O cheiro do chá lhe alcançou antes de sentir Shizuka-sama se juntar a ela no banco da varanda. Naquele mesmo banco, onde seis anos antes teve as primeiras contrações para trazer Sarada ao mundo, a mancha havia sumido a tempos atrás, mas de alguma forma Sakura sentia algo reconfortante sempre que sentava ali, como uma lembrança compartilhada com o móvel. Agora depois de tanto tempo ela se sentava, ainda fraca e sentindo dor, e assistia sua filha rodeada por Jung e Kito lançar kunai e shuriken com uma habilidade que só podia ser herdada de seu pai. Os alvos no circuito em distâncias variadas até cinquenta metros e alguns em movimento tornavam o desafio para a pequena mais emocionante como ela gostava.

A anciã depositou uma bandeja com o tangping e duas chawan na mesinha ao lado, o cheiro forte do Matcha deu arrepios em Sakura, Shizuka-sama gostava dele bem forte e consequentemente bem amargo, e apesar de já ter se acostumado nunca era um prazer tomar aquele chá, mas se normalmente a idosa era suave e permissiva, quando o assunto era chá Shizuka-sama se tornava uma tirana com mãos de ferro. Uma vez por mês ela sujeitava todos a uma longa cerimônia do chá, com direito a kimonos e todo o resto, faltar não era opção, ela poderia ser muito vingativa quanto a isso.

—Sarada-chan está cada vez melhor no Shurikenjutsu  - ela comentou enquanto enchia as duas chawan com o líquido verde - em pouco tempo ela será tão boa quanto um genin formado na academia.

—Sim, e em breve seus canais de chakra estarão maduros o suficiente para que ela realize ninjutsu - Sakura tomou a primeira tigelinha das mãos de Shizuka-sama e agradeceu - Mas eu gostaria de esperar um pouco antes de ela começar a aprender ninjutsu elementar, quero que ela aprenda a se curar das queimaduras que vai ganhar antes que comece a brincar com fogo.

—Oh - a mais velha bebericou o chá - você acredita que ela terá afinidade pela natureza do fogo?

—Sim, provavelmente, a família do pai é famosa por seus jutsus de Katon.

—O pai também é um usuário proficiente em natureza do relâmpago, e há sempre a possibilidade de ela ter uma afinidade completamente diferente - os olhos astutos da mulher de cabelos brancos seguiram a pequena pelo campo aberto ao redor da casa da Taverna.

—Sasuke tem afinidade com todas as naturezas de chakra de qualquer forma, mas independente disso ela será uma shinobi excelente - o sorriso que se abriu nos lábios da Haruno foi um deleite aos olhos cansados da outra mulher.

—É a primeira vez que ouço você dizer o nome dele querida - as duas se encararam.

Sakura sabia que embora nunca tivesse contado a Shizuka-sama, a mulher sabia exatamente quem era o pai de Sarada, ela havia dado indícios disso muitas vezes. Dentre todos eles Jung era o único que sabia por sua boca, apenas porque ele sabia tudo o que havia para se saber sobre a rosada. Ela não escondia deles, apenas não saia espalhando, até porque a linhagem era amplamente perseguida e não tinha intenção de colocar mais aquele fardo nas costas da filha. Shizuka-sama era a líder de um habilidoso esquadrão de espiões, alguém cujos segredos tinha segredos e de quem nada se escondia, ainda sim Sakura não a temia, sabia que a idosa gostava dela e o sentimento era recíproco. Ela lhe acolheu desde o primeiro dia, lhe ajudou na gravidez, fez seu parto e cuidou de Sarada mais vezes do que podia contar, ela era o mais próximo de uma mãe que Sakura tinha ali, e ainda mais, Shizuka-sama tinha profundo carinho por Sarada.

—Na verdade é a primeira vez que falo o nome dele em muito tempo - ela sorriu amarelo - Ainda sim parece que nada mudou sobre como eu me sinto sobre ele - o suspiro cansado que ela deu foi triste até para seus ouvidos.

—Ouça as palavras dessa velha que já viu muito - ela tomou as mãos da rosada - um grande amor só pode ser esquecido com o tempo, e alguns nem o tempo leva.

Ela assentiu - eu acho que o meu caso é o segundo.

Ambas riram cúmplices e voltaram a observar os três que corriam em frente a casa - Pelo menos ele te deu Sarada, você saiu no lucro minha querida.

—Certamente - Sakura observou a moreninha pular de galho em galho com o coração apertado enquanto os dois homens lhe lançavam kunais afiadas - Sarada é a melhor coisa que me aconteceu, por ela eu não me arrependo de nada - ela bebeu do chá amargo e tentou esconder a careta. 

—Você é uma boa mãe - os olhos suaves dela sorriram com os lábios.

A voz de Sakura falhou, sua garganta fechou e ela segurou as lágrimas - não sou não - um mero sussurro.

—É claro que é meu bem - Shizuka-sama lhe tomou a mão em seu colo e acariciou o dorso - você a ama e cuida dela, lhe protege e conforta, você é tudo para ela Sakura-chan.

Os olhos cheios de lágrimas da rosada encararam a face envelhecida de Shizuka - Mas ainda sim eu continuo sendo uma péssima mãe - gotas gordas rolaram por sua face desconsolada - tenho arrastado ela por diferentes países desde que ela tinha um ano de idade, vive fugindo e não pode frequentar a academia como uma criança normal, ela nem tem amigos da sua idade - um soluço cortou sua fala - e eu ainda vou deixá-la, vou deixar minha filha sozinha nesse mundo - Sakura se curvou e pousou a testa nos joelhos, o cabelo recém cortado caia muito curto nas laterais de seu rosto e as lágrimas molharam sua calça, ela soluçava como uma criança perdida.

Estava cansada, tão cansada. A crise da noite passada fora agressiva e dolorosa, seu corpo todo doía como se cada nervo estivesse nu e exposto, respirar era uma tarefa dolorosa, ela sentia os solavancos de seu coração e a corrente dolorosa de seu sangue nas veias. Era tão agradecida por Sarada estar muito ocupada com Kaoru que não presenciou a cena, e por Jung e Kito a distraírem o suficiente para ela não notar sua face doente, elas estavam mais frequentes e agressivas, ela temia cada vez mais não sobreviver a próxima.

