Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 13
Sangue


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura e por favor leiam as notas finais, é importante.



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Um galho estalou contra a lateral do rosto de Sakura e ela estremeceu com a dor. Não havia tempo para lamento nem para parar e limpar o filete de sangue que sentiu escorrer pela face, estava muito ocupada correndo e pulando pelos galhos das árvores altas perto da fronteira entre o País da Grama e o País da Cachoeira, o peso adicional de Sarada as costas e seu chakra oscilante desde a semana passada dificultavam ainda mais a fuga.

Atrás dela, dois dos ninjas de Jung ladeavam, eram cinco no início daquela que deveria ser apenas mais uma das trocas de esconderijos que ocasionalmente Sakura e Sarada faziam. Naquela manhã quando saíram do País da Terra e da pousada modesta mas aconchegante onde haviam ficado nas últimas seis semanas, a Haruno não imaginava que uma emboscada estava armada para ela na fronteira com a Grama, agora ela corria desenfreada na esperança de alcançar um dos postos avançados da Taverna no sul do País da Cachoeira.

Pra piorar Jung não as estava acompanhando dessa vez, ele sempre vinha para garantir que elas fizessem uma passagem segura entre seus esconderijos, mas por azar ele estava em algum lugar do país do chá com Kito rastreando Yoshiro na esperança de acabar com aquilo de vez. O timing deles estava perfeito.

—Mamãe cuidado! - ela ouviu a voz de Sarada e sentiu o hálito  quente dela próximo a sua orelha, Sakura desviou do galho robusto de uma faia a sua frente aumentando a altura do pulo e sentiu as mãozinhas se apertarem em volta de seus ombros.

—Obrigado Floquinho.

Ela ouviu o som de lâminas se chocando e também um estrondo alto e poderoso a suas costas e acelerou ainda mais seu passo enviando uma porção de chakra para as pernas, Sakura não tinha condição alguma de entrar em uma batalha agora, seu chakra mal podia ser controlado na última semana, ela seria apenas uma lutadora com bom treinamento mas sem chakra útil frente a ninjas poderosos em pleno vigor, ela não podia ser alcançada. 

Ela pulou do galho de um grande Salgueiro, que deveria ser muito antigo pela espessura de seus galhos e abundância de ramos de folhas chorosas, para o solo úmido da floresta. Conforme ia se aproximando do território da Cachoeira a vegetação ia se adensando e os galhos das árvores impróprios para serem usados no deslocamento, não podia correr o risco de cair com Sarada nas costas. Sakura correu por uma trilha paralela a um córrego que cortava caminho por entre rochas cobertas por musgo verde esmeralda brilhante, com gotas de água sob a luz do sol pareciam jóias incrustadas na terra, acima o céu era manchado com poucas nuvens brancas, felizmente não chovia.

Mais alguns quilômetros e estaria na cabana onde uma taverna modesta funcionava como posto avançado de Jung e ela e Sarada estariam a salvo. O ruivo sempre as colocava em lugares próximos à fronteira do País da Cachoeira ou dentro de seu território, uma vez que a sede da Taverna era lá e dessa forma seu alcance dentro da nação era bem mais abrangente. 

— Nós logo estaremos seguras floquinho, prometo.

— Tudo bem mamãe, desde que esteja comigo.

Sakura sentiu o coração se aquecer e apertar com a declaração de sua filha, precisava tirar Sarada da linha de fogo o mais rápido possível, não podia imaginar nada pior do que ter sua filha nas mãos de um psicopata como Yoshiro, simplesmente não podia permitir que sua filha fosse usada para lhe atingir. O coração da rosada já sangrava com o fato de ter que submeter Sarada as fugas e situações perigosas que esteve durante toda a sua vida, ela não permitiria que seu floquinho de neve derretesse nas mãos inimigas, nem que pra isso tivesse que se entregar.

—Sakura-sama! - o ninja a suas costas lhe chamou e Sakura virou o rosto em sua direção por um momento.

—Qual o problema?

—Estamos sendo alcançados - o temor nos olhos cor de mel dele alarmou a Haruno - Por favor se apresse em seu caminho, nós iremos atrasa-los.

—Hai, obrigado Tokay-san - deu uma última olhada no par que antes lhe seguia e os viu parar a corrida e se virar para o inimigo que não chegou a entrar em sua linha de visão.

Sakura mordeu o lábio pela dor que sentiu ao enviar uma onda de chakra para seus membros inferiores, o fluxo errático de seu chakra na última semana tornava seu controle ainda mais doloroso e difícil, mas valeu a pena quando a floresta se tornou um borrão ao seu redor e ela sentiu os braços de Sarada se enrolarem em volta do pescoço buscando melhor apoio. Cada fibra de seu corpo doía com o esforço, não sabia se poderia aguentar por muito mais tempo.

Os gritos que ecoaram da floresta a suas costas foi um incentivo maior para ignorar a dor, de alguma forma Sakura sabia que não eram de seu inimigo. Tinha que ir mais rápido.

—O que foi isso mamãe? - o fio de voz de sua menina lhe soou assustado.

—Não foi nada floquinho, vai ficar tudo bem.

—Não mamãe, você está me chamando de floquinho, e só me chama assim quando está emotiva ou mentindo.

Droga.

—Então estou sendo emotiva - desviou de um tronco caído no meio da trilha e lançou uma olhadela para trás.

—A senhora está mentindo.

Sarada tinha razão, Sakura estava mentindo. Depois dos gritos toda a floresta ficou completamente silenciosa, não o silêncio habitual repleto do canto dos pássaros ou do som dos pequenos roedores, um silêncio mortal como quando há um tigre a espreita, seu inimigo estava em seu encalço. Como se não fosse suficiente o envio constante de chakra para suas pernas estava esgotando a rosada física e mentalmente devido sua saúde mais que debilitada, ela já estava começando a ver embaçado nos cantos dos olhos. Sakura não sabia o que fazer, não podia ser pega, não podia expor Sarada a isso, não podia….

Um grande carvalho surgiu em sua visão mais a frente na borda da trilha, o tronco robusto e largo com raízes nodosas e galhos pesados e retorcidos que tocavam o chão, Sakura desviou da trilha e alcançou a árvore conforme a ideia lhe ocorria.

—O que estamos fazendo mamãe? 

Sakura circulou a árvore e agradeceu a Kami quando encontrou o que precisava, na base da árvore havia uma grande fenda, um sulco que era como uma ferida no tronco imponente, como uma casinha ou uma toca entre as raízes que se projetavam da terra como vasos sanguíneos. Ela parou em frente a árvore e deu um pequeno chute, encorajando quaisquer animais que ali habitassem a sair, quando nenhum saiu ela desceu Sarada de suas costas e se ajoelhou para ficar em sua altura.

