete novamente, anos de parceria forjada em sofrimento mútuo.

 

— Um bebê se nutre a partir da mãe, naturalmente um bebê originado de uma união entre dois shinobis irá se nutrir do chakra da mãe também, muito mais do que uma criança civil o faria. Um bebê como Sarada, que carrega genes para uma kekkei genkai o faz ainda mais, praticamente esgotando as reservas de Sakura. Some isso ao fato de todo o chakra restante estar sendo usado para proteger o pequeno feto.

 

— Exaustão dos chakras.

 

A médica assentiu diante da resposta de Sasuke - Ao invés de somar-se ao chakra já existente e provocar a mudança, o chakra natural que foi forçado para dentro dos canais de chakra de Sakura os destruiu. E como canais de chakra não podem ser curados, permaneceram assim, e agora o chakra dela circula praticamente livre por seu corpo, destruindo seus sistemas ao longo do tempo.

 

— Mas como chakra pode destruir se os médicos o usam para curar?

 

— É diferente Naruto. O médico ninja utiliza uma técnica específica para estimular a cura do paciente, qualquer erro pode resultar em dano ao invés de cura, por isso apenas os ninjas com melhor controle dos chakras se tornam médicos - a mulher suspirou, o cansaço de nove horas de cirurgia lhe pesando os ombros - Chakra ainda é uma forma de energia, e podem causar danos a longo prazo.

 

— Geralmente Sakura conseguia controlar os danos, mas conforme o tempo foi passando e o chakra se tornou menos controlável, os danos sistêmicos foram se agravando mais rápido do que ela podia concertar - os olhos violeta de Jung ecaravam o nada conforme ele falava - Tudo piora quando o chakra natural invade seu corpo. No começo quando ela ainda não controlava era… terrível. Depois que Sarada nasceu Sakura quase morreu com a primeira experiência, desde então ela mantém um controle fino impedindo a entrada em seu corpo. Ela perdeu o controle uma vez a mais de um ano atrás, e foi assim que Yoshiro soube que ela estava viva. 

 

— Eu vinha tendo sessões com Sakura, tratando de seus órgãos comprometidos, ajudando ela a alinhar e controlar o chakra, sem muito resultado para ser sincera, porém eu esperava que com sua situação estabilizada conseguíssemos mais tempo antes que houvesse falência de múltiplos órgãos, há coisas que nem o mais avançado ninjutsu médico pode resolver. Infelizmente depois do que houve ontem vamos ter que aguardar para saber como o quadro de Sakura vai evoluir, e torcer para que os sistemas não entrem em colapso.

 

— Tenho certeza que a senhora vai conseguir baa-chan! Com certeza você vai conseguir curar a Sakura-chan, vocês são as melhores médicas desse mundo! - Sasuke sentiu a voz trêmula de Naruto mesmo em suas palavras de motivação.

 

— Naruto - Sasuke olhou para a última Senju como jamais o havia feito, como seria para ela ver alguém com quem se importa da forma que se importava com Sakura morrer, e mesmo com seus vastos conhecimentos médicos não poder fazer muito, a voz dela era cansada e triste, e Sasuke mais uma vez foi lembrado que Sakura era querida por outras pessoas - sendo realista, nesse momento tudo o meu esforço está em ganhar algum tempo para ela, curar….  Não sei se é possível.

 

Sasuke se levantou abruptamente, a porta se abriu e ele se viu entre as paredes dos corredores do hospital. Tudo girava ao seu redor, tudo parecia errado

 

O ar entrou muito rapidamente dentro de seus pulmões e ele hiperventilou, levou a mão ao peito dolorido, a passos largos e apressados ele saiu do hospital. O ar era denso ao seu redor, havia uma névoa irritante se empossando em seus olhos e anuviando seus pensamentos, Sasuke não viu para onde, ele apenas andou sem rumo.

 

Ele passou pela ponte no campo de treinamento três, ele quase podia ver Sakura correndo atrás de Naruto, punho cerrado na intenção de agredir o, na época, aspirante a hokage, Kakashi deveria estar em alguma árvore acompanhado de seu livrinho infame, quase se viu de braços cruzados completamente insatisfeito com sua equipe de pesos.

