Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 21
Uma vida inteira de felicidade


Notas iniciais do capítulo

Hey, reylos! Continuamos nossa jornada com nosso casal, agora, sozinhos em um planeta...



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Rey não podia acreditar na falta de sorte que tinha, por que de todos os planetas que existiam na galáxia Kylo fora justamente parar em Liebe?  

Brandia o sabre de luz no ar com furor.  

Como ele se atrevia a perturbá-la? Ele não tinha outra coisa para fazer, algo mais interessante do que chateá-la? A Primeira Ordem deveria ter centenas de papeis para serem assinados.  

E, ainda por cima, falara aquelas palavras para ela! Chamara-a de mentirosa, covarde, acusara-a de fugir. Como ele ousara?  

— Argh! — gritou cheia de frustação.  

O sabre acertou uma árvore e pássaros voaram.  

— Você pode ter destruído a casa de alguém — disse Kylo, surgindo de algum lugar que ela desconhecia. Por que ele sempre precisava aparecer nos piores momentos possíveis? — Aqueles pobres animais ficaram sem ninho.  

— O que você ainda está fazendo aqui? — inqueriu ela, cuspindo as palavras de maneira raivosa.   

— Estou treinando — respondeu ele simplesmente.   

— Como se eu fosse acreditar nesta história de treinamento — resmungou, dando um golpe no ar com o sabre de luz. — E depois eu é quem sou a mentirosa?  

— Ok. — Kylo suspirou. — Eu sabia que você estava aqui. Vi você pela Força e você deixou cair isso — disse, mostrando uma daquelas folhas em formato de coração —, deduzi que você estava em Liebe. Eu estava por perto e queria treinar. Aqui é um bom lugar para treinar e meditar...  

— E isso não é perseguição? — argumentou ela, encarando-o.

— Rey, eu queria conversar com você... 

— Conversar? Eu vi bem o tipo de conversa que você quer ter comigo!  

Kylo afastou-se um pouco dela, inspecionando a árvore que ela havia demolido. 

— Você não se cansa, Rey? Não se cansa de sempre estarmos lutando um contra o outro? — disse ele, com as costas voltadas para ela. 

Ela cruzou os braços, observando-o. Aonde ele queria chegar com aquilo? 

— Eu... me excedi um pouco mais cedo... — falou ele, tocando na árvore.  

— Se excedeu um pouco? — resmungou ela. — O que você quer? 

— Eu já disse, quero apenas conversar... — afirmou ele, agachando-se perto da árvore e pegando um pequeno pássaro ferido entre as mãos.  

Kylo fechou os olhos e a asa quebrada do pássaro começou a se curar. 

Os olhos de Rey mal podiam acreditar no que estava acontecendo. Já havia lido sobre a Cura da Força antes. Mas, ela ainda não aprendera a usar aquela habilidade. Deveria ser por isso que seus olhos não conseguiam se desviar da cena. E o fato de que era Kylo quem estava usando aquela habilidade, só deixava as coisas mais... confusas.  

Ele soltou o pássaro no ar, perante o olhar surpreso de Rey.  

— Como você... — falou ela, ainda admirada.  

— Você precisa se concentrar, Rey, atingir o interior através da dor para tocar a Força... unindo ossos, carne, renovando — respondeu ele calmamente, vendo o pássaro, que curara, voando alto no céu azul. — Mas, eu não sou bom... Não consigo usar esta habilidade em humanos... 

Rey não conseguia tirar os olhos dele. Por um momento, vislumbrara Ben Solo. Talvez, ele ainda estivesse lá... Não, aquele pensamento era uma tolice. Não podia alimentar esperanças. Ben se fora. 

Ela deu as costas para ele.  

Por que ele precisava a deixar tão confusa? Por que ele tinha tal poder sobre ela?  

— Rey — chamou ele.  

— Vou treinar em outro lugar, já percebi que aqui tem muito barulho... — disse ela, sem olhar para trás. —  Não consigo me concentrar! 

— Eu não vou a lugar nenhum, Rey. Vou ficar aqui. Se você quiser conversar, é só me procurar. Você sabe como me achar. 

— Claro que sei — resmungou ela, mais irritada consigo mesma do que com ele.  

Estava irritada com o fato de que ele estava lá. Mas, sobretudo, estava irritada porque ela não conseguia ignorá-lo.  

Estava indignada com o fato de ele ter proposto uma conversa. No entanto, estava ainda mais indignada porque ela, por um breve momento, cogitou sobre a ideia.  

Estava exasperada que ele lhe jogara aquelas palavras malditas. Porém, estava mais exasperada com o fato de que aquelas palavras tinham a atingido.  

 

********************************** 

As gotas de chuva rolavam pelas folhas das árvores. Rey observava com fascinação aquele fenômeno. Em Jakku, nunca chovia. Desde o primeiro instante em que vira as gotas de água caírem do céu em Ahch-To, ficara deslumbrada e ainda não conseguia deixar de ficar impressionada com aquelas pequenas gotas que despencavam até o chão.  