—Sarada preciso que me escute e obedeça - firmou as suas mãos nos ombros da moreninha - você vai ficar aqui -apontou para o espaço camuflado entre a madeira.

—O que? Não - ela protestou já zangada - Eu não vou me esconder enquanto a você enfrenta essas pessoas!

—Sarada! - levantou a voz apenas um pouco para chamar a atenção da filha - você precisa ficar em segurança, você é minha prioridade, eu preciso proteger você!

—Mas mamãe - os olhinhos negros se afogaram em lágrimas não derramadas - eu preciso proteger a senhora, você é minha prioridade.

Sakura fechou os olhos para lutar contra as lágrimas, maldito Yoshiro por lhe fazer tomar essa decisão. Envolveu o rosto de sua filha com as mãos trêmulas, ajeitou uma mecha da seda negra atrás de sua orelha e limpou uma lágrima fujona, um biquinho desolado já tremia em seus lábios.

—Floquinho, por favor precisa confiar em mim - a voz suave tremia com as lágrimas reprimidas, precisava ser forte por Sarada - se esconda aqui, eu não vou conseguir lutar e proteger você ao mesmo tempo, isso vai ser melhor assim.

—Eu posso ajudar, eu não quero ficar sozinha.

—Sarada meu amor - ela puxou a corrente dourada que envolvia o pescoço da mais nova e em seguida o seu próprio colar e colocou ambos lado a lado - você nunca estará sozinha, eu sempre estarei com você. Floquinho eu preciso proteger você, preciso que fique segura, eu te amo demais.

Sentiu os bracinhos lhe rodearam o pescoço em um abraço sofrido, Sakura passou os próprios braços no tronco pequeno de sua filha e quase quebrou, queria nunca precisar larga-la, queria que ela não precisasse passar por isso.

—Você precisa se lembrar das nossas medidas de segurança - os dedos dela se enroscaram na capa de Sakura temendo a hora da separação, Sakura levantou a moreninha do chão e tremeu com o esforço, caminhou até a árvore e se ajoelhou, a terra úmida abaixo lhe enviou calafrios, depositou gentilmente Sarada dentro do esconderijo, as sombras cobriram a criança e ela estava quase separada do mundo em uma casinha de boneca, as mãos dela deslizaram pelo braço de Sakura e se prenderam nos pulsos da mãe, a rosada olhou para o céu por entre as folhas das árvores e avaliou a posição do astro - Já passa do meio dia, se eu não voltar em duas horas você vai para a Taverna.

—Não mamãe, você precisa voltar! - agarrou ainda mais forte os pulsos de Sakura.

—Você deve parar em uma pousada se precisar passar a noite, não fique na floresta, pare assim que escurecer em um local seguro, como conversamos - ela ignorou os protestos da filha enquanto arrumava a mochila pequena dentro da fenda - você deve ter dinheiro para isso, se perguntarem você é uma gennin trabalhando disfarçada por isso não tem bandana.

—Mamãe! - as lágrimas rolaram pela face pequena e Sakura quebrou mais um pouco com a visão desolada da filha.

—Por favor me escute - passou os dedos pelas bochechas rechonchudas limpando as lágrimas - Eu amo você mais que tudo, pra sempre - ela tentou se levantar mas Sarada ainda tinha as mãos trancadas em seus pulsos - Sarada por favor…

—Mamãe, não vai…

—Me perdoe - Sakura não conseguiu conter as lágrimas quando chocou sua mão contra a nuca dela e os olhos arregalados com lágrimas pendendo nos cílios se fecharam, ela deitou a menina com a cabeça contra a mochila e se forçou a deixar sua filha para trás. Seu coração ganhava mais uma rachadura a cada passo que se distanciava dela, precisou repetir mil vezes que aquilo era para o bem dela, mas a dor e o abandono em seus olhos fazia suas pernas fraquejarem ainda mais.

Sakura voltou a trilha e correu o mais rápido que pode com a dor que se espalhava por cada uma de suas terminações nervosas, a visão cada vez mais embaçada, ela correu agora fora da trilha, entrando mais fundo na floresta na direção oposta de onde Sarada estava, a visão de sua filha servindo a ela como combustível para lhe manter de pé. Sentindo a aproximação inimiga levou a mão para dentro de sua bolsa de kunai e se cortou duas vezes na pressa de encontrar o que queria.

Quando a primeira shuriken zuniu bem ao lado de sua orelha Sakura já estava preparada, ela sentiu as duas assinaturas de chakra a suas costas e pulou para os galhos das árvores, sendo seguida pelas duas figuras, ela sentiu os dedos roçarem contra a madeira quando se abaixou e depositou seu pequeno presente para eles. Pulou para o próximo galho e mais dois adiante quando a explosão encheu seus ouvidos e lhe nublou os sentidos, o impacto também derrubou Sakura da árvore e ela caiu sob os calcanhares no chão a frente.

Se deu ao luxo de olhar para a nuvem de fumaça que se ergueu de onde o papel bomba explodiu e viu o momento em que os dois ninjas de aparência incomum brotaram dela, longos cabelos cor de ébano e mel, sorrisos maliciosos prontos para lutar até a morte. Ela também.

Alcançou três kunai e lançou na direção dos inimigos e viu satisfeita quando eles desviaram e elas se cravaram nas árvores logo atrás de sua cabeça, dessa vez a explosão dos três papéis simultâneos foi forte demais para que Sakura se mantivesse de pé sem o auxílio do chakra. Ela voou alguns metros e observou os ninjas inimigos se chocarem contra o chão e as rochas com a pele queimada onde as chamas lamberam seus braços, Sakura só podia agradecer por ter se distanciado o suficiente de Sarada para que ela não sentisse nem sequer o cheiro da fumaça. 

Seu corpo voou mas os milésimos de segundos passaram lentamente e ela estava tão cansada. Quando sua cabeça se chocou com algo duro ao pousar, Sakura se lembrou da filha e seu rosto assustado e traído dentro do buraco naquela árvore foi a última imagem que passou por seus olhos, ela só podia desejar que a pancada fosse forte o suficiente para matá-la.

Porque ela estava tão cansada…


 

&


 

Levar uma surra não estava em seus planos.

Quando o gêmeo de cabelo escuro e fala engraçada lhe chamou de “amorinha” e lhe atacou em seguida, Jung não tinha a ilusão de que seria uma batalha fácil, só não achou que seria tão difícil. É claro que ele não estava contando com o fato de que teria a maior parte de seu chakra absorvido no momento que o punho do oponente se chocou contra a lateral de seu rosto.