 

Um vento fantasmagórico varreu seu estômago e o frio o fez se encolher. O amanhecer foi obscurecido por nuvens negras que brilhavam com relâmpagos escondidos em seu interior. Era exatamente como ele se sentia, uma tempestade impetuosa varria seu coração inconformado, não podia ser verdade.

 

As mais doces e felizes lembranças que ele carregava dela lhe povoavam a mente, lembranças as quais ele evitava antes, apenas para evitar a felicidade que continham e que ele jamais teria novamente. Pensou que agora tudo mudaria, ledo engano.

 

Engolindo os sorrisos fáceis de Sakura e seus olhares maliciosos, lentamente outras memórias povoavam sua mente masoquista. Todas as vezes que as lágrimas dela se derramaram por sua arrogância, sua vingança e egoísmo e os erros que se acumulavam enquanto ela lutava para lhe abraçar e lhe dizer que ele não precisava ficar sozinho. Todas as vezes que ele lançou ao vento que sempre estaria sozinho….

 

Aparentemente quem quer que fosse, havia recolhido cada uma de suas palavras para garantir que fossem devidamente aplicadas. Sakura lhe deixaria sozinho novamente.

 

Ele tinha Sarada agora é fato, e ela sempre seria seu maior presente, mas ela iria querer ficar com o ele? O pai ausente que de certa forma era o culpado por toda a desgraça de sua mãe? 

 

Nunca jamais ele seria completo novamente, ele nunca jamais daria seu coração a outra pessoa que não fosse Sakura, inferno ele já o havia dado a ela. Um Uchiha não se dá pela metade, o coração se vai por inteiro, e jamais retorna. Apenas pensar em voltar a sua rotina miserável de apenas seguir mais um dia, como havia feito enquanto ela havia estado distante lhe tirava a sanidade.

 

Um trovão soou alto em seus ouvidos entorpecidos e ele se viu no lugar mais irônico que poderia estar. Quem quer que fosse o espírito que guiava os atribulados, ele certamente tinha senso de humor, as lajotas retangulares pavimentavam o chão, desenhando o caminho que levava para fora da vila, mas havia algo mais significativo alí, o icônico banco de pedra.

 

Ele se sentou nele, a superfície fria e dura era como um lembrete de sua própria vida. A tantos anos atrás naquele mesmo lugar ele a rejeitou cruelmente, a deixou desacordada a mercê de qualquer perigo que espreitava a noite de Konoha, Sasuke se perguntou se havia sido alí que ele estragou tudo, naquele momento em que negou a felicidade que ela tão gentilmente lhe ofereceu.

 

Tudo o que queria agora era poder voltar e dizer sim a aquilo, queria tanto poder agarrar a felicidade que ela lhe oferecia, agarrar-se a ela e nunca deixar a morte ceifar sua vida tão precocemente.

 

Ela estava morrendo, indo para longe dele uma outra vez…

 

Que raios de destino ferrado era o deles? Idas e vinda entre encontros e desencontros marcados por dor, lágrimas e sofrimento, Sakura escorria por seus dedos como a areia do mar sendo levada pela corrente traiçoeira. A chuva se derramou violentamente sobre Konoha mas Sasuke apenas ficou sentado no banco de pedra, ele olhou para o céu cinzento e se sentiu tão irremediavelmente sozinho…. Doeu.

 

Ele se permitiu chorar aproveitando a cobertura da chuva. Sentiu as gotas gordas e geladas molhando sua pele e lhe lançando a uma dor fria, ele tinha esperança de que a chuva pudesse carregar para longe cada um de seus tormentos, mesmo sabendo que não seria assim. Então ele deixou que carregasse as lágrimas que ele tão fervorosamente aprendeu a conter.

 

Eventualmente, e depois do que provavelmente foram horas, a torrente passou a um sereno tranquilo, encharcado e vazio Sasuke contemplou as pessoas correndo para o abrigo de seus lares, com a certeza da segurança e do calor de seu seio familiar. Ele jamais teria aquilo?