Era tão doloroso olhar para sua filha e ter que se despedir silenciosamente todos os dias, e  acordar e agradecer a Kami-sama por poder vê-la mais um dia. Era angustiante pensar que nunca a veria crescer, nunca a veria se tornar a excelente ninja que ela tinha certeza que seria, nem vê-la se apaixonar ou estar lá para consolá-la de um coração partido, de não poder estar lá para ela em seu casamento para arrumar o obi do Tomesode no último momento, nem ajudá-la com seu primeiro filho. Tantas coisas que Sarada teria que enfrentar sozinha porque que ela iria abandonar a filha, por que a morte iria lhe arrastar para longe.

Uma mão delicada pousou no topo de sua cabeça e lhe afagou os cabelos, Yame lhe ajudou a cortá-los naquela manhã e as pontas ainda estavam ásperas na altura da orelha. Os dedos magros de Shizuka-sama passearam por seu couro cabeludo carinhosamente - Não se preocupe querida - havia um pequeno traço de dor naquela voz - quando chegar a hora, quando você for descansar, Sarada-chan não estará sozinha - ela gentilmente levantou o rosto já vermelho e inchado pelo choro de Sakura - nós vamos cuidar dela.

—Obrigado Shizuka-sama - ela limpou as lágrimas do rosto.

Obrigado por não me iludir com palavras tolas de cura, obrigado por confiar em mim, obrigado por olhar pela minha filha, obrigado pela sua sinceridade, obrigado.

&

Sasuke já estava cansado daquela sala a horas.

Infelizmente a investigação do País do Chá estava tomando muito tempo. As informações trazidas pelos espiões que Konoha mantinha ao redor do mundo estavam chegando e criando pilhas, pouco antes de Sasuke sair do país na missão que lá desempenhou uma meia dúzia de informantes fora plantada em toda a nação. 

Agora, rolos de pergaminhos se acumulavam em uma caixa no escritório do Hokage, na sala ao lado, um cômodo mais discreto e privado onde o Hokage realizava reuniões privadas ou conduzia investigações mais discretamente, longe das vistas dos shinobis que entravam constantemente no escritório do hokage, era ali onde ele e Shikamaru se debruçavam sobre os rolos em busca de informações relevantes. Um quadro havia sido colocado na parede a suas costas, uma foto do homem alvo de toda a investigação se encontrava fixa no centro do quadro de cortiça, onde linhas vermelhas e pinos o conectavam a evidências, hipóteses e eventos que eles haviam associado ao homem.

Era para essa foto que Sasuke olhava agora, havia se levantado da cadeira onde sentava e saído de seu lugar a mesa onde metros de papel se estendiam e encarava o homem de cabelos brancos e longos, o sorriso que se desenhava em seu rosto era falsamente dócil, os olhos dourados brilhando com malícia, a foto havia sido tirada por um dos espiões durante um evento público no País do Chá. O moreno encarava o homem completamente compenetrado, quando pusesse as mãos nele, quando ele caísse de seu trono protegido e estivesse à mercê da justiça Sasuke teria o prazer de lhe prover um inferno particular, a raiva pura e gélida que corria pelas veias do Uchiha toda vez que ele lembrava o que Sakura e sua filha passaram por causa do homem na foto seria suficiente para congelar até as areias escaldantes dos desertos do País do Vento. 

—Vai com calma aí Sasuke - Shikamaru o despertou de seu devaneio - não queremos que você coloque fogo em todo nosso trabalho, esse olhar poderia matar alguém.

—Hum - ele voltou seu olhar para onde o Nara estava sentado - Estou saindo.

—Nee, boa sorte com Sarada, crianças podem ser problemáticas - 

O moreno assentiu e se pôs a andar em direção a porta da sala, entrou no escritório onde dois ANBU se encontravam ajoelhados em posição de respeito ao Hokage, o primeiro tinha uma máscara de coruja e era pequeno e magro, cabelos cor de chocolate e ombros finos, provavelmente uma mulher, o outro igualmente magro mas alto, madeixas negras espetavam para fora de sua cabeça e lutavam com a máscara de porcelana em formato de lebre. Naruto ouvia o que quer que os agentes estivessem relatando com demasiada concentração, ao notar o amigo que acabara de entrar na sala o loiro levantou a mão sinalizando para os dois interromperem seu relato.

—Sasuke, algo aconteceu com os amigos da Sakura-chan. - o loiro olhava para Sasuke com uma expressão preocupada - Coruja e Lebre encontraram o grandalhão nadando no próprio sangue em um dos campos de treinamento - os músculos do moreno se tornaram rijos imediatamente - Temos quase certeza que isso pode significar uma invasão do perímetro da vila. Kito já foi levado ao hospital e eu mandei outros dois verificarem a casa da Sakura-chan, você esteve com algum deles hoje?

Os punhos se formaram automaticamente - Não, passei a manhã aqui, mandei uma mensagem para Sarada hoje cedo, mas não vi ninguém. Algum relato de entrada forçada nos portões?

—Não, e é isso que está me preocupando. Talvez -

Naruto não teve chance de terminar a frase, a porta do escritório se abriu com ignorância, os dois ANBU se posicionaram em frente ao Hokage e Sasuke levou a mão ao punho de sua kusanagi, mas não era o inimigo a porta, era Sakura. Vestida com o uniforme ninja, a calça escura e sandálias ninja padrão, apenas a blusa de manga comprida havia sido substituída por uma regata vermelho escura, luvas de combate na mão e uma expressão assassina no rosto, um fogo queimava em seus olhos com determinação pura, o cabelo curto roçava suas orelhas. Ela olhou por toda a sala, passando de Naruto para os agentes ANBU e pousando por fim em Sasuke.

—Levaram Sarada - as palavras rolaram por sua boca como se ela estivesse entregando o relatório de uma missão, desespero escaldante rolou pela espinha de Sasuke.

—Como assim a levaram? - foi Naruto que perguntou, a respiração difícil de Sasuke o estava impedindo de raciocinar rápido o suficiente para formular perguntas. 

—Foram os agentes de Yoshiro - ela deu alguns passos adentrando a sala, aos poucos os ninjas da ANBU relaxaram e se postaram ao lado do Hokage - Kito e Shizuka-sama a levaram para treinar, Shizuka-sama chegou a menos de dez minutos em casa completamente desorientada, ela relatou que os agentes de Yoshiro neutralizam Kito e levaram Sarada - a voz não vacilou nem um momento, ela estava de alguma forma anestesiada, como se estivesse se preparando para isso a vida toda. Infelizmente o mesmo não se aplicava a Sasuke - Envie uma equipe para buscá-lo por favor.

—Ele já está no hospital Sakura-chan - assegurou Naruto.

