Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 25
Sob o céu de estrelas


Notas iniciais do capítulo

Hey, reylos! Mais um capítulo chegando.
Vamos acompanhar nossa casal dando alguns passos...



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Rey estava indo em sua direção, ao menos era isso que parecia. Porém, um grupo de pessoas se aproximou dela, broqueando sua visão. Yuri não conseguia mais localizá-la em meio ao grupo.  

— Acho que Rey foi detida pelos ministros — observou Rose.  

— Eu que não gostaria de estar no lugar dela — falou Poe, tomando um gole de uma bebida espessa e roxa. — Búri tem tantos ministros! 

— Me dá isso aqui! — ordenou a Comandante, tomando o copo das mãos do General. — Você está proibido de beber hoje! 

— Minha flor, eu preciso disso para suportar a festa. 

— Você nem deveria estar aqui — resmungou Rose. — E agora ainda resolveu reclamar? Juro que não entendo você. 

Poe simplesmente deu os ombros.  

— Você deveria me agradecer, esta festa estaria ainda mais chata sem mim — rebateu Poe, tentando sem sucesso recuperar a bebida.  

— Aposto que não é isso que o Governador pensaria — revidou Rose, olhando-o de maneira desafiadora. — Nem a prima dele... 

O General suspirou, aparentemente vencido pela Comandante. Yuri considerou uma sabia escolha, certamente não gostaria de nenhuma encrenca com alguém como Rose Tico.  

Um grupo formado por três senhores aproximou-se, dirigindo elogios à festa.  

— Esplendida — disse um deles, que tinha uma gravata vermelha bem extravagante.  

— Magnifica! — falou o outro, que possuía um longo e farto cabelo branco que caía em cascata até o meio das costas.  

— Quem imaginaria uma festa desta dada pela Resistência nos tempos da Primeira Ordem? — acrescentou o último, o mais baixo deles.  

— Ninguém poderia imaginar, meu caro Trevor — disse o de gravata vermelha.  

— Kylo Ren nunca permitiria que a Resistência fizesse uma festa assim, nunca mesmo! — exclamou Trevor.  

Rose e Poe se mexeram de modo desconfortável. Mas, eles sorriram... Um sorriso estranho ainda era um sorriso.  

— Kylo Ren era tão poderoso e inflexível — continuou Trevor, sem deixar se abalar pelos sorrisos esquisitos. — Ele não tinha piedade contra seus inimigos, massacrava a todos... 

Yuri já ouvira muitas histórias, desde que passara a trabalhar para a Resistência, sobre o impiedoso e poderoso Líder Supremo da Primeira Ordem, aquele que assassinara o antigo líder e era o grande inimigo da Resistência. Rey o derrotara. Mas, as pessoas continuavam a falar dele, mesmo depois de morto, ele parecia causar medo. E Yuri, de certo modo, entendia a apreensão das pessoas. Sempre que aquele nome era mencionado sentia um leve calafrio. Havia algo em Kylo Ren...  algo que o colocava em alerta.  

— Aquele sabre vermelho matou muita gente... — disse o cara da gravata vermelha. 

Sabre vermelho... seu estômago se revolveu. Já ouvira Morpheus falando sobre a arma de Kylo Ren. E aquilo o deixava perturbado. Por que ele precisava sonhar justamente com um sabre cor de sangue? Um sabre da cor da arma de um Sith... 

Sabre vermelho, sangue, morte, as imagens daqueles pesadelos invadiram sua mente. Os pesadelos continuavam o atormentando, mesmo tentando fazer o que o irmão lhe aconselhara, não levar aqueles pesadelos tão a sério. Eles eram apenas ilusões, não eram reais, pensou, tentando exterminar aqueles pensamentos. Ele não tinha relação alguma com os Sith, não era?  

Certamente, aqueles pesadelos haviam começado após ter ouvido alguma história, tentava explicar a si mesmo. Sim, era isso. Tinha que ser.  

— Aquele cara não existe mais, senhor Ministro — falou Poe em um tom que pretendia ser brincalhão, mas que escondia uma alta dose de amargura. — Acho que ele não era tão invencível assim no final, não é? 

— Derrotamos a Primeira Ordem, senhores — disse Rose, bebendo a bebida de Poe. — E a galáxia, com toda certeza, está bem melhor agora. Qualquer habitante da galáxia pode confirmar este fato. Tenho certeza que agora poderemos criar nossas crianças em um lugar seguro. Os senhores não pensam assim? Seu filho, senhor Trevor, agora pode correr por aí sem preocupações.  