 

Sasuke ouviu mais do que viu quando os pingos de chuva se chocaram contra a pessoa que se sentou a seu lado. O silêncio e o estoicismo lhe denunciaram se tratar de seu velho sensei, olhar para a cabeleira prateada apenas confirmou. Kakashi olhou para o horizonte, sentado a seu lado, de pernas cruzadas, ele viu o perfil atordoado do homem que era quase um pai pra si.

 

— Parece que mesmo depois de tantas experiências, nós ainda não lidamos bem com a morte não é?

 

Sasuke encarou seu perfil, não havia sorriso por baixo da máscara ou olhos curvados, havia olheiras profundas e Sasuke soube que por mais que não estivesse com eles naquela sala de espera, Kakashi havia sofrido toda a ansiedade do tempo em que Sakura passou a beira da morte.

 

— Tsunade me contou - respondeu a pergunta não dita por seu ex-aluno.

 

—Quando?

 

— Logo depois que Naruto saiu com olhos vermelhos de seu consultório, ela não gostou de se repetir.

 

O moreno suspirou cansado, a noite em claro depois da batalha cobrando seu preço. Sasuke estava cansado mas não apenas daquilo, estava cansado de tudo, da inconstância de sua vida, de sua solidão e sorte maldita.

 

O silêncio preencheu o espaço entre eles por alguns minutos antes de Kakashi voltar a falar - O que está fazendo aqui Sasuke?

 

— Não estou tentando sair escondido de Konoha se é isso que está perguntando.

 

— Eu sei que não, eu sempre acreditei que você fosse ao menos um pouco inteligente, tenho a esperança que tenha aprendido com seus próprios erros e além do mais - Kakashi voltou seu olhar para ele, ainda se lembrava quando a bandana escondia o sharingan que um dia o Hatake recebeu de seu melhor amigo - você já abandonou Sakura vezes o suficiente para saber que não terá uma outra chance.

 

— Você veio jogar isso na minha cara? Junte-se ao ruivo então.

 

— É a verdade, você a abandonou, mais vezes do que eu possa dizer sem ter vontade de bater em você. O que mais me chateia no entanto, é que você a está abandonado outra vez.

 

Sasuke olhou indignado para Kakashi, toda a raiva da sua merda de vida sendo canalizada para o homem a seu lado - Eu a estou abandonando? É ela que o está fazendo agora, de novo!

 

— Você não a merece - Kakashi disse voltando seus olhos para a paisagem chuvosa.

 

— E você acha que eu não sei? Eu só estou cansado de ter tudo arrancado de mim dessa forma - as palavras tinha gosto amargo na boca do Uchiha.

 

— Deixe a autopiedade de lado Sasuke, pensei que já tínhamos passado dessa fase, vou ter que te amarrar em uma árvore de novo? - seu sensei jamais lhe falou tão duramente e Sasuke se sentiu um genin outra vez, perdido e envergonhado após a repreensão - é você que está desistindo dela, fugindo ao primeiro sinal, não deveria estar lá ao lado dela? Sakura ainda não está morta, você quer perder o pouco tempo garantido que tem com ela assim ou vai fazer alguma coisa?

 

Sasuke cerrou os olhos com força, as lágrimas escorrendo por seu rosto - Eu não posso fazer nada, passei a vida treinando para matar as pessoas não para curá-las. Eu não sei o que fazer Kakashi.

 

O Rokudaime suspirou e colocou a mão sobre o ombro do menino que tantas vezes lhe lembrou ele mesmo - Fique com ela Sasuke - o moreno olhou para ele e os olhos negros se encontraram - Fique com ela, diga tudo o que sente, lhe dê força para continuar lutando, Sakura ainda não morreu Sasuke - se não fosse a chuva, o moreno poderia jurar que uma lágrima escorria dos olhos de seu sensei - Tudo o que eu queria era ter tido esse tempo com as pessoas que perdi, então aproveite, mesmo que seja pra dizer adeus.

 

— Eu não sei se eu… não sei se tenho força pra dizer adeus outra vez.

 

A mão que lhe apertou o braço era calorosa apesar da chuva - Você terá, espero que não precise, mas terá que ser forte, lembre-se que tem Sarada, se não puder ser forte por si mesmo, seja por ela.