—Ótimo, vim aqui para solicitar uma missão de resgate. Seguindo o protocolo Jung foi na frente para não perder o rastro, mas tenho certeza que eles não irão tão rápido, o propósito de sequestrar Sarada é me levar a alguma armadilha.

—Protocolo? - Naruto perguntou confuso.

—Eu vivi escondida e em fuga nos últimos oito anos, Sarada tem um colar que me permite acha-la nos confins da terra, é claro que eu tenho um protocolo para o caso de ela ser sequestrada - o Nanadaime coçou a cabeça nervoso e ela voltou seu olhar para Sasuke que continuava petrificado - vim buscar Sasuke para ir comigo, se puder mandar apoio em seguida eu ficaria agradecida.

—É claro que vou mandar ajuda, mas Sakura-chan se é uma armadilha pra você, seria burrice ir até lá - Naruto se levantou e contornou a mesa, encarou a amiga de perto preocupado com sua segurança.

—Não importa - ela sustentou o olhar do loiro com pura determinação - vou buscar Sarada nem que seja no inferno, e nem você nem ninguém vai me impedir.

Sasuke olhou para a mulher a sua frente, ela exalava a frieza de um expert em sua área, um profissional habilidoso em seu ofício. Sasuke estava com a mente em branco desde que ela entrou e jogou aquelas palavras no colo dele.

Sarada foi levada.

Sarada se foi.

O tremor que se estendeu por todo seu corpo foi fruto de seu próprio trauma. De repente ele estava de novo no distrito Uchiha, haviam corpos em todo lugar e ele estava só novamente. Sua filha havia sido levada agora.

Durante os últimos dias ele fora feliz como uma pessoa comum. Passar o tempo com sua filha, poder ensinar a ela aquilo que seu pai havia passado para ele, de poder ver a menina correr e cair, de ver seu biquinho emburrado quando contrariada e irritada com suas falhas e então ver seu sorriso quando sob sua orientação ela conseguia. De passear pela vila com ela conhecer suas manias e ouvi-la contar sobre os lugares por onde viajou com Sakura e compartilhar com ela suas próprias viagens. Ele amava sua filha. Amava tanto quanto jamais pensou amar alguém. Ele simplesmente não enxergava mais sua vida sem ela.

Então mais uma vez quando tudo parecia certo e bom seu chão lhe foi arrancado. Seus músculos estavam rígidos, sua boca seca, a respiração pesada como se tivesse apostado corrida pelas montanhas do País do Trovão. Ele era um fiasco de pai, não conseguia proteger sua filha, apenas paralisar diante do desespero. Então ele notou algo em Sakura, viu o pequeno tremor nas mãos, os ombros tensos e a postura rígida, ela estava se forçando a calma. Ela provavelmente estava tão ou mais desesperada do que ele, mas havia afastado tudo isso para poder ir atrás dela.

Sakura era uma ótima mãe, e ele queria ser um bom pai também.

Então ele afastou todo o desespero para um lugar longínquo em sua mente e se concentrou no agora, em Sarada. Em sua frente Naruto ainda discutia com Sakura, ele deu um passo em direção a ela, nunca dar um passo foi tão difícil.

—Sakura - o loiro e a rosada se calaram e olharam na direção de Sasuke, o moreno estendeu a mão para ela e Sakura encarou - vamos buscar nossa filha.

Os olhos dela se arregalaram levemente, tantos sentimentos tocaram a superfície verde cristalina que por um momento era como olhar para a Sakura adolescente de novo, um misto de força e fragilidade, de dureza e gentileza. Ela deu um passo em sua direção e envolveu a mão grande com seus dedos pequenos - Vamos.

—Eu gostaria de poder ir com vocês, mas não posso - Naruto se resignou e olhou em direção aos dois ANBU a seu lado - Coruja e lebre por favor acompanhem eles, estarei mandando uma equipe de apoio assim que puder.

Eles assentiram e ouviram um boa sorte antes de dispararem para fora pela janela seguidos dos dois ninjas mascarados.

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—Eles estão parados a pelo menos quinze minutos em uma clareira a trezentos metros daqui. São seis pessoas, cinco ninjas e Sarada - ouvir o nome da filha fez o coração de Sakura se apertar - eles não foram nada cuidadosos com seus rastros, caçá-los não foi nada difícil.

—Eles estão nos atraindo para uma armadilha - Sakura analisou o local da floresta onde se encontravam, depois que deixaram o escritório do Hokage, Sakura, Sasuke e os dois ninjas da ANBU viajaram em velocidade vertiginosa para alcançar o ruivo que caçava os sequestradores. Encontraram Jung em uma ponte próxima a um vilarejo ao sul de Konoha, mais a frente na clareira onde os ninjas aguardavam o terreno era plano e baixo rodeado de árvores e cortado por um riacho, tinha um tamanho considerável, ela já havia usado o local anteriormente para treinar com  Tsunade, um treino das duas com o selo Yin ativado poderia ser prejudicial a infraestrutura da vila, então elas eventualmente usavam alguns campos fora da vila para treinar sem medo de grande destruição - o local é propício para um campo de batalha mas não é bom para esconder armadilhas.

—Ainda sim eles estão aguardando o confronto com o inimigo - Sasuke colocou instintivamente a mão sobre o cabo de sua kusanagi enquanto falou  - ainda que não estejam preparando armadilhas eles estão em posse de Sarada.

—Não podemos demorar em confrontá-los, ou eles podem voltar a se movimentar e perder o rastro deles não é um risco que podemos correr - Jung se alongou - seja o que for devemos ir logo.

—Seria prudente deixarmos os dois de tocaia em nossas costas - Sasuke apontou para os dois ninjas mascarados que ouviam atentamente - para o caso de um ataque surpresa na retaguarda.

—Ficaremos na borda da clareira - ofereceu a lebre.

—Entramos se as coisas ficarem complicadas - coruja completou.

— Por favor fiquem de olho em Sarada - a rosada pediu aos dois ninjas mascarados e recebeu um aceno de confirmação deles - Os agentes de Yoshiro são ninjas especiais. Os que ele mandou certamente são poderosos e diferente de nós vão saber o que estão enfrentando então não é correto subestimá-los - Sakura ajustou as luvas e recebeu um aceno de entendimento de todos e eles partiram de encontro ao inimigo.