Os últimos raios de luz morriam no horizonte. Rey voltou para a caverna em que se alojara. Se enrolou no pequeno cobertor que trouxera consigo, enquanto aproveitava sua refeição, pão, ensopado de carne com legumes, algumas frutas e mel, que Leia lhe provera pessoalmente antes de ela partir da base da Resistência.  

Leia, sua mestre, era uma mulher admirável e energética, que mantinha tudo em ordem. Mas, ela também era uma mulher bondosa, que sempre tinha uma palavra de conforto para quem precisasse. Admirava-a como nunca havia admirado ninguém em toda sua vida. Também admirava a determinação de Han Solo e a coragem de Luke Skywalker. Os três mereciam a fama que tinha por toda a galáxia. 

Eles haviam confiado nela. Não queria os decepcionar. Desejava provar para eles que era digna daquela confiança.  

Nunca compreendera o motivo de ele ter abandonado tudo aquilo, um lar amoroso, pais que o amavam, pessoas que se importavam com ele. Ele tinha tudo e jogou no lixo, era como uma pessoa que tinha diante de si o banquete mais delicioso e simplesmente o deixara para as moscas. Será que ele não percebera o tamanho da estupidez que cometera?  

Ele tinha tudo o que ela sempre quis.  

Odiava-o por desperdiçar aquilo que era ela daria a própria vida para ter.  

Ele apenas queria poder, não era? 

O poder era a única coisa que importava.  

Poder, sempre o poder... 

Mas, ela também pudera ver o garoto solitário que ele era. Pudera ver Ben Solo por trás da máscara de Kylo Ren. Vira sua dor e mágoa. Os dois compartilhavam tanto sentimentos semelhantes. Eles eram, no final de tudo, iguais. 

Quase aceitara sua mão... Porém, não era a mão de Kylo que ela queria, era a mão de Ben. E ele escolhera ser Kylo Ren, o homem que desejava poder acima de tudo.  

O barulho de algo fora da caverna interrompeu o fluxo de seus pensamentos.  

Ela foi até a abertura da caverna e vislumbrou Kylo lá longe, completamente encharcado, brandindo o gigantesco sabre vermelho. Mesmo de longe, podia perceber que ele estava exausto, seus movimentos não eram tão rápidos.  

Ele era extremamente rigoroso com o treinamento. Diversas vezes, as ligações da Força captaram-no naqueles momentos. Sabia que, na maioria das vezes, ele só parava o treinamento quando estava tão exausto ao ponto de não conseguir mais se mover. Aquilo era uma loucura.  

Rey escorregou de volta para sua antiga posição e terminou a refeição. Aquele havia sido um dia exaustivo, precisava dormir. Se aconchegou no cobertor e fechou os olhos. No entanto, o sono não veio.  

Ele estava tão perto dela... Por que ela era tão teimosa e não abandonava aquele pequeno planeta?  

 Era competitiva e orgulhosa, essa era a grande verdade. Se fosse embora, seria como se Kylo tivesse ganhado a batalha silenciosa que travavam. Não daria esse gostinho a ele. Não mesmo. Porém, por causa daquilo, se encontrava naquela situação.  

Odiava o fato de ele fazê-la descobrir coisas sobre si que gostaria de nunca saber.  

Puxou o cobertor até a cabeça, frustrada consigo mesma.  

As horas passaram. Rey apenas tirou alguns pequenos cochilos. Ainda conseguia detectar, vez ou outra, o barulho do treinamento de Kylo. Ele nunca iria parar?  

Em algum momento o barulho cessou e Rey pode finalmente ter algumas horas de sono, que não foram muitas. 

A chuva ainda caia, quando ela desistiu de continuar deitada. As gotas eram finas. Poderia treinar na água como fizera no dia anterior, antes de Kylo a interromper.  

Fez uma pequena refeição com que havia sobrado do jantar, um pedaço generoso de pão, frutas e mel. Depois pegou o sabre, o bastão e saiu da caverna.  

A mata estava completamente molhada, realçando o verde. O sol começara a sair, batendo nas pequenas gotas que se alojavam nas folhas. O ar limpo e fresco acariciou o rosto de Rey, e ela se deixou levar pela sensação agradável. Iria continuar assim todo o caminho, se algo não tivesse a detido. 

Rey correu em direção a um Kylo caído no chão, antes mesmo que pudesse processar o que estava acontecendo.  

— Ei! — Ela chacoalhou os ombros dele com força. — Acorda! Acorda! Acorda! — insistiu, sacudindo-o com mais intensidade.  

Começou a dar pequenos murros no peito dele, enquanto pedia para ele despertar.  

— Por favor, acorda — suplicou, com a voz já esgotada, porque sua garganta doía dos gritos que soltara.  