— Claro, minha cara Comandante Tico — falou Trevor, lançando um olhar para seus companheiros. 

Os três senhores sorriram, fazendo uma leve mesura, e se afastaram em meio a cochichos e risadinhas.  

— Babacas — cuspiu Poe. — Esses ministros realmente acreditam que estaríamos melhor nas mãos da Primeira Ordem?  

— Poe, eles são os ministros de Búri — advertiu Rose. 

— Mas, você também não conseguiu se conter — falou ele, sorrindo maliciosamente, quebrando a tensão que se instalara sobre eles.  

— É, quase que eu arremesso essa bebida neles — murmurou Rose, tomando mais um gole da bebida roxa. 

Poe riu.  

— Eu sei, minha flor. Se eles tivessem ficado aqui mais um segundo, juro que tinha pegado o sabre de luz da Rey emprestado.  

Rose soltou uma pequena gargalhada.  

Os dois se olharam, sorrindo. No entanto, as expressões deles ficaram subitamente sérias.  

— É por causa de pessoas como eles que ainda existem resquícios da Primeira Ordem... — afirmou Poe. — Eles vivem dando a gente a maior dor de cabeça. Parece que eles sempre se multiplicam... 

Poe suspirou com uma expressão fadigada.  

— Eu sei — assentiu Rose, também com uma careta de desanimo, tomando mais um gole da bebida de Poe.  

Poe olhou para ela com uma expressão divertida e maliciosa.  

— Minha florzinha, você não quer me dar minha bebida, não? — falou, olhando para o copo nas mãos de Rose.  

Ela olhou para Poe e sem pestanejar virou o copo na boca, engolindo até a última gota do líquido espesso e roxo.  

— Opa! Eu sempre apreciei bons bebedores — disse Poe, dando uma piscadela para Rose. — A cada dia você rouba meu coração ainda mais — sussurrou, levando a mão ao peito de um modo dramático.  

— Ah, aí estão vocês! — gritou uma voz atrás deles.  

Finn aproximou-se, mas quando ele pousou os olhos em Yuri o sorriso que tinha nos lábios se apagou. 

— O que ele está fazendo aqui? — disse o General em um tom nada amigável. 

— Ele é meu convidado — falou Poe, se colocando na frente de Finn.  

— Poe, você está louco? Você sabe que ele... Você sabe, não é? 

— Ei, calminha, amigão — pediu Poe, naquele tom brincalhão e relaxado de sempre. — Você tá precisando de um pouquinho de álcool, não é? Todo este trabalho está te deixando estressado! Vem, vamos cuidar disso. 

Poe pegou Finn pelos ombros e sobre protesto do amigo sumiu com ele. 

— Me desculpe por Finn, ele pode ser bem inconveniente, às vezes — disse Rose.  

— Ele tem razão, eu não deveria estar aqui... 

— Não se preocupe com que ele falou. Você é muito bem-vindo aqui — assegurou ela, dando-lhe um sorriso. — E tem uma pessoa aqui que com certeza quer te ver... Você já falou com ela?  

— Não, eu... É melhor eu ir, já está tarde... 

— Você deveria falar com ela — sugeriu Rose, olhando para ele. — Ela sentiu muito a sua falta... E nestes últimos dias... Rey... 

— O que tem ela? — perguntou, preocupado ao detectar o tom inquietante na voz da amiga de Rey.  

— Rey não tem sido ela mesma, sabe? — explicou Rose. — Tem algo a atormentando. Rey pode parecer a garota mais durona da galáxia. E ela é de fato uma garota durona, o que ela enfrentou no passado... Ela é incrível por ter enfrentado tudo aquilo sozinha. Mas, ela também tem um lado vulnerável, é só que Rey não costuma mostrar esse lado.  

Yuri quis perguntar mais. Porém, uma mulher se aproximou deles e sussurrou algo na orelha de Rose. 

— Eu preciso ir agora — falou a Comandante. — Converse com ela, ok? — pediu Rose, afastando-se com passos rápidos. — Ela precisa de você.  

 

************************************** 

Rey debruçou-se no parapeito, deixando que o ar gelado da noite a envolvesse.  

O céu estava particularmente bonito naquela noite. Uma das únicas coisas boas de Jakku era o céu. Ele era incrivelmente cheio de estrelas à noite. Aquele céu era tão estrelado como o de seu antigo planeta. Aquilo lhe trouxera certas lembranças, quantas vezes não havia dormido sobre aquele céu, pensando que havia um lugar que lhe pertencia, podia sentir em sua pele. Esta certeza foi o que a permitiu atravessar por todos aqueles momentos difíceis em que respirar transformara-se em uma tarefa ingrata.  