Quando pousaram os pés na clareira ocupada pelo inimigo o coração de Sakura retumbava em seus ouvidos, adrenalina corria por suas veias e os músculos estavam tensos e prontos para o calor da batalha. Sasuke estava a sua esquerda e Jung a sua direita, como o combinado os dois ANBU ficaram na borda da clareira, sua presença completamente imperceptível. O lugar era como ela se lembrava, amplo e aberto, a grama na altura dos calcanhares, cortando o terreno aberto como uma ferida exposta o riacho serpenteava a leste, na borda oposta  da clareira uma fileira de ameixeiras carregada de flores branco-rosadas se desprendiam dos galhos em uma nevasca de cheiro doce, e afastados do centro do terreno um grupo de cinco figuras se destacava.

Os gêmeos estavam entre eles, ela teve a visão dos cabelos negro e mel e o simples conjunto de calça e camisa que eles costumavam usar, sendo a única diferença a faixa que cada um usava na cintura da cor de seus respectivos olhos, vê-los lhe fez cerrar o punho automaticamente, eles estavam sempre lá quando Yoshiro gentilmente lhe torturava. Ao lado deles uma mulher jovem e muito bonita transbordava irritação, sandálias gladiadoras sem salto se agarravam a seu pé com tiras finas e brancas, um curto e colado shorts creme se agarrava a seu quadril, sob a faixa que lhe cobria o busto um haori ocre sem mangas atado à cintura chegava ao comprimento do shorts, seus lindos cabelos loiros pálidos farfalhavam com o vento e seus olhos azul-cinzentos estavam intempestivos, completamente o oposto da outra mulher sentada no chão em posição de lotus a seu lado, longas pernas, sandálias e calça ninja padrão, uma camisa justa de gola alta e mangas longas também preta, longos cabelos cor de ébano trançados frouxamente caiam por suas costas e sua postura era relaxada tal qual sua expressão. Também sentado, mas em posição de seiza se encontrava outra figura, mais baixo que os gêmeos, esguio e sereno, um conjunto de cabelos e olhos cor de chocolate amargo, expressão séria e postura reta, trajava sandálias ninja, calça justa e um camisa preta, um haori verde por cima, em seu colo duas wakizashi repousavam, a presença dele fez Sakura vacilar, ela conhecia aquele homem de muito tempo atrás.

Seus pensamentos foram levados para longe quando ela avistou a figura diminuta da filha amordaçada e sentada atrás dos ninjas em uma pedra que despontava da clareira, seus braços estavam puxados para suas costas onde cordas prendiam as mão juntas. Sakura controlou a ansiedade e o ímpeto de correr para abraçá-la e se contentou em ver que ela não tinha nenhum arranhão.

—Finalmente! - esbravejou a loira batendo o pé repetidamente - eu pensei que vocês não chegariam nunca.

—Desculpe, eu não tinha ideia que um grupo tão distinto me aguardava ansiosamente- a voz de Jung pingava zombaria.

—Aguardar você estamos nós não - o gêmeo de cabelo negro se pronunciou e lançou um olhar a Sakura.

—Sinto saudade dos gritos dela - sussurrou o de cabelos mel.

—Devolvam minha filha - raiva pura encheu o timbre de Sakura.

—Venha pegá-la sua vadia - a loira fez menção a dar um passo na direção deles mas a morena sentada a seu lado colocou a mão em seu calcanhar. 

—Emi - ela olhou para a loira que bufou contrariada.

—Você é uma chata Yasu.

A morena, Yasu, voltou os olhos para eles - Estamos aqui para negociar - a voz calma e profunda dela encheu os ouvidos de Sakura - Não é nossa intenção ou de nosso mestre machucar a criança, viemos aqui por Haruno-san, por favor se entregue e sua filha será libertada sem qualquer arranhão.

—Isso está fora de cogitação - Sasuke deu um passo a frente - devolvam Sarada e eu permitirei que permaneçam vivos.

A loira, Emi, explodiu em uma gargalhada histérica, a seu lado Yasu suspirou e tirou a mão do calcanhar dela, ela caminhou lentamente até estar a apenas dois metros de distância deles, levantou o braço e chamou Sasuke com a mão - Eu adoraria ver você tentar me matar - agora de perto Sakura olhou mais atentamente para a mulher, a pele era lustrosa e brilhante como se tivesse uma camada cerosa sob ela, um cheiro doce picante e irritante pinicou seu nariz, a rosada viu horrorizada a grama morrer por onde a loira passou e por instinto deu um passo para trás.

—Veneno - ela sussurrou.

Os olhos cinzentos se fixaram nela e um sorriso viperino se desenhou nos lábios cheios - gostaria de experimentar?

—Eu lutarei com Sasuke-san - Emi foi interrompida pelo homem baixo que havia permanecido calado e observando a troca de palavras, ele se levantou com a graça de um felino e empunhou as duas espadas - Yasu - voltou seu olhar castanho gelado para a morena ainda sentada - fique e guarde nossa prisioneira.

—Sim senhor - ela assentiu.

— Daichi, Daiki - Ele voltou seus olhos para os gêmeos - você podem enfrentar os outros dois, cuidem para não machucar tanto Sakura-san - os dois sorriram - Emi, recue e fique com Yasu.

A loira se virou irada e encarou o homem de cabelos castanhos - Hideo-san isso é um absurdo eu - ela parou de falar no segundo seguinte, a lâmina dele estava apontada para sua garganta, ele se moveu com tanta velocidade que Sakura teve que olhar de novo para onde ele se encontrava antes e confirmar que ele havia se movido, nem a característica fumaça do shunshin foi visível.

—Obedeça.

Engolindo em seco Emi deu um passo para trás e trotou para onde a outra mulher aguardava, quando sentou a vegetação ao seu redor morreu. Sakura levou seus olhos para Sarada novamente, a filha encarava a todos de cenho franzido, quando encontrou os olhos da mãe ela assentiu levemente e Sakura sentiu muito orgulho de sua filha.

—Quem você quer Nikuya? Cachinhos dourados ou a gueixa? - Jung sorriu para ela enquanto os gêmeos caminhavam até eles. Pelo canto do olho ela viu Sasuke defender um poderoso e rápido ataque de Hideo, eles trocaram golpes até se distanciarem de onde ela e Jung continuavam lado a lado encarando os dois homens a sua frente.

—Quem você quer Daiki? - sussurrou o homem de cabelos mel, sua voz cruel e arrastada - algodão doce ou amorinha?

—Amorinha!? -se indignou Jung.

O moreno olhou para o irmão e em seguida para Jung -Deixe-me ver Daichi - ele pausou dramaticamente - Amorinha - ele pulou em seguida para o ruivo e Sakura teve que se concentrar em desviar do ataque do outro.