—Permanecer chão tempo todo vai você? - 

Jung olhou irritado para a face debochada do ninja a sua frente, ele se levantou depois de ter sido atingido por um soco que faria Sakura chorar de emoção, o miserável era com certeza um especialista em taijutsu, e aparentemente também era eficiente em aprimorar sua força através do chakra, era como lutar com Sakura com raiva.

—Desculpe é que você é tão entediante que me cansa - limpou o filete de sangue que escorreu da testa e olhou culpado para ele, provavelmente teria que apelar se quisesse manter Sakura e Sarada seguras.

O moreno apareceu em sua frente com um soco bem armado em direção a seu nariz, nem pensar que ia destruir seu patrimônio estético, já não era fácil competir com o Uchiha tendo seu rosto lindo, não ia perder esses pontos. Desviou do soco por pouco e sentiu o calor da pele do adversário em seu nariz. Daiki conectou um chute com o soco falho e acertou o flanco esquerdo de Jung, o ruivo plantou os pés no chão se recusando a cair mesmo com a onda de chakra, seu chakra que humilhante ser nocauteado com seu próprio chakra, e investiu com um gancho de direita no queixo adversário.

Jung ficou feliz quando seu punho acertou o maxilar do moreno e aproveitou a semelhança na cor do cabelo para imaginar o Uchiha ali, toda a raiva contida substituiu seu chakra surrupiado e o homem voou uns bons três metros, com um movimento sofisticado pousou com uma perna flexionada e a outra esticada para sua direita em um meio espacate que doeu nas juntas de Jung só de ver.

Jung estava sinceramente irritado. Tudo bem, ele não era um especialista em taijutsu, mas se considerava um usuário muito eficiente do estilo de luta de sua vila natal, Kirigakure, o estilo furtivo e ágil usado pelos assassinos silenciosos shi no ken, e também era bem versado no que pode se chamar briga de bar, uma mistura de socos e chutes que se aplicavam muito bem em combates reais onde os katas tradicionais não se aplicavam. Em dias bons ele conseguia levar Sakura em uma luta por uma meia hora antes de ela lhe chutar a bunda.

Mas aquele cara estava limpando o chão com seu lindo rosto desde o início do duelo, em parte por que era melhor do que ele, sejamos justos, e em parte porque estava com seu chakra drenado. Jung não tinha o taijutsu como seu principal trunfo em combates, ele era com certeza do tipo Ninjutsu elementar, a maioria de suas técnicas de suiton era de nível A e uma meia dúzia de nível S, isso sem contar é claro sua kekkei genkai que não costumava usar se não fosse uma situação extrema.

Bom, o ruivo estava com o chakra drenado, o que excluía sua opção de ninjutsu elementar, e seu taijutsu não era suficiente contra seu oponente, aquele gancho havia sido um golpe de sorte, era o primeiro que acertou no inimigo, e não havia cenário em que ele se permitisse perder aquele combate, não quando Sarada estava em risco e ele queria evitar que Sakura perdesse o controle.

—Um golpe finalmente acertar você - Daiki se levantou de postura ereta, as mãos se flexionaram e ele estalou os dedos - Mesma sorte outra vez será ter?

—Eu prefiro não contar com a sorte - Jung alcançou uma kunai na bolsa que estava presa a coxa e viu o shinobi inimigo seguir o movimento com interesse - já perdi muito tempo com você.

A lâmina afiada da kunai rasgou primeiro seu pulso esquerdo e em seguida o direito, o ruivo viu a surpresa nos olhos de Daiki perante sua ação controversa. A dor foi passageira e nos segundos seguintes ele sentiu a letargia do sangue escorrendo para fora. Ele tinha pouco chakra, mas sua herança nunca havia precisado de muito mesmo. Ele enviou comandos simples ao seu sangue banhado em seu chakra e sentiu as gotas vencerem a gravidade e subirem por seu braço ao invés de caírem no chão.

ChitonGisei sōkō - o líquido escarlate serpenteou por seus braços e então para seus ombros, pescoço e tronco, suas pernas foram a seguinte e apenas alguns segundos depois ele estava envolto em seu próprio sangue em uma armadura impenetrável.

Era estranho estar coberto de sangue de novo, Jung nem mesmo se lembrava da última vez que havia precisado recorrer a sua kekkei genkai, ele evitava ao máximo o uso dela e na maioria das vezes suas ótimas habilidades com suiton eram suficientes para suas batalhas corriqueiras. Era incomum ele sabia, geralmente portadores de habilidades especiais vindas de suas linhagens de sangue recorriam a ela como suas ferramentas usuais no combate.

Os Uchiha portadores do sharingan pelo que ele havia ouvido falar, entravam na batalha com seus olhos escarlates brilhando contra o inimigo, se para assustar ou para diminuir o tempo de combate ele não podia determinar. Os Hyuuga também eram extremamente dependentes da sua herança, o byakugan era sua arma mais que necessária para a prática do punho gentil, o ruivo também havia conhecido outros shinobi por todo o mundo que ostentavam suas kekkei genkai com orgulho e maestria. Na verdade eles eram muito tolos na concepção do ruivo, tolos dependentes de suas habilidades únicas na maioria, ele havia aprendido que depender de uma única arma era suicídio.

No entanto, essa não era a única razão de Jung não usar sua herança shinobi. Ele era alguém que nasceu em uma terra onde ter uma kekkei genkai era uma sentença de morte, o ruivo viu mais de uma vez durante a infância as perseguições aos integrantes dos clãs de Kiri que possuíam qualquer habilidade única. A guerra recente ainda maculava a razão dos cidadãos que caçavam os clãs. As memórias mais antigas que tinha eram de muito sangue e casas pegando fogo, seu clã foi quase totalmente dizimado, o ruivo tinha escapado com dois primos, eles andaram por dias descalços sob a neve do inverno do país da Água.

Ele era muito novo pra ter passado pelo ritual tradicional de seu clã onde se tornava merecedor do sobrenome de sua família, por isso Jung era apenas Jung. 

—Kekkei genkai - ele ouviu seu adversário sussurrar - mas chakra não ter você…

—Eu não preciso de muito pra acessar a técnica da minha linhagem - ele colocou sua coluna em posição reta e cerrou os punhos cobertos por uma camada escarlate - vamos ver se eu acerto de novo?