Sempre acreditara que o lugar ao qual pertencia era sua família. Eles iriam voltar por ela um dia. Então, eles poderiam viver felizes. Ideias tolas, simples sonhos de criança. Naquele dia na cabana, ela soubera a verdade, ele era o lugar ao qual pertencia realmente. Ele era o seu lar. Seu único lar.  

Ela suspirou e encolheu-se toda. Estava cansada e com frio, só queria sair daquela festa barulhenta em que precisava sorrir constantemente, mesmo que seu coração estivesse sangrando.  

Ben já deveria ter ido embora. Ela procurara por ele depois que fora envolvida na conversa sem fim daqueles ministros. No entanto, já era tarde. Com certeza, ele se fora.  

Conseguira fugir da festa e ir para aquela pequena sacada, longe do barulho e, principalmente, de todos aqueles olhos que a observavam como se fosse um animal em exibição. Um animal que precisava se mostrar doce e agradável para sobreviver, porque se revelasse a todos as suas verdadeiras cores, seria abatido sem o menor remorso.  

— Rey... 

Ela voltou-se imediatamente para aquela voz.  

Ele estava lá, olhando para ela, com aqueles olhos profundos e cálidos. Ben fechou a porta atrás de si e caminhou até ela.  

— Já faz um tempo... — falou ele, apoiando-se no parapeito, próximo a ela.   

— Mais de uma semana — confirmou ela. — Sobre aquele dia... eu não queria ter saído daquele jeito... aconteceram algumas coisas... 

— Está tudo bem — lhe tranquilizou Ben. — Não se preocupe.   

Os dois caíram no silêncio. Não era um silêncio desconfortante. Era um silêncio bom daqueles que se tem entre pessoas que possuem uma profunda conexão.  

— É uma bela vista — falou ele, rompendo o silêncio após um longo tempo. — Todas essas estrelas... Quando vivia em Jakku, o que mais gostava de lá era das estrelas. 

— Eu também — disse ela, sorrindo com aquilo. — Eu tinha o costume de dormir observando as estrelas... Elas eram a minha única companhia... 

Eles deixaram que o silêncio os invadisse e se perderam no oceano de estrelas, mergulhados em seus próprios pensamentos.  

— Pensei que você havia ido embora — falou ela, desviando os olhos do céu e pousando os olhos nele.  

— Quase... mas, eu vi você... 

Rey sorriu involuntariamente. 

— Obrigada — disse.  

— Você está bem? — perguntou ele, voltando o olhar para ela.  

— Estou... — A voz de Rey vacilou. Ela não podia mentir para ele, não mais. — Quero dizer... estou tentando fazer as coisas melhorarem... 

— O que aconteceu? — perguntou ele baixinho, com a voz gentil e preocupada. 

Toda aquela tensão dos últimos dias estava estourando dentro de Rey. Precisava falar, transformar aqueles sentimentos em palavras, antes que eles lhe sufocassem, ficando presos em sua garganta.  

— Eu estou com medo — admitiu, olhando para as mãos que seguravam com tanta a força a borda do parapeito ao ponto de deixar a nós dos dedos brancas. — Há algo dentro de mim, um lado meu com o que sempre lutei. Mas, ele está mais forte. Muito mais forte.  

Uma lágrima quente escorreu por sua face, provocada por toda aquela dor que chegava a ser física.  

— Tenho medo que ele possa me vencer. 

Ben limpou a solitária lágrima e a envolveu nos braços.  

— Você é tão forte, Rey.  

Ela se aconchegou contra aquele corpo cálido e seguro, encostando a cabeça em seu peito. Podia ouvir as batidas do coração dele e aquilo lhe dava alívio.  

— Tenho medo. Eu não sou o que as pessoas pensam que sou... Todos olham para mim e veem algo que não sou. Todos pensam que me conhecem. Mas, ninguém me conhece.  

— Eu conheço — afirmou ele. — Pode parecer estranho, eu conheço você a tão pouco tempo, mas sinto como se conhecesse você há muito tempo... Você é a pessoa mais incrível que eu conheço. Você é forte e cheia de luz. Nunca vi alguém que brilhasse tanto como você.  

Rey saiu dos braços dele e o olhou nos olhos. Ben sempre lhe dava forças. Com ele por perto, sentia que era capaz de fazer coisa que achara que nunca conseguiria.   