Ela se esquivou do punho do inimigo arqueando sua coluna para trás, os pés plantados no chão, ela agarrou o braço dele e lhe puxou para si, seu punho se encontrou com a mão do loiro que bloqueou seu soco e ambos pularam para trás com o impacto. Sakura ofegou, ela estava fora de forma e apenas a memória muscular lhe permitiu desviar do ataque,  estava lenta a ponto de ser bloqueada. Ela não tinha o costume de se envolver em combates a muito tempo, ainda sim ela treinava constantemente para nunca perder a forma, infelizmente mais de dois meses, entre cativeiro e Konoha, haviam se passado desde que ela teve sua última sessão de treinamento, a dor constante também não lhe ajudava. Ela respirou fundo e enviou um pouco de chakra para todo o corpo para reforçar sua estrutura e compensar sua falta de condicionamento.

Ela olhou para o homem a sua frente, Daichi, como ele havia sido chamado, o cabelo cor de mel dele se agarrou ao pescoço e ele sorriu cruel.

—Eu costumava a ouvir seus gritos quando estava na base subterrânea - seu sussurro baixo quase carregado pelo vento - vou gostar de ouvir novamente.

Sakura olhou para ele e praticamente rosnou - vai ficar querendo seu miserável - ela enviou chakra para a planta dos pés e tomou impulso, força e velocidade se uniram e ela estava indo para ele com o punho carregado de chakra, Daichi desviou com dificuldade no último momento esticando o pescoço para o lado. O outro punho de Sakura no entanto, alcançou a camisa dele e lhe prendeu no lugar, com o braço do primeiro ataque ainda esticado ela bateu o dorso da mão contra a lateral do rosto dele e viu o homem voar por pelo menos cinco metros levantando poeira. Eles trocaram uma sequência de golpes rápidos quase sem sair do lugar, Sakura atacou e defendeu usando muito da sua memória muscular e reflexos para desviar dos movimentos rápidos dele, soco, defender, chute, desviar, rasteira e esquivar, ela acertou dois socos e três chutes e foi acertada outras três vezes, desferiu um soco potente carregado de chakra na abertura que Daichi deixou ao se abrir para atacar e ele foi jogado a alguns metros. Ela respirou pesadamente e se sentiu muito cansada, verificou suas reservas de chakra e franziu o cenho ao constatar que havia gastado mais do que o pretendido nos poucos golpes que havia usado até agora, era estranho, ela normalmente tinha controle absoluto sobre seu chakra e era extremamente regrada ao gastá-lo.

Endireitou sua postura e flexionou os dedos da mão, observou seu oponente se levantar do último golpe e limpar o filete de sangue que desceu do canto de sua boca, ele sorriu e endireitou sua postura -Isso foi interessante - 

Apesar de sua notável habilidade no taijutsu, alguma coisa parecia estranha em seu estilo de luta, ele era rápido e preciso mas apesar disso ela conseguiu lhe acertar vezes o suficiente para constatar que taijutsu não era sua especialidade. Ele a estava levando bem mas era claro que a superioridade na luta era dela, se estivesse em plena capacidade o combate já teria terminado. Ao mesmo tempo parecia para ela que ele estava se segurando, aguardando para envolve-la em algum jogo ou levá-la para onde seu verdadeiro golpe machucasse mais.

—Vou bater até ouvir você gritar - 

—Eu sou o único que vai se deliciar com seus gritos - ele usou shunshin e apareceu na lateral esquerda de Sakura, o chute foi direcionado a seu flanco esquerdo e acertou bem na altura da cintura da kunoichi, ela voou alguns metros, enviou chakra a planta dos pés para ajudar no equilíbrio ao pousar, quando os pés tocaram o chão se fixaram e ela deslizou sobre a terra por alguns segundos. Quando sua velocidade diminuiu o loiro usou novamente shunshin e apareceu a sua direita, seu tempo de reação foi melhor dessa vez e quando a perna se aproximou de sua cintura ela agarrou o homem pelo calcanhar e chocou seu cotovelo no meio de sua canela, ela sentiu o osso se partir ao meio e para seu horror ouviu apenas um gemido do inimigo, ele se libertou de seu aperto no calcanhar e pulou para longe de Sakura pousando em uma perna apenas. Dessa vez foi ela a usar shunshin e aparecer em cima dele, um chute de martelo carregado de chakra preparado, contrariando sua intenção ele agarrou a sua perna e a lançou longe, ela pousou suavemente e ofegou. O cenho franziu automáticamente quando ela percebeu que todo o chakra que havia concentrado para dar o chute havia sido gasto mesmo sem a aplicação do golpe. 

Ela se apoiou em seu joelho quando sua perna vacilou, suas reservas de chakra estavam muito abaixo do que deveriam. Sakura sempre foi acostumada com suas reservas naturalmente mínimas mas havia compensado isso com seu controle absoluto, mesmo após a doença quando seu chakra útil havia diminuído consideravelmente, ela havia dobrado seu controle para levar o nível de desperdício mínimo a zero. Mas agora mesmo que estivesse mantendo seu chakra em mão de ferro ele parecia esvair por entre os dedos como se ela fosse uma genin aprendendo a executar um ninjutsu qualquer. Ela olhou para seu oponente e apesar da perna quebrada e uma ou outra contusão aparente ele não parecia nada cansado. Eles haviam se afastado um pouco do centro da clareira e estavam agora próximos ao riacho, o som da água encheu o ouvido de Sakura e ela ofegou, havia algo errado alí, ele nem parecia sentir dor e ela havia quebrado sua tíbia ao meio, a dor devia estar deixando ele louco mesmo sem a exposição da fratura, ela podia ver a carne mole dele, eles estavam lutando a um bom par de minutos mas parecia que apenas ela estava gastando chakra, por que? O que ele estava fazendo? Sakura cerrou os olhos e encarou o homem a sua frente, havia algo errado, antes ela estava com dúvida sobre seu controle mas ela sabia que não era com ela, agora tinha certeza, seu controle era quase instintivo e ela havia dosado bem em todos os seus golpes, ainda sim…

Quando as mãos dele brilharam em verde e ele se curvou e endireitou o osso quebrado sob a pele os olhos de Sakura se arregalaram com o entendimento.

—Ah - ele sorriu baixo - você finalmente entendeu - ela viu horroriza a palma da mão apertar o local da fratura e a perna ser curada.