Com velocidade impossível para o inimigo prever, Jung cruzou o espaço entre eles e conectou seu punho com o estômago de Daiki que surpreso com a velocidade do ruivo foi incapaz de se defender. A força do golpe lhe lançou longe mas seus reflexos eram muito bons e antes que caísse de mal jeito, girou no ar e pousou agachado investindo contra Jung em seguida com velocidade impressionante. O ruivo defendeu o chute lateral direcionado a seu rosto com o antebraço, a força do golpe foi absorvida pela armadura escarlate, com sua destreza nas técnicas de taijutsu seu inimigo conectou uma sequência alucinante de chutes e socos, a armadura de sangue de Jung estava totalmente sob seu controle e permitia que seu corpo envolto por ela se movesse com a velocidade de seu pensamento e comandos, ainda sim ele foi atingido por alguns dos golpes, e para seu contentamento acertou uma meia dúzia de suas próprias investidas.

Se separaram ofegantes pelo esforço do embate prolongado, Jung ouviu a sua esquerda uma explosão de água, a luta de Sakura também estava acirrada. Ele cerrou os dentes preocupado, precisava terminar aquilo rápido, Sakura não podia ser levada ao limite, seria muito perigoso, onde estava o maldito Uchiha quando se precisa dele?

—Daichi-nii a florzinha pegar logo vai - ele limpou o filete de sangue que escorreu do canto de sua boca e se preparou para mais uma rodada.

—Não se eu puder evitar, cansei dessa sua cara feia - Jung juntou as mãos e formou o selo do tigre sentido seu sangue se agitar, ele precisava terminar logo aquilo antes que muito de seu sangue saísse de suas veias, outro motivo para não usar sua kekkei genkai com frequência, ela podia matar ele tanto quanto seu inimigo - ChitonInochi no ha

Duas lâminas cresceram a partir dos cortes que fizera em seu pulso, longas finas e cruéis, reluzindo como aço banhado pelo sangue inimigo, mortais. Sem se intimidar pela técnica inimiga Daiki avançou mais uma vez, Jung movimentou seus braços como uma dança para alcançar o corpo de seu oponente, ele se concentrou mais em atacar e menos em defender e confiou em sua armadura para absorver e minimizar o impacto dos ataques, ele raspou as lâminas pelos membros do moreno, um corte no braço esquerdo, um vergão na coxa direita, e viu ele sangrar satisfeito. Daiki se afastou e contrariado e de cenho franzido em um movimento rápido executou uma sequência de sinais de mãos 

NinpōKami no taijutsu - Jung assistiu irritado o ninja inimigo se erguer imponente, as veias por debaixo da pele escureceram e se desenharam por seus braços, pescoço e rosto como linhas sinuosas, o ar ao redor dele tremeluziu e um pequeno sorriso se desenhou em seu rosto - acabar com isso logo vamos.

O ar zuniu com o impulso de seus avanços um contra o outro, e quando se chocaram o estrondo encheu os ouvidos de Jung, a força do golpe de seu inimigo reverberou por todo o seu corpo, o ruivo sabia que se não fosse por sua armadura aquele soco teria quebrado seus ossos e feito seu peito explodir. Ele avançou com movimentos finos em seus pulsos e em arcos elegantes buscando a cabeça de seu oponente mas o embate havia tomado outro nível, Daiki estava lutando como um monstro, uma determinação profunda em seus olhos antes apáticos, a força liberada por seus golpes causava estragos no corpo do ruivo mesmo com a armadura, sua velocidade e precisão haviam aumentado também, o que quer que motivasse o moreno estava a flor da pele agora, mas ele não era o único que estava determinado.

Jung não permitiria que nada acontecesse com as pessoas com que ele se importava, e as duas pessoas que ele mais amava no mundo inteiro estavam naquela clareira. Sakura havia entrado em sua vida com um chute na porta, ela era a coisa mais improvável que já havia lhe acontecido e também a melhor, ele já havia fundado a Taverna naquela época e já tinha Shizuka e Kito em seu pé a bastante tempo, eles havia tirado Jung de um inferno inominável mas ainda lhe faltava algo, uma motivação para viver, uma coisa mais forte do que apenas sobreviver.

Então em um belo dia que parecia ser o de sua morte, coberto do próprio sangue e não por vontade própria, uma criatura diminuta de cabelo rosa desbotado apareceu, olhos grandes demais e tão magra e frágil que parecia estar apenas esperando por uma brisa forte o suficiente para lhe levar. Ele soube quem ela era no momento que a avistou, os olhos expressivos do verde mais lindo que ele havia visto, alguém que lhe estendeu a mão sem querer nada em troca, que lhe tratou com mais gentileza que os de seu próprio sangue, que pôs sua vida em risco por um estranho. Naquele dia ele prometeu que cuidaria dela para sempre.

Mas Sakura era um presente completo, e veio acompanhada. Quando Sarada nasceu foi como se o mundo tomasse cor pela primeira vez, não importava para ele se ela não tinha seu sangue, ela era a menina dos seus olhos. Por elas não mediria esforços, por elas iria até o fim do mundo, usaria todo o seu sangue se fosse preciso até não sobrar mais uma gota em suas veias.

Ele tinha pelo menos duas costelas quebradas sob a armadura, seu maxilar estava deslocado e com certeza quando o sangue desse lugar a sua pele ela estaria repleta de manchas roxas, mas seu oponente tinha tantos cortes que parecia ter passado por um ralador. Jung já estava sentindo a fraqueza decorrente da falta de tanto de seu sangue dentro do corpo, ele havia chamado por mais com o intuito de diminuir o impacto dos golpes inimigos, ele precisava pôr um fim nisso e já.

Daiki investiu contra ele, um chute direcionado a seu peito que Jung desviou com o dorso da mão, um punho carregado de chakra que se conectou com seu ombro enquanto desviava do outro golpe, outro punho se chocou contra o seu estômago e ele se curvou. O moreno passou ambos os braços pelo tronco do ruivo e arqueou sua coluna jogando o corpo dele em um arco que lhe levaria de cabeça para o chão. Jung fechou os olhos e enviou um último comando para seu sangue, ele mais ouviu do que viu as lâminas que se projetaram de todo o seu tronco como se ele fosse um porco espinho, Daiki parou no meio do movimento e o ruivo se libertou do seu agarre caindo no chão. Ele se levantou e olhou finalmente para a figura paralisada de seu inimigo.

Os olhos cor de mel se esbugalhando, o sangue escorreu de seus lábios entreabertos e dos buracos de sua barriga e peito, ele caiu de joelhos e cuspiu sangue no chão e tremeu.

—Posso… não perder - ele se arrastou em direção a Jung mas o ruivo apenas olhou enquanto implorava - Yoshiro-sama…

—Acabou - o ruivo sussurrou, ele sentiu o sangue se recolher novamente para os cortes nos pulsos e quase caiu no chão sem a força da armadura.

—Não! - o grito de desespero irrompeu de sua garganta e ele se levantou com um punho preparado para lhe acertar, os olhos embotados de ódio e raiva.