 

Seu peito sangrou por dentro, cada palavra de Kakashi era um espinho ao redor de seu coração, mas era uma dor necessária. Ele tinha razão, não podia mais seguir da forma que estava, havia sofrido e isso o marcou eternamente, mas ele ainda tinha tempo. Kakashi estava certo, não podia abandonar Sakura mais uma vez, mesmo que fosse apenas com seu sofrimento antecipado por uma morte que ele lutaria para evitar.

 

Estaria ao lado dela todos os dias, enxugaria suas lágrimas e compartilharia seu sorriso, seria seu apoio e seu ombro, choraria com ela se necessário, mas dessa vez ele ficaria a seu lado, mesmo que fosse para segurar sua mão enquanto partia, mesmo que isso doesse nos ossos de Sasuke, mesmo que o simples pensamento fosse como brasa em pele nua.

 

Kakashi se levantou, mãos nos bolsos e ombros baixos - Kakashi - se virou antes de seguir seu caminho, Sasuke olhou para o rosto cansado da pessoa que provavelmente mais compartilhava a dor com ele - Obrigado.

 

Obrigado por hoje, obrigado por não desistir de mim, obrigado por estar aqui.

 

O grisalho sorriu e Sasuke sabia que o homem que o ensinou a “olhar por baixo” havia entendido todos os significados daquela palavra, e com uma brisa de folhas se foi.

 

O céu permaneceu cinzento mas mesmo o sereno cessou, Sasuke se levantou do banco e tomou seu próprio caminho para onde jamais deveria ter saído, para o lado de suas meninas.



&



A mão de Sarada apertou ainda mais a sua conforme se aproximavam do prédio que era tão nostálgico para Sasuke, se elevando sobre ele porém muito menor do que se lembrava. A academia preparatória para shinobis fora um dos lugares onde mais tempo passou a infância, ainda se lembrava dos dias felizes quando Itachi vinha lhe buscar, e também dos dias tristes em que não havia mais ninguém.

 

Depois de tudo jamais imaginou que estaria trazendo sua filha para o primeiro dia de aula, não era o primeiro dia das aulas, mas era o primeiro dia para ela, e isso era adorável. Sakura permanecia em coma a cinco semanas, e como da última vez ele e Sarada povoaram o quarto na espera de sua melhora. Tsunade não os expulsou tão prontamente desta vez, porém depois de alguns dias confinados ao lugar, Sasuke foi quem tratou de arrastar Sarada para longe do quarto de hospital.

 

Ele barganhou com a filha até que ela aceitasse passar apenas a manhã no hospital, a tarde ele treinaria com ela, com o ruivo de penetra, ele sempre parecia pairar ao redor de sarada e Sakura, mas não podia ser tão idiota e simplesmente querer que o homem se afastasse, pelo que sabia havia sido ele a figura paterna de Sarada pelos últimos oito anos, e apesar de não estar disposto a abrir mão de sua filha, ele era grato por tudo o que havia feito por elas.

 

Quando a quarta semana se completou e vendo o desânimo de sua pequena Uchiha, Sasuke propôs que ela começasse a assistir às aulas na academia. Ela havia ficado apreensiva porém excitada com a ideia, jamais havia recebido a educação formal para a formação shinobi, claro que como uma verdadeira enciclopédia Sakura havia garantido que o conhecimento teórico de Sarada fosse muito avançado, e pelo que ele sabia, ela era muito competente na parte física de ser um shinobi, e quando ele a levou para fazer a prova de proficiência que o Hokage gentilmente providenciou, não se assustou quando ela foi capaz de responder cada uma das questões. Ela iria assistir as aulas sem nenhum prejuízo, frequentaria a mesma classe que Boruto e a maioria dos filhos de seus colegas de formação.

 

Sasuke entendeu um pouco do porquê Sakura seguiu em frente mesmo com toda a dificuldade, não havia nada melhor do que o sentimento que enchia o peito ao ver o sorriso de Sarada. Era reconfortante ver a luz de volta aos olhos da filha depois de tantos dias de angústia ao ver a mãe novamente inconsciente.