—Como… - ela estava quase em choque, era seu chakra pulsando na mão dele, mesmo a distância ela podia sentir sua frequência cálida com se ainda pudesse alcançá-lo.

—Eu estive absorvendo o chakra de cada um de seus ataques desde o começo, puxando pra mim o que você concentrou na investida e mais, essa é a habilidade que Yoshiro-sama me presenteou - ele riu e endireitou a postura - eu conheço o básico de ninjutsu médico mas seu chakra responde tão bem a ele que facilita o trabalho.

Os punhos de Sakura se serraram em pura raiva e ela arrancou a grama do chão - Seu miserável - os joelhos rasparam contra a terra e ela tentou se levantar mas vacilou, seu chakra estava muito baixo, ela enviou outra onde pequena para lhe dar força de se manter em pé.

—Agora que eu já absorvi quase tudo, o que eu devo dizer é quase inacreditável que um ninja do seu porte possua tão pouco chakra, posso cansa-la sem precisar recorrer a taijutsu, sabe, eu não sou fã do combate direto mas eu preciso do contato para absorver o chakra então não há muito o que fazer - ele flexionou seus dedos - vejo que sua natureza de chakra é tipo água e terra hum…

—Eu não sou boa em ninjutsu elementar seu idiota - ela cuspiu.

—Isso é você - ele riu entre os sussurros - eu conheço um punhado, mas com esse pouco chakra eu não posso fazer muito - ela assistiu ele executar uma sequência de sinais de mão e em seguida murmurar - Suiton: Mizu no Tatsumaki - um grande tornado de água se elevou a frente de Daichi e com o comando de sua mão o tornado se direcionou para Sakura, ela plantou os pés com firmeza no chão e quando a torrente de água atingiu o lugar onde estava, ela se lançou rolando para o lado, a mão escorregou na lama da beira do riacho, ela se desequilibrou e caiu no rio.

A kunoichi sentiu a areia do fundo do riacho por entre os dedos do pé, a água batia na altura de seu peito, a corrente era suave contra sua pele. Ela procurou Daichi onde se lembrava de tê-lo visto pela última vez e não o encontrou, girou nos calcanhares a procura dele mas antes de encontrá-lo ela sentiu a corrente mudar, e uma massa de água crescer a sua frente.

—Suiton: Suiryuudan no Jutsu - a voz arrastada alcançou Sakura e ela localizou o loiro em pé sobre a água atrás da massa que tomou a forma de um dragão, o mesmo jutsu que ela viu Zabuza usar em sua primeira missão fora dos muros de Konoha.

—Só pode ser brincadeira - ela enviou chakra para a palma das mãos para poder se apoiar sobre a água, ela emergiu e ficou em pé sobre a água não rápido o bastante para evitar o ataque do dragão que investiu violentamente contra ela e se chocou com seu corpo. Ela girou em um turbilhão de água e foi arrastada pelo riacho girando descontroladamente, Sakura enviou todo o chakra que tinha para todo o corpo tentando lutar contra a força da água a seu redor, ela sufocou com a falta de ar enquanto seus pulmões queimavam em agonia, se agarrou a uma pedra no fundo do rio, os dedos queimado ao arranharem contra a pedra e a pressão da água, ela engoliu alguns litros do líquido e engasgou. 

Sakura xingou todos os palavrões que conhecia em pensamento, oito anos fugindo de um sociopata com um país e um exército particular e era assim que ela ia morrer? Inferno não! Nem pensar, ela não tinha enfrentado toda a dor e dificuldade pra morrer afogada no fundo de um riacho qualquer, não mesmo. Ela se soltou da pedra e ativou o selo Yin em sua testa, pela visão turva da água ela assistiu as fitas negras se enrolarem por seus braços e uma onda de chakra se alastrar por seu corpo. Sakura fechou os olhos com força e por alguns segundos ouviu o zumbido da dor nos ouvidos, a dor foi violenta em cada centímetro de seu corpo e ela quase desmaiou, pensou em Sarada e como ela estava sendo corajosa em algum lugar acima e tirou força de dentro de seus ossos, ela alcançou o fundo do rio e enviou chakra para a planta dos pés para se fixar no solo e mais uma remessa para lhe dar o impulso necessário, flexionou os joelhos e se impulsionou para fora do aglomerado de água com uma explosão do líquido para todo o lado. Ela pousou suavemente na terra das margens pingando água, tirou o cabelo dos olhos e localizou seu inimigo.

Ele sorriu minimamente para ela poucos metros a sua frente - Você acabou de tornar tudo mais interessante - ele afastou os cabelos longos de mel pingando água nos olhos cor de carvão, ao redor deles poças de água se acumulavam e o riacho corria mais raso - vai ser delicioso absorver todo esse chakra e fazer você gritar.

—Qual é a dessa sua obsessão por me ouvir gritar seu psicopata? - ela sacudiu as mãos se livrando da água entre os dedo e os estralou no punho - quero ver você tentar Shanarooo!

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A lâmina curta da wakizashi cantou ao lado de onde por um milésimo de segundo antes sua orelha se encontrava. Sasuke moveu sua cabeça para a direita e pelo canto do olho viu a outra lâmina se aproximar, levantou sua kusanagi e ouviu as lâminas se chocarem a centímetros de seu rosto. O Rosto de seu oponente estava a centímetros também, encarando e forçando sua espada contra a de Sasuke, o moreno enviou chakra para aumentar sua força para segurar a lâmina inimiga quando a segunda espada dele se juntou frente a sua lâmina, por alguns segundos eles se encararam apenas com as espadas e poucos centímetros entre eles, os olhos castanhos do homem a sua frente eram duros e determinados, sua postura era perfeita assim como o manuseio das espadas gêmeas, a verdade era que depois de alguns minutos em combate com o shinobi Sasuke o considerava um dos melhores espadachins com o qual já havia cruzado espadas, seu sharingan estava ativo desde o início da luta e era um dos motivos de estar levando a luta em pé de igualdade mesmo seu oponente possuindo duas espadas e sendo evidentemente um especialista em seu manuseio. 