Jung não conseguiu desviar, mas não precisou, o ANBU com máscara de coruja enlaçou o pulso de Daiki que tremia, o sangue jorrando de seus ferimentos, a única coisa que lhe mantinha em pé era a determinação pura.

—Vá para Sarada-chan, vou terminar para você - a voz feminina e rouca por trás da máscara de porcelana era fria e insensível.

Jung assentiu contrariado e se voltou para o que era mais importante, analisou o cenário ao seu redor e viu os duelos entre o Uchiha e o baixinho e entre Sakura e o gêmeo loiro, levou toda sua força para não correr para ela mas o ruivo sabia que a prioridade era resgatar Sarada das garras inimigas. Ele avançou para o encontro das duas mulheres que guardavam sua criança e viu a loira sorrir para ele com malícia.

—Parece que os meninos não deram conta - ela avançou um passo mas pela segunda vez naquele dia foi impedida, dessa vez pela companheira de cabelos negros.

Ela alcançou uma naginata que ele não tinha reparado antes repousando a seu lado, se levantou de sua posição sentada, ela olhou para Jung e além dele - Emi, você fica e guarda Sarada-chan.

—O que!? - a loira se exaltou.

—Emi, há um ninja escondido ainda, um deles já apareceu, o outro deve estar esperando uma abertura para alcançar a criança, fique e garanta que ela permaneça conosco. - a voz da morena era serena e calma, ela era perigosa.

—Eu gostaria de evitar o confronto, me dê logo Sarada e vamos acabar com isso sem que eu precise machucar você - Jung encorajou a formação de duas novas lâminas em seus pulsos.

—Eu não gosto de conversar enquanto luto, isso distrai minha atenção - ela avançou com a longa arma em sua mão - Terminaremos isso logo.

Jung teve tempo apenas de se defender do ataque dela, ele viu a loira circular Sarada irritada e só pode torcer para que a moreninha aguentasse mais um pouco.


 

&


 

—Os seus gritos me lembram os dela - a voz sussurrada do homem de cabelo cor de mel alcançou os ouvidos de Sakura enquanto ela desviou do toque dele em uma investida muito ágil contra ela.

—Dela? De quem você está falando seu idiota- Sakura cuspiu e deu uma cambalhota para trás aumentando sua distância do inimigo.

—Nossa madrasta - os olhos cor de ébano ficaram nublados por um instante e então um sorriso psicótico se desenhou nos lábios dele - Eu lembro dos gritos dela quando nós a matamos, Daiki e eu, seus gritos são como os dela.

Sakura congelou no lugar, a boca se abriu os olhos se arregalaram perante a informação - Você matou sua mãe?

A diversão no rosto dele se foi substituída por raiva pura - Minha madrasta, ela nunca foi nossa mãe - ele se agachou e pôs ambas as mãos na terra - DotonDosekidake!

Todo os reflexos e o treinamento de esquiva de Sakura foram necessários para desviar das dezenas de estalagmites que se elevaram da terra debaixo de seus pés com pontas de agulha afiadas, ela enviou chakra para os pés e pulou em alta velocidade cada vez que a terra a seus pés se remexia e se tornava uma arma em potencial. Suas reservas foram novamente preenchidas pelo chakra armazenado no selo em sua testa, nada se comparado a sua capacidade normal, ela já não conseguia armazenar muito sem colocar sua vida em risco, mas o suficiente para que ela pudesse usar seu chakra mais confortavelmente e lhe livrar das feridas que eventualmente adquirisse durante a luta.

—Não interessa se ela não era sua mãe de sangue - a rosada cuspiu assim que a onda de estalagmites parou - o sangue não define os nossos laços, e sim nossos sentimentos.

—De fato - ele se ergueu e limpou as mãos - o sentimento que formou o laço de ódio entre mim e ela foi a raiva e a dor. Ela poderia ter sido uma boa madrasta mas ao invés disso bateu tanto em nós que meu irmão que perdeu a capacidade de falar normalmente e eu não consigo levantar a voz. Ela gostava de silêncio, por isso quando a perturbávamos, ela descontava em nossa garganta.

Ele estendeu a mão e outra onda de estalagmites pontiagudas seguiu Sakura para onde ela correu. Ela pensou nas palavras de seu oponente e por um momento sentiu pena dele, ninguém merecia ser maltratado, principalmente por aqueles que deveriam lhe proteger.

DotonArijigoku no Jutsu

A voz dele alcançou seus ouvidos um segundo antes da terra a seus pés se agitar e Sakura ser sugada para o centro de um grande poço, ele a estava enterrando viva. A terra veio de todas as direções e privou de um chão para apoiar seus pés, ela se depositou ao seu redor e acima de sua cabeça, Sakura estava sufocando. 

—Grite - de algum lugar da clareira ele falou em sua voz baixa mas Sakura não daria esse prazer para ele.

Quando a terra lhe cobriu por completo ela se encontrou rodeada de rochas e pedras, Sakura quis gritar mas não podia desperdiçar seu oxigênio, ela não tinha espaço para se movimentar e socar ou chutar a terra, ela mal podia se mexer. O desespero espreitou sua mente já perturbada mas ela o chutou para longe e se pôs a pensar, ser shinobi não era apenas sobre lutas e jutsus poderosos, mas também sobre ser esperto. Fechou os olhos e se concentrou no fluxo errático de seu chakra, tentou suavizar a corrente por seus canais e se colocou a refinar seu controle, respirou fundo e contou cada um de seus batimentos cardíacos. 

Pense Sakura, como você usa o chakra para dar socos que derrubam montanhas? Não é que ela usasse o chakra para conseguir músculos mais fortes e aumentar sua força assim, isso a maioria dos shinobi com o mínimo de conhecimento em controle aprimorado poderia fazer, aprimorar a força fortalecendo o músculo, aumentar sua velocidade tornando-se mais ágil e leve com a ajuda do chakra. Não, a técnica que ela e Tsunade usavam era mais refinada, elas concentravam o chakra no tenketsu por onde aplicariam o golpe e liberavam ele no momento certo, isso sim era destrutivo para o alvo, mas era necessário um controle absoluto sobre o próprio corpo e o chakra, por isso nem todos poderiam fazer.

Sakura quis se bater por não pensar naquilo imediatamente, ela não precisava liberar o chakra apenas dos punhos e dos pés, ela tinha tenketsu espalhado por todo o corpo e mesmo que os das mãos fossem os mais fáceis de manipular não significava que não pudesse manipular os outros, mesmo que seu chakra fosse uma coisa caótica dentro de seus canais ela ainda podia se esforçar para fazer o que precisava. 