 

As últimas semanas haviam sido difíceis, Sarada não era boba, ela sabia que havia algo de errado com sua mãe, mas fora um consenso entre ele e o ruivo que se fosse para a menina saber de alguma coisa, seria por Sakura quando acordasse. Infelizmente a espera estava sendo maior do que previam, Tsunade ainda não se sentia confortável em trazer Sakura de volta a consciência, alegando que seu corpo precisava de mais tempo para se recuperar.

 

Não importava quanto tempo fosse necessário, Sasuke não sairia do lado dela, e tão pouco deixaria Sarada enfrentar aquilo sozinha.

 

Ele sorriu minimamente para o cenho franzido dela, apreensiva pelo cenário completamente novo que enfrentaria. Flanqueando a menina no lado oposto Jung observava o lugar com uma expressão muito curiosa, e Sasuke se divertiu com sua confusão.

 

— Eu não quero mais ir - Sarada disso logo que Sasuke parou para se despedir.

 

— E por que não? - ele questionou

 

— Eu não preciso frequentar a academia para ser uma ninja incrível, e esse lugar deve ser um grande atraso, não poder aprender o que quiser na hora que quiser e-

 

— Sua mãe não lhe deixa aprender as coisas na hora em que você quer Sarada, se ela deixasse você estaria cuspindo fogo por aí - apontou o ruivo

 

Ela fez o mesmo biquinho que Sasuke testemunhou no dia em que se conheceram - Eu não quero ser a estranha! 

 

Sasuke olhou atentamente para a filha, os traços delicados de Sakura misturados as cores negras de seu cabelo e olhos eram adoráveis - Você não é estranha.

 

— Eu não disse estranha nesse sentido pai…

 

O coração de Sasuke deu um salto como sempre fazia quando ela o chamava assim.

 

— Não se preocupe pequena, você se sairá muito bem, afinal foi eu que preparei você - o ruivo se gabou olhando de esguelha para Sasuke.

 

— Esse é o problema! Você é estranho padrinho! - Sasuke engasgou com o riso que nasceu sozinho da expressão tão natural de sua filha.

 

— Eu não sou estranho! E eu sempre fui muito popular! - a traição estava estampada no rosto de Jung.

 

Sarada lançou um olhar muito “ até parece” para Jung, e por mais que Sasuke adorasse ver o ruivo ser tripudiado por sua filha, ele se abaixou para ficar na altura dela - Você se sairá bem, acredito em você - A ponta dos dedos dele se encontraram levemente na testa dela e Sarada fez biquinho. Ela assentiu e se afastou um pouco.

 

Sasuke passou os olhos por ela mais uma vez, a camisa vermelha e o shorts branco lhe lembravam as cores de Sakura quando eram mais jovens - Não esqueça do casaco que eu coloquei em sua mochila se sentir frio.

 

— Coloquei molho apimentado no seu obentô - Jung falou em seguida, ambos seguindo a menina conforme ela girou para encará-los mal humorada.

 

— Chega, vocês parecem um casal!

 

Mais do que afrontado Sasuke rapidamente olhou para o homem a seu lado que devolvia o olhar, repulsa escorrendo dos olhos violáceos. 

 

— Rídiculo! - disseram ambos ao mesmo tempo.




&

 

A luz forte do sol da tarde entrava pelas janelas do quarto de Sakura no hospital. Sasuke observou de seu lugar na poltrona ao lado da cama a pele pálida dela refletir a luz que as cortinas filtravam, ela havia perdido peso, sua pele estava pálida novamente, os cabelos róseos haviam crescido um pouco, as pontas quase roçando o queixo dela.

 

Ainda assim, essa visão era para ele muito mais reconfortante agora sem todos os tubos e aparelhos de suporte ligados a ela. Depois de dois meses, Tsunade finalmente havia cessado a medicação que induzia o coma a Sakura, quatro dias atrás, e conforme a Godaime havia explicado, o fato de ela ainda estar inconsciente era normal devido o tempo em terapia intensiva e de medicação forte.