 A pele dele estava completamente pálida e fria.  

— Por favor, acorda! 

Ele abriu os olhos. 

O coração de Rey estremeceu, batendo ainda mais forte.  

— O que aconteceu com você? — disse ela em um tom que era um misto de preocupação e acusação. — Você ficou a noite inteira treinando, não é?  

— Estou bem — falou ele com a voz um pouco débil, apoiando-se sobre os cotovelos e sentando-se. — Eu só estava um pouco cansado... 

— Um pouco cansado? Você praticamente desmaiou de exaustão! Olha só para você! — rebateu ela com agressividade. — Por que você fez isso?  

Ele a olhou completamente surpreendido pela reação dela. 

— Rey...  

Ela afastou-se dele. Por um breve momento, deixara-se levar pela emoção. O que estava fazendo?  

Ela vira-o ali, atirado ao chão, e tudo o que fizera fora correr para ele, tomada completamente pelo desespero. As batidas do coração estavam aceleradas e mal conseguia enviar ar para os pulmões, deu-se conta.  

— Você deveria cuidar melhor de si mesmo — murmurou ela, começando a levantar-se com a intenção de se afastar dele o mais rápido possível. Não poderia continuar naquele lugar. Não naquele estado.  

— Eu sei o que estou fazendo — resmungou ele. 

— Sabe o que está fazendo? — disse ela, com a voz exaltada, voltando-se para ele com violência. — Você jura que sabe o que está fazendo? Pois não parece! Você poderia ter... — Não conseguiu terminar a frase. — Argh! 

Ele a encarou. 

— Você não sabe parar! — acusou ela, apontando o dedo em riste para ele.  

Os dois estavam muito perto um do outro, Rey nem se dera conta deste detalhe. Se seu lado racionar estivesse falando mais alto, ele teria mandado o alerta.  

A respiração dela continuava acelerada e as batidas do coração não haviam diminuído nenhum um pouco.  

— Você não compreende... — falou ele, colocando a mão na cabeça, uma careta de dor se formou em seu rosto. 

— Você está bem? — perguntou ela, espantando até mesmo a si própria com o tom de voz preocupado. Inexplicavelmente, toda a sua raiva havia se extinguido, voado pelo ar, ao ver a expressão de dor dele.  

— Estou... — respondeu ele, analisando-a. —  Você estava... preocupada comigo? — Sua voz era um ínfimo sussurro.  

Os olhos dele vagaram por seu rosto até chegarem em seus olhos. 

— Você estava? — repetiu ele, a voz baixinha, mas ainda profunda. — Rey... 

Ela podia senti-lo na Força. Seus sentimentos fluíam até ela, chamando-a. 

Ele não estava mais usando a máscara de Kylo, agora, ele era apenas Ben.  

Era Ben quem estava a chamando.  

— Rey... — sussurrou ele, com aquela voz quente. 

Algo dentro dela se libertou. Algo que ela não conseguia controlar.  

— Ben... — murmurou ela.  

— Rey... — pronunciou ele, com a voz leve como um sopro.  

Ela estendeu a mão até o rosto dele, tocando na cicatriz que ela deixara nele. Os dedos vagaram por aquele lugar com lentidão e suavidade.  

Ele colocou a mão sobre a dela, mantendo-a em seu rosto.  

A mão dele enviava para ela um calor bom. 

Ben a chamava cada vez mais forte. 

Era tarde demais para voltar. 

Pele contra pele.  

O calor que emanava de suas mãos.  

Os olhos dele nos dela.  

Rey aproximou-se mais dele. Ela nunca havia feito aquilo antes. De um modo desajeitado, colocou a outra mão sobre o rosto dele e o puxou para mais perto.  

Os lábios dela encontraram os dele de forma desajeitada.  

Os lábios dele receberam os dela imediatamente, com gentileza, mas também com ímpeto, encorajando-a para que continuasse.  

Os lábios dele estavam quentes e um pouco secos, e eram terrivelmente agradáveis. 

Ele puxou-a para si, envolvendo-a em seus braços.  

Ela sentiu um calor bom a invadindo, a aquecendo.  

Os lábios deles se mexeram um contra o outro. Aquele toque era tão simples e ao mesmo tempo tão poderoso.  

Um turbilhão de sentimentos a invadiu. Jamais cogitara a mais remota possibilidade de sentir todas aquelas emoções e sentimentos com aquela intensidade e ao mesmo tempo.  

Havia também os sentimentos dele que fluíam até ela através da Força. Eles chegavam até ela como rios que corriam até outros. Eles se misturavam. E ela já não sabia mais quais eram os seus sentimentos e quais eram os dele.  

No encontro dos seus lábios, ela sentia que estava vivendo uma vida inteira. Uma vida inteira de felicidade. 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? O que será que aconteceu em Liebe?



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