Ela imaginou seu chakra fluindo por seus canais, imaginou e incentivou seu caminho para seus tenketsus, visualizou seu fluxo como o de um rio revolto e lhe encaminhou para terrenos menos acidentados e mais planos, tornando-o mais calmo e vagaroso, enchendo os poços de seus tenketsus. Quando se sentiu satisfeita em sentir os tenketsus de seu corpo Sakura liberou o chakra em uma explosão para o exterior, a terra foi expelida longe e destruída a seu redor, ela engasgou com o ar em seus pulmões livre do caixão de terra e a dor lhe atingiu no segundo seguinte, ela se levantou de sua tumba tonta e cambaleando.

—Você se libertou - o ninja inimigo espreitou ao seu redor - sem dar um grito sequer.

Ofegante Sakura encarou ele com raiva - Não importa o quanto queira me ouvir gritar, a única coisa que vai sair da minha boca é um grito de guerra pra você.

—Olha só pra você, está acabada, deveria vir conosco logo por vontade própria e deixar que Yoshiro-sama tenha o que lhe pertence.

—Eu não pertenço a aquele miserável e nunca vou pertencer - ela se ergueu e endireitou a postura lutando contra toda a dor que se alastrava por seu corpo, ela só precisava aguentar um pouco mais - e você também não pertence a ele não importa a merda que ele tenha feito com seu corpo.

—Você não entendeu - ele caminhou pelo terreno desolado e os cabelos loiros foram carregados pela brisa - Yoshiro-sama nos permitiu sair do inferno,  matar nosso demônio e ouvir seus gritos. Ele nos deu um futuro e esse futuro pertence a ele, e eu nunca mais precisarei ficar calado, mesmo que fale baixo minha voz será ouvida.

—De que adianta sua voz ser ouvida se você só grita por ele? Eu acho que você trocou um carrasco por outro, ele vale mesmo essa devoção? Ele é gentil com você ou se importa de verdade?

—Ele se importa - sua face perdeu a arrogância e a raiva preencheu suas feições.

—Eu acho que não - Sakura caminhou ao redor do terreno destruído - eu conheço Yoshiro e sei que ele só se importa com aquilo que é útil pra ele, ele usa as pessoas e depois as descarta, eu vi ele fazer isso, eu vi ele colocar fogo em uma vila inteira, pessoas pra quem ele sorriu e prometeu ajuda. Quando você deixar de ser útil, ele vai se desfazer de você. Me diga que ele não ameaçou vocês caso não me levassem de volta, diga que eu estou errada.

Ele arregalou os olhos e paralisou por um segundo, e tão rápido como a emoção veio ela se foi, a postura se tornou ofensiva novamente - Não importa, eu não falharei. Ainda que esse laço não seja importante para Yoshiro-sama, ele é importante pra mim.

Ele investiu contra Sakura usando taijutsu novamente e ela se esquivou dos golpes dele evitando o contato a todo custo. Ela se desviou dos punhos rápidos e dos chutes, escapou por pouco de uma rasteira, tudo o que podia fazer era fugir dele, qualquer ataque poderia dar brecha para ele absorver o resto do chakra que tinha, havia usado a maior parte para sair da cova que ele cavou para ela, a falta de costume em liberar chakra por tenketsus de todo o corpo lhe custou muito chakra gasto desnecessariamente, ela não podia perder nem mais um pouco, socar o chão e destruir tudo estava fora de questão, não podia arriscar que Sarada fosse atingida.

Sakura desviou de uma joelhada e chute alto com uma estrela para trás e quando pousou sobre seus calcanhares deu de cara com uma cena lamentável. O gêmeo de cabelo escuro estava deitado em um lugar distante de onde estava agora, mas ela ainda podia ver sua figura largada no chão, uma poça de sangue ao seu redor e o ANBU com máscara de coruja ajoelhado próximo, se distraiu por um momento com a cena mas percebeu que não foi atacada com a guarda baixa. Quando procurou por seu inimigo o encontrou a poucos metros de si mesma, olhando para a mesma cena com seus olhos arregalados e boca entreaberta, incredulidade estampava sua face.

—Daiki-nii… - o ninja de cabelos claros parecia uma estátua esculpida para retratar desalento, Sakura viu tanta dor e solidão em seus olhos que seu coração se encolheu. Então ele voltou seus olhos para ela e a dor foi substituída por profunda raiva e ódio mortal, ele levantou o braço e apontou para ela - a culpa é sua - ele se agachou rapidamente e colocou as mãos na terra - Dosekidake!

Uma nova onda de estalagmites se formou contra Sakura e ela fugiu o mais rápido que pode dos espetos de pedra, Daichi apareceu a sua frente correndo contra ela com punhos furiosos e ela se viu presa entre ele e uma infinidade crescente de rochas pontiagudas. Ela se abaixou para fugir do primeiro soco e pulou para a esquerda para fugir do chute, contra todas as probabilidades uma estalagmite brotou onde iria pousar e tomada pelos reflexos Sakura acabou caindo nos braços de seu inimigo.

—Eu vou tirar tudo de você - ele falou perto demais envolvendo Sakura em um abraço de morte.

Acabou.

Diferente das outras vezes em que ele absorveu chakra dela e Sakura nem mesmo soube, dessa vez ela pode sentir, e doeu. Foi como se ele rasgasse seu peito e com garras cruéis escavasse seu chakra de dentro de seus frágeis canais, destruindo tudo no caminho. Um grito morreu em sua garganta e a força se esvaiu de suas pernas. Sakura arregalou os olhos, a dor corroendo sua mente cansada.

Acabou.

Ela sabia que não sobreviveria a aquilo, não depois de tudo. Ativar o selo Yin já fora uma agressão terrível com seu corpo no estado em que se encontrava, seus canais de chakra estavam frágeis demais para comportar toda a onda liberada em sua corrente, mas aquilo, ter seu chakra arrancado tão brutalmente era ainda pior.

Sakura sentiu a tontura e a fraqueza conforme os braços ao seu redor a apertavam mais e lhe tiravam a vida, ela olhou por cima do ombro dele e procurou por Sarada, na esperança de ver sua filha uma última vez. Ela a avistou agachada, mãos acima da cabeça, acanhada e amedrontada, próxima dela a loira soprou uma nuvem venenosa contra o ANBU com máscara de lebre e ele se ajoelhou levando as mãos a garganta, Sakura viu a nuvem mortal chegar perigosamente perto de Sarada e aquilo foi como um clic.

Ela enxergou vermelho.

Ela não se importava de ser machucada, mas ninguém machuca sua filha.

Então Sakura pensou satisfeita que se fosse pra morrer, ela morreria levando aqueles desgraçados junto.

Ela fechou os olhos e fez o que prometeu para si mesma nunca fazer.