Seu próprio kenjutsu era muito avançado e já a muito tempo uma de suas técnicas mais usadas no combate, mesmo quando tinha apenas um braço, porém o estilo e técnica que estava enfrentando era diferente de tudo o que já havia encontrado, sua velocidade era igualmente espantosa e desde o primeiro movimento Sasuke soube que era um oponente para se ter muito cuidado. Seu pulso era muito fluido e a força era quase imperceptível durante a movimentação da espada, se Sasuke tivesse entendido bem, seu estilo era mais voltado para cortar do que perfurar, tal qual sua espada sugeria, lâmina levemente curva e com apenas um gume, a ponta em forma de cunha, fato que poderia sugerir uma lâmina envenenada. Entretanto não parecia ser esse o caso, não havia odor forte ou cor na lâmina, sua característica mais marcante era a coloração escura como dos metais que podiam imbuir chakra, ainda sim Sasuke evitou qualquer contato de sua pele com a lâmina. Em algum lugar da clareira ele ouviu um estrondoso barulho de água, Sasuke disse a si mesmo para confiar em Sakura, ela era uma shinobi poderosa e poderia se defender, ainda sim isso não o impedia de se preocupar com seu bem estar.

Depois de mais alguns segundos medindo forças lâmina a lâmina, os dois se separaram e tomaram uma distância pequena - Devo dizer que este combate é uma honra - a voz grave dele surpreendeu o moreno, nem uma palavra havia sido dita desde o momento que em sua velocidade assombrosa ele atacou o Uchiha. Não que Sasuke não apreciasse o silêncio, as pessoas pareciam dadas a grandes monólogos quando instigados a lutar, se fosse bem sincero ele estava mais do que satisfeito em ouvir apenas o som do metal se chocando, porém, inesperadamente ele também estava curioso sobre seu oponente - Eu ouvi falar em sua proficiência em shurikenjutsu e kenjutsu e me sinto empático em sua preferência pelas lâminas.

Sasuke estreitou os olhos, ele estava começando a se arrepender de ter tido curiosidade - Por isso se colocou em frente a mulher que queria lutar comigo?

—Não - respondeu prontamente, Hideo movimentou seu pulso e a espada respondeu lindamente em curvas elegantes - Emi é eficiente mas muito barulhenta, além disso ela certamente não tem o perfil adequado para um embate com você.

A sobrancelha de Sasuke arqueou levemente, ele também era arrogante além de habilidoso, tudo bem que era um espadachim inigualável mas o Uchiha era conhecido em todo o mundo shinobi como um dos ninjas mais temíveis de sua geração, se o homem a sua frente era um especialista em kenjutsu, kenjutsu era apenas uma das especialidades de Sasuke - Eu devo crer que você está bem mais adequado para um embate contra mim?

—Certamente - ele encarou olhos castanhos serenos - uma vez que eu fui treinado para lutar contra você.

A resposta surpreendeu Sasuke.

Ele esperava que, como Sakura havia advertido, os ninjas enviados por Yoshiro fosse agentes especiais, entretanto havia uma distância considerável entre soldados bem treinados e ninjas treinados especificamente com um objetivo. Ele próprio havia por muitos anos se lapidado para lutar contra seu irmão, estudando suas técnicas conhecidas e adequando seu estilo de luta para avançar sobre o dele, mas Sasuke era um caso especial. Se o que o homem a sua frente disse fosse levado a sério, Yoshiro estava se preparando para um embate com Sasuke a muito tempo, e isso também evidenciava que o homem a frente do país do chá havia planejado primeiramente em algum momento entrar em conflito com ele. A questão era a quanto tempo isso foi premeditado.

—É evidente que sendo eu pai de Sarada viria atrás dela uma vez que ela fosse sequestrada. Ter um ninja preparado para lutar comigo não vai me impedir de levá-la - a resposta que o moreno deu foi propositalmente coerciva.

—De fato é esperado que um pai vá ao socorro de sua prole - as árvores atrás dele balançavam com a brisa da tarde, o sol estava alto no céu, o haori verde como as folhas de Hideo tremulou  - mas eu treinei para lutar contra um amigo que vai em busca de um companheiro, e no seu caso, de uma amante. - Sasuke franziu o cenho diante da revelação do homem de cabelos castanhos, então ele estava se preparando para lutar contra Sasuke já na época em que Sakura foi mandada na missão? - devo dizer que foi frustrante para mim que não tenha aparecido em socorro de Sakura-san a oito anos atrás. Eu estava lá acompanhando o mestre na época, seu amigo hokage esteve lá mas você não, e quando você não apareceu foi, eu devo dizer, uma decepção para mim como foi para meu mestre perder Sakura-san.

Raiva fez o sangue de Sasuke ferver em suas veias diante das palavras de seu inimigo, ele não sabia no entanto se a raiva era direcionada para ele ou para si mesmo. Seu inimigo havia se preparado para uma retaliação sua, mas ele não havia estado lá para ela. Ele também não havia estado lá para Sarada naquela manhã quando o inimigo foi a seu encontro. Dois doujutsus absurdamente poderosos, reservas de chakra muito acima da média, afinidade com todas as naturezas de chakra e dezenas de jutsus e técnicas variadas e apesar de todo esse poder ele nunca estava lá por elas. 

—Felizmente agora eu tenho a chance de me provar contra você - sua cabeça caiu levemente para a esquerda e Hideo observou Sasuke, olhos grandes e vítreos encarando - para saber se tenho valor.

Sem aviso prévio ele apareceu no flanco esquerdo de Sasuke e somente pelo sharingan o moreno foi capaz de de se esquivar do golpe do ninja. Com uma passo longo para a direita Sasuke trouxe sua lâmina para o pescoço de seu oponente, quando ele rapidamente saiu de sua linha de ataque com um movimento fluido de seu tronco, o homem de cabelo castanho mirou uma de suas lâminas para a abertura de Sasuke, que por sua vez atento a intenção inimiga soltou a mão esquerda que empunhava a kusanagi e a apanhou alguns centímetros abaixo com a mão direita se enrolando na empunhadura e movimentando o pulso para bloquear a lâmina escura. Com os sentidos apurados por sua kekkei genkai o Uchiha viu a outra espada dele vir na direção de seu rosto com um arco perfeito, sem a possibilidade de brandir sua própria espada em sua defesa, Sasuke enviou chakra para seu corpo e produziu uma corrente elétrica que lhe cobriu o corpo inteiro, Chidori nagashi. Ele viu quando os músculos de Hideo se contraíram em sua face e ele foi lançado metros longe do moreno.

—Finalmente está começando a levar a luta a sério? - o homem atingido questionou ao se levantar.

—Eu não costumo levar na brincadeira - Sasuke voltou sua espada para sua mão esquerda - Mas cansei desta luta.