— Mas, dentro de mim corre um sangue amaldiçoado e sujo. Sou a neta de Palpatine — revelou com repugnância, enquanto dos seus olhos escorriam grossas e amargas lágrimas.  

Era a primeira vez que Rey pronunciava aquilo em voz alta. Nunca revelara sua origem para ninguém, muito menos a angústia que aquilo lhe provocava. 

Ele tocou o rosto dela com cuidado, secando as lágrimas.  

— Você é você, Rey. E nada vai mudar isso. Nada. Você é Rey — afirmou ele, abraçando-a.  

 

******************************************** 

 

Ele abraçava aquele corpo pequeno e frágil. A dor dela era tão palpável que ele podia sentir em sua pele, em sua carne. Aconchegou-a mais contra o peito. Queria mantê-la ali, protegê-la.  

Agora Yuri tinha um pouco de ideia sobre o peso que ela carregava. Ele já ouvira histórias sobre Palpatine. Histórias tenebrosas.  

Seus dedos acariciaram as costas nuas de Rey. Ele notou que a pele dela estava gelada. Se afastou um pouco e retirou o casaco, colocando-o sobre os ombros dela. 

— Obrigada — agradeceu Rey, limpando o restante das lágrimas com o dorso da mão.  

— Você está melhor agora? 

Ela assentiu, sem olhar para ele. Rey mantinha os olhos fixos no chão. 

— Você não sente nojo de mim? — murmurou ela debilmente.  

— Por que eu sentiria nojo de você? — perguntou, ajeitando o casaco nos ombros de Rey.  

— Meu sangue... — sussurrou ela, a voz pequena e débil.  

— Seu sangue não tem nada a ver com a pessoa que você é. Nada. Você é Rey. Você é a garota mais forte e poderosa que conheço. Você é incrível. E nenhuma linhagem de sangue vai mudar isso. Não importa quem sua família é. Não importa quem são seus pais ou seus avós — falou ele, acariciando a mão dela. — O que importa é quem você é.  

Os olhos dela levantaram-se do chão e foram parar nos seus. Aqueles olhos estavam tão tristes. Eles pareciam conter toda a tristeza da galáxia. 

— Você é quem você quiser ser — disse ele. — Seu sangue não tem nada a ver com isso. Por que o sangue importa tanto? Sangue é apenas sangue. O que há de diferente em seu sangue? Seu sangue é vermelho como o meu.   

— Mas... 

— Não existe nenhum mas.  

Yuri a envolveu nos braços e encostou os lábios nos dela. 

Beijou-a com delicadeza a princípio. Porém, logo seus lábios estavam procurando pelos dela com ansiedade e necessidade. Desejava mostrar a ela que nada nela lhe causava repugnância. Pelo contrário. 

— Você nunca irá me provocar qualquer espécie de repulsa — afirmou, segurando delicadamente o rosto dela entre as mãos.  

Ele mergulhou novamente naquela boca suave e macia.  

 

************************************************ 

Rey não soube por quanto tempo permaneceu naquele mundo. Um mundo em que só existia ela e Ben. Quando seus lábios se encontravam nada mais parecia importar.  

Ela sentia que havia retornado para seu lar. Ben era o seu lugar. O único lugar ao qual pertencia.  

Os lábios dele se separam dos dela. Ela protestou. Não queria ficar longe dele. 

— Já está tarde — observou ele.  

Ela olhou para o horizonte, o céu já não estava mais tão escuro, as estrelas estavam pálidas, morriam uma a uma, lentamente.     

— É... logo vai amanhecer... Vem — disse ela, entrelaçando a mão dela na dele. — Vamos sair daqui.  

A mão dele era tão grande. A sua ficava quase perdida na dele. Mas, gostava daquilo. As mãos dele era tão grandes e fortes que ela tinha sensação que nunca sofreria nenhum dano se estava com ele. Desde a primeira vez em que eles tocaram as mãos naquela pequena cabana em Ahch-To, possuía essa certeza.  

A festa continuava e não havia diminuído em número de convidados. Ela agradeceu o fato de todos eles estarem bem alterados pelo álcool e não notarem sua presença. Sem nenhuma dificuldade, conseguiu sair de lá, indo até o elevador.  

Rey apertou o botão do último andar.  

— Onde estamos indo? 

— Para meu quarto — respondeu, apertando a mão de Ben. Ela não havia a soltado um único segundo.  

Ele a olhou e ela apenas sorriu.   

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Yuri/Ben e Rey se aproximaram muito neste capítulo e até confessaram coisas um para o outro...



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