 

Sasuke estava ansioso para ver os olhos cor de jade reluzindo com a luz que captavam tão atentamente. Era uma de suas característica que ele mais amava, a forma com que os olhos dela refletiam, se observasse bem a tonalidade mudava de acordo com a luz, se contra o sol, pequenos pontinhos amarelados próximos a pupila cintilavam, o verde se tornava translúcido e era como um dia ensolarado na primavera. Se a luz fosse baixa os olhos assumiam um verde vivo profundo no centro e escureciam conforme se aproximava da borda, afiados e observadores. Ele sentia falta dos olhos dela.

 

Sentia falta dela como alguém que se afoga sente falta do ar que respira, era quase doloroso estar tão perto e ainda sim tão distante. 

 

Ele se levantou da poltrona que a semanas lhe acomodava e se dirigiu a janela para fechar mais as janelas, a vista de Konoha era linda conforme o verão quente se aproximava, árvores com folhas verde brilhantes e pessoas animadas correndo nas ruas. Alguns quarteirões acima ele podia ver o terraço do prédio da academia. Sarada estava hiperativa com a iminência do despertar de Sakura, e o havia atormentado para faltar cada dia de aula desde que fora informada que sua mãe estava sendo acordada do coma induzido.

 

Não que ela não gostasse de ir a aula, pelo contrário, depois do constrangimento dos dias iniciais, ela havia se tornado uma estudante dedicada e ansiava por poder ir a aula todos os dias, implicar com Boruto, e até mesmo ver sua mais nova amiga, Chouchou. Mas paralelamente a saudade de Sakura era forte, e ele não podia dizer que não entendia. Ainda assim, ele insistiu para que ela não faltasse, pelo menos era uma forma de ocupar a mente.

 

Enquanto ela passava os dias na academia, Sasuke revezava entre o escritório de Naruto em reuniões com Shikamaru e os relatórios dos espiões plantados no país do chá, e os momentos em que semelhante ao que fazia antes, observava Sakura em seu sono profundo. Apesar das circunstâncias, apenas poder ver seu peito subir e descer era reconfortante. 

 

Ele ajustou a cortina e o quarto se tornou levemente menos iluminado, as paredes brancas menos reflexivas para sua visão apurada.

 

— Deixe como estava - a voz suave e rouca alcançou seus ouvidos e seus olhos se arregalaram instantaneamente. Sasuke se virou e pode ver os olhos semi cerrados de Sakura, uma pequena faixa de verde entre as pálpebras inchadas - Ohayo Sasuke-kun…

 

Ele se aproximou dela, um leve sorriso repuxava os cantos de sua boca ressecada. O verde primaveril de seus olhos como dois faróis guiando ele para perto dela, cada passo uma batida frenética de seu coração pedregoso, que saudade…

 

— Hn - foi tudo o que ele conseguiu dizer. Uma risada ressecada irrompeu de sua garganta, arranhando seus ouvidos pela falta de uso de suas cordas vocais.

 

— Isso é a sua cara Sasuke.

 

Ele se permitiu sorrir minimamente para ela, um daqueles sorrisos que apenas Sakura e Sarada estavam autorizadas a ver. Sasuke puxou a cadeira para perto da cama em que a rosada estava deitada, sentou próximo a ela e delicadamente como se fosse feita de vidro, Sasuke puxou a mão ainda conectada ao acesso intravenoso. A pele era fria e frágil, com uma cor acinzentada que lembrava doença, mas era cálida a su toque.

 

Ele sentiu os olhos de Sakura queimando em seu rosto conforme entrelaçava os dedos nos dela levemente trêmulos. Sasuke olhou para o rosto da mulher que era a razão de suas memórias mais doces e felizes, os grandes olhos verdes iluminados parcamente pela luz oscilavam entre o verde vítreo e o profundo levemente arregalados, lábios ligeiramente separados, se ela não estivesse tão debilitada Sasuke tinha certeza que estaria corando.

 

— Sasuke? - a voz era apreensiva 

 

Ele olhou bem fundo nos olhos cristalinos e sorriu um pouco mais largo do que de costume, o que sendo ele quem era, era quase um sorriso completo, e contra toda a ansiedade que lhe queimava o estômago proferiu as palavras que sabia que mais desejava lhe dizer - Eu amo você Sakura.


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Notas finais do capítulo

Volto assim que possível, por favor comentem pra que eu saiba o que estão achando! Bjs



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