Ela parou de controlar, largou as rédeas que mantinha constante sobre seu corpo e chakra e mergulhou de cabeça  no poder. Sakura sentiu suas barreiras cuidadosamente construídas cederem e o chakra natural invadir seu corpo como se fossem pólos opostos se atraindo vertiginosamente, ela sentiu primeiro o choque de todo aquele poder inundando seu corpo e então pela primeira vez em oito anos ela não sentiu dor, e ela quase gemeu diante do alívio.

—Mas o que… - a voz ainda próxima de seu ouvido saiu estrangulada conforme ele continuava a absorver o chakra de Sakura, o problema para ele era que aquilo ia matá-lo. Daichi era como um poço raso que estava transbordando ao roubar a água de um poço sem fundo, uma água envenenada por sinal.

—Absorve isso - Sakura mandou uma grande onda do chakra natural que entrava por seus poros, descontrolado, revoltado e venenoso para o ninja que antes lhe sugava até a alma, ele a soltou na tentativa de se afastar mas foi ela que se prendeu a ele dessa vez, passou os braços ao redor do tronco dele e ouviu os protestos de seu inimigo.

—Já chega - ele tentou de todas as maneiras se soltar da rosada mas era inútil, seu agarre era de aço, ele se debateu e ela viu o fio de sangue escorrer do ouvido dele, ela sentiu o sangue dele escorrer por suas costas e então se afastou, nunca deixando o contato com ele. Ela subiu suas mãos para envolver o rosto atônito, lágrimas de sangue fluíam de seus olhos, nariz e boca, ele tremia e Sakura sentiu as ondas do chakra rebelde corroerem ele de dentro para fora. Ele se debateu uma última vez, e então seu coração parou, os dedos de Sakura deslizaram pela face do homem conforme ele caia morto no chão com um baque surdo.

Ela olhou para as próprias mãos e viu a luz cintilante e azul, uma névoa esverdeada circundou seu corpo e Sakura pode sentir o chakra lhe encher cada um dos tenketsu até o limite e mais. Ela não parou muito para pensar e só avançou para onde outrora sua filha estivera assustada, cruzou a clareira em alta velocidade, o chakra selvagem tornando seus movimentos incrivelmente poderosos. 

Emi esbofeteou Sarada e a menina caiu de joelhos no chão - Quem você está chamando de bafo de tigre sua fedelha!

A mão de Sakura coçou e ela não se conteve quando apareceu entre sua filha e a mulher venenosa e devolveu o tapa com todo o poder que dispunha. A loira voou muitos metros e Sakura olhou para Sarada atrás de si, a menina piscou aturdida e paralisada olhando para ela.

—Mamãe?

—Fique atrás de mim e vai ficar tudo bem floquinho - a voz era tão afiada que foi estranha a seus ouvidos. Sakura avistou a alguns metros Jung e a morena envolvidos em um embate que pendia para o lado inimigo, Sasuke parecia também ter problemas com o homem baixo com duas wakizashis, ela ajudaria eles depois, assim que Sarada estivesse em segurança.

—Sua vadia! - a loira correu novamente em sua direção, o desenho vermelho de sua mão no rosto delicado, sangue escorrendo de sua boca, e lançou uma fileira de senbon com pontas brilhando verdes de veneno, Sakura desviou sem esforço, e lançou um olhar irritado para a mulher que agrediu sua filha.

—Se afaste, ou eu vou esmagar cada um de seus ossos.

—Eu adoraria ver você tentar, eu não sou uma tola e particularmente não me importo se você vive ou morre - ela sorriu como a cobra que era - Eu vou matá-la!

Sakura olhou para ela, fria como gelo - Você não passa de uma idiota afoita, todos os seus companheiros lhe afastaram da batalha por causa dessa sua personalidade de merda, você não encostaria um dedo em mim nem que eu estivesse aleijada.

Emi arregalou os olhos indignada, o olho tremeu com a raiva contida e os punhos cerrados na lateral do corpo se agitaram, ela exibiu dentes amarelados e em seguida soltou um grito ensurdecedor. Sakura viu ela avançar, tomar fôlego e em seguida soprar uma nuvem gigantesca de veneno gasoso para ela e Sarada, ela rapidamente se voltou para a filha e usou seu próprio chakra para envolver Sarada em uma camada protetora, o chakra de seu próprio corpo lhe protegeria do veneno da víbora. Ela andou até estar próxima de onde sentia o chakra da loira e estendeu a mão lhe agarrando a face, sem muito esforço ela pressionou até ouvir o estalo do osso e os gemidos da mulher. Ela se ajoelhou perante Sakura em prantos.

A brisa levou a névoa venenosa para longe e ainda segurando o rosto bonito da loira, Sakura se agachou para ficar em sua altura, apertou ainda mais seu queixo e ela gemeu mais alto, as mãos sustentavam seu tronco sobre o chão, olhando nos olhos cinzentos e arregalados pelo terror a rosada falou diretamente a ela - Agora, vamos conversar sobre aquele tapa que você deu na minha filha.


 

&


 

Sasuke odiava a ignorância, ele odiava profundamente ser o último a saber de algo.

Isso havia sido o principal motivo de  toda a sua vingança desnecessária, não saber. Por não saber ele correu para os braços de Orochimaru, por não saber ele matou seu irmão e quase destruiu sua vila natal. Cego pelo ódio, privado de conhecimento e manipulado ele quase matou Sakura. Ele odiava muito quando não sabia sobre algo.

O sentimento de confusão se apossou dele quando ele viu Sakura envolta naquele poder descomunal, exalando aquele chakra selvagem e destrutivo levantar a mulher de cabelos claros pelo pescoço com uma mão e com a outra quebrar o braço dela. Um grito estrangulado saiu de sua boca torta devido a fratura. Sakura largou a mulher que caiu no chão mole e chorando, uma torrente de obscenidades foram cuspidas por sua boca venenosa e como se ela fosse uma bola Sakura a chutou, Emi cruzou a clareira e se chocou contra a companheira que foi levada pelo impacto para o limite do terreno. Sasuke observou o ruivo arregalar os olhos em terror e correr na direção de Sakura como se ela estivesse prestes a explodir.

O que estava acontecendo?

Surpreso o Uchiha constatou que seu oponente largou o duelo que antes travavam e correu em direção a Sakura, as duas espadas empunhadas e apontadas para ela que estava de costas para ele. Sasuke correu e lançou uma fileira de quatro shuriken com precisão cirúrgica contra seu inimigo que prontamente chocou suas lâminas contra os projéteis, o moreno amaldiçoou o homem de cabelo castanho por bloquear seu chakra. 