Sasuke avançou em seu próprio shunshin e a sequência de golpes que trocaram era para os espectadores provavelmente um borrão na paisagem, as espadas se chocavam e ambos introduziram ocasionais golpes de taijutsu entre as investidas que repetidamente foram desviados e bloqueados. A espantosa velocidade e perícia do seu oponente havia lhe impressionado no início de seu embate, entretanto quanto mais tempo passava em combate com Hideo, mais o moreno aprendia sobre seu estilo de luta e mais fácil se tornava levar a batalha. Em um golpe impetuoso de Sasuke ele elevou sua espada para cortar a lateral do rosto inimigo, as duas wakizashis se uniram para parar o arco da lâmina mas decidido a por fim ao combate e resgatar sua filha Sasuke enviou uma porção de chakra aos membros superiores e aumentou a força de sua investida. As espadas em x abriram caminho para a kusanagi na altura do ombro de Hideo, ele praticamente podia ver o metal fatiando a lateral do rosto dele quando sua atenção foi tomada por uma imagem no canto de seu olho.

Ele viu o ruivo investir com uma lâmina escarlate que saia de seu pulso contra a mulher morena que outrora sentava a frente de Sarada. Ele viu o ANBU com máscara de lebre ajoelhar aos pés da loira irritadiça quando ela soprou uma nuvem cor de ocre em seu rosto, mas acima de tudo ele viu o rosto assustado de sua filha em meio ao conflito. Ele sentiu quando o metal frio da lâmina de Hideo se encontrou com a pele de seu braço direito e levado pela fúria de ver sua criança assustada ele cuspiu uma enorme bola de fogo no oponente que pulou alto para se esquivar no último instante, Sasuke viu Hideo pousar longe e se virou em direção a onde Sarada estava.

Duas wakizashes se colocaram entre ele e seu objetivo e mais rápido do que ele podia pensar Hideo já o estava atacando novamente. Aquilo já o estava tirando a pouca paciência que dispunha e Sasuke grunhiu e se preparou para terminar aquele combate, ele invocaria Suzano'o e esmagaria os que ousavam assustar sua filha.

O mundo tomou cores normais em seu olho com sharingan e quando Sasuke enviou chakra ao olho o mundo escureceu. Ele caiu em seus joelhos e gemeu com a dor que se espalhou por seu corpo. 

—O que… - ele mirou o outro homem que paciente lhe observava com satisfação evidente estampada em seu rosto.

—Meu chakra já deve ter se espalhado por seu corpo - ele ofereceu, diante do cenho franzido do Uchiha ele voltou a explicar - minhas laminas são imbuidas com meu chakra que funciona como um bloqueador. Quando lhe cortei - ele indicou o sangue que escorria do braço de Sasuke - infiltrei meu chakra em seu corpo.

—Você bloqueou meu sharingan? 

—Bloqueei seu chakra - esclareceu - Agora você não pode usar seus doujutsus ou qualquer técnica que exija chakra - Sasuke quase rosnou, aquilo só podia ser uma piada - eu disse Uchiha-san, fui treinado para lutar contra você, por isso sou um exímio espadachim e lutador, pois no momento em que eu bloqueio seu chakra o kenjutsu e o taijutsu são os únicos que lhe sobram - ele deu um passo em sua direção - agora vamos acabar com isso.

O moreno se pôs de pé, com ou sem chakra ele ainda era Sasuke Uchiha, shinobi entre shinobis e não perderia aquela luta nem sua filha. Ele viu Hideo se aproximar, dessa vez sem a ajuda de seu doujutsu para prever seus movimentos, e se concentrou em todos os sentidos para continuar com a luta, ele sentiu a brisa que os movimentos inimigos criaram lhe tocar a pele, ouviu o ruído de sua lâmina cortar o ar, sentiu o cheiro do metal frio e moveu seu corpo com a agilidade e os reflexos que uma vida inteira se treinamento lhe deu. Quando seu oponente brandiu sua espada Sasuke empunhou a sua com ainda mais firmeza, ele não se deixaria intimidar. A lâmina cantou e o Uchiha bloqueou no último momento o ataque que vinha diretamente para seu pescoço, ele se abaixou e deu uma rasteira no outro homem que pulou e evitou a queda. Ele desceu sua lâmina para o ombro de Sasuke ainda abaixado, as duas espadas levantadas e apontadas para o céu, sua guarda aberta, ele o estava subestimando apenas por sua falta de chakra? Ele iria se arrepender. Sasuke levantou o punho e agarrou o haori verde trazendo o inimigo para si em um movimento que o desorientou, ele sentiu a resistência da carne dele quando sua própria lâmina se chocou com a lateral de seu dorso. O homem de olhos chocolate grunhiu e se libertou do aperto do moreno com um shunshin e apareceu alguns metros a frente segurando a ferida recém aberta.

Sasuke não pode deixar de sorrir arrogante um leve repuxar de um dos cantos do lábio.

—Sua reputação lhe precede Uchiha-san.

Sasuke quis retrucar mas um grito agudo de pura raiva cortou seu raciocínio e tanto ele quanto seu oponente olharam para onde minutos antes sua atenção foi roubada apenas para arregalar seus olhos em descrença. Uma densa e grande nuvem nascia da boca da integrante loira da força inimiga inundando o local onde Sarada antes estava.

Sasuke se virou em desespero na direção da mulher cujo semblante era puro ódio  para salvar sua filha mas parou no meio do caminho. Uma mão cuja pele cintilava azul envolta em uma névoa verde emergiu da fumaça venenosa e agarrou Emi pelo queixo tapando sua boca, Sasuke ouviu o momento que os ossos da mandíbula dela estalaram sob os dedos cintilantes e quebraram, ele viu ela se ajoelhar e chorar em agonia. Sasuke viu a nuvem se dissipar levada pelo vento e um corpo cintilando azul e verde capturar a atenção de todos na clareira. Atrás do corpo pequeno e magro uma figura ainda menor se escondia, Sarada viva e bem para o alívio de Sasuke, olhando para a pessoa a sua frente com olhos arregalados em admiração sob os óculos levemente tortos. Então ele olhou novamente para a pessoa brilhando azul cujo uma névoa fantasma serpenteava verde ao redor como se ela andasse entre as nuvens e com uma surpresa digna de incredulidade ele percebeu quem era.

O cabelo curto brilhando turquesa nas pontas como estrelas no verão  se misturando com o tom rosado próximo a raiz flutuando ao redor do rosto pequeno e bem desenhado. Algo se destacou naquele rosto, olhos verdes fulminantes brilhando neon com fúria de uma mãe ao ver a cria em perigo, aqueles olhos que ele sabia pertencer a Sakura.