—Sakura! - o Uchiha gritou quando Hideo desceu sua espada contra as costas desprotegidas dela, ele se preparou para ver o ferimento se  formar mas tudo o que viu foi o aço ser repelido com força e ele ser jogado longe como se tivesse sido golpeado.

—Jung cuide de Sarada - a voz fria de Sakura soou errada nos ouvidos de Sasuke. Ela não parou para receber a resposta do ruivo que se aproximava da moreninha e cortava suas cordas, Sasuke alcançou eles e observou Sakura em um duelo absurdo com o homem que antes lutava com ele. A velocidade e a força com a qual ela lutava era algo diferente de tudo o que ele já havia visto, ela parecia uma estrela brilhando e pulsando rápida e feroz, quando o homem descia sua espada contra ela, Sakura desviava como se o mundo a seu redor se movesse em câmera lenta, ela agarrou a lâmina que ele investiu contra seu rosto e nem uma gota de sangue saiu de sua pele azul cintilante, como se fosse palito e não aço ela quebrou sob seu agarre.

Irritado Hideo golpeou em um ataque reto e direto, e quando a ponta da espada se chocou contra o punho de Sakura, foi a lâmina dele que se despedaçou. Com olhos arregalados e incrédulos ele tentou fugir com um movimento furtivo, mas a Haruno esperava por ele. Ela apareceu a suas costas e desferiu um soco que com certeza quebrou todas as costelas do oponente, e quando ele cuspiu sangue e o líquido escarlate também escorreu por seu nariz Sasuke concluiu que seus pulmões haviam explodido. Seu corpo caiu longe de onde Sakura estava e ela não se moveu para ir atrás dele, nem quando a morena apareceu e rapidamente carregou Emi e Hideo para longe de suas vistas.

Sasuke viu o ANBU de máscara de coruja sumir por onde os outros haviam fugido. Tudo aconteceu tão rápido que foi estranho aos olhos dele. O Uchiha sabia que Sakura era poderosa, ela era forte e inteligente, mas aquele poder que ela exibia era algo em outro nível, ela havia aprendido aquilo em seus anos afastada de Konoha? O que era aquilo afinal? O moreno olhou para Sarada a seu lado e trocou um olhar com sua filha que parecia muito confortável no colo do ruivo, ela piscou para ele e Sasuke tocou sua testa ternamente, ela estava segura. O ruivo tinha seu olhar cravado em Sakura, cenho franzido e uma expressão preocupada, Sasuke se voltou para ela também

Sakura andou na direção deles, o rosto se suavizando e o brilho azul cintilante dando lugar a pele clara dela, conforme ia voltando ao normal a rosada caminhava com mais dificuldade e a poucos metros deles ela parou de repente.

—Jung, tira a Sarada daqui - a voz era estrangulada e saia com dificuldade - Agora! - ela gritou em desespero.

—Droga - o ruivo parecia dividido entre correr com Sarada para longe e correr para Sakura.

—O que está acontecendo? - se viu obrigado a perguntar quando observou Sakura tremer, ele deu um passo em sua direção e estendeu sua mão.

Uma cena de pesadelo se desenhou a sua frente, no segundo seguinte Sakura cuspiu tanto sangue que uma nuvem vermelha se formou, com os lábios manchados de vermelho e sangue banhando seu queixo ela sorriu um sorriso tão triste que Sasuke quase chorou. Ele correu para ela a tempo de aparar seu corpo antes de cair no chão, seu peso se acomodou em seus braços e o moreno viu mais sangue escorrer de seu nariz e ouvidos, manchando o cabelo cor de rosa de vermelho.

—Mamãe! - Sarada gritou atrás dele.

—Sakura - Sasuke chamou por ela, seus olhos estavam abertos mas nublados, cansados - Sakura, não durma, fique comigo - ele pôs a mão em seu rosto ensanguentado e sentiu a pele fria por baixo, fria demais.

—Cuid… cui…- ela tentou falar mas as palavras eram afogadas em sangue, Sasuke sentiu como se alguém envolvesse a mão em sua coluna e puxasse, desespero nublou seus pensamentos.

—Não fale por favor, só fique comigo - atrás dele Sarada chorava e o ruivo tentava acalma-la, em seus braços o sorriso triste continuava a contornar os lábios de Sakura, lágrimas rolaram de seus olhos. 

Por favor não.

Ela tomou um fôlego mais fortemente e seu corpo tremeu com o esforço - Cuide…. de Sar….Sarada - Sasuke sentiu a visão embaçar com lágrimas não derramadas, ela levou a mão trêmula ao rosto dele e limpou a gota solitária que caiu - obrigado.

O coração de Sasuke batia loucamente contra suas costelas e ele tremia de medo, terror gelado se arrastou por suas veias enquanto ele segurava uma Sakura banhada no próprio sangue em seus braços.

Por favor, por favor não!

A mão fria tremeu uma última vez e então caiu ao lado do corpo inerte, os olhos se fecharam e Sakura se foi.

 

 


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Notas finais do capítulo

Kirigakure - vila oculta da névoa

Kekkei genkai - técnicas exclusivas de uma linhagem sanguínea, como sharingan, byakugan, o gelo do Haku…

Shi no ken - punho da morte (eu inventei isso, imagino que cada pais tenha seu próprio estilo de taijutsu, mas como não encontrei nada inventei isso ai)

Chiton - é o estilo sangue que é a kekkei genkai de Jung, eu inventei também mas não lembro se teve algo parecido no anime ou mangá, chi em japonês significa sangue e como em todos os estilos de naruto terminam com ton eu só juntei eles dois.

Gisei soko - armadura de sacrifício

Inochi no ha - lâmina da vida

Sobre a kekkei genkai de Jung e as perseguições, lembram dos expurgos de Kiri e a situação de Haku? Pois é não era só com o clã dele que havia perseguição, mas contra todos os que possuíam alguma kekkei genkai, qq dúvida me pergunta nos coments que eu esclareço

Ninpo: kami no taijutsu - arte ninja: taijutsu divino

Naginata - é tipo uma lança mas típica do Japão

Sobre o por que de eu ter colocado bafo de tigre e não bafo de onça: a onça é nativa da américa do sul, não tem no japão então a expressão seria errada, substitui por tigre por que é o grande felino nativo da Ásia.

Se você chegou até aki é um vencedor!

Então... eu amei escrever esse capítulo, eu construi essa história em torno dessa cena e chegar aki é super maravilhoso. Muito obrigado a todos os que me incentivaram comentando e favoritando, eu agradeço muito. O próximo vai ser tenso e vai demorar um pouquinho. Me contem o que acharam nos comentários, eu to louca pra conversar sobre esse capítulo, até mais!



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